Por que hoje no estado a comemoração leva em consideração a data em que foi fundado o Seringal da Volta da Empresa, e não o dia em que o Decreto Federal 9.831/1912 foi assinado, ou pelo menos a data em que esse território virou a Vila de Rio Branco?
Considerando que na comemoração do
cinquentenário da cidade consideraram uma data, e no centenário consideraram
outra, quais as implicações simbólicas dessas alternâncias de datas? Que tipos
de interesses podem existir por trás dessas decisões?
Lembra o caso da data de aniversário da Polícia Militar do Estado do Acre? Pois, é! Só porque a data de criação dela foi escolhida para homenagear o início do governo dos militares em 1964, um governador civil “achou melhor mudar a história” e alterar a data de criação dessa instituição para uma data que não existia nem Estado nem governo unificado, ou seja, uma aberração. A “dança das datas” do aniversário da cidade de Rio Branco é só mais um exemplo dessa falta de ética. Se houvesse interesse do Estado em elucidar essa questão, ele já teria acionado historiadores de profissão. Departamento de Patrimônio Histórico da FEM, IPHAM e UFAC.
A mudança das datas estão documentadas. Além dos decretos, temos o
projeto de lei e as discussões parlamentares. Quem indicou a mudança da data? O
parlamentar fazia parte de qual grupo político? Quais ligações o parlamentar
tinha com o prefeito e o governador da época? E quais famílias tradicionais e
quais empresários apoiavam o projeto de lei?
Na hora da votação, quem votou contra? Quem votou a favor? Quais
documentos primários foram apresentados como justificativas para endossar a
mudança da data no Projeto de Lei? Pois é. Faço perguntas só para suscitar o
diálogo com os historiadores que o Estado tem lá na Fundação Elias Mansour. São
eles que devem responder para o Estado e a sociedade tais questões. Por que eu,
mero professor da UFAC com dois doutorados e um pós-doutorado, nunca deram e
nunca dão “ouvidos”, pois as mentiras
continuam a se propagar como história a toda hora, tanto nas escolas, como na
boca dos políticos em cada festa cívica que temos.
As
instituições de poder são conservadoras por natureza. Amam as tradições e
desprezam as “inovações”. E se eu provasse com documentos da época que o evento
que chamam de Revolução Acreana não foi uma “revolução” e nem foi “acreana”? E
se eu provasse que o 6 de agosto não foi o início do Acre e que Plácido de
Castro não anexou um palmo de terra sequer ao Brasil? E se eu provasse que os
soldados da borracha foram insignificantes para a vitória dos aliados na
segunda guerra mundial? E se eu provasse que o tal “movimento autonomista”
nunca foi porta voz da vontade do povo acreano? E se eu mostrasse que Guiomard
Santos fez parte do movimento integralista que defendia o fascismo no Brasil e
que ele foi um ferrenho defensor da Ditadura? Que Chico Mendes não foi esse
ecologista nato que dizem e que o Acre contemporâneo continua uma terra de
latifúndios, do clientelismo político e de miséria... mudaria alguma coisa?
Certamente que não, o Estado e o Município continuariam ensinando essa ESTORIA
linda de um povo heroico para os nossos filhos nas escolas, mesmo que todos nós
da academia saibamos que toda essa narrativa não passa de estórias ... risos.
Eduardo de
Araújo Carneiro – É professor Associado da Universidade Federal do Acre. É
licenciado em História (UFAC), é bacharel em Economia (UFAC), é mestre em
Letras (UFAC), é Doutor em História Social (USP), é Doutor em Estudos
Linguísticos (UNESP), é pós-doutor em História (UFAM). É escritor membro da
Academia Acreana de Letras.