domingo, 14 de dezembro de 2014

Vaidades

A vida parece tão fútil,
Busca-se fama, poder, prestígio, beleza e dinheiro.
Dá-se tempo, suor e lágrima por eles.
Há quem estude para obtê-los,
Há quem comercialize para conquistá-los,
Há quem se prostitua nas esquinas e nos gabinetes para vomitá-lo;
Corrupção, lavagem de dinheiro, política.
Enfim, os meios justificam os fins...
A ambição é a mãe da psicopatologia moderna.

O que vale a beleza?
Para chamar a atenção?
Por que isso te fazes se sentir melhor?
Por que a tua felicidade e satisfação interior,
ficariam a mercê de um elogio alheio?
Por que tantas academias nessa Rio Branco?
Acaso não vivemos em uma ditadura da beleza?
Porventura não estamos em uma sociedade de “narcisos”?
A tua fortuna, sim, aquela para quem trabalhas tanto...
Ela apoderou-te de maneira tal que estás escravo dela,
Ela é quem te domina e não tu a ela.
Acumulastes bastante, parabéns!
Para quem será depois de ti?

Ei, você “Doutor”,
Por que estuda tanto?
Para conhecer o mal social
E ter o enfado da passividade em seus ombros?
Acusa tanto esse mal de dia e
quando chega à noite te deitas com ele,
Será isso certo?

Ei “Doutor”,
Pare de aplicar o teu conhecimento jurídico
para livrar o cliente dos rigores da lei,
Pare de utilizar o teu saber em contabilidade,
para manipular os números em favor do cliente,
Ciência, razão, verdade,
Igualdade, fraternidade e liberdade
Tudo vaidade, Tudo ilusão, tudo ideologia.

Conversas, intrigas, disputas, acusações.
Para que se discute tanto a política?
Por que tantos porta-vozes do povo?
Você que se diz representante do bem,
E faz questão de denunciar o mal alheio,
Por que não renuncias tu as benesses que o cargo lhe trás?
Por que não as distribui aos pobres?
A igualdade da tua retórica
não vai além da tua demagogia e hipocrisia.

Chega de teatro,
Chega de sorrisos pálidos,
Chega de discurso humanitário ou ecológico,
O fim de tudo isso é a ambição
dos oráculos Do bem-estar social.
A civilidade deles está cercada
Dos mais torpes pensamentos.
O paletó engomado que eles vestem
não faz deles menos selvagem que os primatas.
Eduardo Carneiro - 14/12/2014

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

EDUARDO PASSARO JUNIOR. Um contexto histórico e sócio-ambiental dos povos da floresta do Acre : ensaio sobre história recente desses povos e as políticas públicas estaduais do "Governo da Floresta".

Resumo: O Estado do Acre, território mais recentemente incorporado ao Brasil, até meados do século XIX apresentava em seu território apenas povos tribais ameríndios, que lá habitavam desde milênios. O histórico de povoamento mais recente do estado (a partir da segunda metade do século XIX) está atrelado com o mercado internacional da borracha, a região foi o destino de milhares de pessoas em busca de fazer a vida explorando as seringueiras. A partir de então uma série de disputas fundiárias ocorreram na região, o que foi um dos fatores que influenciaram na conformação da sociedade acreana. O movimento ambientalista surgiu no estado como resultado dessas disputas fundiárias na segunda metade do século XX. No final da década 90 o governo estadual, assimilando o discurso ambientalista, assume o governo com a Frente Popular do Acre, composta por uma série de partidos, com o autodenominado “Governo da Floresta” e usando o neologismo “florestania” como símbolo do projeto do governo. Apesar de utilizar amplamente em seu discurso temáticas ambientais e dos povos da floresta, acabou ao longo dos anos tendo atitudes com um cunho mais doutrinador do que emancipador. A discrepância entre a prática e o discurso do “Governo da Floresta” é então analisada a partir de conceitos como “Ecologia dos Saberes” e “Biopoder”, conceitos que auxiliam na identificação das atitudes de cunho doutrinador postas em prática pelo governo. Considerando como “ecologia dos saberes” aquela forma de conhecimento que tem a premissa um reconhecimento da pluralidade de conhecimentos heterogêneos que em interações sustentáveis e dinâmicas entre eles não comprometem suas autonomias e “biopoder” como aquela forma de poder que exerce a sua dominação sobre a própria vida da população, estabelecendo como é que esses devem viver.


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

TESE. "A Fundação do Acre": um estudo sobre comemorações cívicas e abusos da história. Eduardo Carneiro.

Esta tese analisa tanto o papel político e simbólico das comemorações de efemérides relacionadas à anexação do Acre ao Brasil, quanto a veracidade das narrativas de eventos históricos divulgadas por ocasião dessas festividades. No Mundo Ocidental, desde a Antiguidade até os nossos dias, se tornou algo comum a utilização do discurso epopeico em festas cívicas. Dessa forma, o fenômeno comemorativo no Acre foi estudado como parte dessa tradição milenar. A releitura da formação histórica do Acre levou em consideração a inserção dessa região amazônica à cadeia mercantil da economia-mundo capitalista ocorrida na segunda metade do século XIX. As informações sobre o Acre foram obtidas em jornais, documentos e livros encontrados nos acervos da Biblioteca Nacional (RJ), do Museu da Borracha (AC) e do Departamento de Patrimônio Histórico do Acre (DPHAC). Aquelas sobre festas cívicas no Mundo Ocidental foram conseguidas por meio de consulta bibliográfica no acervo da Biblioteca Florestan Fernandes (FFLCH/USP). A pesquisa teve caráter exploratório com predominância do método qualitativo. Uma das conclusões parciais a que se chegou foi que as festas cívicas no Acre desempenharam o mesmo papel político que há anos elas cumprem no Mundo Ocidental, qual seja, o de forjar identidades, provocar ufanismo, promover coesão social, disseminar valores e tradições, legitimar o tempo presente, validar uma dada versão do passado, dentre outros. Quanto à narrativa epopeica da história do Acre apresentada pelos promotores das comemorações cívicas, o conceito a que se chegou dela, conforme as propostas analíticas da história anticomemorativa formuladas por alguns historiadores contemporâneos como Pierre Nora, é que ela é “desonesta”, “irresponsável” e “abusiva”. Isso porque reproduz uma representação do passado que não condiz em todo ou em parte com a realidade dos fatos históricos a que se refere e porque sempre esteve comprometida com as causas e os interesses do status quo acriano. 

 Palavras-chave: Acre, Revolução Acriana, Plácido de Castro, Borracha, Amazônia, comemorações cívicas, e abuso da história.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

RELATÓRIO do Prefeito do Departamento do Alto Purus (1911)

                               TERRITÓRIO DO ACRE

                     DEPARTAMENTO DO ALTO PURUS








RELATÓRIO

Apresentado
Ao
Exmº Dr. Rivadavia da Cunha Corrêa
Ministro de Estado da Justiça e Negócios Interiores
Pelo

Dr. Godofredo Maciel

Prefeito do Departamento do Alto Purus


1911

















Introdução






















            Sr. Ministro da Justiça e Negócio Interiores



     Conforme  a disposição do art. 6 & 1º do Regulamento baixado com o Decreto nº 6.901 de 26 de março de 1908, é o Prefeito obrigada  apresentar ao Ministro da Justiça um relatório semestral da sua administração, ou seja dois anualmente.
       Mas, não me tendo sido possível cumprir à riscas, esse preceito regulamentar, porquanto, somente a 18 de Março do ao passado assumi, de fato, o governo deste Departamento, também, só agora me é dada o ensino de apresentar a Vexª o relatório atinente à minha administração durante os meses de março a Dezembro, abrangendo assim os últimos meses do primeiro e todo o segundo semestre de 1911.
       Serei preciso e, sobretudo sincero na exposição dos fatos que em seguida vão ser resenhados.
        Revele-na V.Exª alguma passagem menos discreta, em que, porventura e meio grado, seja mister a verdade desses fatos transcrever plenamente, com todas as letras.
        Alias, isto de modo nenhum, poderá importar na mínima quebra da alta consideração e respeito devidos a Vexª.
        Surpreendido e, ainda mais, honrado pelo atual Governo, de que é Vexª. Digno auxiliar, com a escolha do meu obscuro nome para o ponderoso encargo de Prefeito do Alto Purus, assentei de antemão, no firme propósito de procurar sempre corresponder à distinta confiança dos altos poderes da Republica.
        Preponderava mais de que tudo nesta resolução interna o espírito de cumprimento do dever, a um tempo, estimulo e previdência aqueles que, ainda na mocidade, são chamados à árdua provança do serviço publico, pela investidura do cargo das mais graves e melindrosas responsabilidades.
       Haja visto o de Prefeito do Departamento do Alto Purus, quando a 3 de dezembro de 1910, foi lavrado o Decreto da minha nomeação.  A este tempo, senão antes, (seja-me licito aqui reiterar as palavras do brilhante relatório de V.Exª., em abril d ano passado, dirigido ao Sr. Presidente da Republica ), era de perfeita desordem a situação no Território do Acre: nenhum dos Prefeitos nomeados pelo Governo Federal estava no seu posto; o Tribunal de Apelação não funcionava, os juizes que o compõem, estando dispersos, longe da sede do Tribunal; raro era o juiz regular, de Direito, substituto ou preparados, que se achava em efetivo exercício; o desmantelo administrativo e judiciário era completo. O vento da anarquia, passando por sobre aquele rico Território desfez a entrosagem política, administrativa e judiciária, depondo Prefeitos afugentando juizes. E as notícias que  ao conhecimento do Governo chegavam, eram os mais desencontradas, as mais opostas, não sendo possível fazer-se uma idéia , sequer aproximada, da situação daquele Território nem de quais  os verdadeiros, culpados pelo desmantelo que lá reinava”.
      Foi então, à vista deste lamentável estado de crises, desta “perfeita desordem”, tão ao vivo descrita por V.Exª., que o Sr. Presidente da Republica, “diante da impossibilidade de pautar uma ação eficaz e segura, pelas informações oficiais e oficiosas que do Acre chegavam, prudente e sabiamente, resolveu a substituição de todos os Prefeitos e Sub-prefeitos, nomeando, para esse cargo, novos funcionários, de imediata e inteira confiança do Governo”- Só assim a administração central poderia entrar no exato conhecimento do que se  passou e se passam no longínquo  território, e, sob informações que lhe merecem perfeita fé, adotar medidas as mais consentâneas com as necessidades e as aspirações dos novos patrícios que valentemente desenhavam e conquistam para a civilização brasileira aquela uberrimas, mas inóspita, paragem”.
      De fato quando, em cumprimento da ordem telegráfica de V.Exª.,  parti do Ceará, onde me surpreendera a nova da minha nomeação, em busca de Manaus, ali encontrei entre outras pessoas  menos gradas, do Alto Purus, os Srs. Desembargadores Elysiário Fernandes da Silva Tavora e Domingos Almeida de carvalho, este procurador geral do Território do Acre e aquele Presidente do Tribunal de Apelação, com sede em Sena Madureira.
       Um  e outro queixaram-se amargamente da situação em que se viam, impossibilitados  de voltarem ao Departamento passou  o livre exercício de suas respectivas atribuições.
       Corriam então os mais alarmante versões a respeito do quer se estava passando no Alto Purus; e até se me assegurou que o Capitão Samuel Barreira, já exonerado do lugar de 1º Sub-prefeito, entrincheirado em Sena Madureira, mantinha-se na resolução de, à força, impedir a minha posse do cargo de Prefeito.
        Ao que se dizia, o Departamento estava irremessívelmente conflagrado. E sobre tais fundamentos foi que o Presidente do Tribunal de Apelação do Acre, secundado pelo seu colega Sr. Desembargador Domingos Américo, comigo instou repetidas vezes no sentido de solicitar a V.Exª., um vaso de guerra que me assegurasse o livre acesso pro Governo.
         A isto sempre me recusei, fazendo ver aqueles dois magistrados que o governo não me enviava ao Alto Purus em missão de guerra, senão de paz e concórdia.
      A vista dos continuados e repetidos boatos descrevendo tenebrosa e ameaçadora a situação ali reinante, sempre por parte dos Desembargadores Távora e Américo, que, cada vez mais, insistiam em me apregoar vitimas, como outros seus colegas magistrados de Departamento, da mais descabida animosidade por parte do Capitão Samuel Barreira, a quem atribuíam toda a sorte da desmanda  violência e até atos de improbidade administrativa, tomei de mim para mim mesmo, o alvitre de precisar também ouvi as partes contrárias e queixos dos referidos Desembargadores e seus colegas de magistério, representados aquelas por diversos proprietários de seringais nos rios Yaco e Purus, havia pouco, de lá chegados.
      Só assim, frisando bem as razões de um e outro lado, ser-me-ia possível antes de entrar no Governo do Departamento forma um juízo mais ou menos seguro acerca dos homens e coisas.
      Logo também deliberei, como medida preventiva, seguir para Sena Madureira em companhia apenas de meus auxiliares de administração.
      Já não  foi isso de agrado dos que se achavam em Manaus, à minha espera, no propósito de só regressarem ao Alto Purus com o novo Prefeito, que à puridade diziam arrojado pelo Sr. Dr.Belisario Távora, Chefe de Policia da Capital Federal, para se ir pôr ao lado de seu digno irmão, o Sr. Desembargador Elyziario...
      O meu intuito em partir de Manaus desacompanhado outro não fora senão me eximir durante a viagem as mesmas insinuações que já estava farto de ouvir, insinuações em sua maior parte de vinditas odiosas, sendo que a primeira deveria ser a demissão em massa de todo o pessoal que na Prefeitura servira com o Capitão Samuel Barreira.
      O certo é que  dali parti em busca de Sena Madureira trazia resolvido qual deveria ser o programa de governo a adotar, resolução que ainda mais se firme quando, a 18 de março, aportei a esta cidade.
      Só então e logo ao chegar, pude ver e pessoalmente testemunhar o tamanho e enormidade das fantasia urdidas, com engenho e arte, contra a mais ordeira população que ainda conheci, a qual se me fizera imaginar  entrincheirado no barranco do rio Yaco, em atitude belicosa, pronta impedir o meu desembarque...
                      Tudo romance!

     A população, encontre-a, realmente, apinhada ao longo da margem do rio, mas, não de armas em punho: trazia para o novo prefeito e seus auxiliares flores as braçadas, de onde logo fui enferindo a sua generosidade de sentimentos.
     Dentro em pouco, porem, surpreendido, contristado, através do animo ordeiro dessa população, mas menos laboriosa,  o amargor de um fundo sentimento, mal disfarçado embora, contra os seus magistrados judiciais, salvante raras exceções tanto mais honrosas quanto eram assinaladas com justa veneração.
     E  perscrutando melhor o cenário e, com mais segurança, deduzindo as razões dos fatos ali anteriormente desenrolados, conhecendo, enfim  mais de perto os protagonistas em jogo, foi se me revelando em toda a sua nudez a triste verdade.
     De um lado estava a população unânime, trabalhadora, temente à lei, ciosa da justiça e carecedora da assistência de um administrador esforçado e honesto, deveras interessado pelo futuro da região e, de fato em beneficio de seu progresso, aplicando as verbas que lhe são destinadas pelo Governo.
     Do lado oposto, dois advogados, ávidos de mando e de precunia, aos quais, lastimavelmente, dera mão forte a maioria dos juizes, constituindo esse concluo nada mais nada menos de que uma verdadeira ditadura político-judiciária, ferrenha, absorvente, intolerante e, não mais raro, desonesta...
      Era o que bem se pode chamar o regime da política togada, sem nenhum percalço e com todos os pros inerentes as condições de vitaliciedade e inamobilidade dos seus fundadores.
      E ai do Prefeito, simples funcionário demissível ad natum, que não preste desde logo cega obediência aos caprichos desse regime sui generis, filho do sacrílego abuso das garantias judiciárias!...
      Assim, o principal problema que me cumpria resolver, pesar de embarcações, dependia menos de arqueia do que do melhor a empregar;  e este só seria eficaz se não fosse arbitrário e, sim oportuno, isto é calcado nas próprias e especiais condições da situação que uma serie de fatos anteriores havia suscitado no Departamento.
     Urgia preliminarmente adotar a uma política de paz e congraçamento, cujo bom êxito, alias, não dependia em exclusivo da atitude neutra e da ação conciliadora do novo Prefeito, senão também, e principalmente, da boa vontade de certos juizes afugentados, para usar de uma expressão de v.Exª., no já citado relatório.
      Promover essa facilidade, de congraçamente e de reconciliação com o esquecimento de qualquer animosidade passadas ter-me-ia sido relativamente fácil, si nessa tarefa me quisesse coadjuvar aqueles juizes, como se mostrarem por sua parte, em regressando ao Departamento, resolvidos a um novo regime de procedes mais compatível e digno da elevação do seus mistérios.
     Longe disso, à media que se iam de novo investindo dos cargos, ao em vez de se revelarem convenientes, tolerantes e desapaixonado, pelo contrario, sentindo-se garantidos no seus lugares, denunciaram, para logo, as suas odiosas instruções de vinganças manifestamente  pessoais, por mais e modos que sempre lhes sobraram.
        Estavam assim, reconstituída, com as mesmas figuras, nos mesmos moldes de ferro, de absorção, de intolerância e de improbidade, a velha ditadura política – judiciária do Alto Purus.
        E o novo Prefeito que escolhesse, de duas uma: acomodar-se ou passar-se pelas forças caudinas...














































RELATÓRIO


































ADMINISTRAÇÃO



     Após dois meses de estadia em Manaus, aguardando não só as ultimas instruções do Governo como também a vinda do comandante, oficiais e raças destinados à  Companhia Regional de Alto Purus, parte para Sena Madureira no dia 28 de fevereiro passado...
    Já em Manaus e mediante autorização telegráfica de V.Exª., assumira, a 9 de janeiro, o exercício do cargo de Prefeito tendo assinado na Delegacia Fiscal do Tesouro Federal, naquela cidade, o respectivo termo de compromisso.
    Ao chegar a sede do Departamento, em 18 de março ato continuo, foi-me passado o seu governo, que se a chave então a cargo do 1º Tenente Miguel Seixas de Barros, que por sua vez, do Capitão José Menescal de Vasconcelos.
     Foi meu primeiro cuidado, como era natural, examinar a organização  interna do serviço da Prefeitura, o numero de seus funcionários e a quanto montava a remuneração dos menos anualmente.
    Qual não foi minha desagradável surpresa quando, ao cabo desse ligeiro exame, chegarei a conclusão de que o numero de empregados pagos pela prefeitura fora sobremado do acrescido de novos pelos três substituídos do Capitão Samuel Barreira, tudo sido, além disso, aumentados  os ordenados de vários dos artigos empregados; de maneira que toda a verba da Prefeitura (400:000,000) se consumiria só na remuneração do funcionalismo, ficando ainda um déficit avultado.
     Afim de obvias tão grave inconveniente, fiz baixar a Resolução nº 1, anexa, primeiro ato do meu governo.
     Equiparável a essa surpresa só a decepção, não menos desagradável, por mim experimentada ao verificar que no arquivo da Secretaria nenhum livro de escritura existia onde se achassem consignadas as verbas anteriores e suas correspondentes aplicações, tampouco um livro de credito, escriturado de maneira a se saber de pronto o debito da Prefeitura sua origem e respectivos credores.
    Da gestão administrativa do Sr. Dr. Candido José Mariano, absolutamente nenhuma escrituração existe na Secretaria da Prefeitura a respeito de verbas, nunca tendo havido uma seção de contadoria, nem, ao menos um livro de notas dos dinheiros recebidos e da sua aplicação, desde 1905, ano de sua nomeação, a 20 de abril de 1909, em que assumiu interinamente o cargo o 1º sub-prefeito, o Capitão Samuel Barreira.
     Relativo a administração deste, de abril de 1909 a 19 de março de 1910, em que esteve pela primeira vez em exercício, encontrei um balanço geral, publicado em 18 de setembro, no nº 130 d  “O Alto Purus”, órgão oficial do Departamento.
     No segundo período da administração do Capitão Samuel Barreira, que começou a 19 de julho, terminando com a comunicação oficial de sua exoneração, aqui chegada a 9 de novembro de 1910, existe no arquivo da Secretaria um livro caixa, de caráter particular e sem formalidade legal, onde, entretanto, se acham escrituradas com clareza todas as transações da Prefeitura durante o seu governo.
     Em o meu oficio nº 31, de 28 de abril do ano passado, anexo, dei a V.Exª minuciosas informações sobre esses fatos e ao mesmo tempo, da precária situação financeira da Prefeitura, de mais a mais, sobrecarregada de um déficit superior a dozentos contos de réis.
    Tal ordem de coisas não devia permanecer por mais tempo.
     Verdade era que a verba de que dispunha a Prefeitura, já de si exígua, talvez não mais comportasse a criação de uma contadoria, constituindo uma seção especial, com o respectivo corpo de funcionários, isto é contador, amanuense e serventes, percebendo ordenados correspondentes.
     Mas, urgia, de qualquer modo, pôr-se termo a essa inacreditável e singularidade praxe, em voga na Prefeitura do Alto Purus, que não usava registrar sua receita, muito menos sua despesa, seus débitos, procedência dos mesmos e respectivos credores.
     Resolvi, então, por ato de 25 de abril, estabelecer na Secretaria uma seção de contabilidade, contudo de dois livros, que me pareceram os mais imprescindíveis, devidamente abertos, rubricados e fechados, servindo um de caixa, em que fossem lançadas, com clareza e pontualidade, todas as transações da Prefeitura, e o outro de registro de contas.
     O serviço da nova seção ficou aos cuidados do 1º oficial da Secretaria, que, pela acumulação, passou a perceber, além do ordenado, uma pequena gratificação.
     Mais tarde, verificando que aquele funcionário não era possível dar conta de todo o serviço a seu cargo, e, atender a necessidade de trazer sempre em dia a escrituração dos negócios  da Prefeitura, sempre em grãs de argumento, fui obrigado a criar mais um lugar de 2º oficial e, posteriormente, ainda um outro, de amanuense.
    No intuito de dar aos meus atos administrativos, mormente aqueles que envolvessem aplicação de dinheiro públicos, a mais ampla publicidade, inaugurei, logo no inicio do meu governo, o sistema até agora praticado, da publicação no órgão oficial dos balancetes mensais da Prefeitura, trazendo, assim pontualmente escrito e divulgado todo seu movimento financeiro e econômico.
Anexos,no lugar competente, encontrará V.Exª., esse diversos balancetes parciais, além do balanço geral, relativo não só a verba ordinária (material) como também a extraordinária ( serviços  públicos e Obras).
        Havia na Prefeitura a praxe evidentemente abusiva de se  impor aos pequenos vendeiros ambulantes, de frutas, comidas feitas e coisas semelhantes, a contribuição mensal de 15.000. Como tal pratica, proibida em face do art. 1º do Decreto nº 1.820, de 19 de Dezembro de 1907, reforçado pelo art. 7 do regulamento a que se refere o Decreto nº  6.901 art. Que diz ser “defeso aos Prefeitos criar ou perceber quaisquer taxas ou impostos que não forem decretados pelo Congresso Nacional”, baixei a Resolução sob nº 6, anexa, abolindo de vez a cobrança indébita daquela contribuição.
          Os mesmos motivos e fundamentos determinaram a Resolução nº 11, também anexo, proibindo a cobrança que igualmente se fazia de 100,000 de taxa pela tiragem de cada titulo de aforamento dos lotes de terras concedidos  pela prefeitura.

        

                              SECRETARIAS


 
     Acha-se a cargo do Sr. José Pedro Soares Bulcão, cujo zelo, inteligência e capacidade de trabalho podem ser atestado pela boa ordem e exatidão com que foram desempenhados os múltiplos serviços concernentes a mais importante seção administrativa da Prefeitura.
    Relativamente grande foi o movimento da Secretaria durante os noves meses do ano findo, a que se refere o presente relatório, enquanto diminuto seja o numero de seus empregados cuja boa vontade e esforço a custo conseguem suprir as necessidades dos serviços que lhes estão afectos.
     No decurso daquele período foram expedido 180 ofícios e recebidos 346; despachados 1.006 petições e lavrados 147 portarias de nomeação de exoneração, de concessão de licença e outros vários assuntos. Foram, mais lavrados 11 contratos com a Prefeitura, sendo de todos o mais importante o relativo a instalação do serviço de iluminação elétrica em Sena Madureira.
    Adiante encontrará V.Exª., a cópia autenticada de cada um desses contratos.
     Foram, enfim, assinadas e postas em vigor 2 resoluções que, também, na integra, vão anexadas.
     Em um quadro que vai  aperso acha-se descriminado, com os respectivos ordenados, todo o corpo de funcionários públicos da Prefeitura. Como se vê desse quadro demonstrativo, a verba destinada mensalmente do custeio da Prefeitura (33:333,333) é, na sua maior parte, consumida com a remuneração dos funcionários, restando apenas um pequeno saldo(9053,333) para fazer face a folha de operários e outras necessidades.



                            ORDEM PÚBLICAS 
 

     É provincial a índole pacifica e ordeira da população de Alto Purus; não fosse a recente tentativa de sublevação autonomista, em tempo sufocado, graças a presteza e energia da ação policial, a este capitulo faltaria, de certo, matéria para sua elaboração.
      Desde principio de junho do ano traçado, época de vazantes do rio, impossibilidade quase a navegação começaram a surgir aqui insistentes boatos de um projetado movimento autonomista a mão armada.
     Logo aos primeiros, resolvi, as despeito de quaisquer dificuldades de transporte, próprios do verão, envia a Manaus o 1º  Tenente Genésio Fernandes da Silva, afim de trazer novo contingente de praças para a desfalcada Companhia Regional e duas metralhadoras, levando também, nessa ocasião telegramas para o Sr. Presidente da Republica e para V,Exº  sobre os boatos então correntes.
     Dizia-se o movimento combinada para explodir a 14 de julho, o que, aliás, não se verificou.
     Depois da chegada do Sr. Coronel Antônio Antunes de Alencar ao Departamento do Alto Acre e da Organização ali do partido autonomista, recrudeceram aqui as idéias chefiadas pelo referido Coronel.
     Precisamente a esse tempo foi-me denunciada a vinda, da cidade da Empresa, no Acre à Sena Madureira, de um próprio, mandado pelo Sr. Coronel Antônio Antunes de Alencar, trazendo cartas, entre outras, uma para o SR. Desembargador Elysiário Távora, fervoroso adepto do autonomismo do Território do Território, como V.Exº., terá oportunidade de ver provado.
     Coincidiu esse fato com se tornarem mais freqüentes as reuniões de caráter político que era costumes, a noite, celebrar  em sua residência o Sr. Desembargador Domingos Américo de Carvalho, talvez dentre os magistrados do Acre, resalvadas sempre as honrosas excepções, o mais franco e ardoroso paladino da causa autonomista.
     Acrescia que o mesmo Desembargador possuía em sua casa diversas carabinas Winchester e munições respectivos, tendo de lá saído certo dias dois cunhetes de balas, com destino ignorado.
     Em meados de Agosto chegaram de nova as meu conhecimento reiteradas denuncias evidenciando o preparo metódico de plano sedicioso contra a ordem legal constituídas, aqui e no Departamento visinho, onde o Sr. Coronel Antunes de Alencar, pressuroso continuava na propaganda dos seu ideais de autonomia à outrance.
      Em data de 24 de agosto recebi dali amistosa carta do ilustre Dr. Deocleciano Coelho de Souza, em cujo final convidam-me a distinto Prefeito do Acre a com ele formar “estreita liga contra as pronunciamentos dos exaltados políticos, que alteram a ordem publica     

                             
    

       

domingo, 31 de agosto de 2014

CRONOLOGIA DA AVIAÇÃO NO ACRE

Fonte: Departamento de Patrimônio Histórico do Acre

01 DE MAIO DE 1935
O Interventor Federal Martiniano Prado convoca a população de Rio Branco para construir o primeiro campo de aviação da cidade em mutirão. Esta atitude repercute em vários pontos do pais.
24 DE MAIO DE 1935
Sorteio de lotes de 20 X 20 metros do campo de aviação para serviço de destocamento e terraplenagem entre a população.
09 DE JUNHO DE 1935
É inaugurada uma coluna no Jornal O ACRE que tem como titulo "O NOSSO PRIMEIRO CAMPO DE AVIAÇÃO" que divulga o andamento dos trabalhos nos lotes do campo de aviação.

05 DE JANEIRO DE 1936
Fenellon Muller anuncia o interesse da Syndicato Condor, empresa aérea de origem alemã, em mandar um hidro-avião ao Acre.
Estava ocorrendo uma disputa entre a Condor e a Panair e o Interventor aproveitou isso.
05 DE MAIO DE 1936
Chega a Rio Branco, as 13 horas, o hidro-avião Taquary, (fabricação alemã, << Junkers w  34 >>, monomotores, com a potencia de 635 H. P.) que aquatiza no estirão Bagé, pilotado por Frederico Hoepken que antes de partir ganha duas bandeiras de presente uma brasileira e uma nazista.

04 DE OUTUBRO DE 1936
Martiniano Prado manda João Donato Filho para se formar piloto no Rio de Janeiro.

15 DE DEZEMBRO DE 1936
Chega o hidro-avião Tiete, também da Sindicato Condor. Na partida o Tiete leva o Interventor Martiniano Prado.
19 DE JANEIRO DE 1937
Tiete traz Martiniano Prado (já apelidado de "O Bandeirante do Ar") que diz que o próprio Getulio Vargas prometeu vir ao Acre. O filme do pouso do Taquary é passado na praça.

10 DE MARÇO DE 1937
Chega um hidro-avião da Panair, que dessa vez pousa no estirão da cidade. Anuncia o estabelecimento de linha regular semanal Manaus / Rio Branco.
03 DE JULHO DE 1937
O Governador Epaminondas de Oliveira Martins anuncia o término do "Nosso Primeiro Campo de Aviação", com direito a banquete e orquestra.
09 DE SETEMBRO DE 1937
Inauguração do Campo Santos Dumont e pouso de aeronave da Panair.

30 DE SETEMBRO DE 1948
Término da construção da Estação de Passageiros Salgado Filho.

23 DE MARÇO DE 1950

Inaugurada Estação de Passageiros Salgado Filho. Baile oferecido à sociedade acreana pelo comando e oficialidade da Guarda Territorial e que se realizou no espaçoso hall da Estação de Passageiros

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Em defesa do Estado de Israel

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Fim da aposentadoria para ex-governadores do Acre é uma imposição moral


POR MARCIO BITTAR
Aprendi, desde muito cedo, o valor da economia. Evitando o desperdício de comida, o consumo desnecessário de luz elétrica ou de água, meus pais conseguiram criar seis filhos com dignidade e ensinando o valor do trabalho e do controle de gastos. Esses são conceitos simples que devem ser utilizados na administração de uma casa ou de um estado.

O Acre, todos sabem, tem um orçamento escasso e não pode mais continuar gastando R$ 100 milhões, por ano, com cargos de livre nomeação apenas para abrigar candidatos derrotados e aliados políticos. São cargos meramente políticos, que não prestam qualquer serviço relevante ao estado, com salários de R$ 18 mil ou R$ 20 mil.

Uma casa ou um estado não podem gastar acima do orçamento e devem encontrar formas criativas de gastar bem os seus recursos. O modelo adotado no governo do Acre está falido, precisa ser modificado, e, dentro do meu plano de governo, está prevista uma Reforma Administrativa para acabar com os abusos, através de mecanismos de controle direto, com a criação de um “Agente da Economia” em cada órgão, que receberá uma gratificação proporcional à contenção de gastos conseguida em sua área da organização estatal.

Outro ponto da Reforma Administrativa que estou propondo, extingue, de forma definitiva, as aposentadorias para ex-governadores. Esta é uma prática que tem se tornado comum em diferentes unidades da federação, e que custa, aos combalidos cofres do nosso Acre, cerca de R$ 5 milhões por ano com esse gasto, com aposentadorias mensais no valor de R$ 24 mil.

A discordância com este benefício não é um tema novo para mim. Ainda em 1995, quando fui deputado estadual, apresentei projeto de lei visando acabar com as aposentadorias de ex-governadores do Acre. Em 1996, o deputado João Correia aperfeiçoou meu projeto, que foi aprovado pelo plenário da Assembleia Legislativa e sancionado pelo governador Orleir Cameli. O Acre tornou-se, então, um dos poucos estados da federação que não bancava tal benefício. Infelizmente, durante o primeiro governo do PT o pagamento voltou a ser praticado, através da sanção de nova lei.

Em 2013, em conjunto com os deputados do PSDB, Carlos Sampaio e Ruy Carneiro, apresentei a Proposta de Emenda à Constituição nº 269, para vedar a concessão de pensão, benefício previdenciário e subsídio mensal a ex-governadores e ex-prefeitos.

Esta é uma posição pessoal e coerente com minha história política. Não estou defendendo uma caça às bruxas nem sendo oportunista, pois se todos podem conseguir aposentadoria, em função pública -apenas após 35 anos de contribuição para os homens, e 30, para as mulheres; e apenas após atingir 65 anos de idade para os homens, e 60, para as mulheres- não pode haver tratamento diferenciado para o governador do estado.

Além do mais, tal pagamento torna-se ainda mais injusto quando lembramos que a aposentadoria máxima concedida pelo INSS é de R$ 4.390,24 por mês para quem trabalha 35 anos, enquanto os ex-governadores estão acima das regras.

Esta será uma medida de resgate da justiça e de adequação do nosso orçamento, que voltará a ser direcionado, de forma absoluta, para o desenvolvimento econômico e social do acreano.

Fonte: Blog do Altino

quinta-feira, 15 de maio de 2014

O 13 de maio e a “história oficial” do Acre


POR DENISE SCHAAN

Assisti nesta terça-feira (13), por volta do meio-dia, em um jornal televisivo de Rio Branco, a entrevista dada por Marcus Vinícius Simplício das Neves sobre o dia 13 de maio. Considerado o "historiador oficial" do Acre, Marcus Vinícius contava ao repórter sobre a contribuição de descendentes de africanos ao Estado.

O mais antigo de que se tem notícia, segundo ele, é Manoel Urbano da Encarnação, que "nos descobriu" na metade do século XIX; é "nosso Pedro Álvares Cabral". Deve fazer tempo que o historiador deixou a escola, porque hoje não se fala mais das invasões colonialistas como "descobrimentos".

As centenas de geoglifos encontrados no leste do Estado provam que povos indígenas viviam no Alto Purus pelo menos 3.000 anos antes da chegada dos emissários do governo colonial, fossem eles mestiços ou não.

Uma das tarefas de Marcus Vinícius tem sido esconder da imprensa e do povo do Acre os geoglifos, que ele mesmo estava pesquisando em segredo nos anos de 1990, e posteriormente tentou impedir que fossem conhecidos quando o professor Alceu Ranzi começou a divulgá-los.

Essa história oficial da formação do Estado do Acre, prenhe de resquícios colonialistas e militaristas que vem sendo continuamente repetida, mascara conflitos e a enorme diversidade cultural existente no Estado.

Marcus Vinícius, ao pretender defender um status quo que é herança do governo militar, presta um desserviço aos povos indígenas, escondendo-os, e aos povos de origem africana, criando falsos heróis, assim como a todos os imigrantes que vieram para o Estado ao longo de um século marcado por lutas e conflitos pela terra e seus recursos.

Ele presta um desserviço ao próprio PT que ele representa, um partido que foi construído com lutas de trabalhadores para restabelecimento de direitos essenciais a todos.

Penso que é hora dos jornalistas acreanos procurarem os verdadeiros historiadores. Acredito que deve haver profissionais no Estado com Mestrado e Doutorado em História, que possuem um melhor entendimento dos processos históricos e que tragam ao público uma visão pós-colonialista e crítica da história regional.
 

Denise Schaan é historiadora, arqueóloga, antropóloga da Universidade Federal do Pará e pesquisadora do CNPq.
 
Fonte: Blog do Altino

domingo, 6 de abril de 2014

Hidrelétrica do Rio Madeira serve a interesses internacionais.






O CHAMADO DO MADEIRA

A ENERGIA É BOA, MAS O RIO MADEIRA É MELHOR!

Recomendo o documentário O CHAMADO DO MADEIRA, que mostra o 
outro lado da história em relação à construção de hidrelétricas na Bacia do Madeira.

“Porque nós não abrimos mão. A palavra é essa: nós estados, Acre, 
Rondônia e Amazonas, não abrimos mão de estar dentro deste 
empreendimento. Isso é uma novidade para o Brasil. Dentro do 
empreendimento, permanentemente dentro do negócio.”  (18m 5s).

É isso que diz descaradamente o agora senador do Acre Jorge Viana 
em relação ao “empreendimento” da construção das hidrelétricas do Madeira, 
o mesmo que outro dia cobrou explicação do Ministério das Minas e
 Energia a relação entre a cheia do Rio Madeira e a construção das hidrelétricas.

HIPOCRISIA: s.f. Afetação de uma boa qualidade ou de sentimento que
 não se possui. (Minidicionário Gama Kury, de um acreano que de fato
 me orgulha).


A eleição está aí:
Façam um favor ao Acre: retirem os Vianas e seus capachos do poder! Façam um favor ao Brasil: retirem a Dilma também!

O que está por vir, espera-se, não pode ser pior do que o que aí se encontra. E se for, retire-se também. Vivemos tempos de retrocessos fantasiados de um tempo próspero e de grandes conquistas. Para quem?

Causa-me nojo a maneira como estes governam. Cordeiros disfarçados na pele de lobos. Judas trocando por trinta moedas de prata a cultura, os valores e os sentimentos do povo. Tudo isso aniquilado por uma ideia arrogante de progresso, que beneficia, como sempre, o grande capital nacional e internacional. Sistema pútrido e assassino, assim como seus defensores e propagadores. E ainda tem a pachorra de dizer que nosso discurso é duro e revoltado. Saiam de seus palácios e arranha-céus, e venham ver como é a vida aqui embaixo, senhores donos do mundo, que negociam com o “diabo” as nossas almas já combalidas pela miséria, pela violência, pela fome, pela corrupção, etc, etc, etc...

Este Acre. Este Brasil assim, NÃO QUERO MAIS. Aliás, nunca o quis. Parem o mundo que eu quero descer, mas antes vou dizer o que eu vim dizer! Este é meu escarro ao que aí está. Se não gostou, pode riscar este blog e o blogueiro de sua lista.

Mi lucha es dura e vuelvo
com los ojos cansados
a veces de Haber visto
la tierra que no cambia

Pablo Neruda
Los versos del Capitán

quinta-feira, 3 de abril de 2014

PENSANDO A CULTURA NO ACRE: DA DITADURA À DEMOCRACIA (João Veras – 31 de março de 2014)


Parece indiscutível que o modelo de estado de exceção - que o Brasil provou nos longos 21 anos de ditadura militar – tem aspectos significativos, sobretudo no campo da politica, que diferem do modelo de estado constitucional que vivemos desde o encerramento formal daquele. Mas também não tenho dúvidas que por trás desse status de plena liberdade existem muitas coisas encobertas e outras nem tanto a, na prática, lhe contradizer e, assim, conferir semelhança à experiência do que já foi. Nesse sentido, vou procurar me pautar a partir de uma perspectiva local e específica. Quero perguntar e levantar hipóteses a respeito da questão cultural no Acre nesses 50 anos da ditadura à democracia. Quero refletir sobre o tratamento do estado/mercado no campo da cultura e também sobre seus efeitos para o movimento social e à produção locais.
No Acre, mesmo depois da promulgação da Constituição Federal de 1988, e da Constituição Estadual de 1989, as politicas públicas planificadas de cultura só se tornaram realidade com o advento da chamada lei de incentivo à cultura, o que só veio a ocorrer, por aqui, com a Lei Estadual de Cultural de 1999 – 10 anos após o inicio da vigência da Constituição Estadual que, inclusive, determinava a criação do Conselho Estadual de Cultural, cumprimento esse realizado somente em 2005, 16 anos depois. O que equivale dizer, sob o ponto de vista da gestão pública, que o regime que a ditadura militar estabeleceu para o campo das politicas de cultura ainda se manteve, no plano formal, vivo por, pelo menos, 16 anos após a alteração constitucional, exatamente quando já vigia plenamente o estado democrático de direito. Essa simultaneidade é materialmente significativa.
O que se sabe é que, durante o regime militar, especialmente, nas décadas de 70 e 80, existiu um movimento social, político e estético que era ativo. Foi nesse período que foram criadas a Federação de Teatro Amador do Acre, a Associação dos Músicos do Acre, A Associação de Cinema do Acre, A Associação dos Artistas Plásticos do Acre, entre outras. Eram entidades artísticas que lutavam por seus interesses e também expressavam solidariedade a outros movimentos sociais urbanos e rurais.
O mesmo se dava na esfera da criação e difusão artística. Via-se uma organicidade da criação artística com o contexto politico-social. É desse tempo que se pode extrair uma dramaturgia, uma literatura, uma música, uma artes plásticas, um cinema, além de originais, mais engajados social, política e culturalmente. Foi uma época em que a arte aqui produzida não era indiferente à realidade. Uma existência marcada, é certo, pelo estado de exceção, mas, sobretudo, no caso regional de uma amazônia explorada, pelas mazelas resultantes das medidas politico-administrativas tomadas nos campos social, ambiental e econômico. O que nos aponta que, apesar da ditadura e da inexistência de politicas planificadas públicas de cultura, havia vida ativa, independente e criativa nas artes acreanas para quem importava sobremaneira os contextos políticos e culturais locais.
Todavia, desde lá, essas manifestações, como produtos artísticos, sempre foram condicionadas a uma esfera limitada de circulação tanto dentro do território acreano quando fora dele. Assim, sob o ponto de vista da difusão e do acesso sociais, os produtos dessas manifestações artísticas locais e seus artistas vêm sendo encapsulados numa espécie de bolha gelatinosa de célebres anônimos e invisíveis ilustres, estes só acessíveis – tornados conhecidos - a um reduzidíssimo gueto de apreciadores.
Enquanto isso, é destinado a todos o consumo de uma produção artística que, no mínimo, não dialoga e pouco ou quase nada tem relação com a realidade local. No entanto, todos os mecanismos, públicos e privados de difusão cultural, como o rádio e a televisão, estão concentrados no sentido não só de difundir o que é “de fora” como, sutilmente, de invisibilizar a difusão e o acesso daquilo que é “de dentro”.
Hoje, é fácil não vê em atividade política, muito menos engajada social e culturalmente, aquelas organizações do movimento cultural local. As criações artísticas, por seu turno, parecem, em regra, se desviar há léguas do que acontece no seu tempo presente. Com raras exceções, vê-se e ouve-se uma indiferença quase despudorada em relação ao existir no ambiente local. Há uma espécie de auto aceite tácito da condição invisível desses atores sociais e culturais para as complexas, diversas e ricas realidades cotidianas então órfãs de olhares críticos e transgressores, o que indica estranho comportamento fugidio naquele sentido de “parece que não é comigo”.
O Estado tem um papel fundamental para que assim seja. Ele não investe contra isto. Suas gestões burocráticas de politicas culturais andam ocupadas com o controle politico da comunidade artística – que anda distraída e engessada pelo canto da sereia de uma dissimulada gestão democrática. Também têm se ocupado, com seus tribunais de editais, a sentenciar quem deve e quem não deve acessar os farelos de seus parcos orçamentos anuais. Os seus sistemas públicos tanto de comunicação quanto de educação só reforçam tal quadro. Reforçam quando dão supremacia à cultura de massa industrializada pelo sudeste nacional e pela central de importação cultural norte-europeizada. Reforçam quando aquela mentalidade “externa” adentra e se mantém exclusiva, no caso do sistema educacional, pela via dos livros didáticos e paradidáticos importados do sul. Reforçam quando estes sistemas se comportam com indiferença especialmente às produções musicais (nas emissoras de rádios e tvs), e literárias locais (nas escolas e bibliotecas públicas).
Isso se tornou tão naturalizado na percepção das pessoas que é fácil perceber na internet - onde a liberdade de navegação não segue, a princípio, a hierarquia da indústria cultural - a dificuldade que ainda permanece para acessar e difundir as expressões e produtos artísticos locais. É que as pessoas continuam com aquela mentalidade incutida por décadas de hierarquia cultural dos “de fora” sobre os “de dentro”. É que o padrão estético do é que concebido como qualidade já se encontra pré-estabelecido como totalidade de tal modo que fora dele – sua exterioridade – nada não tem valor, nem existe! O recente caso do clip Meu Acre, da menina Adrielle Farias - que tratou sobre o local sem amarras e antropofagicamente interessante - é exemplo fatal pela várias manifestações de repulsa estética e também política de que foi alvo nas redes sociais da internet. E ela só foi visibilizada porque radicalizou, consciente ou não, o enfrentamento entre a matriz e o que dela difere. Daí o estranhamento!
Como consequência, continuamos, passados os 50 anos (com ditadura e sem ditadura), em estágios de quase completa submissão e dependência ao mercado cultural externo e à políticas públicas de cultura coniventes com um estatuto de arte e uma central de produção estética que, em suas versões mercadológicas, eruditas ou vanguardistas, se apresenta como única e superior, padrão ao qual nossas manifestações devem aderência como sub-produtos. Ainda como resultado, tal padrão se coloca a nos orientar – aos “artistas da terra” - a evitar os conteúdos “locais” e se atirar nos “universais”, a fim de, negando as marcas culturais da província, seguir o que dá certo, como artefato de mercado, em sua rentabilidade econômica, ou de status de nobreza. Há casos de artistas locais que se embrenham rumo à central maravilha – a grande metrópole – em busca dessa induzida necessária adaptação in locu ao paraíso. O padrão global de arte não aceita sotaques que não sejam proferidos - a partir de seu território difusor da qualidade estética - pela sua lábia imperial.
Por essa maneira de compreensão, tanto num regime como noutro, continuamos, numa medida importante, como território e povo, colonizados em casa ou fora dela. O estado das liberdades democráticas não conseguiu nos desamarrar dos cativeiros culturais, da condição colonial e do racismo estético-cultural. Não conseguiu oferecer o diferencial histórico prometido/esperado. É que do reino das liberdades democráticas se almeja heterogeneidades e planos horizontais de poder, saber e fazer arte.
E assim, como que encantados nesse contexto de seduções cultural e política, muitos partiram, “por conta própria”, para suas cápsulas de particularidades invisíveis. Talvez seja mais seguro, mais rentável.
Era desgraçadamente no contexto do regime ditatorial – e apesar dele – que havia um movimento social artístico e uma produção cultural que pensava o local e, de algum modo, se insurgia - politica, estética e solidariamente - em face do status quo. Que paradoxo! A ditadura nos unia e a democracia nos faz dispersos, fracos, senão inexistentes!