quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Sobre a 'bandeira do Acre" no helicóptero do Estado e a desinformação proposital do Jornal "Juruá em Tempo"


Jornalismo que se presta a desinformar não é jornalismo, é canalhice já diria José Albex.
Talvez nem eu conheça a bandeira do Acre e nem o Ministério Público Federal que recomendou a retirada da estrela do helicóptero ...kskks..



Qual o cidadão que não sabe que na bandeira do Acre tem uma estrela vermelha? Tenha santa paciência


Acontece q a Estrela da bandeira do Acre tem proporções e tamanho estabelecidos em Lei. O desenho do helicóptero não é a bandeira do Acre. É um desenho, caricatura ou quem sabe um grafite inspirado na bandeira. Se não é a bandeira do Acre... elementar que seja retirada dele do bem público.

-  É óbvio que todos sabem que na bandeira do Acre existe uma estrela de cor vermelha. A questão é que a bandeira do Acre é um pavilhão cívico estadual com dimensões e proporções estabelecidas em lei. Se for alterada a cor da bandeira ou a proporção geométrica dela ou de algum componente dela, a bandeira perde o conteúdo distintivo de pavilhão cívico, virando apenas uma bandeira comum. No caso do helicóptero, o caso é pior, já que toda a geometria da bandeira foi alterada. Tudo para dar ênfase à ESTRELA. Essa ênfase pode ser ato artístico inocente? Até poderia, mas como foi paga com dinheiro público a mando da Frente Popular capitaneada pelo PT, só sendo muito destituído de malícia para achar que o projeto pictórico não tenha sido ideologizado.

O tal do Leandro demonstrou bem para q serve o jornalismo que ele pratica. Na matéria, tem desinformações com fins de auto prestígio e desabonamento o interlocutor, que sou eu.
Realmente ele não aprendeu o JUMENTÊS... foi correndo ao jornal jurua chorar suas lágrimas...



O PROFESSOR JUMENTO responde ao Leandro Lopes - Jornalista, escritor e motociclista amador.

Eu me dei ao trabalho de responder o motociclista amador Leandro Lopes, não pela ofensa que me fez, mas para servir-me do momento e esclarecer à opinião pública sobre a “estrela do PT” pintada no helicóptero do Estado.

Vou tentar ser bem claro, embora tema que o meu interlocutor, o Leandro Lopes, não me entenda, já que no alto de sua sapiência, provavelmente não deva estar muito acostumado com o “jumentês” (linguagem que é própria dos professores jumentos). No entanto, se o restante dos leitores entenderem, me darei por satisfeito.

Bandeira é um símbolo cívico milenar. No entanto, ficou mais evidente no período da criação dos Estados Nacionais já na "Era Moderna". Atualmente cada país tem uma bandeira e cada unidade federativa dele também.

As bandeiras são geralmente criadas por decretos que também regulamentam e define os distintivos delas, ou seja, as formas, as cores e as medidas.

O que faz a bandeira ser reconhecida como símbolo cívico são suas características distintivas estipuladas por lei. Se alguma cor, medida, forma, proporção e dimensão da bandeira for alterada, além de isso significar um “desrespeito cívico”, ainda desqualifica a bandeira como pavilhão.

Citemos da Lei 5700/71, que discrimina detalhadamente cada traço distintivo da Bandeira do Brasil, até mesmo a exata posição e o tamanho de cada estrela. Portanto, para ser reconhecida como Pavilhão Nacional a bandeira tem que seguir o padrão discriminado em lei, caso contrário, será só uma bandeira.



Em nosso caso, a Bandeira do Acre foi regulamentada pela Lei Estadual 1170/95, assinada pelo então governador Orleir Cameli.

Leia-se no Artigo 3, “Fica determinado como tamanho oficial da Bandeira Acreana o de 1,13m de altura por 1,61m de comprimento, e a devida estrela vermelha, no vértice superior do triângulo retângulo, de 30 cm de ponta a ponta”.

No § 2º do mesmo artigo temos: “Será permitida a confecção da Bandeira Acreana em dimensões maiores, menores ou intermediárias, conforme as condições de uso, mantidas, entretanto, as proporções descritas no art. 2º, III, "b" desta Lei”.

Portanto, para ser Bandeira do Acre, a bandeira deve seguir um “padrão” de cor, medida, forma, proporção e dimensão.
Caso contrário, sera apenas uma bandeira, ou o que é pior, uma ação desrespeitosa ao pavilhão estadual como a mesma lei prevê no Art. 12, leiamos:

“São consideradas manifestações de desrespeito à Bandeira Acreana, e portanto proibidas: [...] II - mudar-lhe a forma, as cores, as proporções ou acrescentar-lhe qualquer inscrição”.

Portanto, a pintura que está no helicóptero do Estado "Comandante João Donato" - NÃO É A BANDEIRA DO ACRE. Por que não segue as dimensões e proporções estabelecidas em lei.
Se não é a Bandeira do Acre é o quê? Sendo eu inocente, poderia dizer: é apenas uma pintura, caricatura ou um grafismo inspirado na Bandeira do Acre. Mas se eu não for tão inocente assim poderia dizer: há claramente uma inspiração ideológica por trás do projeto estilístico desse grafismo... que muito bem pode incorrer no Art. 12 já citado.

Em 2009, o próprio Ministério Público Federal, por meio do procurador Ricardo Gralha, recomendou ao Estado que refizesse a pintura do helicóptero. No entanto, a arrogância dos PTistas não deixaram com que acatassem a recomendação.
Portanto, afirmo que a pintura do helicóptero não é a bandeirar do Acre. PORTANTO, se o governador eleito achar oportuno, que mande refazer a pintura do helicóptero, tirando dele o grafismo publicitário da estrela do PT. Isso é até uma ação de respeito à memória ao tio dele que assinou Lei Estadual 1170/95.

Lembram da marca oficial do governo do estado durante a era “Binho”?

Também era um 'grafismo' da Bandeira do Acre com os dizeres “ACRE com todos e para todos”.

No dia do aniversário de 45 anos de elevação do Acre a categoria de Estado, a mesma manipulação ideológica com a bandeira do Acre foi feita.

A Assessoria de Imprensa do governo substituiu a bandeira do estado pelo grafismo que era marca do governo.

Ou seja, o POVO não estava levantando a bandeira do Acre e sim a marca governamental.

Por favor, compartilhem até que a postagem chegue até Leandro Lopes. Só para testar se ele sabe ou não a linguagem do "jumentês".

Para facilitar o nosso entendimento, basta pensar que não é a bandeira do Acre que está pintada no helicóptero. A bandeira do Acre tem outro formato baseado em lei. O que fizeram ali foi uma caricaturizaçao dela. Caricatura que tem um valor artístico que bem poderia ser apreciado caso não tivesse sido feito em um bem público em substituição ao símbolo cívico. Símbolo esse que tem formato e proporções estabelecidos em lei... a mesma lei tipifica como "ato desrespeitoso" alterar o formato original da bandeira.


A matéria do Juruá em Tempo pode ser lida aqui:
Sem conhecer a bandeira do Acre, professor passa vergonha

sábado, 21 de abril de 2018

O MITO DO TIRADENTES - 21 de abril (Prof. Dr. Eduardo Carneiro)



É licenciado em História (UFAC) e bacharel em Economia (UFAC). É mestre em Linguagem e Identidade (UFAC), doutor em História Social (USP), e acadêmico do Doutorado em  Estudos Linguísticos (UNESP). É Professor da UFAC, é vice-presidente da Academia Acreana de Letras, escritor, palestrante, editor de livros e poeta nas horas vagas.


Hoje é um Feriado Nacional, quais as suas primeiras impressões sobre isso?
Feriados são uma prática milenar. Desde a antiguidade, povos escolhem datas para se confraternizarem em culto aos deuses ou em honra a um fato ou pessoa que consideram importante. Os feriados tinham como objetivo tirar as pessoas da rotina diária habitual e focá-las no alvo do feriado. Não era igual ao que acontece no Brasil, em que os feriados estão despolitizados ao ponto de o povo considerá-los como dias de lazer. Não se dão conta do fato homenageado pelo feriado. No ano de 2018, o Brasil terá 9 feriados nacionais, 5 deles tem caráter religioso (Portaria Nº 468/2018), além de alguns pontos facultativos. A Índia, por exemplo, tem 18, e lidera o ranking. Os países com menos feriados são México, Hungria e Holanda com 7 a 8 feriados. O que significa dizer que a quantidade de feriados não tem nada a ver com a situação econômica do país, já que temos países pobres com poucos feriados e países ricos com muitos, como é o caso do japão, com 15.
Qual a relação entre feriados e festas cívicas?
Em um Estado Nacional laico era para os dois serem quase sinônimos, ou seja, cada feriado remeter a um acontecimento cívico considerado exemplar, ou seja, digno de imitação e de celebração coletiva. Esse era o projeto de calendário cívico republicano da Revolução Francesa. Nele, não havia espaço para datas religiosas ou lembranças de feitos memoráveis vinculados ao Antigo Regime ou à Monarquia. Tudo deveria fazer lembrar à República e os seus ideais liberais, constitucionais e racionalistas. Então, era de se esperar que em cada feriado nacional o Estado promovesse festas cívicas em comemoração ao motivo do tal feriado. Acontece que o conteúdo nacionalista dos Estados Nacionais contemporâneos está em franco declínio, e os governos já não dão mais tanta importância à promoção da identidade nacional, direção a qual todos os feriados cívicos deveriam apontar. Veja o conteúdo identitário dos feriados na própria justificativa do decreto que instituiu os feriados no Brasil: “considerando que o regime republicano baseia-se no profundo sentimento da fraternidade universal; que esse sentimento não se pode desenvolver convenientemente sem um sistema de festas publicas destinadas a comemorar a continuidade e a solidariedade de todas as gerações humanas; que cada pátria deve instituir tais festas, segundo os laços especiais que prendem os seus destinos aos destinos de todos os povos; Decreta: São considerados dias de festa nacional […]”. (Decreto nº 155-B, de 14 de Janeiro de 1890, grifo nosso).
O senhor falou em Feriado nacional, comemorações cívicas, identidade nacional e historia. O que isso tem a ver?
Tudo! Pois, o feriado nacional foi inventado para ser celebrado coletivamente por meio de comemorações cívicas. O Estado convoca o povo a memorar um acontecimento ou personalidade com alegria, forjando, assim, um espírito de irmandade e de comunhão coletiva em torno de um passado que se mostra único. O passado homenageado é mostrado como um acontecimento arquétipo, ou seja, um modelo identitário. O que caracteriza um Estado Nacional é justamente a preocupação em promover políticas simbólicas de fomentação à identidade nacional. As festas cívicas fazem parte dessas políticas simbólicas e a divulgação de um passado grandioso, digno, apoteótico, também. Por isso, as comemorações cívicas quase sempre honram um passado que só se tornou “fantástico” por ter sido alvo de manipulação embelezadora dos fatos.
Qual sua opinião sobre a história que conhecemos a respeito de Tiradentes?
Tiradentes foi um herói inventado pelos republicanos. Tanto ele quanto o 21 de abril fizeram parte de uma política simbólica identitária cujo objetivo era legitimar a nova ordem ainda carente de legitimação por meio da associação dela com a imagem de heróis. Portanto, operou-se a heroificação de Tiradentes para que o mesmo pudesse servir politicamente à nascente república como um “avatar”. Algo parecido com o que a Frente Popular do Acre fez com a figura do Chico Mendes. Aliás, todo grupo carente de tradição política quando assume o poder executivo faz uso abusivo de políticas culturais de comemorações cívicas e de invenções e louvores de supostos heróis. Assim foi feito na Revolução Francesa, assim foi feito na Revolução Russa, assim foi feito no Brasil a partir de 1964 com os militares.
Então, na sua opinião Tiradentes foi inventado como herói? 
Até 1889, Tiradentes era visto como um criminoso, um rebelde traidor, um membro do exército lusitano que conspirou contra a coroa portuguesa. A memória dele estava entregue ao esquecimento. Ele foi julgado e condenado e sentenciado à morte pelo regime monárquico, portanto, para os monarquistas, tratava-se de uma persona non grata. Ele, assim como a maioria dos heróis republicanos, foi inventado em “gabinete” e estabelecidos por decretos. Podemos explicar isso da seguinte forma: a República no Brasil foi uma ação de participação popular nula, sua proclamação deveu-se a um golpe militar antidemocrático dado em novembro de 1889 contra o Imperador D. Pedro II. Portanto, tratava-se de um movimento elitista sem qualquer legitimação popular, por conta disso, os republicanos trataram logo de criar uma atmosfera política comemorativa em que otimismo pudesse apaziguar o ânimo das resistências. Mas para isso, era preciso criar uma identidade entre o Brasil, o povo brasileiro e a República. Amalgamar todos em uma única figura, projetando uma união em torno dos ideais republicanos. Foi aí que a figura de Tiradentes foi ressuscitada para servir politicamente ao projeto de dominação republicana.
O senhor poderia explicar melhor?
Toda história de Tiradentes foi manipulada a fim de que servisse aos planos republicanos. Em 1890, o governo federal baixa um decreto estabelecendo as comemorações de festas cívicas em homenagens aos acontecimentos pátrios, dos quais figura o 21 de abril foi “consagrada á comemoração dos precursores da Independência brasileira, resumidos em Tiradentes” (Decreto nº 155-B, de 14 de Janeiro de 1890, grifo nosso). Interessante foi que em dezembro de 1930, Getúlio Vargas excluiu o 21 de abril como feriado nacional (Decreto nº 19.488). No entanto, em abril de 1933, o mesmo presidente revê a sua decisão e reestabelece o dia 21 de abril como feriado nacional. Como justificativa para a reinclusão disse: “dentre os feriados excluídos em 1930, o de 21 de abril era o de maior expressão histórica, por isso que fôra consagrado à memória dos precursores da República, simbolizados no mártir, alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes” (Decreto Nº 22.647, grifo nosso). Portanto, Tiradentes foi construído como heróis para servir como arquétipo de brasileiro republicano. Acontece que Tiradentes não era brasileiro, pois o Brasil só passou a existir enquanto país em 1822, com a independência.
Mas Tiradentes não foi um mártir da República brasileira?
Claro que não. Fizeram de Tirandentes um mártir da independência e República brasileira como se ele tivesse motivações patrióticas, como se ele tivesse uma lutado em favor do Brasil num período em que sequer o Brasil existia. A Conjuração Mineira (1789) foi um movimento elitista, separatista e anticolonial de Minas Gerais contra a coroa portuguesa e não do Brasil contra a Metrópole. A principal motivação do movimento não era o idealismo patriótico, liberal e republicano. O que a elite mineira queria era desobrigar-se do pagamento dos abusivos impostos cobrados pela coroa portuguesa. Portanto, romper com Portugal não significava exatamente fundar uma República, o que de fato representava era o não pagamento de impostos. É bom lembrar mais uma vez que o Brasil sequer existia neste período, deste modo, falar de Brasil em 1789 é puro anacronismo. Ser brasileiro era todo aquele que explorava o pau-brasil e não aquele que nascia no Brasil. Tiradentes não deixou nada escrito sobre o que ele defendia de fato. Até mesmo a frase “se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria” supostamente dita antes de morrer é uma farsa, não há nada que a comprove.
Mas ele foi o líder da Conjuração Mineira não?
Não, não foi. Ele não era o mentor intelectual do movimento, mas uma pessoa simples do povo usada pelos líderes abastados para disseminar a causa elitista no seio das comunidades mais pobres. Portanto, ele não foi um mártir da independência, muito menos da República ou da maçonaria, ele tão somente foi uma vítima da repressão colonial contra os contestadores da ordem lusitana na colônia e um “bode expiatório” para os verdadeiros líderes da “rebelião” que permaneceram vivos por atribuírem a liderança do movimento ao humilde Tiradentes. A história foi manipulada para inventar um sentimento republicano no povo brasileiro anterior à proclamação da República no Brasil. Tal sentimento estaria personificado na figura de Tiradentes, como se a república já fosse querida e desejada há longos anos. Mas tudo foi manipulação, inclusive a própria imagem física de Tiradentes.
No período da Ditadura Militar no Brasil, houve mudanças?
No período da Ditadura Militar, houve uma verdadeira “caça” de militares influentes em cada Estado para receberem homenagens. Queriam mostrar que os militares sempre estiveram presentes positivamente na construção histórica do Brasil. Essa foi uma das formas encontradas pela Ditadura para reafirmar a importância dos militares e estimularem a aceitação popular no “novo” regime. Foi assim que Tiradentes, por ser militar, foi muito mais honrado neste período do que nos anteriores. Leiamos o que diz a Lei 4897/65: “Art. 1º Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é declarado patrono cívico da Nação Brasileira. Art. 2º As Fôrças Armadas, os estabelecimentos de ensino, as repartições públicas e de economia mista, as sociedades anônimas em que o Poder Público for acionista e as empresas concessionárias de serviços públicos homenagearão, presentes os seus servidores na sede de seus serviços a excelsa memória desse patrono, nela inaugurando, com festividades, no próximo dia 21 de abril, efeméride comemorativa de seu holocausto, a efígie do glorioso republicano. Parágrafo único. As festividades de que trata este artigo serão programadas anualmente. Art. 3º Esta manifestação do povo e do Governo da República em homenagem ao Patrono da Nação Brasileira visa evidenciar que a sentença condenatória de Joaquim José da Silva Xavier não é labéu que lhe infame a memória, pois é reconhecida e proclamada oficialmente pelos seus concidadãos, como o mais alto título de glorificação do nosso maior compatriota de todos os tempos”. Foi nesse período também que Plácido de Castro ganhou notoriedade nacional. Partiu deles a iniciativa de comemorar o centenário de nascimento do “herói” acriano. Para isso, foi criada a Comissão Nacional para coordenar as comemorações do referido centenário pelo Decreto Federal Nº 71.355, de 10 de novembro de 1972. Leandro Tocantins e Arthur César Ferreira Reis foram alguns dos nomes escolhidos. As atividades tiveram início em 1973. No Ministério da Educação estava o acriano de Xapuri Jarbas Passarinho que incentivou a decisão de homenagear nacionalmente o militar Plácido de Castro.
Existe alguma relação entre Conjuração Mineira e Revolução Acreana?
Se essa pergunta fosse feita a um historiador oficial certamente ele lhe responderia que o patriotismo dos envolvidos em ambos os movimentos. Mas eu digo que o que há de comum é o poder de a elite regional em transformar suas causas por meio da manipulação da opinião e da história em “bandeiras” populares. Tanto a Revolução Acriana quanto a Conjuração Mineira foram movimentos elitistas contra o pagamento de impostos. Não foram movimentos libertários, aqui no Acre ninguém foi a favor da libertação do seringueiro do trabalho compulsório, da escravidão por dívida. Lá em Minas Gerais, ninguém apoiava o abolicionismo, até porque eram donos de escravos. Plácido de Castro, assim como Tiradentes, tinham escravos (seringueiros endividados). Ambos não foram os mentores do movimento, mas assim ficaram consagrados. Ambos os movimentos não foram patrióticos, mas assim ficaram imortalizados. Os verdadeiros mentores e financiadores da Revolução Acreana ainda estão para receber homenagens, se é que devem. Portanto, é comum a história oficial maquiar e manipular os fatos, responsabilizar um movimento coletivo na figura de uma única pessoa é típica do personalismo historiográfico conservador. Pior ainda é dissimular as motivações mesquinhas e egoístas com sentimentos nobres de altruísmo, de patriotismo e de fraternidade nacional, como foi o caso dos dois movimentos
Muito obrigado professor, quais são as suas últimas considerações?
Eu acho que está faltando uma Conjuração Mineira popular em nosso país atualmente. Pois o povo brasileiro está sendo colonizado por seus próprios compatriotas. Os abastados de Vila Rica acharam absurdo a cobrança do quinto (20%) e se negou a tentar completar a meta fiscal de arrecadação anual estipulado pela coroa lusitana. Sabe-se que o Brasil e hoje um dos países com maior carga tributária do mundo. Ele fica entre os quinze primeiros em cobrança de impostos e entre os últimos em retorno dos impostos ao bem-estar coletivo da sociedade. Quase 40% dos rendimentos dos brasileiros são destinados ao pagamento de impostos que, no Brasil, o que significa dizer que em média 150 dias ao ano o brasileiro trabalha só para pagar impostos. O povo brasileiro precisa se rebelar duplamente: primeiro contra os abusivos impostos, segundo a favor do retorno social dos impostos pagos. Este ano se comemora 226 anos da Conjuração Mineira, mas a Conjuração Brasileira ainda está por vir.







     

domingo, 15 de abril de 2018

KANARÔ: PERSEGUINDO A POÉTICA DRAMATÚRGICA DECOLONIAL
EM BETHO ROCHA E MATIAS
Por João Veras
A história do teatro acreano – o mesmo que a história do teatro no Acre – é muito recente. Sou de uma geração que assistiu e viveu um de seus capítulos mais significativos nas décadas de 70/80/90. A exemplo das outras manifestações artísticas - como a música, a literatura, as artes plásticas e o cinema - a dramaturgia acreana nasce e caminha como uma possibilidade outra de nos manifestarmos sobre o entorno e o interior de nossos desassossegos no aqui agora do viver social e cultural locais. Uns mais engajados com questões sociais, outros menos, mas, de qualquer modo, é possível afirmar que, como regra, muito dessa produção artística não ignora – pelo contrário enfrenta – as questões de interesse locais que buscam desassociar falseadamente a cultura da política - especialmente as que dizem respeito a relação do poder institucional, de caracteres colonizadora, exploradora, racializadora – com os grupos sociais – nomeados como minorias.
Sempre quando penso no que assisti e vivi nesse passado recente do teatro acreano me vem à mente duas de suas vertentes, estabelecidas ao longo desta jovem história, que a mim parecem significativamente simbólicas dessa dramaturgia que aqui vou adjetivar de decolonial (na frente explico o que isto significa e o porquê): a do Grupo De Olho na Coisa, de Matias, e a do grupo Adsabá, de Betho Rocha, ambos falecidos no mesmo ano de 1997.
Estes grupos dirigidos/concebidos por estes dois artistas acreanos carregam posturas estéticas e temáticas aparentemente diversas entre si. O De olho na Coisa se finca na questão social em volta da relação floresta/cidade, tanto no que diz respeito aos seus efeitos sociológicos quanto ecológicos. Ambos postos de modo a denunciar as condições colonizada/racializada dos sujeitos seringueiros e indígenas e de seus territórios tidos, pelo olhar colonizador, como periféricos, tradicionais e, por isso, atrasados, antieconômicos e inferiores em relação à chamada modernidade sustentável dos centros. Por seu turno, o Adsabá, na fase em que Betho se volta para uma dramaturgia dita antropológica (especialmente com as peças Histórias de Quirá e Lendas de Contato, baseadas na cultura e narrativa indígenas dos Madija, da bacia dos rios Purus e Juruá), ocupa um vazio temático até então contido nas expressões artísticas, não só dramatúrgicas, em razão da então – mantida historicamente - invisibilidade social, política e cultural dos indígenas “acreanos”. Betho, para além disso - assim como Matias faz em relação aos seringueiros - chama atenção para os valores culturais, políticos e sociais dos povos indígenas locais.
Todavia, é no campo da linguagem estética que ambos parecem caminhar de modos um tanto diversos. O De Olho na Coisa busca uma dramaturgia de comunicação direta para a fácil compreensão de todos (para tanto se vale da oralidade e de outros elementos da chamada cultura popular) – o que não arranha seu valor artístico – posto que, na voz de Matias, o seu teatro é uma forma de manifesto político-estético ante a realidade em que se encontram inseridos seus fazedores e expectadores. Não é à toa que o De Olho na Coisa preferia a rua – de livre e imediato acesso a todos - ao espaço da caixa cênica, esta, de certo modo, ainda seletiva e, por isso, muito pouco acessível ao grande público.
O Adsabá, por sua vez, pautado em montagens no escuro da caixa cênica, propõe uma estética da experimentação de caráter dramaturgicamente original, de forte influência da linguagem fílmica, especialmente quanto à luz, e inovadora no aspecto teatral quando a dança – o corpo em movimento/música – supera a palavra. Os seus personagens pouco ou nunca falam. Quase um teatro mudo, sonora, cromática e imageticamente.
O fato é que, ambos os grupos, mantiveram-se resistentes frente a tudo que representa o poder moderno-colonizador no campo da estética e da política. Matias por defender a vida da floresta e seus habitantes seringueiros contra a frente de desenvolvimento e progresso que a destrói, periferiza/subordina os seringueiros e coloca em seu lugar o boi e a exploração madeireira. Betho por tratar nos palcos a dimensão cultural indígena com respeito e sem a instrumentalização folclórica, contra todos os preconceitos/racismos étnicos em face dos índios.
O mundo de Betho parece movimentar-se da cidade para a floresta. O de Matias no sentido inverso. Ambos fazendo tais movimentos às avessas e vice-versa. Betho era forma estética numa estética de pleno conteúdo político. Matias era substância política num conteúdo de plena forma estética. Na prática (e na teoria) tudo se embaralha e vira teatro de cada um em particular próprio.
Por estes dois grupos, dois criadores, o teatro acreano – e no Acre – se manifesta, na forma e conteúdo, uma expressão estética de caráter decolonial, isto é, uma arte não conformada - mas insurgente - tanto em relação ao status quo político, quanto em relação ao sentido artístico dominante de seu tempo. Talvez esta seja a maior razão que me mova à lembrança e, principalmente, ao reconhecimento deles como expressões definidoras de uma dramaturgia marcadamente própria na cena artística acreana - e não cópia, como aos costumes coloniais se espera sejamos em relação aos cânones dos centros de produção e difusão cultural nacional e mundial.
Ambos faziam teatro apesar do teatro, ou melhor da concepção de teatro a que deviam seguir. Ambos faziam um teatro “desacademizado” – isto é, sem a obediência – o que não quer dizer desconsideração - aos padrões das técnicas e cânones teóricos. Ambos faziam teatro apesar da condição hierárquica a que estavam postos – como um teatro inferior, posto que amador... – pela visão cultural colonizadora. Ambos tematizavam o local, ou melhor, partiam dele, seu lugar de enunciação. Ambos traziam nos seus corpos as marcas do racismo da colonização dita modernizadora. Matias era negro, ex-seringueiro, pobre, artista “amador” e morador da periferia. Betho, poeta, homossexual e artista sobre-vivente do teatro amador no Acre. Eles lutavam contra a condição histórica de todo considerado não-ser que a visão colonizadora lhes impingia. Suas obras/eles – em corpo/alma - eram formas de resistência a tais condições. Eles (e seus teatros) foram desobedientes à condição colonial, daí decoloniais.
Dito assim, não estou desconsiderando tudo que na época, depois dela e agora, se fez e se tem feito no teatro local, muito do que se comunica com – e é determinado - por estas duas vertentes, o que as legitima como referência de pesos político e estético neste campo.
Este reconhecimento pontual o faço para considerar que o espetáculo Kanarô, do grupo Vivarte (em sua qualificada experiência de 20 anos de teatro de rua, de floresta e também de caixa cênica), é declaradamente um produto direto da influência destes dois projetos/referências da dramaturgia local. Nessa linha, Kanarô, ao seu modo e no tempo de agora, se propõe muito humildemente a ser um manifesto político-estético da força de um De Olho na Coisa e também um manifesto estético-político pautado nas experimentações cênicas e respeito antropológico de um Adsabá. Se acaso este desejo/desafio não se realizar – pela percepção atenta de cada um dos que o expectarem no arena do Sesc - Kanarô não perderá viagem se for aceito como uma homenagem ao teatro acreano, por estas suas duas expressivas vertentes. Quem assistir verá.
HOJE, DOMINGO, É A ÚLTIMA APRESENTAÇÃO DE KANARÔ, NO ARENA DO SESC, ÀS 19 HORAS.

segunda-feira, 26 de março de 2018

AS VERDADES HISTÓRICAS SOBRE A PÁSCOA (por Eduardo Carneiro)


AS VERDADES HISTÓRICAS SOBRE A PÁSCOA

Prof. Dr. Eduardo Carneiro (UFAC)

O QUE SIGNIFICA A PASCOA?
A Páscoa é um memorial religioso comemorado tanto por judeus, quanto por cristãos católicos, embora cada um atribua significados diferentes a ele.

ENTÃO, EXPLIQUE O QUE SIGNIFICA A PASCOA PARA O JUDAÍSMO.
Etimologicamente a palavra tem origem no vocabulário hebraico cujo sentido literal é “passar por cima”. A palavra foi empregada no livro de Êxodo, que faz parte do pentateuco judaico, durante a narrativa da décima praga proferida por Moisés ao povo egípcio. Segundo a narrativa, o “espírito da morte” passaria “por cima” da casa que estivesse marcada com sangue de cordeiro nos umbrais da porta principal, poupando assim, a vida do primogênito que estivesse dentro dela. O próprio Deus judaico estabeleceu o episódio como um memorial quando diz: “e este dia vos será por memória, e celebrá-lo-eis por festa ao Senhor; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo [...] E acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este? Então direis: Este é o sacrifício da páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas” (Êxodo 12:14, 26 e 27). Assim sendo, esta é a origem da pascoa do ponto de vista judaico e a festa pascoal anual tem a ver com a comemoração do êxodo, ou seja, libertação do povo hebreu da escravidão do Egito.

AGORA EXPLIQUE O QUE SIGNIFICA A PASCOA PARA O CRISTIANISMO.
Para os cristãos católicos, a páscoa, que ocorre no ultimo dia da Semana Santa, que é a parte final da quaresma, faz referência à “paixão” de Jesus Cristo, sua a morte e ressurreição. Tais eventos ocorreram no período em que os judeus comemoravam a páscoa, e é por conta disso, e do sincretismo religioso com outras religiões que promoviam festas no mesmo período (início da primavera), que a pascoa acabou se tornando uma das principais festas do ano litúrgico católico romano. É bom que se diga que a maior parte dos cristãos de tradição protestante não comemora a páscoa.

COMO ASSIM NÃO COMEMORAM?
Os protestantes entendem que a páscoa era uma festa característica da religião judaica e que ela era apenas uma tipificação, uma sombra, um símbolo, uma prefiguração da obra redentora que Jesus haveria de consumar. Assim sendo, a festa pascoal judaica teria perdido a sua razão de ser com a nova aliança promovida por Jesus Cristo na cruz do Calvário, já que um sacrifício definitivo fora promovido pelo próprio Jesus, o “cordeiro pascoal” (I Co 5:7) “imaculado” (I Pe 1:19), que “tira o pecado do mundo” (Jo 1:29, 36). A páscoa judaica fazia referência a uma morte vicária, a de um cordeiro inocente em favor de um condenado. A casa marcada com o sangue inocente preservava o primogênito da morte. Em analogia, Jesus foi este cordeiro inocente sacrificado em favor de todos os que haveriam de crer nele. Pelo sangue de Jesus, o “cordeiro pascoal”, é que o cristão, pela fé na morte expiatória feita, é poupado da condenação eterna (1 Pedro 1:19). E o memorial da “paixão” de cristo, apesar de ter acontecido no período da ceia pascoal judaica, segundo os protestantes, não é a páscoa propriamente dita, e sim a Santa Ceia.

EXPLIQUE MELHOR ESSA RELAÇÃO ENTRE A PÁSCOA E A SANTA CEIA?

A chamada Santa Ceia, a última refeição que Jesus tomou com seus discípulos antes de ser crucificado, foi uma ceia realizada no momento em que se dava a ceia pascoal judaica. Como o próprio Jesus disse: “desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça” (Lucas 22:15). No entanto, no momento da realização da ceia judaica pascal, Jesus modifica o ritual mosaico, em vez do cordeiro, ele introduz novos elementos – o pão e vinho. E afirma que os fatos a serem lembrados a partir de então seriam a sua própria morte e ressurreição, e não mais a libertação dos judeus do Egito (Mateus 26.26-30). Portanto, os protestantes entendem que o memorial de sua “paixão” não seria a páscoa e sim a Santa Ceia que, como já foi falado, foi instituída no contexto histórico da comemoração da pascoal judaica.

OBS: há, atualmente, uma tendência judaizante dentro de algumas igrejas protestantes neopentencostais de importa práticas, símbolos e festas judaicas, daí ser comum presenciar nelas comemoração não só da festa de pascoa, como também a dos tabernáculos, etc.

E O QUE OVO E O COELHO TEM A VER COM A PASCOA?
Nada! Absolutamente nada. Não tem nada a ver nem com a páscoa judaica e nem com a páscoa cristã. Tanto o ovo quanto o coelho foram incluídos na festa cristã da páscoa por conta da miscigenação cultural e religiosa que aconteceu após a oficialização do cristianismo como religião oficial do império romano. Com a cristianização forçada dos povos germânicos, muitas práticas religiosas “pagãs”, por questões políticas, foram incorporadas ao cristianismo. No mesmo período da pascoa, os germânicos prestavam culto à deusa Ostara (Deusa da primavera), que era simbolizada na forma de coelho. Ora, coelho não põe ovos. Mas os ovos, assim como os coelhos, eram símbolos da fertilidade, por isso, no fim do inverno e início da primavera, era costume adoradores da deusa presentearem-se mutuamente com ovos. É bom que se diga que o ovo era considerado algo místico por inúmeros povos da antiguidade. Portanto, tanto o ovo quanto o coelho foram resultados do sincretismo religioso entre o cristianismo católico romano e o ostaracismo. 


ENTÃO COMER OVOS DE PASCOA TEM UM SENTIDO RELIGIOSO?
Sim, claro que tem, no entanto, um sentido pagão, do ponto de vista cristão. Por exemplo, se alguém participar da ceia pascoal judaica, mesmo sem saber, participa de um ato religioso. Assim também, quando alguém consome ovos de pascoa e enfeita sua casa com coelhos, está, mesmo que não tenha consciência disso, pactuando com o patrimônio histórico religioso de culto à deusa Ostara. Muitas festas culturais ocidentais têm origem religiosa, a páscoa é só mais um exemplo disso, o carnaval é outro. No entanto, tanto uma quanto a outra são mercantilizadas, perdendo, com isso, o conteúdo religioso e ganhando formas puramente comerciais. É a capitalização da cultura, isso acontece quando tradições são mantidas e revalorizadas especialmente para dar lucro - estimular a compra e venda de certos produtos e serviços. E claro, promover a alienação coletiva.

E POR QUE OVOS DE CHOCOLATES?
A história dos ovos de chocolates é bastante recente. O costume anterior era o de enfeitar ovos de galinha com pinturas. A chocolatização dos ovos de páscoa aconteceu a partir da década de 1930 na Inglaterra, quando o cacau passou a ser industrializado em larga escala.

QUAL A REAL DATA DE COMEMORAR A PASCOA?
Não existe uma data certa, o que existe é uma convenção estabelecida no Concílio de Nicéia (325), que para diferenciar a data da páscoa judaica, leva em consideração a astrologia para marcar a páscoa cristã - a primeira lua cheia após o equinócio de primavera (20/21 de março). Acontece que a tal primeira lua cheia não tem data fixa, tornando a comemoração da páscoa algo móvel ano após ano. Além do mais, como é sabido, no século XV, o Papa Gregório XIII promulgou outro calendário, o “gregoriano”, que pretendia corrigir os erros do  “Juliano”. Isso, obviamente, alterou a data da comemoração da páscoa. No oriente, os chamados cristãos ortodoxos levam em consideração o antigo calendário juliano, comemorando a páscoa geralmente em abril.


VOCÊ ACHA CERTO A COMEMORAÇÃO DA PÁSCOA?
Acredito que cada um deve fazer uso de sua liberdade de culto e comemorar o que bem entender, porém, o Estado não deveria endossar nenhuma data religiosa como feriado nacional. 




sexta-feira, 2 de março de 2018

Professor da UFAC lançará livro sobre Análise do Discurso nas Ciências Humanas

"Apesar da aparente distância entre as duas ciências, elas guardam algumas relações comuns entre si, podendo se auto ajudarem na elucidação dos seus respectivos objetos de estudo. Afinal, todo fenômeno linguístico também é um fenômeno histórico, uma vez que é um produto das ações dos homens no tempo. E todo fenômeno histórico, quando narrado oralmente ou graficamente, também se constitui em um fenômeno linguístico, uma vez que terá que fazer uso inevitável da linguagem para ser preservado na memória coletiva. " Dr. Eduardo Carneiro