quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Dissertação de Mestrado: O ESTADO CONTRA O CAMPESINATO: UM ESTUDO DOS CONFLITOS PELA POSSE DA TERRA NO SUL DO AMAZONAS (PAIVA, Angélica)

RESUMO:
Na virada do século XXI a Amazônia volta a ser o palco dos grandes projetos de desenvolvimento semelhantes aos gestados na época da ditadura militar. Com um invólucro de preocupação sócio-ambiental, a espoliação continua com o Estado instrumentalizado para a satisfação dos interesses capitalistas usando novos artifícios como o discurso do desenvolvimento sustentável e da participação, conjugados com a violência institucional. Pseudo participação esta que retarda e dificulta a luta pela reforma agrária.
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terça-feira, 18 de novembro de 2008

TESE: Chico Mendes e o Movimento dos Seringueiros, por Mary Helena Allegretti

RESUMO
Este estudo analisa o modo como comunidades de seringueiros, destituídas de força econômica e de poder político, articulam redes locais, nacionais e internacionais de apoio e, ao formular uma alternativa para a resolução de conflitos sociais, contribuem para a elaboração e implantação de uma política inovadora de acesso e uso dos recursos naturais na Amazônia. Esta política - de criação de áreas protegidas para o uso sustentável de populações tradicionais - foi exitosa politicamente, porque criou um mecanismo institucional de resolução de conflitos em torno da terra e da floresta; socialmente, porque assegurou meios de vida para as gerações atuais e futuras; culturalmente, porque respeitou formas tradicionais de uso dos recursos naturais; e, ambientalmente, porque impediu o avanço dos desmatamentos. Este resultado foi alcançado por meio da combinação de fatores endógenos e exógenos ao movimento dos seringueiros, tais como a história de luta pela incorporação do Acre ao território nacional; a relação econômica dos seringueiros com a floresta; a busca de base social de apoio para campanhas em defesa das florestas tropicais; a atuação no campo estratégico dos empréstimos internacionais para a Amazônia; e a identificação do líder sindical Chico Mendes como símbolo ambiental após o seu assassinato, no contexto que antecedeu a Conferência do Rio em 1992. O resultado foi a transformação de um problema local em questão de Estado e em tema internacional, alcançado por meio de uma estratégia política de construção de alianças entre grupos sociais diferenciados. O estudo revelou que movimentos ambientais podem ser bem sucedidos quando formulam políticas de aliança com a sociedade e movimentos sociais podem se beneficiar quando inserem a questão ambiental em seus objetivos estratégicos. A pesquisa demonstrou, também, que a formulação de políticas de desenvolvimento, em áreas ricas em recursos naturais, requer o equacionamento prévio dos direitos de propriedade. Mas evidenciou que o controle sobre territórios não é suficiente para solucionar o problema da viabilidade econômica do uso da floresta na Amazônia, que depende de políticas de valorização dos recursos naturais que reconheçam as comunidades tradicionais como protagonistas do desenvolvimento sustentável, na medida em que são mantenedoras do estoque de capital natural e prestadoras de serviços ambientais para o planeta e a humanidade.
Leia Tese completa:

Algumas Citações e Resenhas de "O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência" de Paul Gilroy.

GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. Tradução Cid K. Moreira. São Paulo: ed. 34; Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001, 421p.
- O atlântico negro é um conceito, como conceito é histórico. O foco principal é a fluidez, o não-absoluto, o “balanço do mar”. Como conceito não serve para estudar a escravidão indígena. A idéia de voltar às origens está ligada à concepção de identidade absoluta. - A dupla consciência é a consciência da nossa consciência. Reflexões heurísticas, conclusões temporários. CAP. 1 – O ATLÂNTICO NEGRO COMO CONTRACULTURA DA MODERNIDADE (p. 33) “... o vento que traz o degelo está soprando; nós mesmos, os sem-lar, constituímos uma força que rompe o gelo...” Nietzsche “Sobre a noção de modernidade. É uma questão desconcertante, Toda era não seria ‘moderna’ em relação à precedente? Parece que pelo menos um dos componentes de ‘nossa’ modernidade é a expansão da consciência que temos dela. A consciência de nossa consciência (a dupla, o segundo grau) é nossa fonte de força e nosso tormento”. Glissant. “Esforçar-se por ser ao mesmo tempo europeu e negro requer algumas formas específicas de dupla consciência” p. 33. “... os grupos têm interessado a idéia de nacionalismo cultural, a concepções superintegradas de cultura que apresentam as diferenças étnicas como uma ruptura absoluta nas histórias e experiências do povo ‘negro’ e do povo ‘banco’. Contra essa escolha se impõe outra opção mais difícil: a teorização sobre crioulização e hibridez” p. 35.
“Essas idéias sobe nacionalidade, etnia, autenticidade e integridade cultural são fenômenos tipicamente modernos” p. 34. - Pela teoria tradicional, o processo de mutação cultural é chamado de impureza e poluição. “Este livro aborda... as formas culturais estereofônicas, bilíngües ou bifocais originadas pelos – mais não mais propriedade exclusiva dos – negros dispersos nas estruturas de sentimento, produção, comunicação e memória, a que tenho chamado heuristicamente mundo atlântico negro” p. 35. “... este capítulo busca explorar as relações especiais entre ‘raça’, cultura, nacionalidade e etnia que possuem relevância nas histórias e culturas políticas dos cidadãos negros do Reino Unido” p. 36.
“Decidi-me pela imagem de navios em movimento pelos espaços entre a Europa, América, África e o Caribe como um símbolo organizador central para este empreendimento e como meu ponto de partida. A imagem do navio – um sistema vivo, microcultural e micropolítico em movimento – é particularmente importante por razões históricas e teóricas que espero se tornem mais claras a seguir”. P. 38. “... um foco nacionalista antitético à estrutura rizomórfica e fractal da formação transcultural e internacional a que chamo o Atlântico Negro” p. 38. ESTUDOS CULTURAIS EM PRETO-E-BRANCO - A mistura produz o imprevisível. Estuda o fato em seu lugar de emergência. - A identidade nacional é firmada com o apagamento dos rastros-resíduos dos que convive sem aparecer. É a identidade institucionalizada. - Pode ser negro, mas não pertencer ao universo negro. Produz-se uma identidade – ela é a favor de quem e contra quem?
- Territorialidade: “eu fui... já não sou mais”. Perca do território. - O autor é estrangeiro. - ESTUDOS CULTURAIS: principais problemas são o etnocentrismo e o nacionalismo. - O projeto da nação brasileira já estava sendo construído quando na colônia, as elites silenciava a existência dos negros. A ilusão da nação igual.
- As unidades políticas, culturais e econômicas não coincidem mais com os limites territoriais. “Quero desenvolver a sugestão de que os historiadores culturais poderiam assumir o Atlântico como uma unidade de análise única e complexa em suas discussões do mundo moderno e utilizá-la para produzir uma perspectiva explicitamente transnacional e intercultural” p. 57.
“Deve-se enfatizar que os navios eram os meios vivos pelos quais se uniam os pontos naquele mundo atlântico. Eles eram elementos móveis que representavam os espaços de mudanças entre os lugares fixos que lês conectavam” p. 60. “O navio é o primeiro dos cronótopos modernos pressupostos por minhas tentativas de repensar a modernidade por meio da história do Atlântico negro e da diáspora africana no hemisfério ocidental” p. 61.
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RESENHAS
Gilroy, Paul. O Atlântico Negro. Modernidade e dupla consciência, São Paulo, Rio de Janeiro, 34/Universidade Cândido Mendes – Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001. Eufrázia Cristina Menezes Santos - Professora da Universidade Federal de Sergipe e doutoranda do Departamento de Antropologia – USP No Prefácio à lª edição de The Black Atlantic (1993), Paul Gilroy aspira que a leitura do seu livro represente uma viagem marítima pelo mundo do Atlântico Negro. Este último termo refere-se metaforicamente às estruturas transnacionais criadas na modernidade que se desenvolveram e deram origem a um sistema de comunicações globais marcado por fluxos e trocas culturais. A formação dessa rede possibilitou às populações negras durante a diáspora africana formarem uma cultura que não pode ser identificada exclusivamente como caribenha, africana, americana, ou britânica, mas todas elas ao mesmo tempo. Trata-se da cultura do Atlântico Negro, uma cultura que pelo seu caráter híbrido não se encontra circunscrita às fronteiras étnicas ou nacionais. Ao longo de 419 páginas o autor repensa a modernidade por meio da história do Atlântico Negro e da diáspora africana no hemisfério ocidental, conduzindo-nos de maneira instigante por rotas de difícil navegação.
A década de 1990 foi rica em discussões de temas como globalização, cultura, identidade, nacionalismo, hibridismo, multiculturalismo. O livro do sociólogo inglês Paul Gilroy, cuja primeira edição em língua inglesa data de 1993, insere-se nesse debate contemporâneo repudiando as perigosas obsessões com a pureza racial, posicionando-se contra as representações do corpo humano como repositório fundamental da ordem da verdade racial. Seu projeto político e acadêmico renova críticas à idéia de raça e preve sua morte como princípio de cálculo político e moral. O livro questiona a definição de cultural nacional introduzida pelo o absolutismo étnico e busca explorar as relações entre raça, nação, nacionalidade e etnia, para colocar em xeque o mito da identidade étnica e da unidade nacional. As discussões sobre cultura e identidade, apresentadas, não acrescentam nada de novo em relação à produção intelectual já existente sobre estes temas. O caráter de novidade está no uso político que faz desse referencial no seu trabalho, para pensar em novas bases a cultura e a(s) identidade(s) negra(s), enfatizando, sobretudo, o problema e os limites da identidade étnica e racial.
No centro de sua análise encontra-se a noção de diáspora, que o autor importou de inconfessadas fontes judaicas para a política e a história negra. No seu quadro de análise, ela não representa uma forma de dispersão catastrófica, mas um processo que redefine a mecânica cultural e histórica do pertencimento. Para Gilroy a diáspora rompe a seqüência dos laços explicativos entre lugar, posição e consciência, conseqüentemente rompe também com o poder do território para determinar a identidade. O autor repudia a idéia de uma identidade enraizada, supostamente autêntica, natural e estável, veiculada pelo pensamento nacionalista negro nos anos 60. Para ele a rede de comunicação transnacional criou uma nova topografia de lealdade e identidade que desconsidera as estruturas e os pressupostos do Estado-nação e redefine as formas de ligação e identificação no tempo e no espaço. O modelo do Atlântico Negro remete ao sentimento de desterritorialização da cultura em oposição à idéia de uma cultura territorial fechada e codificada no corpo. "Sob a chave da diáspora nós poderemos então ver não a raça, e sim formas geopolíticas e geoculturais de vida que são resultantes da interação entre sistemas comunicativos e contextos que elas não só incorporam, mas também modificam e transcendem" (: 25).
As relações estabelecidas em decorrência da diáspora favorecem a formação de um circuito comunicativo que extrapola as fronteiras étnicas do Estado-nação, permitindo às populações dispersas conversar, interagir e efetuar trocas culturais. A referência ao mar e à vida marítima, presente no título e ao longo do livro, tem um sentido poético, mas, sobretudo heurístico. O mar indica idéia de contaminação, mistura, movimento, coerente com a perspectiva de análise adotada que situa o mundo do Atlântico Negro em uma rede entrelaçada entre o local e o global. No seu esquema interpretativo o autor elege o navio como a principal unidade de análise, sua importância histórica e teórica decorre do fato do mesmo ter funcionado como o principal canal de comunicação pan-africana. O navio representa "um sistema vivo, microcultural e micropolítico em movimento que coloca em circulação, idéias, ativistas, artefatos culturais e políticos" (: 38). Para Gilroy, a análise da história política e cultural negra no Ocidente requer uma maior atenção à complexa mistura entre idéias e sistemas filosóficos e culturais europeus e africanos. A mistura não deve ser interpretada como perda de pureza, e sim como um princípio de crescimento que ajudou a formar o mundo moderno. É dele a definição do seu livro como um ensaio sobre a inevitável hibridez e mistura de idéias (: 30).
A análise da cultura do Atlântico Negro é particularmente valiosa, entre outros aspectos, por dar visibilidade a uma face da história cultural obscurecida pelo véu do absolutismo étnico: a relação dos negros com a modernidade ocidental. Este constitui, sem dúvida, um dos principais pontos de análise apresentado. Segundo Gilroy, durante a diáspora, os negros criaram um corpo único de reflexão sobre a modernidade e seus dissabores que continua presente nas lutas culturais e políticas de seus descendentes. No entanto, o racismo moderno não reconheceu os negros como pessoas com capacidades cognitivas, ou mesmo com uma história intelectual. Um dos aspectos mais explorados no livro é o reconhecimento da duplicidade como sinal diacrítico da história intelectual do Atlântico Negro – integra o ocidente sem fazer parte completamente dele.
As proposições apresentadas pelo o autor se contrapõem às premissas do racismo científico que confinou o negro à categoria intermediária entre o animal e o homem. Indiretamente, elas se contrapõem também aos escritos filosóficos que se mostraram céticos quanto à capacidade cognitiva dos negros. O livro aponta a necessidade de uma avaliação crítica do racismo e anti-semitismo presentes na obra de filósofos iluministas como Kant e Voltaire. Merece ser aqui enfatizada a proposta apresentada por Gilroy de uma releitura da dialética do senhor e do escravo, na qual se enraíza a alegoria hegeliana da consciência e da liberdade. Para ele, as formulações de Hegel podem ser usadas para iniciar uma análise que veja a estreita associação entre a modernidade e a escravidão como uma questão conceitual chave. Igualmente, um retorno à explicação do conflito e das formas de dependência produzidas na relação entre o senhor e o escravo põe em evidência as questões de brutalidade e terror quase sempre ignoradas pelas narrativas da modernidade. Gilroy toma como pressuposto a idéia de que "o terror racial não é meramente compatível com a racionalidade ocidental, mas, voluntariamente cúmplice dela" (: 127).
O projeto do autor desencadeia uma severa crítica aos estudos culturais ingleses e afro-americanos marcados por perspectivas etnocêntrica e nacionalista. Promove igualmente uma avaliação crítica do uso das noções de etnia no interior destes estudos, ao mesmo tempo em que se opõe à falsa idéia de que a cultura sempre flui em padrões correspondentes à fronteira do Estado-nação. Do ponto de vista do autor, a relação entre nacionalidade e etnia foi apoiada retoricamente pelo inclusivismo cultural que enfatiza o sentido absoluto da diferença étnica entre os indivíduos em detrimento das suas experiências social e histórica.
Ao longo do livro, em especial, os capítulos 4 e 5, Gilroy utiliza a vida e os escritos de intelectuais negros como W. E. B. Du Bois, Richard Wright, Martin Delany, Frederick Douglas para desenvolver sua discussão sobre a modernidade e para elaborar um relato intercultural e antietnocêntrico da História e da cultura política negra modernas. Os textos elaborados por esses autores, com base em suas experiências de viagem e exílio, "expressam o poder de uma tradição de escrita na qual a autobiografia se torna um ato ou processo de simultânea autocriação e auto-emancipação" (: 151). Muitos desses autores utilizaram a memória da experiência escrava como um instrumento adicional, suplementar para construir uma interpretação distinta da modernidade. A inserção dos intelectuais negros no mundo moderno é vista como ambivalente, marcada por uma tensão entre ser produto da civilização ocidental e possuir uma identidade racial, profundamente condicionada e organicamente gerada por essa civilização. Para Gilroy é preciso atentar para o fato de que as críticas dos intelectuais negros à modernidade também podem ser, em alguns sentidos, importantes à afirmação dessa mesma modernidade. A compreensão desse quadro é prejudicada, quase sempre, por posturas que insistem em separar as formas culturais particulares a ambos grupos em alguma tipologia étnica, perdendo a oportunidade de discutir o seu complexo entrelaçamento.
A teoria da dupla consciência elaborada por Du Bois constitui um dos principais temas abordados pelo autor, a partir do qual, discute a construção e a plasticidade das identidades negras. O sujeito negro de Du Bois vive uma certa dualidade, encontra-se dividido entre as afirmações de particularidade racial e o apelo aos universais modernos que transcendem a raça. No seu quadro de análise a dupla consciência emerge das experiências de deslocamento e reterritorialização das populações negras, que acabam redefinindo o sentimento de pertença. Ele compartilha ao lado de outros escritores negros "a percepção de que o mundo moderno estava fragmentado ao longo de eixos constituídos pelo conflito racial e poderia acomodar modos de vida social assíncronos e heterogêneos em estreita proximidade" (: 368). Com esse conceito, Du Bois objetiva dar às experiências pós-escravidão vivenciadas pelos negros ocidentais uma significação mundial. Essas formulações casam perfeitamente com a preocupação de Gilroy na formação de uma transcultura negra que possa relacionar, combinar e unir as experiências e os interesses dos negros em várias partes do mundo.
O livro traz para o primeiro plano a cultura vernacular negra, sublinhando a importância dos elementos antidiscursivos e extralingüísticos dos atos comunicativos definidos pela instituição da escravidão. As expressões artísticas que emergiram da cultura dos escravos encontraram na música e na dança um substituto para as liberdades políticas formais que lhes eram negadas, "a arte se tornou a espinha dorsal das culturas políticas dos escravos e da sua história cultural" (: 129), e até hoje representa uma importante aliada nos processos de luta rumo à emancipação, à cidadania e à autonomia negra. O poder da música negra para o desenvolvimento das lutas políticas das comunidades negras da diáspora exige atenção aos seus atributos formais e à sua base moral distintiva: "Ela é ao mesmo tempo, produção e expressão dessa transvalorização de todos os valores precipitada pela história do terror racial no Novo Mundo" (: 94). O acesso restrito dos escravos à alfabetização fez crescer o poder da música em proporção inversa ao poder expressivo da língua, seu refinamento tem proporcionado um mecanismo de comunicação que não se limita ao poder das palavras faladas ou escritas. A música tem exercido um papel fundamental na reprodução da cultura do Atlântico Negro e na conexão entre as diferentes comunidades da diáspora.
Gilroy sublinha as formas nas quais as culturas vernaculares têm viajado. A cultura musical e as histórias de deslocamento, empréstimos, transformação e reinscrição contínua que lhe são características, remete à complexidade sincrética das culturas expressivas negras. Ela fornece o melhor exemplo do tráfego bilateral que vem se processando historicamente entre as formas culturais africanas e as culturas políticas dos negros da diáspora. A história de hibridação e mesclagem desaponta o desejo de pureza racial acalentado pelo afrocentrismo e pelo eurocentrismo. A história do Atlântico Negro nos ensina que a reprodução das tradições culturais não pode ser interpretada como a transmissão pura e simples de uma essência fixa ao longo do tempo, ela se dá nas rupturas e interrupções sugerindo que "a invocação da tradição pode ser, em si mesma, uma resposta distinta, porém oculta, ao fluxo desestabilizante do mundo contemporâneo" (: 208).
Ao término dessa viagem intelectual por O Atlântico Negro, o leitor brasileiro sente a ausência de uma abordagem da cultura da diáspora que englobe as experiências das comunidades negras do "Atlântico Sul Negro". Essa ausência torna-se mais significativa se levarmos em conta que o livro ao privilegiar as rotas e os fluxos sugere maneiras importantes de pensar regionalmente e translocalmente. O estilo de análise de Gilroy não se limita a estabelecer oposições, mas tenta demonstrar as vantagens de uma abordagem que seja capaz de estabelecer relações, procurando criticar os efeitos perniciosos do pensamento dualista binário no qual um elemento do par é dominado por outro – racional/irracional, branco/preto. As rotas abertas por esta obra de caráter seminal certamente darão origem a futuras investigações que possam promover outras viagens com novos roteiros rumo à história descomunal da cultura atlântica negra.
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Hebe Maria Mattos Paulo Gilroy, O Atlântico Negro - Modernidade e Dupla Consciência. Rio de Janeiro, Editora 34/UCAM - Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2002, 427p. Em boa hora se apresenta ao público brasileiro a versão em português de O Atlântico Negro, de Paul Gilroy. Sua perspectiva, ao mesmo tempo antiessencialista e afirmativa da dinâmica das culturas e identidades negras no Atlântico, abre perspectivas inovadoras ao debate, atualmente em curso, sobre a questão da adoção de políticas de discriminação positiva para o combate ao racismo no Brasil.
Trata-se de texto denso e complexo, construído a partir de múltiplas referências a diversos aspectos das culturas negras - da literatura à música - no mundo de língua inglesa, o que o torna, por vezes, de leitura difícil. Por outro lado, seu argumento central tem enorme apelo e poder de sedução, desde que se organiza a partir da utilização de alguns conceitos-chave que se mostram extremamente esclarecedores para a compreensão dos processos de racialização no Ocidente, bem como de suas implicações políticas e culturais.
O primeiro deles é a noção de diáspora que se concretiza de forma bela no título do livro - o Atlântico Negro. Para Gilroy, as culturas e identidades negras são indissociáveis da experiência da escravidão moderna e de sua herança racializada espalhada pelo Atlântico. É na memória da escravidão e na experiência do racismo e do terror racial que muitas vezes lhe sucedeu que se funda politicamente a identidade cultural dos negros no Ocidente.
Segundo Gilroy, a discussão contemporânea sobre a diáspora negra teria surgido como uma resposta direta "aos ganhos trans-locais advindos do movimento Black Power durante a Guerra Fria" (p. 17), mas teria rapidamente evoluído para uma contestação das formas essencialistas de pensar as culturas e identidade negras no mundo ocidental. Gilroy tenta levá-la mais longe, abordando radicalmente a identidade negra como construção política e histórica marcada pelas trocas culturais através do Atlântico, na qual a questão das origens interessa menos que as experiências de desenraizamento, deslocamento e criação cultural. Estas experiências se produziriam desde o tráfico negreiro, trauma original, até as mais diversas experiências de encantamento e estranhamento em viagens e exílios entre América, Europa e África. Chega-se, aí, no segundo daqueles conceitos básicos e esclarecedores, a relação entre modernidade e dupla consciência que compõe o subtítulo do livro, propondo abordar o pensamento e a arte negros no Ocidente como contracultura da modernidade.
Acompanhando a biografia e a produção literária de escritores negros norte-americanos, precursores ou ícones do nacionalismo negro e do pan-africanismo, como Frederick Douglas, Martin Delany, Du Bois e Ricard Wright, Gilroy vai acentuar a importância, para a construção do pensamento de cada um deles, da associação de uma vivência pessoal da escravidão ou do terror racial nos Estados Unidos, com a formação intelectual iluminista e o contato direto com a Europa em diferentes experiências de viagem. As relações de Frederick Douglas com o cristianismo e os radicalismos ingleses e escoceses, de Martin Delany com a medicina racializada do século XIX, de Du Bois com o culturalismo alemão, de Richard Wright com o existencialismo francês são consideradas dimensões constitutivas para compreensão de seus textos. Em uma frase provocativa, Gilroy irá afirmar
Marcada por suas origens européias, a cultura política negra moderna sempre esteve mais interessada na relação de identidade com as raízes e o enraizamento do que em ver a identidade como um processo de movimento e mediação [...]. (p. 65)
Resumindo graficamente a radicalidade desta perspectiva, África e Europa aparecem imbricadas e indistintas no mapa que ilustra a capa do livro.
O autor escreve de um ponto de vista a um mesmo tempo negro e inglês e, por isso, escolhe como interlocutores preferenciais - tentando marcar-lhes as limitações - o nacionalismo cultural britânico e o absolutismo étnico do pensamento africano-americano. Um de seus principais esforços, especialmente no primeiro ensaio do livro, está em mostrar as múltiplas interconexões das experiências da classe trabalhadora inglesa e dos negros americanos, quando tomadas em perspectiva atlântica.
Em oposição às abordagens nacionalistas ou etnicamente absolutas [da cultura], quero desenvolver a sugestão de que os historiadores culturais poderiam assumir o Atlântico como uma unidade de análise única e complexa em suas discussões do mundo moderno e utilizá-la para produzir uma perspectiva explicitamente transnacional e intercultural. (p. 57)
Assumindo radicalmente a perspectiva de Linebaugh em seu famoso e polêmico artigo "Atlantic Mountains" (traduzido no Brasil como "Todas as Montanhas Atlânticas Estremeceram", Revista Brasileira de História, nº 6, 1983), Gilroy considera que "o navio [continua] a ser talvez o mais importante canal de comunicação pan-africana antes do aparecimento do disco long-play". (p. 54)
De uma perspectiva mais crítica, não se pode deixar de considerar que o livro se ressente de uma perspectiva demasiadamente definida pelo mundo de língua inglesa, europeu e americano. Mesmo a África negra anglofônica praticamente não é considerada, de modo que as dificuldades óbvias de construção de uma identidade negra no Continente africano, fora dos contextos de lutas anticoloniais, não chegam a ser exploradas. As trocas culturais consideradas no livro, fora do tráfico negreiro original, consideram pouco a margem africana do Atlântico, a não ser quando falam da Libéria ou da África do Sul.
Isto se dá, por outro lado, porque o processo de construção de identidades e culturas negras nasce efetivamente na América, como resistência à escravidão e ao terror racial, para daí voltar a circular no Atlântico, europeu ou africano. Gilroy está absolutamente correto, portanto, quando associa as identidades e culturas negras à experiência e à memória da escravidão na diáspora africana no Novo Mundo e aos processos de racialização dela decorrentes. Em função da perspectiva demasiadamente inglesa, entretanto, este processo de racialização aparece de forma um tanto monolítica e pouco problematizada. A escravidão moderna é definida por ele, de forma absoluta, como "escravidão racial", o que não é facilmente demonstrável do ponto de vista empírico antes do século XVIII. Os processos de racialização do negro e do branco são bem posteriores às condições históricas européias e africanas que deram origem ao tráfico atlântico de escravos no século XVI.
Por outro lado, o livro de Gilroy concentra-se corretamente em processos culturais que se desenvolveram a partir da segunda metade do século XVIII, quando a escravidão moderna efetivamente se vê crescentemente explicada a partir de processos raciais. Estes processos, entretanto, atingem diferentemente as muitas áreas do mundo atlântico por eles conectadas. Neste sentido, uma abordagem da escravidão no Império português e de sua continuidade no novo Estado brasileiro oitocentista permitiriam uma análise mais nuançada e complexa dos processos de racialização e de suas implicações políticas e identitárias. Por outro lado, a abordagem proposta no livro abre novas possibilidades para o estudo das culturas e identidades negras no Brasil. De fato, apenas uma perspectiva atlântica pode fazer emergir, por exemplo, todas as implicações políticas e culturais do esforço de intelectuais negros, no Brasil oitocentista, em desracializar as justificativas para a continuidade da escravidão, do qual Antônio Pereira Rebouças é um exemplo recentemente visitado, mas de forma nenhuma isolado.1
O livro de Paul Gilroy organiza-se em seis ensaios que se estruturam procurando apreender o Atlântico Negro como contracultura da modernidade (título do primeiro capítulo), a partir dos empréstimos teóricos e hibridismos culturais presentes tanto na produção literária de intelectuais negros norte-americanos (Martin Delany, Frederick Douglas, Du Bois, Richard Wright), como na música negra dita africano-americana nos Estados Unidos (Jubillee Singers, Jimmy Hendrix e o hip-hop).
Os capítulos sobre a música negra, talvez o mais consistente indicador da presença da matriz cultural africana na cultura negra no Ocidente, enfatizam - sem negar a africanidade - as trocas com os estilos, o público e a música européia, abordando as viagens pioneiras do Jubilee Singers à Europa, bem como a experiência visceralmente moderna, culturalmente transnacional e híbrida de músicos como Jimmy Hendrix e de estilos como o hip-hop. Com esta argumentação o autor procura romper a polarização entre as teorias essencialistas e antiessencialista da identidade negra, buscando enfatizar a historicidade desta construção cultural e seu sentido eminentemente político.
Mesmo propondo, com vigor, uma discussão crítica do "africentrismo" e dos essencialismos culturais, raciais ou étnicos, para Gilroy o Atlântico negro se apresenta como construção identitária mutante, porém definitiva, no contexto do mundo ocidental. Em suas palavras, "um mesmo mutável" (p. 29). Não por acaso, o capítulo final retoma a idéia de diáspora e estabelece conexões com fontes da cultura judaica, procurando explorar as muitas analogias, em geral pouco trabalhadas, entre o sionismo e o nacionalismo negro.
A sofisticação teórica associada a um postura militante não deixam de conferir uma certa ambigüidade, mas também um incontestável charme ao resultado final do livro. Pensar as identidades e culturas negras entendidas sob a perspectiva da diáspora permite a Gilroy não apenas entender a historicidade e multiplicidade das configurações culturais negras, mas também, no limite, tentar superar a noção de raça como estruturadora dessas culturas e identidades. As identidades negras da diáspora, culturalmente híbridas e dinâmicas, se constroem não apenas a partir da memória do trauma original da escravidão e da vivência posterior da violência racial e do racismo, mas também a partir de uma experiência radical de desenraizamento e constante metamorfose cultural, estrutural à experiência da modernidade. Esta perspectiva se acentua, em especial, no prefácio à edição brasileira, em que mais explicitamente o autor assume o quanto a noção de Atlântico negro tem a ganhar incorporando o Atlântico Sul e suas muitas configurações culturais, expandindo-se muito além da camisa de força do modelo norte-americano do "africano-americano". Em suas próprias palavras, no prefácio à edição brasileira:
Sugiro que devemos reconsiderar as possibilidades de escrever relatos não-centrados na Europa sobre como as culturas dissidentes da modernidade do Atlântico negro têm desenvolvido e modificado este mundo fragmentado, contribuindo amplamente para a saúde de nosso planeta e para suas aspirações democráticas. Este trabalho corresponde às aflições da geração da Guerra Fria, que incluem a atração pelo passado, a adesão ética e política à idéia de celebrar a experiência sublime da escravidão e uma disposição geralmente favorável diante de movimentos sociais que desafiem o sistema numa insurgência revolucionária que complemente, amplie e, então, repudie um iluminismo europeu incompleto e codificado racialmente. (p. 16) Nota 1. Cf. Keila Grinberg. O Fiador dos Brasileiros. Direito Civil, Escravidão e Cidadania no Tempo de Antônio Pereira Rebouças (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, no prelo. Originalmente tese de doutorado em História, Universidade Federal Fluminense, 2000) e Hebe Maria Mattos, Escravidão e Cidadania no Brasil Monárquico (Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2000).
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Paulo da Luz Moreira
O Atlântico Negro tem como razão primordial, nas palavras do autor, ver “os negros percebidos como agentes, como pessoas com capacidades cognitivas e mesmo com uma história intelectual – atributos negados pelo racismo moderno.”(GILROY, Paul, 2001, p.40).
Entretanto, percebe-se no livro duas outras aspirações principais: repudiar as noções de pureza racial que ainda circulam dentro dos movimentos políticos negros e propor alternativas ao que o autor chama de “clausuras das categorias com as quais conduzimos nossas vidas políticas.” (GILROY, Paul, 2001, p.30).
Gilroy busca chegar a esses objetivos aprofundando e consolidando um pensamento crítico sobre a condição negra que foge das armadilhas do essencialismo e do relativismo, defendendo que nos libertemos das amarras do essencialismo racial, sem com isso negar à categoria de raça sua validade como construção social e cultural e instrumento de luta por igualdade.
Na prática isso implica em confrontar posturas comuns entre pensadores da condição negra e, nesse sentido, Gilroy argumenta de modo convincente contra o discurso de inspiração nacionalista e romântica que tem a África como origem de uma cultura negra pura, mostrando que as culturas negras na África e na diáspora nunca viveram hermeticamente fechadas em si mesmas e nem são grupos homogêneos sem divisões internas de gênero e classe.
Ao mesmo tempo, Gilroy rejeita categoricamente a ênfase desmedida na textualidade que se torna um meio de esvaziar o problema da ação humana, um meio de especificar a morte (por fragmentação) do sujeito e, na mesma manobra, entronizar o crítico literário como senhor do domínio da comunicação humana criativa. (GILROY, Paul, 2001, p.166) Como alternativa ao essencialismo e ao relativismo, Gilroy propõe um modo transnacional de refletir sobre a experiência negra no mundo a partir da constatação de que as comunidades negras, dos dois lados do Atlântico, estiveram em intenso intercâmbio desde os séculos XVIII e XIX, e não apenas por causa do tráfico negreiro – Gilroy lembra que o piloto de Colombo era negro e que um quarto da marinha inglesa era composta de africanos no final do século XVIII.
Gente, mercadoria e cultura nas mais diversas formas (música, culinária, literatura) transitaram intensamente de um lado do Atlântico para o outro, nos dois sentidos, num tráfego intenso que mudou, mas não acabou com o fim da escravidão. A permanência dos laços criados pela colonização nas relações pós-coloniais (entre elas as migrações do terceiro para o primeiro mundo, chamadas por ele de “segunda” diáspora) perpetuou o Atlântico Negro durante todo o século XX, ainda que pontos de vista preocupados primordialmente com a questão da identidade nacional tendam a ignorá-lo.
O nacionalismo em geral é, aliás, um dos alvos principais de Gilroy. As perspectivas que confinam os estudos literários em departamentos rigidamente separados são vigorosamente contestadas já que “nem as estruturas políticas nem as estruturas econômicas de dominação coincidem mais com as fronteiras nacionais”. Observações como esta me parecem particularmente relevantes no contexto da crítica norte-americana e européia (onde estão os interlocutores implícitos de Gilroy), mas não deveriam ser novidade para quem vive em um país de terceiro mundo tutelado pelo FMI. Aí está um indício da grande limitação desse livro, que requer do leitor brasileiro uma leitura cum granus salis.
Nos capítulos 3, 4 e 5, fica bastante claro que Gilroy, chefe do departamento de Black Studies de Yale, fala diretamente para os seus pares nos centros de saber do hemisfério norte. Nesses capítulos, Gilroy denuncia as limitações e mistificações que foram produzidas para sustentar a visão de que as obras de W.E.B Du Bois e Richard Wright e a música dos Spirituals eram expressões típicas e exclusivas da cultura negra estadounidense, ignorando as importantes conexões internacionais que as definiram. Os Spirituals são apenas um entre vários exemplos derivados da música popular no livro uma vez que, para Gilroy, a música revela de forma clara os processos de livre apropriação e recombinação que configuram a cultura negra mundial: (...) a música e seus rituais podem ser utilizados para criar um modelo no qual a identidade não pode ser entendida nem como uma essência fixa, nem como uma construção vaga e extremamente contingente a ser reinventada pela vontade e pelo capricho de estetas, simbolistas e apreciadores de jogos de linguagem (GILROY, Paul, 2001, p.209).
Mas é justamente quando o assunto é música que a mais séria deficiência desse livro tão ambicioso aparece ainda mais claramente: não há sequer uma menção específica a músicos cubanos, brasileiros ou colombianos – apenas duas ou três vagas referências ao Brasil, principalmente quando Gilroy discute a música de Quincy Jones. Ou seja, ainda que o próprio Gilroy diga no prefácio à edição brasileira que “a história brasileira tem sido marginalizada mesmo nos melhores relatos sobre a política negra centrados na América do Norte e no Caribe” (GILROY, Paul, 2001, p.11). O Atlântico Negro apenas perpetua esse estado de coisas. Seria mais adequado chamar esse livro, portanto, de O Atlântico Negro do Norte, pois ele vem de um mundo que se pretende cosmopolita, mas só fala uma língua (o inglês), e só leva em conta o terceiro mundo quando quer passar as férias no Caribe.
Tendo isso em mente, o transnacionalismo de Gilroy tem que ser visto com uma certa reserva. Ainda que ele afirme que “com algumas nobres exceções, as explicações críticas da dinâmica da subordinação e da resistência negra têm sido obstinadamente monoculturais, nacionais e etnocêntricas.” (GILROY, Paul, 2001, p.170) e que, “a ponderação das similaridades e diferenças entre as culturas negras continua a ser uma preocupação urgente” (GILROY, Paul, 2001, p.171), o que se vê em O Atlântico Negro é a repetição de uma operação de apagamento de uma importante parcela do mundo negro que não consegue se fazer representar no circuito acadêmico entre Estados Unidos e Inglaterra. Palavras recorrentes no texto como “América” (GILROY, Paul, 2001, p.58, 182) e “Ocidente” (GILROY, Paul, 2001, p.83, 102) são exemplos dessa operação de apagamento; talvez pudessem ter sido traduzidas respectivamente como Estados Unidos e Europa ocidental/América anglo-saxônica para evitar equívocos do leitor de língua portuguesa.
É verdade que, devido à amplitude do tema, qualquer estudioso que se propusesse a escrever sobre todas as culturas negras dos dois lados do Atlântico encontraria dificuldades, mas o problema agrava-se quando se tenta impor conclusões gerais sobre as comunidades negras em geral e o resultado é uma teoria crítica necessariamente capenga, ou talvez seria melhor dizer, caolha. Não é surpresa, portanto, que a grande ausência no livro seja a relação assimétrica entre as culturas negras do centro e da periferia do capitalismo mundial. Não é fruto do acaso que Michael Jackson seja muitíssimo mais popular que Milton Nascimento ou Gilberto Gil em Moçambique e Angola, ou que a chegada de Cesária Évora ao mercado fonográfico brasileiro esteja ligada ao sucesso da cantora cabo-verdiana no primeiro mundo. Mesmo o acesso ao trabalho de intelectuais com raízes mais ou menos fortes no Caribe, como Stuart Hall e o próprio Paul Gilroy, depende da chancela que esses intelectuais têm nos meios acadêmicos do primeiro mundo.
Esses são momentos em que o véu cai e fica bastante claro que a globalização não supera, mas perpetua e até mesmo acentua as relações desiguais dos tempos coloniais. Mas há que abrir os olhos para ver. O Atlântico Negro, portanto, não cumpre sua promessa, o que não tira todo o mérito do livro. Um exemplo é a discussão da relação entre escravidão e modernidade. Gilroy afirma que “as realizações intelectuais e culturais das populações do Atlântico negro existem em parte dentro e nem sempre contra a narrativa gloriosa do iluminismo e seus princípios operacionais” (GILROY, Paul, 2001, p.113).
A escravidão não era um resquício arcaico que a modernidade combatia e Gilroy mostra que a escravidão e a visão do negro como fundamentalmente anti-racional foram parte do pensamento ocidental moderno desde do início.
Há muito que aprender com o livro de Gilroy, principalmente o seu trafegar no mar revolto entre modernidade e pós-modernidade sem se afogar no neoconservadorismo ou na paralisia relativista. Mas pensar um Atlântico Negro que realmente expresse sua riqueza e multiplicidade é um desafio não realizado, talvez maior que o trabalho de um só indivíduo. Que as lições com os erros e os acertos de Paul Gilroy sejam fecundas por aqui!
Referência bibliográfica: GILROY, Paul. (2001) O Atlântico Negro. Modernidade e dupla consciência, São Paulo, Rio de Janeiro, 34/Universidade Cândido Mendes – Centro de Estudos Afro-Asiáticos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

RESUMO DE LIVRO: Leo Huberman. História da riqueza do homem.

- Explica a história pelo estudo da teoria econômica e ao mesmo tempo faz o contrário, ou seja, explica a economia através do estudo da História. Tem formato didático: é de fácil leitura. Era amigo de Paul Sweezy. - A teoria econômica se torna monótona quando divorciada de seu fundo histórico. PARTE 1 – DO FEUDALISMO AO CAPITALISMO Cap. 1 – Sacerdotes, guerreiros e trabalhadores (p.2) - Os filmes sobre a sociedade feudal mostram os guerreiros, mas não a forma como eles são supridos de suas necessidades. “Armaduras não crescem em árvores, e alimentos precisam ser plantados”. - A sociedade feudal era constituída de três classes principais: sacerdotes, guerreiros e trabalhadores. A última era quem sustentava as outras duas primeiras. - A maioria das terras agrícolas da Europa Ocidental e Central estava dividida em áreas conhecidas como FEUDOS. “Um feudo consistia apenas de uma aldeia e as várias centenas de acres de terra arável que a circundavam, e nas quais o povo da aldeia trabalhava” p. 3. Os feudos variavam de tamanho. Cada propriedade tinha um senhor. A terça parte das terras pertencia ao senhor e era chamada de seus domínios. - Principais características do sistema feudal: a) a terra arável era dividida em duas partes: uma pertencente ao senhor e cultivada somente para ele; a outra dividida entre os arrendatários. b) a terra era cultivada em capôs não-contínuos (faixas espalhadas). c) o arrendatário era obrigado a trabalhar também na terra do senhor, tal serviço devia ter prioridade. - O servo não podia ser vendido separadamente da terra em que morava. “Por pior que fosse seu tratamento, o servo possuía família e lar e a utilização de alguma terra” p. 6. O servo não podia deixar a terra, estava preso a ela.Quando morria seu herdeiro tomava de conta da terra, mediante pagamento de uma taxa. Caso não cumprisse com as obrigações, o senhor poderia expulsar o servo da terra. - Vários tipos de servos (p. 7): vilões, fronteiriço, etc. “Nenhuma descrição do sistema feudal pode ser rigorosamente precisa, porque as condições variavam muito de lugar para lugar” p. 7. - O costume adotado no feudo era como se fosse a legislação atual, a tradição tinha força de lei. A sociedade como um todo estava firmada num princípio de “deveres e obrigações”. “O senhor do feudo, como o servo, não possuía a terra, mas era, ele próprio, arrendatário de outro senhor, mais acima da escala” p. 9. - A necessidade de vassalos era real, a única maneira de obtê-los era cedendo terras. - A quantidade de terras representava a riqueza de um indivíduo. As guerras tinham por objetivo a obtenção de riquezas (terras). - A IGREJA foi a instituição mais duradoura do período, mas poderosa que qualquer coroa. “A Igreja foi a maior proprietária de terras no período feudal” p. 13. “Uma das razões por que se proibia o casamento aos padres era simplesmente porque os chefes da igreja não desejavam perder quaisquer terras da igreja mediante herança aos filhos” p.14. - O clero e a nobreza eram as classes governantes. A primeira prestava ajuda espiritual; e a segunda, militar. CAP. 2 – Entra em cena o comerciante (p.16). - Na idade média, não necessitava do dinheiro para adquirir as coisas. Nada era comprado, pois os meios de subsistência básicos eram adquiridos no próprio feudo, o restante eram trocados. O feudo era auto-suficiente. - Por não haver comércio, a produção do excedente não era regra. - A falta de estradas e os ladrões eram um obstáculo ao comércio. Além do mais, a cada feudo que o comerciante passava, tinha que pagar o pedágio. A moeda variava conforme a região. - O século XI viu o comércio crescer a passos largos. As cruzadas favoreceram muito o florescimento comercial. Ler p. 19-21. - No sul Veneza (elo da Europa com o Oriente) e no norte Flandes: tais cidades dominavam o comércio. - As cidades não podiam manter um comércio permanente por causa da deficiência das estradas. “Os mercados eram pequenos, negociando com os produtores locais, em sua maioria agrícola. As feiras, ao contrário, eram imensas, e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido” p. 22. A feira era o centro distribuidor. As principais feiras ofereciam aos convidados salvo-conduto. “As feiras tinham, assim, importância não só por causa do comércio, mas porque aí se efetuavam transações financeiras” p. 24. - O comércio forçou o abandono da economia natural. A utilização do dinheiro foi, aos poucos, se tornando uma necessidade. CAP. 3 – Rumo à Cidade (p.26). “Um dos efeitos mais importantes do aumento do comércio foi o crescimento das cidades” p. 26. - As cidades modelos podem ser vistas na Itália e Holanda. Surgem no cruzamento entre duas estradas, ou na embocadura de um rio, etc. No local sempre existia uma igreja e um burgo (zona fortificada). - A expansão do comércio representou melhores oportunidades de trabalho. A emigração foi inevitável. - O feudalismo representava uma prisão em vista do ar de aventura e liberdade ligado à cidade e ao comércio. “Face a face com as restrições feudais que os asfixiavam, mais uma vez se uniram em associações chamadas corporações ou ligas, a fim de conquistar para suas cidades a liberdade necessária à expansão contínua” p. 28. “O ar da cidade torna o homem livre” provérbio da época. - Da cidade a terra passou a ser olhada de forma diferenciada. A possibilidade de vender a terra e utilizar o dinheiro em comércio, aos poucos, foi se tornando inevitável. - As populações urbanas passaram a reivindicar a fundação de seus próprios tribunais. Queriam criar suas próprias leis. As cidades queriam independência. “As associações de mercadores exerciam com freqüência, um monopólio sobre o comércio por atacado das cidades” p. 33. O objetivo era fazer falir os não membros. Eliminar a concorrência. “Os preços das mercadorias deveriam ser fixados pelas associações” p. 34. Os membros tinham que obedecer vários regulamentos. - O comércio acabou por suplantar a terra como fonte de riqueza. Surge a riqueza em dinheiro. CAP. 4 – Surgem novas idéias (p. 36) - Na idade média, o empréstimo não tinha a função de enriquecer aquele que empresta. Não se devia lucrar com a desventura alheia. O imaginário era dominado pelos padrões de conduta da igreja. “O tempo pertence a Deus, ninguém tem o direito de vendê-lo”. A usura era um pecado. CAP. 5 – O camponês rompe amarras (p. 42) - Fatores que possibilitaram a libertação do camponês da terra: crescimento do comércio, introdução da economia monetária, o crescimento das cidades, etc. “Quando surgem cidades nas quais os habitantes se ocupam total ou principalmente do comercio e da indústria, passam a ter necessidade de obter do campo o suprimento de alimentos. Surge, portanto, uma divisão do trabalho entre cidade e campo” p. 42. - O comércio sempre incentiva o aumento da produção. Os senhores feudais perceberam que seria vantajoso transformar a terra em algo produtivo. Soube-se que o excedente poderia ser vendido às cidades. - O senhor passou a exigir dinheiro em vez de trabalho dos servos. O pagamento passou a ser por hectare, em vez de serviços nos domínios dos senhores feudais. O trabalho livre mostrou-se mais produtivo. - A igreja foi a pior inimiga da emancipação do camponês. Ela era a instituição mais apegada as tradições que a sustentava. - A peste negra foi outro fator importante como promotor da liberdade. Ela matou mais gente do que a primeira guerra mundial. “Com a morte de tanta gente, era evidente que maior valor seria atribuído aos serviços dos que continuavam vivos. Trabalhadores podiam pedir e receber mais pelo seu trabalho... o trabalho do camponês valia mais do que nunca” p. 49. Os camponeses se sentiram fortes para reivindicar – surgem as revoltas camponesas. “O fato de que a terra fosse assim comprada, vendida e trocada livremente, como qualquer outra mercadoria, determinou o fim do antigo mundo feudal” p. 52. CAP. 6 – “E nenhum estrangeiro trabalhará...” (p. 53). - Antes a indústria se realizava na casa do próprio camponês. “A indústria se fazia em casa e o propósito da produção era simplesmente o de satisfazer as necessidades domésticas” p. 53. - “O açougueiro, o padeiro e o fabricante de velas foram então para a cidade e abriram uma loja, não para satisfazer suas necessidades, mas sim para atender à procura” p. 54. - Os artesãos seguiram o exemplo dos comerciantes e se uniram em corporações. O aprendiz virava mestre com o tempo. Empregador e empregado poderiam participar de uma mesma corporação, já que, entre eles, não havia privilégios quanto aos direitos. Não havia espírito de competição. As corporações criavam um espírito de fraternidade entre seus membros. Estatuto da corporação p. 56. Prevalecia o preço justo. A doutrina da usura ainda vigorava. - O desenvolvimento do mercado e a produção em grande escala provocaram uma modificação das idéias econômicas da época. “O justo preço acabou sendo substituído pelo preço de mercado” p. 61. - O objetivo das corporações eram “o monopólio de todo o trabalho do gênero na cidade” p. 57. “A noção do justo preço se enquadrava na economia do mercado pequeno, local e estável” p. 61. “O sistema de corporações tivera duas características fundamentais: a igualdade entre os senhores e a facilidade com que os trabalhadores podiam passar a mestres. Em geral, isso ocorreu até os séculos XIII e XIV, período áureo dessas instituições” p. 63. - CAUSAS do fim das corporações: a) a prosperidade de alguns mestres e de outros não criou divisões entre eles; b) houve também um distanciamento entre os jornaleiros e mestres. O aprendiz passou a chegar até jornaleiro, este dificilmente chegava a ser mestre. “Na luta para libertar a cidade de seus senhores feudais, todos os cidadãos, ricos e pobres, mercadores, mestres e trabalhadores, haviam unido forças” p. 67. - Embora tenham se libertado dos senhores feudais, logo em seguida, as cidades passaram a ser controladas pelos reis, quando do fortalecimento da monarquia. CAP. 7 – Aí vem o Rei! (p. 69). “Muita gente pensa hoje que as crianças nascem com o instinto do patriotismo nacional. Evidentemente isso não é verdade. O patriotismo nacional vem em grande parte de se ler e ouvir falar constantemente nos grandes feitos dos heróis nacionais” p. 70. - No século XV, surgem as nações e com elas as divisões. Surgem as leis nacionais, a literatura nacional, língua nacional, indústrias nacionais, etc. - Quais os fatores do surgimento do Estado Nacional? A) ORDEM E SEGURNÇA eram palavras de ordem, todos os comerciantes necessitavam delas para desenvolverem seus negócios. “Necessitava-se de uma autoridade central, um Estado nacional. Um poder supremo que pudesse colocar em ordem o caos feudal” p. 71. O rei foi um aliado forte das cidades na luta contra os senhores feudais. Tudo que reduzia a força dos barões fortalecia o poder real. Com o dinheiro dos comerciantes, o REI passou a sustentar um exército paralelo aos dos senhores feudais. Com o fortalecimento central, o rei passou a derrubar os monopólios locais. B) O estado substituiu a cidade como unidade de vida econômica. C) A fundação de igrejas nacionais – ao defender o rompimento com Roma, alimentaram o sentimento nacional. “Os reis sustentavam-se com o dinheiro recolhido da burguesia” p. 75. - A causa do rei passou a ser a causa de todos: surge o sentimento nacional. O localismo feudal foi suplantado. - A igreja se negou, durante anos, a pagar impostos ao governo central. “A igreja teria perdido seu poder mesmo que a Reforma Protestante não tivesse ocorrido... a igreja defendia a ordem feudal” p. 82. “Antes que a classe média pudesse apagar o feudalismo em cada país, tinha de atacar a organização central – a igreja. E foi o que fez” p. 83. CAP. 8 – “Homem rico...” p. 84. “Há três modos, em minha opinião, pelos quais é possível obter lucros com dinheiro, além de seu uso natural. O primeiro é a arte da troca, a guarda ou movimentação do dinheiro; a segunda é a usura; e o terceiro é a alteração do dinheiro” p. 86. - A política mercantilista ocasionou a desvalorização da moeda, já que, a cunhagem passou a ter menos quantidade de metais preciosos. “Na primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, os lucros atingiram a 6.000%” p. 89. - Quiseram quebrar as vantagens do comércio com Veneza, outras rotas foram inventadas. - O interessante é saber que a engrenagem financeira foi posta em funcionamento por mercadores e banqueiros e esteve presente em todo o processo de expansão comercial. CAP. 9 – “Homem pobre, mendigo, ladrão” (p. 97) “Os dados sobre o número de mendigos nos séculos XVI e XVII são surpreendentes. Um quarto da população de Paris na década de 1630 era constituído de mendigos” p. 97. “Qual a explicação dessa miséria generalizada entre as massas, num período de grande prosperidade para uns poucos? A guerra, como sempre, foi uma das causas” p. 97. - A guerra dos Trinta Anos foi mais maléfica que a primeira guerra mundial. “Cerca de dois terços da população total desapareceram, a miséria dos que sobreviveram era extremamente grande” p. 98. - As ovelhas tomam as terras dos homens. “Observe o leitor uma modificação importante nesse período. A velha idéia de que a terra era importante em relação ao total de trabalho sobre ela executado desapareceu. O desenvolvimento do comércio e indústria, e a revolução dos preços, tornaram o dinheiro mais importante do que os homens, e a terra passou a ser considerada como fonte de renda” p. 108. CAP. 10 – Precisa-se de trabalhadores: crianças de dois anos podem candidatar-se (p. 109) - A expansão do mercado é uma chave importante para a compreensão das forças que produziram a indústria capitalista. A estrutura das corporações era destinada ao mercado local, quando este se tornou nacional e internacional, a corporação deixou de ter utilidades. “Os artesãos locais podiam entender e realizar o comércio de uma cidade, mas o comercio mundial era coisa totalmente diversa” p. 107. “Esse método, pelo qual o intermediário emprega certo número de artesãos para trabalhar seu material em suas respectivas residências, é denominado sistema de produção doméstica. Note-se que na técnica de produção o sistema doméstico não difere do sistema de corporações. Deixa o mestre artesão e seus ajudantes em casa, trabalhando com as mesmas ferramentas. Mas embora o método de produção permanecesse o mesmo, a forma de negociar as mercadorias foi organizada em novas bases, pelo intermediário, atuando como negociante” p. 110. - Divisão do trabalho: “cada trabalhador tem uma tarefa particular a fazer. Executa-a repetidamente e em conseqüência se torna perito nela. Isso poupa tempo e acelera a produção” p. 110. - As corporações resistiam às mudanças, já que achavam que tinham o monopólio de certo produto. - Como já foi visto, a igualdade entre os mestres foi um fator fundamental da ordem corporativa. - Os membros das corporações se opuseram as mudanças na tentativa de conservar seus velhos monopólios. “No sistema de corporações, que surgira com a economia urbana, o capitalista tinha apenas um pequeno papel. Com o sistema de produção doméstica, surgido com a economia nacional, o capital passou a ter papel importante. Era necessário muito dinheiro para comprar a matéria-prima para muitos trabalhadores... Era o homem do dinheiro, o capitalista, que se tornava o orientador, o diretor do sistema de produção doméstica” p. 114. FASES DA ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL 1 – Sistema Familiar: os membros de uma família produzem apenas para o consumo da mesma. 2 – Sistema de Corporação: a produção visava o mercado e era levada a cabo por mestres e artesãos. Os artesãos ainda eram donos das ferramentas. 3 – Sistema Doméstico: igual ao anterior, exceto no fato de que os mestres já não eram independentes, dependiam do fornecimento da matéria-prima. O intermediário entre ele e o consumidor. 4 – Sistema Fabril: produção para o mercador realizada fora de casa sob rigorosa supervisão. Os trabalhadores já não são donos dos meios de produção. CAP. 11 – “Ouro, grandeza e glória” p. 118. - O mercantilismo não constituiu um sistema. “O mercantilismo não era um sistema no atual sentido da palavra, mas antes um número de teorias econômicas aplicadas pelo Estado em um momento ou outro, num esforço para conseguir riqueza e poder” p. 119. - A questão era saber o que tornava um país rico. Estaria nos tesouros recebidos da colônia? Seriam os metais ‘preciosos? “A posse de ouro e prata, portanto, o total de barras que um país possuísse, era o índice de sua riqueza e poder. A maioria dos autores da época apega-se à idéia de que um país rico, tal como um homem rico, deve ser um país com muito dinheiro; e juntar ouro e prata num país deve ser a mais rápida forma de enriquecê-lo” p. 119. “A Espanha foi, no século XVI, talvez o mais rico e poderoso país do mundo” p. 119. - Por causa dessa crença, a conseqüência mais óbvia foi baixarem “leis proibindo a saída desses metais” p. 120. Entra em cena a política da balança comercial favorável. Era preciso vender bastante para que metais externos pudessem ser adquiridos. Vender mais do que comprar. “Os países poderiam aumentar sua reserva de ouro dedicando-se ao comércio exterior” p. 121. “Fazia parte do pensamento mercantilista a crença de que as colônias eram outra fonte de renda para a metrópole. Baixaram-se, portanto, leis proibindo aos colonos iniciar qualquer indústria que pudesse competir com a indústria da metrópole” p. 128. “A chave para compreender o atrito surgido entre a metrópole e as colônias está no fato de que enquanto a metrópole julgava que as colônias existiam para ela, estas julgavam que existiam para si mesmas” p. 129. “Era por estarem sempre em dificuldades monetárias que os governos davam tamanha importância ao amontoamento de metais preciosos. E como acreditavam também que o tesouro podia ser obtido pelo comércio, era natural considerarem os interesses do Estado e da classe de mercadores ou comerciantes como idênticos. Foi assim que o Estado tomou como sua tarefa principal o apoio e estímulo ao comércio e a tudo que se relacionasse com ele” p. 130. “Foi pelo comércio que o Estado se tornou grande, e conseguiu sua cota na expansão dos negócios e territórios. O mercantilismo era o regime dos mercadores” p. 130. “Os mercantilistas acreditavam que, no comércio, o prejuízo de um país era lucro de outro – isto é, um país só podia aumentar seu comércio a expensas de outro [...] Não consideravam o comércio como algo que proporciona benefício mútuo” p. 130. “Vemos que a crença de que não há nada mais importante e necessário para o bem geral do Estado do que a redução do comércio e indústria de um Estado rival só poderia levar a uma coisa: a guerra. O fruto da política mercantilista é a guerra. A luta pelos mercados, pelas colônias – tudo isso mergulhou as nações rivais numa guerra após outra” p. 131. CAP. 12 – Deixem-nos em paz! - 1776: Independência dos EUA e publicação do livro Riqueza das Nações. - Muitos comerciantes eram contra as políticas mercantilistas. “Os comerciantes queriam uma parte dos enormes lucros das companhias monopolizadoras privilegiadas. Quando tentaram participar delas, foram excluídos como intrusos” p. 132. - Quem tinha dinheiro queria liberdade para aproveitar as oportunidades. - A liberdade de negociar traria vantagens mútuas. “Adam Smith se ocupava mais do estudo das causas que influenciam a produção e distribuição da riqueza” p. 134. Parte de seu livro foi dedicado ao desmascaramento da doutrina mercantilista. “A maioria dos mercantilistas tinha interesses a defender, mas os ocultava dizendo que o país se tornaria mais rico defendendo precisamente esses interesses” p. 134. - As medidas mercantilistas sempre tiveram críticos. “Se os preços caem num país, devido ao decréscimo do dinheiro em circulação, outros países lhe comprarão mais mercadorias, porque serão mais baratas. O país exportará então mais do que importa, e a diferença será paga em dinheiro. Esse aumento do ouro no país elevará, ainda uma vez, os preços” p. 136. - Os fisiocratas franceses defendiam o livre comércio. “Uma tradução livre dessa frase famosa (laissez-faire!) seria deixem-nos em paz!” p. 138. “Os fisiocratas chegaram à sua fé no comércio livre por um caminho indireto. Acreditavam, acima de tudo, na inviolabilidade da propriedade privada, particularmente na propriedade privada da terra. Por isso, acreditavam na liberdade – o direito do indivíduo fazer de sua propriedade o que melhor lhe agradasse, desde que não prejudicasse a outros. Atrás de sua argumentação a favor do comércio livre está a convicção de que o agricultor devia ter permissão para produzir o que quisesse para vender onde desejasse” p. 138. “Os fisiocratas abordavam todos os problemas sob o ângulo de seus efeitos na agricultura. Argumentavam ser a terra a única fonte de riqueza e o trabalho na terra o único trabalho produtivo... Diziam os fisiocratas que somente a AGRICULTURA fornece as matérias-primas essenciais à indústria e comércio. Embora concordasse que os artesãos podiam ter um papel útil na transformação da matéria-prima em produto acabado, julgavam que ele não contribuía para aumentar a riqueza. Depois de trabalhada, a matéria-prima valia mais, mas o seu aumento de valor não era igual ao total gasto para pagar ao artesão seu trabalho” p. 136. “Embora os economistas de hoje atribuem-lhe o mérito de mostrar que a riqueza de um país não deve ser estimada como uma soma fixa de mercadorias acumuladas, mas sim pela sua renda, não como um estoque, mas como um fluxo” p. 139. - Os fisiocratas afirmaram que a riqueza da nação não estava na quantidade de dinheiro que ela tinha, mas pela soma dos bens consumíveis anualmente reproduzidos pelo trabalho da sociedade. Afirmaram que a liberdade era o único caminho para o eficiente aumento da produção anual. - ADAN SMITH: “Se a maior produtividade é proporcionada pela divisão do trabalho, e a divisão do trabalho é limitada pelo tamanho do mercado, então, quanto maior este, tanto maior o aumento da produtividade – isto é, tanto maior a riqueza da nação” p. 142. - RESUMINDO: a) o aumento da produtividade ocorre com a divisão do trabalho; b) a divisão do trabalho aumenta ou diminui segundo o tamanho do mercado; c) o mercado se amplia ao máximo possível pelo comércio livre. Portanto, o comércio livre proporciona a maior produtividade. - O comércio livre entre os países permite-os especializar-se nas mercadorias que produzir a menor custo. Isso aumentará a riqueza total do mundo. CAP. 13 – “A velha ordem mudou...” (p. 144). - O governo francês do século XVIII taxava só os pobres. Devido a crise, o governo passou a pensar em taxar também os privilegiados. Turgor, ministro das finanças, em 1776, tentou por em prática algumas reformas. - A sociedade estava dividida em Estados: Clero – rezavam; Nobres – defendiam o estado; Pobres – pagam tributos. “O clero tinha cerca de 130.00 membros, e a nobreza aproximadamente 140.00” p. 145. - Os pobres somavam 25.000.000 de pessoas, “representavam mais de 95%” p. 145. - Os pobres “pagavam impostos aos Estados, dízimos ao clero e taxas feudais à nobreza” p. 146. - As extravagâncias da corte forçaram a cobrança de mais impostos. “Dos 22 milhões de camponeses existentes na França em 1700, havia apenas 1 milhão de servos, no sentido antigo... Mas isso não significava que as velhas taxas e serviços feudais tivessem desaparecido. Algumas sim, mas outras continuavam” p. 147. - SURPREENDENTE: o camponês pagava 80% de impostos de todo seu rendimento. “Dos 20% que restavam, ele tinha que alimentar, abrigar e vestir sua família” p. 147. - A revolução francesa eclodiu no século XVIII[1], no entanto, a situação deles do século XVII era bem pior. “Foi essa classe média, a burguesia, que provocou a Revolução Francesa, e que mais lucrou com ela” p. 148. “Quem era a burguesia? Eram os escritores, os doutores, os professores, os advogados, os juízes, os funcionários, as classes educadas; eram os mercadores, os fabricantes, os banqueiros – as classes abastadas, que já tinham direitos e queriam mais... precisavam lançar fora o jugo da lei feudal numa sociedade que realmente já não era feudal” p. 149. “A burguesia quase não possuía terras, mas possuíam o capital” p. 148. “A burguesia desejava que seu poder político correspondesse ao poder econômico que já tinha” p. 149. - O que é o terceiro estado? Tudo. O que ele tem? Nada. - Somente a burguesia conseguiu o que queria. Foi ela quem mais lucrou. - A revolução foi realizada pelas classes pobres e miseráveis. - “Liberdade, igualdade e fraternidade” foi gritada por todos, mas somente poucos desfrutaram do que ele dizia. “Na Inglaterra a vitória foi conquistada por uma decisão, e não com luta” p. 152. - (1640-1688): período de luta na história inglesa que só cessou quando a burguesia conquistou o direito de participar do governo. “Na Inglaterra, em 1689, e na França, em 1789, a luta pela liberdade do mercado resultou numa vitória da classe média. O ano de 1789 bem pode ser considerado como o fim da idade média, pois foi nele que a revolução francesa deu o golpe mortal no feudalismo” p. 153. - Três foram os golpes no feudalismo: Revolução Gloriosa, Reforma Protestante e Revolução Francesa. PARTE II – DO CAPITALISMO AO [...]? CAP. 14 – De onde vem o dinheiro? (p. 156) “O dinheiro só se torna capital quando é usado para adquirir mercadorias ou trabalho com a finalidade de vendê-los novamente, com lucro” p. 156. “Quando o dinheiro é empregado num empreendimento ou transação que dá lucro (ou promete dar), esse dinheiro se transforma em capital. É a diferença entre comprar para uso (fase pré-capitalista) e comprar para vender com o objetivo de ganhar (fase capitalista)” p. 157. “É a força de trabalho do operário que o capitalista compra para vender com lucro, mas é evidente que o capitalista não vende a força de trabalho de seu operário. O que ele realmente vende com lucro são as mercadorias” p. 157. “O lucro vem do fato de receber o trabalho um salário menor do que o valor da coisa produzida” p. 157. - COMO ACONTECEU A ACUMULAÇÃO PRIMITIVA? Da poupança? “A verdade não é tão bonita” p. 157. - O capital foi acumulado principalmente pelo comércio – termo elástico que incluí a conquista e a pirataria, o saque e a exploração. - ANTECEDENTES IDÍLICOS DO CAPITAL: a) descoberta do ouro na América; b) escravidão e extermínio das populações nativas; c) conquista e saque das Índias Orientais, d) escravidão dos negros. - A Holanda foi a principal nação capitalista do século XVII. Depois dela, vinha a Inglaterra. - Como os Ingleses conseguiram o capital necessário para a revolução industrial? Pelo trabalho árduo? Vida Comedida? Longa poupança? - O comércio com as colônias trouxe riqueza à metrópole. “Fez as primeiras fortunas dos comerciantes europeus” p. 160. A maior fonte de acumulação, no entanto, foi o comércio de seres humanos, os negros nativos da África. p. 160. “COMÉRCIO – conquista, pirataria, saque, exploração – essas as formas, portanto, pelas quais o capital necessário par iniciar a produção capitalista foi reunido” p. 161. - Quando os trabalhadores têm acesso aos próprios meios de produção, não trabalham para outro. Destituídos dos meios de produção, não têm escolha. Vendem a única coisa que lhes restam. “A história da criação de uma oferta necessária à produção capitalista deve, portanto, ser a história de como os trabalhadores foram privados dos meios de produção” p. 163. - Como diria Marx, o processo que abre caminho para o sistema capitalista é o mesmo que toma do trabalhador os méis de produção. - O trabalhador sem terra fica pronto para ir à indústria em busca de emprego. “Não pense que os donos de terra estavam expulsando os camponeses para proporcionar uma força de trabalho à indústria. Isso jamais lhes ocorreu. Estavam interessados apenas em arrancar maiores lucros da terra” (p.164). “Foi o próprio sistema fabril, que finalmente divorciou o trabalhador dos meios de produção na indústria, tal como já o divorciara da terra” p. 166. - O trabalho manual não tinha como competir com o mecanizado. - A formação da classe trabalhadora sem propriedades foi fundamental para o capitalismo industrial. “Os ensinamentos de Calvino estavam particularmente dentro do espírito da empresa capitalista” p. 168. “Era melhor cristão o homem cujas atividades fossem mais adequadas à aquisição de fortuna – ao espírito do capitalismo” p. 169. “Da próxima vez que alguém lhe disser que é da natureza humana o desejo de lucro, o leitor poderá mostrar como tal desejo se transformou em natureza humana. Mostrar que a poupança e o investimento praticamente desconhecidos na sociedade feudal, se tornaram um dever na sociedade capitalista para a glória de Deus” p. 170. “A mora, a política, a literatura e a religião da idade reuniram-se numa grande conspiração para promoção da poupança” p. 170. CAP. 15 – Revolução: na indústria, na agricultura e transporte (p.170). - A máquina já vinha ajudando o homem no trabalho diário já um bom tempo. “Mas com a associação da máquina à força do vapor ocorreu uma modificação importante no método de produção. O aparecimento da máquina movida a vapor foi o nascimento do sistema fabril em grande escala. Era possível ter fábricas sem máquinas, mas não era possível ter máquinas a vapor sem fábricas” p. 172. - Aumento da população, qual causa? P. 173. “Foi o movimento de fechamento de terras, de efeitos tão terríveis nos pobres, que possibilitou todo esse melhoramento notável na técnica, ciência e ferramentas agrícolas, em grande escala[...] O crescimento da população tornou lucrativa a agricultura” p. 174. “A revolução na indústria e agricultura foi acompanhada pela revolução nos transportes CAP. 16 – “A semente que semeais, outro colhe...” p. 175. - Qual foi a causa das greves? Todos os números do século XVIII na Inglaterra provam o progresso... pelos números de crescimento, a Inglaterra se mostrava como o paraíso mundial. - Para o trabalhador, as estatísticas não significavam nada. “Em termos de felicidade e bem-estar dos trabalhadores, aquelas estatísticas róseas diziam mentiras horríveis” p. 176. - O sistema fabril acentuou ainda mais a divisão social. “Os destruidores de máquinas, chamados luditas, ao lutarem contra a maquinaria sentiam que lutavam por um padrão de vida” p. 185. “Em 1812 o parlamento aprovou uma lei tornando possível de pena de morte a destruição das máquinas” p. 186. - O voto universal foi fruto de muita luta, não foi algo concedido espontaneamente. “Na Inglaterra, a classe trabalhadora alinhou-se atrás do movimento cartista, que reivindicava: 1. Sufrágio universal para os homens; 2. Pagamento aos membros eleitos [...] 3. Parlamentos atuais; [...] 5. Sufrágio secreto” p. 189. - O governo é instituído em defesa da propriedade privada, conseqüentemente, da defesa do rico contra o pobre. - A revolução industrial favoreceu a organização de sindicatos nacionais. Isso por que houve maior concentração de trabalhadores nas cidades. - LER CITAÇÃO DE ADAN SMITH SOBRE O SINDICATO E O AUMENTO DE SALÁRIO (parece ser marxista) p. 191. “Durante um quarto de século, na Inglaterra, a lei considerava ilegal que os trabalhadores se reunissem em associações para proteção de seus interesses” p. 191. - Os movimentos a favor de aumento salarial eram considerados ilegais também na França. - LER POEMA sobre a revolução industrial. CAP. 17 – “Leis naturais” de quem? (p.195). - O universo físico é regido por leis naturais. O conhecimento das leis permite ao homem planejar melhor as ações. “De mesmo modo os economistas da época da revolução industrial desenvolveram uma série de leis que, diziam, eram tão válidas para o mundo social e econômico como as leis dos cientistas para o mundo físico” p. 195. - A verdade científica sempre foi questionada. “A revolução industrial na Inglaterra trouxe consigo teorias econômicas baseadas nas condições da época. Chamamos as teorias da Revolução Industrial de Economia Clássica” p. 196. - As LEIS NATURAUS da economia clássica justificavam as ações dos homens de negócios: individualismo, liberdade, homo aeconômicos, etc. - O autor comenta Malthus e Ricardo. - A livre-concorrência “estava absolutamente certo para a Inglaterra, na época em que escreveu (Smith e Ricardo). A Revolução Industrial ocorreu ali primeiro; os industriais ingleses começaram antes dos industriais do resto do mundo, estando à frente deles em métodos, em máquinas, em facilidades de transporte. Os ingleses podiam e estavam prontos a cobrir a terra com os produtos de suas fábricas. Portanto, o comércio internacional livre lhes servia” p. 209. - Para os países atrasados o comércio internacional seria arrasador. Seria necessário que todos os países tivessem um nível econômico parecido. - Preço barato de mercadorias importadas significava ruína da indústria nacional. - O país rico não era aquele que tinha estoque de valores, mas aquele que detinha capacidade produtiva de valores. - O certo é que para as economias incipientes, as barreiras tarifárias deveria ser regra, a fim de proteger o mercado doméstico. “Somente depois que reunisse forças suficientes, ela poderia aventurar-se no comércio mundial livre, para lutar” p. 211. - A escola clássica não ficou ausente de opositores. Haviam vários descrentes do livre-comércio. Surge em pleno auge clássico, um alemão chamado Karl Marx. CAP.18 – “Trabalhadores de todos os países: uni-vos!” (p. 213). - A visão utópica elimina a pobreza, o desperdício, a má distribuição, a injustiça, a miséria. Estabelece a justiça, a saúde e felicidade para todos. Os utópicos sonhavam com um mundo anticapitalista. Para eles, os males capitalistas vinham do fato dos ricos terem os meios de produção. - Surge Marx desejando tal sociedade, mas contra as utopias. “Estava tremendamente interessado na sociedade do passado, em como evoluiu, desenvolveu-se e decaiu até se tornar a sociedade do presente. Estava tremendamente interessado na sociedade do presente porque desejava descobrir as forças que nela provocariam a modificação para a sociedade do futuro” p. 213. “Desejava saber que movimentava as rodas da sociedade capitalista onde vivia” p. 213. - Ao estudar o capitalismo, afirmou que o socialismo o sucederia. “... julgou que o socialismo viria como resultado de forças definidas que operavam na sociedade, sendo necessária uma classe trabalhadora revolucionária organizada para provocá-lo... a Economia de Marx pode ser chamada de Economia do Trabalhador, porque nela o trabalhador verifica seu importante lugar no esquema das coisas, e encontrava também esperanças no futuro” p. 213. - Para Marx o problema do Capitalismo está no fato dele se basear na exploração do trabalho. - Para Marx dizia que a exploração capitalista se dava se forma mais oculta e mascarada. A teoria da mais-valia arrancou-lhe a máscara. - A teoria do valor-trabalho foi defendida também por Smith, Ricardo e Stuart Mill. “Segundo essa doutrina, o valor das mercadorias depende do total de trabalho necessário para produzi-las” p. 214. - Marx diferencia o bem da mercadoria. O capitalismo produz mercadorias. “Um bem se transforma em mercadoria ao ser produzido não para o consumo direto, mas para a troca” p. 215. A troca é possível por terem algo em comum: o trabalho. - O valor é a quantidade de trabalho socialmente necessária para produzir a mercadoria. O trabalho é uma grandeza única, portanto, possível de ser comparável. - O assalariado é livre. Comemoremos!!! A única coisa que tem para vender é sua capacidade de trabalho. - Os donos dos meios de produção ganham empregando aqueles que não são. - O valor da força de trabalho? “Igual a todas as coisas necessárias à sua vida, e, como o suprimento do trabalho de ser permanente, ao custo da manutenção da família” p. 217. - A mercadoria “força de trabalho” é especial. Ela produz algo mais algo a mais quando é gasta. “Quando o trabalhador se aluga, vende sua força de trabalho não apenas pelo tempo que leva para produzir o valor de seus salários, mas pela extensão de todo um dia de trabalho” p. 218. - Tempo de trabalho necessário\ tempo de trabalho excedente. Parte do trabalho encerrado na mercadoria é trabalho não-pago. - RESUMO: a) o capitalismo se ocupa da produção de artigos para a venda; b) O valor da mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário encerrado na sua produção; c) O trabalhador não possui os meios de produção; d) É obrigado a vender a força de trabalho; e) O valor dela é igual ao necessário para mantê-la + família; f) o valor do salário que recebem é gerado em poucas horas ou dias de trabalho, ficando o lucro para o burguês; g) a mais-valia fica com o empregador. “A mais-valia é a medida da exploração do trabalho no sistema capitalista” p. 220. - Os utópicos olham a sociedade sem as distinções de classes. - Para Marx a sociedade não deveria mudar pelos esforços da classe dominante, mas pela ação revolucionária da classe trabalhadora. A luta de classe não podia ser falseada. Pois ela era considerada como o MOTOR DA HISTÓRIA. - Seria os acontecimentos históricos fruto do acaso? Acidentes? Fatos desconexos? Independentes? Nada tendo a ver com os outros? É resultado da ação dos grandes homens? “Se o leitor acredita nessas idéias, não é marxista”. - MARX: explica as modificações ocorridas na sociedade, como resultado das forças econômicas da sociedade. Os fatos são interdependentes. A história não um conjunto de fatos desordenados, “conforma-se a um padrão definido de leis que podem ser descobertas” p. 223. A história é apresentada como PROCESSO (movimento constante, desenvolvimento). “É a tentativa de estabelecer a ligação interna que dá continuidade a todo esse movimento e evolução” p. 223. A história expressa o processo evolutivo do próprio homem. “A chave de tudo são as relações existentes entre os homens como produtores. A forma pela qual os homens vivem é determinada pela forma de ganhar a vida – pelo modo de produção predominante dentro de qualquer sociedade, em determinado momento” p. 233. - As relações de produção correspondem a um determinado estágio do desenvolvimento da capacidade material de produção. “A soma total dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade” p. 224. “O MODO DE PRODUÇÃO da vida material determina o caráter geral dos processos de vida social política e espiritual. Não é as consciências dos homens que determina sua existência, mas sim o contrário, é sua existência social que determinada sua consciência”. Marx. - O conjunto de idéias de cada sociedade corresponde à fase do desenvolvimento econômico dela. - Marx explica a produção capitalista a partir de condições anteriores. Acentuou o papel da burguesia na transição para o capitalismo, para depois fazer o mesmo com o proletariado. “A transição do feudalismo para o capitalismo ocorreu porque estavam presentes novas forças produtivas e uma classe revolucionaria – a burguesia” p. 225. - Não se faz nascer uma sociedade só por que se quer. “As novas forças produtivas devem estar presentes, e com elas uma classe revolucionária cuja função é compreender e dirigir” p. 225. - Que prova Marx tinha que o capitalismo deveria desaparecer? Algumas características do sistema produtivo apontavam para isso: a) crescente concentração da riqueza; b) crescente substituição de mão-de-obra por máquinas; c) crescente miséria; d) crises periódicas do capitalismo; e) “a contradição fundamental da sociedade capitalista – o fato de que enquanto a produção em si é cada vez mais socializada, o resultado do trabalho coletivo, a apropriação, é privado, individual. O trabalho cria, o capital se apropria” p. 226. - Ao compreender que o instrumento para abolir o capitalismo era o proletariado, dedicou sua atenção ao preparo e organização da classe trabalhadora para suas lutas políticas e econômicas. - O principal programa política exposto por Marx foi a ABOLIÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA. CAP. 19 – “Eu anexaria os Planetas, se pudesse...” - O contra-ataque veio logo, surge a teoria do valor-utilidade: Jevons (1871), na Inglaterra; Manger (1871), na Áustria; Walras, na Suiça (1874), na Suiça. - A TEORIA DO VALOR = Teoria Marginal da Utilidade. O trabalho nada tem a ver com o valor. - O valor depende inteiramente da utilidade. A utilidade é um sentimento do comprador em relação à mercadoria. Se precisar muito dela, a utilidade será grande. Tanto maior a necessidade, maior a utilidade. “Sua utilidade para o comprador serve de medida do valor que lhe atribuirá, e portanto do preço que estará disposto a pagar por ela” p. 234. - O trabalho era uma grandeza objetiva, passível de ser medida. A utilidade é inteiramente subjetiva. Pessoas obtêm satisfações diferentes de uma mesma mercadoria. Mas um mesmo carro não poderá ser vendido por diferentes preços num mesmo mercado. - A utilidade como medida do valor, embora sendo subjetiva, pode ser medida – “a utilidade marginal”. - Explicação: p. 235-237. “A explicação mais simples é a seguinte: o total de satisfação que conseguimos de um artigo depende da quantidade que já possuímos. Quanto maior esta, tanto menor a satisfação[...] quanto mais temos de uma coisa, tanto menos desejamos da mesma coisa” p. 237. - Após a independência, os EUA não praticaram o livre comércio, pelo contrário, pôs em prática o protecionismo. As mercadorias inglesas tiveram muita dificuldade em pular essas barreiras. Os melhores fregueses então foram aqueles que adotaram o livre comércio, justamente aqueles que não conseguiram desenvolver sua indústria a ponto de fabricar aquilo necessário para atender a demanda interna. - Formaram-se os monopólios: fusão, concentração. “O monopólio não foi uma imposição, mas uma evolução da própria concorrência... O monopólio surgiu de dentro da concorrência” p. 239. - A produção em escala diminui o custo unitário, conseqüentemente, poderá ser vendida a um preço menor. - A concorrência sempre termina com a ruína dos capitalistas pequenos. O concorrente pode ser derrotado ou engolido (canibalismo). “Os trustes foram formados em toda parte, tentando colocar a ordem monopolista no caos da concorrência... O truste é qualquer forma de organização industrial, na produção e distribuição de qualquer mercadoria, que dispõe de controle bastante da oferta dessas mercadorias para modificar o preço em seu favor” p. 241. “O termo CARTEL designa uma associação baseada num acordo contratual entre industriais do mesmo ramo que, embora conservando sua independência legal, se associam com o objetivo de exercer uma influência monopolizadora no mercado” p. 242. - Os grandes concordam em fixar os preços e dividir os mercados. - Isso foi uma derrota à economia clássica que defendia que a concorrência manteria os preços ao custo de produção. O monopólio ajustou\controlou a oferta e a procura. O mercado deixou de ser livre e os preços foram fixados. - A Era do monopólio industrial foi também a era do monopólio bancário. “O crescimento da nação e todas as atividades delas estão nas mãos de poucos homens” p. 244. “Depois de 1870, o capitalismo à antiga passou a ser o capitalismo moderno. O capitalismo da livre concorrência tornou-se o capitalismo dos monopólios” p. 245. - As grandes potências de hoje não foram “mercados livres” para outros países. Quem abriu os mercados se deram mal, todas as potências buscaram nas colônias o escoadouro de suas mercadorias. “Foi na era do capitalismo monopolista que os excedentes industriais se apresentaram como um problema aos capitais da indústria, em toda parte. Julgaram ter encontrado a resposta do problema nas colônias. E foi então que o mapa da África sofreu modificações” p. 246. “Depois de 1870, a Inglaterra, França, Bélgica, Itália e Alemanha se uniram numa busca de colônia como mercados para produtos excedentes” p. 247. - Tais países produziam muito mais do que seu mercado doméstico poderia consumir. - As colônias também forneciam fontes de matérias-primas. - MOTIVOS DO IMPERIALISMO: a) mercado para os artigos excedentes; b) fornecimento de matérias-primas; c) excesso de capital – havia dinheiro demais nesses países, era preciso escoar através de empréstimos e outras atividades. “Enquanto o capitalismo continuar capitalismo, o capital excedente não será usado com o objetivo de elevar o padrão de vida das massas, pois isso significaria uma queda nos lucros dos capitalistas: ao invés disso, será usado para aumentar os lucros pela exportação do capital para o exterior, para os países atrasados” p. 249. “O imperialismo é a tentativa dos grandes controladores da indústria de ampliar o canal para o fluxo de sua riqueza excedente, procurando mercados estrangeiros e investimentos estrangeiros que consumam as mercadorias e o capital que não podem vender ou empregar internamente” J. Hobson, 1902. - Um país não precisa tornar-se colônia para ser explorado, basta ele fazer parte da “esfera de influência” de um país industrializado. - Após a divisão dos mercados o mundo não entra em paz, pois as relações de força estão sempre se modificando. CAP. 20 – O elo mais fraco (p. 256). - A crise não é novidade em nenhum período histórico. “Mas há uma nítida diferença entre as surgidas antes do crescimento capitalista e as que apareceram depois. Antes do século XVII o tipo mais comum de crise era provocado pelo fracasso das colheitas, pela guerra, ou por algum acontecimento anormal; eram caracterizadas pela escassez de alimento e outros artigos necessários, cujos preços se elevavam” p. 258. - A crise capitalista não é de escassez, mas pela superabundância. O paradoxo é a existência da pobreza em meio a abundância. “O fato é que no sistema capitalista, as mercadorias não são produzidas para uso, mas para troca – com lucro. Em nossa sociedade os minérios são extraídos da terra, as plantações são colhidas, os homens encontram trabalho, as rodas da indústria se movimentam, e as mercadorias são compradas e vendidas, somente quando os donos dos meios de produção – a classe capitalista – vêem uma oportunidade de lucro” p. 258. - Os capitalistas não investem para ganhar medalhas, mas lucro. Não se trabalha por patriotismo, não fazem serviço público. Somente o dinheiro tem importância. Não produzem para atender a demanda. - Explicações para as crises capitalistas p. 260-263. a) causas em anormalidades (revisão tarifária, revolução, algo que afete o curso normal das coisas); b) Diz que a causa está com as mudanças climáticas que afetam a produção; c) causas psicológicas – erros de otimismo e pessimismo; d) a causa está na instabilidade do padrão de valor; e) aumento da capacidade produtiva sem o aumento da capacidade aquisitiva dos compradores. A produção deixa de ser lucrativa e é reduzida, daí o desemprego e crise. f) outros dizem que é justamente o contrário, a crise é por falta de investimento. A poupança é danosa e com ela deveriam investir no assistencialismo ou na concessão de créditos. g) MARXISTAS: dizem não haver remédio para a crise. Enquanto outros procuram apontar soluções, os marxistas dizem que tais crises fazem parte do sistema, não há como livrar-se delas. Prova isso com a tal LEI DA TENÊNCIA DE REDUÇÃO DA TAXA DE LUCRO. “Os economistas argumentam que as crises são efeitos da elevação e queda do nível geral de preço, devido ao aumento ou decréscimo do volume de dinheiro em circulação” p. 263. “A análise de Marx se resume nisso: o capitalista tem de manter os lucros conservando baixos os salários; mas, com isso, destrói a capacidade aquisitiva de que depende a realização de lucros. Salários baixos tornam possíveis os altos lucros, mas ao mesmo tempo tornam os lucros impossíveis porque reduzem a procura de mercadorias. CONTRADIÇÃO INSOLÚVEL” p. 269. - Marx analisa as características do sistema de produção que determinaria o desaparecimento do capitalismo: a) concentração das riquezas; b) falência dos pequenos produtores; c) uso crescente de máquinas; d) crescente miséria. - Contradição fundamental: enquanto a produção em si é cada vez mais socializada, o resultado do trabalho coletivo tem apropriação privada. - Nas crises as forças produtivas são destruídas, pois existem produtos de mais no mercado. - Antes do sistema capitalista, as crises eram por outros motivos: má colheita, escassez de alimentos. No capitalismo, a crise é de superprodução, que produz a queda dos preços e a falência de indústrias. “A produção somente ocorre quando os donos dos meios de produção vêem oportunidade de lucro. Não produziram por solidariedade ou patriotismo”. - CAUSAS DA CRISE: a) alguns acreditam que a crise é externa ao sistema: terremotos, mudanças de gosto, etc. b) para os neoclássicos a causa é física: O clima afeta a plantação> diminui a renda; c) há quem diga que a causa é psicológica: otimismo ou pessimismo; d) outros colocam a culpa no sistema de troca; e) Marx afirma que não há solução para a crise dentro do sistema capitalista. - Ao reduzir o capital variável, a taxa de lucro decresce, pois o capital constante é estéreo. CAP. 21 – Rússia tem um plano (p. 270). “Dezessete anos ates do fim do século XIX, Karl Marx morria. Dezessete anos após o início do século XX, Karl Marx tornava a viver” p. 271. “A revolução é uma arte” p. 272. “Uma revolução real, profunda, do povo, para usar a expressão de Marx, é o processo incrivelmente complicado e penoso da morte de uma velha e o nascimento de uma nova ordem social, o ajustamento das vidas de dezenas de milhares de pessoas” p. 272. “Quem teme os lobos não vai a floresta”. John Reed. Dez dias que abalaram o mundo – a economia socialista é planificada. O objetivo é o bem-estar da maioria. - Os países capitalistas ficaram receosos de que a classe trabalhadora de seus respectivos países seguisse o exemplo soviético. “Na União Soviética é o próprio Estado que recebe os lucros da atividade econômica e dirige esses fundos aos canais onde, segundo o plano, serão mais úteis” p. 283. O estado monopoliza o comércio com o exterior. - Na economia planificada, a falha num setor econômica afeta todos. - Diziam que a economia soviética iria estagnar devido a falta da ganância em querer ir além, o incentivo que só o desejo pelo lucro dá. No socialismo existe a cordial concorrência entre os grupos de trabalho. - A crise de 29 não afetou o mundo socialista. [1] “quando o ano de 1789 chegou, cerca de um terço das terras da França estava em suas mãos” p. 148. HUBERMAN, Leo. História da Hiqueza do Homem. ed. 21º. Rio de Janeiro: LTC, 1986.