quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Acre, história e arquitetura: Tradição vernácula e moderna num ambiente de floresta

Por: Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa e Luiz Manoel do Eirado Amorim.


A história do Acre é desde cedo  lugar de encontros de culturas diferentes sendo mais um exuberante capítulo da história do Brasil.  Portugueses, nordestinos, sulistas, sírio-libaneses e bolivianos, entre outros, aliaram-se aos nativos da região, os indígenas, no amalgama dos saberes culturais e o entrelaçamento de raças, costumes e interesses, reproduzindo, guardando as devidas proporções, a época dos descobrimentos.
É, pois, o último ponto de expansão de fronteira brasileira ao noroeste da Amazônia, no fim da primeira metade do século XIX. Tem a origem de seu nome no dialeto indígena Ipurinã Wuawiukiru, que logo foi aportuguesado “Aquiry” - Acre - pelos recém-chegados. Pretende-se, aqui, contar uma breve história da arquitetura, e a aparição das primeiras cidades, naquela região, enfatizando as contradições harmônicas entre a tradição vernácula e moderna num ambiente de floresta.

Como um espaço natural desconhecido do mundo civilizado  sofreu um processo de ocupação lento, tendo uma primeira fase apenas geográfica, registrada cartograficamente pelas missões científicas e exploratórias, como a de William Chandless, um geógrafo enviado pela Royal Society of London em 1864, iniciando a efetivação da fronteira acreana,  forçada pelo extrativismo da nativa hevea brasiliensis, cujo látex produz a borracha vegetal.

A ocupação da Amazônia, porém, começou muito antes e teve momentos distintos: um de ordem pontual, com a coroa portuguesa, e subliminarmente com a francesa, a espanhola, a holandesa e inglesa; prosseguindo depois à fase da busca pelas drogas exóticas, o interesse pela pesquisa e logo a seguir a implementação  da atividade extrativa da hevea brasiliensis, e, por último, o pós-ciclo da borracha, marcado por uma ocupação caótica, ligada ao ciclo da agropecuária.

Na fase ainda geográfica, o Acre foi anexado à Província do Amazonas, fazendo parte da Comarca do Rio Negro. Em 1898, inicia-se a segunda fase, quando o ministro boliviano Paravincini estabeleceu o Departamento Boliviano do Acre, em Porto Alonso, com a intenção de arrendar aquele território aos Estados Unidos da América. Fato que acabou por provocar a Revolução Acreana que terminou com a assinatura do Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903, com a Bolívia, incorporando-o ao Brasil, e, depois de ter sido Território, passou à Estado em 1962.

O Acre atual faz divisa com Amazonas e Rondônia e fronteira com Peru e Bolívia. Sua extensão territorial é de 445 quilômetros no sentido norte-sul e 809 quilômetros entre o extremo leste-oeste. Sua população é de aproximadamente 546.732 habitantes distribuídos numa superfície territorial de 153.149,9 quilômetros quadrados, que corresponde a 3,9% da área amazônica brasileira e a 1,8% do território nacional (ZEE, 2000).

A selva inabitada pela civilização recebeu as primeiras intervenções do imperialismo com o capitalismo industrial,  vindas com a implantação dos seringais, cuja espacialidade de seu núcleo traduziu a primeira unidade produtiva da região, no caso para extração do látex e produção da borracha vegetal.

Há uma divergência de opiniões entre historiadores a respeito da gênesis das cidades acreanas. Uns acreditam que se desenvolveram a partir dos seringais e outros defendem que nasceram paralelamente às atividades dos mesmos, abrigando funções comerciais alternativas. Podemos considerar as duas questões, uma vez que as cidades estavam sempre próximas aos seringais e de uma forma ou de outra estabeleceram relações de dependência e de desenvolvimento.

Assim, nessa primeira fase geográfica, os aglomerados surgem de forma espontânea, seguindo os cursos das navegações ribeirinhas, responsáveis pela penetração no território tendo como marco para fixação a quantidade de seringas, como é sutilmente chamada a árvore que faz jorrar o ouro negro. Mas, logo em seguida, esses aglomerados recebem planos de organização espacial, projetados por engenheiros militares, já na república.

Os núcleos, então, ainda não tinham autonomia de cidades, coisa que só veio a acontecer em 1912/1913, mas passaram à condição de vilas. Como principais citaremos Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Xapuri e Sena Madureira, que tiveram diferentes tipos de colonizações e receberam de forma diferenciada os planos urbanísticos que a República Brasileira, distante, lhes enviava.

Xapuri foi a primeira capital do estado e teve planta idealizada pelo engenheiro militar Gastão Lobão em 1903, fortemente marcada pelo traçado reticulado que foi delineado praticamente in situ, nas quadras que já estavam ocupadas por ordem de Plácido de Castro, militar que comandou a Revolução Acreana.

Rio Branco, a atual capital do Estado, só veio a ter seu plano em 1908, quando Gabino Besouro, o prefeito do Departamento na época, designou os engenheiros Manoel  Maria de Figueiredo Aranha e Álvaro Conrado de Niemeyer, ambos 2º tenentes, para ordenar um projeto de arruamento e implantar, na margem oposta do rio Acre, em Penápolis, um posto meteorológico, quando a cidade veio ocupar as duas margens, tornando-a mais pitoresca, também com traçado reticulado.

Esses planos não foram imediatamente adotados, tornaram-se, porém, importantes nos traçados das cidades atuais. Caso diferente de Sena Madureira que foi desde logo destinada à sede do Departamento do Alto Purus e seu plano é marcado por uma riqueza de detalhes e beleza de desenho da implantação das obras civis e religiosas.

Cruzeiro do Sul teve, sob a batuta do coronel Gregório Thaumaturgo de Azevedo, seu plano elaborado pelos engenheiros José de Berredo, Manfredo Castanhede e Alferes Sulpício Cordovil que, além de locar residências na planta, desenhou a cadeia, a biblioteca, a usina de eletricidade e uma escola. Seu desenho foi comparado ao de Belo Horizonte de Aarão Reis (1896), exemplo de intervenção moderna nas cidades brasileiras, devido à semelhança do traçado e a ocupação da paisagem de seu sítio.

Essas cidades tornaram-se municípios pela lei federal nº 9.831/’1912, com datas diferentes durante o ano de 1913. Apesar disso continuaram por um longo tempo na incerteza administrativa entre os núcleos rurais dos seringais que eram auto-suficientes e as respectivas sedes das Comarcas. Só a partir de 1970, e a Ditadura Militar, que a urbanização, no então Estado, passa a ser  acelerada, já na fase da agropecuária.

Nesta época,  inicia-se um período marcado pela ideologia desenvolvimentista que resultou na degradação das atividades econômicas tradicionais e na exploração dos recursos regionais, causando um desmesurado desequilíbrio. Ao mesmo tempo em que, pelo tipo de ocupação e uso do solo, terminou por configurar, nos assentamentos urbanos, um acentuado processo de degradação sócio e ambiental. Vale lembrar que a legalização das terras no Acre, ainda é uma questão não muito bem resolvida, com um processo histórico de alternâncias de apropriação cultural.

Mas, o principal patrimônio histórico do Acre é seu próprio território, composto por uma admirável bacia hidrográfica e uma estupenda biodiversidade abrigada numa vegetação de floresta tropical densa e tropical aberta. Seu patrimônio edificado, porém, pode ser descrito através dos significados culturais que sua população lhe assegurou. Significados que foram elaborados harmoniosamente entre as contradições, como um bom solo brasileiro. E, também, por isso mesmo tem sua importância.

Na arquitetura encontramos uma forte presença da construção vernácula, com materiais locais, como: madeira, palha e terra, cuja linguagem ‘cabocla’ vem da interação do primitivo saber dos nativos, com as maneiras inovadoras trazidas pelos migrantes. Como exemplo a sede dos seringais, núcleo principal e administrativo, chamado de “barracão”, é o lugar dessas contradições harmônicas. Primeiramente foram construídos de forma improvisada, utilizando o taperi, para o abrigo, e o paperi para a defumação do látex da borracha.

Depois, em virtude da ampliação da atividade extrativista, modelos foram trazidos pré-cortados em madeira do Pará e de Manaus, com coberturas de telhas tipo Marselha, de cerâmica, compondo uma linguagem moderna do ecletismo. Junto com estes modelos foi trazido para o seringal Bom Destino uma capela toda em ferro. A junção dessas duas situações proporcionou um ‘modelo urbano’ que se verifica até hoje, aliando numa mesma composição estética a maneira vernácula e a erudita.

O processo de urbanização, forçou, no entanto, o aparecimento de outras técnicas construtivas, como a alvenaria de tijolos cozidos, incentivados na década de 20 do século XX, ancorada na proposta de higiene e sanitarismo, principalmente na época do presidente Afonso Pena. A cultura regional resistiu por longo tempo à nova técnica, apesar de todos os incentivos administrativos que foram empregados, e hoje a realidade é bastante diferente, tendo a alvenaria alcançado a supremacia na maioria das cidades e a madeira sendo utilizada nas colocações, que são as moradias dos seringueiros ou nas periferias urbanas.

O Patrimônio Histórico específico da arquitetura foi construído a princípio em madeira e seguiu um padrão que se tornou tradicional na região. A partir da década de 20 do século XX, essa particularidade tende à transformação. A primeira obra monumental foi construída por Hugo Carneiro. Trata-se do Palácio do Governo, com projeto do arquiteto Massler, vindo do Ceará, em alvenaria. Inaugurado na década de 40, substituiu o antigo prédio da Intendência, que era todo em madeira com uma interpretação do eclético.

Nessa época, a idéia de modernidade na construção em alvenaria se alastrou pelas cidades acreanas do interior, onde os prédios públicos e algumas residências passaram a ser construções mistas, apresentando tão somente as fachadas em alvenaria e algumas seguindo a estética protomoderna, que já se manifestava em outras cidades brasileiras. O taperi, a casa eclética, tipo chalet, e as novas construções contribuem para dar às cidades uma feição de mudança e modernidade convivendo com o padrão local regional.

Cada cidade buscou construir um monumento moderno, ainda que singelo, de forma especial. Cruzeiro do Sul recebeu o estilo alemão, devido à sua colonização. O estilo aparece com enxaimel e coberturas de caimento avantajado distribuído em várias águas, identificadas nas escolas e nas obras da Prelazia. A Igreja Nossa Senhora da Glória, mais recente, da década de 60, mistura no erudito uma linguagem regional e talvez indígena.

As obras religiosas de missionários católicos, alemães e italianos principalmente, assim como as dos protestantes americanos, foram importantes na formação de operários e mestres para a construção civil. Na construção da igreja de Xapuri, por exemplo, e da nova sede do Colégio Divina Providência, que substituiu o de madeira, foram treinados os operários que atuaram na construção do Colégio São José e da Catedral Nossa Senhora de Nazaré de Rio Branco. Sena Madureira ergue também sua igreja e em seu interior aparece uma sutil mistura do românico com o marajoara. E Tarauacá expõe uma inovação, um painel de mosaico colorido na fachada principal.
Mesmo considerando o isolamento do Estado, em relação às demais cidades brasileiras e entre as suas cidades, constatamos que lentamente ele não deixou de receber as idéias modernas com suas temporalidades, interagindo e modificando-as conforme o gosto local. O tradicional e o moderno sempre conviveram bem na região, conjugando a composição de culturas diferentes que amalgamaram o espaço de fronteira acreano.

Na década de 70 do século XX, um fato novo determina significativas intervenções qualitativas na arquitetura em geral, o que deve ser creditado às escolas de arquitetura do sul do país. A presença do IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil – ajuda a organizar e fundar no Estado o CREA - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura  e Agronomia – que passou de forma sistemática a promover a atuação de profissionais na construção civil, com pouquíssimos profissionais (só recentemente foi aberta uma escola de arquitetura em Rio Branco).

Os reflexos desse fato se manifestam a partir de então, e, na arquitetura são revelados procedimentos, também acompanhados de contradições, como a substituição mais efetiva de novos materiais construtivos e a incorporação de uma linguagem impessoal. Alguns projetos são, no entanto, inovadores pela sua resistência, não ao novo, mas ao compromisso com a qualidade e a tradição local.

Assim alguns desafios surgem, procurando a harmonia da convivência. Severiano Porto projeta, na década de 80, o complexo do SENAI, no bairro da Cadeia Velha. Uma arquitetura voltada para a racionalidade e desempenho, ancorada na premissa modernista, utilizando concreto armado, amplas aberturas com vidro e cobertura com telhas amianto para grandes vãos.

Outros projetos apostam na técnica tradicional em madeira, como a Casa do Índio (199?), construção destinada a acolher os índios na cidade. E, anterior a ela, o prédio do Laboratório de Madeira, na década de 80, hoje FUNTAC – Fundação de Tecnologia do Acre – construído com painéis aglomerados e encaixados em perfis de madeira.

Esse mesmo espírito de resistência, procurando manter o emprego da madeira na construção, tem o projeto para APADEQ – Associação de Parentes e Amigos de Dependentes Químicos – inaugurado em 2002. A proposta parte do uso do material orgânico que atua na percepção das pessoas. Foram utilizadas tábuas em madeira serrada, pregadas aos perfis, com paredes de duplo revestimento e cobertura com telha de barro e forro. Seu interior foge à idéia do ”panóptico”, prevalecendo a vantagem da convivência familiar.

Atualmente, o Poder Público Estadual tendo como prerrogativa o embelezamento das cidades,  tem promovido obras de reforma e restauro de vários monumentos. Uma delas é a do Palácio do Governo que foi reinaugurado em 2000. Construiu, entre outras, o Memorial dos Autonomistas e a sede do Barracão do Seringal Bom Destino, de reconhecido valor histórico, por ter abrigado o início da Revolução Acreana.

Também para projetos de urbanismo, a década de 70 tornou-se um marco. A acelerada urbanização causou um maior adensamento urbano, principalmente em Rio Branco. É o início da verticalização. Optou-se por reproduzir modelos projetados no sul para Habitação Popular. Assim surgem novos bairros alargando a estrutura urbana. Como exemplo da verticalização temos na década de 80 o Conjunto Manuel Julião, composto por vários blocos de quatro pavimentos, e cuja implantação teve o desenho completamente desconectado da malha urbana da época.

A resistência é presente também no urbanismo, quando é construído o Conjunto Adalberto Sena, todo em madeira, com implantação paisagística e infra-estrutura básica. A técnica utilizada é inovadora. São usadas réguas residuais que correm por dentro de perfis, ambos de madeira. Interessante ressaltar a excelente aceitação desse processo construtivo pelo usuário que pouco o modificou ao longo do tempo.
Na atualidade, o maior projeto de intervenção urbanística foi a implantação do Parque da Maternidade, em Rio Branco. Um enorme parque urbano que corta transversalmente quase toda a cidade, seguindo a trajetória do canal do mesmo nome. Nesse parque está presente em vitrine a cultura acreana, disposta a competir com a imagem de outras cidades, numa perspectiva de marketing e empreendedorismo, prerrogativas da globalização.

Como intervenção, apresenta-se também contraditoriamente ao parque da Maternidade a obra de recuperação do Calçadão da Gameleira, com a recuperação do “lugar”, baseada numa das temporalidades pela qual aquele espaço passou, seguindo exemplo da intervenção do Pelourinho na Bahia, além de outros parques urbanos na franja da cidade.

Finalizando este pequeno inventário sobre a arquitetura no Acre, e as contradições entre as formas tradicionais e as modernas de construir e ocupar aquele espaço, não podemos deixar de mencionar o amplo projeto de “referência cultural” que envolveu a atuação do líder ambientalista Chico Mendes. Nascido no Acre, Chico Mendes era um bravo e entusiasta defensor da identidade da região.

Como seringueiro, gritou contra essas contradições realçadas pela modernidade e liderou na década de 70 os “empates”, que eram barreiras humanas literais contra as motoserras que derrubavam a floresta, para transformá-la em fazendas nos moldes paulistas. Sua residência é hoje o Museu com o seu nome, que incentiva produção artística tradicional.

Por ser um progressista insistiu na necessidade de autonomia da população e da floresta, ressaltando a contradição do desenvolvimento, que por um lado prevê e comporta o crescimento e por outro necessita de limites para que haja sempre equilíbrio. Seus seguidores continuam lutando através de seu pensamento pela auto-sustentabilidade: usar sim e cada vez mais proteger.

Referências Bibliográficas

ACRE. Governo do Estado. Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Acre – ZEE – Aspectos socioeconômicos e ocupação territorial. Rio Branco: SECTMA, 2000. V.2.
ARENDT, Hannah. Entre o Passado e o Futuro. São Paulo: Perspectiva, 2000.
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
COSTA, Ana Lúcia. Madeira que cupim não rói – Xapuri em arquitetura, 1913 a 1945. Rio Branco: Gráfica do Tribunal de Justiça, 2002.
FALCÃO, Emílio. Álbum do Rio Acre. Pará, 1907.
FIOCRUZ. Amazônia: panoramas em dois tempos. Rio de Janeiro, sd.
IMAC. Atlas Geográfico Ambiental do Acre. Rio de Janeiro: Companhia Editora Gráfica Barbero, 1991.
KARP Vasquez, Pedro. Postaes do Brasil: 1893 – 1930. São Paulo: Metalivros, 2002.
REIS, José Carlos. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 4ª ed. – Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001.
SILVA, Jorge Araken Faria da. Marechal Gregório Thaumaturgo de Azevedo – O genial fundador da cidade de Cruzeiro do Sul. Rio Branco: Gráfica do Tribunal de Justiça, 2001.

sobre os autores

Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa é arquiteta (UGF), mestre em História (UFPE) e doutoranda em Desenvolvimento Urbano (MDU / UFPE).

Luiz Manoel do Eirado Amorim é arquiteto (UFPE), PhD UCL/University London e orientador do texto.

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.083/257

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Resumo de livro: Marc Bloch. Introdução à História (Apologia da História).



BLOCH, Marc. Introdução à História. São Paulo: Coleção Saber, Publiicação Europa-América.

O AUTOR
- Foi fuzilado pelos nazistas em 16 de junho de 1944. Se alistou-se no exército com 54 anos.
- A França derrotada, havia se prostrado frente aos nazistas.
- O assassinato tornou inconcluso o presente livro, que teve a primeira publicação datada em 1949.
- A função do historiador é esclarecer a doutos e não-doutos.
- Critica à busca desesperada pela origem dos fatos.
- O livro foi fruto de anotações do filho primogênito do autor.
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CAP. 1 – A História, os Homens e o Tempo.
- O valor da pesquisa se mede pela capacidade que ela tem de servir à ação (p. 16).
- A História não tem o direito de reivindicar o seu lugar entre os conhecimentos verdadeiramente dignos de esforços. Não se pode negar que qualquer ciência parece sempre ter algo incompleto se não for capaz de nos ajudar a viver melhor.  (p. 16).
- O problema da untilidade da História não se confundi com o da sua legitimidade propriamente intelectual.
- História é o produto mais perigoso que a química do cérebro já elaborou  (p. 18).
- Gostaríamos de dizer como e porque o historiador exerce seu ofício. O leitor deverá decidir sobre o merecimento da disciplina.
- A história não é apenas uma ciência em marcha. É também uma ciência na infância. Ela chegou tarde no conhecimento racional. Ela é velha sob a forma embrionária da narrativa e durante muito tempo atravaçada de ficção. Como análise ela é nova, esforça-se para penetrar os fatos de superfície  (p. 19).
- Um conhecimento merce o nome de científico ainda que não seja susceptível de demonstrações ou de imutáveis leis de repetição.
- A ideia de que o passado passa a ser objeto de uma ciência é absurda. O objeto da história é por natureza o homem.
- Os fatos humanos são fenômenos delicadíssimos, por isso é necessário uma linguagem finíssima. “É possível compreender perfeitamente aquilo que não formos capazes de dizer?  (p. 29).
“A História é a ciência do homem no tempo” p. 29.
“O cristianismo é uma religião histórica” p. 32.
“Nunca um fenômeno histórico se explica plenamente fora do estudo do seu momento”.
- O passado não explica todo o presente, será caso de julgar que o passado é inútil para a sua explicação?
“A ignorância do passado não se limita a prejudicar o conhecimento do presente; compromete, no presente, a própria ação” p. 40.
“A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. É inútil compreendermos o passado se nada soubermos do presente” p. 42.
“É sempre as nossas experiências quotidianas que vamos buscar os elementos que nos servem para a reconstrituição do passado”.
“O conhecimento do presente interessa mais diretamente ainda à inteligência do passado”.
“Não é certo que a luz dos documentos se torne mais viva a medida em que se desce ao longo do tempo” p. 44.
“Procedendo mecanicamente de trás para frente corremos o risco de perder o tempo à procura das causas dos fenômenos que depois se revelarão imaginários” p. 44.
“Isolado ninguém compreende as coisas se não por metade”.
- Uma ciência não é definida tão somente pelo seu objeto de estudo.
“Seus limites podem igulamente ser fixados pela própria natureza dos seus métodos”.

CAP. 2 – A Observação Histórica
“O historiador não pode, por definição, observar os fatos que estuda […] o historiador só chega depois da experiência terminada […] a experiência terá deixado resíduos que lhe serão  possíveis de serem olhados” p.
“O passado é um dado que coisa alguma pode modificar. Mas seu conhecimento, ainda está em progresso” p. 55.
“Os processos de investigação estão evoluindo, aprenderam a penetrar mais fundo na análise dos fatos sociais. A investigação histórica, a medida que foi progredindo, foi levada a confiar cada vez mais nas testemunhas” p. 58.
- O que mais interessa é aquilo que o texto dá a entender sem a inenção de assim fazê-lo.
“Uma boa investigação significa um bom questionário, forçando as testemunhas a falarem”.
“Os documentos só falam se soubermos interrogá-los. Tem que saber lê-los e provocá-los” p. 60.
“A investigação histórica adminite desde os primeiros passos, que o inquérito tenha já uma direção”.
“O historiador é influenciado por sua carga cultural ao fazer as perguntas”.
- Quanto mais a investigação procura alcançar os fatos profundos, menos lhe é permitido esperar outra lus que não seja a dos raios convergentes das testemunhas diversas da pretendida.
“Para dominar a interpretação dos testemunhos requer muita prática e estudo” p. 63.
“É indispensável que o historiador possa pelo menos ter uma noção de todas as principais técnicas do seu ofício” p. 63.
“Uma das tarefas mais difíceis do historiador é reunir os documentos de que pensa ter necessidade” p. 64.
“São as revoluções que abrem as protas dos arquivos e obrigam os ministros a fugir, antes de terem tempo para queimar os papéis secretos” p. 68.
- LANGLOIS: “Onde não há documento, não há história”.
“As fontes só falam se soubermos fazer-lhes as perguntas”.
CAP. 3 – A Crítica  
“Não se deve acreditar naquilo que as testemunhas dizem”.
“Nem todos os relatos são verídicos e os vestígios materiais podem também ser falsificados”.
“Havendo tinta, quem quer que seja pode escrever o que quer”.
- A dúvida examinadora distingue a mentira da verdade.
- MONTAIGNE: “o historiador só tem que narrar tal como as fontes nô-las aprensentam. Que nos dêem a história mais como a recebem do que como a entendem”.
- O historiador deve fazer os documentos falerem a fim de compreendê-los.
- Verificar o embuste não chega, é preciso descobrir-lhe também os motivos.
“Só vemos e ouvimos bem, aquilo que procuramos conhecer.
“O passado é um dado que já não dá lugar ao possível.” p.
-     A história abriu um caminho novo para aquilo que é verdadeiro e justo. p. 120.

CAP. 4 – A Análise Histórica
- RANKE: “O historiaor se propõe a descrever as coisas tal como se passaram”.
- Heródoto: “Contar o que aconteceu”.
- O historiador é convidado a ser apagar perante os fatos.
- DOIS PROBLEMAS: a) a imparcialidade história; b) história como tantativa de reproduzir ou como tentantiva de análise.
“O historiador sempre há de selecionar os fatos de acordo com sua perspecitva”.
“A ciência só decompõe o real para melhorar ou poder observá-lo.
“Toda análise exige uma lingaugem capaz de desenhar com precisão os contornos dos fatos”.
- Foi em vão que o positivismo pretendeu eliminar da ciência a ideia de causa.
“A história não é uma acumulação de comentários. A história não é acumulação de acontecimento de todas as espécies que se verificaram no passado. É a ciência das sociedades humanas”.
- Isso não reduziria a participação individual dos cidadãos?

CONCLUSÃO
- Dar ênfase à critíca dos documentos.
- Defende a “história problema”.
-   Critica a história passiva e conservadora ligada à elite.


BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

APRESENTAÇÃO
“Método Regressivo: temas do presente condiconam e delimitam o retorno, possível, ao passado” p. 7.
“Fundou nos idos de 1929, a prestigiosa escola dos Annales, que teria papel fundamental na constituição de um novo modelo de historiografia” p. 7.
“A história é filha de seu tempo” Luciem Febvre.
“Demonstrar a intenção do grupo de problematizar o próprio fazer histórico e sua capacidade de observar” p. 7.
“Cada época elenca temas que, no fundo, falam mais de suas próprias inquietações e convicções do que de tempos memoráveis” p. 7.
“Documentos são vestígios” Marc Bloch.
- Era contra a ideia de que o passado era um dado rígido, que ninguém podia alterar.
“O domento só fala se soubermos interrogá-los” Marc Bloch.
- 1924: publicação de OS REIS THAUMATURGOS.Estuda as mentalidades, o imaginário, as representações coletivas.
“Investindo em uma história de longa duração, de períodos históricos mais alargados e estruturas que se modificavam de maneira mais lenta e preguiçosa” p. 9.
- Marc Bloch foi o fundador da Antropologia Histórica, “ao selecionar evenos marados pelo seu contexto, mas acionados por estruturas e permanências sincrônicas, anteriores ao momento mais imediato” p. 9.
- ANNALES: a) combate a uma história narrativa e do acontecimento; b) defesa da história-probleam;  c) históra não só política, mas de todas as ações dos homens; d) interdisciplinaridade.
- 1939: publica o livro A Sociedade Feudal (900-1300). 
“A história serve à ação” Marc Bloch.
“A História se encontra desfavorável às certezas” Marc Bloch.

PREFÁCIO (Le Goff)
- 1929: Anais de História Econômica e Social.
-    O livro trata-se de um trabalho de metodologia histórica;
-    O autor era judeu.
-    LANGLOIS e SEIGNOBOS. Introdução aos estudos históricos (1901);
-    1969, Le Goff se torna co-editor dos Annales.
“Os Annales são, desde sua criação, apresentados como o órgão de um combate contra a conepção da história definida por Langlois e Seignobos”. p. 15.
“Essa obra é em primeiro lugar uma defesa da história. Essa defesa se exerce contra ataques explícitos por ele evocados na ogra, em especial os de PAUL VALERY” p. 16.
“Definir o historiador como um homem de ofício” p. 16.
“Assinalar o que deve ser a história e como deve trabalhar o historiador” p. 16.
- problema epistemológico da história.
- Longa Duração: “a civilização como objeto privilegiado do historiador e a disciplina histórica como testemunha e parte integrante da civilização” p. 17.
“A ciência históriaca é um fenômeno histórico” p. 18.
- Para Marc Bloch, a História é uma Ciência, e não uma literatura ou arte.
“O fato histório não é um fato positovo, mas o produto de uma construção ativa d sua parte para transformar a fonte em documento, e depois em problema” p. 19.
“Bloch recusa uma história que mutilaria o homem e que mutilaria a própria história” p. 20.
“Para permanecer uma ciência, a história deve se mexer, progredir; mas que qualquer outra, não pode parar. O historiador não pode ser sedentário” p. 21.
- A primeira geração dos annales sofreu muita influência de Durkheim.
“A história precisa dessas trocs com outras ciências humanas e sociais” p. 22.
- O ACONTECIMENTO recusado por Bloch é o dos sociólogos.
- BLOCH dava mais atenção ao coletivo do que ao indivíduo.
“AMPLIAR e APROFUNDAR é o essencial do movimento que continua, ainda hoje, a animar os historiadores toados pelo espírito dos Annales” p. 22.
- A historia das mentalidade é fruto dessa ampliação e aprofudamento.
- SLOGAN: “Novos problemas, novas abordagens, novos objetos”.
“A história é busca, portanto escolha” p. 24.
“Essa concepeção do tempo implica a renúncia ao ídolo da origem” p. 24.
- Compreender o presente pelo passado e o passado pelo presente. A história às avessas.
“A História só é feita recorrendo-se a uma multiplicidade de documentos e, por conseguinte, de técnicas” p. 27.
“Marc Bloch estende-se logamente obre um problem caríssimo a ele, o da busca do erro e da mentira” p. 29. Estudou as crenças medievais. “
“Crer não no que se via na realidade, mas naquilo que, em uma certa época, achava-se natural ver”.
- A história como ciencia do real.
“Marc Bloch, que detesta os historiadores que JULGAM em lugar de compreender, não deixa por isso de enraizar mais profundamente a história na VERDADE e na MORAL” p. 29.
“A história deve ser verdade” p. 29.
“A época da história dividida por reinados está pouco a pouco se acabando, mas a da tirania dos séculos – divisões artificiais, em todo caso – continua, e como nos livrar de feudalismo, capitalismo e de idade média?” p. 31.
- CIVILIZAÇÂO: esse conceito pretende agrancer tudo: crenças, economia, política, cultura, etc.
- O positivismo pretendia eliminar da ciência histórica a ideia de causa. Condenava também a causa única. “A vida, portanto, a história, é multipla em suas estruturas, em suas causas” p. 32.
“Este livro não é um ponto de chegada, mas um ponto de partia” p. 33.

INTRODUÇÃO
“O espetáculo das atividades humanas, que forma seu objeto específico é, mais que qualquer outro, feito para seduzir a imaginação dos homens” p. 44.
“Uma ciênca nos parecerá sempre ter algo de incompleto se não nos ajudar, cedo ou tarde, a viver melhor” p. 45.
“Não sentimos mais a obrigação e buscara impor a todos os objetos do conhecimento um modelo intelectual uniforme, inspirado nas ciências da natureza física” p. 49.
“Toda ciência tomada isoladamente não significa senão um fragmento do universal movimento rumo ao conhecimento” p. 50.

CAP. 1 – A História, os Homens e o Tempo (p. 51)
“São os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, serviçal da erudição” p. 54.
“O tempo da história, ao contrário, é o próprio plasmsa em que se engastam os fenômenos e como o lugar de sua inteligibilidade” p. 55.
“ […] esse tempo verdadeiro é, por natureza, um continuum. É também perpétua mudança. Da antítese desses dois atributos provém os grandes problemas da pesquisa histórica” p. 55.
“[...] obsessão das origens” p. 56.
“Será que, ao contrário, por origens entende-se as causas?” p. 56.
“Para o vocabulário corrente, as origens são um começo que explica. Pior ainda: que basta para explicar” p. 57.
 “[...] obsessão embriogênica” p. 57.
“Nada sendo mais difícil do que estabelecer entre as diversas ordens de conhecimento uma exata simultaneidade” p. 57.
- O valor do fenômeno parece se encontrar nas origens.
“[...] outro satânico inimigo da verdadeira história: a mania do julgamento” p. 58.
“Por mais intacta que suponhamos uma tradição, faltará sempre apresentar as razões de sua manutenção” p. 58.
“A fidelidade a uma crença é apenas um dos aspectos da vida geral do grupo no qual essa característica se manifesta” p. 58.
“Orignes do regime feudal, onde buscá-las? Alguns responderam em Roma. Outros na Germânia. As razões dessas miragens são evidentes […] Durante certa fase do nosso passado, ele nasceu de todo um clima social” p. 59.
“Em suma, nunca se explica plenamente um fenômeno histórico fora do estudo de seu momento” p. 60.
- Sobre o tempo presente (p. 62-63)
“A cada nova formação do espírito dá-se um passo atrás que, por cima da geração portadora de mudanças, liga os cérebros mais maleáveis aos mais cristalizados” p. 64.
“Não existe conhecimento verdadeiro sem certa escala de comparação” p. 65.
“É preciso que exista na natureza humana e nas sociedades humanas, um fundo permanente, sem o que os próprios nomes de homem e de sociedade nada iriam querer dizer” p. 65.
“Do mesmo modo, essa solidariedade das époas tem tanta força que entre elas os vínculos de inteligibilidade são verdadeiramente de sentido duplo. A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado […] vão esgotar-se em compreender o passado se nada sabe do presente” p. 65.
“As investigações históricas não sofrem de autarquia. Isolado, nenhum deles (especialistas) jamais compreenderá nada senão pela metade, mesmo nem seu próprio campo de estudos; e a única história verdadeira, que só pode ser feita através de ajuda mútua, é a história universal” p. 68.
“Resta nos perguntarmos se seundo nos aproximemos ou afastemos no momento presente, as próprias técnicas da investigação não deveriam ser tidas como essencialmente diferentes” p. 68.

CAP. 2 – A Observação Histórica (p. 69)
“É que os fatos humanos são mais complexos que quaisquer outros […] é indispensável que o historiadorr possua ao menos um vernizz de todas as principais técnicas de seu ofício” p. 81.
“Reunir os documentos que estima necessários é uma das tarefas mais difíceis do historiado” p. 82.
CAP. 3 – A Crítica (p. 89)
“Que a palavra das testenhas não deve ser obrigatoriamente digna de crédito, os mais ingênuos dos policiais sabem bem” p. 89.
“Os testemunhos mais insuspeitos em sua proveniência declarada não são, necessariamente, por isso, testemunhos verídicos” p. 97.
“Seria pueril pretender enumerar, em sua infinita variedade, as razões que podem levar alguém a mentir” p. 98.
“Muitas testemunhas se enganam com toda boa-fé” p. 102.
“A crítica do testemunho, que trabalha sobre realidades  psíquicas, permaecerá sempre uma arte de sensibilidade” p. 109.
“A ideia que orienta a argumentação reza que em uma mesma geração de uma mesma sociedade, reina uma similitude de hábitos e técnicas muito grande para permitir a qualquer indivíduo afastar-se sensivelmente da prática comum” p. 111.
“O passado é um dado que não deixa mais lugar para o possível” p. 117.
“A HISTÒRIA tem o direito de contar entre suas glórias mais seguras ter assim, ao elaborar sua técnica, aberto aos homens um novo caminho rumo à verdade e, por conseguinte, àquilo que é justo” p. 124.

CAP. 4 – A Análise Histórica (p. 125)
- Descrever os fatos; contar o que aconteceu; ofuscar-se diante do ocorrido; imparcialidade; passividade diante do fenômeno. POSITIVISMO.
“Por muito tempo o historiador passou por uma espécie de juiz dos infernos, encarregado de distribuir o elogio ou o vintupério aos heróis mortos” p. 125.
“Quem difere de nós passa, quase necessariamente por mau” p. 128.
“Assim como todo cientista, como todo cérebro que , simplesmente, percebe, o historiador escolhe e tria. Em uma palavra, analisa” p. 128.
“Resulta daí necessariamente que compreenderemos sempre melhor um fato humano, qualquer que seja, se já possuirmos a compreensão de outros fatos do mesmo gênero” p. 129.
“Os fenômenos humanos se orientam, antes de tudo, por cadeias de fenômeno semelhantes. Classificá-los por gênero é, portanto, desvelar linhas de força de uma eficácia capita. Mas, exclamarão alguns, as linhas que você estabelece entre os diversos modos da atividade humana estão apenas em seu espírito; não estão na realidade, onde tudo se confunde. Você usa, portanto, de abstração […] nenhuma ciência seria capaz de prescindir da abstração” p. 130
“Um nome abstrato jamais representa senão um rótulo de classificação. Tudo o que se tem direito de exigir dele é que agrupe os fatos segundo uma ordem útil para seu conhecimento” p. 130.
“A ciencia decompõe o real apenas a fim de melhor observá-lo” p. 131.
“A paisagem como unidade existe apenas em minha consciência” p. 132.
“O único ser de carne e osso é o homem, que reune ao mesmo tempo várias dimensões” p. 132.
“Para resumir, o vocabulário dos documentos não é, a seu modo, nada mais que um testemunho […] portanto, sujeito à crítica” p. 142.
“Um nomenclatura imposta ao passado acarretará sempre uma deformação […] Não há outra atitude razoável a tomar em relação a esses rótulos senão eliminá-los” p. 145.
“Capitalismo foi uma palavra útil […] Por ora, transportada, incautamente, através das civilizações as mais diversas, acaba, quase fatalmente, por mascarar suas originalidades” p. 145.
“Ele estende, restringe, deforma despoticamente as significações, sem advertir o leitor, sem nem sempre ele próprio de dar conta” p. 146.
“Nas historiografias que herdamos, a HISTÓRIA era, antes de tudo, uma crônica de líderes” p. 147.
“Na confusão de nosas classificações cronológicas, uma moda insinuou-se, bem recente […] com naturalidade, contamos por séculos” p. 149.
“Em suma, parece que distrbuímos, segundo um rigoroso ritmo pendular, arbitrariamente escolhido, realidades as quais essa regularidade é completamente estranha” p. 150.
“Os homens que nasceram num mesmo ambiente social, em datas próximas, sofrem necessariamente, em particular em seu período de formação, influências análogas […] Essa comunidade de marca, oriunda de uma comunidade de época, faz uma geração” p. 151.
''Quando falamos desta ou daquela geração […] evocamos uma imagem complexa, às vezes não sem discordância, mas da qual é natural reter antes de tudo os elementos verdadeiramente orientadores” p. 151.
“Quanto à periodicidade das gerações, é evidete que, a despeito dos devaneios pitagóricos de certos autores, nada tem de regular” p. 152.
“Mas uma geração representa apenas uma fase relativamente curta. As fases mais longas chamm-se civilizações” p. 152.
“Reconhecemos que em uma sociedae, seja qual for, tudo se liga e controla mutuamente: a estrutura política e social, a economia, as crenças” p. 152.
“O tempo humano, em resumo, permanecerá sempre rebelde tanto à implacável uniformidade como ao seccionamente rígido do tempo do relógio. Faltam-lhe medidas adequadas à variabilidade de seu ritmo […]” p. 153.

CAP. 5 – (Sem Título) / p. 155.
“Em vão o positivismo prentendeu eliminar da ciência a ideia de causa” p. 155.
“O mais especíico, aquele que, no leque das forças geradoras, de certo modo representa o elemento diferencial, recebe, de preferência, o nome de causa” p. 156.
“A realidade nos apresenta uma quantidade quase infinita de linhas de força, todas convergindo para o mesmo fenômeno. A escolh que fazemos entre elas pode muito bem se fundar em características, na prática, bastante dignas de atenção; não deixa de se tratar sempre de uma escolha” p. 156.
“A pesquisa histórica busca fluxo de ondas causais e não se assusta, uma vez que a vida assim os mostra, ao encontrá-los múltiplos” p. 157.
“Os fatos históricos são, por essência, psicológicos” p. 157.
O HOMO OECONOMICUS da velha economia não era uma sombra vã apenas porque supnham-no ocupado exclusivamente com seus interesses; a pior ilusão consistia em imaginar que pudesse fazer de seus interesses uma ideia tão nítica” p. 158.
“As reações humanas nada têm de um movimento de relojoaria, sempre engrenado no mesmo sentido” p. 158.
“Resumindo, as causas, em história, como em outros domínios, não são postuladas. São buscadas” p. 159.

domingo, 24 de outubro de 2010

RESUMO DE LIVRO: FENELON, Déa (Et all). MUITAS MEMÓRIAS, OUTRAS HISTÓRIAS.

FENELON, Déa (Et all).                                                                                                                                                                          MUITAS MUITAS MEMÓRIAS, OUTRAS HISTÓRIAS.

- Proposta é o intercâmbio e o diálogo.
- OBJETO: memória e história. “Entendendo-as como um campo atravessado por lutas de classe”.
- Questionar a “historiografia que se proclamam versões autorizadas dos acontecimentos e que produzem a invisibilidade e a inaudibilidade dos dissentes, bem como o apagamento dos vestígios de suas memórias e histórias”.
- Textos de agosto de 2003.

INTRODUÇÃO (FENELON, Déa. MUITAS MEMÓRIAS, OUTRAS HISTÓRIAS / p. 5).

“Quando sinalizamos para MUITAS MEMÓRIAS assumimos lidar com memória no plural” p. 5.
“É muito difícil colocar o S na História com H” p. 6.
“O que se busca era colocar em causa as relações entre memória e história” p. 6.
“Buscávamos retirar a História do campo da erudição neutra ou da mera especulação do passado e a colocávamos no campo da política, no melhor sentido da palavra [...] enfatizar o caráter ativo da memória na construção da história” p. 6.
“Como qualquer experiência humana, a memória é também um campo minado pelas lutas sociais. Um campo de luta política” p. 6.
A memória histórica constitui uma as formas mais poderosas e sutis de dominação e de legitimação” p. 6.
- Memórias alternativas são produzidas na vida cotidiana. “Reavivar lembranças e narrativas de sujeitos excluídos e dissidentes” p. 6.
- TEMA: memória, tradições e patrimônios. “Cultura, trabalho e cidade”.
- Quais as formas pelas quais a memória se materializa?
“Já formulamos que todo documento é monumento” p. 7.
- A diversidade do social se expressa na diversidade de formas, linguagens e suportes materiais.
- O desafio é produzir outras histórias. A historiografia acadêmica seria a única versão autorizada dos acontecimentos?
 -Valorizar a categoria ‘Trabalhador Urbano Assalariado’. “Preocupação com os movimentos sociais e não apenas com o movimento operário” p. 8.
Culturas é aqui tomada como expressão de todas as dimensões da vida, incluindo valores, sentimentos, emoções, hábitos, costumes e, portanto, associada a diferentes tipos de realidade” p. 9.
- Ao estudar as cidades, o que interessa para esse grupo de pesquisa são as relações sociais. Cidade foi considerada para além de suas manifestações políticas e culturais.
- Romperam com a tradição de tratar as fontes como sendo aquelas bem definidas e registradas, oficiais ou privadas.
- O documento “expressa sujeitos históricos, inseridos ativamente numa complexa rede de relações e acontecimentos e num intricado jogo de pressões e limites que é preciso problematizar” p. 10.
- A imprensa não era fonte de dados objetivos. A literatura não pode ser olhada como um espelho fiel da realidade.
“Considerar a imprensa um espaço articulador de projetos políticos e formador de opinião, e desnudar qualquer pretensão de universalidade” p. 10.
“Enfrentar as questões das linguagens nos levou até mesmo a aceitar que era possível produzir outras fontes” p. 10.
“O grande desafio que nos coloca é o de empreender o caminho de volta. É o de questionarmos a natureza e o lugar social de nossa atividade profissional e de nossa escrita” p. 11.
“Quando falávamos de ‘Muitas Memórias, Outras Histórias’ estávamos dizendo que há um lugar para disputar hegemonia e várias maneiras de produzir História no social” p. 11.
“Numa visão linear do tempo, considera-se o presente mero desdobramento do passado no qual já estava, de certa maneira, inscrito” p. 12.
“Propomos a construção de um olhar político, segundo o qual o tempo presente é uma dimensão que nos impulsiona, não importando o tema escolhido ou o tempo histórico em que situamos a nossa investigação. E mais: orienta-se para o futuro, já que a nossa perspectiva é a de transformar este presente e nossa inspiração é a vontade de buscar a utopia” p. 12.
- Que tipo de consciência histórica estamos trabalhando? “Que contribuição estamos fazendo em termos de traduzir em outras histórias aquelas memórias que foram obscurecidas, ou que nós estamos procurando trazer a tona?” p. 12.
“O debate historiográfico que propomos deverá produzir memórias” p. 13.

CAP. 1 - Produzindo notícias e histórias: algumas questões em torno da relação telégrafo e imprensa (1880/1920). [PAULA, Dilma. p. 41].

- A mídia define o que é importante para compreendermos o mundo hoje; “na construção de sentido e ordenamento da realidade social e na constituição de memórias hegemônicas” p. 14.
- A imprensa seria o lugar privilegiado para a realização de uma história imediata.
- Notícias apresentadas de forma fragmentada e hierarquizada. Descobrir o que não é dito, ou o insinuado.
- Reivindica um lugar de verdade. “Disputas e lutas que marcam a produção social da memória, considerando a imprensa um dos lugares privilegiados para a construção de sentidos para o presente e uma das práticas de memorização do acontecer social” p. 15.
- Precisamos desvendar como o processo de dominação opera no campo histórico para desqualificar memórias e histórias, procurando atribuir um sentido universal para experiências extremamente particulares.
“Cabe-nos voltar aos acontecimentos passados não apenas para conhecer sua história, mas para detectar as razões que o engendraram” p. 16.
Memória como um processo socialmente ativo de criação de fatos e significados que modela nossa consciência do ontem e do hoje, afirma algumas tendências, possibilidades e sujeitos, apagando outras memórias e histórias dissidentes” p. 16.
- Problematizar a intensidade e o poder da permanência de uma memória construída.
- Maneira pela qual, diferentes sujeitos históricos elaboram práticas sociais, organizam significados e valores.
- Notícia, carrega um “efeito de verdade”. Tornam evidentes algumas experiências e apagam outras.
“Minha preocupação tem sido acompanhar a articulação histórica das diversas linguagens instituintes das memórias, destacando a construção de temporalidades, projetos e sujeitos sociais” p. 18.
“Refletir sobre marcos construídos no interior das memórias de jornalistas” p. 19.
“Como as memórias trazem dimensões do passado e ajustam-nas às aspirações e compreensões do momento” p. 19.
“Proponho refletir sobre o movimento de constituição de uma rede mundial de comunicação e de difusão de informações – via telégrafo e imprensa” p. 19.
“A linguagem é produzida no mundo letrado e urbano” p. 20.
“A proposta é investigar a natureza das relações entre cultura letrada, periodismo e vida urbana e os processos de letramento do povo ou as formas como a cultura letrada populariza-se” p. 20.
- Propõe indagar sobre o lugar social onde estas linguagens foram produzidas.
- Informação como mercadoria, feita em série em um ritmo industrial. Paga-se pela exclusividade.
“Se em 1903 ainda eram necessários nove minutos para que uma mensagem telegráfica desse a volta ao mundo; às vésperas da primeira guerra, o tempo já havia sido reduzido para um segundo” p. 24.
- Vendia-se a idéia de que a matéria era isenta de sensacionalismo.
“É preciso indagar sobre o modo como os jornais constituem formas de olhar e narrar o acontecimento e de fixar uma versão entre outras possíveis” p. 26.
- A agência de notícia tem um caráter propagandístico.
“É preciso desvendar os significados, interesses e tensões que pontuaram a produção desses registros” p. 27.
“Os jornais organizam a narrativa sobre um determinado tempo histórico” p. 27.
- Jornal como um órgão de informação.
- Acontecimentos falsos, boatos, relatos tendenciosos etc eram espalhados via agência de notícias.
“A escolha das palavras, imagens, associações e cronologia construída não são aleatórias” p. 38.
- Uma forma de explicar o vivido, que aponta a existência de disputa e tensões.
“O jornal, como uma força social que atua no presente, seleciona e fatia aspectos da realidade que constituirão a pauta do debate público” p. 40.

CAP. 2 – O Futuro traído pelo passado: a produção do esquecimento sobre as ferrovias brasileiras (PAULA, Dilma, p. 40).

- Os trens interurbanos de passageiros foram progressivamente extintos no Brasil desde a década de 1960.
- Em 2004, completam-se 150 anos de ferrovias no Brasil.
- Tentou-se fazer das ferrovias brasileiras sinônimo de atraso e de déficits operacionais.
- Os trilhos foram liberados para transporte de cargas.
- O incentivo governamental passou a ser dirigido para as rodovias.
“Tratar-se-á, neste trabalho, do processo de construção do esquecimento sobre as ferrovias brasileiras, por meio da sua constante depreciação como transporte coletivo, principalmente daqueles que se ocupavam do transporte interurbano e inter-regional de passageiros” p. 43.
“No âmbito da grande empresa, pela construção da imagem do atraso e da ineficiência” p. 43.
- Tem a ver com a História e a Memória.
A memória é um campo minado pelas lutas sociais [...] a MEMÓRIA HISTÓRICA constitui uma das formas mais poderosas e sutis da dominação e da legitimação do poder. Tem sido sempre o poder estabelecido que definiu, ao longo do tempo histórico, quais memórias e quais histórias deveriam ser consideradas para que se pudesse se estabelecer uma certa Memória para cunhar uma História certa” p. 43.
Sob a voz de uma memória única foi instituída a política anti-ferroviária e pró-transporte automotivo e individual. Reivindica-se, portanto, o direito a outras memórias e a outras históricas” p. 44.
- Antes as ferrovias eram consideradas como as condutoras da civilização aos mais distantes rincões.
- Setembro de 1853, Mauá encenou a primeira viagem de trem na história do Brasil.
“Precisou-se construir a noção de obsolescência de outros meios de transporte para que o investimento ferroviário se justifique e alcançasse status de hegemonia” p. 48.
“A ideologia do progresso incorporada ao transporte ferroviário moldou hábitos sociais, provocou sonhos e esperanças” p. 48.
“Símbolo da modernidade e do futurismo, o tem chegava às cidades desenhando uma nova paisagem urbana, criando bairros e redefinindo o sentido do tempo” p. 49.
“Símbolo da modernidade e do futurismo, o trem chegava às cidades desenhando uma nova paisagem urgana, criando bairros e redefinindo o sentido do tempo” p. 49.
- A chegada do trem marcava as horas e trazia as noticias.
- A ferrovia provocou em São Paulo e em outras regiões o surgimento das primeiras fábricas.
“Esse movimento veloz de construir e de destruir é o mais fascinante e o mais amedrontador do mundo capitalista” p. 51.
“Quaisquer que sejam os interesses dos grupos dominantes, tudo se justifica ideologicamente” p. 51.
- Moderno, Modernização, Progresso, Desenvolvimento = são termos utilizados pelas classes hegemônicas e que justificaram grandes projetos de transformações, transformações essas que faltou ao encontro da maioria da sociedade. 
“Nos projetos de modernização, a idéia de novo assume um papel central” p. 52.
“Mais do que uma ruptura com o passado, o novo significa um esquecimento, uma ausência de passado” p. 53.
“O moderno também está fadado à destruição”.
- O trem ficou obsoleto, novos projetos de transportes provocaram desajustes sociais. A função do trem foi reavaliada.
“A partir de 1913, paralelamente ao discurso de ineficiência da ferrovia, que já se esboçava, surgiram os argumentos de exaltação às rodovias, defendidos pelos diversos governantes e assessores” p. 53.
“Difusão da idéia e valores positivos associados ao automóvel” p. 53.
- Com o processo de industrialização do país, as ferrovias vão, aos poucos, perdendo espaço para as ferrovias.
“O argumento do progresso se vincularia, agora, à rodovia, sendo a ferrovia identificada ao arcaísmo e, principalmente, ao antieconômico” p. 55.
- Kubitschek (1956-60): incentivo às indústrias automobilísticas.
“A obsolescência dos trens não significou o seu desaparecimento imediato e por inteiro” p. 56.
“Os símbolos do que significaram as ferrovias estão presentes em vários caminhos da memória, nos quais o passado não está apaziguado” p. 57.
Cabe investigar o sentido destas lembranças para as pessoas que vivenciaram o transporte ferroviário” p. 56.
- A referência ao trem na literatura é uma constante.
“Qualquer pessoa que tenha vivido às margens de ferrovias ou que foi ferroviário tem muitas histórias a contar” p. 59.
“A memória frequenta as ruínas” p. 59.
- Máquinas abandonadas. “Seriam esses os símbolos da modernidade brasileira?” p. 60.
- As cidades foram crescendo, engolindo o trajeto ferroviário.
“Como poderíamos enfrentar a dinâmica lembrança-esquecimento sobre as ferrovias?” p. 62.
LER p. 62.
“Nos documentos oficiais em fins do século XIX, a ferrovia era tratada como o veículo por excelência da integração nacional e veículo condutor da civilização. O discurso modifica-se a partir da década de 1950” p. 65.
- Como qualquer serviço público, as ferrovias padeciam de problemas, no entanto, o governo não se preocupou em saná-los, pelo contrário, potencializava-os com o fim asfixiá-lo financeiramente.
- O trabalho tenta investigar como foi aceita a argumentação de que a ferrovia era inviável. “A investigação sobre a produção dessa aceitação e desse esquecimento” p. 66.
- Estudar a ferrovia como um símbolo de um tempo que já se foi. Recordar o passado.

CAP. 3 –   Os carnavais na cidade de São Paulo nos anos de 1938 a 1945. (SILVA, Zélia. p. 68).

“O objetivo é aprofundar as relações entre memória social e história, tematizando a compreensão dos processos de constituição da memória dominante em diferenciadas dimensões do cotidiano de sujeitos sociais”.
“As interpretações sobre os festejos carnavalescos brincados no país durante os anos de 1938 a 1945 apresentam elementos incontestes dessa imbricação entre memória e história” p. 68.
- Ao nacionalizar as festas consagrou-se uma das faces da identidade do país.
“Ao longo da década de 1930, houve alterações significativas na estrutura do carnaval praticado no Rio de Janeiro” p. 70.
“Os festejos ocorridos nesse período estiveram envolto por algumas peculiaridades que os distinguem dos momentos anteriores” p. 70.
- O cenário bélico afeta as festas carnavalescas.
“O foco das proibições alterou-se significativamente em relação à década anterior” p. 72.
- Antigo e Novo Modelo.
“Tendência ao esvaziamento do carnaval de rua em favor de um carnaval em espaços fechados” p. 77.
- Qualquer desfile passou a precisar de autorização oficial.
“Se seria ético o país mergulhar na folia, quando brasileiros morriam nos campos de batalha”.
“As determinações dos órgãos de censura não eram poucas” p. 84.
- A autora mostra que as proibições não foram aceitas sem que houvesse resistências.
- Algumas letras de músicas mostram isso.
“Os festejos carnavalescos estiveram marcados por muitas proibições e um policiamento ostensivo, notadamente voltado para o controle das manifestações populares que tiveram suas manifestações cerceadas” p. 92.

CAP. 4 – Os famintos do Ceará. (BARBOSA, Marta. P. 94)

- Trabalho a respeito de 14 fotos sobre a seca do Ceará (1877-78).
- Pessoas transformadas em objeto fotográfico. Por que tais fotos? Quem as tirou? Quais motivos? Etc.
- Recompor uma visão crítica do presente. LER p. 95.
“As imagens da fome e do Ceará Seco indiciam um percurso de constituição de uma memória que se tornou dominante, que é preciso problematizar sua natureza e seus significados, e, ao mesmo tempo, articular uma visibilidade para outras histórias e memórias” p. 95.
“Valeria a pena pensar em processos que constituíram a seca como uma recorrência temática” p. 95.
- O relato quase cotidiano sobre a seca.
- AS FOTOS: narrativa da imagem, a experiência do olhar e ler não só pelas palavras escritas, mas pela composição de imagens escolhidas.
“O trabalho com essas fotografias sugere pensar na construção de uma memória que começa a se forjar na articulação entre textos escritos e imagens” p. 96.
- Produção de imagens que institui a memória.
- Fala sobre o papel da imprensa em divulgar as fotos.
- Fome no terceiro mundo associada ao processo de colonização.
- Miséria exposta, horror declarado, estampado nas primeiras páginas dos jornais.
- A foto dar credibilidade ao texto jornalístico.
- Barthes: “A foto não é cópia do passado, mas parte dele”.
- As fotos passaram a fazer parte da estética dos famintos no Ceará.
- A eloquência das palavras supera o poder das palavras.
- Recordar o vivido.
“Retorno a esse campo de narrativa não para com ele concordar ou para não esquecê-lo. Retorno para interroga-lo sobre o que escondeu e silenciou” p. 115.

CAP. 5 – Muitas memórias, outras histórias: cultura e o sujeito na história (KHOURY, Yara. P. 116). 

 - É uma reflexão entre cultura e memória.
“Considerando a história um processo de disputas entre forças sociais, envolvendo valores e sentimentos, tanto quanto interesses, e dispostos a pensar e avaliar a vida cotidiana em sua dimensão histórica, a ponderar sobre significados políticos das desigualdades sociais, nossas atenções se voltam para modos como os processos sociais criam significações e como essas interferem na própria história. Nesse sentido é que entendemos e lidamos com cultura como todo um modo de vida” p. 117.
- As significações podem constituir-se em memórias.
- O historiador pode construir conhecimento que também pode se instituir em memória.
“Uso da história oral como um meio de aproximação de modos específicos como as pessoas vivem e interpretam os processos sociais” p. 117.
- Cidade como referência cultural.
“A memória como campo de disputas e instrumentos de poder, ao explorarmos modos como memória e história se cruzam e interagem nas problemáticas sociais sobre as quais nos debruçamos, vamos observando como memórias se instituem e circulam, como são apropriadas e se transformam na experiência social vivida” p. 118.
“Por meio do diálogo com pessoas, observamos, de maneira especial, modos como lidam com o passado e como esse passado continua a interpelar o presente enquanto valores e referências” p. 118.
“[...] sempre dentro da perspectiva de construir um conhecimento histórico que incorpore toda a experiência humana” p. 118.
“Centramo-nos na cultura como um campo fértil para identificar diferenças e descobrir tendências que questionam a ordem; procuramos desconstruir processos sociais de produção da memória e analisar as mútuas relações entre história é memória” p. 118.
- Memória enquanto prática política. “Tomamos a cultura popular como o espaço da diferença” p. 119.
“Insistindo na vitalidade de cultura e considerando o sentido incorporador da tradição, uma versão do passado que se liga ao presente e o ratifica, politizamos o trabalho com a cultura e a memória, assim como nossas temáticas de estudo e nossos próprios procedimentos na construção do conhecimento histórico” p. 119.
“Pluralizar os lugares sociais como também atuar no sentido de procurar garantir a liberdade de criar e modificar fronteiras, alianças e formas estabelecidas” p. 119.
“Há uma luta contínua e necessariamente irregular e desigual por parte da cultura dominante, cujo propósito é desorganizar e reorganizar constantemente a cultura popular, confinar suas definições e fórmulas dentro de uma gama mais completa de formas dominantes. Mas há também pontos de resistências [...] posições estratégicas que se conquistam e se perdem” p. 120.
“A cultura não transcende a política, mas represente os termos em que a política se articula” p. 122.
“De que maneira temos lidado com as peculiaridades e a dinâmica da experiência e da consciência social articulada pelas falas e pela memória, impregnada nos gestos, comportamentos, costumes, rituais” p. 122.
“Como produzir um texto forjado por múltiplas vozes, atribuindo-lhes o devido valor como atos interpretativos significativos da realidade em estudo?” p. 123.
“Como restituir, com a narrativa final que construímos, um produto no qual as pessoas com as quais entrevistamos, possam se reconhecer [...]”.
“Narrativas como práticas sociais, como expressões da experiência vivida, enraizadas no social e interferindo nele” p. 123.
As narrativas como práticas sociais, portanto em movimento, na dinâmica do social vivida. Tanto fatos como narrativas se constroem nas e pelas redes de relações em que estão inseridos [...] as narrativas como atos interpretativos, como processos constantes de atribuição de significados, como expressões da consciência de cada um sobre a realidade vivida. Dialogar com as pessoas supõe apreender os sentidos que cada um dos fatos narrados e das pessoas que narram assume nas problemáticas estudadas” p. 123.
“Nosso propósito de lidar com as narrativas como práticas que se forjam na experiência vivida e que, também intervêm nela, nos coloca o desafio de adotar e desenvolver procedimentos que nos possibilitem apreender o trabalho da consciência e incorporá-lo na explicação histórica. Ao narrar, as pessoas interpretam a realidade vivida, construindo enredos sobre essa realidade, a partir de seu próprio ponto de vista” p. 125.
“As pessoas são um amálgama de muitas experiências, que se constituem e se transformam na vida diária, vivendo e se comunicando através de fronteiras e transitando entre elas” p. 127.
“Lidar com as narrativas requer pensa-las no movimento da história [...] o desafio é de pensar e explorar como elas se forjam e se realimentam, na natureza contraditória das relações sociais, como as pessoas as incorporam e as subvertem nas pressões e nos limites da vida diária” p. 127.
“As instituições de comunicação exercem um papel de destaque, ao produzirem enunciados que participam ativamente de construção de sentidos que se generalizam rapidamente, como parte da cultura pública” p. 127.
“Nosso interesse é trabalhar a narrativa oral no movimento da história; como uma prática social, ela tem sua própria historicidade; o narrador constrói sua identidade, fazendo uso dos elementos de sua cultura e historicidade e recorrendo a um passado significado e resinificado no presente” p. 128.
“Lidar com o tempo nas narrativas é também lidar com a memória. A fala oral está sempre impregnada de memória. Nas conversas estamos em contato direto com modos como as pessoas costumam significar o passado, marcar e usar o tempo” p. 128.
“Estamos habituados a uma divisão sacralizada do tempo histórico em grandes períodos”.
“Datar um evento não é simplesmente coloca-lo numa sequência cronológica, mas decidir a que sequencia pertence” p. 128.
“As entrevistas estão impregnadas de relações, oferecendo um terreno rico para apreensão de padrões sociais e culturais e suas transformações” p. 129.
“Ao narrar, as pessoas estão sempre fazendo referência ao passado e projetando imagens, numa relação imbricada com a consciência de si mesmos, ou daquilo que elas próprias aspiram ser na realidade social” p. 131.
“Os silêncios são poderosas acumulações de energia, invisível, mas carregadas de significados” p. 132.
“Nosso compromisso de inventariar as diferenças e de perceber tendências que tencionam na dinâmica social, passa, também, por compreender processos sociais de construção de memórias” p. 132.
“[...] recorrendo também a discursos e práticas simbólicas” p. 132.
“O esforço é de compreender como as pessoas se apropriam e usam o passado, no campo complexo das discutas dentro das quais se constituem” p. 133.
“A construção das hegemonias se faz na relação com os que elas dominam e estes também se fazem e se reconhecem nessa relação”.
“Explorar modos como memórias se fazem e se refazem, tencionam e se articulam na experiência diária, transições, costumes e sensibilidades” p. 133.
“Essas questão da memória articula-se, também, à problemática das identidades” p. 134.
“O potencial da memória como prática política ainda requer, igualmente, muita exploração e reflexão sobre modos como grupos marginalizados ou deslocados se refazem, reconstroem territórios e identidades, reinventam tradições e práticas culturais” p. 134.
“O processo de lembrar a guerra entre os kosovares parece ligar grupos de diferentes nacionalidades; construções de memória de sofrimento para aproximá-los” p. 135.
“Vamos procurando compreender como esses processos históricos criam significações numa relação de forças complexas e imbricada e como essas atuam nessa mesma realidade, influindo nos rumos da transformação histórica” p. 136.
“Na história oral, as versões pessoais sobre experiências vividas e compartilhadas são representativas de horizontes que se colocam para muitos outros”.
Lidar com significados que se elaboram na consciência das pessoas no embate de forças da dinâmica social é também um exercício de análise e compreensão dos enredos como fatos e dos processos de visão como elementos significativos na explicação histórica” p. 136.
“Vamos refletindo sobre a história oral como um campo de exercício do direito de falar, de expressar as interpretações e perspectivas de cada um” p. 137.

CAP. 6 – Encantos e desencantos da cidade: trajetórias, cultura e memória de trabalhadores pobres de Uberlândia [1970/2000]. (ALMEIDA, Paulo. P. 139)

- Cidade como espaço de múltiplas experiências.
“Buscamos entender os modos de viver, de morar, de lutar, de trabalhar e de se divertir dos moradores que impregnam e constituem cotidianamente a cultura urbana” p. 139.
“O espaço urbano se caracteriza como um espaço de disputas, sempre conflituoso, sempre presente nas diversas dimensões. Isso porque a cidade e suas instituições devem ser vistas como espaços de produção de conflituosas relações que historicamente podem exprimir-se em dominação, cooptação ou consenso, mas também em insubordinação e resistência” p. 141.
“Fazendo emergir a cidade da experiência e das expectativas de seus moradores, a luta pela habitação ganha contornos dramáticos à medida que entra em confronto com a legislação urbana” p. 141.
“A cidade aparece aqui como um local privilegiado para entender as novas dinâmicas das relações entre Capital e Trabalho” p. 141.
- Sujeitos reais, com seus dramas, expectativas e sonhos.
“tentativa de visualizar sujeitos coletivos, homogeneizando, com isso, expectativas e visões de mundo” p. 143.
“Como qualquer experiência humana, a MEMÓRIA é também um campo minado pelas lutas sociais: um campo de luta política, de verdades que se batem, no qual esforços de ocultação e de clarificação estão presentes na luta entre sujeitos históricos diversos que produzem diferentes versões, interpretações, valores e práticas culturais. A memória histórica constitui uma das formas mais poderosas e sutis da dominação e da legitimação do poder. Reconhecemos que tem sido sempre o poder estabelecido que definiu, ao longo do tempo histórico, quais memórias e quais histórias deveriam ser consideradas para que se pudessem se estabelecer uma certa Memória para cunhar uma histórica certa” p. 144.
- Priorizou as fontes orais.
- Pesquisar a formação, sedimentação e perpetuação de certa memória.
- Embate de uma memória que parece cristalizada, “representada pela presença hegemônica de registros oficiais e de uma memória mais amplamente reconhecida e autorizada” p. 144.
“não creio muito em algo que se coloque como uma memória coletiva, porque não vejo onde está situada uma memória coletiva, a não ser nas atividades intelectuais de cada um dos indivíduos. Uma memória coletiva institucionalizada pode transformar-se nessas memórias hegemônicas” p. 145.
“Os momentos de vida na cidade tornam-se ou são profundamente marcados por expectativas passadas” p. 147.
“[...]  a forma como os sujeitos elaboram suas trajetórias, o que chamamos experiências” p. 148.
“A impressão é de que no imaginário desses sujeitos sociais a cidade representava uma esperança” p. 150.
- Como a imagem da cidade é trabalhada por parte do Governo. O migrante se decepcionou.
“É sugestivo notar como o mundo desconhecido é qualificado” p. 154.
CAP. 7 – Muitas memórias, outras histórias de uma cidade. Lembranças e experiências de viveres urbanas em Uberlândia. (CALVO, Célia. P. 155).

- Direto a OUTRAS HISTÓRIAS e MUITAS MEMÓRIAS.
“... enquanto cidadãos, interpretavam por meio de suas experiências sociais o processo de mudanças da cidade, focalizando os seus viveres sociais o processo de mudança da cidade” p. 156.
“Busquei produzir memórias com as quais fosse possível uma compreensão crítica do processo de transformação da cidade, destacando a construção de temporalidades, de projetos e, sobretudo, de sujeitos que elegiam outros momentos, processos e lugares para cunhar os sentidos das mudanças da cidade, vislumbrando, assim, as articulações históricas entre as memórias hegemônicas e aquelas que foram produzidas e que tinham como referência as mudanças nos espaços, territórios e viveres cotidianos” p. 156.
- O que seria no imaginário popular a expressão do progresso? Como tal imaginário foi construído.
- Como certos significados prevalecem sobre outros. LUGAR DE MEMÓRIA.
- descrevem os fatos da maneira como vivenciaram.
“uma cidade cujo valor se constituía nos significados que atribuíam a esse passado”. A importância dado ao passado para tal comunidade.
“Poderiam dizer que estes narradores sentiam falta desses viveres por meio dos quais atribuíam um sentido às práticas e aos costumes compartilhados e identificados nas relações com a cidade” p. 172.

CAP. 8 – Memórias de um trauma: o massacre na GEB (Brasília/1959). [CARDOSO, Heloísa. p. 173]

“A forma como as pessoas vão construindo, ao longo do tempo, as suas visões sobre ele possibilita-nos entender essa memória como um campo de disputas, onde se luta para minimizar ou para ressaltar certos elementos, que colocam determinados sujeitos no centro de uma história sobre a construção da cidade de Brasília [...] as memórias recompõem histórias da cidade” p. 174.
“As memórias constroem uma história da cidade, os elementos ressaltados pelos dirigentes do projeto de construção voltam-se para as ações que possibilitam engrandecer a iniciativa pessoal e a modernidade da nação” p. 176.
- HÁ uma distância muito grande entre as interpretações dadas pelos entrevistados.
“A proposta do documentário é a de apresentar a construção de Brasília pelo avesso” p. 176.
“Lembrança e esquecimento compõem uma interpretação que se coloca fora do tempo cronológico” p. 176.
- Na voz oficial, o que deve ser lembrado é a ousadia da empreitada. Os assassinatos não compõem a narrativa da execução do projeto. “reforçar os aspectos heroicos do empreendimento” p. 178. Os trabalhadores não aparecem como sujeitos históricos nessa narrativa.
- Deixar o trabalhador de Brasília falar é fazer emergir outros significados na tensão do diálogo.
“Reafirmar o episódio como massacre, matança ou fuzilamento é a versão que une os diversos depoimentos de trabalhadores” p. 180.
- Na voz oficial, os assassinatos se justificam, pois “os homens que se dirigiram para a região de Brasília eram uns bichos” p. 180.
- A jornada de trabalho era de até 20h ao dia.
“É tarefa nossa, como historiadores, entender não o evento em si, mas os mecanismos da lembrança que colocam fatos como eventos e como eles são capazes de articular o passado no presente” p. 182.
- Qual o significado de Brasília para os familiares dos assassinados? Ou para os trabalhadores?
“A sua fala constrói no presente uma versão sobre o que aconteceu” p. 184.
“Aa história oral lhes possibilita a afirmação como sujeitos históricos” p. 185.
“Lidamos com uma memória dividida, não só como oposição entre uma hegemonia, de um lado, e a dos trabalhadores, de outro, mas também porque ambas são múltiplas” p. 189.
O episódio de 1959 se insere em um tempo histórico que é exaltado pela história oficial. Esta privilegia os caminhos do desenvolvimento e insere neles a construção de Brasília como linha única de interpretação da história do país” p. 189.
“Com os trabalhadores, ele recupera os seus significados do que foi viver nos canteiros de obras. Esses significados foram atravessando o tempo e se transformaram em símbolo contra a opressão” p. 189.

CAP. 9 – Algumas experiências no diálogo com memórias. (SILVA, Dalva. p. 191)

- Os relatos são buscados de acordo com interesses de uma memória histórica, “construída e forjada pelo poder no processo de dominação e que se pretende hegemônica” p. 191.
- Interpretar a memória a partir do sujeito, do lugar dele, da situação da entrevista, etc.
As memórias ganham novo sentido a cada vez que são narradas, pois a EXPERIÊNCIA faz-se presente na interpretação que o narrador faz do passado quando a memória é arrancada do esquecimento” p. 192.
Entre o momento vivido e aquele no qual o sujeito narra, há uma trajetória que deve ser levada e consideração e analisada como processo de composição” p. 192.
“Os relatos orais são vida e sentido a outros tipos de documentação” p. 193.
“Cada entrevistado compôs suas memórias a partir do momento vivido e do lugar social em que se encontrava no momento da entrevista” p. 194.
“São muitas memórias expressas das mais diversas formas, como os documentos escritos, as imagens, os objetos, o espaço, a arte, a música, a poesia, a oralidade [...] que constituem fontes para muitas histórias” p. 205.

CAP. 10 – Trabalhadores e memórias: disputas, conquistas e perdas na cidade (VARUSSA, Rinaldo. P. 208).

- Faz um estudo da história de Jundiaí (SP), nas décadas de 1940/60.
- Durante o período a cidade passou por um processo de industrialização.
- Houve uma divulgação de que a agricultura estava vinculada ao atraso.
-Momento em que a ferrovia perde o status para as rodovias.
- O progresso, no entanto, não é confirmado na fala de diferentes sujeitos sociais.
- As narrativas tornam possível a percepção dos mecanismos de tomada de consciência dos sujeitos acerca dos processos experimentados e como eles forjam valores, significados e situam-se em relação ao social. “Narrar e estabelecer um fato dá-se indissociavelmente à produção de significado pelos depoentes” p. 215.
- Na agricultura figurava a coerção física. Na fábrica, o poder da lei. Fala da tomada de consciência do trabalhador da nova ordem.
- fala do desenraizamento.
“Os lugares que ocupavam na cidade, quando da realização do depoimento, é significativo na produção de outras memórias e histórias” p. 223.

CAP. 11 –Tempo, trajetórias de vida e trabalho de carroceiros na cidade (Uberlândia – 1970/1998). [MORAIS, Sérgio. P. 225].

“Este artigo trata de mudanças ocorridas nos modos de trabalho e vida de trabalhadores que viviam da utilização de carroças, em um momento particular da história das relações urbanas de Uberlândia, compreendido entre os anos de 1970 e 90”.
- Contexto: remoção da rede ferroviária para a implantação de asfalto. Promessas de casas populares.
- História de sujeitos silenciados, insignificantes para a história oficial.
- O discurso era que era preciso mudar o presente para se ter um futuro. O tempo das carroças era findo. Esses não se enquadravam no projeto de modernização da cidade.
- A pesquisa girou em torno de saber como os carroceiros interpretavam as mudanças nos espaços urbanos.
“A procura desses significados faz-se possível e necessário por intermédio da busca dos sentidos produzidos pelas fontes orais” p. 231.
- Valorizar as múltiplas vozes, “em que os interlocutores possam se reconhecer como protagonistas das relações históricas vividas” p. 232.
“Busca de sentidos e significados atribuídos pelos trabalhadores às modificações nas maneiras de trabalhar” p. 232.
- Trabalha com fontes orais.
- Analisa o sentido do trabalho na fala dos entrevistados.

CAP. 12 – Tempos e Memórias. Caminhos para o sertanejo: quem conta histórias? (VASCONCELOS, Regina. P. 247)

- Processo de constituição de memórias dominantes. Articulação histórica das linguagens instituintes de memória.
- Pesquisa sobre as histórias de assombração de sertanejos.
- As histórias refletem as relações dos sujeitos com o espaço do sertão.
- Estudar objeto que, para muitos, não tinha nada de histórico.
- A justifica está no fato de se trabalhar com memórias de sertanejos.
- História de pessoas comuns.
“eu desejava explorar significados diferentes da vida de sertanejos [...] os sentidos daquelas práticas de contação de histórias” p. 249.
- Por trás da abstração POVO, existem pessoas concretas, diferenciadas.
- O resultado da pesquisa serviu para combater a visão estereotipada do sertanejo.
- Entrevista girava em torno do cotidiano dos entrevistados.
“As histórias são importantes no sentido de que compuseram uma prática de transmissão de saberes entre gerações e vizinhos” p. 259.

CAP. 13 – Memórias e experiências: desafios da investigação histórica. (OLIVEIRA, Lêda. P. 263).

- Fala sobre o exercício da representação popular no conselho municipal de saúde em juiz de fora. Partindo da narrativa dos conselheiros.
“É a história oral que possibilita ouvir, conhecer os significados que atribuem às suas experiências, desvendar como vivem sua vida e como explicam as experiências vividas. Isto não representa descolar o sujeito da estrutura social, das condições materiais de existência. Ao contrário, implica analisar como esta estrutura é vivida, construída e modificada por sujeitos sociais [...] A história oral possibilita ao investigador conhecer o sujeito na sua singularidade, isto é, permite que este se manifeste no contexto de sua vida” p. 267.
- Experiência Social = “Este modo expressa a sua forma de produzir e reproduzir a sua vida envolvendo seus sentimentos, valores, crenças, costumes e práticas sociais” p. 267.
“Acredito que a história oral possibilita redescobrir a trama do real a partir dos sujeitos sociais que a vivem e que, recuperando as experiências de vida, podem-se trazer à tona os valores, a cultura e os significados que os sujeitos imprimem à sua prática social, a sua vida, é que optei pela metodologia de história oral para abordar meu objeto de estudo” p. 267.
“Trazer à tona estas experiências vividas pelos sujeitos significa recuperá-las, reconstruí-las na relação que se estabelece entre pesquisador e entrevistado [...] a entrevista constitui-se nesta relação e, como tal, ela se expressa na experiência de vida, posições, visões de mundo do narrador e pesquisador” p. 267.
- Debate a teoria da Memória Individual e Memória Coletiva.
“A memória é um processo ativo de criação de fatos e significados na experiência social e que pode ser compartilhada, mas só se materializa nas reminiscências e nos discursos individuais” p. 269.
“Não entendemos os macro acontecimentos se não entendermos os micro traumas” p. 271.
“Micro traumas que se produzem e reproduzem na vida cotidiana, nesta vida de todos os dias que se manifesta e é vivida de forma complexa, contraditória e ambígua” p. 271.
Compreendi que partir das experiências vividas pelos sujeitos sociais no seu cotidiano significa recuperar, decifrar sobre histórias em seus acontecimentos diários, buscando conhecer aquilo que muitas vezes fica oculto por traz de grandes eventos, deixando pouco espaço para conhecer o que os sujeitos pensam, fazem, dizem e como organizam suas vidas, as relações com familiares, amigos, vizinhos, enfim, suas relações sociais” p. 271.
- Autora faz citações de Thompson.
- Cultura = Modos de vida. “[...] busca desvendar o como e o porquê homens e mulheres se apresentam, se posicionam diante da vida, lutam por seus sonhos, reivindicam seus direitos” p. 273.
“O exercício da representação foi e é processo vivido e construído no dia-a-dia de cada conselheiro” p. 273.
- Os entrevistados como sujeitos sociais, fazedores de história.
“Trabalhar essas memórias significou perceber como elas constroem marcos, referenciais e significou perceber como elas constroem marcos, referências e significados comuns, definem momentos significativos para os movimentos populares” p. 276.

CAP. 14 – Memória popular: teoria, política, método. (Grupo Memória Popular, p. 282).

- Memória Popular e história oral.
- Debater a própria escrita da histórica.
- Memória Popular como objeto de estudo. Tal objeto é uma dimensão da prática política.
“O primeiro passo para definir memória popular é ampliar o que entendemos por escrita da história e, portanto, o que implica a interpretação historiográfica, para ampliar a produção histórica bem além dos limites da escrita da história acadêmica” p. 283.
“Devemos incluir todas as maneiras pelas quais um sentido do passado é construído em nossa sociedade [...] chamaremos isso de a produção social da memória” p. 283.
“Nessa produção coletiva, todos participam, embora de maneira desigual. Todo mundo, nesse sentido, é um historiador” p. 283.
- Quais as maneiras pelas quais a memória social é produzida?
“É útil distinguir as principais maneiras pelas quais se produzem os sentidos do passado: por meio de representações públicas e por meio da memória privada” p. 283.
- Representações públicas da história. Como tais representações afetam as concepções individuais.
“Podemos falar de memória dominante. Este termo aponta para o poder e a universalidade das representações históricas, suas conexões com instituições dominantes e o papel que desempenham na obtenção de consenso e na construção de aliança nos processos de políticas formais” p. 284.
“Mas não queremos insinuar que concepções do passado que se tornam dominantes no campo das representações públicas são monoliticamente instalas nem que possuem credibilidade em todo lugar. Nem todas as representações que alcançam domínio público são dominantes” p. 284.
“A memória dominante é produzida no transcorrer dessas lutas e sempre está exposta a contestação” p. 284.
“Certas representações conseguem centralidade e se vangloriam enormemente; outras são marginalizadas, ou excluídas ou reformuladas. Mas os critérios de sucesso aqui não são os da verdade: representações dominantes podem ser aquelas que são as mais ideológicas, as que mais obviamente correspondem aos estereótipos homogeneizados do mito” p. 284.
“Nos estudos concretos, memórias privadas não podem ser facilmente desvinculadas dos efeitos dos discursos históricos dominantes [...] memórias do passado são, como todas as formas de senso comum, construções singulares complexas parecendo m tipo de geologia, sedimentação seletiva de vestígios do passado” p. 286.
“A luta constante pela hegemonia tem um interesse substancial na história e particularmente na memória popular [...] trata-se de políticas da história e dimensões históricas da política” p. 287.
“Mais importante, talvez, é a forma pela qual nos tornamos autoconscientes da formação de nossas crenças de senso comum, aquelas de que nos apropriamos dentro do nosso meio social e cultural imediato. Estas crenças tem uma história e também são produzidas em determinados processos. O importante é resgatar seu inventário” p. 287.
- A história oral é base para uma memória popular.

Cap. 15 - O momento da minha vida: funções do tempo na história oral. (PORTELLI, Alessandro. P. 296). 

“Contar uma estória é tomar as armas contra a ameaça do tempo, resistir ao tempo ou controlar o tempo. O contar uma estória preserva o narrador do esquecimento; a estória constrói a identidade do narrador e o legado que ela ou ele deixa para o futuro” p. 296.
“Tentarei aqui explorar a relação entre o tempo e a narração de estórias” p. 297.
- A tarefa do mito é resistir ao tempo.
“As histórias de vida e os relatos pessoais dependem do tempo, pelo simples fato de sofrerem acréscimos e subtrações em cada dia da vida do narrador” p. 298.
“Uma história de vida é algo vivo. Sempre é um trabalho em evolução, no qual os narradores examinam a imagem do se próprio passado enquanto caminham” p. 298.
“Nenhuma estória será contada duas vezes de forma idêntica. Cada estória que ouvimos é única” p. 298.
- As circunstância influencia o relato do entrevistado.
“O tempo tira tanto quanto acrescenta (às narrativas orais)” p. 299.
“A interação entre o historiador e a fonte cria uma forma completamente nova de contar estórias” p. 299.
“A própria tecnologia do nosso trabalho é transformar o oral em palavra escrita, congelar material fluido em um momento arbitrário no tempo” p. 300.
“Enquanto os historiadores estão interessados em reconstruir o passado, os narradores estão interessados em projetar uma imagem” p. 300.
“Tudo acontecendo ao mesmo tempo, todos inseparáveis uns dos outros, mas logicamente distintos. Se tomarmos uma unidade de tempo convencional, um segundo ou um ano, sempre há mais de um evento acontecendo nele. Cada unidade de tempo convencional pode ser usada para designar mais de um evento” p. 306.
- As narrações podem privilegiar fatos pessoais, coletivos ou institucionais.
“Datar um evento não é simplesmente coloca-lo na sequencia linear, mas também decidir a qual sequencia pertence” p. 307.
“Os eventos são identificados de acordo com um padrão de significado. O que para nós é um evento, pode ser um não-evento para o montanhês de Nuto Revelli” p. 309.
“Um evento histórico não é meramente realidade objetiva, mas é construída como tal por uma rede de relações em que está inserida. A atribuição de relevância e sentido é um ato cultural e depende de uma interação complexa de padrões individuais e coletivos” p. 309.
- Evento = ponto no tempo. Isso é uma ilusão, pois ele se estende em todas as direções.
“Tanto o conceito de evento quanto o de duração parecem ser mais uma questão de como olhamos/narramos a histórica, do que algo inscrito”.
“A presença da escrita libera a oralidade do peso da memória” p. 311.