quinta-feira, 28 de março de 2013
sábado, 23 de março de 2013
Um breve ensaio da Revolução Acreana no imaginário popular
Alcidark Costa: Historiador pela UFAC e Acadêmico de Direito – UNINORTE
Fonte: http://pagina20.uol.com.br
Se a História clássica consagra a Revolução Acreana como a inauguração e surgimento de um novo povo, cabe, a partir de um novo olhar, uma reflexão a cerca de como o imaginário popular concebe a Revolução Acreana e como esta se constitui numa conformização identitária do povo acreano, cuja qual nos remete a uma reflexão da “história das mentalidades”. (Michele Perrot. Os Excluídos da História)
Conquanto, essas reflexões, sobretudo, a partir das leituras dos clássicos, proporcionam um inevitável confronto (contraponto) da linha historianovista ou nova história ao positivismo histórico que consagra a Revolução Acreana a partir de uma narrativa épica.
Parafraseando a professora Dr. Maria Jose “a memória é sagrada e a história é profana”, ou seja, a memória é a consagração dos fatos e a história uma analise crítica da memória. É a partir desse pré-suposto que, nas tendências historianovistas, a saber, a tese de doutorado da Professora Maria Jose, Invenções do Acre – de Território a Estado – um olhar social, bem como a dissertação de mestrado do professor Eduardo Carneiro, o Discurso fundador do Acre, percebe-se, tanto numa como na outra, uma desconstrução do mito da Revolução Acreana, ao passo em que a professora Maria Jose faz esse olhar histórico a partir da analise da Revolução Acreana como uma “tradição inventada”, e o professor Eduardo carneiro, em sua dissertação, faz uma analise do discurso dessa tradição como mito fundador do Acre.
Dessa forma, a “tradição inventada” do mito da revolução acreana se constitui no discurso constituinte, ou seja, ele inaugura o surgimento de uma comunidade civilizada em detrimento de uma não civilizada, mas que, muito embora não precise de um discurso que o justifique, também não é imutável no tempo e no espaço, mas se adéqüe, de acordo com o interlocutor do discurso dentro de uma realidade concreta, proporcionando uma discursividade, no caso, uma reinvenção das tradições.
Se o Estado é o interlocutor do discurso, então quem são os acreanos? Nesse sentido é importante contextualizar o Acre ou o território em litígio com os bolivianos num cenário nacional e internacional sob o aspecto político e econômico.
Conforme os tratados internacionais como a Bula papal Intercuetera (1493) e tratado de Tordesilhas (1494), as terras do “Aquiri” (Acre), em litígio na questão, pertenciam à Bolívia. Não obstante, estas foram ocupadas a partir de 1850 - 1870, por brasileiros, sobretudo, migrantes nordestinos impulsionados pela seca que insistia em não cessar e atraídos pela perspectiva de melhores condições de vida, proporcionada pela incipiente economia gumífera na região em virtude do advento da Revolução Industrial, que leva, por sua vez, o capitalismo a fase imperialista, estimulando o grande capital na busca por matéria prima, bem como zonas de influencia, o que desenvolve nos Estados Nacionais um caráter beligerante exaltando o militarismo através do patriotismo e heroísmo. No Brasil o discurso do ideal republicano fortalece cada vez mais o projeto de Estado nacional brasileiro. É a partir desses elementos que o interlocutor do discurso, o Estado, constitui uma imagética simbolista, ou seja, torna a “tradição inventada” da Revolução Acreana em símbolos que proporcionam no imaginário popular a idéia de um Acre emergido de uma luta gloriosa e que se dá a partir daí uma conformização identitária, isto é, o surgimento de uma comunidade civilizada, os acreanos, que são nordestinos e relega da historiografia os não civilizados, povos tradicionais que há milênios já ocupavam esta região.
Retornando a idéia do discurso constituinte como gênese do discurso, mas que na sua mutabilidade, conforme uma realidade material, é passível de transformações, ou seja, proporcionando a “reinvenção das tradições”. Afere-se, a partir da luta política pela elevação do Acre a Estado – Acre emancipado e Acre viável, uma reinvenção da tradição e, portanto, uma discursividade da Revolução Acreana como Mito fundador do Acre.
Se naquele primeiro momento, final do século XIX, o discurso fundador do Acre relegou a presença e a contribuição dos não civilizados (povos tradicionais), da formação histórica dessa região, no segundo momento, sobretudo, na concepção do Acre viável, esse discurso se reconstrói, ou a tradição da revolução se reinventa. Exalta-se o mito da Revolução Acreana agregado de novos valores. Quem são os acreanos agora? O nordestino, o seringalista? O indígena? Nem um, nem outro, mas sim todos, numa fusão das relações das forças produtivas que envolvem o poder do Estado e as classes subalternas, ou seja, a consciência do eu enquanto sujeito coletivo dentro de uma realidade concreta. Essa idéia, também, nos remete a uma reflexão a cerca da historia das mentalidades.
Se o conflito armado na região em litígio com os bolivianos, do ponto de vista político e social, não se configura como uma ruptura do status quo e, portanto, na constituição de uma nova ordem, pode-se dizer, no sentido mais amplo da revolução, que aquele conflito, profundamente, transformaria o imaginário daqueles que naquela lutaram e sobreviveram. Se antes do conflito eram emigrantes nordestinos, despatriados pelo governo federal, a Revolução os torna agora acreanos brasileiros, repatriados, sobretudo, pela simbologia republicana do patriotismo e heroísmo daqueles que “derramaram sangue para tornar esse pedaço de chão em território brasileiro”.
quarta-feira, 20 de março de 2013
segunda-feira, 18 de março de 2013
sexta-feira, 15 de março de 2013
LIVRO. 1899 espionagem no Acre (de Jailson Dantas)
Este livro-reportagem é resultado de trabalho universitário e tem o propósito de dar um novo enfo-que à figura de Luis Galves Rodrigues de Arias, espanhol e jornalista que veio para o Brasil no ano de 1897 e aqui contribuiu firmemente para a criação do Estado do Acre. Foi ele quem expulsou os bolivianos do Brasil e fundou o Estado Independente do Acre em 1899.
Esse personagem polêmico, tratado injustamente pelos historia-dores brasileiros com desdém, como um fanfarrão, jogador, mulherengo e, finalmente, aventureiro, pode ter sido um espião qualificado dada a sua estratégia de se infiltrar nas hostes políticas, empresariais e na imprensa para denunciar o plano que envolveu os Estados Unidos da América, a Ingla-terra e a Bolívia contra o Brasil. Foi por meio de uma matéria publicada no Jornal A Província do Pará, atribuída a Galves, que a sociedade brasileira e o mundo ficaram sabendo do que ficou conhecido como o Bolivian Syndicate.
Esse tratado espúrio, urdido pela Bolívia, dava aos dois países envolvidos o direito de controle sobre a navegação dos rios da Amazônia e, para isso, usariam até mesmo de força coercitiva militar. Não fosse a intervenção firme do Barão do Rio Branco, chanceler naquela quadra, que desfez o negócio tendo pagado aos sócios do Bolivian Syndicate uma fortuna, o Acre, hoje, talvez não fizesse parte do mapa do Brasil.
Em 1903 foi assinado o Tratado de Petrópolis pondo um ponto final ao imbróglio. Não há sinais de onde Galves esteja sepultado. Há hipótese de ter sido assassinado aqui mesmo no Brasil por forças do governo. Porém, Plácido de Castro, cidadão gaúcho que veio depois, é quem faz parte do Panteão dos heróis brasileiros. Castro foi assassinado e seu túmulo está no cemitério da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre-RS, enquanto o de Luis Galves precisa ser encontrado.
Esse personagem polêmico, tratado injustamente pelos historia-dores brasileiros com desdém, como um fanfarrão, jogador, mulherengo e, finalmente, aventureiro, pode ter sido um espião qualificado dada a sua estratégia de se infiltrar nas hostes políticas, empresariais e na imprensa para denunciar o plano que envolveu os Estados Unidos da América, a Ingla-terra e a Bolívia contra o Brasil. Foi por meio de uma matéria publicada no Jornal A Província do Pará, atribuída a Galves, que a sociedade brasileira e o mundo ficaram sabendo do que ficou conhecido como o Bolivian Syndicate.
Esse tratado espúrio, urdido pela Bolívia, dava aos dois países envolvidos o direito de controle sobre a navegação dos rios da Amazônia e, para isso, usariam até mesmo de força coercitiva militar. Não fosse a intervenção firme do Barão do Rio Branco, chanceler naquela quadra, que desfez o negócio tendo pagado aos sócios do Bolivian Syndicate uma fortuna, o Acre, hoje, talvez não fizesse parte do mapa do Brasil.
Em 1903 foi assinado o Tratado de Petrópolis pondo um ponto final ao imbróglio. Não há sinais de onde Galves esteja sepultado. Há hipótese de ter sido assassinado aqui mesmo no Brasil por forças do governo. Porém, Plácido de Castro, cidadão gaúcho que veio depois, é quem faz parte do Panteão dos heróis brasileiros. Castro foi assassinado e seu túmulo está no cemitério da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre-RS, enquanto o de Luis Galves precisa ser encontrado.
quinta-feira, 14 de março de 2013
quarta-feira, 13 de março de 2013
quinta-feira, 7 de março de 2013
RESUMO: CALIXTO, Valdir de Oliveira. Plácido de Castro e a Construção da ordem no Aquiri: contribuição à história das idéias políticas. Rio Branco: FEM, 2003.
Por Eduardo de Araujo Carneiro
APRESENTAÇÃO (Governador Jorge Viana)
“Este é um
livro muito especial por diversos motivos... por que estamos publicando-o num
momento também muito especial, quando comemoramos a passagem de um século desde
a assinatura do Tratado de Petrópolis”.
“Cabe
ressaltar que, durante todo o período em que governo o Estado do Acre, estou
tendo a grande felicidade de poder celebrar junto com o povo acreano o
Centenário da Revolução Acreana. Foi assim em 1999, em relação ao centenário da
1ª Insurreição Acreana deflagrada por José Carvalho e do Estado Independente do
Acre presidido por Galvez. Do mesmo modo fizemos no final de 200 quando se
completou um século da Expedição dos Poetas articulada por Rodrigo de Carvalho
e, durante todo o ano de 2002, quando comemoramos a Grande Revolução
comandada por Plácido de Castro que nos levou à vitória contra a
dominação estrangeira e a ameaça do grande capital internacional”.
“... para que essa
alegria fosse completa, quis Deus e o povo do Acre que aqui estivéssemos
cumprindo nosso segundo mandato à frente do Governo do Acre para concluir essas
comemorações por ocasião do centenário da assinatura do Tratado de Petrópolis,
que encerrou o período de conflitos com a Bolívia e formalizou as terras
acreanas como brasileiras”.
“Não podemos nos esquecer que antes da
Revolução não havia acreanos, mas tão somente brasileiros do Acre. E foi
durante essa luta que surgiu nossa identidade como povo. Ou seja, não podemos
nunca nos esquecer que a primeira geração de acreanos não foi constituída por
pessoas que aqui nasceram, mas por pessoas que pelo Acre deram suas vidas e
essa é uma marca que trazemos dentro de nós[2]”.
“Sinto isso, especialmente, por fazer
parte da mesma geração de Chico Mendes[3]
que – junto com milhares de índios, seringueiros e ribeirinhos acreanos, à
semelhança dos revolucionários de um século atrás[4],
- defendeu nossa floresta e os povos que nela habitavam”.
PREFÁCIO
(Senador Tião Viana)
“Recentemente, participamos
das comemorações do Centenário da revolução Acreana. Pela própria natureza dos
festejos, que envolveram toda a comunidade em diferentes eventos culturais e
fóruns de discussão, ficou patente que estamos delineando um outro
perfil de sociedade”.
“A sociedade acreana hoje se insurge
contra aqueles[5]
que a querem alijada e submissa aos interesses mesquinhos de uma
oligarquia, a qual, para se perpetuar no poder, ajusta-se despudoradamente
às exigências do mercado e vende o que for preciso, o produto da hora,
sem poupar sequer a dignidade e o orgulho do povo da terra”.
“Nestes últimos
anos[6],
nossa história tem ido às ruas. Ela se faz presente nas praças, nas
correspondências que estampam o selo comemorativo de seus cem anos, nos
documentários de rádio e tv. Um momento raro. A primazia do debate sobre o
saber enciclopédico, Todos os acreanos instados a conhecer mais de si mesmos”.
“Somos
amazônicos, somos dos rios e da floresta, somos a face humana da
biodiversidade”[7].
“Mas do que nunca, é a hora de falarmos do nosso povo, das nossas
origens, dos nossos heróis, - oficiais e anônimos[8]
- tirar-lhes a pátina do tempo e compreendê-los. E tempo de sabermos de nós”.
“Quando
menciona a vontade revoltada, ainda que de maneira indireta, Calixto se reporta
à centelha que alumia o coração do acreano comum, o qual, desde pronto, soube
ser brasileiro”[9].
“Temos nas mãos um estudo da
nossa GÊNESE que contextualiza historicamente os embates
político-econômicos da atualidade e nisto reside o seu mérito”
INTRODUÇÃO
- O tema central deste livro
refere-se à complexa inter-relação entre classe, ideologia e estado.
“... o espaço acreano configura-se
como ocupação recente e desordenada, em função de uma economia extrativista
predatória... Toda aquela imensa área geográfica banhada pelos altos
rios da Amazônia aparecia, nas cartas bolivianas, como tierras non
descubiertas”. P. 19.
“Privilegiou-se a figura controvertida, mas
fascinante de Plácido de Castro, espírito revolucionário, crítico da República
Oligárquica e, conjuntamente a lúcidos patrões e destemidas seringueiros,
libertador do Acre”[10]
p. 20.
“...
procurou-se enfatizar o papel do capital como promotor da inserção da região na
divisão internacional do trabalho, à medida que a borracha tornava-se, cada vez
mais, mercadoria indispensável à modernidade” p. 20.
“... se
pretende demonstrar é o caráter de classe do domínio boliviano no Aquiri...
Ressalta-se o caráter nada patriótico da burguesia boliviana em relação ao
Bolyvian Sindicate” p. 20-21.
CAP. 1 – O
CAPITAL, A MODERNIDADE E AS TIERRAS
NON DESCUBIERTAS (p. 23)
- No
capitalismo, tudo vira mercadoria. Esconde-se a violência e o cinismo da
acumulação de capital. No Acre, não foi diferente.
- Qual era a
outra face do progresso? Em Paris, capital
do capital, os pobres eram silenciados em meio aos bulevares. Era a
modernidade liberal.
“Entre 1873 e
1896, a deflação fez com que o nível britânico de preço declinasse em 40%,
ocasionando a queda nas taxas de lucro. Estremeceram os alicerces que
sustentavam os valores da livre troca” p. 24.
“O capital mobilizado politicamente exigiu do Estado proteção contra
a intensa concorrência internacional... o progresso como resultado de um longo
processo evolutivo já não correspondia aos novos tempos, pois a nova lógica da
acumulação capitalista tinha pressa” p. 25.
“Entretanto, enquanto nos
países hegemônicos do ocidente já ruíam
os pilares da modernidade, euforicamente forjados nas oficinas fáusticas do
livre-cambismo, do outro lado do Atlântico, no Brasil, outros pilares
principiavam a desmoronar” p. 27.
“A 4 de janeiro de 1878[11],
subia ao poder o Partido Liberal, inflamando os espíritos da modernidade pseudofáustica”.
- O
desenvolvimento tecnológico incorporou o látex como mercadoria do progresso.
“... somente no século XIX, seriam criadas as condições para o aproveitamento
industrial da goma elástica” p. 30.
“... A
borracha inseria-se, assim, nos planos dos fomentadores da modernidade... A
medida que o processo de vulcanização possibilitava um uso industrial da goma
elástica, cada vez mais diversificado, cresciam os investimentos no setor,
implicando a necessidade de suprimento de matéria-prima” p. 31.
- A província do amazonas foi criada em 5 de setembro
de 1850. Foi desmembrada da província do Pará. “Para o desapontamento
dos que se enriqueciam com o comércio regional, a criação da província
amazonense não contemplaria as reivindicações de descentralização e autonomia
desejada. Ao contrário, o objetivo do poder central era colocar, em circulação,
sob seu controle, a moeda do progresso, sem a qual os escravocratas e
burocratas saquaremas[12]
podiam em risco seu domínio” p. 32
- A liberação
do rio Amazonas e seus afluentes à navegação e comércio de todas as bandeiras
viriam somente em 1868. Tavares Bastos foi um dos baluartes da causa.
- O federalismo seria bom para a comunidade mercantil
do amazonas composta, quase que exclusivamente, por portugueses.
“... por
ocasião do boom gumífero, ocorresse uma mudança na lógica da acumulação... a
acelerada subordinação do capital comercial das Casas Aviadoras ao capital da haute-finance,
representado, na Amazônia pelas Casas Exportadoras e bancos estrangeiros” p.
35.
- Até o fim dos anos 60 (XIX), correspondeu à expansão do capital
mercantil rumo à Amazônia através das Casas Aviadoras.
“Nessa fazer
pré-boom, como esclarece Weinstein, o volume de produção, então manipulado pelo
comércio aviador, ainda não era o suficiente para inspirar confiança ou estímulo
do setor creditício em operação na praça de Belém. A expansão do sistema de crédito foi característica de um
outro momento...” p. 35.
“A chegada
dos primeiros patrões às tierras non descubiertas ocorreu num momento em
que a demanda internacional e os preços cresciam” p. 35.
“A década de
1880 já demarcava a gradativa subsunção do CAPITAL MERCANTIL – representado
pelas Casas Aviadoras – ao capital financeiro, representado pelos bancos
nacionais e estrangeiros, mas, sobretudo, pelas Casas Exportadoras” p. 35-36.
- Daí por
diante, haveria uma acirrada luta pelo controle da exportação do outro negro.
- Poucas casas exportadoras (VERDADEIROS
PARASITAS) dominavam a maior parte da
exportação da borracha, suficiente para impor preços e impedir que as
Casas Aviadoras exportassem, elas próprias, a borracha aviada pelos patrões.
“A crescente
interferência do capital monopolista na tradicional economia
extrativista, impondo nova lógica à acumulação mercantil, foi, desta
maneira, conseqüência da crescente demanda de matéria-prima por parte da
indústria européia e norte-americana, estimuladoras de novas necessidades de
consumo” p. 37.
- O controle
das fontes abastecedoras de látex teve como conseqüência regional o
investimento dos governos de Amazonas e Pará. As empresas de transporte
recebiam mais investimentos. Em 1878, passou-se a cobrar em Belém “...um
imposto de 3% sobre o embarque da borracha que, por cabotagem, chegava até
Belém”. Manaus concorria com Belém a respeito dos portos exportadores da
borracha. Ler a respeito da porcentagem de cada uma na p. 38.
“Se, em 1890, a arrecadação da
receita regional (Amazonas e Pará) era de 17.745 contos de réis, em 1900
saltava para 88.962, uma diferença percentual superior a 500%” p. 38.
- A Amazônia
tornou-se peça fundamental na engrenagem imperialista.
“O AQUIRI dos
nativos mudaria de nome algumas vezes. Os patrões descendentes de MATUTOS
CEARENSES, chamaram-no Acre” p. 38.
CAP. II – A
OLIGARQUIA DO CAFÉ, OS MILITARES E A ORDEM REPUBLICANA (p. 43)
- O primeiro
governo civil republicano foi tumultuado. Foi uma anarquia administrativa. Caos
financeiro. Indignação dos militares. Prudente de Morais concedeu anistia aos
federalistas do Rio Grande do Sul (Incluindo Plácido de Castro), o exército foi
desmoralizado em canudos[13].
O presidente sofre um atentado, o clube militar é fechado. Dentro do Partido
Republicano Paulista se se digladiavam pela hegemonia Campos Sales e Prudente
de Morais. O grupo de Campos Sales ficou no poder nos anos 1898-1920 (política
dos governadores) – representavam a nata da burguesia cafeeira. Em 1891,
Rodrigues Alves era ministro de Floriano Peixoto.
“... Dessa
forma, nasce a ideologia do imperialismo como superação dos velhos ideais
liberais” p.45.
- A política
dos governadores foi uma política baseada nos interesses de classe, a
oligarquia cafeeira. Para esta, o aparelho estatal, nada mais é do que parte do
sistema de poder do grupo. O Estado não era uma entidade autônoma que seria a
todos.
- A
oligarquia inventou uma nova ordem para abrir caminho à nova elite. O
que essa nova ordem não quis ser?
1) Não quis
identificar-se com a República Militar dos deodoristas[14].
A república para Deodoro era o ápice da questão militar no processo da agonia
do Estado escravista. Salvou o exército da humilhação imposta pela elite
imperial. “... a recusa daquele modelo justificava-se do ponto de vista da
facção perrepista ‘oligárquica’, porque, ao exaltarem a figura do grande homem,
o soldado herói que havia combatido na Guerra do Paraguai, os deodoristas,
abriam espaço para a propagação de uma idéia de pátria e de nacionalismo
consideradas perigosas e inoportunas” p. 49.
2) O
oligopólio financeiro traduzira-se por um privilégio considerado não grato aos
interesses do grupo em ascensão – o favorecimento da indústria carioca em
expansão.
3) Era contra
a República Sociocrática dos positivistas, pois eram contra a democracia
representativa. Defendiam a incorporação dos proletariados e o fim dos
privilégios burgueses.
4) Não seria
uma República de Marianne, ou seja, uma república libertária – Jacobina.
5)Contra a
qualquer tentativa de restauração monárquica, às idéias separatistas e às
contestações populares.
- A nova
ordem classificava os grevistas como desordeiros. O demos deveria submeter-se
ao imperativo nacional. “... nossos peseudofáusticos construtores da nova ordem
optariam por forjar seus próprios símbolos” p. 52. O hino nacional e Tiradentes
foram os símbolos. A liberdade se daria dentro da ORDEM, ordem que se assegura
à reprodução da classe no poder. A liberdade é um meio em si mesma.
“A letra do
Hino Nacional[15]
tornar-se-ia poderoso instrumento para a formação das almas num momento em que
o governo Campos Sales desgastava-se mais ante as elites oposicionistas e o
demos” p. 52-53.
“Liberdade?
Autonomia? Soberania? Só se garantidas, vale dizer, legitimadas pelos novos
donos do poder... Que se lixassem os que, também pseudofausticamente,
pretendessem, nos altos rios amazônicos, fundar sua própria ordem ou mesmo
mendigar autonomia no condomínio oligárquico em formação!” p. 56.
- Calixto se
propõe fazer uma análise do discurso dessa oligarquia para “...desvendá-lo
enquanto ideologia e práxis de uma facção agro-exportadora bem sucedida e que
precisava de ordem...” p. 56.
- Para Campos
Sales o governo deveria cuidar das finanças para cumprir os compromissos com os
banqueiros internacionais, a função do governo é administrar. O parlamento
teria um mínimo de força.
- Em 1900, o
congresso estava dividido em dois grupos: a) Concentrados (concentrava as
bancadas do sul do país), era o que restava do Partido Republicano Federal; b)
Republicanos (Nordeste e sudeste).
- A “pax
oligárquica” só foi possível graças à reorganização do sistema federativo:
autonomia dos estados; autonomia do executivo federal. “O federalismo emergia,
então como a melhor das ordens possíveis [e] a alternativa a ele seria a
barbárie do unitarismo... A verdadeira opinião nacional é constituída pela soma
dessas unidades autônomas. Os Estados são a nação política, logo a política
dos governadores, pelos procedimentos que adota, é a única forma virtuosa capaz
de estabelecer os nexos entre a polis e o governo” p. 62.
- As
divergências não poderiam romper com a unidade política da república. A polis
era impermeável ao demos.
POLÍTICA DOS
GOVERNADORES – reativou o fenômeno do CORONELISMO. O MANDONISMO foi a forma de
dominação ideológica na política local.
“Os coronéis
governistas criavam todo tipo de obstáculos a quaisquer pretensões das facções
oposicionistas” p. 63.
CONTEXTO:
integração da Amazônia à divisão internacional do trabalho. Em 1902, diversas
frações da classe dominante se uniam ao inimigo comum. Campos Sales e sua
política liquidacionista dos insolváveis. Os monarquistas pregavam a luta
armada, “Sempre desqualificando a ordem em vigor, apelando ao patriotismo, ao
descontentamento popular e às armas para a derrubada da mesma (república)...”
p. 74.
“Ao findar o
quadriênio, Campos Sales podia jactar-se de ter alcançado seu principal
objetivo: o saneamento financeiro do país, condição primeira, no entender do
grupo da oligarquia...” p. 72.
- A Revolução Federalista no
Rio Grande do Sul fora esmagada com o apoio da burguesia agrária e do
coronelismo castilhista. Alguns foram desterrados na Amazônia como punição,
como o coronel Jacques Ourique.
- Os
bolivianos lutaram contra a burguesia regional que se sustentavam do látex.
CAPÍTULO III – TILINTAM OS CRISTAIS, SOAM OS CLARINS E
AS LINHAS DANÇAM: NASCE A QUESTÃO ACREANA (p. 77).
- A eleição
de Prudente de Morais foi para SAES[16]
uma reação termidoriana. Não foi uma simples mudança do militar para civil, mas
foi uma etapa decisiva onde a fração hegemônica da burguesia cafeeira delegou a
função de direção política ao Estado.
“Se Manaus, a
bela cidade de largas e bem iluminadas avenidas, elegante boulevard e
fantástico teatro, era a mesma Manaus soerguida sob milhares de ossos, trágico
e macabro alicerce de uma modernidade paseudofástica, era porque a necessidade
do progresso assim o exigia” p. 82.
- Militar
Gregório Thaumaturgo de Azevedo: nasceu em 1853, no Piauí. Bacharel em
matemática, Ciências Físicas e em Direito. Em 1879, foi secretário da comissão
de limites Brasil-Venezuela. Em 1885, filiou-se ao Partido Liberal. Quando da
proclamação da República, foi convidado por Deodoro da Fonseca para ser
governador do Piauí. Pediu demissão por discordar da fração hegemônica do
Estado. O Governo Federal, então, o nomeia governador do Amazonas. Ficou no
cargo apenas 5 meses, Floriano Peixoto demitiu todos os governadores críticos.
Foi contra o discurso entreguista de Prudente de Moraes. Defendia uma ruptura
ao defender o “uti possidets”. Quando Dionísio Cerqueira assume o ministério
das Relações Exteriores, Thaumaturgo pede demissão.
- Manaus:
vivia à sombra do patronato; nos rios prevalecia a truculência dos patrões. Nos
seringais, prevaleciam as leis do coronel. Manaus era a cidade dos vícios:
cabaré a cada esquina, terra da boemia e de aventureiros.
- Em
nota de rodapé, Calixto conta que o TRONCO “... consistia em acorrentar os pés
do indivíduo a um tronco de árvore... Era um castigo que se aplicava,
invariavelmente, aos seringueiros em débito com barracão, ou que ousassem
desafiar ordens expressamente recebidas do proprietário do seringal” p. 84.
-
Tratado de Ayacucho: O tratado tinha como contexto o
liberalismo do Partido Progressista que estava no poder na época (1862-1867) e
a guerra contra Solano Lopes. Do lado da Bolívia, o tratado fora assinado numa
época em que os indígenas estavam sendo oprimidos pela fração agro-conservadora
capitaneada pelo caudilho Melgarejo[17].
O tratado foi assinado sem que ambos os países conhecesse um palmo da geografia
daquela região entre o Madeira e o Javary. A linha que era considerada reta
tornou-se oblíqua após 1895.
“... o Amazonas irá perder a melhor zona de seu
território, a mais rica e a mais produtora... fazendo-nos perder o alto rio
Acre, quase todo o Iaco e o Alto Purus, os principais afluentes do Juruá e
talvez os do Jutaí e do próprio Javari; rios que dão a maior porção da borracha
exportada e extraída por brasileiros... Toda essa zona perderemos, aliás
explorada e povoada por nacionais e onde já existem centenas de barracas,
propriedades legítimas e demarcadas e seringais cujos donos se acham de posse
há alguns anos, sem reclamação da Bolívia...”. Gregório Thaumaturgo de Azevedo
“À Bolívia
interessava, naquele momento, interromper a frenética dança das linhas,
intensificada desde 1894 com o Relatório Pando” p. 97.
“Na Bolívia, em curso a revolução liberal desde outubro de 1897.
Revolução que, protagonizada por D. José Manuel Pando[18],
reivindicaria para a jovem República andina o direito ao progresso e à ordem
pseudofáustica” p. 98.
“Naquele ano – 1898 – cerca de 23.108 toneladas de goma elástica eram
exportadas, via portos de Belém e Manaus, ao preço altíssimo de 10.560 réis o
quilo” p. 99.
- Nota de Dionísio Cerqueira, Ministro das Relações Exteriores, ao
governador do Amazonas citado por Calixto na página 100: “Concordar no
estabelecimento de posto aduaneiro à margem do Acre ou Aquiri, em território
incontestavelmente boliviano, isto é, acima da linha tirada do Madeira à margem
do Javari, na verdadeira latitude determinada pelo capitão-tenente Cunha
Gomes”.
“Tal posição significava dar como encerradas as dúvidas sobre as
origens do Javari, confirmando a existência de um território incontestavelmente
boliviano, situada a 7° 11’ 48’’ 10, conforme mediação realizada por Cunha
Gomes” p. 101.
“Entretanto, a questão acreana que, segundo palavras do próprio
ministro (Dionísio Cerqueira), nascera ‘nas praças comerciais de Belém e
Manaus, daí se propagando aos seringais do Acre’, era mais uma questão gestada
nas entranhas do Estado escravista e
vindo à luz num momento crítico da República” p. 102.
“Mobiliza-se o capital mercantil das Casas Aviadoras situadas em
Manaus. Movimenta-se, na penumbra, o Estado amazonense dos Nery. Nos altos
rios, os patrões clamaram pela Ordem! O Acre passava a ser, cada vez mais, uma
questão republicana” p. 103.
CAP. IV – PALAVRA DE REPÚBLICA: O ACRE PODE SER BOLIVIANIZADO
(P. 103).
- A
política dos governadores visava a preservação e reprodução do sistema de
dominação, hegemonicamente administrado pela conservadora burguesia cafeeira,
ou seja, os fazendeiros.
- Por
que a ordem oligárquica ficou indiferente aos brasileiros do Acre que enviavam
toneladas de borracha aos portos de Manaus e Belém?
- Quando Dionísio Cerqueira afirmara que
o Acre era incontestavelmente Boliviano, “A razão para a indiferença do governo
federal não fora de ordem geográfica, mas de ordem política e econômica” p. 105. “A questão do Acre não deveria
embaraçar a marcha da República” Cerqueira.
“Ao ratificar-se a linha Cunha-Gomes, declarando o Acre território
‘incontestavelmente boliviano’, a nova ordem, leia-se a fração oligárquica que
lhe emprestava sentido, estava demonstrando seu profundo desprezo pelo capital
mercantil regional, naquele contexto já profundamente comprometido e
organicamente articulado à economia extrativista” p. 107.
-
1899 é o ano em que o governo boliviano decide
estabelecer sua ordem no Acre. O Ministro Dionísio Cerqueira assina uma
permissão para que Paravicini adentre no Acre para montar um posto aduaneiro.
-
Havia um baixíssimo investimento do governo federal na
Amazônia. A produção de borracha de 1902 foi menor do que a de 1901.
-
Na época, a burguesia agro-exportadora comandava a
Bolívia.
-
SE alguém foi patriota nessa história foi Paravicini
que em meios a várias adversidades levou a cabo o intento de anexar o Acre e
estabelecer a ordem no Acre. O consulado de Paravicini durou 111 dias. Foi
criado uma Delegacia Nacional e através dela a Bolívia regia a ordem no Acre.
“Com a chegada de Paravicini ao Aquiri, a 3 de janeiro de 1899,
principia, de jure e de fato, a institucionalização do poder boliviano” p. 112.
Alfândega de Porto Acre[19]:
“Aí, deveriam ser arrecadados os impostos de importação e exportação de
mercadorias, produtos naturais e manufaturados, conforme as leis tratadas e
regulamentos vigentes e os que forem expedidos” p. 112-113.
“Os decretos de fevereiro pretenderam, não só disciplinar as questões
relativas à propriedade desde sua
aquisição, coibindo o contrabando e o roubo, mas também regulamentar o regime
de trabalho a ser estabelecido e, naturalmente, zelar pela questão da
segurança... Ninguém poderia explorar seringais sem a devida concessão, sendo
que os que não tivessem qualquer documento comprobatório de suas propriedades
deveriam formalizar suas petições” p. 114.
-
Decreto de 22 de fevereiro de 1899: decretava a melhor
forma de fazer o corte na seringueira para extrair o látex, sem ocasionar a
morte da seringueira.
-
Os infratores pagariam multas em dinheiro e os que ,
pela terceira vez, insistissem na prática do arrocho (abatimento forçado da
árvore), poderiam “perder o seringal em benefício do fisco”.
“Interessante é notar que a fundação de Puerto Alonso e a conseqüente
organização da Delegacia Nacional no Aquiri se dão num contexto em que no
Brasil, afirmava-se no poder o grupo da oligarquia, naquele momento articulando
hegemonicamente, o pacto entre as diversas frações dominantes. Na Bolívia, logo
após o golpe de 1899, ascende ao poder o Partido Liberal que, com Pando,
assumiria feições nada clássicas”.
“... desde Paravicini, houve adesões, de caráter individual e coletivo,
às primeiras providências emanadas da sede da Delegación”. P. 119.
“... o Ministro Paravicini receberia um documento, autêntico manifesto,
assinado por vinte e sete cidadãos e firmas em operação no rio Acre,
declarando: adesão ao governo... De manifesta adesão se chagaria à efetiva
aliança entre as classes dominantes no Aquiri. É que três bem estabelecidos
patrões – o capitão Antônio Leite Barbosa em Humaitá, o major Pedro Braga em
Riozinho e Augusto Maria da Rocha Neves em Xapuri – aceitaram de bom grado sua
investidura no cargo de corregedores no governo Paravicini[20]”
p. 120.
SOBRINHO, Ferreira. As
quatros insurreições acreanas. Manoel Ferreira Lima (tese de mestrado).
-
Em plena vigência da Delegación Nacional alguns
seringalistas formam a Junta Revolucionária. O que estava em jogo era os
grandes interesses ligados ao comércio da borracha.
- LER página 126 e avaliar o envolvimento
de um amigo de Galvez na formalização do Bolívian Syndicate.
CAPÍTULO V – OS PATRÕES DIZEM NÃO
À NOVA ORDEM OLIGÁRQUICA: REBELIAO NO ALTOS RIOS (139).
“Até a ocupação da Bolívia, o Aquiri encontrava-se sob a jurisdição do
Município de Antimari (depois Floriano Peixoto), Estado do Amazonas, naquela
ocasião administrado por um Superintendente, de nome Francisco de Souza Junior”
p. 139.
“Dos altos rios, do Aquiri, só interessava a grande riqueza extraída de
suas úberes seringueiras às custas, naturalmente, de extenuante jornada de
trabalho do extrator de látex” p. 139.
- A ordem da qual fala Calixto é a presença do poder público. A
desordem era tamanha que quando a expedição Paravicini chegou, as autoridades
de Floriano Peixoto nem se quer tinha sido avisadas.
“... a historiografia regional acreana batizou como revolução acreana”
p. 140.
“Durante a administração brasileira não se criou uma só escola, nem se
construiu um só edifício para o serviço de culto, e o Estado do Amazonas
percebia anualmente mais de 5 mil contos de impostos sobre a borracha e o
Tesouro Federal o dobro, de direitos de importação de mercadorias. A vila de
Antimari, ultimamente denominada Floriano Peixoto, recebia também de 40 a 50
contos de mercadorias e barraqueiros, aos quais, aos quais se obrigava a pagar
de 100$000 a 500$000 por cada [sic] armazém, segundo a sua importância”
Relatório Paravicini -apud TOCANTINS.
“Aos bolivianos coubera a difícil tarefa de tentar por fim ao estado de
‘barbárie’ reinante naquela região. Barbárie visível na corrupção e na fraude
encobertas pelas autoridades de Antimari, onde Paravicini encontrara, em alguns
papéis a prova de que se havia pago...” p. 141.
“Em Caquetá, propriedade de Joaquim Victor, organizara, desde a
vigência dos primeiros decretos de Paravicini, uma Junta revolucionária,
articulada, obviamente, junto aos grupos revolucionários de Belém a Manaus. De
Caquetá, os revoltosos solicitariam a José Martins de Souza Brazil, então juiz
de Direito na Comarca de Floriano Peixoto, oficiasse ao Delegado boliviano que
se ‘estava no meio de um levante popular para depô-lo” p. 142. O boliviano
respondeu dizendo que tinha um acordo assinado pelo próprio ministro brasileiro
e que tudo era legalmente aceito pelo Brasil.
-
A informação foi dada em 29 de abril de 1899 –
“...Tendo chegado ao meu conhecimento que se preparava um grande movimento
popular contra a autoridade que V.Excª está exercendo no território da
Comarca de Antimary... observando o estado de exaltação patriótica em que se
acham os espíritos...” p. 142.
“Inúteis os argumentos do Delegado. De Caquetá, os revoltos partiram
‘no dia 30 de abril, pelas 5 horas da manhã’,
numa canoa. Destino Puerto Alonso, Missão: depor a Delegação boliviana.
No dia seguinte, 1° de maio, D. Moisés Santivanez recebia uma intimação,
assinada por mais de cinqüenta prestigiosos proprietários, um bacharel em
Direito e um Engenheiro Civil[21]”.
Negavam a bolivianização do Acre.
“O povo brasileiro representado por nós abaixo assinados, solidariamente
responsáveis, no uso de suas alta vontade revoltada, vem intimar-vos para que
abandoneis o governo ilegal que nos achais exercendo atualmente neste
território, desbravado, habitado e hoje defendido, por milhares de
brasileiros...” p. 145.
-Falavam em patriotismo para esconder os interesses puramente
regionalistas.
“Em nome do Povo, em homenagem à Pátria depunha-se a Delegação Nacional
da Bolívia no Aquiri”. P. 150.
“Como se explica tão trágico fim para quem, em nome da pátria,
proclamava a soberania nacional naquela basta região? Não encontramos outra que
não esta: José de Carvalho e seu círculo de amigos não faziam parte do entourage
oligárquica dos Ramalho. Aliás, o próprio líder do primeiro e significativo
movimento contra a ocupação boliviana no Aquiri revelaria, em 1904, data da publicação da obra aqui
referida, seu desacordo em relação aos procedimentos da classe dominante
amazonense”. P. 151.
- José de Carvalho não era confiável para o governo do Amazonas, por
isso não receberia apoio. “Afinal de contas, a deposição da Delegação da
Bolívia não se fizera em nome do Estado do Amazonas, mas sim em nome da pátria
e da consciência nacional, valores que, naquelas circunstâncias, impunham-se
como superires aos interesses regionais” p. 151.
“Para nova proclamação, que esperava fosse mais favoráveis ao
interesses do Estado, o governo apoiaria um jornalista ex-diplomata e de
nacionalidade espanhola: d. Luiz Galvez Rodrigues de Aria” p. 151.
-
A classe dominante da região amazônica estava em nítida
desvantagem na Ordem Republicana, além de manterem sérias divergências.
“Luiz Galvez encontrava-se em Belém à época em que José Carvalho
entregara ao Cônsul Santivanez a célebre intimação para que abandonasse Puerto
Alonso . Não era um acaso, pois, como confirma um precioso documento[22],
Galvez mantinha ligações com a Junta Revolucionária do Acre, organizada desde
24 de fevereiro de 1899 e da qual era representante no Pará e Amazonas”.
-Sobre o discurso proferido por Galvez na 22° sessão da Junta
Revolucionária em Puerto Alonso, Calixto diz: “De início, os revolucionários
precisavam qualificar-se como ‘altivos e nobres cidadãos’, sempre
‘respeitadores das leis’ e das autoridades constituídas. Precisavam ser
apresentados à opinião pública como ordeiros cidadãos...” p. 153.
JORNAL A PROVÍNCIA DO PARÁ, 7/05/1899: “...intitulados chefes
políticos que, como antigos senhores de força e cutelo, decidiam do trabalho e
da vida dos infelizes sem prestar a mínima atenção as autoridades brasileiras”.
Dito por Paravicini.
Discurso de Galvez: “Cidadãos:
Todos conhecem os motivos que nos obrigaram a organizar a Junta Revolucionária
do Acre. Altivos e nobres cidadãos brasileiros, respeitadores, sempre, das leis
e dos governos encarregados de interpretá-las... uma titulada Delegação
Nacional da Bolívia, que, desde o dia de sua chegada, constituiu-se em governo,
decretando leis draconianas, criando impostos absurdos e proibitivos e para
completar tamanha audácia, nos declararam cidadãos bolivianos sem prévia
consulta de nossa vontade... Aceitamos as leis, pagamos tributos e impostos e
obedecemos, passivamente, todos os julgamentos de alta e baixa justiça
praticados pelo Delegado Nacional da Bolívia, na esperança que nossa idolatrada
Pátria e gloriosa e humanitária Nação Brasileira acudisse em nosso socorro e
atendesse nossos justíssimos pedidos... O
governo do Brasil não respondeu aos nossos patrióticos alarmes... querermos
livrar da escravidão[23]
a que nos submeteram as autoridades bolivianas; o silêncio do Brasil e esse
nefasto processo (o de Carvalho) nos demonstram que os habitantes destas
regiões não pertencem à livre e grande pátria brasileira... É justo, pois, que
cidadãos livres, conhecedores dos seus direitos civis e políticos, não se
conformem como estigma de parias... Nem podem, de forma alguma, continuar
sendo escravos de uma outra nação, a Bolívia... é necessário
levantar nossa honra pela Bolívia depreciada; cidadãs: escutai a proclama que o
povo dos Territórios do Acre, Purus e Iaco dirige à Junta Revolucionária,
manifestai vossa livre opinião que sempre respeitamos; se não aceitais a
independência, continuaremos a sofrer humilhações que nos impõem uma nação
estrangeira; pelo contrário, se aceitares a independência, continuaremos o
Estado Independente do Acre, valoroso, forte e digno pelo patriotismo de seus
filhos; poderoso pelas suas inesgotáveis riquezas que ousados estrangeiros nos
querem usurpar”. Ata da 22° sessão.
“São comuns, no discurso de Galvez, o suo de expressões tais como
‘humanitária nação’, ‘pátria e liberdade’, liberdade e justiça’, ‘sentimentos
humanitários e, até, o ovidiano ‘libertas quae sera tamen’, logo
inseridas no ideário da Junta Revolucionária do Acre. Sempre associadas a um
outro conceito – o de Ordem, ou Estado – aquelas expressões permitem-nos identificar
aquele discurso ao liberalismo humanitário...” p. 154.
Calixto destaca três pontos do discurso de Galvez: “... a) o lamento de
Galvez ante a indiferença do governo brasileiro.... b) o tom de crítica aos
procedimentos do governo amazonense[24],
penalizando com o banimento um daqueles destemidos e humanitários irmãos...
c) a conclusão, ou o ressentimento de que, ante a insensibilidade do governo,
sentiam-se não pertencer à livre e grande pátria brasileira” p. 156.
“O primeiro destes aspectos revela, como já apontamos, a decepção de
Galvez e da Junta Revolucionária ante a indiferença da pátria, representada
pelo governo brasileiro, ao que proclamavam ser uma nobre e patriótica
causa” p. 156.
-
A república da Galvez era formada pelos “... integrado
pelos territórios do Acre, Purus e Iaco...” p. 157.
-
A capital da República foi instalada no seringal
Caquetá, de propriedade de Joaquim Victor da Silva: a promiscuidade do poder
começou desde aí.
“Bizarra aquela República? Sem dúvida, mas os proprietários mais abastados
e esclarecidos sabiam que, sem a Ordem, sem que aquela vasta região, com seus
milhares de habitantes fosse política e juridicamente organizada, mais difícil
se tornaria a acumulação e circulação do capital. Desde que Galvez organizasse
o recém criado Estado, de modo a não obstar o fluir da riqueza advinda da exploração
da força de trabalho nos seringais, eles, os patrões, também poderiam
tolerar as bizarrices humanitárias de seu presidente” p. 158.
“Convivendo no reino do caos, grande número de patrões sabiam o quanto
o estado de anomia representava um entrave à acumulação, uma acumulação
pseudofáustica diríamos nós” p. 158.
-
O que era preciso fazer: combater os regatões e a
resistência dos seringueiros à exploração. A demarcação e titulação das
propriedades. O principal crime sem dúvida seria o da violação de propriedade
(cf.: 158).
“Nascia a região instituída por um ato político, resguardando os
interesses dos proprietários de seringais” p. 159.
“Esta tão curiosa quanto contraditória miscelânea de símbolos – a
estrela rubra, a liberdade com o barrete frígio, o 14 de julho, a
bandeira nacional, a oleografia de Campos Sales nos escritórios da
presidência – revela um dos lados do bizarro universo mental de Galvez” p.
160. Unia a figura jacobina com Campos Sales, é
mole?!!!
“Mas se, por um lado, aos radicais da república, repugnaria aquela
singular e bizarra representação, por outro, alguns procedimentos
‘humanitários’ de Galvez seguramente não seriam do agrado das facções locais,
nem muito menos, do oficialismo regional e nacional”. P. 160.
-
O Decreto de n° 10 dispõe sobre a fundação de centros
agrícolas e pastoris – certamente não agradou os que viviam exclusivamente da
renda da borracha. O artigo de n° 17 prevê uma Constituinte em que o povo
tivesse plena participação. Neste mesmo Decreto Galvez outorga a constituição,
“...o estatuto político da pátria humanitária de Galvez... Era a ordem, agora
legitimada por uma Constituição... Uma república humanitária com sistema
presidencialista de governo, mas com eleições indiretas” p. 161.
-
Foi no governo de Galvez que os patrões “...
transmudavam-se em coronéis (da Guarda Patriótica), respeitáveis cidadãos, a
todo momento hipotecando grande respeito e acatamento à autoridade do Chefe do
Governo Provisório” p. 162.
“De Xapuri, Galvez receberia ofício assinado por Manoel Odorico de
Carvalho, auto-intitulado Prefeito de Segurança Púbica pela vontade soberana
do povo, comunicando que, no Alto Acre, a população resolvia não aderir
a essa revolução sem primeiro ouvir a decisão do governo brasileiro...
Somava-se a este movimento dissidente do Alto Acre, um outro que, sob a
denominação de Comissão Garantidora dos Direitos Brasileiros, procurava,
de todas as formas, minar o governo provisório. No Baixo Acre, para completar,
havia, ainda, a propaganda anti-Governo Provisório, liderado por Neutel Maia do
seringal Empresa e pelo Capitão Leite Barbosa do seringal Humaitá, este último
outrora ativo colaborador na administração Paravicini” p. 162.
-
Calixto cita o relatório de João d’Oliveira
(Chefe da Guarda Patriótica de Galvez) que diz respeito a missão que o mesmo
tinha de negociar com a Comissão Garantidora dos Direitos Brasileiros:
“A comissão Garantidora dos Direitos Brasileiros não é outra coisa que
uma contra-revolução[25] à
realizada nestas regiões no dia 14 de julho do corrente ano... prejudicam a
marcha liberal, honesta e patriótica do Governo Provisório do Estado
Independente do Acre” p. 163.
-
Com base nesse relatório, Galvez decreta estado de
sítio, suspendendo todas as garantias constitucionais, “Em seguida expede-se
sentença de prisão contra os líderes da sedição, acusados de alta traição[26]”.
(Cf.: Decreto n° 21) p. 163.
-
Ante essa decisão drástica de Galvez, os líderes da
comissão aceitaram se vender para Galvez em troca da elevação de Xapurí a
categoria de cidade e a nomeação dos mesmos à autoridade na região.
-
Em relação a Neutel Maia, Galvez tomaria a seguinte
decisão:
“... o Governo Provisório não aprecia os entusiasmos bolivianos
do sr. Neutel Maia... torna-se inconveniente à ordem e tranqüilidade
pública. Convido-vos a intimá-lo a deixar imediatamente as águas do
território nacional, devendo ser escoltado pelo aviso LIBERDADE, até os
limites com a República do Brasil” Ofício de Galvez a João Passos d’Oliveira,
27 de dezembro de 1899, IAHP, citado por Calixto na página 164.
“O Relato deste episódio envolvendo o Governo Provisório e figuras
expressivas daquela sociedade em formação, revelam dois aspectos importantes:
1°) a ausência da unidade entre os patrões e os procedimentos da ORDEM
(leia-se Ordem na concepção de Galvez) na salvaguarda de seus princípio
ideológicos; 2°) a sua maneira liberal humanitária de administrar conflitos” p.
164
“No acervo GALVEZ, pertencentes ao Instituto Arqueológico e Histórico
de Pernambuco encontram-se, além dos já citados, vários outros documentos que
bem confirmam, não só o estado sedicioso, mas também os procedimentos do
Governo Provisório para neutralizar ou esmagar a oposição” p. 164.
“Sendo a Independência do Acre realizada em nome da liberdade e com o
único e humanitário intuito de sacudir o jogo de que éramos vítimas, criando
uma república de homens livres e honestos...” (Galvez em ofício n° 80 em
20-11-1899, IAHP, citado por Calixto, p.165).
“O exame dos documentos do referido acervo demonstra que Galvez e seus
Auxiliares mais diretos e de confiança, entendiam-se como promotores de uma
autêntica revolução em substituição à desordem anteriormente existente. Uma
revolução dentro da ordem, é verdade, respeitadora dos direitos de propriedade e
de liberdade individual... Um estado com leis liberais, onde a educação deveria
ser gratuita” p. 167.
“... naquela terra, tudo girava em torno de interesses da produção e
comercialização do látex” p. 167.
-
Calixto afirma que Galvez tinha uma “... consciência
liberal-nacionalista-humanitária...” p. 167.
-
Calixto diz que as Casas Aviadoras representavam os
“... interesses egoístas do capital mercantil...” p. 167.
“Desafiando poderosas Casas Aviadoras e Exportadoras das praças de
Belém e Manaus que se negavam a pagar um imposto de 10% sobre a borracha
exportada pelo território acreano, Galvez providenciaria para que não se
exportasse aquele produto como pagamento de direitos à Bolívia” p. 167.
“...somos solidários com a decisão de nosso governo provisório fechando
estes rios à navegação e não exportaremos uma só pela de borracha, enquanto as
forças brasileiras, auxiliando os bolivianos, permanecerem no território
nacional. A borracha que os proprietários e negociantes do Acre possuem será
empregada nas trincheiras que constituiremos em defesa de nossa dignidade”. Manifesto
dos comerciantes e negociadores dos rios Acre, Xapurí e seus afluentes, ao
comércio do Estado do Pará e Amazonas. IAHP. (Calixto, p. 168).
- A acumulação do capital mercantil dependia do aumento da exportação
da borracha. Galvez mexeu a onça com vara curta. Por isso, “... o comerciante
Antônio Souza Braga, juntando-se a outros sediciosos, resolve depor Galvez e
proclamar-se Presidente do Estado Livre do Acre. Decreto n° 1 do novo governo.
‘Banimento de Luiz Galvez do Estado Livre do Acre. Decreto n° 4. ‘Resolve
decretar o livre transito de vapores mercantes neste Estado pelo antigo regime
comercial, sendo, portanto, livre o embarque de todos os gêneros de comércio[27]”.
-
A breve estada de Braga no poder foi denominado
por Galvez de “anarquia”. A República de Galvez não resistiu aos interesses
do Capital representados pelas Casas Aviadoras.
“Em Manaus, o grande capital mercantil intensificava suas críticas ao
governador Ramalho Junior, cobrando-lhe explicações relativas à sua provável
colaboração e ligação com os insurretos”. P. 169.
“Modifica-se o tratamento dado a Galvez pela imprensa: de corajoso
opositor às pretensões imperialistas na Amazônia, passara a ser o
aventureiro audacioso, o estrangeiro intrometido, o extorsionário das rendas
fiscais do Amazonas[28].
Ramalho Junior, que antes elogiara Galvez por sua inteligência, agora o
considerava um perigoso separatista”.
-
O governo federal não queria um Canudos na
Amazônia, por isso enviou um flotilha de guerra chefiada pelo tenente da
marinha Armando Burlamaqui. Galvez foi conduzido até Manaus onde foi expulso
para a Europa.
“Após a fracassada experiência
liberal humanitária de Galvez e a oportunística ‘anarquia’ de Antonio Souza
Braga, a Ordem ainda seria proclamada, entre 1900 e 1903, por mais quatro vezes
naqueles altos rios. Foram seus proclamadores: Orlando Lopes e demais
integrantes da chamada Expedição dos Poetas; José Plácido de Castro, General
Olympio da Silveira e, finalmente os próprios de governos do Brasil e da
Bolívia através do Tratado de Petrópolis” p. 170.
Orlando Lopes e seus companheiros declaravam: “... não ter outro
interesse material que não a reconquista de um solo ocupado pelo elemento
boliviano, e outro interesse político que não a dignificação republicana para
os Governos do benemérito Presidente da República Dr. Manoel Ferras de Campos
Sales e do Estado do Amazonas, Dr. Silvério José Nery” (Apud. Jacques Ourique. O
Amazonas e o Acre. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 1907). Calixto p.
170-171.
“...Expedição dos poetas que, em Lábrea, aclamaria como novo presidente
do Acre ‘revolucionário’ a Rodrigo de Carvalho, amigo do novo Governador
Silvério Nery” p. 172.
Dois aspectos valem ressaltar: a) O envolvimento do governo, pois era
impossível não notar a presença de pessoas tão importantes na Expedição. B) A
presença de João Passos de Oliveira, fiel chefe de política de Galvez.
Novembro de 1901 – Rodrigo de Carvalho estabelece um Posto Fiscal do
Estado do Amazonas no Seringal Caquetá[29],
mesmo local onde José Carvalho partiu para expulsar os bolivianos em maio de
1899.
CAP. VI – UM GUASCA NO AQUIRI: REORDENA-SE A ORDEM NOS ALTOS RIOS
(p. 175)
“Gaúcho pampeiro, acabara de completar 25 anos de idade em 9 de
dezembro de 1898 e viera à Amazônia, instalado por amigos, para trabalhar como
agrimensor, sem dúvida uma promissora profissão naquela ‘região de gomales’...”
p. 176.
“... num movimento de resistência articulado por destacados patrões
desde há muito desbravadores e exploradores de vastos e produtivos seringais...
o consciente comprometimento de José Plácido de Castro com aquele movimento de
contestação, encampado pelos proprietários mais abastados do Aquiri” p.
176.
- A práxis histórica é expressão do social, assim, Plácido de Castro
não poder fugir a esse referencial. Calixto dividiu a trajetória do herói em
quatro fases: “1°) de 1873 a 1889; 2°) de 1889 a 1895; 3°) de 1896 a 1898; 4°)
de 1899 a 1908” p. 177.
1°) de 1873 a 1889: dos 9 aos 16 anos seus biógrafos
encontram-no ora como aprendiz de relojoeiro, ora como empregado num cartório
pertencente a um parente, ora atrás de um balcão em casa comercial. Aos 12 anos
ficou órfão[30].
-
No Brasil vivia-se a decadência da monarquia e de seu
sustentáculo – a escravidão. Idéias novas havia invadido o país. República e
Liberdade se tornaram uma coqueluche (idéias que representavam a modernidade).
-
Rio Grande do Sul, por ser região de fronteira,
era fortemente militarizada[31].
Desde a Segunda metade do século XIX, São Gabriel notabilizava-se como grande
centro comercial. O charque era a principal manufatura. Sua população em 1872
era de quase 15 mil habitantes. Era rodeada por colônias italianas e alemães. A
maçonaria era a principal instituição que propalava o pensamento liberal. Em
1884, a escravidão foi abolida no município.
-
A família do herói era do grupo militar. “Seu
avô paterno, de quem herdara o nome, participara, entre 1811 e 1828, das
guerras platinas, chegando, antes de morrer, em 1837, ao posto de Major. Seu
pai, o Capitão Prudente de Fonseca Castro; seu tio, o Capitão João Cardoso de
Oliveira; e sues primos, o Tenente Antônio Marcio Martins e o Capitão Gregório
Thaumaturgo Martins pertenciam todos ao grupo de oficiais militares, membros da
família Castro... Seu pai ainda vivia quando, a partir de 1883, eclodia a
questão militar... oficiais do exército organizaram-se para garantir seu
direito à participação nos destinos do país enquanto cidadãos fardados[32]”
p. 181.
2°) de 1889 a 1895: Nove
dias após ter completado 16 anos entrou como praça no 1° Regimento de
Artilharia de Campanha, então aquartelado em são Gabriel (1889). No ano
seguinte, foi promovido a 2° Cadete (30 de julho de 1890). Neste ano freqüentou
a Escola Tática de tiro de Rio Pardo. Em 1893, com 20 anos, Plácido
matricula-se na Escola Militar de Porto Alegre, mesmo ano em que iniciou-se a
Revolução Federalista.
“...a existência do jovem Plácido estaria irremediável e dramaticamente
ligada às vicissitudes do regime republicano”. 182.
-
A questão republicana dividia a todos no Brasil,
principalmente no Rio Grande do Sul: Republicano histórico do positivismo
não-ortodoxo: Julio de Castilhos. Republicano Dissidente: Assis Brasil.
-
Em 1891, Julio de Castilho é eleito governador de Rio
Grande do Sul. Foi deposto por apoiar o golpe de Deodoro, que dissolveu o
Congresso. Apoiado pelo exército, volta ao governo, para depois renunciar. Seu
vice ficou encarregado de organizar novas eleições que conduziria o próprio
Castilho novamente ao poder.
-
REVOLUÇÃO FEDERALISTA: em 1893. “Fora aquele o
memento em que, instado a pronunciar-se favoravelmente ao fechamento da Escola
para que alunos e professores pudessem exercer, na prática, seu ardor
patriótico republicano, preferiu silenciar. Ao não assinar um documento em que
a maioria de sues colegas declarava sua disposição de combater pela
República positivista de Julio de Castilhos contra o que consideravam movimento
pró-restauração monárquica, Plácido de Castro só poderia causar suspeita...
o corajoso e digno moço – porque era preciso ser corajoso e ter dignidade para
desafiar o próprio comando da instituição que resolvera fechar aquele
estabelecimento de ensino militar – foi recolhido preso ao 13° Batalhão de
Infantaria e em seguida recambiado para a Campanha com classificação no Corpo
de Transporte aquartelado em Bagé, para onde seguiu com a nota de suspeição.
Daí para o acampamento maragato e a conseqüente participação no combate de Rio
Negro... ” p. 186.
-
O ‘Massacre do Rio Negro’ foi um dos episódios da
Revolução Federalista. Existe uma hipótese a respeito de que Plácido de Castro
nesse combate tenha desertado a favor das forças revolucionárias contra
Castilho (pica-pau)[33] e
que tal mudança de comportamento tenha sido motivado por questões políticas. Há
a certeza de que foram 16 ex-alunos do Colégio Militar, não há nomes.
-
OS MARAGATOS eram contra as idéias dos pica-paus. Eram
contra os ideais da Revolução Francesa[34].
Repugnância à civilização associada ao progresso, considerada egoísta e
individualista. Ser patriota era ser contra a república. A violência era sinônima
de República. Eram contra as idéias de Benjamim Constant que compreendia o
militar como um cidadão-fardado com o dever patriótico de participar da vida
política da nação. Defendia ao contrário, o militar não-partidário, neutra as
paixões políticas. Deveria estar acima dos interesses particulares de uma
facção. Os EUA eram considerados o construtor de um mundo egoísta,
criticava a aproximação dos republicanos com esse país.
“Ao passar-se para as tropas oposicionistas, José Plácido de Castro
podia não ter incorporado, plenamente, todo o ideário que se acaba de sumariar.
Entretanto, não seria justo julgá-lo alheio àqueles valores, nem compreender
sua decisão como impensada ou ingênua”.
p. 193.
“SE sua atitude não fora motivada por madura reflexão sobre os acontecimentos
políticos... também não se pode aceitar a versão de alguns de seus biógrafos,
segundo a qual o jovem gabrienlense mostrava-se indiferente ou ausente ao que
se passava a seu redor, quer na Escola Militar, quer na sociedade
porto-alegrense, pensando em seus estudos. Nesse passo, seria melhor e de bom
senso, interpretar sua atitude como expressão de uma consciência que ser
forjava ao influxo da tradição”.
-
Plácido é originário de uma região que gestou o
movimento armado contra a República presidencialista. Sua família “...formada
no respeito a valores éticos tradicionais, inclusive inequívoca e patriótica
inclinação pelo ideário monárquico, não seria demasiado ousar admitir que sua
razão e sua emoção em nada se coadunava com os valores da ordem e progresso
inscritos na bandeira republicana e, a fero e fogo imposta pelo governo
castilhista” p. 1193.
-
Plácido de Castro participou como oficial do exército
federalista em fins de 1893, do “...tristemente famoso combate e massacre do
Rio Negro, episódio repugnante...” p. 194.
Segundo Calixto: “Sobre esta hedionda prática, eis a definição
detalhada apresentada por LOVE: A mais típica consistia em matar a vítima do
mesmo modo como se abatiam os carneiros. A vítima era forçada a ajoelhar-se de
mãos atadas ante seu executor e a colocar sua cabeça entre as pernas de seu
algoz, que rasgava suas artérias carótidas num golpe súbito de faca”[35].
-
Calixto tenta amaciar dizendo que a violência “... não
era primazia de nenhuma das frações em luta” p. 194.
“Participantes em muitos confrontos, não é para se duvidar que Plácido
de Castro tivesse participado de semelhante carnificina...” p. 195.
“Ao findar a cruenta guerra civil, sobreveio a anistia, concedida em
pleno governo civil de Prudente de morais, para descontentamento de
florianistas, jacobinos e, principalmente dos vencedores republicanos gaúchos
que não concordaram com o perdão total ofertado aos vencidos... Naquela
oportunidade, Plácido de Castro recusou ser anistiado[36]”
p. 195. Por que não a quis?
-
Calixto diz que “Talvez por desejar nada dever aos
vencedores, recomeçando sua trajetória por mérito próprio”. P. 195. Calixto não
acredita na hipótese de que o caudilho tenha se desiludido com a vida militar[37].
-
Floriano Peixoto morre em junho de 1895, mas o
florianismo continuava.
3°) de 1896 a 1898: Recusada a anistia, Plácido fica por pouco
tempo com seus familiares em São Gabriel e vai para o RJ e, depois, para S.P.
No Rio de Janeiro, Plácido procura a Escola Militar. Estigmatizado como
maragato, logo recebeu críticas dos professores – todos antigos partidários de
Floriano Peixoto.
-
A esse respeito, Calixto expõe a opinião do coronel
Jaguaribe de Mattos, na página 196, que
narra a saída de Plácido: ‘... certo dia, um inspetor de alunos deixara de
apresentar ao Professor Sávio as novas listas que lhe havia encomendado,
contendo nomes e especificações de estudantes da turma. O professor...
repreendeu energicamente o bedel... Professor julgou que a falta se agravava
por incorrência de indisciplina e expulsou o bedel do recinto da sala”[38].
- O professor de geografia era nada menos que um capitão-tenente
(Themístocles Nogueira Sávio). Ao ser expulso[39],
era o fim do sonho de perseguir na carreira militar.
-
Em São Paulo, “... encontra emprego na Companhia
Doccas de Santos. Entrou em 18 de março de 1898” p. 197. Saiu no dia 28 de
fevereiro de 1899. Foi promovido para escriturário do Escritório e, depois, a
ajudante fiel no armazém.
-
Em nota de rodapé, Calixto diz que a melhor biografia
de Plácido “... continua sendo a obra de Cláudio de Araújo Lima” p. 197.
4°) de 1899 a 1908: Quando chega na Amazônia até sua morte, no
Acre.
-
Foi convidado para participar da expedição Floriano
Peixoto, não quis. Chamou-a de Expedição dos Poetas.
-
Na Circular datada em 10 de julho de 1902, expedida no
Seringal Bom Destino ao Governador Silvério Nery, Rodrigo de Carvalho diz:
“Reunida a Junta Revolucionária e vários cidadãos acreanos de reais
merecimentos... o acamado escolherá quatro Secretários para as pastas da
Guerra, Indústria, Justiça e Relações Exteriores e Fazenda. Notificará a
formação do governo às nações americanas e pedirá ao Governo Brasileiro
anexação à Pátria brasileira”. Citado por Calixto na página 199[40].
-
A Independência do Acre foi proclamada no dia 6 de
agosto, no entanto, a tomada de Puerto Acre se deu somente em 24 de janeiro de
1903, portanto, cinco meses depois.
-
Segundo Calixto (p. 201), “Dias antes da rendição
boliviana, uma circular de Rodrigo de Carvalho ao Governador Silverio Nery já
registrava a falta de unidade entre os revolucionários...”:
‘Tenho a dizer a V. Exª que descobri grande quantidade de
pretendentes a Governador e a causa acabaria em briga grossa... Entendi-me com
os candidatos em particular e reservadamente, fazendo-lhes ver que só uma
ditadura e que devido aos prestígios adquiridos nos combates, só o Plácido
poderia sê-lo...’ Caquetá, 19 de janeiro de 1903.
“... esclarece também a tática do amigo de Silverio Nery para atingir o
objetivo que interessava a ambos. Tal consistia em usar a inegável liderança
que Plácido de Castro soubera conquistar no campo de batalha para, através
dele, impor o domínio da oligarquia NERY no futuro Aquiri pacificado” p. 201.
LER JURACY, Perez. A discriminação de Terras amazônicas (O
Acre). Brasília, 1977.
“... esta pesquisa se fundamentará em documentação que, uma vez
interrogada, possa revelar a visão de mundo do grupo vencedor, particularmente
a de seu líder, José Plácido de Castro” p. 202.
LER: I) a entrevista concedida por Plácido de Castro a Euclídes da
Cunha; II) Relatório enviado ao Ministro do Interior e da Justiça em 1908, pelo
prefeito interino do Alto Acre José Plácido de Castro.
Decretos do Estado Recém proclamado:
DECRETO n° 1 de 26 de janeiro de 1903: “Art. 1° - A justiça civil, a
criminal e a comercial do Estado Independente do Acre ficarão sujeitas às
disposições dos códigos, leis, decretos, etc, do Brasil até que seja promulgada
a sua constituição. Art. 2 ° - Serão válidos os títulos de propriedade
definitivos ou provisórios até o presente expedido pela Bolívia ou pelo Estado
do Amazonas, antes da ocupação do Acre por esta República[41]”.
DECRETO n° 2, de 27 de janeiro de 1903: Art. 2 – A Diretoria da Fazenda
abrangerá a direção de agricultura e vias terrestres e fluviais[42].
- Os limites do Estado Independente foram traçados somente no 3°
Decreto, no dia 28 de janeiro de 1903.
DECRETO n° 4, de 28 de janeiro – nomeia Rodrigo de Carvalho Diretor da
Fazenda.
DECRETO n° 7, de 10 de abril de 1903: “Considerando que é dever do
patriotismo não embaraçar as negociações do Exterior em virtude das quais
se fez a referida ocupação e tendo em vista que para reivindicação de nossos
direitos conspurcados pelo Governo Boliviano a luta deve continuar como até
aqui. Decreta: Fica transferida para a cidade de Xapurí a se do governo do
Estado Independente do Acre” p. 206.
- General Olympio foi designado para fazer cumprir o estipulado pelo
acordo entre Brasil e Bolívia – Modus Vivendi.
“Com relação à Amazônia, em especial à Questão do Acre, a
estratégia do barão do Rio Branco convergiria para dois pontos capitais: 1) Não
romper com os EUA em virtude de sua ambiciosa expansão em relação àquela
região; 2) Manter-se atento para impedir que a soberania do país saísse
mutilada em meio ao fogo cruzado dos interesses em jogo” p. 209.
-
A ordem oligárquica integraria o Acre sem deixar chance
para os patrões acreanos de sonharem com a autonomia.
-
O General Olympio faz as coisas a sua maneira e impõe
outra ordem, depondo José Plácido de Castro em 13.05.1903. Ele mesmo proclama:
“Considerando que a quase totalidade do exército acreano
revoltou-se contra o coronel José Plácido de Castro e seus auxiliares...
considerando que em vista... da apresentação a este governo dos oficiais e
praças de quase toda a força acreana, está extinta a Revolução”.
“A desordem nas relações de trabalho, as irresponsabilidades, bem como
a prática de atos de barbárie praticados por patrões inescrupulosos precisava
acabar, pois tais desmandos emperravam quaisquer tentativas de progresso,
liberdade e justiça” p. 212.
-
Calixto defende realmente o espírito contrário de
Plácido em relação aos EUA. No entanto, compreendo que não implica em uma visão
antiimperialista.
-
O Tratado de Petrópolis foi assinado “... para
salvaguarda dos interesses das classes hegemônicas – suas frações oligárquicas,
melhor dizendo – em ambos os países” p. 215.
OBS> O Tratado de Petrópolis põe fim ao Estado Independente do Acre
Meridional, a que Plácido de Castro administrava. VER: Relatório de Plácido
de Castro ao Chanceler Barão de Rio Branco.
-
Em 1906, quando cuidava de seus negócios no seringal
Capatará, Plácido foi convocado para assumir o cargo de Prefeito do Alto Acre.
Cargo esse que ocupa por oito meses, até pedir afastamento e enviar um
relatório ao Ministro da Justiça. Ima “... crítica contundente, não só à
administração territorial, mas à própria República” p. 217. Plácido diz:
“Passando a administração do Estado para a União, todos nós
esperávamos, por certo, ser recebidos como filhos extremados nos braços
maternais... fôssemos carinhosamente satisfeitos em nossas palpitantes
necessidades, aspirações, aliás, justíssimas para aqueles que se apresentara
cheios de serviços prestados à pátria na integração de sua fronteira
ocidental... Não se satisfez o governo da República com o elevar para 23% o
imposto já pesado de 15% sobre o nosso único produto de exportação – a
borracha”.
“Era a desilusão e o descontentamento com a ORDEM. Da qual esperara,
ainda, senão acolhimento, respeito... era um clamor corajoso contra a
espoliação do Governo Federal que, com uma política tributária draconiana para
a região, só podia sufocar os já endividados patrões” p. 218.
-
No mesmo documento, Plácido de Castro denuncia a
exploração predatória da seringueira: “... a exploração bárbara e vampira
da seringueira, até hoje seguidas em toda a Amazônia, a exploração revoltante e
iníqua que em pouco tempo reduz e transforma ricos seringais em abandonadas
florestas, como aconteceu no baixo-purus...” p. 218.
“É que, no ideário de República do ex-oficial maragato, não havia lugar
para a prática de desmandos e votos de cabresto. Sua visão ética do mundo...
acabaria por atritar-se, mortalmente, com outra visão de mundo (Gov. Fed)” p.
220.
QUADRO 1
JOSÉ PLÁCIDO DE CASTRO: períodos de administração.
Estado
Independente do Acre
|
26/Jan/1903
a 10/Abril/1903
|
Acre
Meridional
|
10/Abril/1903
a 13/Maio/1903
|
Retorno
ao governo do Acre Meridional
|
03/Agosto/1903
a 06/abril/1904
|
Prefeito
do Alto Acre
|
24/julho/1906
a 25/março/1907
|
CALIXTO, p. 223.
CONCLUSÃO:
“Aliás, seria melhor dizer, o Aquiri era um verdadeiro reino da
desordem, pois que, do município de Floriano Peixoto nada se podia esperar, a
não ser a absoluta ausência de governo, conforme testemunhara José Carvalho.
Assim, foram os bolivianos os primeiros a tentar o estabelecimento da ordem,
vale dizer, a institucionalização do poder político na región de los
gomales”. 225.
“A burguesia cafeeira e sua República Oligárquica afirmava sua
hegemonia em toda a região dos altos rios. Aos patrões, restaria o consolo da
continuidade da acumulação, mesmo sem a pretendida autonomia federativa,
advinda somente em 1962. Aos milhares de trabalhadores, e à minoria indígena,
restaria a resistência contra uma ORDEM que, autoproclamando-se progresso e
civilização, na verdade legitimava a tragédia da exploração e da alienação” p.
226.
“Para o guasca de São Gabriel, portanto, nem a monarquia, nem a
república oligárquica, com seus aliados regionais, nem muito menos um Acre
separado da União inscreveriam-se em seu ideário político” p. 226-227.
“A análise empreendida até aqui permite-nos aventar a seguinte
hipótese: Plácido de Castro era Republicano, mas seu republicanismo não
se coadunava com o sistema presidencialista de governo, fosse militar ou civil.
Muito menos se alinhava à República dos barões de café... personalidade de um
liberal conservador, de um nacionalista não radical do tipo jacobino.
Tornara-se adepto das inovações tecnológicas e do desenvolvimentismo econômico
não atrelados a interesses de trustes, nem de potência estrangeiras” p. 227.
“Fora em nome de princípios liberais que Plácido de Castro combatera as
oligarquias de aquém e além Andes[43].
Contrário ao liberalismo das oligarquias bolívio-brasilieras que, no resguardo
de seus interesses, inclinavam-se, decididamente pelo liberalismo intervencionista
– leia-se imperialismo yanke – José Plácido de Castro acabaria afrontando,
inevitavelmente, interesses de grupos locais[44],
regionais e nacionais adversos à sua visão de mundo” p. 227.
“... poder-se-ia concebê-lo como liberal e parlamentarista” p. 227.
“Republicano, liberal, parlamentarista, nacionalista não florianista ou
jacobino, oposicionista da ordem oligárquica, particularista em relação a sua
política exterior, Plácido de Castro aspirava a uma república fundamentada no
respeito às leis e à justiça...” p. 227.
[1] Um
efeito de sentido, não só objetivaram a pátria como as gerações futuras... que
geração heróica né?
[2] Como?
Geneticamente...
[3]
Amalgamou-se a ele.
[4]
Amalgamou a imagem de Chico aos revolucionários.
OBS: O livro tomou como base a dissertação de
doutorado defendida em 1993 na USP (orientador: Dr. Ulysses Telles Guariba
Neto). “Neste sentido, a tese foi revisada, reformulando-se capítulos inteiros
à luz de reverencias novos” p. 19.
OBS2: Presidente da FEM: Jorge Henrique Queiroz.
[5] Assim
como os primeiros revolucionários lutaram contra os malfeitores.
[6] De 1999
até a publicação do livro, uma autopromoção.
[7] Tudo
discurso, o Acre é urbano. Ninguém seria capaz de viver da política e morar na
zona rural.
[8] Os
anônimos somos todos nós – O Acre é composto por gente heróica.
[9] Entra aí
o poder do comentário (Foucalt) que conjura o discurso para torná-lo
inofensivo.
[10] Trecho
usado por Tião Viana, no prefácio.
[11] Época
da vinda dos nordestinos para o Acre.
[12]
Políticos conservadores sob a liderança de Visconde de Uruguai.
[13]
HAHNER, June E. Relações entre civis e militares no Brasil (1889-1898). São
Paulo: Pioneira, 1975.
[14]
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas – o imaginário da República no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
[15]
Francisco Manuel da Silva (1795-1865) compusera uma melodia patriótica para
comemorar a abdicação de D. Pedro I. Era tocada em todas as solenidades
públicas. Transformada em Hino Nacional, a melodia só viria a ter uma letra em
1900, composta por Joaquim Osório Duque Estrado (1870-1927). “Letra, por
sinal, bem ao gosto e manipulado pelo nacionalismo ufanista da elite
conservadora” Rodapé da p. 53.
[16] SAES,
Décio. A formação do Estado no Brasil (1888-1891). Paz e Terra, Rio de
Janeiro, 1985,p.347.
___________.
Classe Média e Política na Primeira República Brasileira (1889-1930).
Vozes: Própolis, 1975.
[17] FINOT, Henrique. Nuevo
compêndio de Bolivia (ensaio de interpretación sociológica): de Tiawanadu al
siglo XX (1930). La paz, Gisbert, 1976.
[18]
ARQUEDAS, Alcides. História General de Bolívia. La Paz: Gisbert,
1975.
ACHA, José Aguirre. De los Andes al Amazonas – recuerdos de la Campaña del Acre. Bolívia,
3°ed. 1980;
[19] Lei os
decretos expedidos por Paravicini.
[20]
Tocantins, V.I, p. 213.
[21] A
revolta foi dos patrões... os seringueiros estavam no ofício.
[22] Ata da
22° sessão da Junta Revolucionária do Acre, 24 de fevereiro de 1899. Instituto
Arqueológico e Histórico de Pernambuco. (OBS: 42 pessoas assinaram a ata.
Essa era a representatividade dos mais de trocentos habitantes).
[23] Cara de
pau – por que não olhou a escravidão do seringueiro.
[24] Não
podemos esquecer que foi o governo do amazonas que patrocinou Galvez.
TOCANTINS, p. 234 e 325.
[25] Visão
maniqueísta, quem não está comigo é contra mim.
[26] Essa atitude
mostra a maneira como era apagada qualquer divergência. O Acre nasceu sob a
insígnia da intolerância.
[27] 28 de
dezembro de 1899.
[28] Leandro
Tocantins. V.I, p. 315.
[29]
Propriedade de Joaquim Victor.
[30]
Castilho Goycochêa. Plácido de Castro. Porto Alegre: livraria Globo,
1939.
[31] Joseph
Love. História geral da civilização Brasileira III, 1° Vol. O Brasil
Republicano, São Paulo: DIFE, 1985.
LER o capítulo – O RIO GRANDE DO SUL como fator de
instabilidade na República Velha.
[32] Segundo
Calixto não há provas do envolvimento de parentes de Plácido.
[33] “Um
confronto contra um ideal de República que não era o seu” p. 187. Pelo
jeito Calixto tenta nos dizer que Plácido foi contra os pica-paus não por ser
monarquista, mas por defender um conceito diferente de República. Acho que isso
é forçar a barra, pois achar que um militar de 23 anos faria reflexões
filosóficas iguais a essa consiste em anacronismo. Diz-se lutar por uma
República liberal parlamentarista. Contra a República Militar nascida de uma
sedição.
[34] Opiniões
de Eduardo: na época o positivismo era símbolo do progresso, ser contra Conte
era ser contra a modernidade. O positivismo não tinha o aspecto negativo de
hoje. Portanto, Plácido era um tremendo de um conservador.
[35] Cf.
GOYCOCHEA, Castilhos, op.cit, 1940, p. 101, onde se lê que Plácido de Castro
declarara a José Maunel Aponte, ‘haver tomado parte em 412 combates...”.
[36] A
anistia o reintegrava ao exército como oficial superior.
[37] Calixto
na página 195 chama Plácido de Castro de “... ex-oficial maragato...”.
[38] Também
está no livro Plácido de Castro: um caudilho contra o imperialismo.
[39] Calixto
uma o termo “... exonerado do Colégio Militar do Rio de Janeiro...” p. 197.
[40] Revela
que havia a classe dos cidadãos acreanos de “reais merecimentos”. Calixto dia que
era os ‘grandes proprietários de seringais’.
[41]
República foi o regime escolhido pelos revolucionários.
[42] Plácido
pensava numa economia diversificada e não somente no extrativismo. Ou seja,
esse ministério deveria cuidar da produção e circulação de mercadorias, não
exclusivamente extrativistas.
[43]
Vergonhosamente um marxista se curva à hipótese do idealismo.
[44] Tudo
indica que não havia a tão sonhada unidade na Revolução.
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