segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Altino Machado entrevista Lula... e Lula responde sobre as eleições

MANIFESTO DO SABER ÀS FRENTES DE COSTAS, por João Veras.

MANIFESTO DO SABER ÀS FRENTES DE COSTAS
DE *Joâo Veras

 
Da propaganda (como indústria):
Um governo não se faz somente licitando concreto, ferro e asfalto.
Um governo não se faz com pomposas paisagens urbanas, simplesmente.
Um governo não faz espalhando galões de tintas multicores e pinceis.
Um governo não se faz tão-só com fabulosas estórias e estórias fabulosas.
Um governo não se faz construindo artifícios de satisfações sociais postiças.
Um governo não se faz só para ser visto de fora apostando na cegueira de dentro.


Do controle (suposto):
Um governo não se faz com ódio e penas à diferenças, à critica e aos que não aderem.
Um governo não se faz selecionando quem deve merecer cidadania.
Um governo não se faz tentando impor um pensamento único, ser detentor da verdade.
Um governo não se faz na fé, por si só, de que produz o correto e o melhor.
Um governo não se faz ditando formas de lidar com os sentidos, os seis e outros.
Um governo não se faz controlando seus fiscais institucionais e sociais. Se teme, deve.
Um governo não se faz com censura, medo da difusão do olhar do outro. Por quê?


Dos enganos (tentados):
Um governo não se faz para  manter as sujeiras da ganancia humana.
Um governo não se faz apostando no aquecimento, e não lembrar que a memória sempre sobrevive.
Um governo não se faz sem deixar de considerar que ninguém se sente bem enganado. 
Um governo não se faz subestimando capacidade e percepções humanas.
Um governo não se faz dando rabissaca pro passado que tanto sonhou, e ainda sonha.
Um governo não se faz somente com o que está à sua vista. Para os seus.
Um governo não se faz com contorcionismos e outros esquemas de enganação à lei.
Um governo não se faz Um governo não se faz da democracia um mero plano de faz-de-conta.
Um governo não se faz mentindo.
Um governo não se faz com aparências.


Do saber (como poder):
Porque nós sabemos, senão saberemos.
Se este fato resulta em algo, sabemos, e os governos sabem, nem que seja num certo dia.


* Musico, poeta, compositor musical, advogado, ativista cultural.

domingo, 21 de novembro de 2010

Posseiros no acre --- maio de 1981

A DEVOLUÇÃO DO ACRE AOS BOLIVIANOS


*Roberto Monteiro de Oliveira

A reação boliviana
– O governo boliviano não se dá por vencido. Em 2 de janeiro de 1899, o ministro plenipotenciário boliviano, Dom José Paravicini, com o consentimento do governo brasileiro retoma a soberania boliviana sobre o Acre.

Paravicini se estabeleceu em um povoado nas terras do Seringal Caquetá que pôs o nome de Puerto Alonso, em homenagem ao então Presidente da Bolívia Severo Fernandez Alonso. Paravicini foi substituído depois por Moisés Santivanez.


O governo dos bolivianos
- Na verdade os prepostos bolivianos exerceram plenamente a soberania sobre o território acreano. Começaram arrecadar impostos sobre a produção da borracha, exigiram a demarcação e legalização das terras dos seringais, e atendendo às pressões do governo norte-americano proclamaram a abertura dos rios amazônicos ao comércio internacional e iniciam um relacionamento autoritário e violento com os seringalistas e seringueiros brasileiros.


A reação dos acreano-brasileiros
- Abandonados pelo moribundo império brasileiro o jornalista José Carvalho, no primeiro de maio de 1899, no Seringal Bom Destino, de propriedade de Joaquim Vítor reuniu outros seringalistas, seringueiros e mais brasileiros e, iniciou o que ficou registrado pela História como a Revolução do Acre.


Estes revolucionários assinaram um manifesto e instituíram a Junta Central Revolucionária que intimou as autoridades bolivianas a se retirarem daquele território o que efetivamente aconteceu sem nenhuma reação.


A grande armação
– Em Belém do Pará, o jornalista espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Árias, em 03 de junho daquele ano de 1899, denunciou pela imprensa a existência de um acordo secreto entre o governo da Bolívia e os Estados Unidos da América do Norte, pelo qual os Estados Unidos em caso de guerra entre o Brasil e a Bolívia pelo território do Acre apoiariam militarmente a Bolívia.


Como sempre, os governos denunciados negaram veementemente. Mas os acontecimentos posteriores comprovaram a verdade das denúncias.
Patrocinado pelo governo do Estado do Amazonas, interessado em manter a soberania sobre aquele território, Luiz Galvez foi até ao Acre para conversar com a junta revolucionária.

O Estado Independente do Acre
– Considerando que as elites do governo brasileiro continuavam reconhecendo a soberania da Bolívia sobre o Acre, sem o conhecimento do que realmente se passava naquela base territorial, totalmente indiferente aos legítimos anseios do povo acreano que queria ser brasileiros, os revolucionários decidem criar o Estado Independente do Acre. “Já que nossa Pátria não nos quer, criamos outra”, diziam os revolucionários.


Efetivamente, no dia 14 de julho de 1899, aniversário da Queda da Bastilha, primeiro fato relevante da Revolução Francesa os revolucionários acreanos proclamam o Estado Independente do Acre com a capital na cidade do Acre, tendo Luiz Galvez Rodrigues de Árias como presidente.


O governo de Galvez
- Galvez foi tomando todas as providências necessárias para a organização do novo Estado. Deve-se observar, porém, que desde as primeiras reuniões entre Galvez e os revolucionários foi fixado o objetivo principal da revolução que era se libertar do domínio dos bolivianos e, logo a seguir se anexar ao Brasil como um Estado autônomo da federação brasileira com todos os direitos inerentes a essa condição.


Este sempre foi o ideal que irmanou seringalistas, seringueiros, homens e mulheres do Acre em busca da cidadania brasileira que lhes estava sendo negada por uma elite burocrática completamente legalista, indiferente aos anseios de um povo que lutava pela afirmação da própria identidade amazônica e brasileira.


Este ideal dos acreanos só será realizado plenamente em 1962 no contexto do governo do presidente João Goulart, após quase sessenta anos de lutas contra governos que continuavam negando aos acreanos a sua autodeterminação.


A deposição de Galvez
- Algumas das medidas adotadas por Luiz Galvez contrariaram interesses de seringalistas, aviadores e exportadores de Borracha de Manaus e Belém o que provocou a substituição de Luiz Galvez pelo seringalista Antônio de Souza Braga em 28 de dezembro de 1899. Mas em 30 de janeiro de 1900, Luiz Galvez volta ao poder convocado por Antônio de Souza Braga que se sentiu incapaz de administrar a situação.


Novamente o governo brasileiro
– Diante dessa situação, acompanhada com grande interesse pelo povo brasileiro e boliviano, o governo brasileiro manda uma força tarefa da marinha para o Acre e em 15 de março de 1900 devolve a soberania daquele território para o governo boliviano.


*Geógrafo do Núcleo de Estudos Amazônicos (NEAZ) da Universidade de Brasília.

sábado, 6 de novembro de 2010

Resumo de Livro: ELIADE, Mircea. Mito e realidade


ELIADE, Mircea. Mito e realidade. Ed. 4°.
Trad. Pola Civelli. São Paulo: Perspectiva, 1994.

“A noção da origem está ligada, sobretudo, à idéia da perfeição e beatitude” p. 52.

CAP 1. A ESTRUTURA DOS MITOS.
Sec. XIX – o mito era a mesma coisa que fábula, invenção, ficção.
Sec. XX – aceitar o mito com olhos da sociedade arcaica, onde o mito designava uma história verdadeira, de caráter sagrado e de exemplar significado. O mito tem um novo status semântico, na verdade é um resgate.
- O mito acabou por designar tudo o que não pode existir realmente.
- O mito fornece os modelos para a conduta humana, conferindo valor à existência.
- O mito está ligado a sociedades arcaicas.
“O mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada através de perspectivas múltiplas e complementares” p. 11.
“O mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do princípio. Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos entres sobrenaturais, uma realidade passou a existir... é sempre, portanto, uma narrativa de criação: ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente. Os personagens dos mitos são os entes sobrenaturais. Eles são conhecidos, sobretudo, pelo que fizeram no tempo prestigioso dos primórdios. Os mitos revelam, portanto, sua atividade criadora e desvendam a sacralidade (ou simplesmente a sobrenaturalidade) de suas obras. Em suma, os mitos descrevem as diversas e, algumas vezes dramáticas, irrupções do sagrado (ou do sobrenatural) no mundo. É essa irrupção do sagrado que realimente fundamenta o mundo e o converte no que é hoje” p. 11.
“O mito é considerado uma história sagrada e, portanto, uma história verdadeira, por que sempre se refere a realidade” p. 12.
“A principal função do mito consiste em revelar os modelos exemplares de todos os ritos e atividades humanas significativas...” p. 13.
- Nas sociedades arcaicas os mitos são tidos como histórias verdadeiras e as fábulas como falsas. Nas histórias verdadeiras estão àquelas que tratam da origem do mundo, os protagonistas, os ancestrais - entes divinos, celestiais. Surge o herói que salva o povo do inimigo comum.
“Em suma, nas histórias verdadeiras, defrontamo-nos com o sagrado e o sobrenatural; as falsas, ao contrário, têm um conteúdo profano” p. 14.
- Os mitos narram os acontecimentos primordiais em conseqüência dos quais o homem se converteu no que é hoje. Somos resultados dos eventos primordiais.
“O homem moderno se considera constituído pela História, o homem das sociedades arcaicas se proclama o resultado de um certo número de eventos míticos”. P. 16.
- O que aconteceu na ORIGEM de todas as coisas pode ser repetido através do poder dos rituais. Ao ser rememorar os mitos e reatualizá-los, nós somos capazes de repetir o que os Deuses, os heróis ou os ancestrais fizeram.
“Aprende-se não somente como as coisas vieram à existência, mas também onde encontrá-las e como fazer com que reapareçam quando desaparecem” p. 18.
- O tempo mítico é o tempo do sonho.
“Os mitos ensinam como repetir os gestos criadores dos Entes Sobrenaturais e, conseqüentemente, como assegurar a multiplicação de tal ou tal animal ou planta” p. 18.
- Conhecer a origem de algo equivale a adquirir poder sobre ele, reproduzi-lo.
- Não é preciso basta conhecer o mito da origem, é preciso recitá-lo.
“Recitando ou celebrando o mito da origem, o indivíduo deixa-se impregnar pela atmosfera sagrada na qual se desenrolaram esses eventos miraculosos. O tempo mítico das origens é um tempo forte, porque foi transfigurado pela presença ativa e criadora dos entes sobrenaturais. Ao recitar os mitos, reintegra-se àquele tempo fabuloso e a pessoa torna-se conseqüentemente, contemporânea, de certo modo, dos eventos evocados, partilha da presença dos deuses ou dos heróis”. P. 21
“Ao viver os mitos, sai-se do tempo profano, cronológico, ingressando num tempo qualitativamente diferente, um tempo sagrado, ao mesmo tempo primordial e indefinidamente recuperável” p. 21.
Para as sociedades arcaicas os mitos: a) constitui a história dosa atos dos entes sobrenaturais; b) a história narrada pelo mito é verdadeira; c) o mito se refere sempre a uma criação; d) conhecendo o mito, conhece-se a origem das coisas, chegando-se a dominá-la; e) vive-se o mito ao rememorá-lo ou reatualizá-lo. (p. 22).
“Não se trata de uma comemoração dos eventos míticos, mas de sua reiteração. O indivíduo evoca a presença dos personagens dos mitos e torna-se contemporâneo deles. Isso implica igualmente que ele deixa de viver no tempo cronológico, passando a viver no tempo primordial, no tempo em que o evento teve lugar pela primeira vez. É por isso que se pode falar no tempo forte do mito: é o tempo prodigioso, sagrado, em que algo de novo, de forte e de significativo se manifestou plenamente” p. 22.
“Em suma, os mitos revelam que o mundo, o homem e a vida têm uma origem e uma história sobrenaturais, e que essa história é significante, preciosa e exemplar” p. 22.

CAP. 2 – PRESTÍGIO MÁGICO DAS ORIGENS (p. 25)
Mitos de Origem e mitos cosmogônicos.
“Toda história mítica que relata a origem de alguma coisa pressupõe e prolonga a cosmogonia. Do ponto de vista da estrutura, os mitos de origem homologam-se ao mito cosmogônico. Sendo a criação do mundo a criação por excelência, a cosmogonia torna-se o modelo exemplar para toda espécie de criação. Isso não quer dizer que omito de origem imite ou copie o modelo cosmogônico, pois não se trata de uma reflexão concertada e sistemática” p. 25.
“Todo mito de origem conta e justifica uma situação nova – nova no sentido de que não existia desde o início do mundo” p. 26.
- Geralmente o guru recita a história da humanidade desde a criação do mundo, e termina contando o nascimento daquele para o qual está sendo realizado o rito.
- É o mito, portanto, da instalação territorial do grupo, em outros termos, a história de um novo começo, réplica da criação do mundo.
- No ritual da comemoração a pessoa mergulha na plenitude primordial, deixa-se penetrar pelas forças gigantescas que tornaram possível a criação. O ser é projetado para fora do tempo profano e deslocado para o tempo sagrado das origens. A cerimônia inclui a execução de diferentes etapas da criação. Reatualizam um após outro os eventos ocorridos nos tempos míticos. É a recitação solene do evento primordial, apóia um novo recomeço, um recomeço a partir da origem.
- A origem é o modelo. Na comemoração, o homem atual repete o feito, por excelência, do gesto arquetípico dos heróis. É preciso saber como o acreano surgiu pela primeira vez. Tentar imitar os heróis é almejar os mesmos resultados, as mesmas glórias.
OBS: devemos pensar não um único começo, mas vários; uma pluralidade de origens.
“O retorno à origem, que permite reviver o tempo em que as coisas se manifestaram pela primeira vez, constitui uma experiência de importância capital para as sociedades arcaicas” p. 36.
- A finalidade da comemoração é relembrar a fonte de tudo; é reviver as origens. É um “voltar atrás” até o tempo original. A recuperação do tempo primordial é indispensável para assegurar a renovação total do cosmo.
- O mito de origem inicia, geralmente, por uma cosmogonia. “O mito recorda brevemente os momentos essenciais da criação do mundo, para contar a seguir, a genealogia da família real, ou a história tribal...” p. 37.
- A cosmogonia é a origem do mundo. A idéia mítica da origem está imbricada no mistério da criação. O mito de origem é como se deu a origem do mundo; é a explicação para o referido fenômeno. A cosmogonia é o exemplo para as demais criações.
“Em suma, a origem de uma coisa corresponde à criação dessa coisa” p. 39.

CAP. III – MITOS E RITOS DE RENOVAÇÃO (p. 41).
- As diferentes fases do ritual levam a sucessivamente níveis de regressão.
- Os mitos de origem recordam aos homens como o mundo foi criado.
OBS: a renovação obedece a um obedece a um modelo, o da origem.
“Não se pode, contudo, renovar o mundo senão repetindo o que os imortais fizeram... eis por que o sacerdote reproduz o itinerário exemplar dos imortais e repete os seus gestos e as suas palavras... O mundo não só se torna mais estável e regenerado, como é igualmente santificado pela presença simbólica dos imortais” p. 50.
“A idéia de que a perfeição estava no princípio parece ser muito antiga” p. 51.
- Há uma obsessão pela beatitude da origem ou dos primórdios. Por isso, a regressão do cosmo ao estado amorfo. Devemos analisar a possibilidade da mobilidade da origem.
“A partir de um certo momento, a origem não se encontra mais apenas num passado mítico, mas também num futuro fabuloso” p. 52. A idade ouro também está no futuro.

CAP. IV – ESCATOLIGUA E COSMOGONIA (p. 53)
“O mito da perfeição do princípio está claramente testificado na Mesopotâmia, entre os judeus e os gregos” p. 60.  Paraíso primordial.

CAP. V – O TEMPO PODE SER DOMINADO (p. 71).
- Para o homem arcaico, o conhecimento da origem de uma coisa é a mesma coisa que dominá-la.
“O desejo de conhecer a origem das coisas caracteriza igualmente a cultura ocidental. No século XVIII e, sobretudo, no século XIX, multiplicaram-se as pesquisas concernentes não só a origem do Universo, da vida, das espécies ou do homem, mas também à origem da sociedade, da linguagem, da religião e de todas as instituições humanas. Há um esforço para conhecer a origem e a história de tudo o que nos cerca...” p. 72.
- No século XX, com a psicanálise, a origem toma outros rumos. Essa disciplina elaborou técnicas capazes de rever a origem da história pessoal do homem, de identificar o evento preciso que pôs fim à beatitude da infância.
- De Freud vem as seguintes idéias: a) a beatitude da origem e do começo do ser humano; b) A idéia segundo a qual, a recordação ou mediante um voltar atrás, é possível reavivver certos incidentes traumáticos da primeira infância. c) o voltar atrás é a técnica por onde a cura se manifesta.
“O retorno individual à origem é concebido como uma possibilidade de renovar e regenerar a existência daquele que a empreende” p. 74.
- O retorno à origem prepara um novo nascimento, mas este não repete o primeiro. “A idéia fundamental é que, para se ter acesso a um modo superior de existência, é preciso repetir a gestação e o nascimento, que são, porém repetidos ritualmente, simbolicamente...” p. 76. O retorno produz rejuvenescimento, transmite longevidade.
- Ir atrás do começo absoluto do qual tudo parte. Para Freud, rememorar o passado é dominá-lo, impedi-lo de influenciar o presente. Percorrer o tempo em direção contrária depende da memória, daí a importância da história, fazer recordar o passado.
- A ORIGEM: qual o lugar do nascimento?
- O conhecimento sobre origem possui um prestígio excepcional no conhecimento.
“Essa história primordial, dramática e algumas vezes trágica, deve ser não só conhecida, mas não só conhecida, mas também continuamente rememorada” p. 84.

CAP. VI – MITOLIGIA, ONTOLOGIA, HISTÓRIA (p. 85).
- O tempo mítico pode não ser o da cosmogonia ou da ontologia, mas ao da história.
- O essencial é atingido por um prodigioso voltar atrás.  
- Foram os gregos que desenvolveram os pressupostos básicos do pensamento mítico: a importância da origem; o papel da memória e a história como sagrada.

CAP. VII – MITOLOGIA DA MEMÓRIA E DO ESQUECIMENTO (p. 103).
- A recordação implica a um esquecimento. A rememoração pretende atingir as profundezas do ser, descobrir o original, a realidade primordial da qual proveio o cosmo.
- Na Grécia, os poetas inspirados pelas musas eram capazes de acessar as realidades originais.
- Temos a memória dos eventos primordiais (cosmogonia, teogonia e genealogia) e a memória dos eventos históricos
- A morte seria o retorno a um estado primordial.

CAP. VIII – GRANDEZA E DECADÊNCIA DOS MITOS (p. 123).
“A rememoração e a reatualização do evento primordial ajudam o homem primitivo a distinguir e reter o real” p. 124.
“O ritual abole o tempo profano, cronológico e recupera o tempo sagrado do mito” p. 126.
- Os mitos fazem menção a um passado glorioso, repleto de eventos grandiosos que pode ser imitados, pois os gestos paradigmáticos têm igual aspecto positivo.
“O rito força o homem a transcender os seus limites, obriga-o a situar-se ao lado dos deuses e dos heróis míticos, a fim de poder realizar os atos deles. Direta ou indiretamente, o mito eleva o homem” p. 128.
- A reforma foi um retorno à bíblia. Ter uma origem bem estabelecida significa prevalecer-se de uma origem nobre. As nações tentam provar a origem nobre. A paixão pela origem nobre explica igualmente o mito racista do arianismo, periodicamente revalorizado no ocidente. O ariano é o ancestral primordial, modelar e glorioso.
- A recitação dos eventos significativos é parte do ritual.

THE END







quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Resumo de livro: PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo.


PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1996.

BIOGRAFIA (Francisco Iglésias)[1]
- Nasceu em fevereiro de 1907 e Morreu em novembro de 1990[2] [83 anos]
- Foi historiador, economista, geógrafo, político e filósofo;
- Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo (1928), onde mais tarde seria livre-docente de Economia Política.
- Toda sua obra é marcada pelo sentido pragmático de luta. Inaugurou a historiografia de tradição marxista no Brasil.
- Filho de pai rico, estudou nos melhores colégios de São Paulo. Quando adolescente, estudou um ano na Inglaterra.
- Como intelectual teve importante atuação política ao longo das décadas de 1930 e 1940, tendo participado das articulações para a Revolução de 1930 (23 anos).
- Participou da Guerra Civil Espanhola.
- Anos 30: fundação da USP e dos Cursos de Ciências Sociais. O marxismo ainda não é tão forte. Surgimento dos EUA como potência.
- 1924-28: Faz o curso de Direito em São Paulo.
- 1931: aos 24 anos se fila ao PCB.[3]
- 1933: estreou na vida acadêmica com o livro Evolução Política do Brasil, aplicando o pensamento marxista na abordagem dos fenômenos históricos. “Ensaios de interpretação materialista da história econômica”. Livro síntese. Caracteriza o período colonial, às vezes, como feudal.
- 1934: Fundou a Associação dos Geógrafos Brasileiros. Viaja para Rússia e depois publica “Rússia: um novo mundo”. Livro cassado por Getúlio Vargas.
- Vice-presidente da Aliança Nacional Libertadora. Fica preso por dois anos e vai para a Europa[4];
- 1937: Golpe de Getúlio Vargas.
- 1942: Formação do Brasil Contemporâneo[5];
- 1943: Funda a Editora Brasiliense, por influência de Monteiro Lobato.
- 1945: História Econômica do Brasil.
- 1945: Deputado Estadual Paulista – PCB.
- 1948: Deputado Constituinte Nacional (cassado no mesmo ano); Gilberto Freire também?
- 1952: Dialética do Conhecimento.
- 1957: Esboço de Fundamentos da Teoria Econômica;
- 1962: O Mundo Socialista.
- 1964: sofre perseguição da Ditadura Militar, foi proibido de lecionar. Gilberto Freire apoia o “Golpe”.
- 1966: A Revolução Brasileira. Uma análise dos rumos do país após o movimento de 1964.
- 1966: foi eleito o Intelectual do Ano, com a conquista do Prêmio Juca Pato;
- 1971: Estruturalismo de Lévi-Strauss - O Marxismo de Louis Althusser;
- 1972: História e Desenvolvimento;
- 1979: A Questão Agrária no Brasil;
- 1980: O que é Liberdade;
- 1981: O que é Filosofia;
- 1983: A Cidade de São Paulo.

INTRODUÇÃO
- Ainda é a obra mais relevante sobre o período colonial.
“O início do século XIX não se assinala para nós unicamente por estes acontecimentos relevantes que são a transferência da sede da monarquia portuguesa para o Brasil e os atos preparatórios da emancipação política do país. Ele marca uma etapa decisiva em nossa evolução e inicia em todos os terrenos, social, político e econômico, uma FASE NOVA” p. 9.
- Constitui-se num balanço final de três séculos de colonização.
“Constitui uma chave, e chave preciosa e insubstituível para se acompanhar e interpretar o processo histórico posterior e a resultante dele que é o Brasil de hoje” p. 9.
“Alcança-se aí o instante em que os elementos constitutivos da nossa nacionalidade […] entra-se então na fase propriamente do Brasil Contemporâneo” p. 9.
- Não era o regime de subordinação colonial que estava em jogo, mas sim o “conjunto das instituições, o sistema colonial na totalidade de seus caracteres econômicos e sociais” p. 9.
“A obra colonizadora dos portugueses, na base em que assentava, e que em conjunto forma aquele sistema, esgotar suas possibilidades” p. 9.
“O Brasil contemporâneo se define assim: o passado colonial que se balanceia e encerra com o século XVIII, mais as transformações que se sucederam no decorrer do centenário anterior a este e no atual. Naquele passado se constituíram os FUNDAMENTOS da nacionalidade: povoou-se um território semi-deserto, organizou-se nele uma vida humana que diverge tanto daquela que havia aqui, dos indígenas e suas nações, como também, embora em menor escala, da dos portugueses que empreenderam a ocupação do território” p. 10.
“Criou-se no plano das realizações humanas algo de novo […] uma organização social definida por relações específicas; finalmente, até uma consciência, mais precisamente certa ATITUDE MENTAL coletiva particular” p. 10.
“Os sintomas de cada um dos caracteres vão aparecendo no curso de toda nossa evolução colonial; mas é no termo dela que se completam e, sobretudo, se definem nitidamente ao observador” p. 10.
“Entremos então em NOVA FASE” p. 10.
- A colonização deu fruto a um “organismo social completo e distinto” p. 10.
“É por isso, que para compreender o Brasil contemporâneo, precisamos ir tão longe” p. 10.
“O passado, aquele passado colonial que referi acima, aí ainda está, e bem saliente; em parte modificado, é certo, mas presente em traços que não se deixam iludir. Observando-se o Brasil de hoje, o que salta à vista é um organismo em franca e ativa transformação e que não se sedimentou ainda em linhas definidas; que não tomou forma” p. 10-11.
“[...] sente-se a presença de uma realidade já muito antiga que até nos admira de aí achar e que não é senão aquele passado colonial” p. 11.
“No terreno econômico, por exemplo, pode-se dizer que o trabalho livre não se organizou ainda inteiramente em todo país […] O mesmo poderíamos dizer do caráter fundamental da nossa economia, isto é, da produção extensiva para o mercado do exterior, e da correlata falta de um largo mercado interno solidamente alicerçado e organizado. Donde a subordinação da economia brasileira a outras estranhas a ela […] Numa palavra, não completamos ainda hoje a nossa evolução da economia colonial para a nacional” p. 11.
- Em relação ao terreno social, as relações coloniais prevaleceram.
“Os problemas brasileiros de hoje, os fundamentais, pode-se dizer que já estavam definidos e postos em equação há 150 anos atrás” p. 12.
“Faço primeiro um balanço geral da colônia em princípios do século passado, ou antes, naquele período que cavalga os dois séculos que precedem imediatamente o atual; teremos então uma síntese do Brasil que saía, já formado e constituído, dos três séculos de evolução colonial; e tal será o objeto deste primeiro volume. As transformações seguintes, que nos trouxeram até o estado atual virão depois” p. 13.

SENTIDO DA COLONIZAÇÃO
“Todo povo tem na sua evolução, vista a uma certa distância, um sentido. Isso se percebe no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que constituem num largo período de tempo” p. 19.
“Quem observa aquele conjunto […] não deixará de perceber que ele se forma de uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em ordem rigorosa e dirigida sempre numa determinada orientação. Isso é que se deve procurar quando se aborda a análise da história de um povo […] porque todos os momentos e aspectos não são senão partes, por si só incompletas, de um todo que deve ser sempre o objetivo último do historiador” p. 19.
“Povo, país, nação, sociedade […] aquela unidade que lhe permite destacar uma tal parcela humana para estudá-la à parte” p. 19.
“O sentido da evolução de um povo pode variar” p. 19.
“Visto de um ângulo geral e amplo, a evolução de um povo se torna explicável” p. 20.
“Os pormenores e incidentes que constituem a trama de sua história ameaçam nublar o que VERDADEIRAMENTE forma a LINHA MESTRA que a define” p. 19.
- Se deixar de lado esses por menores, só então “nos é dado alcançar o sentido daquela evolução, compreendê-la, explicá-la” p, 19.
- O autor diz não precisar de toda história do Brasil e que por isso parte do “final do período de colônia […] um elo da mesma cadeia que nos traz desde o nosso mais remoto passado” p. 20.
“Não sofremos nenhuma descontinuidade no correr da história da colônia […] aquele momento se apresenta como um termo final e a resultante de toda nossa evolução anterior” p. 20.
“precisamos reconstituir o conjunto de nossa formação colocando-a no amplo quadro, destes três séculos de atividade colonizadora que caracterizam a história dos países europeus do século XV; atividade que integrou um novo continente na sua órbita” p. 20.
“Mundo moderno, em que a Europa, ou melhor, sua civilização, se estenderia dominadora por toda parte […] a ocupação e povoamento do Brasil não é senão um episódio, um pequeno destaque daquele quadro imenso” p. 20.
“A colonização portuguesa na América […] é apenas a parte de um todo, incompleto sem a visão deste todo” p. 20.
- A colonização aparece como um acontecimento natural após o descobrimento.
- ESTREITO DE GILBRALTAR: “[...] se revelará profunda e revolucionária todo o equilíbrio europeu, foi deslocar a primazia comercial dos territórios centrais do continente […] para aqueles que formam a sua fachada oceânica: Holanda, Inglaterra, Normandia, Bretanha e Península Ibérica” p. 21.
“Em suma e no essencial, todos os grandes acontecimentos desta era, que se convencionou com razão chamar de “descobrimentos”, articulam-se num conjunto que não é senão um capítulo da história do comércio Europeu” p. 22.
“É sempre como traficantes que os vários povos da Europa abordarão cada uma daquelas empresas que lhes proporcionarão sua iniciativa, seus esforços, o acaso e as circunstâncias do momento em que se achavam” p. 23.
“Tudo isto lança muita luz sobre o espírito com que os povos da Europa abordam a América. A idéia de povoar não ocorre inicialmente a nenhum. É o comércio que os interessa, e daí o relativo desprezo por este território primitivo e VAZIO que é a América” p. 23.
“Ocupar com povoamento efetivo, isto só surgiu como contingência, necessidade imposta por circunstâncias novas e imprevistas [...] nenhum povo da Europa estava em condições naquele momento de suportar sangrias na sua população (por conta da peste negra” p. 24.
“Fala-se em colonização, mas o que o termo envolve não é mais que o estabelecimento de feitorias comerciais” p. 24.
“Na América a situação se apresenta de forma inteiramente diversa: um território primitivo habitado por rala população indígena incapaz de fornecer qualquer coisa de realmente aproveitável” p. 24.
“Para os fins mercantis que se tinham em vista, a ocupação não se podia fazer como nas simples feitorais, com um reduzido pessoal incumbido apenas do negócio, sua administração e defesa armada; era preciso ampliar estas bases, criar um povoamento capaz de abastecer e manter as feitorias [...] A idéia de povoar surge daí, e só daí” p. 24.
“Os problemas de novo sistema de colonização, envolvendo a ocupação de TERRITÓRIOS QUASE DESERTOS E PRIMITIVOS” p. 25.
“Durante mais de dois séculos despejar-se-á na América todo resíduo das lutas político-religiosas da Europa” p. 26.
“O tabaco, originário da América e por isso ignorado antes do descobrimento, não teria, depois de conhecido, menor importância” p. 28.
“O colono europeu ficará então aí na única posição que lhe competia: de dirigente e grande proprietário rural” p. 30.
- No Brasil, “não se chegou nem a ensaiar o trabalho branco [...] em Portugal, a que pertencia à maioria delas, havia, não havia como na Inglaterra, braços disponíveis, e dispostos a emigrar a qualquer preço. Em Portugal, a população era tão insuficiente que a maior parte do seu território se ainda, em meados do século XVI, inculto e abandonado” p. 30.
“As colônias tropicais tomaram um rumo inteiramente diverso do de suas irmãs da zona temperada [...] uma sociedade à semelhança do seu modelo e origem europeus; nos trópicos, pelo contrário, surgirá um tipo de sociedade inteiramente original” p. 30.
“A colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais completa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar, os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu” p. 31.
“Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros, mais tarde ouro e diamante; depois, algodão, e em seguida, café, para o comércio europeu” p. 32.

Cap. 1 – Povoamento (p. 35).



 POVOAMENTO
“As estatísticas demográficas que possuímos da colônia são extremamente escassas. Não havia coleta regular e sistemática de dados, e faziam-se levantamentos apenas para dois fins especiais e restritos: um eclesiástico, outro militar [...] só pelos últimos anos do século XVIII, a metrópole cogitou da organização de estatísticas gerais e sistemáticas” p. 35.
“[...] 4.400.000, incluindo os índios não domesticados que se avaliavam, sem grande base em 800.000. São estes, em suma, os dados mais seguros que possuímos” p. 36.
“A sua distribuição pelo território da colônia é grandemente irregular” p. 36.
“[...] forma o Território do Acre, e que não fazia ainda parte do Brasil, nem se achava ocupada” p. 36.
“Concorrem em seguida, para a expansão interior, dois fatores essenciais: o bandeirismo prendedor de índios e prospector de metais e pedras preciosas” p. 37.
“[...] 60% da população colonial, ou sejam, quase 2.000.000 de habitantes, concentram-se numa faixa litorânea que não ultrapassa para o interior [...] Este desequilíbrio entre o litoral e o interior exprime muito bem o caráter predominante da colonização: AGRÍCOLOA – donde a preferência pelas férteis, úmidas e quentes baixadas da marinha; e COMERCIALMENTE voltada para o interior, onde estão os mercados para seus produtos” p. 39.
“Excluo as BANDEIRAS, que andaram por toda parte, mas que exploram apenas e não fixam povoadores [...] A dispersão pelo interior, intensa e rápida, é da primeira metade do século XVIII, quando o outro, descoberto sucessivamente em Minas Gerais, Cuiabá e Goiás desencadeia o movimento” p. 39.
“A decadência franca é do terceiro quartel do século. Cessa então a corrente de povoamento para o interior; e até em muitos casos ela se inverte. Renasce o litoral e a agricultura recupera a primazia” p. 40.
“Em conjunto, nosso litoral se apresenta pouco favorável ao estabelecimento do homem [...] os raros pontos favoráveis foram, por isso, avidamente aproveitados” p. 40.

POVOAMENTO INTERIOR
“Já me referi aos fatores principais que determinaram a penetração do povoamento pelo vasto interior da colônia [...] Foram tais fatores a mineração e a dispersão das fazendas de gado” p. 55.
“No extremo-norte, na Amazônia, atuam circunstâncias locais e próprias” p.55.
“Entre a mineração e o avanço dos rebanhos ocorre, no que diz respeito ao povoamento, uma primeira diferença [...] a primeira impele o homem num arranco brusco, do litoral para o coração do continente; não há contigüidade na expansão: os núcleos mineradores vão surgir muito longe dos pontos de partida das correntes migratórias ]...] coisa muito diversa se passa com a penetração levada pelas fazendas de gado [...] as fazendas, e com elas o povoamento, vão-se espraiando paulatinamente para o interior” p. 56.
“[...] ao contrário do povoamento provocado pela mineração, não se constitui de núcleos que surgem isolados do interior e largamente agastados uns dos outros, bem como de seus centros de origem no litoral” p. 56.
“As regiões mineradoras não eram favoráveis nem à agricultura nem à pecuária” p. 57.
- O segundo grande núcleo de povoamento derivado da mineração foi a capitania de Mato Grosso. P. 58.
- O terceiro grande núcleo foi GOIÁS.
“A comarca do norte de Goiás sofria duramente da hostilidade dos índios” p. 60.
“Já afirmei acima que à pecuária se deve a ocupação de boa parte do território da colônia, e calculado em área efetivamente colonizada, ela ultrapassa a mineração” p. 61.
- Sobre o nordeste: p. 61.
- A colonização iniciou-se a partir de dois focos principais: Bahia e Pernambuco.
“É na margem dos poucos rios perenes que se condensa a vida humana” p. 63.
 “Um fundo escasso de população pastoril, concentrada nas bacias de alguns rios perenes [...] Sobre este fundo pastoril condensam-se em certos pontos núcleos de população mais concentrada e de nível econômico mais elevado e diferenciado [...] Numa síntese, é esta a estrutura do povoamento nordestino” p. 64-65.
“Volvamos agora para o outro extremo da colônia, que também se povoou com fazendas de gado: o sul” p. 65.
“À pecuária juntou-se aí um pouco de agricultura” p. 65.
- O caso de São Paulo (p. 66-68).
“As grandes fontes da vida paulista serão o comércio de escravos indígenas, preados no alto sertão e vendidos nos centros agrícolas do litoral” p. 67.
- A região norte “Ele se fez e se manteve isolado do resto do país [...] a Amazônia ficará à margem deste sistema que constitui o resto da colônia [...] Forma-se e evoluirá por conta própria” p. 68.
“Se apesar de tudo isto a bacia amazônica entrou na órbita da colonização luso-brasileira e fugiu à dominação espanhola, a que pertencia na maior parte do seu território pelo direito inconteste de Tordesilhas, é que na face portuguesa do continente sul-americano se abre sua única via de acesso cômodo e fácil” p. 69.
“[...] o castelhano, vindo em sentido contrário, e que teve de fazer caminho através das ásperas quebradas dos Andes, em três mil quilômetros para o interior” p. 69.
“E a Amazônia se tornou brasileira” p. 69.
“Para efeitos da colonização, o grande rio e seus afluentes se apresentaram como um verdadeiro prolongamento do litoral” p. 69.
“O povoamento se disseminou por isso linearmente, em pequenos núcleos ribeirinhos ao longo das artérias fluviais. Além deste povoamento fixo, há outra forma de ocupação humana nesta região de colheita dos frutos espontâneos da floresta: é a intermitente das expedições que vão anualmente à estação própria, percorrer o alto curso dos rios à cata de produtos” p. 69.
“Esta região (rio negro) será assim a mais povoada do alto Amazonas, até que a borracha, quase um século depois, faça surgir do DESERTO os estabelecimentos do Alto Purus e Juruá” p. 70.

CORRENTES DE POVOAMENTOS
- Três fases do povoamento do Brasil: “A primeira, que se inaugura com a colonização e vai até fins do século XVII [...] o século XVIII abre-se com a revolução demográfica que provoca a descoberta do ouro no centro do continente [...] sem esta análise, ter-se-ia uma pálida idéia apenas do povoamento brasileiro nas vésperas de nossa emancipação política” p. 72.
“O que interessa aqui é notar que a colonização não se orienta no sentido de constituir uma base econômica sólida e orgânica, isto é, a exploração racional e coerente dos recursos do território para a satisfação das necessidades materiais da população que nela habita” p. 73.
“A Seca Grande de 1793-3 foi o último e quase mortal golpe sofrido, no século XVIII, pelos sertões do nordeste. Já referi que é esta a causa principal por que a região perdeu seus mercados nos grandes centros agrícolas do litoral norte” p. 74.
“Analise acima a evolução do povoamento de São Paulo e a decadência que atinge a capitania no correr do século XVIII” p. 81.
“Em fins do século a mineração já se achava inteiramente abandonada e substituída pela agricultura” p. 84.
“Em suma, o que se deve reter desta análise dos movimentos demográficos no centro-sul da colônia, no período que ora nos ocupa, é a sua extrema complexidade. Vemos as correntes povoadoras se cruzarem e entrecruzarem [...] territórios virgens são devassados e ocupados [...] o eixo econômico do Brasil se desloca definitivamente para este setor. A mineração o levara do norte açucareiro para o centro do território da colônia. Ele se fixará agora neste setor que compreende as capitanias do Rio de Janeiro e São Paulo” p. 84.
“Das três raças que entraram na constituição do Brasil, duas pelo menos, os indígenas e africanos, trazem à baila problemas étnicos muito complexos. Se para os brancos ainda há uma certa homogeneidade, que no terreno puramente histórica pode ser dada como completa, o mesmo não ocorre com os demais” p. 85.
“No caso dos índios, o avanço da colonização, a ocupação do território, a maior ou menor facilidade com que prestam seu concurso ao colono branco, com ele coabitam e se amalgamam, contribuindo assim para as características étnicas do país” p. 84.
RAÇAS
“[...] estudo da composição étnica do Brasil, em tomar as três raças como elementos irredutíveis, considerar cada qual unicamente na sua totalidade” p. 86.
“O branco, que até princípios do século XIX, entra na composição da população brasileira, é quase só de origem portuguesa” p. 86.
“É praticamente nula a participação não lusitana no Brasil dos primeiros anos do século XIX” p. 87.
“O recrutamento dos colonos deste tipo se fez, sobretudo, nos Açôres, que sempre constituíram um viveiro demográfico a braços com excessos de população que o reduzido território das ilhas não comportava [...] ao Pará chegaram os primeiros açorianos em 1673”. P. 89.
“No sul, esta forma de colonização por açorianos é mais importante, e é ela que constituirá o fundo principal do povoamento de Santa Catarina” e do Rio Grande do Sul” p. 90.
“Aquelas relações entre colonos e índios nunca foram além de uma simples aliança de igual para igual” p. 91.
“Aqui no Brasil tratou-se desde o início de aproveitar o índio, não apenas para obtenção dele, pelo tráfico mercantil, de produtos nativos, ou simplesmente como aliados, mas sim como elementos participantes da colonização. Os colonos viam nele um trabalho aproveitável” p. 91.
“O que Portugal podia pretender, e de fato pretendeu como nação colonizadora de um território imenso para o que não lhe sobrava população suficiente, era utilizar todos os elementos disponíveis; e o índio não podia ser desprezado na consecução de tal fim” p.92.
“À escravidão sumária e exploração brutal do índio pelo colono o jesuíta opôs o segregamento, o isolamento dele”.
“Tese jesuíta da liberdade dos índios, da necessidade de educa-los e os preparar para a vida civilizada” p. 93.
“A legislação pombalina [...] regularizou definitivamente o problema indígena [...] desaparece com ela a escravização do índio” p. 95.
“O incremento do tráfico africano, que é fomentado depois das leis pombalinas, particularmente para as capitanias cuja mão-de-obra fora até então constituída quase exclusivamente de índios” p. 95.
- Índios na Amazônia. P. 96.
“Os índios, o que quer dizer a quase totalidade da população, viviam segregados dos colonos e sob a jurisdição exclusiva das missões” p. 97.
“A verdadeira língua era o tupi, universal e exclusivamente utilizada” p. 98.
“É a isto que a legislação pombalina obviou. Por efeito dela e do contato mais íntimo que estabelece entre a massa indígena e o elemento branco, aquela massa vai aos poucos, embora através de crises dolorosas, integrando-se na população geral, e confundindo-se com ela” p. 98.
“A mestiçagem, que é o signo sob o qual se forma a nação brasileira, e que constitui sem dúvida o seu traço característico mais profundo e notável, foi à verdadeira solução encontrada pela colonização portuguesa para o problema indígena” p. 98.
- A Legislação Pombalina foi abolida em 1798. “Equiparam-se então os índios, a todos os respeitos, aos demais súditos da coroa, suprimindo a tutela dos diretores [...] impõe-se aos índios a obrigação de trabalhadores, mediante remuneração” p. 98.
“Em certos pontos da colônia organiza-se mesmo o tráfico de índios escravizados de uma para outra capitania” p. 100.
“Em troca de mercadoria européia, os índios forneciam os produtos naturais colhidos nas suas matas” p. 101.
- “índios bárbaros”, “índios selvagens”.
“A terceira grande área contínua de território povoado de índios selvagens ocupa a bacia do rio Paraná” p. 104.
“É isto, em suma, o que sobrava de índios selvagens no Brasil em princípios do século passado. Uma outra parte da população indígena é a dos mandos” p. 104.
“A aguardente se revelara o melhor estímulo para levar o índio para o trabalho” p. 105.
“A população indígena, em contanto com os brancos, vai sendo progressivamente eliminada e repetindo mais uma vez um fato que sempre ocorreu em todos os lugares e em todos os tempos em que se verificou a presença, de rapaz de níveis culturais muito apartados: a inferior e dominada desaparece. E não fosse o cruzamento, praticado em larga escala entre nós e que permitiu a perpetuação do sangue indígena, este estaria fatalmente condenado à extinção total” p. 106.
- Início do século XIX = 6 milhões de negros.
“A notável participação do elemento negro na população brasileira se exprime por números elevados: só os escravos constituíam um terço da população total, segundo os dados mais prováveis para os primeiros anos do século” p. 107.
“É este aliás o caráter mais saliente da formação étnica do Brasil: a mestiçagem profunda das três raças [...] numa orgia de sexualismo desenfreado que faria da população brasileira um dos mais variegados conjuntos étnicos que a humanidade jamais conheceu” p. 107.
“Os brancos pela imigração; os pretos pelo tráfico; os índios pela incorporação contínua de indivíduos” p. 107.
“A MESTIÇAGEM, signo sob o qual se formou a etnia brasileira, resulta da excepcional capacidade do português em se cruzar com outras raças” p. 107.
- O imigrante vem só. O colono imigra individualmente.
“A falta de mulheres brancas sempre foi um problema de toda colonização européia em territórios ultramarinos” p. 108.
“A mestiçagem brasileira é antes de tudo uma resultante do problema sexual da raça dominante, e por centro do colono branco”.
“Tudo que acabamos de ver diz respeito ao Brasil tomado EM CONJUNTO. Podemos reuni-las (as variantes regionais) em traços essenciais” p. 112.
“O preto e seus derivados dominam nas regiões de grande atividade econômica” p. 112.
- Norte: o índio prevalece. “Trata-se de região de nível econômico baixo” p. 113.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    
Cap. 2 – Vida Material (p. 119)

ECONOMIA
“No primeiro capítulo, em que procurei destacar o sentido da colonização brasileira, já se encontra o essencial do que precisamos para compreender e explicar a economia da colônia” p. 119.
“Aquele sentido é o de uma colônia destinada a fornecer ao comércio europeu alguns gêneros tropicais ou minerais de grandes importâncias: açúcar, algodão, outro, etc” p. 119.
“A nossa economia se subordina inteiramente a este fim, isto é, se organizará e funcionará para produzir e exportar aqueles gêneros. Tudo mais que nele existe, e que é, aliás, de pouca monta, será subsidiário e destinado unicamente a amparar e tornar possível a realização daquele fim essencial” p. 119.
“Na agricultura, depois falarei dos demais setores, o elemento fundamental será a grande propriedade monocultural trabalhada por escravos” p. 119.
“A grande exploração agrária – o engenho, a fazenda – é consequência natural e necessária de tal conjunto. Resulta de todas aquelas circunstâncias que concorrem para a ocupação e aproveitamento deste território que havia de ser o Brasil” p. 119.
“Já vimos no primeiro capítulo o tipo de colono europeu que procura os trópicos e nele permanece. Não é o trabalhador, o simples povoador; mas o explorador, o empresário de um grande negócio” p. 120.
“[...] construir na colônia um regime agrário de grandes propriedades” p. 120.
“A grande propriedade lavrada por trabalhadores dependentes, sejam escravos ou assalariados, ou bem formas intermediárias de trabalho, representa o sistema de organização agrária que sempre acaba dominando nos trópicos, mesmo quando outros são inicialmente tentados” p. 120.
“A monocultura acompanha necessariamente a grande propriedade tropical [...] a agricultura tropical tem por objetivo único a produção de certos gêneros de grande valor comercial e, por isso, altamente lucrativos” p. 121.
“O sistema da grande propriedade trabalhada por mão-de-obra inferior, como é a regra nos trópicos, não pode ser empregada numa exploração diversificada e de alto nível técnico” p. 122.
Com a grande propriedade monocultural instala-se no Brasil o trabalho escravo” p. 122.
A escravidão torna-se assim necessidade: o problema e a solução foram idênticos em todas as colônias tropicais e mesmo subtropicais da América” p. 122.
“No fim da era colonial, cerca de um terço da população colonial era composta de escravos negros” p. 122.
“Completam-se assim os três elementos constitutivos da organização agrária do Brasil: a) a grande propriedade; b) monocultura; c) trabalho escravo. Estes três elementos se conjugam num sistema típico, a Grande Exploração Rural, isto é, a reunião numa mesma unidade produtora de grande numero de indivíduos; é isto que constitui a célula fundamental da economia agrária brasileira. Como constituirá também a base principal em que assenta toda a estrutura do país, econômica e social” p. 122-123.
“O terceiro setor das grandes atividades fundamentais da economia brasileira é o extrativismo. Ela própria, quase exclusivamente do bale do Amazonas. Organizar-se-á de forma diferente, porque não terá por base a propriedade territorial” p. 123.
“Além disso, a extração não é uma atividade permanente, e se organiza de cada vez, para se dissolver logo depois da estação apropriada em que se efetua” p. 123.
- A pecuária e outras atividades não estão relacionadas com o comércio exterior, portanto, não caracteriza  a economia colonial brasileira.
“O que procuro é apenas destacar os elementos fundamentais e característicos da organização econômica da colônia” p. 124.
“Elas são a Grande Unidade Produtora, seja agrícola, mineradora ou extrativista” p. 24.
- A economia colonial é caracteriza pela concentração extrema da riqueza.
“Em suma essas são as características fundamentais da economia colonial brasileira: de um lado, esta organização da produção e do trabalho, e a concentração da riqueza que dela resulta; do outro, a sua orientação, voltada para o exterior e simples fornecedora do comércio internacional [...] não há na realidade modificações substanciais do sistema colonial nos três primeiros séculos de nossa história” p. 125.
“Em substância, nas suas linhas gerais e caracteres fundamentais de sua organização econômica, o Brasil continuava, três séculos depois do início da colonização, aquela mesma colônia visceralmente ligada, à economia da Europa; simples fornecedora de mercadorias para o seu comércio. Empresa de colonos brancos acionada pelo braço de raças estranhas, dominadas, mas ainda não fundidas na sociedade colonial” p. 125.
“As colônias existem e são estabelecidas em benefício exclusivo da metrópole” p. 126.
“O Brasil existia para fornecer-lhe ouro e diamante, açúcar, tabaco e algodão” p. 126.
“O resultado desta política, reduzido o Brasil à simples situação de produtor de alguns gêneros destinados ao comércio internacional, acabou por se identificar a tal ponto com a sua vida, que já não se apoiava unicamente em nossa subordinação de colônia, já não derivava apenas da administração do reino” p. 126.
“Não podíamos ser outra coisa mais que o que fôramos até então: uma feitoria da Europa, um simples fornecedor de produtos tropicais para seu comércio” p. 127.
- História econômica brasileira foi por ciclos.
“É assim que se formou e sempre funcionou a economia brasileira: a repetição no tempo e no espaço de pequenas e curas empresas de maior ou menor sucesso” p. 128.
“[...] característica fundamental é: de um lado, na sua estrutura, um organismo meramente produtor, e constituído só para isto: um pequeno número de empresários e dirigentes que senhoreiam tudo, e a grande massa da população que lhe serve de mão-de-obra [...] um fornecedor do comércio internacional dos gêneros que este reclama e de que ela dispõe [...] a exploração extensiva e simplesmente especuladora, instável no tempo e no espaço, dos recursos naturais do país” p. 129.
GRANDE LAVOURA
A agricultura é o nervo econômico da civilização. Com ela se inicia – se excluirmos o insignificante ciclo extrativo do pau-brasil – e a ela deve a melhor porção de sua riqueza. Numa palavra, é propriamente na agricultura que assentou a ocupação e exploração da maior e melhor parte do território brasileiro. A mineração não é mais que um parêntese; de curta duração aliás” p. 130.
“Os depósitos auríferos, ricos apenas na superfície do solo, se tinha esgotado, e não pagavam mais a sua exploração” p. 130.
- A revolução industrial tem reflexos no mundo colonial – “seus mercados se alargam, seus produtos se valorizam” p. 130.
“Todos os conflitos europeus, desde a guerra de sucessão da Espanha, e inclusive as guerras napoleônicas, têm sempre, como última causa, o problema colonial” p. 130.
“Aliás, estas guerras, cujo teatro principal é quase sempre nas grandes rotas marítimas, vão contribuir para a valorização dos produtos do ultramar, embaraçando e tornando escasso o seu fornecimento” p. 130.
“Os progressos técnicos do século XVIII permitirão o aproveitamento do algodão em medidas quase ilimitadas, e ele se tornará a principal matéria-prima do momento [...] O Brasil terá sua parte neste surto sem paralelo no passado do comércio algodoeiro” p. 131.
“Produzindo exclusivamente para o exterior, as atividades econômicas da colônia se fixam naturalmente próxima aos portos de embarque e exportação” p. 133.
“A desvantagem das capitanias do interior, neste terreno, é manifesta. Numa economia essencialmente exportadora como a da colônia, sua posição é excêntrica. Só com a agricultura, a colonização não teria penetrado o interior; e por isso que até o século XVII os portugueses continuavam a arranhar o litoral como caranguejos. São a mineração e a pecuária que tornaram possíveis e provocaram o avanço: a primeira por motivos óbvios, o valor considerável do outro e dos diamantes e do ouro; a segunda, para empregar a pitoresca fórmula do mesmo autor que acabei de citar acima, os gados não necessitam de quem os carreguep. 133.
“É no planalto (região produtora de açúcar) e não no litoral que São Paulo começa sua restauração e progresso” p. 134.
“De modo geral, é assim a faixa de território mais próxima do mar que é atingida pelo renascimento agrícola da colônia” p. 134.
“Para a instalação de novas culturas, nada de novo se realizara que o processo brutal, copiado dos indígenas, da QUEIMADA para o problema do esgotamento do solo [...] a mata [...] desaparecia rapidamente devorada pelo fogo” p. 135.
“A devastação da mata em larga escala ia semeando desertos estéreis atrás do colonizador” p. 136.
“O vácuo de matas que se ia formando em torno dos engenhos criava outros problemas igualmente sérios [...] a falta de lenha é uma das causas comuns do abandono de engenhos” p. 136.
- Nada faziam para melhorar o aproveitamento, a restauração ou a conservação das propriedades naturais do solo.
- O processo de lavrar o solo era primitivo, o instrumento agrícola era e enxada.
“O sistema geral da colonização fundada no trabalho ineficiente e quase sempre semibárbaro do escravo africano” p. 139.
“A colonização européia nos trópicos inaugurou ali um novo tipo de agricultura comercial extensiva e em larga escala” p. 140.
“A baixa produtividade da agricultura brasileira, e que acabará numa esterilização quase completa da área extensa (exceção o café)” p. 141.
“O que nos cabe concluir é que o baixo nível técnico das nossas atividades agrárias, e as consequências que teria não se devem atribuir unicamente à incapacidade do colono” p. 141.
- AGRICULTURA COLINIAL: a) Grande Lavoura; b) Agricultura de Subsistência.
“A grande lavoura representa o NERVO da agricultura colonial; a produção dos gêneros de consumo interno – a mandioca, o milho, o feijão – foi um apêndice dela, de expressão puramente subsidiária” p. 143.
“Outro aspecto que distingue a agricultura de subsistência da grande lavoura é a organização da produção” p. 143.
“O traço essencial das grandes lavouras é, como já afirmei, a exploração em larga escala” p. 143.
“O Brasil é um dom do açúcar. E ainda no termo da história colônia, representa seu principal esteio econômico” p. 144.
“O engenho é uma organização complexa e dispendiosa” p. 146.
“O engenho compreende numerosas instalações: moenda, caldeira, casa de purgar, etc. além da casa-grande que é a habitação do senhor [...] a senzala dos escravos e instalações acessórias e suntuárias; oficinas, estrebarias, etc.” p. 146.
“O engenho é um verdadeiro mundo em miniatura, em que se concentra e resume a vida toda de uma pequena parcela da humanidade” p. 147.
“O trabalho é todo escravo” p. 147.
- Cada engenho tem, no mínimo, 80 escravos. Os maiores têm na média 400 escravos.
“Até o terceiro quartel do século XVIII, quando começa a ser exportado, o algodão nada mais representa que uma insignificante cultura de expressão local e de valor econômico mínimo” p. 148.
- A função exportadora da economia brasileira “é ela o fator único determinante de qualquer atividade econômica de vulto” p. 149.
“A primeira remessa de algodão brasileiro para a exterior data, ao que parece, de 1760” p. 149.
“O progresso da lavoura algodoeira foi facilitado pela relativa simplicidade da produção” p. 152.
“A terceira grande lavoura da colônia é a do tabaco [...] boa parte da exportação destina-se à África, servindo no escambo de escravos” p. 153.

AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA
- Cacau era a principal atividade agrícola do Pará e Rio Negro.
- A aguardente era outro produto utilizado no escambo de escravos.
- O papel secundário da agricultura de subsistência originou um sério problema “A do abastecimento dos núcleos de povoamento mais denso, onde a insuficiência alimentar se tornou quase a regra” p. 163.

MINERAÇÃO
“No alvorecer do século XIX, a indústria mineradora do Brasil, que se iniciara sob tão brilhante auspícios e absorvera durante cem anos o melhor das atenções e atividades do país, já tocava sua ruína final”. P. 169.
“As causas da decadência que se segue não são difíceis de precisar”.
“A indústria mineradora no Brasil nunca foi além, na verdade, desta aventura passageira” p. 171.
“As descobertas de jazidas eram obrigatoriamente manifestadas às autoridades competentes” p. 174.
“Subordinava-se à intendência a Casa de Fundição, onde se recolhia obrigatoriamente todo ouro extraído, e onde, depois de fundido, ensaiado, quintado, e reduzido a barras cunhadas, era devolvido ao portador acompanhado de um certificado de origem que deviam circular as barras [...] A intendência não exerceram efetivamente e de forma normal senão a função de cobrar o quinto e fiscalizar os descaminhos do ouro [...] Seus funcionários, bacharéis e burocratas inteiramente alheios a assuntos de mineração, não deram nunca um passo no sentido de promover melhorias, tentar o aperfeiçoamento dos processos empregados na extração do outro” p. 176.
“Nada interessava, senão o quinto” p. 177.
“Quando a indústria mineradora da colônia á era uma ruína, e sob seus escombros gemia uma população empobrecida Cuja miséria flagrante não podia mais iludir ninguém, nem a miopia da administração, nem a inconsciência do ganancioso fisco, veio à reforma” p. 177.
- Dois métodos de organização da exploração das jazidas: a) lavras: estabelecimentos fixos
“A faiscação sempre existiu na indústria aurífera da colônia”.
- De 1729 a 1740: período áureo da extração de diamantes. P. 181.

PECUÁRIA
“A carne tem importante papel na alimentação da colônia”. P. 186.
- A pecuária foi importante para a conquista do território.
- Três grandes zonas: a) sertão do norte; b) parte meridional de Minas Gerais; c) Paraná.
- O trabalhador aí é o escravo.

PRODUÇÕES EXTRATIVAS
“O primeiro açougue paraense só foi aberto em 1726” p. 210.
“Aa maior importância da indústria extrativa não é o seu valor como riqueza entre as demais da colônia [...] mas doutro lado, avulta como base quase exclusiva da vida humana em uma região que é a maior do país [...] o vale do amazonas, cuja colonização não se compreende sem esta análise da atividade principal e quase única que nela se pratica: a colheita natural dos frutos da floresta e dos rios” p. 211.
“Sem as fontes de riquezas, teria sido impossível ocupar o grande vale” p. 211.
“No vale amazônico, as formas de atividade se reduzem praticamente a duas: penetrar a floresta ou os rios para colher os produtos ou capturar o peixe; e conduzir as embarcações que fazem todo o transporte e constituem o único meio da locomoção” p. 212.
 “Nesta remodelação fisiográfica ininterrupta de um território longe ainda de qualquer forma de equilíbrio, o homem se amesquinha, se anula” p. 218.
“Faltava-lhe o elemento essencial: gente. Os poucos brancos, a multidão relativa de indígenas, pouco eficiente para o serviço que deles se exigia, não podiam dar conta da tarefa” p. 212.
- A singularidade faz da região um “outro Brasil” p. 217.
 “Empregado assim em tarefas que lhe são familiares [...] o índio se amoldou com muito mais facilidade à colonização e domínio do branco” p. 218.
“Do tipo do povoamento, já disse alguma coisa: ele também se amolda às contingências da colheita florestal” p. 218.
“[...] cuja população, que em princípio do século passado não alcançava uma centena de mil habitantes” p. 218.
- Por que a preferência das margens dos rios? Resp. 218 p.
- A Carta Régia de 12 de maio de 1798 legitimou a exploração indígena.
- O peixe é o alimento básico.
- Produção extrativa importante: madeira, pesca, sal, erva-mate.

ARTES E INDÚSTRIAS
“No final desta revisão dos setores da produção colonial há que reservar um canto, modesto, embora, e proporcional a sua insignificância, às artes e à indústria” p. 220.
“Pequena indústria doméstica, entregue a escravos mais hábeis, tem papel na vida da colônia” p. 220.
- Tecelagem, cerâmica, olarias, curtumes, metalurgia, etc.
“A metalurgia foi, entretanto mais feliz que a manufatura de tecidos” p. 226.
“Em suma, achava-se ainda a indústria brasileira, em princípios do século XIX, em seus primeiros e mais modestos passos” p. 227.
“Tomadas as devidas proporções, a nossa minúscula indústria colonial não representaria para sua época mais que estes simulacros de atividades manufatureiras que tivemos no século XIX” p. 227.
COMÉRCIO
“A análise da estrutura comercial de um país revela sempre, melhor que a de qualquer um dos setores particulares da produção, o caráter de uma economia, sua natureza e organização. Encontramos aí uma síntese que a resume e explica” p. 228.
“Podemos prever desde logo o traço fundamental daquele comércio: ele deriva imediatamente do próprio caráter da colonização, organizada como ela está na base da produção de gêneros tropicais e metais preciosos para o fornecimento do mercado internacional” p. 228.
“O comércio exterior brasileiro é todo ele marítimo” p. 228.
“Todo este comércio extremo por via terrestre é em sua de pouca monta, desprezível mesmo” p. 229.
“Monopolizado legalmente pelos portugueses, contrabandeado pelos ingleses, tais são os caracteres gerais do comércio externo da colônia nas vésperas da abertura dos portos” p. 231.
“O ramo mais importante do comércio de importação é o tráfico de escravos” p. 231.
“Os gêneros que esta gente não produz e precisa ir buscar no comércio não são senão os importados do exterior: ferro, sal, manufaturas” p. 233.
- Sobre o comércio interno não se tem fontes seguras.
- Grandes correntes de circulação: marinha, sertão e minas.
“Considerações gerais”, “natureza da economia colonial – inteiramente voltada para o comércio internacional”.
- O comércio condicionou a própria existência da colônia. P. 235.


Cap. 3 – Vida Social (p. 269)


[1] Professor de História Econômica do Brasil (UFMG).
[2] Roberto Simonsen (Recife, fevereiro/1889 a maio/1948) [59 anos]: engenheiro, grande industrial, político e professor na cadeira de História da Economia Nacional. Casou com a filha de José de Alencar. Em 1934, foi eleito deputado federal por São Paulo. Em 1937, publica História econômica do Brasil;
Gilberto Freire (março/1900 a julho de 1987) [87 anos]: Sociólogo pernambucano, professor de Economia Política. Em 1933, publica Casa Grande e Senzala. Criou o conceito de "Democracia Racial".
Sérgio Buarque de Holanda (julho/1902 a abril/1982) [80 anos]: Em 1936, publica Raízes do Brasil. A partir de 1960, passou a coordenar o projeto da História Geral da Civilização Brasileira. Em 1959, publica Visão do Paraíso.
OUTRA GERAÇÃO
Celso Furtado (julho/1920novembro/2004) [84 anos]. Formado em Direito, doutorou-se em economia na Sorbone. Foi um dos PRACINHAS de 1944, na Itália. Em 1949, fez parte da CEPAL. Em 1959, foi presidente da SUDENE. Em 1962, foi primeiro ministro no governo de Jango. Em 1959, publica Formação Econômica do Brasil.
Florestan Fernandes (São Paulo, julho/1920 — agosto/1995) [75 anos]. Formado em ciências sociais. Funcionalista. Aposentado compulsoriamente pela ditadura. Em 1959, publica Fundamentos empíricos da explicação sociológica. Em 1964, publica A integração do negro na sociedade de classes. Em 1975, publica A revolução burguesa no Brasil. Em 1986 e em 1990, foi eleito deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores. Mais de cinquenta obras publicadas
Paulo Freire (Recife, setembro/1921 - maio/1997) [76 anos]. Educador e filósofo brasileiro. Em 1959, Educação e atualidade brasileira. Em 1970, Pedagogia do oprimido.
Darcy Ribeiro (outubro/1922Brasília, fevereiro/1997) [75 anos]. Antropólogo e político brasileiro. Foi vice-governador no governo de Leonel Brizola (1983). Fui chefe da casa civil de Jango.  Eleito senador em 1991. Culturas e línguas indígenas do Brasil – 1957. Em 1968, O processo civilizatório. Os índios e a civilização – 1970. Em 1992, A fundação do Brasil. Em 1995, publica O POVO BRASILIERO.

[3] A República ainda mergulhada em tradições clientelistas, paternalistas, oligárquicas e federativas, desconhecia partidos nacionais.
[4] Falava inglês, francês, alemão e espanhol.
[5] Seria a primeira parte, a fase colonial, de uma obra ampla que envolveria toda a nossa história. No entanto, os outros volumes nunca foram publicados.