segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A PUTARIA NO CONGRESSO PODE ACABAR: PEC de iniciativa popular: Lei de Reforma do Congresso (proposta de emenda à Constituição Federal)

PEC de iniciativa popular: Lei de Reforma do Congresso (proposta de emenda à Constituição Federal)


1. O congressista será assalariado somente durante o mandato. Não haverá ‘aposentadoria por tempo de parlamentar’, mas contará o prazo de mandato exercido para agregar ao seu tempo de serviço junto ao INSS referente à sua profissão civil. 

2. O Congresso (congressistas e funcionários) contribui para o INSS. Toda a contribuição (passada, presente e futura) para o fundo atual de aposentadoria do Congresso passará para o regime do INSS imediatamente. Os senhores Congressistas participarão dos benefícios dentro do regime do INSS exatamente como todos outros brasileiros. O fundo de aposentadoria não pode ser usado para qualquer outra finalidade. 

3. Os senhores congressistas e assessores devem pagar seus planos de aposentadoria, assim como todos os brasileiros.

4. Aos Congressistas fica vedado aumentar seus próprios salários e gratificações fora dos padrões do crescimento de salários da população em geral, no mesmo período. 

5. O Congresso e seus agregados perdem seus atuais seguros de saúde pagos pelos contribuintes e passam a participar do mesmo sistema de saúde do povo brasileiro.

6. O Congresso deve igualmente cumprir todas as leis que impõe ao povo brasileiro, sem qualquer imunidade que não aquela referente à total liberdade de expressão quando na tribuna do Congresso.

7. Exercer um mandato no Congresso é uma honra e uma responsabilidade, não uma carreira. Parlamentares não devem servir em mais de duas legislaturas consecutivas. 

8. É vedada a atividade de lobista ou de ‘consultor’ quando o objeto tiver qualquer laço com a causa pública.



Só podia ser de Iniciativa Popular mesmo, por que os Partidos de Esquerda já tiveram hegemonia no Congresso mais não moveu "uma palha" se quer para acabar com isso. Ainda querem ser Comunistas e os Donos da ética. Não falo dos partidos de direita, pois toda essa herança maldita das regalias tem origem neles. Mais me decepcionou a Hipocresia do PT!

sábado, 22 de setembro de 2012

A História Acreana nas Ondas do Rádio (por Francisco de Moura, o Dandão)

GOYCOCHÊA, Castilhos. Plácido de Castro na História do Acre.


GOYCOCHEA. Plácido de Castro na História do Acre from Eduardo Carneiro



Nasceu no Rio Grande do Sul em 8 de agosto de 1891. Estudou na Escola Militar do Rio de Janeiro, que não concluiu, transferindo-se para a Bahia, onde se formou em engenharia civil (1914). Mais tarde fixou-se na cidade de Barra Mansa, Rio de Janeiro, onde fez carreira política e tornou-se prefeito. Estreitamente ligado ao movimento positivista, procurou aplicar essa doutrina à historiografia brasileira, com a intenção de oferecer uma interpretação, auto-intitulada de científica, do processo de nossa formação histórica como nação. Faleceu no Rio de Janeiro em 6 de fevereiro de 1969, com 78 anos incompletos.


Bibliografia:
Mosaico :  fantasias.  Rio de Janeiro, 1922.
O testamento sentimental romance de Lysandro de Sant’ Iago : romance.  Rio de Janeiro : Cia. Nacional Artes Gráficas, 1928.  159 p.
A Volta à natureza.  Niterói : Escolas Salesianas, 1931.  39 p.  (Discurso pronunciado na solenidade da colação de grau de engenheiro agrônomo).
No circo da vida, contos.   Rio de Janeiro : A. Coelho Branco Filho, 1932.
O super humanismo de Vicente Licínio : notas para um ensaio.  Rio de Janeiro : Alba, 1934.  190 p.
A alma heróica das coxilhas.  Rio de Janeiro : Typ. do Jornal do Comércio & C., 1935.
O gaúcho na vida política brasileira : golpe de vista.  Porto Alegre : Globo, 1935.  207 p.
Símbolo da realidade brasileira.  Rio de Janeiro : Typ. do Jornal do Comércio, 1936.  41 p.
A guerra dos farrapos.  Estudo - prefácio Souza Docca.  Rio de Janeiro : Carbone & Cia., 1938.  294 p.
Singularidades : ensaios.  Niterói : Typ. do Diário Oficial, 1938.  150 p.
Espírito de uma classe.  Rio de Janeiro, 1939.
Três poetas fluminenses : João Borges Rodrigues de Carvalho e Luís Pistarini.  Rio de Janeiro : Irmãos Di Giorgio, 1939.  24 p.  il.
O Almirante Barão de Ladário : official de honra.  Rio de Janeiro, 1940.  34 p.  il.
O condado de Porto Alegre.  Porto Alegre : OF. Gráf. da Livraria do Globo, 1940.  12 p.  (Separata dos Anais do III Congresso sul - riograndense de história e geografia,  Porto Alegre, 1940).
Plácido de Castro, o derradeiro bandeirante.  Porto Alegre : Of.  Gráf. da Livraria do Globo, 1940.  40 p.  il.  (Conferência realizada no Centro Gaúcho, de São Paulo, em 12 de outubro de 1939).
O espírito militar na questão acreana : ensaio.  Rio de Janeiro : Laemmert, 1941.  124 p.  (Biblioteca do Exército, v, XXXVIII).
_____.  2. ed.  Rio de Janeiro : Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1973.  159 p.
Eduardo de Araújo, Assis Brasil, Vitor Russomano.  Porto Alegre : Tip. do Centro, 1941.  146 p.  il.  (Academia Rio Grandense de Letras, Porto Alegre.  Publicação, 1).
O fronteiro - mor do Império : Duarte da Ponte Ribeiro.  Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1942.  92 p.  il.
Homens e idéias : ensaios.  Rio de Janeiro : Pongetti, 1942.  210 p.
A América e a sucessão de Dom Quixote.  Rio de Janeiro : Gráf. Sauer, 1943.
Conde de Porto Alegre.  Porto Alegre, 1943.  33 p.  il.  (Discurso pronunciado na Inspetoria de Cavalaria, no Palácio da Guerra, ao ser inaugurado o retrato do Conde de Porto Alegre, em 17 de março de 1943.
Fronteiras e fronteiras.  São Paulo : Companhia Editora Nacional, 1943.  298 p.  il.  (Biblioteca Pedagógica Brasileira.  Série 5ª. Brasiliana, v. 230).
Gumercindo Saraiva na guerra dos Maragatos.  Rio de Janeiro : Alba, 1943.  199 p.  il.
Ideário.  Rio de Janeiro : Alba, 1943.  127 p.
Nós, os publicanos.  Rio de Janeiro : Of. Gráf. da Livraria do Globo, [1946].  39 p.  (Em colaboração com Vianna Moog).
A diplomacia de D. João VI em Caiena.  Rio de Janeiro : Tip.  do Jornal do Comércio, 1948.
A diplomacia de D. João VI em Caiena.  Rio de Janeiro : G. T. L., 1963.  271 p.
Dois ensaios : as possessões européias na América e as relações diplomáticas entre o Brasil e Portugal.  Rio de Janeiro : Departamento de Imprensa Nacional, 1949.  62 p.
O Cruzeiro do Sul : asterismo de origem portuguesa nos “Luziadas”.  Rio de Janeiro, 1950.  39 p.  il.  (Conferência feita no Instituto de Estudos Portugueses, na sessão de 18 de setembro de 1950).
Uma biografia da Bandeira Nacional do Brasil.  Rio de Janeiro : Tip. do Jornal do Commércio, 1950.  42 p.  (Ensaio à guisa de conferência no Club Sociocrático Descartes e na Diretoria do Serviço Geográfico do Exército, nos dias 15 à 19 de novembro de 1948).
À margem da filosofia das ciências.  Rio de Janeiro : Rodrigues & Cia, 1953.  267 p.
Inglaterra : notas breves e considerações à margem.  Rio de Janeiro : Livraria São José, 1955.  90 p.
Licínio Cardoso.  Rio de Janeiro : Jornal do Commércio, 1955.  23 p.  (Oração proferida em sessão do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, na data do centenário de nascimento do professor doutor Licínio Cardoso : 2 de maio de 1952).
Capítulos de ciência e de filosofia.  Rio de Janeiro : Livraria São José, 1956.  247 p.
Inglaterra : Capítulos suplementares.  Mogim-Mirim (S.P.) : Casa Cardona, 1956.  63 p.
English Traits : a lecture delivered at Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa.  Rio de Janeiro : Gráf.  Tupy, 1958.
Filosofia das ciências : ensaios.  Rio de Janeiro : Freitas Bastos, 1959.  255 p.
Ensaios americanos : Rio Branco na questão do Acre.  Petrópolis : Ed. V. P. Brumlick, 1961.
Estudos sobre o autor:
CUNHA, Fernando Whitaker Tavares de.  Vicente Licínio Cardoso e Castilhos Goycochêa.  Rio de Janeiro : Pongetti, 1971.  24 p.
GOMES, Alfredo.  Castilhos Goycochêa.  Revista do Instituto Histórico de São Paulo, São Paulo,  n. 70, 1973.
MARTINS, Ari.  Escritores do Rio Grande do Sul.  Porto Alegre : Ed. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1978.  p. 259-260.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O espetáculo das Campanhas Eleitorais no Acre



 “Já não vejo diferença entre os dedos e os anéis,
Já não vejo diferença entre a crença e os fiéis...
Há tão pouca diferença e tanta coisa a escolher...
 (Engenheiros do Hawaii)

         Assumir um mandato político, ser assessor parlamentar ou ter o nome indicado para algum cargo comissionado são os objetivos de muitos acreanos com essas eleições. Afinal, vale a pena, é um grande negócio, trabalha-se três meses em campanhas para colher dinheiro, poder e status por quatro anos. Nessas horas, todos querem “transformar o mundo”, ser atuantes na sociedade, etc. Os Pastores descem dos púlpitos, Oficiais da Polícia pedem afastamento temporário, Médicos largam seus consultórios, Comerciantes e Empresários deixam seus afazeres. A disputa para estrelar na passarela da política é grande.
         Num mercado formado por bens homogêneos, onde as firmas que ofertam produtos idênticos conquistam os fregueses por diferenciações criadas pela publicidade, a contratação de um especialista em propaganda é fundamental. Em política, tal profissional é mais conhecido como marqueteiro. Eles elaboram estratégias para convencer o comprador-eleitor de que o produto-candidato oferecido é o melhor do mercado-eleição. Para diferenciar artificialmente os candidatos-homogêneos, é preciso maquiá-lo, colocá-lo numa “atraente” promessa-embalagem. O povo sempre compra-elege os que chamam mais a atenção.
Os candidatos à prefeitura de Rio Branco estão vendendo a idéia de “mudanças”. A embalagem é formada por vários enfeites: “cuidar de Rio Branco”, “governar com o coração”, “prefeito de verdade”, “descentralização administrativa”. Meros palavreados! São estratégias de marketing para diferenciarem-se. Não há “frente alternativa”, muito menos forças do bem lutando contra as do mal como mais uma vez estão espalhando por aí. A oposição conceitual entre a “esquerda” e a “direita” se rompeu, não se sabe mais quem é quem. Nessas eleições o que impera é a embalagem e não o produto.
      O uso do sentimentalismo como forma de comover o eleitor é uma estratégia vergonhosa. O Candidato que não tem propostas consistentes apela para sensacionalismo. Os candidatos precisam ser mais realistas, principalmente quanto ao orçamento da prefeitura.  O que farão para superar a crise orçamentária existente? A capital acreana é totalmente dependente das transferências constitucionais estaduais e federais. Com uma receita anual de 125 milhões de reais (dados de 2003), apenas 20,5% correspondem a receitas próprias, das quais 70% são oriundas de tributação. Com um minguado capital disponível, as inúmeras mudanças apregoadas encontram impedimentos estruturais. Quem denuncia oito anos de marasmo e prega uma administração messiânica, blefa.
As eleições políticas sempre geram muitas expectativas, principalmente aos candidatos e a seus "puxa-sacos" que sonham com a trilogia “poder, status e dinheiro fácil”.  Os vultosos gastos com as propagandas eleitorais são um mal necessário, um investimento para quem pensa em ficar quatro anos desfrutando das benesses que o cargo político oferece.
O objetivo de todo esse show que presenciamos, dessa encenação teatral que chamam de campanha eleitoral, é abocanhar o voto do cidadão. Não para realizar uma “revolução” em Rio Branco, esse era o sonho de alguns marxistas de outrora. A trilogia “poder, status e dinheiro fácil” engoda até os bem intencionados. A grande questão é: em quem votar? Em Preto, em Branco ou em Cinza? 
Não, os contrastes não existem nessas eleições, as diferenças são apenas no âmbito do marketing. Em quem votar? Que produto comprar? “Há tantos quadros na parede, há tantas formas de se ver o mesmo quadro... todos iguais, todos iguais, mas um mais igual que os outros” (Engenheiros do Hawaii).

Eduardo de Araújo Carneiro

publicado em Jornal A GAZETA em 28/08/2004, Sábado.

sábado, 8 de setembro de 2012

UMA PONTE no Brasil e na China.

  
Há algum tempo, o governo da China  inaugurou a ponte da baía de Jiaodhou, que  liga o porto de Qingdao à ilha de Huangdao. Construído em quatro anos, o colosso sobre o mar tem 42 quilômetros de extensão e custou o equivalente a R$2,4 bilhões.
Há uma semana, o DNIT escolheu o projeto da nova ponte do Guaíba, em Ponte Alegre , uma das mais vistosas promessas da candidata Dilma Rousseff. Confiado ao Ministério dos Transportes, o colosso sobre o rio deverá ficar pronto em quatro anos. Com 2,9 quilômetros de extensão, vai engolir R$ 1,16 bilhões. 

Intrigado, o matemático gaúcho Gilberto Flach resolveu estabelecer algumas comparações entre a ponte do Guaíba e a chinesa. Na edição desta segunda-feira, o jornal Zero Hora publicou o espantoso confronto númerico resumido no quadro abaixo:



Os números informam que, se o Guaíba ficasse na China, a obra seria concluída em 102 dias, ao preço de R$ 170 milhões. Se a baía de Jiadhou ficasse no Brasil, a ponte não teria prazo para terminar e seria calculada em trilhões. Como o Ministério dos Transportes está arrendado ao PR, financiado por propinas, barganhas e permutas ilegais, o País do Carnaval abrigaria o partido mais rico do mundo. 

Corruptos existem nos dois países, mas só o Brasil institucionalizou a impunidade. Se tentasse fazer na China uma ponte como a do Guaíba, Alfredo Nascimento daria graças aos deuses se o castigo se limitasse à demissão. 

Dia 19/07/11, o Tribunal chinês sentenciou a execução de dois prefeitos que estavam envolvidos em desvio de verba pública.

(Adotada esta prática no Brasil, teríamos que eleger um Congresso por ano)

Vamos fazer esta mensagem chegar a todos os Brasileiros

 

sábado, 1 de setembro de 2012

RESUMO = FOUCAULT, Michel. O Nascimento da Clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.



Por Eduardo Carneiro (eduardocarneiro.ac@gmail.com)


- O livro é parte de um projeto amplo de crítica às estruturas políticas e epistemológicas que presidem à racionalidade do mundo contemporâneo.
- No início do século XIX a medicina se apresenta como medicina científica. Para isso critica seu passado.
- Foucault tenta mostrar como se deu essa organização do conhecimento médico.
- A ruptura não foi fruto de conhecimento acumulado. Mas foi mudança no nível de seu objeto, conceito e método.
- A medicina moderna implicou o surgimento de novas formas de conhecimento e novas práticas institucionais.
- A MEDICINA CLÁSSICA está para a moderna, assim como a história natural está para a biologia. Se a ciência dos seres vivos possibilita uma medicina classificatória das espécies patológicas, a ciência da vida funda a anátomo-clinica.
- O Hospital era um local de assistência ao pobre e um ambiente preparatório para a morte. Depois vira um espaço do exercício médico, lugar de cura.
- Medicina Clássica = tem como objeto a doença considerada como essência abstrata.
- Medicina Clinica = um saber sobre o indivíduo como corpo doente exigindo uma intervenção que dê conta de sua singularidade.
- Medicina do espaço social = consciência da doença como problema político-social.

PREFÁCIO (VII)
“Este livro trata do ESPAÇO, da LINGUAGEM e da MORTE, trata do OLHAR” p. XII.

- Médico tem o status de autoridade fundada no saber.
- Medicina era repleta de linguagens da fantasia, de mitos e superstições.
- Hoje muito do que era medicina no século XVIII é tido como mito.
- Hoje olhamos mais nitidamente o real?
- A presença da doença no corpo é positiva? Serio o olhar positivo em vez da doença?
- O DISCURSO RACIONAL mudou a semântica médica.
- Percebe o discurso médico ainda quando está em fase de formação. Foi ao momento em que a palavra ainda não significava a coisa.
- Visível = dito. Invisível = silenciado.
- O PERCEBIDO é um vazio no qual a linguagem ganha volume.
- Vai atrás das condições que possibilitaram a positividade do saber médico. Palavra MEDICINA vai se unir a outro significado.
- EMPIRISMO = o percebido era o absoluto.
“O espaço da EXPERIENCIA parece identificar com o domínio do olhar atento, da vigilância empírica aberta penas à evidencia dos contatos visíveis. O OLHO se torna o depositário e a fonte da CLAREZA; tem o poder de trazer à luz uma verdade” p. XI.
- Transparência do olhar.
A permanência da verdade no núcleo sombrio das coisas está ligada a este poder soberano do olhar empírico” p. XII.
- Para poder diagnosticar é preciso formar uma ideia objetiva da doença.
- A questão é interrogar os discursos considerados como científicos.
“Comentar supõe que o não-falado dorme na palavra” p. XV.
“Não se presume que o significante traduza sem ocultar e sem deixar o significante com uma inesgotável reserva” p. XV.
- A exegese restringe as interpretações.
“Desejar-se-ia tentar aqui a análise de um tipo de discurso – o da experiência médica” p. XVII.
- A clínica faz parte de um novo perfil do perceptível.
- O Saber Clínico provocou no final do século XVIII uma mutação do saber médico, marcou o surgimento de uma nova gramática médica.
- CLÍNICA = empirista, dá atenção o que se apresenta aos olhos.
- Descrição médica: há condições não verbais da fala.
- OBJETIVO: “determinar as condições de possibilidade da experiência clínica” p. XVIII.
“Tenta extrair da espessura do discurso as condições de sua história” p. XVIII.
- O que conta do dito não é o que o autor quis de fato dizer, mas o que fizeram da fala dele.

Cap. 1 – ESPAÇOS E CLASSES (p. 1).
- Século XIX = marca a soberania do olhar.
- Medicina Classificatória = a doença é vista como fenômeno neutro que acontece independente do espaço e localização com as mesmas características. Seguiu o modelo botânico.
- A mesma doença pode atingir outros órgãos e permanecer a mesma, no entanto, com sintomas diferentes.
- Antes da percepção, antes do olhar, há um manual que distribui as doenças em classes e espécies. Isso interfere na forma como o fenômeno patológico é percebido.
- A analogia seria a forma como a ordem racional das doenças.
- Antes de olhar a doença, elas já estão organizadas no imaginário do médico.
- O médico abstrai o doente.
“O olhar médico não se dirige ao corpo concreto, mas aos signos que diferenciam uma doença da outra” p. 7.
- O que torna o saber médico algo racional?
- O médico precisa deixar a doença se realizar para reconhecê-la.
“A distribuição anatômica da doença não modifica sua estrutura essencial” p. 10.
“Quem desejar conhecer a doença deve subtrair o indivíduo com suas qualidades particulares” p. 14.
“Segundo a MEDICINA DAS ESPÉCIES, a doença possui, por direito de nascimento, formas e momentos estranhos ao espaço das sociedades” p. 16.
- No hospital, acreditava-se que o contato dos doentes com outros doentes alterava a natureza da doença.
- Século XVIII o hospital vai ser criticado, pois se torna um fardo para o Estado.
- O hospital passa a ser visto como um espaço criador de doenças. A doença vira doença da doença.
- O HOSPITAL seria uma forma de isolar o doente do são. Era um local de vigilância. Proteger o sadio e não de curar o doente.
- A Medicina foi ganhando status à sobra do Estado. Isso por que vários charlatões passaram a medicar também, criando problemas maiores.

Cap. 2 – UMA CONSCIÊNCIA POLÍTICA (p.23).
- Busca a origem do pensamento médico classificatório.
“A constituição não se refere a um absoluto específico de que seria a manifestação mais ou menos modificada: é PERCEBIDA apenas na relatividade das diferenças – por um OLHAR de certa forma diacrítico” p. 24.
“A epidemia é mais do que uma forma particular de doença; é. No século XVIII, um modo autônomo, coerente e suficiente de VER a doença” p. 24.
“Não há diferenças de natureza ou de espécie entre uma doença individual e um fenômeno epidêmico; basta que uma afecção esporádica se reproduza algumas vezes e simultaneamente para que haja epidemia [...] trata-se de uma percepção não mais essencial e ordinal” p. 24.
“O fundamento essencial é definido pelo momento, pelo lugar” p. 25.
“A regularidade dos sintomas não deixa transparecer a sabedoria de uma ordem natural, indica apenas a constância das causas, a obstinação de um fator cuja pressão global, e sempre repetida, determina uma forma privilegiada de afecções” p. 25.
“Apesar da grande diversidade das pessoas atingidas, de suas disposições e de suas idades, a doença nelas se apresenta com os mesmos sintomas [...] a doença específica sempre se repete mais ou menos, a epidemia nunca inteiramente” p. 26.
“Nesta estrutura PERCEPTIVA, o problema do contágio tem relativamente pouca importância. A transmissão de um indivíduo a outro não é, em caso algum, a essência da epidemia” p. 26.
“O contágio é apenas uma MODALIDADE da epidemia” p. 26.
“Contagiosa ou não, a epidemia tem uma espécie de individualidade histórica. Daí a necessidade de usar com ela um método complexo de observação. O fenômeno coletivo exige OLHAR MULTIPLO. Como processo único, é preciso descrevê-la no que tem de singular, acidental e imprevisto” p. 27.
“Deve-se transcrever o acontecimento detalhadamente, mas também segundo a coerência que implica a PERCEPÇÃO realizada por muitos: conhecimento impreciso, mal fundado na medida em que é parcial, incapaz de aceder sozinho ao essencial ou ao fundamental, só encontra seu volume próprio no cruzamento das perspectivas, em uma informação repetida e retificada, que finalmente envolve, no lugar em que os olhares se cruzam, o núcleo individual e único destes fenômenos coletivos” p. 27.
Só poderia haver uma medicina das epidemias se acompanhadas de uma polícia: vigiar a instalação das minas e dos cemitérios, obter, o maior número de vezes possível, a incineração dos cadáveres, em vez de sua inumação" p. 27.
“A MEDICINA DAS EPIDEMIAS se opõe a uma MEDICINA DAS CLASSES, como a PERCEPÇÃO coletiva de um fenômeno global, mas único e nunca repetido, pode se opor à percepção individual daquilo que uma essência pode constantemente revelar de si mesma e de sua identidade na multiplicidade dos fenômenos” p. 28.
- Em 1776, o governo decide criar em Versalhes uma comissão encarregada de estudar os fenômenos epidêmicos.
- Sociedade Real de Medicina = tornou-se o órgão oficial de uma consciência coletiva dos fenômenos patológicos; consciência que se manifesta, ao nível da experiência como ao nível do saber, tanto de forma cosmopolita quanto no espaço da nação.
“A forma de PERCEPÇÃO médica implicada por eles é um dos elementos constitutivos da experiência clínica” p. 31.
“O que constitui agora A UNIDADE DO OLHAR MÉDICO não é o círculo do saber em que ele se completa, mas esta totalização aberta, infinita, móvel, sem cessar, deslocada e enriquecida pelo tempo, que ele percorre sem nunca poder detê-lo: uma espécie de registro clínico da série infinita e variável dos acontecimentos” p. 32.
“Mas seu suporte não é a percepção do doente em sua singularidade, é uma consciência coletiva de todas as informações que se cruzam, crescendo em uma ramagem complexa e sempre abundante, ampliada finalmente até as dimensões de uma história, de uma geografia, de um Estado” p. 32.
“Para os classificadores, o ato fundamental do conhecimento médico era estabelecer uma demarcação: situar um sintoma em uma doença, uma doença em um conjunto específico e orientar este no interior do plano geral do mundo patológico” p. 32.
O que define o ato do conhecimento médico em sua forma concreta não é, portanto, o encontro do médico com o doente, nem o confronto de um saber com uma percepção; é o cruzamento sistemático de várias séries de informações homogêneas, mas cuja interligação faz surgir, em sua dependência isolável, o fato individual” p. 33.
“Neste movimento, a consciência médica se desdobra: vive, em um nível imediato, na ordem das constatações imediatas; mas se recupera, em um nível superior, onde constata as constituições, confronta-as e, refletindo sobre os conhecimentos espontâneos, pronuncia com toda soberania seu julgamento do saber” p. 33.
- Torna-se a instancia do saber médico. Polícia dos setores de salubridade.
“O olhar médico circula, em um movimento autônomo, no interior de um espaço em que se desdobra e se controla; distribui soberanamente para a experiência cotidiana o saber que há muito tempo dela recebeu e de que se fez, ao mesmo tempo, o ponto de convergência e o centro de difusão. Nela, o espalho médico pode coincidir com o espaço social” p. 34.
“Começa-se a conceber uma presença generalizada dos médicos, cujos olhares cruzados formam uma rede e exercem em todos os lugares do espaço, em todos os momentos do tempo, uma vigilância constante, móvel, diferenciada” p. 34.
- Controle estatístico da saúde.
“A melhor maneira de evitar que a doença se propague ainda é difundir a medicina” p. 35.
“O lugar do saber não é mais o jardim patológico em que Deus distribui as espécies; é uma consciência médica generalizada, difusa no espaço e no tempo” p. 35.
PÓS-REVOLUÇÃO
- Mito da profissão médica nacionalizada – organizada à maneira do clero e investida ao nível da saúde e do corpo;
- Mito do desaparecimento total da doença;
“Os dois sonhos são isomorfos: um narrando de maneira positiva a medicalização rigorosa, militante e dogmática da sociedade, por uma conservação quase religiosa; o outro, relatando esta mesma medicalização, mas de modo triunfante e negativo, isto é, a volatilização da doença em um meio corrigido, organizado e incessantemente vigiado, em que, finalmente, a própria medicina desapareceria com seu objeto e sua razão de ser” p. 35.
- IGREJA = consolação das almas e alívio dos sofrimentos.
- Os médicos são os padres do corpo?
“A primeira tarefa do médico é, portanto, política: a luta contra a doença deve começar por uma guerra contra os maus governos; o homem só será total e definitivamente curado se for primeiramente liberto [...] se souber ser politicamente eficaz, a medicina não será mais medicamente indispensável” p. 37.
“E pouco a pouco, nesta jovem cidade inteiramente entregue à felicidade de sua própria saúde, o rosto do médico se apagaria, deixando apenas no fundo da memória dos homens a lembrança deste tempo dos reis e das riquezas em que eram escravos, pobres e doentes. Tudo isso não passava de sonho; sonho de uma cidade em festa” p. 38.
“E, no entanto, desempenharam importante papel: ligando a medicina ao destino dos Estados, nela fizeram aparecer uma significação positiva” p. 38.
“Ligando a medicina ao destino dos Estados, nela fizeram aparecer uma significação positiva” p. 39.
“A medicina não deve mais ser apenas o corpus de técnica da cura e do saber que elas requerem; envolverá, também, um conhecimento do homem saudável, isto é, ao mesmo tempo uma experiência do homem não doente e uma definição do homem modelo [...] mas a reger as relações físicas e morais do indivíduo e da sociedade em que vive” p. 39.
- A medicina será o conhecimento do homem natural e social.
É importante determinar como e de que maneira as diversas formas do saber médico se referem às noções positivas de saúde e de normalidade” p. 39.
- Até o final do século XVIII a medicina referiu-se muito mais à saúde do que à normalidade [...]  a medicina do século XIX regula-se mais, em compensação, pela normalidade do que pela saúde; é em relação a um tipo de funcionamento ou de estrutura orgânica que ela forma seus conceitos e prescreve suas intervenções” p. 39.
- O prestígio das ciências da vida no século XIX está ligada aos conceitos do sadio e do mórbido. Normal e patológico.
“Constituia, portanto, num campo dividido segundo o princípio do normal e do patológico” p. 40.
- A positividade aparece como norma.

Cap. 3 – O CAMPO LIVRE (p. 41).
“O olhar que vê é o olhar que domina” p. 42.
“A violência majestosa da luz [...] instaura o império sem limites do olhar” p. 42.
- Havia quem defendia que a forma mais lógica de reparar o doente era devolvendo o mesmo ao círculo social familiar.
- A consciência da doença trouxe consigo o dever da assistência do Estado.
- É ao MÉDICO e não mais ao SACERDOTE que o indivíduo deveria confiar sua vida.
- A revolução francesa traria o fim dos hospitais, pois a miséria acabaria.
- Durante o processo de revolução francesa houve um debate sobre a nacionalização ou não dos bens hospitalares.
- Despolitização da doença = os hospitais estigmatizam os doentes em sua miséria.
- 1707 = regulamentação da prática médica.
- Questões sobre qual instituição validaria o título de médico.
- Durante a revolução francesa várias universidades foram fechadas. P. 50. Dizia-se que elas eram teóricas e desligadas da prática.
- 1792 = foi baixado um decreto que vigiava o exercício da medicina. Fim das sociedades médicas. 
- O estado deveria ou não controlar a profissão?
“Não se sabia como restituir pela palavra o que se sabia ser apenas dado ao olhar” p. 56.
- O sujeito cognoscente é o mesmo, o que vai mudar é o olhar dele no final do século XVIII.
- Mito do olhar livre, do olhar puro, capaz de olhar com clareza e transparência. P. 57.
“Ele é apenas um segmento da dialética do iluminismo transportado para o olho do médico” p. 57.

Cap. 4 – A velhice da clínica (p. 59).
“O princípio de que o saber médico se forma no próprio leito do doente não data do final do século XVIII. Todas as revoluções da medicina foram feitas em nome desta experiência” p. 59.
- O que modificou foi a rede semântica com a qual estas experiências aconteceram.
- Foi mudado o código perceptível que se aplicava ao corpo do doente.
- A CLINICA representava o constante olhar médico sobre o doente. P. 69.
- A pureza da evidencia clínica é mascarada por teorias.
- A medicina encontra sua possibilidade de ser na clínica.
- HIPÓCRATES = a medicina grega do século V nada mais seria do que a codificação desta clínica universal e imediata. Uma medicina sem olhar, dominada pela metafísica. P. 61. Reduziu a medicina a sistemas. Depois, a filosofia foi introduzida na medicina.
- A CLÍNICA = apaga os sistemas. Experiência[1]. É o tempo positivo do saber.
- As INSTITUIÇÕES e os MÉTODOS deram ao saber médico status universais.
- A clínica devia formar um campo nosológico[2].
- O papel do médico de hospital seria descobrir a doença do doente.
- Doenças são como textos a serem lidos. O doente seria o livro do qual o texto foi escrito.
- No hospital o doente é sujeito de sua doença; na clínica, a doença é um acidente.
- A clínica ainda não era um local de investigação.
“O olhar que percorre o doente só atinge a verdade por meio do NOME [...] não é próprio olhar que tem poder de análise e de síntese” p. 67.
- O exame = uma decifração.
“No século XVIII, só há clínica pedagógica” p. 68.
- É lugar de instrução. Resume o saber, mais do que analisa. Agrupa experiências.

XXXXX


Cap. 8 – ABRAM ALGUNS CADÁVERES (p. 141).
- o novo espírito médico está vinculado à descoberta da anatomia patológica?
- o iluminismo possibilitou vasculhar os corpos sem os preconceitos religiosos.
- Foucault afirma não haver escassez de cadáveres no século XVIII.
“Se as velhas crenças tiveram durante tanto tempo tal poder de proibição, foi porque os médicos deviam sentir, no fundo de seu apetite científico, a necessidade recalcada de abrir cadáveres” p. 143.
- O erro está no fato de quererem fundar a clínica a partir da fundação da anatomia patológica.
“história transfigurada” p. 143.
“A necessidade de conhecer o morto já devia existir quando aparecia a preocupação de compreender o vivo” p. 143.
- A anatomia e a clínica não têm o mesmo espírito. São duas figuras do saber.
“A medicina das classificações e, em seguida, a clínica haviam retirado a análise patológica deste regionalismo e constituído para ela um espaço ao mesmo tempo mais complexo e mais abstrato” p. 144.
- Duas percepções diferentes: Morgagni e Bichat[1].
“O olhar de Bichat é de superfície não exatamente no sentido em que a experiência clínica o era” p. 147.
- A anatomia patológica tomou para si um fundamento objetivo
“Em certo sentido, nada está mais longe do NOMINALISMO implícito do método clínico, em que a análise se apoiava, senão em palavras, ao menos em seguimentos de percepção sempre suscetíveis de serem transcritos em uma linguagem” p. 149.
“A anatomia só pôde tornar-se patológica na medida em que o patológico anatomiza espontaneamente. A doença, autópsia na noite do corpo, dissecção no vivo” p. 149.
“O método da nova anatomia é, como o da clínica, a ANÁLISE [...] daí a paradoxal reativação do pensamento classificatório, no início do século XIX” p. 150.
- Em vez de acabar de vez com a nosologia, a anatomia patológica lhe dá um novo vigor.
“Como é possível ajustar a percepção anatômica à leitura dos sintomas?” p. 152.
“Como poderia um conjunto simultâneo de fenômenos espaciais fundar a coerência de uma série temporal que lhe é, por definição, inteiramente anterior?” p. 152.
“Uma CLÍNICA DOS SINTOMAS procura o corpo vivo da doença; a anatomia só lhe oferece o cadáver” p. 153.
- A anatomia patológica quer fundar uma nosologia.
- A estrutura do olhar clínico modifica-se.
- Há quem diga que a ANATOMIA PATOLÓGICA[2] é uma ciência que tem por objetivo o conhecimento das alterações visíveis que o estado de doença produz nos órgãos do corpo humano. A abertura dos cadáveres seria o meio de adquirir este conhecimento.
“A leitura clínica, em sua primeira forma, implicava um sujeito exterior e decifrador que, a partir e além do que soletrava, ordenava e definia parentescos” p. 155.
“Na experiência anátomo-clínica, o olho médico deve ver o mal se expor e dispor diante dele a medida que penetra no corpo, avança por entre seus volumes, contorna ou levanta as massas e desce em sua profundidade” p. 155.
- A doença não é mais uma espécie patológica inserindo-se no corpo, mas o próprio corpo tornando-se doente.
- Sujeito cognoscente e o objeto de conhecimento.
- Os médicos dos séculos XVII e XVIII permaneciam distante do doente. Olhava de longe. Observava as marcas superficiais. Tentava apreender a essência pela observação do externo.
- A mudança no saber médico, no final do século XVIII, não provém, essencialmente, do fato de que o médico se aproximou do doente. Foi atrás do que estava atrás da superfície visível, descobrindo a doença na profundidade do corpo.
- As mudanças têm a ver com o fato de se ter o sujeito e o objeto se aproximaram.
- O acesso do olhar médico ao interior do corpo doente não é a continuação de um movimento de aproximação que teria se desenvolvido a partir do olhar do primeiro médico-científico.
“É o resultado de uma reformulação ao nível do próprio saber e não ao nível dos conhecimentos acumulados, afinados, aprofundados, ajustados” p. 157.
“Os conhecimentos na medicina anátomo-clínica não se formam do mesmo modo e segundo as mesmas regras que na pura e simples clínica. Não se trata de um mesmo jogo, um pouco mais aperfeiçoado, mas de outro” p. 157.
- AS NOVAS REGRAS: p. 157.
“Isto quer dizer que a experiência médica vai substituir o registro das frequências pela demarcação do ponto fixo” p. 158.
“A análise da percepção anátomo-clínica desvela três referencias – LOCALIZAÇÃO, foco e primitividade – que modificam a leitura essencialmente temporal da clínica” p. 158.
“A vida, a doença e a morte constituem agora uma trindade técnica e conceitual” p. 165.
- A análise da doença não pode ser vista exclusivamente do ponto de vista da morte.
“Abram alguns cadáveres: logo verão desaparecer a obscuridade que apenas a observação não pudera dissipar. A noite viva se dissipa na claridade da morte” p. 168.


Cap. 9 – O INVISÍVEL VISÍVEL (p. 169).
“A partir do cadáver, paradoxalmente se percebe a doença viver” p. 169.
- A vida não é mais simpatias, nem leis combinatórias, mas tem leis próprias.
- Os fenômenos mórbidos devem ser compreendidos a partir do próprio texto da vida e não de uma essência nosológica.
“O que é novo não é o fato da ordenação, mas seu modo e seu fundamento” p. 175.
“De Sydenham a Pinel, a doença se originava e se configurava em uma estrutura geral de racionalidade em que se tratava da natureza e da ordem das coisas. A partir de Bichat o fenômeno patológico é percebido tendo a vida como pano de fundo, ligando-se às formas concretas e obrigatórias que ela toma em uma individualidade orgânica” p. 175.
“A vida vai desempenhar na anatomia patológica o papel que a ampla noção de natureza exercia na nosologia: o fundamento inesgotável, mas limitado em que a doença encontra os recursos ordenados de suas desordens” p. 175.
- mudança teórica = novo horizonte filosófico. Essas coisas se impõem imediatamente ao mundo da percepção e ao olhar médico? Sim, os fenômenos da doença aí encontram novo estatuto epistemológico.
- A doença será apenas uma forma patológica da vida. A vida é o perceptível além da doença.
- Antes a doença só tinha verdade nos sintomas, mas ela era os sintomas dados em sua verdade.
“Cabanis e Pinel viam seus métodos como filosofia realizada” p. 176.
- Os anátomo-patologistas descobrem no seu método uma não-filosofia.
- Sec. XIX, a doença perde estatuto de acidente.
- O homem adoece, justamente por que pode morrer. “A morte é a doença tornada possível na vida” p. 177.
- A degeneração não é o retorno ao inorgânico.
- A ANATOMIA PATOLÓGICA atenua a importância dos sintomas clínicos. Substitui a metodologia do visível. Defende que a verdade só é encontrada pela passagem ao inerte, à violência do cadáver recortado e daí a formas em que a significação viva desaparece em proveito de uma geometria maciça.
- Na primeira forma da medicina clínica o SIGNO não era por natureza diferente dos SINTOMAS. Todo sintoma era potencialmente signo e o signo era penas um sintoma lido.
- Para a PERCEPÇÃO anátomo-clínica, o sintoma pode perfeitamente permanecer mudo e o núcleo significativo, revelar-se inexistente.
- O SIGNO não é mais o sintoma falante, mas aquilo que substitui a ausência fundamental de palavra no sintoma.
“Enquanto o SIGNO CLÍNICO remetia à própria doença, o SIGNO ANÁTOMO-CLÍNICO remete à lesão” p. 183.
- O signo não remete à essência patológica.
“A PERCEPÇÃO SIGNIFICATIVA é, portanto, epistemologicamente diferente no mundo da clínica tal como existiu em sua primeira forma e como foi posteriormente modificada pelo método anatómico” p. 184.
“O signo não fala mais a linguagem natural da doença; só toma forma e valor no interior das interrogações feitas pela investigação médica [...] não é mais o que se enuncia espontaneamente da doença, mas o ponto de encontro entre os gestos da pesquisa e o organismo doente” p. 185.
- Os obstáculos morais existentes só vieram a ser sentido depois de constituída a necessidade epistemológica.
- Visão multissensorial = triunfo do olhar – a autópsia.
“Assim, desde a descoberta da anatomia patológica, o olhar médico se desdobra, há um olhar local e circunscrito, olhar limítrofe do tato e da audição, que só recobre um dos campos sensoriais e apenas aflora nas superfícies visíveis, e um olhar absoluto, integrador, que domina e funda as experiências perceptivas” p. 189.
- A vida seria transparente ao ponto de dar visibilidade à morte?
“A estrutura perceptiva e epistemológica que fundamenta a anatomia clínica, e toda a medicina que dela deriva, é a da INVISÍVEL VISIBILIDADE. A verdade que, por direito de natureza, é feita para o olho lhe é arrebatada” p. 190.
“A medicina do século XIX foi obsecada por este OLHO ABSOLUTO que cadaveriza a vida e reencontra no cadáver a frágil nervura rompida da vida” p. 190.
- Antes os médicos se comunicavam com a morte por meio do mito da imortalidade.
- uso do MICROSCÓPIO é negado por muitos dizendo que quando se olha o obscuro cada um vê de sua maneira.
“O método anátomo-clínico integra à estrutura da doença a constante possibilidade de uma modulação individual” p. 193.
- Toda doença é individual.
- não mais querer tornar o visível em legível. Não se trata mais de correlacionar um setor perceptivo e um elemento semântico.
“Mas de dirigir a linguagem para a região em que o percebido corre o risco de escapar, em sua singularidade, à forma da palavra e de tornar-se finalmente imperceptível, por não poder ser lido” p. 194.
“Descobrir não será mais ler, sob uma desordem, uma coerência essencial, mas prolongar a linha de espuma da linguagem [...] introduzir a linguagem na penumbra em que o olhar não tem mais palavras” p. 194.
“A figura do invisível visível organiza a percepção anátomo-patológica” p. 195.
“A percepção da morte na vida não tem no século XIX a mesma função que no renascimento” p. 198.

Cap. 10 – A CRISE DAS FEBRES (p. 199).
“Este capítulo tratará do último processo pelo qual a percepção anátomo-clínica encontra a forma de seu equilíbrio” p. 199.
“A medida que a anatomia patológica situa melhor sua sede, parece que a doença se retira mais profundamente para a intimidade de um processo inacessível” p. 200.
- A ideia de classe de doenças estava associada a uma observação dita neutra dos sintomas.
- Nova organização DO OLHAR MÉDICO de Bichat dizia que o princípio da visibilidade era uma regra absoluta.
- Se os cadáveres nos pareceram mudos, é que ignorávamos a arte de interroga-los.
- Broussais = a doença é do espaço antes de ser para a vista. Espacialização da experiência médica. A sede da doença nada mais é do que o ponto de fixação da causa irritante.
- Não mais existem doenças essenciais e nem essência nas doenças. P. 218.
- MEDICINA DOS ÓRGÃOS:
1) qual o órgão que sofre?
2) Como o órgão se tornou sofredor?
3) O que é preciso fazer para que deixe de sofrer?

O espaço da doença é, sem resíduo nem deslizamento, o próprio espaço do organismo. Perceber o mórbido é uma determinada maneira de perceber o corpo” p. 221.
“Acabou o tempo da medicina das doenças; começa uma medicina das relações patológicas, estrutura de experiência que dominou o século XIX e até certo ponto o século XX, visto que, não sem modificações metodológicas, a medicina dos agentes patológicos nela virá se encaixar” p. 221.
BROUSSAIS x PINEL (anátomo-patológica)
- Com a medicina dos órgãos = a percepção médica se liberta dos preconceitos nosológicos.
- A partir de 1816 com Broussais, o olho do médico pôde se dirigir a um organismo doente. O a priori histórico e concreto do olhar médico moderno completou sua constituição. P. 222.

CONCLUSÃO (p. 225)
“O livro que se acaba de ler é, entre outros, o ensaio de um método no domínio tão CONFUSO, tão pouco e tão MAL ESTRUTURADO da história das ideias” p. 225.
“Seu suporte histórico é estreito, visto que trata, em suma, do desenvolvimento da observação médica e de seus métodos durante apenas meio século” p. 225.
“O momento em que o mal, o contra-natural, a morte, todo fundo negro da doença, vem à luz, isto é, ao mesmo tempo se ilumina e se suprime como noite, no espaço profundo, visível e sólido, fechado mas acessível, do corpo humano” p. 225.
“O que era fundamentalmente invisível se oferece, subitamente, à claridade do olhar, em um movimento aparentemente tão simples, tão imediato, que parece a recompensa natural de uma experiência mais bem realizada [...] os médicos finalmente livres de teorias e de quimeras, consentiram em abordar o OBJETO de uma experiência nele mesmo e na pureza de um olhar não prevenido” p. 225.
“Mas é necessário inverter a análise: são as formas de visibilidade que mudaram; o novo espírito médico, de que Bichat é a primeira testemunha coerente, não deve ser inscrito na ordem das purificações psicológicas e epistemológicas: ele nada mais é do que uma reorganização epistemológica da doença, em que os limites do visível e do invisível seguem novo plano” p. 225.
“Mas aqui apenas se trata do domínio da medicina e do modo como se estruturou em alguns anos o conhecimento singular do indivíduo doente” p. 226.
“Para que a experiência clínica fosse possível como forma de conhecimento foi preciso toda uma reorganização do campo hospitalar, uma nova definição do estatuto do doente na sociedade e a instauração de uma determinada relação entre a assistência e a experiência, os socorros e o saber: foi preciso situar o doente em um espaço coletivo e homogêneo” p. 226.
“Definiu-se então um uso absolutamente novo do discurso científico: uso de fidelidade e obediência incondicional ao colorido da experiência – dizer o que se vê” p. 226.
- Constituição da experiência = fazer ver dizendo o que se vê.
“Foi preciso situar a linguagem médica neste nível aparentemente superficial, mas para dizer a verdade, profundamente escondida. A fórmula de descrição é ao mesmo tempo gesto de desvelamento” p. 226.
- O desvelamento está ligado ao espaço discursivo do cadáver – o interior desvelado.
- A linguagem deveria repousar no fundo estável, visível e legível da morte.
“Esta estrutura em que se articulam o ESPAÇO, a LINGUAGEM e a MORTE – o que se chama em suma de método anátomo-clínico – constitui a condição histórica de uma medicina que se dá em que recebemos como positiva” p. 226.
- A doença não é mais metafísica. A medicina não é mais simpatias.
- Quando a morte se integrou à epistemologia médica que a doença sai da metafísica.
- Da desrazão e loucura nasceu a psicologia. Da morte nasceu uma medicina que se dá como ciência dos indivíduos.
“A experiência da individualidade da cultura moderna está talvez ligada à da morte: dos cadáveres abertos de Bichat ao homem freudiano” p. 227.
- A IMPORTANCIA da medicina para a constituição das ciências do homem. “Ela diz respeito ao ser do homem como objeto de saber positivo” p. 227.
A possibilidade de o indivíduo ser ao mesmo tempo sujeito e objeto de seu próprio conhecimento implica que se inverta no saber o jogo da finitude” p. 227.
- A estrutura antropológica foi a conotação filosófica que possibilitou a organização da Medicina Positiva.
“A medicina oferece ao homem moderno a face obstinada e tranquilizante de sua finitude” p. 228.
“A formação da medicina clínica é apenas uma das mais visíveis testemunhas destas mudanças nas disposições fundamentais do saber” p. 228.
- Analisar os poderes significantes do percebido e sua correlação com a linguagem




[1] A anatomia patológica foi ordinal – ordenou as classificações – antes de ser localizadora. Dizia que a doença não é um objeto passivo e confuso, a que só é preciso aplica-la, na medida em que ela já é, por si mesma, o sujeito ativo que a exerce impiedosamente sobre o organismo.
[2] É o diagnóstico das doenças baseado no exame macroscópico de peças cirúrgicas e microscópicos para o exame de células e tecidos.


[1] “Já estava presente nas primeiras formas de medicina constituindo toda sua plenitude” p. 62.
[2] Tudo era olhado e classificado.