sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O que está por trás da Teologia da Prosperidade?

Revista ISTOÉ ESCULACHA Valdemiro Santiago

À espera de um milagre

ISTOÉ

Rodrigo Cardoso

Quadrilhas de pastores ladrões, dívidas milionárias com as tevês, administração amadora e investimentos equivocados na construção de grandiosos templos. O que está por trás da crise financeira da Mundial, uma das mais poderosas igrejas evangélicas do País




PASTOR
Valdemiro Santiago criou um império religioso, viu seu rebanho se
expandir por cerca de cinco mil templos e, agora, tenta colocar a
casa em ordem ao ver sua igreja sangrar em milhões de reais



Chorar durante a pregação é um dos traços mais marcantes da performance de Valdemiro Santiago de Oliveira, o todo-poderoso da Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), no púlpito. Criticado por abusar dessa prática, o autointitulado apóstolo tem motivos mais terrenos para derramar suas lágrimas atualmente. O império neopentecostal construído por esse mineiro de 49 anos, nascido em Cisneiros, distrito de Palma, a 400 quilômetros de Belo Horizonte, vive a maior crise da sua história. O mais recente indício de que a IMPD está fragilizada foi a decisão do Grupo Bandeirantes de encerrar, na semana passada, a parceria que mantinha com Valdemiro, que alugava quase a totalidade da grade da programação do Canal 21 e ocupava cerca de quatro horas diárias nas madrugadas da Band. Motivo do fim do acordo: atrasos no pagamento.

Valdemiro até que tentou impedir o fato. De microfone em punho, o comedor de angu que cuidava de marrecos na roça antes de se converter evangélico usou toda a sua empatia com o povão. No início do mês, pôs o rosto no vídeo, caprichou na voz chorosa e iniciou uma campanha conclamando seus fiéis a ajudá-lo a arrecadar R$ 21 milhões para honrar compromissos com o aluguel de horários na mídia. A Mundial já devia R$ 8 milhões ao Grupo Bandeirantes referentes a setembro. No fim deste mês, outro boleto a vencer: R$ 13 milhões. A emissora paulista não confirma oficialmente, mas a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, concorrente direta da Mundial, teria entrado na disputa por esses horários e conseguido vencer a briga sobre a maior concorrente na disputa por almas. “Pegaram a gente em um momento de fraqueza”, diz uma liderança da IMPD. “Gastamos R$ 300 milhões com templos ultimamente e vivemos um tempo de estruturação e amadurecimento.”

PODER
Diante da crise, Valdemiro nomeou Jorge Pinheiro (acima), marido da irmã
de sua esposa, para gerir o setor financeiro e administrativo da IMPD no
lugar do bispo Josivaldo (abaixo), transferido para Lisboa


"Cerca de 30% dos recursos que arrecadamos são desviados
por bispos e pastores. Por mês, R$ 30 milhões saem pelo ralo",
afirma um alto dirigente da IMPD do Rio de Janeiro

Quisera Valdemiro Santiago, porém, que seus problemas fossem revezes restritos apenas ao campo administrativo da sua igreja. Em São Paulo, o líder evangélico é alvo de uma investigação do Ministério Público estadual e da Polícia Civil. Desde janeiro de 2013, diligências feitas pelo Grupo Especial de Delitos Econômicos (Gedec) e pela Divisão de Investigações sobre Crimes contra a Fazenda, da Polícia Civil, apuram um suposto crime de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, direitos ou valores. O dono da Mundial virou alvo das autoridades quando elas descobriram que a Fazenda Santo Antonio do Itiquira, localizada em Santo Antônio do Leverger (MT), um conglomerado de 10.174 hectares de terras ocupado por milhares de cabeças de gado, foi comprado por R$ 29 milhões à vista pela empresa W. S. Music, cujos representantes são o apóstolo e sua mulher, a bispa Franciléia. O caso, que pode configurar uso do dinheiro de fiéis para enriquecimento pessoal, corre em sigilo.



A Mundial, fundada em 1998 – antes dela, Valdemiro fora pastor na Igreja Universal por 18 anos (leia quadro) –, viveu um avanço muito grande em um curto espaço de tempo. De 500 templos em 2009, hoje a denominação computa mais de cinco mil unidades, segundo seus membros. Acontece que a vida de uma igreja não se resume ao púlpito ou aos cultos. Administrativa e financeiramente falando, a IMPD não evoluiu. “Cerca de 30% dos recursos que arrecadamos são desviados. Por mês, R$ 30 milhões saem pelo ralo”, afirma um alto dirigente da denominação, lotado no Rio de Janeiro. De acordo com ele, a devoção em torno dos cultos, espécie de pronto-socorro espiritual, onde fiéis garantem ter alcançado a cura divina para alguma enfermidade graças à intercessão de Valdemiro, trouxe notoriedade à igreja e atraiu quadrilhas de pastores que se infiltraram em seus templos para se apropriar das doações. “Há dois anos e meio, por exemplo, o Valdemiro descobriu uma dessas quadrilhas no ABC paulista liderada pelo bispo e por seus auxiliares e os expulsou.”


PREGAÇÃO
Com fama de milagreiro, Valdemiro fez fama ao se aproximar
dos mais humildes. Abaixo, sua esposa, a bispa Franciléia



Esse mesmo dirigente lembra do dia em que, ao manobrar seu carro na saída de um culto, uma fiel bateu no vidro para alertar que pessoas traíam a confiança do líder evangélico: “Pastor, está vendo esse carnê da Mundial? A conta corrente aqui escrita não é a da igreja. Estão distribuindo carnês falsos para o povo pagar! Avisa o apóstolo, por favor!” Ou seja, o dinheiro estava sendo desviado num esquema paralelo ao de Valdemiro. Professor da pós-graduação de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ricardo Bitun se deparou com essa prática ao ir a campo para a confecção de sua tese de doutorado. Intitulado “Igreja Mundial do Poder de Deus: Continuidades e Descontinuidades no Neopentecostalismo Brasileiro”, o estudo defende que Valdemiro foi o único dissidente da Universal que conseguiu alcançar sucesso. E assim o fez graças, principalmente, à remasterização da cura divina, uma prática bastante difundida no Brasil nos anos 1970. “Um bispo me contou que havia pastores infiltrados em igrejas e até mesmo bispos cobrando propinas de pastores”, diz Bitun.


SUSPEITA
Uso do dinheiro de fiéis para enriquecimento pessoal, como a compra de uma
fazenda de R$ 29 milhões (à esq., o documento de compra em seu nome),
é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil de São Paulo

Valdemiro é um líder religioso onipresente no altar e nos programas televisivos e demorou a perceber que estava sendo traído por pessoas muito próximas a ele – e do alto escalão da igreja. Havia um grupo próximo a Josivaldo Batista de Souza, que era considerado o número 2 da Mundial, agindo como lobos em pele de cordeiro. “Ele se deu conta de que o problema advinha da concentração de poder em torno dessa turma”, diz um membro da hierarquia paulista da Mundial. “Era gente pedindo avião para fazer não sei o quê, para ter programa na televisão não sei onde, para abrir igreja em um grotão aí...” Segundo esse integrante da IMPD, Valdemiro cometeu erros próprios de líderes que sobem muito e rapidamente. “Ele se cercou de um estafe pequeno que blindava o acesso a ele. E, assim, passou a ouvir pouco outras opiniões. Precisa amadurecer.”


FLAGRA
Membros da Mundial chegaram a clonar carnês para desviar
o dinheiro que era arrecadado dos fiéis nos cultos

Diante das dívidas, dos calotes e das traições, o líder da IMPD está tentando conter a sangria da sua igreja do jeito que pode. Transferiu para Lisboa o pastor Josivaldo, um ex-membro da Universal que o acompanha desde o começo dos trabalhos da denominação em Pernambuco, segundo Estado onde ele fincou sua bandeira. Para substituir Josivaldo, que era responsável pela gestão administrativa e financeira e cuidava do dia a dia da Mundial, além dos bispos e pastores, Valdemiro achou por bem recorrer a um familiar. Empossou o bispo Jorge Pinheiro, marido da irmã da sua esposa Franciléia. Para tentar se reequilibrar financeiramente, conta um bispo paulista, ele decidiu se desfazer de duas Cidades Mundiais, como são chamados os megatemplos da IMPD, em São Paulo e no Paraná. Elas se encontram fechadas pelos órgãos públicos locais, após pouco tempo de funcionamento, por não preencherem requisitos para receber o público. Um claro erro de avaliação que onerou a igreja. “A Cidade Mundial paulista está fechada desde fevereiro de 2012. Mas Valdemiro, todo mês, tem de pagar R$ 5 milhões das parcelas da compra dela”, diz o bispo. Missionário da IMPD, o deputado estadual Rodrigo Moraes (PSC-SP), que foi designado pela igreja para fazer “a coisa caminhar” junto aos órgãos públicos, segue na sua empreitada. “Não recebi o comando de parar o trabalho ainda. Mas a vontade do apóstolo é que fala mais alto”, afirma. Templos pequenos e mal localizados, que não condiziam com a orientação de Valdemiro, também deixaram de ser usados. “Cerca de 15% deles tiveram de ser fechados ou reestruturados”, diz uma liderança da igreja. Pode ser uma saída para que a fama de caloteiro não suplante a de apóstolo milagreiro.


NA JUSTIÇA
Faz três meses que a Mundial não paga o aluguel do imóvel (acima),
localizado em Pirituba (SP): ação de despejo e cobrança de R$ 34 mil.
Abaixo, Cidade Mundial em São Paulo, que será fechada


Não são poucos os templos ocupados pela IMPD que têm problemas com aluguel atrasado ou ações de despejo em curso na Justiça. Em Pirituba, por exemplo, bairro da capital paulista, o proprietário impetrou na justiça uma ação de despejo contra a igreja por não receber o aluguel de seu imóvel desde julho. E cobra, ainda, o pagamento de R$ 34.538,64. De acordo com um de seus representantes legais, essa é terceira vez que a justiça é acionada desde 2010, quando o local passou a ser ocupado pela Mundial. “Não entendo a falta de organização da igreja. Não acredito que ela não tenha caixa para pagar o aluguel”, diz ele, que prefere não se identificar. “Esses problemas diminuíram 70% nos últimos tempos”, garante Dênis Munhoz, advogado da Mundial. À frente também do cargo de vice-presidente da Mundial, Munhoz refuta a ideia de a denominação viver uma crise, argumentando que a IMPD é a evangélica que mais cresce no Brasil. Sobre as quadrilhas de pastores, afirma: “Se existe esse problema, a igreja sempre tomou as providências rapidamente.” Prefere, no entanto, não comentar a perda dos espaços no Canal 21 e na Band. Quem falou sobre o assunto foi o presidente da IMPD, o deputado federal José Olímpio (PP-SP). “Estamos pagando muitas prestações, os valores de aluguéis aumentaram, temos muitas obras em andamento e acabou atrasando alguma coisa. Aí, deixa de pagar um mês e vira um problema para a mensalidade seguinte”, diz.




Para se ver livre de mais problemas, Valdemiro, que, procurado por ISTOÉ, não se manifestou, entregou os horários que possuía na Rede TV! e na CNT. Deixou também de alugar espaço em dezenas de retransmissoras de diferentes estados e recuou no projeto de ocupar a programação de tevês da Argentina, Colômbia e do México. “Muitas vezes, é melhor dar um passo atrás para, depois, dar um maior à frente”, diz o alto dirigente da Mundial do Rio. “Valdemiro me disse que estava, inclusive, vendendo a sua fazenda no Mato Grosso.” Essa informação não foi confirmada pelo presidente nem pelo vice-presidente da IMPD. Mas, na atual situação, receber R$ 33 milhões, valor estimado da Fazenda Santo Antonio do Itiquira, seria como um milagre para o líder evangélico.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Chico Mendes é usado no Acre para abafar incentivo do governo à pecuária


POR JOÃO MACIEL DE ARAÚJO 


É sabido que os governos da coligação Frente Popular do Acre (FPA) nestes 15 anos estão repletos de contradições e forçoso discurso otimista difundido pelos seus programas de propaganda e marketing e absorveu completamente a imprensa local e as pseudo-lideranças de movimentos sociais, outrora progressistas e militantes da justiça social e da causa dos “povos da floresta” -uma terminologia assentada no cansativo repertório dos políticos que a proferem exaustivamente.

Ao longo destes anos, as vozes que se opuseram a aceitar passivamente as figuras falaciosas criadas e propaladas pelos articuladores dos governos da FPA foram sistematicamente amordaçadas, desqualificadas, caluniadas e hostilizadas por uma imensidão de oportunistas que incham a máquina pública, fartamente financiada pelos empréstimos feitos junto a bancos internacionais, nacionais e pelas abundantes transferências voluntárias feitas pelo governo federal durante o mandato de Lula, muito embora o atual mandato do executivo estadual seja marcado pela confissão de que o Acre se encontra numa profunda crise financeira.

O núcleo da hipocrisia do governo estadual assenta na apropriação e tosca manipulação da imagem de Chico Mendes, e de seus ideais, como um dos principais líderes de um legítimo movimento de resistência protagonizado pelos seringueiros do Acre durante os anos 1970 e 1980. Inegavelmente, aquele movimento constituía um importante grupo no processo de criação do PT no Acre e por reunir uma série de características e reinvindicações que competiam para o rompimento de uma herança maldita, legada do autoritarismo do seringalismo. Aquele movimento forneceu o principal argumento que sugeria a “mudança”, aspiração da maior parte da sociedade acreana.

Como já foi exaustivamente explorado por estudiosos da história recente da região, num embate que opunha frontalmente os interesses das oligarquias políticas herdeiras da falida economia da borracha de um lado, aos interesses dos representantes do processo de integração das terras acreanas a frente de expansão da fronteira agropecuária, os seringueiros emergiam como uma terceira via, muito mais identificada com a massa da população local. Daí pra frente, os desdobramentos desses processos no plano político-eleitoral já são conhecidos e as consequências diretas perduram.

No primeiro mandato da FPA, os interesses dos seringueiros pareciam estar contemplados naquilo que teoricamente seria um governo também deles. Lei de Subsídio Estadual da Borracha, criação de uma Secretaria Executiva de Floresta e Extrativismo (Sefe), fortalecimento de iniciativas ligadas à viabilização da produção florestal não-madeireira (apoio à pesquisa e a cooperativas de comercialização), medidas destinadas a comprovar que a proposta de reservas extrativistas seria de fato uma alternativa de promoção da dignidade dos povos da floresta, além da falácia contida no que chamaram “florestania”.  Tudo uma ilusão de ótica.   Já no segundo mandato o “extrativismo” da Sefe, que estaria voltada a atender os anseios dos seringueiros, foi extinto, restando aí uma Secretaria de Florestas (Sef), imbuída de deslanchar a produção madeireira que seria para os seringueiros, em seus territórios de reservas extrativistas, mas seria, principalmente, para os madeireiros empresários. Mesmo assim, ainda não estamos livres do efeito da ilusão de ótica. Entre os seringueiros, a exploração de madeira não deslanchou como fonte de renda, segundo os moldes impostos pela regulamentação puxada pelo governo do Acre. Porém, entre os madeireiros, houve concessão de terras, crédito, infraestrutura, renúncia fiscal e toda a sorte de incentivos cujos efeitos são a concentração da terra e da renda.

Em outra frente, sorrateiramente e em nome da “governabilidade”, o governo da FPA, por mais que revestido de uma aura de ambientalista (e mesmo cheio de “ambientalistas”), manteve seu apoio incondicional à expansão da pecuária bovina no meio agrário acreano, de maneira a proporcionar-lhe renda incomparável a qualquer outro produto que aí se possa produzir. Fiel aos princípios da política tributária em nível nacional, que privilegia o agronegócio (ver, por exemplo Convênio ICMS 100/97), o governo do Acre não vacilou em editar documentos neste sentido.   Diferentemente do preço da carne no mercado local e nacional, a base de cálculo para incidência de ICMS sobre operações com gado bovino permaneceu praticamente inalterada neste período. Sendo justo, destaque-se uma pequena tentativa de reação durante o governo de Binho Marques, mas que foi rapidamente colocada sem efeito. Não fosse o bastante, enquanto o consumidor, trabalhador acreano, paga elevados impostos na aquisição de bens elementares, a alíquota de ICMS para operação de envio de gado bovino a outros Estados se mantém sempre reduzidas, isso quando não se reduz a própria base de cálculo a valores irrisórios.

É impressionante a quantidade de decretos e portarias expedidos pelo governo para beneficiar a pecuária. Aliás, não seria de se admirar que uma análise mais detida sobre estas medidas logo revelasse que o executivo estadual incorre em crimes fiscais. As generosíssimas medidas, que nos ajudam a compreender o crescimento da pecuária, passam praticamente despercebidas, inclusive pela base dos “movimentos sociais” de apoio ao governo do Acre. Do ponto de vista da história do avanço da pecuária em território acreano, o governo da FPA concedeu exatamente o que esta requeria nesta fase, ou seja, não mais somente os benefícios do Proterra nos anos 1970, não mais somente o crédito do Banco da Amazônia para instalar fazendas nas décadas de 1970 e 1980, mas, agora, o benefício fiscal na hora de vender o gado.

Não se pode negar que a política tributária do governo da FPA em relação à pecuária, que favorece a concentração de renda e o monopólio da terra pela pecuária, é muito eficaz e efetiva. Na realidade, com raríssimas exceções, mesmo nas áreas de reserva extrativista (considerando também os projetos de assentamento agroextrativistas), a principal fonte de renda obtida pelos moradores através da exploração da terra, provém da pecuária. Pecuária que é veementemente reprimida por instituições governamentais e não-governamentais de proteção ao meio ambiente sob a alegação de que distorce a função de reservas extrativistas, onde não pode haver grandes rebanhos. Ora, a pecuária totalmente regulada pelas vontades do mercado se fortaleceu a tal ponto que, em última análise, o morador de uma reserva extrativista tornou-se um “trabalhador” para o grande pecuarista exportador, assim como a própria reserva extrativista atende ao interesse de expansão de seu rebanho, seja pelo arrendamento direto de pastagem ou pelo falso domínio do próprio morador.

Reparem a quantidade de casas agropecuárias que foram criadas nos últimos 15 anos no Acre. Elas não servem para o beneficiamento de castanha, óleo de copaíba, ou outro produto da floresta. O capim brachiária é o vegetal mais familiar do povo acreano, e não a seringueira ou qualquer outro vegetal nativo. É deste período, de 15 anos, o surgimento em todos os municípios do Vale do Acre, de inúmeros bairros que abrigam precariamente uma população refugiada do campo, sobretudo em Rio Branco.  Aliás, não é coincidência o escândalo do Operação G-7, uma vez que o setor que mais emprega os refugiados do campo na cidade é a construção civil, tornando, portanto, os empreiteiros a outra face do patronato alimentado pelo governo.

De outra parte, sem qualquer apologia à figura em si, recorro à uma fala do fazendeiro Darly Alves, que foi condenado por mandar matar Chico Mendes, em entrevista concedida ao repórter Leonencio Nossa, do jornal O Estado de S. Paulo, na semana passada. Além de ser uma ironia do destino, é também muito esclarecedora e reveladora do quanto o governo do Acre tem sido contraditório. Explica Darly ao ser perguntado sobre sua chegada no Acre:

- Eu vim para plantar 12 mil covas de café. [...] Eu era fanático por café. [...] Mas é o bicho que mija para trás (boi) que leva a gente para frente. Comecei a criar gado.

Já pensou? Não conheci Chico Mendes, mas acredito que o cenário atual do Acre em nada se assemelha ao que ele e seus companheiros vislumbraram. Depois de manter uma política tributária que contribui determinantemente para desgastar a proposta de reservas extrativistas e municiar as críticas conservadoras que dizem ser esta uma proposta inviável e equivocada, o governo estadual ainda tem o cinismo de sair com este “Chico Mendes Vive Mais”. Duvido que qualquer uma das caras que aí estão para as eleições de 2014 tenham a intenção de fazer diferente.

João Maciel de Araújo é cientista social e mestre em desenvolvimento regional pela Universidade Federal do Acre.

fonte: http://www.altinomachado.com.br

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