quinta-feira, 28 de agosto de 2008

MEMÓRIA E IDENTIDADE

Por Fátima Almeida - historiadora acreana Fonte: http://altino.blogspot.com/2007_08_01_archive.html A memória e a identidade são dois conceitos que se constroem mutuamente, de modo que a eliminação de um é a eliminação de outro. Na primeira gestão de Gregório Filho como presidente da Fundação Cultural do Estado, o antigo prédio da Radional foi reformado e adaptado para instalação de um Museu do Seringueiro. Estudantes e turistas podiam adentrar no recinto a qualquer hora e se deparar com uma casa de seringueiro feita de paxiúba com todos os apetrechos da lida diária de um seringueiro, afora exposições, ambiente para projeção de vídeo, relacionados à temática.No anexo, uma exposição permanente de Hélio Melo, artista plástico acreano que mais se aproximou de uma arte autenticamente amazônica, desde a temática, desenho e iluminação, afora o fato inconteste de ser uma arte vinda de baixo, uma arte de resistência, portanto. Além disso, Gregório Filho criou um programa de pesquisa sobre a cultura dos seringais, aberto a todos interessados, contratando inclusive, orientadores. Na gestão “democrática” do PT, o espaço foi reformado e transformado em Museu dos Autonomistas, com muito requinte, diga-se de passagem. O movimento autonomista tem vários significados, conforme o olhar do historiador. A meu ver foi uma luta das oligarquias locais pela elevação do Território Federal do Acre à condição de mais um Estado patrimonialista.Hoje, naquele espaço, podemos ver uma galeria de fotografias de todos os governadores. Qual a memória que se quer perpetuar e acondicionar às novas gerações? A dos Chefes de Estado, claro. A memória dos trabalhadores, bem como suas formas de resistência, desapareceram do cenário. Hoje temos populações desenraizadas e o vazio deixado pelas lideranças dos movimentos sociais, cooptadas, está sendo preenchido por promessas enganosas de todas as vertentes do oportunismo.Esse é o modo como os governos, no Brasil, eliminam as possibilidades das classes populares sentirem-se parte da história, serem excluídas da participação nas decisões. E, desse modo, os governantes ficam à vontade para moldar a cidade conforme os interesses das empreiteiras, construtoras e concessionárias de carros. O povo não se sente parte do processo e por isso ocorrem as depredações, as queimadas, a violência de que temos notícia, a toda hora.No Brasil, os projetos de urbanização e modernização, desde o início da República, têm por padrão a eliminação das classes pobres do centro da cidade. Os centros são espaços nobres, para as classes médias, turistas e ricos. Os pobres devem ser varridos para a periferia e desse modo excluídos também do exercício da cidadania, dos espaços decisórios. E assim os problemas sociais são varridos para debaixo do tapete. O espaço urbano é sempre ocupado de acordo com os interesses das construtoras, da especulação imobiliária, das empresas de transportes, que são aqueles que decidem. E, que desenfreados, elevam os preços de compra, aluguéis e transporte de forma insuportável para as classes baixas, afora os danos ambientais, tais como eliminação de áreas verdes urbanas e excessiva pressão sobre os esgotos que vão dar no rio Acre. Quanto a isso, aos danos, todos nós pagamos a conta, inclusive os que ainda nem nasceram.Não existe, portanto, arte pela arte. Nem mesmo a ciência pode ser neutra. Não pode haver beleza na mentira, no engôdo, na omissão, apenas desgosto. A estética e a ética estão também uma para a outra. Não é por isso que Abaporu é a obra das obras do modernismo brasileiro? A gestão dos órgãos de cultura não pode fugir às determinações históricas. Ou é comprometida com a memória e a identidade das classes baixas, ou é passiva e conivente com os interesses dos tubarões, que controlam os governos em todo o mundo.Para a classe artística o problema está colocado nesses termos: ser ou não ser Estado. Recomendo o historiador Sidney Challoub que aprofunda essa discussão a partir de seu trabalho sobre demolição dos cortiços no Rio de Janeiro, quando teve início a era das favelas naquela cidade, e também o filme sobre Milton Santos, grande alma, geógrafo baiano, marxista, que ganhou o prêmio Júri Popular no último Festival de Cinema de Brasília, com narração de Fernanda Montenegro.

domingo, 24 de agosto de 2008

RESUMO DE LIVRO: RIBERA, Hernán Messuti. La dramática desmembración Del Acre. Sucre: Editora judicial, 1997.

Exército boliviano. (Fonte: Memorial dos Autonomista)
O autor é pandino. Tem a desmembração como uma tragédia. Por vários motivos a Bolívia teve dificuldade inicial de assentar sua soberania no local. - O Acre era a parte norte da Bolivia. “Me angustia saber que las bases sobre las que se sustentan los derechos territoriales de una nación, los datos históricos, Sean desconocidos por sus habitantes, especialmente por los jóvenes que constituyen la continuación de la vida de una nación” p. 9. “La riqueza de esta región del mundo es tanta que ha provocado la codicia de nuestros vecinos desde tiempos inmemoriales y provocado la mutilación de nuestro territorio” p. 9. CAP. 1 – ANTECEDENTES HISTTÓRICOS DE LA CONQUISTA DEL ORIENTE BOLIVIANO “Bolivia que nació a la vida independiente con más de 3 millones de kilómetros cuadrados de superficie territorial, cuenta en la actualidad con sólo 1 millón y fracción de kilómetros cuadrados […] estas causas fueron múltiples, a saber: negligencia de sus gobernantes, falta de interés por las fronteras de sus fuerzas armadas – más interesadas en trajines políticos -, la poca atracción que ejercen las tierras de frontera para los habitantes de la zonas más pobladas – que se encuentran en las regiones altas […] prácticamente los bolivianos no ejercemos nuestros derechos de soberanía sobre las fronteras, consideramos que esos territorios son nuestros y que no tenemos por qué mostrar nuestra presencia allí ya que los papeles dicen que son nuestros territorios, error garrafal que nos hizo perder el litoral, el Acre y el Chaco Boreal, para citar sólo las pérdidas mayores ” p. 11. “En cuanto se refiere a las tierras situadas al Norte de esta Cordillera, esto es, hacia las tierras que hoy se denominan como Beni y Pando, sólo se conoce una incursión de los ejércitos del Inca Tupac Yupanqui en el siglo XV, expedición que bajó a lo largo del río Amaru o Manutata o Madre de Dios” p. 14. “Durante el período que comienza con la formación de la República, las luchas intestinas por el poder, de los capitanejos presidenciables, hicieron que los habitantes de Bolivia sólo se preocupasen de las revoluciones en el altiplano, y si alguna vez, un presidente se acordó del oriente boliviano fue con motivo de hacer un regalo de tierras al Brasil, como la del Matogrosso y el Acre, en retribución por unas condecoraciones y e un CABALHO REGALADOS AL GRAL. Mariano Melgarejo, o firmar un tratado desastroso, como el llamado Tratado de Ayacucho en 1867” p. 16. Ler: MOREIRA, Miguel Mercado. Historia Internacional de Bolivia, La Paz, 1930. “Es que Bolivia nació como un organismo central, colocado en el corazón de América del Sur, pero sin caminos, ni para el océano, ni para los llanos” p. 16. “Los hombres públicos de Bolivia, con fuerte instinto de conservación del poder, están siempre más preocupados de mantener sus posiciones personales, siempre bajo la amenaza de precariedad del régimen, que ver por las necesidades nacionales o enfrentar los problemas de la demarcación de limites y la defensa de las fronteras” p. 17. “Debido al hecho de que nadie había llegado a encontrar las nacientes del río yavari, la propuesta brasileña se la hacía en la suposición de que las fuentes de origen estarían un poco por debajo de los 10° 20’ de latitud Sur […] años más tarde aceptada y firmada durante la presidencia del Gral. Mariano Melgarejo, quien se siente halagado por las condecoraciones concedidas por el Brasil a su persona. De esta menera, el nuevo tratado es firmado el 27 de marzo de 1867 y se le dio el nombre de Tratado de Ayacucho” p. 18. OBS: contradiz Leandro Tocantins quando diz que o tratado foi assinado sem que ambas as nações conhecessem de fato o territorio. Para ele, todos já conheciam as riquezas locais. Mais tarde se descobriu que a nascente do Javai era 7° 30’, em vez de 10°20’. Dessa forma, o Brasil perdia 70% do que Thaumaturgo de Azevedo chamou de “as terras mais produtivas de borracha”. Depois do achado, o Brasil procurou tornar inválido o tratado de 1967, já que a nascente foi achada em lugar não antes planejado. “Gracias a la habilidad diplomática del Ministro Paravicini, el Brasil no pudo sostener sus pretensiones y se llega a la firma de un Protocolo el 23 de septiembre de 1898, por el cual, el Brasil reconocía que el territorio, motivo de la discusión, era sin duda alguna boliviano” p. 20. Quizá nada más hubiera pasado, pero el deseo del Brasil por poseer el territorio del Acre se vuelve acuciante, debido a que las necesidades de goma en el mundo van en aumento debido a su vez a la revolución industrial que emplea cada vez más la goma elástica, haciendo subir su precio […] El Brasil, que había estado exportando goma elástica desde el siglo XVII, tiene ahora necesidad urgente de apropiarse de las tierras que producen la mayor cantidad de goma elástica, esto es, la del territorio del Acre. Así es que vuelve a presentar a Bolivia su reclamación sobre la posesión de estos territorios, poniendo como pretexto, para la petición, el error que había existido en los términos del tratado al no determinar exactamente el lugar del nacimiento del río yavari” p. 21. “Para que sea comprendido en toda su magnitud el deseo del Brasil por poseer estas tierras, es necesario también hacer una breve historia del árbol hevea y de su resina, la goma elástica” p. 21. - Segundo o autor, a borracha foi conhecida na europa por volta de 1536. La Condamine em 1736 a popularizou. P. 22-23. “El primer brasileño que se asienta en territorio boliviano del Acre es un tal de Manuel Nicolau de Mello, allá por el año 1852 y tras él le sigue una corriente enorme de emigrantes” p. 23. “En 1874, Juan Gabriel Carbalho y Nicolau de Melo, descubren los orígenes del río, Aquiri o Acre y comienzan a explorar los árboles de la goma ayudados por los indios Ipurinas” p. 24. “Este éxodo tan tremendo de la población brasileña hacia la tierra de promisión, en este caso el tierra de promisión, en este caso el territorio del Acre boliviano, sólo se lo vio en la historia en el pueblo judío y así lo dice el escritor brasileño Euclides de Cunha” p. 24. “Llegaban a trabajar esos desheredados del mundo, en la extracción del látex del árbol de la goma, sin tener mayor conocimiento sobre la forma de extracción de allí que fueron matando muchos árboles. A estos trabajadores se denominó siringueros” p. 24. CAP. 2 – DEFINICION DE LINEAS DE FRONTERA ENTRE ESPAÑA Y PORTUGAL EN AMÉRICA “Decíamos que todas las expediciones que partieron de la costa del Brasil, así como las que remontaron el Río de La Plata, tuvieron un solo objetivo, la conquista de la Sierra de La Plata y el Imperio del Rey blanco” p. 27. “El número de habitantes en esta zona, en el momento en que se inicia el conflicto con Bolivia, ya llegaba a los 50.000 habitantes” p. 34. “Como dato informativo interesante, debo decir que la existencia de la goma elástica sólo es conocida en Bolivia en el año 1868, año en que se descubre por primera vez un árbol de goma en el Puerto de la misión de Cavinas, sobre el río Beni, descubrimiento que fue realizado por el ex Sargento Mayor Francisco Cárdenas, chuquisaqueño, que había sido deportado al Brasil como consecuencia de su actuación en un acto revolucionario contra el Gral. Melgarejo en el año 1866” p. 34. “Este asentamiento de los tres primeros bolivianos que llegaron al territorio de Pando se lo hizo en el año 1870” p. 35. “El resto del Departamento de Pando seguía siendo desconocido para Bolivia hasta el año 1880, pues éste es el año en que el médico y explorador, Dr. Edwin Heath, descubre un poco más de lo que existía en ese territorio” p. 35. CAP. 3 – ETNIAS DEL DEPARTAMENTO PANDO (p. 39) - O Acre era o oriente boliviano. “El territorio que recibe hoy día el nombre de Departamento de Pando, se encontraba ocupado desde mucho siglos atrás, por numerosas tribus de silvícolas que se asentaban por lo general en la ribera de los ríos. Estas tribus pertenecían a diferentes grupos silvícolas con lenguaje diferente, entre los que encontramos a los yaminahuas que estaban asentados en las naciente del río Acre” p. 39. “De acuerdo a los estudios de su lenguaje, efectuado por los profesores del Instituto Lingüístico de Verano, las tribus de esta región tendrían un origen polinesia, que se sabe por la semejanza con las palabras de las tribus de la Polinesia” p. 40. - No rio Beni “La tribu principal, como dije antes, era la Araona que llegó a contar, según los informes del padre José Pérez Reymants, en el año 1770 con un número superior a los 30.000 miembros… constituía una verdadera nación” p. 40. “Los últimos datos estadísticos sobre el número de personas que quedan de estas tribus son alarmantes, pues si comparamos lo datos del año 1905 en el que el total sobrepasaba los 65.000 individuos, con los datos actuales en los que el total no pasa de los 6.000, veremos que ha existido una mortalidad del 90%, sacrificados en el altar de la civilización” p. 44-45. “Su presencia en estas tierras significó para los industriales gomeros una forma fácil y rápida para conseguir esclavos. A los que no se sometieron se los exterminó sin misericordia, hombres, mujeres y niños fueron asesinados en el área de la industrialización” p. 45. CAP. IV – FUNDACIÓN DE LA ADUANA DE PUERTO ALONSO EN EL ACRE (P. 47) - O autor diz que o Brasil não se contentou com o traçado estabelecido pelo Tratado Muñoz-López Neto. “Con ese propósito comienza por presionar al Embajador de Bolivia en Rio de Janeiro, Don José Paravicini, con amenazas veladas de invasión” p. 47. “… los datos arriba mencionados me permiten llegar a la siguiente concusión: es de absoluta urgencia y necesidad que Bolivia se apure a tomar posesión de sus territorios de las fronteras y de inmediato, por lo menos, de las regiones ya demarcadas por los ríos Acre, Iaco Y Purús, y añade algo más, por si acaso al Consejo no le interesara el sacrificio de defender la heredad patria… La solución de este problema de nuestra frontera está representada por esta fórmula: ocupación inmediata de los territorios de frontera” p. 47, (Paravicini, perante o conselho dos ministros bolivianos em 26 de maio de 1898). “… puesto aduanero en las márgenes del río Acre o Aquiri en territorio incontestablemente boliviano, esto es por debajo de la línea trazada desde el origen del Madera a ala margen derecho del Yavarí en la latitud determinada por Cunha y Gómez” p. 50. - Paravicini lucrou vários dólares pela missão que liderou p. 50. “A su llegada a Manaos, el Ministro Paravicini, es bien recibido por el Gobernador del Estado del Amazonas, Ramallo Junior, debido a un telegrama enviado por el Canciller Dionicio de Cerqueira quien le ordena recibir bien al Embajador Paravicini y además le instruía que debía controlar el lugar del asentamiento de la aduana” p. 50. - Partem em 22 de dezembro de 1898 e chegam no dia 30. “Para los brasileños de esa localidad aquella posesión imprevista del territorio del Acre, por parte de los bolivianos, era un asalto de aventureros que deseaban hacer una fortuna en pocos días con el trabajo que durante 30 años ellos habían realizado […] no se había hecho saber a esos pobres vagabundos desterrados, y esta situación la había planificado el Gobernador del Amazonas, Ramallo Junior, que aparentado obedecer las órdenes superiores se olvidaba de comunicar a sus gobernados, porque lo que él quería era que los brasileños asentados en el Acre consideraran a los recién llegados como intrusos usurpadores de un territorio brasileño” p. 51. - O superintendente do Município de Floriano Peixoto não estava no local quando da tomada de Porto Acre. Quando soube “sin obedecer las ordenes de la aduana de Bolivia va a encostar mucho más arriga en la barraca BOM DESTINO, lugar donde hace llamar a los dueños del seringal y comienza a confabular para expulsar a los invasores, según su expresión, que amenazaban la posesión de su gomales” p. 51-52. - BOM DESTINO: “convertirse en el centro de entrenamiento de los ejércitos de éstos, en las QUATRO REVOLUCINES del Acre” p. 52. “El dominio del territorio del Acre por parte de su legítimo propietario, Bolivia, se inicia con la llegada del Embajador Paravicini a esas tierras, que hasta ese momento el Estado del Amazonas había considerado como suyas. Esta acción produjo una reacción de rechazó entre los poseedores de seringales que creían que con esta nueva situación perderían sus derechos sobre ellos” p. 52. “El Consulado del Dr. Paravicini, em Puerto Alonso, duró 111 días, comenzando el día 2 de enero de 1899 hasta el 23 de abril del mismo año” p. 52. “La conquista de la selva acreana hecha por gente extranjera, en su mayor parte brasileña, le daba al Estado del Amazonas una renda anual nada despreciable y como bien había dicho el Ministro Paravicini en su informe al Consejo de Ministro, Bolivia perdía 12 millones de bolivianos anuales con su ausencia de esos lugares” p. 53. “Todo el conflicto giraba en torno a estos factores: Bolivia quería tomar las riendas del territorio del Acre, que por derecho le pertenecía, y el Estado del Amazonas perjudicado en sus recaudaciones fiscales se oponía tenazmente, pero entre bastidores, al funcionamiento de la aduana de Puerto Alonso. Para efectuar esa oposición contaba con la adhesión de los siringueros, los empleados públicos, los empleados locales y los comerciantes del Pará y Manaos, un complejo de intereses que se movían para oponerse a los cambios de una situación que les estaba produciendo riquezas y poder político” p. 53 “pero cualquier cambio en el estado de cosas en ese momento era tenido como atentatorio contra los intereses económicos de los siringueros” p. 53. “en período de adaptación a un medio duro, salvaje, donde imperaba la ley del más fuerte” p.53. “Estos dos decretos del Ministro Paravicini demuestran su propósito de disciplinar la explotación industrial de los árboles de la goma, que muchas veces habían sido forzados a das más látex de lo que convenía o al drenarlos violentamente por el sistema de sangría vertical, casi siempre causaban la muerte del árbol … ellos sólo les interesaba el presente, con perspectivas de lucro seguro y el dinero y el crédito fácil” p. 54. Relatório de PARAVICINI: “Durante la administración brasileña en el territorio del Acre no se creó ni una escuela, no se construyó ningún edificio para el culto y el Estado del Amazonas recibía nabalmente más de 5 mil contos de impuestos sobre la goma y el Tesoro Federal recibía el doble de esta cantidad, aparte de lo que recibía por los impuestos sobre los derechos de importación de la mercadoría que ingresaba al territorio” p. 55. “Para tener una idea del movimiento comercial que se tenía en el río Acre, basta leer el registro del Ministro Paravicini que señala el paso de 24 barcos en 57 días, que pagaron derechos de aduana por valor de 1.000.000 de pesos bolivianos. El número de brasileños que trabajaban sólo en el río Acre en esos días alcanzaba a los 15.000” p. 56. “En resumen analizando los 100 días de administración en el Acre del Ministro Paravicini se ve que las acusaciones hechas por los brasileños sobre el alto cobro de impuestos en la Aduana de Puerto Alonso no fueron justas ya que el gobierno de Bolivia cobraba el 20% ad valorem, mientras que el Brasil cobraba el 26%” p. 56. “Además durante el régimen de la administración brasileña las mercadería al ser importadas hacia el Acre tenían que pagar el 15 % ad valorem, superior al cobro de la administración boliviana que era del 10%. La política del Ministro Paravicini fue la de tratar de congraciarse con los productores evitando cobrar impuestos excesivos y efectuar cambios muy violentos en el sistema de cambio comercial “ p. 57. CAP. V – INFLUENCIA DEL GOBERNADOR RAMALHO JUNIOR EN LA INSURRECCIN DEL ACRE (p. 59). “El Gobernador José Cardoso Ramallo Junior, a pesar de haber demostrado cordialidad en la recepción hecha al Dr. José Paravicini, en Manaos, no estaba de acuerdo con las órdenes emitidas por el Gobierno Federal con referencial al territorio del Acre, pero por obediencia a las órdenes del poder central, aparentó una cordialidad que no sentía, mientras respaldaba silenciosamente la insurrección en el Acre” p. 59. “Quién era este gobernador Ramallo Junior? Era un político sin escrúpulos que habían tendido trampas políticas a su antecesor el ex Gobernador Fileto Pires, haciéndolo renunciar al final, y gracias a esta circunstancia él pudo obtener la Gobernación del Estado de Amazonas. Durante su gestión despilfarraba los dineros del Estado, llegando a tener una deuda tan grande que el Gobierno Federal casi llega a decretar la intervención del Estado del Amazonas” p. 59. “El Presidente del Brasil, Campos Sales, escuchó relatos muy desagradables sobre la administración de Ramallo Junior, tanto en el Brasil como en Europa, relatos en los que se describían hechos falta de moral en ese gobernador, tanto en sus actos particulares como en el empleo de dineros públicos en beneficio proprio, por lo que al regresar al Brasil hace conocer su intención de intervenir el Estado del Amazonas” p. 60. - Utilizo a situación do Acre para: “desviar la ira del Presidente Campos hacia otros problemas, el internacional, reclamando de su patriotismo para su solución, explotaba la situación para presentarla como una cortina de humo que borrase su situación y que se preocupase de otra cosa” p. 60. “Ramallo Junior ganó su batalla, la intervención federal fue suspendida, y ahora él encontraba libre para atacar el Acre” p. 61. “El espíritu de rebeldía estaba siendo sembrado por José Carvallo, ex periodista en Manaos y ahora enviado secreto de Ramallo Junior. Para realizar su labor de anarquista establece su cuartel general en la barraca Bon Destino y allí cita a todos los dueños de seringales vecinos a los que convence para efectuar la toma de Puerto Alonso. Allí discuten el plan para el ataque, pero primero deciden enviar un oficio para tantear el ánimo del Delegado Santivánez” p. 62. “En ese momento en la Aduana de Puerto Alonso sólo se encontraban, aparte del Delegado el Mayor Benigno Gamarra, como comandante militar al mando de apenas 15 soldados y además 4 funcionarios civiles” p. 63. “Santivánez tiene que aceptar el ultimátum al desbordarse por todo Puerto Alonso los cientos de siringueros que habían llegado en el barco. Al final la comitiva boliviana se retira del lugar embarcando en el mismo barco BOTELHO[1], que había traído a los revolucionarios” p. 65. “Así sin disparar un solo tiro termina la primera revolución en el territorio del Acre” p. 65. CAP. VI – SEGUNDA REVOLUCION ENE EL TERRITORIO DEL ACRE (p. 67). “Ahora hace su entrada en el escenario de la historia del Acre un personaje que parece sacado de una novela, Luiz Galves Rodríguez de Arias, español, ex funcionario de la Embajada de España el la Argentina, soldado de fortuna, mercenario, ex estudiante de derecho, dicen que también trató de seguir la carrera de las armas pero fue expulsado por inmoral” p. 67. “Galves conquistador compulsivo de toda mujer que se le ponga al frente, tiene un problema con una de sus conquistas por lo que debe batirse en duelo hiriendo gravemente a su adversario, que era hijo de una familia poderosa la que consigue hacerlo despedir del Bando. Cesante y sin un centavo nuevamente recurre a su amistad con Alonso Martínez y gracias a su influencia logra ingresar como empleado en el Ministerio de Relaciones Exteriores de España. Poco después es enviado a Roma como parte del personal de la Embajada de España en esa ciudad. Un año más tarde es trasladado a la Embajada de España a Buenos Aires, donde vueve a tener problemas por sus conquistas amorosas y para completar su situación toma dinero perteneciente a los gastos de la Embajada, acto por el que es despedido” p. 67. - De Buenos Aires vai tirar a sorte no Rio de Janeiro, “pero Galves no puede con su genio, buebe a tener problemas femeninos y se escapa a Manaos” p. 68. “los brasileños que efectuaron la toma de Puerto Alonso, expulsando a los funcionarios bolivianos el 1° de mayo de 1899, fueron castigados por el gobierno del Brasil quien destituyó a las autoridades culpables, nombrando otras nuevas en remplazo de aquéllas en el Municipio de Floridano Peixoto” p. 68. “Pero como no puede demostrar su oposición en forma clara y directa prepara y financia un cuerpo expedicionario destinado a producir agitación y una atmósfera de civismo entre los habitantes del Acre en contra de Bolivia” p. 68. $$$ - Na tripulação de Galbez tinha 10 ex soldados do exército brasileiro. “Por coincidencia viajaban en el mismo barco las nuevas autoridades del Municipio de Floriano Peixoto” p. 69. “envía a un grupo de mercenarios para que promuevan una revolución en contra de los bolivianos” p. 69. “todo esto partencia a un plan largamente estudiado por Ramallo Junior para ir moldeando la opinión pública brasileña en contra de la posesión del territorio de Acre por Bolivia” p. 69. - Para convencer os seringalistas, Galvez “vaticinaba las calamidades más grandes que sobrevendrían con la posesión de Bolivia de esos territorios, lo que se agravaría con la apuración de los miembros del Sindicato Americano” p. 70. “Durante su presidencia Galves emitió 27 decretos, y organizó un ejército, vendiendo las patentes de los grados de oficiales a los dueños de los seringalales, cuando más alto del grado mayor el precio” p. 71. “de Xapuri le llega la noticia de que esta población no se había adherido al Estado independiente y más bien se preparaba para resistir a sus demandas” p. 72. - Quando Galvez proibe a comercialização da borracha: “los comerciantes afectados en sus intereses, los mismos comerciantes que antes habían apoyado las tácticas del Gobernador Ramallo Junior, que habían contribuido monetariamente para el envío de la expedición de Galves, ahora se vuelven sus enemigos y exigen la destrucción inmediata del español” p. 75. CAP. VII – CAIDA DE GALVES Y DESAPARICION DE SU REPUBLICA (p. 77). - De dezembro a maio: cheia, bom para a navegação. “Y como se esperaba en El mes de diciembre de 1899 el aumento de las aguas fue puntual y entonces los barcos subieron El cauce de los ríos llenos de mercaderías en busca de la goma elástica, pero esta vez se encuentran con el decreto de Galves que prohíbe la salida de goma elástica, esta medida ocasiona una conmoción indescriptible de los que van llegando. Los comerciantes se desesperan, tratan de llegar a un acuerdo con Galves pero éste es inflexible p. 77. “Pero por el mismo rio Acre ya sube en uno de los barcos otro enviado de Ramallo Junior, el Cel. Antonio de Souza Braga, que trae órdenes de terminar con la República de Galves” p. 77. “en la fecha se encontraba en Xapuri tratando de convencer a sus pobladores a que se plieguen a su causa” p. 78. “Así es que la comisión boliviana llega al Acre acompañada solamente por el capitán Leite Barbosa, enviado especial del gobierno brasileño” p. 79. “Después de 3 horas de combate y al faltar munición a las fuerzas bolivianas, Ibarra decide rendirse” p. 79. “Tanto en Riosinho y Fortaleza los brasileños no estaban muy contentos con el gobierno de Braga y los dueños de estos seringales preparan un golpe para libertar a Galves” p. 80. [1] “En esse barco hacen bajar al mayor número de personas que les es posible, con el fin de deponer a las autoridades bolivianas. En ese mismo barco, ya lleno de siringueros, en la mañana del 30 de abril de 1899 a las cinco de la madrugada salen de Caquetá rio abajo por el Acre y a las 7 de la mañana ya estaban llegando a Puerto Alonso” p. 63.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Olhares oblíquos, leituras diversas II

Fonte: Jornal A Tribuna, 23 de janeiro de 2005, p. 16.
Ao ler esse discurso, quais conclusões você chega? Eu cheguei a essas:
a) o nascimento do Acre aconteceu com o fim da Revolução Acreana; b) a vitória brasileira só foi possível após quatro anos de guerra e dez dias de combate nas trincheiras; c) o desfecho do combate foi valorado positivamente como “grande vitória”; d) o combate foi merecedor da lembrança do Governo do Estado; e) mulheres também participaram do combate, pois deram suas vidas em prol da terra; e) dar a vida em prol da terra constitui-se numa ação digna de homenagens governamentais; f) homens e mulheres doaram suas vidas pensando no bem das gerações futuras, uma vez que lutaram para consolidar o “destino do povo”; g) O Acre nasceu para o mundo CIVILIZADO, e enquanto moradia morreu para os não-civilizados; h) aquele que se sacrifica em prol dessa terra será homenagiado pelo Estado.
REFLEXÕES INEVITÁVEIS:
1) Por que devemos acreditar que "o nascimento do Acre" se deu com o fim da Revolução Acreana?
De qual Acre esse discurso se refere? Se for o Acre território, ele só foi criado em 1904. Se for o Acre, terra legalmente pertencente ao Brasil, só foi possível a partir da asssinatura dos Tratados Internacionais com a Bolíva e Peru (1903 e 1909).
A chegada dos primeiros “colonizadores” vindos com o cearense João Gabriel em 1857 poderia ter marcado o início do Acre, mas não marcou.
O processo de migração nordestina para a região nos idos de 1870, também poderia, mas não marcou.
O primeiro levante oficial de brasileiros contra o governo boliviano em Puerto Alonso, em maio de 1899, poderia ter inaugurado o Acre, mas não inaugurou.
A proclamação do Estado Independente do Acre feito pelo espanhol Galvez em julho de 1899, também poderia.
A assinatura do Tratado de Petrópolis em 1903 poderia ter sido imortalizada pela história como o nascimento do Acre, mas não foi. Por que tantas exclusões?
Por que deve ser o fim e não o início da chamada Revolução Acreana? Querem excluir o espanhol Galvez como patrono do Acre?
Por que é necessário o estabelecimento de uma origem Acre? E por que a guerra foi o "escolhida" como o momento fundador dele?
2) "O NASCIMENTO DO ACRE".
Esse nascimento teria algo a ver com o genocídio indígena ocorrido na região naquela época?
3) "Deram suas vidas para que essa terra fosse NOSSO lugar... ".
Teriam esses "homens e mulheres" sido tão altruístas ao ponto de "darem suas vidas" por mim e por você? Não seria essa uma visão messiânica?
Teriam eles enfrentado o impaludismo, as diversas tribos indígenas, a natureza hostil, o isolamento social, a falta de infra-estrutura básica, a insalubridade, a ausência da família, a semi-escravidão, os assassinatos a sangue frio, a ausência do poder público, o exército boliviano etc., pensando "no nosso destino como povo"?.
"Nosso"??? Nós quem? o Estado e o povo? o Governo e o povo? Quem fala o faz de algum lugar... que voz é essa????
4) "NOSSO destino como povo". Que povo é esse do discurso? Que destino é esse? Por que precisou da imolação de "homens e mulheres" para ser CONSOLIDADO?
5) "homens e mulheres" [...] por que não brancos e negros? brasileiros e estrangeiros?

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

olhares oblíquos, leituras diversas

Museu da borracha
Como você lê esse discurso materializado na placa "O Acre é Cem"? Eu leio da seguinte forma:
O indígena não entra na genealogia do acreano, muito menos na história como os legítimos donos das terras. Ele simplesmente some. A estratégia foi criar uma narrativa a partir da chegada dos nordestinos à região, fazendo evaporar daquele local todo patrimônio histórico das comunidades nativas. A história da região enquanto terra habitável por seres humanos não começa onde a história oficial inicia sua narrativa. Há um silêncio sepulcral em torno da milenar presença indígena naquelas florestas.
Surpreendentemente, passado pouco mais de cem anos do início do massacre, a figura do índio aparece de mãos dadas com os seus algozes. Nas comemorações do Centenário da Revolução Acreana, o governo do Estado inscreveu a figura do índio na memória discursiva da Revolução, como se o índio tivesse lutado junto com os seringueiros em defesa do Acre que o destruiu. Uma violência simbólica sem tamanho que a história há de julgar.
A leitura que se fez dela foi que: a) a conquista da “vasta floresta amazônica” pertencente a outro país, no caso, a Bolívia, foi valorada como “gloriosa”; b) essa “gloriosa conquista” foi capaz de enriquecer “os últimos 100 anos do Brasil”; c) a “bravura” foi fundadora do Estado Independente do Acre; d) a formação do Estado Independente do Acre foi um consenso entre índios e seringueiros nordestinos; e) os seringueiros da região eram todos nordestinos, não havendo migrantes de outras regiões ou estrangeiros; f) os índios eram todos iguais, não existindo diferenças étnicas entre eles; g) a chamada revolução acreana foi um consenso entre todos os moradores da região, e que todos (“o povo”) fizeram a revolução; h) o “povo” só foi capaz de realizar a tal revolução por meio da liderança de Plácido de Castro.
Muitas perguntas são possíveis, duas delas são inevitáveis: que índios (quais etnias) eram esses mencionados pelo discurso cuja bravura foi fundamental para a constituição do Estado Independente do Acre?
Que “povo” era esse do discurso que fez a revolução, já que menos de 2% da população civilizada da região banhada pelo rio Acre foram à guerra?
Quem souber me responda... rsrsrs

terça-feira, 19 de agosto de 2008

10.000 visitas em menos de 6 meses

O blog Estudando a História veio para ficar. Em menos de seis meses ele já conquistou a marca de 10.000 visitas. Isso significa uma média de quase 60 acessos diários.
O blog inicialmente objetivou congregar num mesmo espaço virtual os mais diversos site de História. O público-alvo era os vestibulandos.
Com o passar do tempo, viu-se a necessidade de mudar um pouco o perfil do blog, colocando em destaque a História do Acre.
Hoje o blog é referênca por ser um dos poucos ou o único a unir os mais importantes textos sobre o Acre disponíveis na net num único lugar. Desde teses e dissertações a textos didáticos e resumos, favorecendo, com isso, os diversos internaltas, do pesquisador ao aluno de ensino médio.

RESUMO DE LIVRO: CHAUI, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo. 2000.

“Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste... Imita na grandeza a terra em que nasceste”. Olavo Bilac.
CAP. 1 – COM FÉ E ORGULHO (p. 5). - Rocha Pita, o primeiro historiador do Brasil, escreve em 1730: “Em nenhuma outra região se mostra o céu mais sereno, nem madrugada mais bela a aurora... enfim o Brasil Terreal Paraíso descoberto...” p. 6.
“Aprendemos que nossa história foi escrita sem derramamento de sangue... que a grandeza do território foi um feito da bravura heróica do Bandeirante” p. 6.
- Fazer uma pesquisa para saber se os acreanos sentem orgulho pelo Acre. Quais os motivos?
“... alguns dos heróis forjados para o engrandecimento da pátria (Tiradentes, Caxias, os bandeirantes e o Barão de Rio Branco): marcas de uma representação homogênea que os brasileiros possuem do país e de si mesmos” p. 7.
“... cada um de nós experimenta no cotidiano a forte presença de uma representação homogênea que os brasileiros possuem do país e de si mesmo. Essa representação permite, em certos momentos, crer na unidade, na identidade e na indivisibilidade da nação e do povo brasileiros, e, em outros momentos, conceber a divisão social e a divisão política sob a forma dos amigos da nação e dos inimigos a combater, combate que engendrará ou conservará a unidade, a identidade e a indivisibilidade nacionais” p. 7-8.
“A força persuasiva dessa representação transparece quando a vemos em ação, isto é, quando resolve imaginariamente uma tensão real e produz uma contradição que passa despercebida. É assim, por exemplo, que alguém pode afirmar que os índios são ignorantes, os negros são indolentes, os nordestinos são atrasados, os portugueses são burros, as mulheres são naturalmente inferiores, mas, simultaneamente, declarar que se orgulha de ser brasileiros porque somos um povo pacífico, ordeiro e inimigo da violência” p. 8.
“Em suma, essa representação permite que uma sociedade que tolere a existência de milhões de crianças sem infância e que, desde seu surgimento, pratica o apartheid social possa ter de si mesma a imagem positiva de sua unidade fraterna” p. 8.
“Se indagarmos de onde proveio essa representação e de onde ela tira sua força sempre renovada, seremos levados em direção ao MITO FUNDADOR[1] do Brasil, cujas raízes foram fincadas em 1500” p. 9.
“Ao falarmos em MITO nós o tomamos não apenas no sentido etimológico de narração pública de feitos lendários da comunidade (isto é, no sentido grego da palavra mythos), mas também no sentido antropológico, no qual essa narrativa é a solução imaginária para tensões, conflitos e contradições que não encontram caminho para serem resolvidos no nível da realidade” p. 9.
“Se também dizemos MITO FUNDADOR é porque... esse mito impõe um vínculo interno com o passado como origem, isto é, com um passado que não cessa nunca, que se conserva perenemente presente e, por isso mesmo, não permite o trabalho da diferença temporal e da compreensão do presente enquanto tal”. Nesse sentido, falamos em MITO também na acepção psicanalítica, ou seja, como impulso à repetição de algo imaginário que cria um bloqueio à percepção da realidade e impede lidar com ela” p. 9.
“Um MITO FUNDADOR é aquele que não cessa de encontra novos meios para exprimir-se, novas linguagens, novos valores e idéias, de tal modo que, quanto mais parece ser outra coisa, tanto mais é a repetição de si mesmo” p. 9.
- Há diferença entre mito fundador e fundação e/ou formação.
“... o registro da FORMAÇÃO é a história propriamente dita, aí incluídas suas representações...” p. 9.
“... a FUNDAÇÃO se refere a um momento passado imaginário, tido como instante originário que se mantém vivo e presente no curso do tempo, isto é, a fundação visa a algo tido como perene (quase eterno) que traveja e sustenta o curso temporal e lhe dá sentido. A fundação pretende situar-se além do tempo, fora da história, num presente que não cessa nunca sob a multiplicidade de forma ou aspectos que pode tomar” p. 9-10.
“A marca peculiar da FUNDAÇÃO é a maneira como ela põe a transcendência e a imanência do momento fundador: a fundação aparece como emanando da sociedade (em nosso caso, da nação) e, simultaneamente, como engendrando essa própria sociedade (ou nação) da qual ela emana. É pro isso que estamos nos referindo à fundação como mito” p. 10.
“O mito fundador oferece um repertório inicial de representações da realidade e, em cada momento da formação histórica, esses elementos são reorganizados tanto do ponto de vista de sua hierarquia interna (isto é, qual o elemento principal que comanda os outros) como da ampliação de seu sentido (isto é, novos elementos vêm se acrescentar ao significado primitivo)” p. 10.
“... as ideologias, que necessariamente acompanham o movimento histórico da formação, se alimentam das representações produzidas pela fundação, atualizando-as para adequá-las à nova quadra histórica. É por isso que, sob novas roupagens, o mito pode repetir-se indefinidamente[2]” p. 10. CAP. 2 – A NAÇÃO COMO SEMIÓFORO[3] (p. 11)
“SEMEIOPHOROS é uma palavra grega composta de duas outras: semeion ‘sinal’ ou ‘signo’ e phoros, ‘trazer para a frente’, ‘expor’, ‘carregar’, ‘brotar’ e ‘pegar’ (no sentido que, em português, dizemos que uma planta ‘pegou’, isto é, refere-se à fecundidade de alguma coisa). Um semeion[4] é um sinal distintivo que diferencia uma coisa de outra, mas é também um rastro ou vestígio deixado por algum animal ou por alguém, permitindo segui-lo ou rastreá-lo, donde significar ainda as provas reunidas a favor ou contra alguém” p. 11.
“... o semióforo era a comunicação com o invisível, um signo vindo do passado ou dos céus, carregando uma significação como conseqüências presentes e futuras para os homens. Com esse sentido, um semióforo é um signo trazido à frente ou empunhado para indicar algo que significa alguma outra coisa e cujo valor não é medido por sua materialidade e sim por sua força simbólica: uma simples pedra se for o local onde um deus apareceu... Um semióforo é fecundo porque dele não cessa de brotar efeitos de significação” p. 12.
“Um semióforo é, pois, um acontecimento, um animal, um objeto, uma pessoa ou uma instituição retirados do circuito do uso ou sem utilidade direta e simbólico, capaz de relacionar o visível e o invisível, seja no espaço, seja no tempo, pois o invisível pode ser o sagrado (um espaço além de todo espaço) ou o passado ou o futuro distante (um tempo sem tempo ou eternidade)...” p. 12.
“É um objeto de celebração (o semióforo) por meio de cultos religiosos, peregrinações a lugares santos, representações teatrais de feitos heróicos, comícios e passeatas em datas públicas festivas, monumentos; e seu lugar deve ser público... locais onde toda a sociedade possa comunicar-se celebrando algo comum a todos e que conserva e assegura o sentimento de comunhão e de unidade” p. 12.
- Os semióforos são signos de poder e prestígio. O poder político estimula a propaganda de novos semióforos para o culto cívico.
- Embora um semióforo seja lago retirado do circuito da utilidade e esteja encarregado de simbolizar o invisível espacial ou temporal e de celebrar a unidade indivisa dos que compartilham uma crença comum ou um passado comum, ele é também posse e propriedade daqueles que detêm o poder para produzir e conservar um sistema de crenças ou um sistema de instituições que lhes permite dominar um meio social” p. 13.
“Dessa disputa de poder e de prestígio nascem, sob a ação do poder político, o patrimônio artístico e o patrimônio histórico-geográfico da nação, isto é, aquilo que o poder político detém como seu contra o poder religioso e o poder econômico” p. 14.
“Para realizar essa tarefa, o poder político precisa construir um semióforo fundamental, aquele que será o lugar e o guardião dos semióforos públicos. Esse semióforo matriz é a nação” p. 14.
“Por meio da intelligentsia (ou de seus intelectuais orgânicos), da escola, da biblioteca, do museu, do arquivo de documentos raros, do patrimônio histórico e geográfico e dos monumentos celebratórios, o poder político faz da nação o sujeito produtor dos semióforos nacionais e, ao mesmo tempo, o objeto do culto integrador da sociedade uma e indivisa” p. 14. 2.1 – A nação: uma invenção recente (p. 14)
“É muito recente a invenção histórica da nação, entendida como Estado-nação, definida pela independência ou soberania política e pela unidade territorial e legal. Sua data de nascimento pode ser colocada por volta de 1830” p. 14.
“De fato, a palavra ‘nação’ vem de um verbo latino, nascor (nascer), e de um substantivo derivado desse verbo, natio ou nação, que significa o parto de animais, o parto de uma ninhada. Por significar o ‘parto de uma ninhada’, a palavra natio/nação passou a significar, por extensão, os indivíduos nascidos ao mesmo tempo de uma mesma mãe, e, depois, os indivíduos nascidos num mesmo lugar” p. 14.
“... povo se referia (antes do surgimento do Estado-nação) a um grupo de indivíduos organizados institucionalmente, que obedecia a normas, regras e leis comuns” p. 15.
“Esta palavra (pátria) também deriva de um vocabulário latino, pater[5], pai.... Pater é o senhor, o chefe, que tem a propriedade privada absoluta e incondicional da terra e de tudo o que nela existe, isto é, plantações, gado, edifícios (‘pai’ é o dono do patrimonium), e o senhor, cuja vontade pessoal é lei, tendo o poder de vida e morte sobre todos os eu formam seu domínio (casa, em latim, se diz domus, e o poder do pai sobre a casa é o dominium), e os que estão sob seu domínio formam a família ( mulher, filhos, parentes, clientes e escravos). Pai se refere, portanto, ao poder patriarcal e PÁTRIA é o que pertence ao pai e está sob seu poder.
- Patrimônio: tudo o que pertence ao pai. Patrício: é o que possui um pai nobre e livre. Patriarcal: sociedade estruturada segundo o poder do pai. A sociedade romana estava divida entre o Senado (patrícios) e o povo (plebe livre).
- Os patrícios eram os PAIS DA PÁTRIA, enquanto os plebeus eram os PROTEGIDOS DA PÁTRIA. A igreja substituiu os “pais da pátria” pelo Deus Pai[6].
“A partir do século XVIII, com as revoluções norte-americana, holandesa e francesa, PÁTRIA passa a significar o território cujo senhor é o povo organizado sob a forma de Estado independente” p. 16.
“Eis por que, nas revoltas de independência, ocorridas no Brasil nos finais do século XVIII e início do século XIX, os revoltosos falavam em PÁTRIA MINEIRA, PÁTRIA PERNAMBUCANA, PÁTRIA AMERICANA; finalmente, com o patriarca da independência, José Bonifácio, passou-se a falar em pátria brasileira. Durante todo esse tempo, nação continuava usada apenas para os índios, negros e judeus” p. 16.
- HOBSBAWN, em seus estudos, partiu do surgimento do Estado Moderno da “era das revoluções”. Esse Estado Moderno era definido por um território preferencialmente contínuo, com limites e fronteiras claramente demarcados, agindo política e administrativamente sem sistemas intermediários de dominação e que precisava do consentimento prático de seus cidadãos válidos (definida pela condições financeiras da pessoa) para políticas fiscais e ações militares. Idéia de proteção contra outros estados.
- O Estado liberal enfrentou dois problemas: 1) ter que incluir todos os habitantes do território na esfera da administração estatal; 2) obter a lealdade dos habitantes ao sistema dirigente, uma vez que a luta de classes, a discórdia religiosa e as intrigas partidárias estavam grandes. A idéia de nação viria solucionar o problema.
- O aparecimento do vocábulo nação no dicionário político deu-se por volta de 1830 e seguiu as seguintes etapas:
1) 1830-1980: fala-se em “princípios da nacionalidade” - vincula nação ao território. Provém de uma economia política liberal (OBS: liberalismo não é sinônimo de democracia). Os economistas alemães defendiam um princípio que definia a existência ou não de uma nação. Daí surgiu a idéia de nação como expansão – conquista de territórios. A dimensão do território, a densidade populacional e a expansão de fronteiras tornaram-se os princípios definidores da nação como Estado. O ESTADO-NAÇÃO veio para produzir um elemento de identificação entre as diferenças para mobilizá-los para a expansão. Esse elemento foi a língua.
2) 1880-1918: fala-se em “idéia nacional” – vincula a nação à língua, à religião e a raça. Provem dos intelectuais pequeno-burgueses, particularmente alemães e italianos. Contexto: Os poderes constituídos disputavam a lealdade da massa trabalhadora com os socialistas. O Estado precisava de algo que não só os pacificassem, mas que os mobilizassem a seu favor. Foi aí que o patriotismo entrou como uma religião cívica. “Durante o período de 1880-1918, a religião cívica transforma o patriotismo em nacionalismo, isto é, o patriotismo se torna estatal, reforçado com sentimentos e símbolos de uma comunidade imaginária cuja tradição começava a ser inventada” p. 18.
- Tudo isso veio solucionar três problemas: as lutas populares socialistas, as resistências de grupos tradicionais ameaçados pela modernidade capitalista e o surgimento de um estrato social ou de uma classe intermediária – a pequena burguesia[7].
OBS: Foi exatamente no momento em que a divisão social das classes apareceu em sua maior força tal que ameaçou o capitalismo, que se propões a IDÉIA NACIONAL – um instrumento unificador da sociedade.
“Foram os intelectuais pequeno-burgueses, apavorados com o risco de proletarização, que transformaram o patriotismo em nacionalismo quando deram ao espírito do povo, encarnado na língua, nas tradições populares ou folclore e na raça (conceito central das ciências sociais do século XIX), os critérios da definição da nacionalidade” p. 18.
“A partir dessa época, a nação passou a ser visto como algo que sempre teria existido, desde tempos imemoriais, porque suas raízes deitam-se no próprio povo que a constitui... a nação está nos usos, costumes, tradições, crenças da vida cotidiana... Sem essa referência, tornar-se-ia incompreensível que, em 1914, milhões de proletários tivessem marchado para a guerra para matar e morrer servindo aos interesses do capital” p. 19.
3) 1918-1960: fala-se em “questão nacional” – enfatiza a consciência nacional definida por um conjunto de lealdades políticas. Emana dos partidos políticos e do Estado. É a época do nacionalismo militante – época dos grandes comícios.
- A consciência do poder persuasivo da “idéia nacional” ocasionou a “questão nacional”, ou seja, um fortalecimento dos ideais nacionalistas[8].
- O nacionalismo se expandiu com a comunicação de massa que transformaram símbolos nacionais em parte da vida cotidiana dos indivíduos. Não havia mais diferença entre o público e o nacional.
- Essa idéia se materializou nas competições esportivas, transformados em espetáculos de massas em não eram somente equipes em disputas, mas nações em confronto. As crianças eram ensinadas que ter lealdade ao time era ter lealdade à nação.
- Porque a luta de classe teve uma capacidade mobilizadora menor do que o nacionalismo? Por que as revoluções socialistas acabaram assumindo formas de nacionalismo?
- Uma possível resposta é o fato de que a consciência política do cidadão o civismo está ligado à nação. Nela não diferença marcante entre classe social e nação[9].
“O processo histórico de INTENÇÃO DA NAÇÃO nos auxilia a compreender um fenômeno significativo, no Brasil, qual seja, a passagem da idéia de ‘caráter nacional’ para a de ‘identidade nacional’. O primeiro corresponde, grosso modo, aos períodos de vigência do ‘princípio da nacionalidade (1830-1880) e da ‘idéia nacional (1880-1918), enquanto a segunda aparece no período da ‘questão nacional’ (1918-1960)” p. 21. “Território, densidade demográfica, expansão de fronteiras, língua, raça, crença religiosas, usos e costumes, folclore e belas-artes foram os elementos principais do caráter nacional - entendido como disposição natural de um povo e sua expressão cultural” p. 21. LER: O CARÁTER NACIONAL BRASILEIRO (Dante Moreira Leite). - Define um núcleo essencial[10] tomando como critério algumas determinações internas da nação que são percebidos por suas referências ao que lhe são externos. A identidade não pode ser construída sem a diferença.
“... a identidade nacional precisa ser concebida como harmonia e/ou tensão entre o plano individual e o social e também como harmonia e/ou tensão no interior do próprio social” p. 26.
- A identidade deve incluir uma autoconsciência, A identidade nacional propõe o deslizamento da consciência de classe para a consciência nacional.
- Brasil PÓS-80: nação e nacionalismo se deslocam para o campo das representações já consolidadas. A tarefa maior agora é legitimar sociedades autoritárias, oferecer mecanismos para se tolerar as várias formas de violência.
“BRASIL 500 ANOS é, pois, um semióforo historicamente produzido. Como todo semióforo que se destina a explicar a origem e dar um sentido ao momento fundador de uma coletividade é uma entidade mítica, BRASIL 500 também pertence ao campo mítico, tendo como tarefa a reatualização de nosso MITO FUNDADOR” p. 29.
METODOLOGIA DA AUTORA – de maneira breve e sem acompanhar as condições materiais da história do Brasil e sua periodização, a autora propõe assinalar momentos variados em que “...a mitologia da origem se espraia em ações e falas da sociedade e do Estado brasileiros... os exemplos aqui escolhidos correspondem, grosso modo, às três etapas de construção da idéia de nação que, muito rapidamente, apresentamos acima” p. 19. “... o que nos interessa aqui, ou seja, não o da produção histórica ou material concreta da nação e sim o da construção ideológica do semióforo nação” p. 44. CAP. 3 – O VERDEAMARELISMO (p.31). 1958 – “A copa do mundo é nossa, por que com brasileiro há quem possa”. “A celebração consagrava o tripé da imagem da excelência brasileira: café, carnaval e futebol” p. 31. “... quando a seleção, agora chamada de CANARINHA, venceu o torneio mundial em 1970, surgiu um verdadeiro hino celebratórios, cujo início dizia: noventa milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração. A mudança do ritmo – do samba para a marcha, a mudança do sujeito – do brasileiro bom aos 90 milhões em ação, e a mudança do significado de vitória – de ‘a copa do mundo é nossa’ ao ‘ pra frente, Brasil” não foram alterações pequenas” p. 31. Em 1958 – Kubitschek pregava o desenvolvimentismo para o brasileiro (mercado interno), com o capital internacional. Para comemorar, o povo saiu às ruas com o verde-amarelo, mas não a bandeira.
Em 1970, vivia-se a Ditadura (pós AI-5), o terror da ideologia do BRASIL GRANDE. A aparição da bandeira de forma hegemônica deu-se somente na de 70 “... quando a vitória foi identificada com a ação do Estado e se transformou em festa cívica” p. 32.
- Em duas formas diferentes, contextos diferentes, os mesmos verde-amarelos aparecem. 3.1 – O QUE É VERDEAMARELISMO[11]? (p. 32).
“O verdeamarelismo foi elaborado no curso dos anos ela classe dominante brasileira como imagem celebrativa do país” p. 32.
“... sua construção coincide com o período em que o princípio da nacionalidade era definido pela extensão do território e pela densidade demográfica” p. 32.
- Foi a ideologia dos senhores da terra do sistema colonial, do império e da velha república. Por que não desapareceu com a indústria? O modernismo a TOMOU emprestada.
- No período QUESTÃO NACIONAL o Estado deliberadamente promoveu a imagem verdeamarela.
- ESTADO NOVO (1937-1945): luta intensa contra a dispersão e a fragmentação do poder enfeixado pelas oligarquias estaduais. Falava-se em povo brasileiro como em cultura nacional. Foi nessa época que um personagem do Império virou herói nacional da República – Duque de Caxias – a unidade construída em torna da guerra.
- O ESTADO toma conta dos meios de comunicação, surge o programa A Hora do Brasil.
- O verde-amarelo sob a ideologia da Questão Nacional (1918-1960) precisa incorporar a luta de classes, para neutralizar a ação política dos trabalhadores. Entra em cena o herói bandeirante. Não há espaço para luta de classe, mais de cooperação entre o capital e o trabalho – sob direção e vigilância do Estado.
- DITADURA: Integração Nacional, Segurança Nacional e Desenvolvimento Nacional. - São instrumentos com os quais o poder político constrói o SEMIÓFORO NAÇÃO. CAP. 4 – Do IV ao V Centenário (p. 47). - Esse capítulo é um comentário sobre o livro lançado em 1900 em comemoração ao IV Centenário do Brasil - Porque me ufano de meu país, de Afonso Celso. CAP. 5 – O MITO FUNDADOR (p. 27)
- A América não estava aqui à espera de Colombo, assim como o Brasil não estava aqui à espera de Cabral. A América e o Brasil são invenções.
- Elementos constituintes do Mito Fundador do Brasil: a) Visão de Paraíso; b) História Teleologia e Providencial; c) Figura do governante como rei pela graça de Deus – a sagração do governante[13].
HISTÓRIA TELEOLÓGICA - a história é uma realização do plano de Deus ou da vontade divina. A história linear introduz a noção de história como memória – a garantidora da imortalidade dos homens cujos feitos são dignos de serem lembrados. “Nosso passado assegura nosso futuro num contnuum temporal que vai da origem ao porvir...” p. 75. CAP. 6 – COMEMORAR? (p. 89)
- A sociedade brasileira até hoje é marcada por uma estrutura hierárquica e verticalizada em todos os aspectos. “O outro jamais é reconhecido como sujeito nem como sujeito de direitos, jamais é reconhecido como subjetividade nem como alteridade” p. 89.
- A relação dos que se julgam iguais é de parentesco ou de cumplicidade – apadrinhamento.
- “A divisão social das classes é naturalizada por um conjunto de práticas que ocultam a determinação histórica ou material da exploração, e que, imaginariamente, estruturam a sociedade sob o signo da nação uma e indivisa, sobreposta como um manto protetor que recobre as divisões reais que a constituem” p. 89-90.
“Porque temos o hábito de supor que o autoritarismo é um fenômeno político que, periodicamente, afeta o Estado, tendemos a não perceber que é a sociedade brasileira que é autoritária e que dela provêm às diversas manifestações do autoritarismo político” p. 90.
-Quais os traços mais marcantes dessa sociedade autoritária? Vejamos: a) estruturada sobre uma matriz senhorial; b) divisões sociais naturalizadas; c) Não há distinção definida entre o público e o privado; d) Os governantes e parlamentares são os donos do poder: mantendo com os cidadãos relações pessoais de favor, clientela e tutela e praticam a corrupção sobre os fundos públicos; e) somos uma formação social que produz imagens de si fortes o suficiente para pacificar as contradições sociais; f) o discurso do poder define o consenso como unanimidade. g) nossa sociedade tem fascínio pelos signos de prestígio e poder.
“... o mito fundador produz a sagração do governante, a política se oculta sob a capa da representação teológica, oscilando entre a sacralização e a adoração do bom governante e a satanização e a execração do mau governante” p. 94.
“... a classe dirigente instalada no aparato estatal percebe a sociedade como inimiga e perigosa, e procura bloquear as iniciativas dos movimentos sociais, sindicais e populares” p. 94.
....................................................................................... [1] Representação que sempre se renova. [2] Talvez essa seja a diferença em relação ao Discurso Fundador inspirado nos pressupostos foucaultianos. Para Foucault, os discursos não têm origem, ao se reformularem, já são outros, pois romperam com a cadeia sígnica do primeiro. Não é uma simples atualização e sim uma ruptura. [3] Ex: relíquias, oferendas, espólios de guerra, aparições celestes, meteoros, objetos de arte, documentos raros, HERÓIS, a nação, etc. [4] Ex: constelação – indicam as estações do ano; a castanheira – governo do Acre; estandarte; [5] Não como genitor de filhos, mas um conceito jurídico-político vindo da lei romana. Pátrio-poder, o poder legal do pai sobre filhos, esposa e dependentes. [6] Diante de Deus pai todos são plebeus. Os que eram de Deus eram separados pela igreja e classificados como povo cristão. Os descrentes eram as NAÇÕES pagãs. [7] Apavorados com o risco da proletarização da sociedade transformaram o patriotismo em nacionalismo. [8] No Brasil, a AÇÃO INTEGRALISTA DO BRASIL foi criada entre 1927 e 1928, pelo escritor modernista Plínio Salgado. [9] No Brasil, nos anos 50-60, a esquerda passou a defender o nacionalismo. A divisão social das classes passou a dar lugar a uma unidade imaginada imposta pela idéia de nação. [10] No plano individual é a personalidade de alguém. No social, é o lugar funcional que ocupa, qual classe? [11] Uma Auto-imagem celebrativa que a elite tinha de si mesma. LER ( LEITE, Dante M. O caráter nacional brasileiro: história de uma ideologia. São Paulo: pioneira, 1983).; [12] [13] VISÃO do governante como salvador, não como representante do povo, mas de Deus. Visão MESSIÂNICA da política - impera práticas clientelistas e de tutela. Mantém ilesa a CULTURA SENHORIAL.

sábado, 16 de agosto de 2008

Desenvolvimento e Conservação Ambiental: Políticas Sócio-Ambientais do Governo do Acre

Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior[i] Universidade Federal do Maranhão RESUMO Este trabalho é fruto do subprojeto “O caso do Acre”, inserido na pesquisa “Projetos socioambientais na Amazônia brasileira – Atores e trajetórias”. O Governo estadual do Acre, desde 1999 assume oficialmente o desenvolvimento sustentável como eixo de suas políticas governamentais, através da articulação de conservação ambiental com exploração econômica da floresta e garantia de condições de vida às populações agro-extrativistas. A pesquisa revela que no interior da equipe de governo encontra-se uma divisão entre sustentabilistas e desenvolvimentistas, indicando posições que reivindicam uma ênfase maior das políticas governamentais na defesa e conservação ambiental ou no desenvolvimento sócio-econômico, respectivamente. O interesse da pesquisa está na percepção de como as posições políticas dos vários agentes governamentais interferem nas ações de governo e como estas incorporam, ou não, as questões sócio-ambientais, com destaque para aquelas referentes à Reservas Extrativistas. A investigação sobre a divisão entre sustentabilistas e desenvolvimentistas, seus confrontos e colaborações, seus vínculos com os vários setores sociais, os resultados obtidos na formulação e execução das políticas governamentais, pretende ser um instrumento para aprofundar o debate sobre socioambientalismo e desenvolvimento.
[i] Professor de Sociologia do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão. Doutor em Ciências Humanas (Sociologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. LEIA O TEXTO NA ÍNTEGRA: http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro3/arquivos/TA208-05032006-214351.DOC

terça-feira, 12 de agosto de 2008

"Infeliz é o povo que precisa de heróis" Brecht

"O herói só serve para promover aqueles que fazem uso dele perante o povo". "O herói não representa o espírito de força de um povo, pelo contrário, expressa a covardia daqueles que para se tornarem GRANDES precisaram criar mitos". "A história sempre está do lado de quem vence. Os vencedores sempre são liderados por um grande homem, é isso que nos dizem quando estão no poder. Não importa se o líder foi um assassino ou se o motivo maior foi atravessado pelo egoísmo e ganância. Se venceu, a história se encarrega de projetá-lo ao panteão, justificando a matança e coroando como nobres as causas...". "Para que servem os heróis se não para abençoar aqueles que se apegam a eles?" "Não a nada mais estratégico na política atual do que instaurar heróis e mitos... o povo acreditará que não terá força de fazer nada sem a liderança de um grande homem... Além do mais, quando se está no poder, é mais fácil se associar ao herói do que se justificar diante do povo... Forjar heróis para participar da mística que o envolve eis o plano para ter uma imagem ENCANTADA perante o povo... Quem criticará aqueles que se propõem a levar a diante as causas defendidas pelo herói?".
“A piada consiste precisamente em mostrar que os homens modernos são heróicos”
(Marshall BERMAN).
- Essa ESTÓRIA toda de herói não passa de uma piada... e das grandes!!!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Plácido de Castro e povo da floresta: uma grande contradição.

Dalmir Ferreira, historiador e membro da Academia Acreana de Letras.
A persistência inabalável de nossos políticos nesse afinado discurso em torno da construção de um mito fundador atinge neste governo, as raias da mais completa insanidade e desobservância aos preceitos do que pode representar a palavra história para os povos civilizados. Isso porquê, enquanto a um médico é perdoável o conhecimento pouco aprofundado de história, a um licenciado em História é injustificável, mesmo com curso feito no Acre.
Sabemos que esse repetido discurso de pseudo-herói só se sustenta em função de servir ao sistema vigente, que se fortalece quanto mais esse pseudo-herói se reafirma como tal. Sendo preciso então, fazer dele um super-herói, para garantir a estabilidade desse sistema que tem a todos como fracos e quanto mais fracos os homens dessa sociedade, mais super-heróis eles precisam para se manter fracos, como afirmou Flávio Kothe.
É, portanto, nessa repetição confusa que o acreano, como diria Márcio de Souza, não recebe o mínimo necessário para se situar no tempo ou para buscar compreender as contradições do presente, numa realidade oficialesca de uma história vazia e sem brilho, onde o povo não aparece e os heróis são vermes dourados, utilizados segundo interesses e circunstâncias que investe fortemente num discurso claramente silenciador: o poder se coloca na ribalta junto a seus heróis, sob as ofuscantes luzes de seus spots, enquanto faz descer forte penumbra aos que não considera dignos de constar em sua nova história do Acre, fechando museus, contratando “historiadores” estrangeiros para nos contar nossa historia, enfim investindo alto em assegurar uma história que sirva para a manutenção de seus intentos.
Concomitantemente a isso, com a imprensa a seu serviço, investe imoralmente e com alarde, no auto-elogio de si e dos seus, de feitos e eventos, e não permite críticas. E na criação de seus pequenos heróis-vivos, impostos autoritariamente, seja dando nome a instituições, seja silenciando sobre aqueles de méritos inquestionáveis, tidos como críticos “revoltados”.
Nos festejos ditos “centenários” de nosso estado, dos quais o poder lança mão para consolidar seu mito fundador, são perceptíveis os efeitos descritos por Marilena Chauí, em sua obra Brasil, mito fundador e sociedade autoritária, obra através da qual, se pode constatar a sobrevivência cristalina do mais puro e caduco populismo entre nós. Nesse contexto a contradição de um pungente “Povo da Floresta” que se apaga pela necessidade de um herói libertador, que não permite nem reconhece qualquer visibilidade e conhecimento efetivo de outros “heróis” é quando nada bastante contraditório.
Sabemos que o povo acreano, único do qual efetivamente prescinde a “Revolução Acreana”, aquele que está na raiz de nossa formação histórica, jamais dependeu de lideres, ou seja lá do que fosse, embora esses lideres circunstancialmente tenham desfilado em profusão, conforme as necessidades foram se estabelecendo.
Quem duvidar disso, recue até “Canudos” e responda se houve gente mais valente nesse Brasil do que o sertanejo daquele tempo, que por sinal é o mesmo que estava aqui quando da “Revolução Acreana” ou mais tarde quando do episódio do cangaço. A fama de valente do gaúcho tem pouco lastro quando a comparamos a do sertanejo, cuja história parece sim, ser mais épica, é só estudar, é só ler, para ver.
Enfim, não sendo bastante que nossa história seja conhecida pelas novas gerações apenas através de literatura como sátiras, ou novelas de ficção ou de até de uma educação pouco eficaz, será que já não era hora de deixarmos de lado essa conversa fiada de herói e efetivamente tornar nossa história conhecida através de pesquisas e trabalhos críticos, com museus e institutos, com trabalhos efetivamente sérios e de gente com competência para isso? Enfim, porque não fazermos a coisa certa? Ou será que estamos todos cegos?

PLÁCIDO DE CASTRO: “O LIBERTADOR DO ACRE”[1].

Se hoje temos o Acre dentre os Estados da República Federativa do Brasil devemos ao Herói José Plácido de Castro (Projeto de Lei do Senado Federal, n° 56, de 2000). Pouco lhes importa a procedência do herói. A sua origem. Ou sua moral. O que é preciso, e se impõe desesperadamente é salvar o Acre (LIMA, 1998, p.50).
Temos um herói para dar a conhecer a todos os brasileiros! (VIANA, T. in.: CASTRO, 2002, p.11).
O discurso fundador do Acre aponta o gaúcho Plácido de Castro como o “responsável pela liberdade e pela integração do território do Acre à nação brasileira” [2] e pela fundação de “um povo e sua identidade: o Acre e os acreanos” [3]. Não há heróis sem grandes feitos e nem sem nobres virtudes. Os discursos histórico e literário consagraram vários feitos e virtudes a Plácido de Castro, não cabe aqui mencioná-los, muito menos caracterizá-los como falácias.
O importante aqui é dizer que o Plácido de Castro do discurso fundador não é aquele indivíduo histórico que veio para a Amazônia em busca de riqueza fácil em fins do século XIX, e que há cem anos amaldiçoou a terra que o vira morrer, negando a ela o sepultamento de seu corpo.
O Plácido de Castro tratado aqui é uma unidade discursiva, um sítio de significância que agrupa vários discursos e formam uma imagem ideal e desejada daquele homem histórico que foi contratado para liderar uma revolta armada contra o governo boliviano em Puerto Alonso (1902).
Portanto, o Plácido de Castro do discurso não é aquele que teve vida biológica. Esse é um lugar de interpretação, é uma vontade de verdade construída discursivamente e sustentada por relações de poder. Mas ele não passa de uma paisagem enunciativa que expressa a vontade de potência de seus interlocutores.
E o principal interlocutor desse discurso é o Estado, que ano após ano se preocupa em trazer à memória coletiva os “grandes feitos” desse personagem. Conseqüentemente, também é o Estado quem mais colhe com essa política: ganha a admiração e a passividade do povo. Ninguém seria capaz de se rebelar contra o herói, nem aqueles que se dizem herdeiro dele.
Aquilo que seria impossível ao Plácido de Castro real fazer, o imaginado faz. Nenhuma concepção sociológica admitiria que um indivíduo fosse responsável pelo surgimento de uma comunidade ou da identidade dela. Além do mais, como já foi visto, a idéia de comunidade enquanto coletividade que partilha algo em comum é questionada. Sem dizer que “a identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia” (HALL, 2004, p. 13).
Teria o Plácido de Castro histórico “libertado” o Acre? Se for levado em conta que todos os Tratados Internacionais – da Bula Papal Intercoetera (1493) ao Tratado de Ayacucho (1867) – atestam que as terras que os brasileiros chamaram de Acre não pertenciam ao Brasil, se torna fácil identificar que o termo “libertador” foi ideologicamente marcado. Como pôde protagonizar a liberdade de algo que não pertencia ao seu país?
Outra pergunta que se faz é: que Acre o Plácido de Castro histórico teria libertado? O Acre Meridional ou o Setentrional? O Alto-Purus ou o Alto-Juruá? Teria sito as terras banhadas pelo rio Acre? Ou os mais de 152 mil KM2 de terras que compreendem o Acre atual?
Os documentos históricos são enfáticos: a “Revolução” liderada pelo gaúcho limitou-se ao Vale do Rio Acre: Xapuri, Brasiléia, Rio Branco e Porto Acre. Como diz TOCANTINS (2001, V. II, p.101): “E quando se diz rio Acre é o mesmo que falar no palco da revolução, porque foi sobre o seu dorso que se desenrolaram os fatos capitais desse movimento”. A atuação de Plácido porém se fez sentir no leste acreano, nos limites com a Bolívia. No oeste, onde passei alguns anos de minha infância, na região lindeira com o Peru, as figuras de maior destaque foram a do Barão Chanceler e a de Taumaturgo de Azevedo, um dos oficiais-generais de maior destaque da sua geração (BARROS, 1993, p. 32). O Vale do Juruá não conheceu a “revolução” de Plácido de Castro. Como pode ele ter sido o seu “libertador” dessa região? Ele nem se quer foi testemunha da anexação definitiva do Juruá ao Brasil, já que foi morto em agosto de 1908, e a assinatura do Tratado Brasil-Peru ocorre somente em setembro de 1909.
E o vale do Rio Acre, teria sido liberto por ele? O mais correto seria dizer que os soldados-seringueiros obtiveram importantes vitórias sobre os bolivianos nessa região. Mas a “guerra” não estava terminada. O Peru ainda entraria em cena e, além do mais, o presidente da Bolívia, o General Pando, havia organizado uma mega operação militar de libertação e veio pessoalmente à região obter a desforra.
O rumor da “coluna Pando” causou tanta apreensão ao governo brasileiro em relação ao desfecho da Questão do Acre e, particularmente, ao destino dos “revolucionários”, que o Ministro Barão de Rio Branco diligentemente enviou para o local uma expedição militar e tratou logo de assinar um “modus vivendi” com o país andino.
Em segundo lugar, as vitórias alcançadas pelos seringueiros sobre o exército boliviano em nada adiantariam, pois aquelas terras já tinham sido arrendadas para Bolivian Syndicate[4]. O Consórcio não aceitaria qualquer prejuízo com o Acre. Não assistiria a epopéia de “braços cruzados”. A intervenção militar internacional era certa, e contra ela o exercito acreano não teria vez. Não havia dúvidas de que o negócio estava protegido por influentes forças políticas em Washington e o Governo Norte-Americano cedera, embora de modo velado, como sempre acontece em tais casos, em dar cobertura ao empreendimento cuja lista de incorporadores incluía os nomes de maior evidência nas finanças do país. (TOCANTINS, 2001, V.II, p. 65). Historicamente, o gaúcho Plácido de Castro não anexou um palmo de terra se quer ao Brasil. Para melhor compreender essa afirmação, o processo de anexação do Acre ao Brasil será dividido em duas fases: a Fase Militar, conhecida como Revolução Acreana (1889-1903); e a Fase Diplomática (1903-1909). Na fase militar, nada tinha se resolvido concretamente. A questão ainda não tinha recebido um desfecho definitivo. Na fase militar o que se fez muito foi derramar “sangue” no altar de mamom.
Foi na Fase Diplomática que tudo se desenrolou. Foi nela que a habilidade do Barão de Rio Branco, Ministro das Relações Exteriores do Brasil, entrou em cena. Havia três grandes problemas a serem resolvidos, dos quais a fase militar se mostrou impotente para fazê-lo: a) fazer o governo boliviano aceitar a presença brasileira na região; b) convencer o Sindicato Internacional a desistir do empreendimento comercial altamente lucrativo; c) fazer o Peru recuar em suas pretensões em relação ao Acre e parte do Amazonas.
Aquilo que para a história local foi uma dádiva do Herói Plácido de Castro, para Olavo Bilac, um dos maiores escritores do início do século XX, foi um legado do Ministro Rio Branco: “Paranhos do Rio Branco! Abençoado seja o teu cérebro, porque a tua inteligência restituiu ao Brasil os brasileiros que estavam sem pátria!” (apud TAVARES, 2001, p. 151). Tocantins (2001, V.II, p. 86) diz: “graças aos expedientes de Rio Branco, o Governo imperial desinteressou-se do assunto”. “Era difícil derrotar Rio Branco” (Idem, p. 517).
Em relação ao Bolivian Syndicate, foi pago uma indenização de 110 mil libras, fora a despesa dos advogados, pela quebra do contrato, e em 26 de fevereiro de 1903, foi assinado em Nova Iorque, “a escritura de renúncia” (TOCANTINS, V.II, 2001, p. 29).
Já a questão peruana foi mais árdua de ser resolvida e demorou nada menos que seis anos de negociação. Ao final, um Tratado foi assinado e datado em 8 de setembro de 1909, concedendo ao Peru quase 40 mil KM2 de terras dos 251 mil que pleiteava. 1909 marca o fim do drama que a História armou em torno de uma linha [...] O Acre nasce dessa linha oscilante que certo mapa, seguindo a sugestão colorida da natureza, traduziu, num simples e hipotético traço, o espírito e o conteúdo da história acreana: o drama da linha verde. Rio Branco transformou-a de linha singela no triângulo verde que é o mais difícil e belo trabalho diplomático do Deus Terminus das fronteiras nacionais (idem, p. 530). A discussão aqui não é estabelecer quem de fato foi o responsável pela anexação do Acre ao Brasil, mas mostrar que muitos olhares são possíveis, que várias vontades de verdade estão em jogo, e que o real só ganha sentido no discurso. Dessa forma: “o que nós chamamos inicialmente história não é senão um relato” (DE CERTEAU, 1982, p. 281).
Mas não se pode negar que durante a passagem de Barão de Rio Branco pelo Ministério das Relações Exteriores, o Brasil aumentou suas fronteiras em pelo menos 32%, o que significa 900 mil Km2. Essa ampliação territorial foi fruto da negociação dele com os consulados da Bolívia (1903), Equador (1904), Venezuela (1905), Holanda (1906), Colômbia (1907), Peru (1909) e Uruguai (1909). Sem dizer que já havia solucionado a Questão do Amapá, com a França e a Questão das Missões, com a Argentina.
Para encerrar esse tópico, uma última pergunta: por que a glória deve ser dada exclusivamente ao coronel Plácido de Castro, como se ele fosse o responsável pela anexação do Acre ao Brasil? O que teria sido o intento de Plácido de Castro sem o apoio do governo amazonense? Por que a glória não é estendida, em igual proporção, a José de Carvalho, a Galvez, aos membros da Expedição dos Poetas, aos líderes da “revolução” do Juruá, ou a todos os seringueiros que fizeram a “revolução”? Teriam eles derramado menos sangue boliviano que o herói? E o barão de Rio Branco, por que ele também não foi consagrado como herói do Acre?
Eis aí mais uma pérola do discurso fundador do Acre: Plácido de Castro - não o histórico, mas aquele herói do discurso - foi o responsável por tudo. Como na imagem abaixo, em que ele aparece sozinho cavalgando triunfante, o herói é sempre aquele que dispensa a ajuda de outros para sagrar-se vitorioso. O povo do Acre é feito de heróis, mas Plácido de Castro foi construído como o modelo exemplar deles.

Plácido de Castro: “Centenário de Morte”.

Edurdo Carneiro em mais um reflexão inconclusa.

.............................................................................................. [1] Foi dessa forma que Plácido de Castro foi qualificado ao ser inscrito “no Livro dos heróis da Pátria, que se encontra no Panteão da Liberdade e da Democracia” (1° Parágrafo da Lei Federal n° 10.440, de 02 de maio de 2002). [2] Trecho do convite do Governo do Estado alusivo às programações da comemoração do centenário da morte de Plácido de Castro. Ver página 91. [3] Idem. [4] A assinatura ocorreu no dia 14 de julho de 1901 e aprovado no Congresso Nacional Boliviano em 17 de dezembro 1901 (cf. TOCANTINS, 2001, V. II, p. 45).

domingo, 10 de agosto de 2008

Depois da Revolução, a autonomia (a vida) perdida.

Por Marcos Vinícius. Fonte: http://www2.uol.com.br/pagina20/10082008/historia.htm
Mapa elaborado por Plácido de Castro em 1907 onde consta o varadouro que ligava a Villa Rio Branco ao Seringal Capatará, no qual aparece o local onde, um ano depois, ele sofreria a emboscada (no mapa assinalado por uma seta negra), bem como o local de seu falecimento (assinalado por uma seta branca)
Os anos de 1904 a 1912 foram, talvez, os anos mais decisivos da história do Acre. Ainda mais importantes do que o próprio período revolucionário, já que até esse momento se buscara apenas definir o status do Acre como espaço brasileiro, no que os brasileiros do Acre foram bem sucedidos. Já nos anos posteriores à Revolução, ainda em pleno período da opulência da borracha, o governo brasileiro definiu o (triste) caminho que o Acre deveria trilhar ao longo de todo o século XX. E a trajetória pessoal de Plácido, que durou apenas a metade deste período tão importante, até 1908, é reveladora e emblemática da tragédia que abateria o Acre daí por diante.
Após o término da Revolução Acreana parecia ser chegada a hora de colher os frutos da conquista que custara tantas vidas e sacrifícios. Com a assinatura do Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903, estava resolvida a questão das terras dos vales dos rios Acre e Iaco. Plácido de Castro fez questão, então, de ir pessoalmente ao Rio de Janeiro, em março de 1904, entregar em mãos de Rio Branco o seu relatório acerca do período de conflito armado. Durante toda a viagem Plácido foi homenageado nas cidades por onde passou, especialmente em Manaus e Belém. Os jornalistas e historiadores que trataram desse assunto descreveram como apoteótica sua chegada ao Rio de Janeiro onde foi recebido ainda a bordo do navio pelo próprio Barão do Rio Branco.
Depois das homenagens na capital da Republica, seguiu ao Rio Grande do Sul para rever a mãe que ficara em sua cidade natal, São Gabriel. Já de retorno ao Rio de Janeiro recusou o oferecimento da patente de coronel da Guarda Nacional que lhe foi feita pelo governo federal, pois julgava ofensiva esta honraria que era comumente feita aos compadres políticos do poder oficial. Finalmente retornou ao Acre onde lhe acenava a expectativa de realizar sua independência financeira.
Com efeito, mais uma vez a ascensão de Plácido de Castro foi rápida. Logo se tornou proprietário do Seringal Capatará, comprado a crédito, onde implantou um sistema diferenciado da maioria dos seringalistas. Baseava sua atuação em uma rígida disciplina de trabalho e obrigava seus fregueses a ter suas próprias plantações de gêneros alimentícios. Em um gesto audaz, entrou no território boliviano para requisitar a posse legal de terras devolutas da Bolívia. Com o sucesso obtido nessa empreitada, rapidamente se tornou um grande latifundiário que sonhava em implantar sistemas mais racionais de exploração de suas terras.
Um de seus mais grandiosos planos era o de estabelecer a criação permanente de bois e muares nas pastagens naturais de algumas localidades acreanas e bolivianas, ramo de grande potencial econômico e origem da riqueza dos proprietários dos campos da Volta da Empreza. Não era outro o motivo de sua preferência pelo seringal Capatará que, além de possuir campos para gado, possuía um varadouro que o ligava à rota do comércio do gado boliviano, motivo de intensas disputas desde o período revolucionário e assunto que já foi em parte tratado em artigos anteriores desta coluna quando abordamos a questão dos campos naturais do Acre e sua relação com os sítios arqueológicos com estruturas de terras.
Todo esse processo culminou com a compra - segundo Genesco de Castro, também a crédito - do grande seringal Bagaço, de seu amigo Basílio Gomes de Lira, consolidando assim a fortuna de Plácido, que se tornou motivo para acusações diversas por parte de seus inimigos. Nesta época a vida no Território Federal do Acre estava sujeita às oscilações e autoritarismo político que caracterizaram os primeiros anos após sua anexação ao Brasil.
Plácido de Castro se veria então envolvido nas discussões sobre os abusos cometidos pelo governo federal que passou a cobrar um imposto escorchante sobre a exportação da borracha e a importação de outras mercadorias. Impostos tão altos que, segundo Craveiro Costa, após cinco anos apenas, o governo já havia recuperado todo o capital utilizado para pagar a indenização à Bolívia e ao Bolivian Syndicate, sem, entretanto, investir no desenvolvimento do Acre, como todos esperavam que fosse feito.
Convocado a participar de uma reunião realizada no seringal Bagé, Plácido se opôs a qualquer movimento armado contrário ao governo brasileiro, limitando-se a negar veementemente a possibilidade de anexação do Acre ao Amazonas e a reivindicar a autonomia acreana através de sua elevação à condição de estado autônomo da federação, como todos os demais estados. Ainda assim não lhe faltaram acusações de estar tramando uma revolta contra o governo federal.
Já entre os anos 1906 e 1907, durante oito meses, Plácido exerceu o cargo de Prefeito Interino do Departamento do Alto Acre, em circunstâncias pouco claras, já que sucedeu sem maiores explicações o Coronel João Rola, seu amigo pessoal, que era quem, por direito de nomeação, deveria ter ocupado o posto interinamente até a chegada de um novo preposto nomeado pelo governo brasileiro.
Ao findar sua interinidade, Plácido remeteu relatório ao Ministro da Justiça brasileiro, onde aparece de forma muito clara e inequívoca um extenso rol de acusações contra a forma vil que o governo federal, através de seus governantes nomeados, estava (des)tratando o Acre. Após nova viagem ao sul, retornou ao Acre onde retomou suas atividades de seringalista até a chegada do novo Prefeito Departamental do Alto Acre nomeado, o Dr. Gabino Besouro, Coronel da arma de engenharia do exército brasileiro, que seria personagem central no desfecho da trajetória do ex-comandante revolucionário.
Na verdade, os acontecimentos que levaram aos desentendimentos entre Gabino Besouro e Plácido de Castro constituem outro capitulo pouco esclarecido dessa conturbada história. A hipótese de alguns historiadores é que tudo se deveu a intrigas forjadas pelos inimigos de Plácido que levaram o novo Prefeito a se predispor contra ele. O mais provável, entretanto é que a própria disputa política regional que marcou o período e que ainda foi muito pouco estudada por pesquisadores tenha sido o principal motivador das disputas e confrontos que se sucederam. Segundo a historiografia tradicional, um dos homens fortes de Gabino Besouro, o Cel Alexandrino - que havia lutado ao lado de Plácido de Castro durante a revolução - assumiu uma postura de confronto direto com Plácido. E é importante ressaltar que neste ponto a oralidade e a memória local divergem das fontes escritas.
O Cel. Alexandrino José da Silva, agora subdelegado nomeado pelo Prefeito, havia ficado famoso durante a revolução como um homem muito valente e cruel, e só pôde ser controlado com muito esforço pelo comandante-em-chefe do exército acreano. Ainda segundo as fontes da história oficial, Alexandrino, por obscuros motivos, começou a esbravejar pela cidade de Rio Branco que mataria Plácido de Castro na primeira oportunidade.
Independente das controvérsias sobre a autoria física do crime, o fato é que, no dia 9 de agosto, ao retornar da Villa Rio Branco para o Seringal Capatará, Plácido acompanhado por seu irmão Genesco, seus amigos José Alves Maia e Barros Campelo e o empregado Chico Acreano, sofreu uma emboscada às margens do Igarapé Distração, próximo ao seringal “Flor de Ouro”, de propriedade do mesmo Subdelegado Alexandrino José da Silva. No ataque de surpresa, Plácido recebeu dois tiros à queima roupa, um dos quais lhe perfurou o pulmão esquerdo. Levado de rede ao seringal Benfica de seu amigo Cel. João Rola, agonizou durante dois dias, e no dia 11 de agosto de 1908 deixou a vida nas terras que ajudou a conquistar.
A partir de sua morte, Plácido de Castro se tornou um símbolo, um mártir, um herói de dimensões desproporcionais aos padrões da vida humana comum. Na prática, por motivos diversos, o crime prescreveu sem que ninguém fosse punido. E neste sentido, Plácido de Castro foi apenas o primeiro de uma longa e trágica tradição de mortes anunciadas que marcou profunda e tristemente a história do Acre.
Matéria publicada na coluna MIOLO DE POTE, no jornal Página 20, no dia 10 de agosto de 2008.