domingo, 29 de novembro de 2009

O Acre é Maravilhoso - Charge

Charge "INSS" - Diogo Novaes

O HOMEM ABSURDO de Albert Camus, por Isaac Melo

FONTE: Blog Alma Acreana: http://almaacreana.blogspot.com/2009/11/o-homem-absurdo-de-albert-camus.html
Albert Camus (1913-1960) foi um homem de muitas faces: foi jornalista, romancista, dedicou-se ao teatro, foi militante político e polemista. Sua vida e sua obra entrelaçam-se de uma maneira fecunda e criativa. São seus sentimentos que impulsionam sua obra, seu sentir frente a um mundo que lhe era estranho, absurdo, mas também fraternal e cheio de sol. É um mundo do absurdo, num primeiro momento, e da revolta num segundo. Ele não é um filósofo preocupado com definições nem com o rigor conceitual, mas com o simples, cotidianos e profundos problemas da existência.
É em O Mito de Sísifo que o tema do absurdo aparece em toda a sua plenitude no pensamento filosófico de Camus. Agora ele problematizará filosoficamente a vida e refletirá sobre ela. O livro começa colocando o único problema fundamental e, verdadeiramente, sério: o suicídio, isto é, julgar se a vida merece ou não ser vivida. Não tem importância maior saber se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias. Tudo é secundário.
O homem se sente estranho porque vê-se privado de repente das ilusões e das luzes. É o encontro do exílio, fuga sem conforto e solução, pois, não se tem esperança de se encontrar a tão querida e desejada terra prometida. O sentimento de absurdo consiste, pois, na afirmação do divórcio entre o homem e sua vida, entre o ator e sua decoração. Camus considera que todos os homens sadios pensam no suicídio. Conclui, daí, que há uma ligação direta, lógica entre esse sentimento e a aspiração ao vácuo, isto é, ao nada.
A revelação da morte tem algo de violento e nos transforma. Chega um dia em que nos damos conta de que o homem morre e de que morremos. Uma vez atingida esta verdade, seremos para sempre sua presa. É pela morte que nossa sensibilidade chega ao absurdo. Só depois de termos sidos atingidos de perto, a grande verdade terá significação e não mais se deixará levar ao desprezo. Ela é o nosso acesso à sensibilidade.
A verdadeira expressão camusiana é que os homens não são felizes porque morrem. O fato da morte é repugnante à sensibilidade. Por mais que façamos, a morte não pode ser enfeitada. Será sempre “uma aventura horrível e imunda”. A imagem da “aventura imunda” é uma barreira para que sonhemos uma eternidade. O absurdo sensível não é esta constatação da brutalidade de um termo. Mas é a constatação violando o meu desejo de vida.
A atitude essencial do homem absurdo será a lucidez, isto é, uma consciência que não se quer negar. Por isso, o homem absurdo não foge à luta, não despreza a razão. Acha que reúne todos os elementos, os dados da experiência. Contudo, não está disposto a saltar antes de saber. É resultante de sua lucidez, daí não haver lugar para esperanças. Os homens que acreditam na esperança, para Camus, vivem mal neste mundo.
Na última parte do livro Camus fala do antigo mito grego de Sísifo que tinha sido condenado a empurrar sem descanso um rochedo até o cume de uma montanha, de onde ela caía de novo, em conseqüência de seu peso. Para Camus, Sísifo é o herói absurdo, pelas suas paixões bem como pelo seu tormento. O tormento dele é o preço que é necessário pagar pelas paixões desta terra. Camus nos diz que seu desprezo pelos deuses, o seu ódio à morte e a paixão pela vida valeram-lhe esse suplício indizível em que seu ser se emprega em nada terminar.
Sísifo sobe e desce infinitamente, sem nenhuma esperança que isso termine. Camus faz da situação de Sísifo uma analogia com a situação de milhares de operários que devem recomeçar seu trabalho cada dia. Mas Sísifo é lúcido e, embora imponente e revoltado, conhece toda a extensão da sua miserável condição. É essa condição que Sísifo pensa durante a sua descida, pois, para Camus, a clarividência que devia fazer o seu tormento consome ao mesmo tempo também a sua vitória. Camus nos diz que não há destino que não se transcenda pelo desprezo. Ele conclui afirmando que há só um mundo e que a felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra, são inseparáveis.
Sísifo faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens, e ali é que Sísifo encontra sua silenciosa alegria. Seu destino pertence-lhe e é um destino único e pessoal, pois não há destinos superiores. Isto faz com que Sísifo sinta-se senhor de seus dias.
De acordo com Guimarães, o Mito de Sísifo é de fato uma análise da sensibilidade absurda, uma análise racional, que procurar tirar as conseqüências. O absurdo é um ponto de partida e não um estado. Transformar um sentimento em estado é negar qualquer saída e concordar com o que oprime. Fazer do absurdo uma regra é viver no desespero. Camus anota em O Mito de Sísifo várias possibilidades do surgimento do absurdo, sempre em situações corriqueiras, onde é apenas decisivo o exame da inteligência.
A consciência da rotina, seguida da indagação do sentido, leva-nos para a sensibilidade absurda. A inteligência dá-se conta de que a existência faz-se no tempo. Compreende a tragédia de jogarmo-nos, constantemente, no futuro. A cada momento aproxima-nos mais do termo e, não querendo o fim, queremos o futuro. O absurdo é a constatação de que o mundo se nos escapa. O absurdo não é nem o mundo nem a Inteligência, mas a relação entre a inteligência e o mundo.
A fidelidade do raciocínio à evidência que o despertou exige a manutenção do absurdo. O salto filosófico é uma empresa condenada. Esta é a lógica que reina no absurdo. A fidelidade ao absurdo é aqui uma fidelidade ao homem. O que obtemos com o salto, aquela certeza de ordem religiosa, ultrapassa a dimensão humana. O homem absurdo quer viver lucidamente. E a lucidez mostra uma realidade que nos rejeita. Rejeitados, talvez seja nossa tarefa rejeitar.
Num mundo sem sentido, permanece a exigência humana de sentido. Nada pode ser feito para satisfazê-la. Sou obrigado a manter o caos reinante, mas este caos, este inferno, é meu lugar. Assim me imponho frente a uma realidade que me contraria e frente a qual sou impotente. O confronto do homem com a realidade é favorável ao homem. Ele é o grande inocente.
O homem absurdo tem que viver. Viverá sem apelo, sem esperança. Outra vez não anulará o problema. A tentação seria a negação da consciência: o suicídio. Porém, um absurdo que nasceu da consciência tem que viver como verdade, logo, viver na consciência. A resposta absurda é viver. Viver é então convertido em revolta. A revolta é a manutenção dos dois elementos da questão: considera o real e mantém a consciência. Viver mantendo os dois elementos da oposição é viver a própria oposição. Negando-lhe o que lhe nega, ele se afirma e se faz superior, pois a consciência dá grandeza à revolta.
Sísifo é fiel à sua tarefa absurda. Mas sua fidelidade é consciente e, consciente, faz-se superior aos deuses que o condenaram. Sem esperanças, sem verdades absolutas, sem Deus, o homem é livre. Porém, o homem absurdo se sabe condenado ao que não dura. Aceitando o relativo, aceita a possibilidade. Sua liberdade é disponibilidade, é abertura. A liberdade absoluta será sua criação. Nada se impõe, pois ser livre é criar e examinar todas as soluções.
Por fim, desligado de valores absolutos não será possível procurar viver melhor, mas, unicamente, viver mais. Só o finito da condição pode nos levar a esta paixão. Só a morte justifica o amor intenso pela vida. Viver mais é viver conscientemente. A lucidez faz-nos sentir a vida. Só a consciência conta. Retirados todos os valores, a lucidez é o único valor. Se o absurdo acentua a experiência quantitativa, tal experiência terá que ser qualitativa, consciente, para ser válida. Estão aí as três conseqüências do absurdo: revolta, liberdade e paixão. Três afirmações da vida.
REFERÊNCIAS CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo. Tradução de Ari Roitman e Paulina Watch. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007. GUIMARÃES, Carlos Eduardo. As dimensões do homem: mundo, absurdo, revolta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971. GUTIÉRREZ, Jorge Luis. A revolta do homem absurdo. Revista Ciência & Vida (Filosofia). São Paulo, no. 21, ano II, p. 22-33, 2008. LEITE, Roberto de Paula. Albert Camus: notas e estudo crítico. São Paulo: Editora Edaglit, 1963.

Charge - Diego Novaes

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A SEMANA DA MÚSICA

João Veras*
Dia 22 de novembro é comemorado o dia da música. É dia de Santa Cecília, a padroeira internacional dos músicos. Esta data foi escolhida para iniciar a primeira Semana da Música no Acre que se estenderá até o dia 28 próximo.
Este evento, organizado pelas duas fundações – FEM e FGB- e os dois conselhos estadual e municipal de Cultura, envolve a realização de vários espetáculos musicais em espaços públicos da cidade de Rio Branco, como não poderia deixa de ocorrer. Mas a Semana da Música é, também, neste primeiro ano, uma iniciativa que busca, essencialmente, fazer com que todo aquele que, de alguma forma, tem interesse e relação com a música no estado (instrumentistas, intérpretes, compositores, professores e estudantes de música, comerciantes de equipamentos de som, de instrumentos musicais e de cds e dvds, técnicos de som, gestores públicos da área cultural e quem mais interessar) volte-se para as reflexões, os debates e as proposições no que diz respeito à atividade musical no Acre, às políticas públicas de educação, promoção e difusão musicais, assim como no que pertine aos processos de organização do movimento musical e seu envolvimento efetivo junto, inclusive, aos mecanismos institucionais de participação social na área da cultura. Nesse sentido, dos dias 26 a 28, será realizado, o Forum Setorial da Música, instância do Conselho Estadual de Cultura-Concultura, pelo qual, além da produção de propostas dos participantes com vistas à formalização de um futuro Plano Setorial da Música - com questões relacionadas à educação musical, ao mercado da música, à criação e difusão da produção musical acreana e à própria organização dos músicos - serão eleitos os representantes da área para ocuparem a titularidade, e respectiva suplência, da cadeira de música no Concultura, para o quadriênio 2010/2014. Tenho esta semana como o passo inicial para a retomada efetiva de um processo coletivo de organização e participação da classe musical acreana com vistas, especialmente, à proposição e defesa de políticas públicas específicas para a educação musical, a valorização e a difusão da criação e da execução da música no Acre. Vamos?
*João Veras é titular da cadeira de música do Conselho Estadual de Cultura.

Charge maldosa...rsrsrsr

Modo de Produção Feudal

SLADE 6 - Modo de Produção Feudal

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O ENTORNO DA PRÁXIS EDUCATIVA NO ENSINO DE HISTÓRIA NO ACRE

JOSE JULIO CESAR DO NASCIMENTO ARAUJO Josimar da Silva Freitas José Valderi Farias de Souza
Em Nietzsche, a genealogia, a história, Foucault considera Nietzsche o filósofo do poder. O que Foucault quer mostrar é a abertura produzida por Nietzsche para se pensar as relações de poder em cadeia histórica fugindo do paradigma jurídico- econômico, característico tanto de pensamento liberal, quanto de determinada tradição marxista. A partir desta indicação nietzschiana, Foucault irá propor uma “Microfísica do poder”, capaz de resgatar as lutas do cotidiano, as múltiplas relações de força, as táticas e estratégias de resistência.O que de certa forma pressupõem a construção de uma nova História.
Segundo Foucault, o estudo da microfísica do poder. [...] supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma ‘apropriação’, mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos, que se desvende nele antes uma rede de relações sempre tensas, sempre em atividade, que um privilégio que se pudesse deter; que lhe seja dado como modelo antes da batalha perpétua que o contrato que faz uma cessão ou a conquista que se apodera de um domínio(...). O que significa que estas relações aprofundam-se dentro de uma sociedade, que não se localizam na relação de Estado com os cidadãos, ou na fronteira das classes e que não se contentam em reproduzir ao nível dos indivíduos, dos corpos, dos gestos e dos comportamentos, a forma geral da lei ou do governo; que se há continuidade (realmente elas se articulam bem, nessa forma, de acordo com uma série de complexas engrenagens), não há analogia nem homologia, mas especificidades dos mecanismos e da modalidade. Finalmente, não são unívocas; definem inúmeros pontos de luta, foco de instabilidade comportando cada um de sus riscos de conflito, de luta e de inversão pelo menos transitória da relação de forças (FOUCAULT,2002,26-27). Articulando estas considerações de Michel Foucault com as preocupações de uma “história vista de baixo” de SHARPE e de E.P. Thompson, a História aos poucos procura repensar e recuperar o papel de atores históricos que não assumiram/ assumiam naquela forma de se fazer HISTÓRIA papel relevante. Tal possibilidade de conjuga a história da experiência e do cotidiano das pessoas comuns do povo, dando-lhe a oportunidade de reintegrar a sua história aos grupos sociais que podem ter pensado tê-la perdido, ou que nem tinham conhecimento da existência de sua história (SHARPE,1994).
A historia enquanto componente curricular, obrigatório no ensino fundamental e médio, era vista no passado do prisma factual. O ensino da História era o aprendizado dos fatos históricos, das fases, das civilizações e suas contribuições para a vida moderna, das datas, dos nomes e feitos dos atores históricos. Hoje, o estado de criticidade dos tempos modernos obrigou pesquisadores, historiadores e professores a repensar como se faz e se ensina História.
Em 2007, estivemos na Escola de E. F.M.C. para a realização de uma pesquisa em relação ao procedimento metodológico da pratica educativa em historia. Nas entrevistas aplicadas aos alunos pode-se aferir que em relação a afinidade dos alunos com o componente curricular, não há duvidas que este tem forte vínculos com os alunos. Isso ocorre, subjetivamente, porque os alunos observados possuem uma admiração exacerbada pelo professor da disciplina.
Aos serem perguntados sobre a melhor aula de História alguns relembram aulas passadas, mas em geral consideram todas as aulas do professor ótimas. O conceito de história na conceituação dos alunos não foge aos padrões de antigos manuais didáticos. Os alunos atribuem o gosto pela disciplina ao fato ‘’ do professor explicar bem’’; ‘’ se aprofundar nos assuntos’’ e ‘’ dá muitos exemplos’’.
Percebe-se com isso, que ao conquista os alunos como sua prática o professor consegue forjar competência nos alunos. Em relação aos procedimentos metodológicos usados pelo professor percebeu-se que na maioria das vezes o professor se vale de aulas expositivas, intercalando com exemplificações, desenhos e avaliações orais.
Uma técnica metodológica interessante que é usada pelo professor, é o uso do ‘’Momento da Notícia’’, onde alunos são escolhidos para assistirem ao noticiário da TV e na aula seguinte expor e apresentarem pontos de vista e opinião critica sobre as matérias assistidas. Isso de certa forma cumpre os pressupostos de Holiem G. Bezerra, ao afirma: ‘’ O objetivo primeiro do conhecimento histórico é a compreensão dos processos dos sujeitos históricos.
O desvendamento das relações que se estabelecem entre os grupos humanos em diferentes tempos e espaços’’(BEZERRA, Holiem G. O ensino da história: conteúdo e conceitos básicos (in) KARNAL, Leandro (org.). A História em sala de aula. São Paulo: Contexto,2000 ). O fato de implementar essa nova metodologia mostra que este assume o postulado do professorado crítico e consciente que a história é uma construção do presente onde participam os sujeitos sociais.
O aluno ao estabelecer com os noticiários da TV relação de critica faz história por que crítica o próprio momento no qual está inserido. Foi notável, também, que os discentes são constantemente levados ao exercício da pesquisa que é feita em livros, revistas ou com ajuda dos pais.Pelas respostas dos alunos foi possível perceber que o professor trabalhar muito com a questão da contextualização, ou seja, antes de explica conteúdos faz diversas explanações. Isso ocorre, também, nos exercícios e avaliações como pode-se observar na pesquisa. Sobre a avaliação, o professor observado, e com base nas respostas, utiliza perguntas orais, variando o conteúdo avaliado com filmes de embasamento e a participação ativa dos alunos.
Observou-se, também, que o professor trabalha a partir das experiências dos alunos. Ele prioriza a historia crítica, tentando mudar o costume de estudar. Observando que tudo na historia se constrói com a força das massas.Ficou bem claro nas entrevistas com o professor que este compreende que a história mudou sua s concepções e deve ser trabalhada de maneira diferente.
Referências FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. FOUCAULT, Michel. Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de Pensamento. Ditos e escritos vol. II. Manoel Barros da Motta (org.).Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. SHARPE, Jim. A História Vista de Baixo. In: BURKE, Peter. (org.) A Escrita da História. São Paulo: Unesp, 1998. THOMPSON, E. P. A Formação da Classe Operária Inglesa. 3 volumes. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1987. THOMPSON, E. P. Costumes em Comum: estudos sobre cultura popular tradicional. São Paulo: Cia das Letras, 1998.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A GEOPOLÍTICA DO CAPITALISMO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Carlos Alberto Franco da Silva e Flávio Almeida Reis FONTE: http://www.marxismo.org.br/index.php?pg=artigos_detalhar&artigo=377 Com este breve artigo de estudiosos da UFF (Universidade Federal Fluminense), iniciamos um conjunto de contribuições para o debate sobre a expansão da fronteira capitalista na Amazônia brasileira. A questão ambiental no Brasil envolve dois padrões de desenvolvimento que se apresentam como contraditórios na aparência, mas são parte integrante do modelo capitalista de produção.O primeiro possui uma vertente industrial, mineral e agrícola e consolidou-se a partir de 1960. A abertura da fronteira agrícola capitalista, a expansão da fronteira urbana, a exploração do subsolo, os projetos de colonização privados e oficiais e a instrumentalização técnica do território eram parte da geopolítica de integração econômica do país em direção às regiões consideradas “periféricas”.
Logo, projetou-se na Amazônia o imaginário de região atrasada e vazia, a fim de legitimar um processo de inserção de áreas privilegiadas nos circuitos de acumulação de capital em escalas nacional e global. Para tanto, o desmatamento se afirma como ideário de inserção do Cerrado e da Floresta Equatorial no projeto desenvolvimentista do Estado.O “país do futuro” possuía uma natureza rica, mas hostil.
O progresso demandava controle da natureza. A sagração da Natureza convocava a nação para a marcha rumo ao Norte, ao Oeste, ao Sertão. A Amazônia era o Eldorado a ser conquistado. Tais signos escamotearam as lutas de classes no Brasil. A abertura da fronteira se tornava uma válvula de escape para as questões fundiárias. A nação una e indivisível se afirmava na incorporação de terras e uso indiscriminado dos recursos do subsolo.
Tal imaginário ainda se verifica quando se analisa os projetos capitalistas previstos para a Amazônia. Assim, os capitalistas subordinaram os trabalhadores à sua ideologia dominante. Ou seja, mascararam seus interesses particulares como interesses nacionais. Entre 1960 e 1985, a nação foi colocada a serviço do ideário desenvolvimentista do país. Toda oposição era vista como ameaça comunista aos interesses nacionais, mas na verdade ameaçava os pecuaristas, sojicultores, industriais e grupos mineradores.
O segundo padrão, a partir de 1980, possui uma vertente tecno-ecológica. A questão ambiental passa a ser uma preocupação do capital, a defesa de saberes culturais e a manutenção da biodiversidade se tornam estratégicos para aumentar os lucros. É como se o capital se vestisse de verde, um “eco-capitalismo”, com preocupações agro-ecológicas. Desenvolvimento sustentável, crédito de carbono e aquecimento global são alguns dos pontos-chave dessa agenda. A Amazônia encerra esses dois padrões de acumulação.
O agronegócio, de um lado, e a agro-ecologia, do outro, simbolizam o debate entre duas aparentes forças contraditórias.Se o agronegócio na Amazônia representa um padrão que demanda expansão da lavoura, desmatamento, concentração fundiária e exclusão social, a agro-ecologia revela duas faces. Uma delas envolve os movimentos sociais de resistência ao agronegócio. A outra apesar do discurso contra-hegemônico ao capital não é capaz de revolucionar a sociedade.
Trata-se de um discurso radical que não combate as raízes do sistema, mas somente tenta reformá-lo; Acaba sendo uma “prática humanista” que não vai até o fim dos reais problemas. Não busca a destruição do mercado capitalista e suas leis orientadas para acumulação. Sem esse combate, não é possível inverter a situação que temos hoje: alimentos sendo produzidos, não para alimentar pessoas, e sim para dar lucro às grandes corporações.
A luta contra a propriedade privada dos meios de produção e pela planificação da economia, isto é, o planejamento democrático da produção, circulação e consumo das mercadorias, são as bandeiras dos revolucionários, e isso não aparece no cerne da luta pela agro-ecologia. Outro debate é a atuação do Estado, que é contraditório, mas funcional ao capitalismo. Os embates atuais entre os ministérios da Agricultura e Planejamento x Meio Ambiente revelam as contradições da coalizão que compõem o governo Lula. Debateremos isso nos próximos artigos.

sábado, 7 de novembro de 2009

MEMMI, Albert. Retrato do Colonizado precedido do Retrato do colonizador. Trad. Marcelo Jacques de Moraes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 200

- Foi escrito antes da Guerra da Argélia. Os primeiros trechos foram publicados nas revistas Les temps Modernes e Esprit em 1956. - É bom que os líderes dos povos colonizados sejam homens de ação e não filósofos. - O livro é um clássico para os historiadores da colonização. - O livro revela os mecanismos comuns à maior parte das opressões em qualquer lugar do mundo. - A colonização fabrica colonizados assim como fabrica colonizadores. PREFÁCIO DO AUTOR (1966) “Um dia certamente acabarei fazendo esse retrato geral do oprimido” p. 12. “Realizei este inventário sobre a condição do colonizado primeiramente para compreender a mim mesmo e identificar meu lugar entre os outros homens” p. 13. “Eu estava assim descobrindo, em suma, que todos os colonizados se pareciam; e deveria em seguida constatar que todos os oprimidos se pareciam em alguma medida” p. 13. “A noção de privilégio, como, no entanto, repeti com freqüência, está no cerne da relação colonial [...] o aspecto econômico da colonização é para mim fundamental” p. 16. “O privilégio colonial não é unicamente econômico” p. 17. - A relação opressora não se mostra apenas no viés econômico, ela tem outras facetas. “No fundo, não sabemos inteiramente o que o homem é em definitivo, o que é essencial para ele, se é o dinheiro ou o sexo, ou o orgulho, se a psicanálise tem razão contra o marxismo, ou se isso depende dos indivíduos e das sociedades” p. 17-18. “Esse retrato do colonizador era também em parte o meu; um retrato projetado, digamos, no sentido dos geômetras” p. 20. “Cada um é o que sua condição objetiva faz dele, já o disse várias vezes” p. 21. “Eu me perguntava se teria realmente conseguido condenar tão vigorosamente a colonização se tivesse me beneficiado mais dela” p. 21. “Sou incondicionalmente contra todas as opressões” p. 21. “Se a colonização destrói o colonizado, ela apodrece o colonizador” p. 22. PREFÁCIL (Jean-Paul Sartre/1957). “Os jornais de lá (Argélia francesa) nos repetem que apenas o colono está qualificado para falar da colônia” p. 25. “A conquista se deu pela violência; a superexploração e a opressão exigem a manutenção da violência e, portanto, a presença do exército” p. 27. “O colono desfruta lá na Metrópole, dos direitos democráticos que o sistema colonial recusa aos colonizados” p. 27. “O colonialismo recusa os direitos do homem a homens que submeteu pela violência, que mantém pela força na miséria de subumanidade” p. 28. - O racismo é uma prática colonialista (cf.: p. 28). “Não há bons ou maus colonos: há colonialistas” p. 29. “O conservadorismo engendra a seleção dos medíocres. Como é que esta elite de usurpadores conscientes de sua mediocridade pode fundar seus privilégios? Só há um meio: rebaixar o colonizado para engrandecer a si mesmo, recusar aos nativos a qualidade de homem, defini-los como simples privações” p. 29. “Os opressores produzem e mantêm pela força os males que, aos seus olhos, tornam o oprimido cada vez mais semelhante ao que precisaria ser para merecer sua sorte” p. 30. “O colono só pode absolver a si mesmo ao perseguir sistematicamente a desumanização do colonizado, isto é, ao identificar-se a cada dia um pouco mais com o aparelho colonial. O terror e a exploração desumanizam, e o explorador se sente autorizado por essa desumanização a explorar ainda mais” p. 39. Como fazer de um seringalista o herói, pois ele se beneficiou do sistema que o fez grande, que o fez rico, sistema esse que produziu milhares de desumanizados. A humanização do seringueiro poria em risco a espoliação. A opressão não pode, enfim, ser motivos de “comemorações” e “festejos”, pois é alimentada pelo ódio e pela violência. “A opressão é primeiramente o ódio do opressor contra o oprimido. Só há um limite para esse empreendimento de extermínio: o próprio colonialismo” p. 30. “O sistema quer a um só tempo a morte e a multiplicação de suas vítimas; qualquer transformação lhe será fatal: quer se assimilem ou se massacrem os nativos, o custo da mão-de-obra não vai parar de subir” p. 30 - Os que movem o sistema estão obrigados a se manterem mais perto da morte do que da vida. - O opressor ressuscita a humanidade que quer destruir. “Uma vez que a nega nos outros, reencontra-a em toda parte como uma força inimiga” p. 31. - O sistema colonial é uma força em movimento. “Esses excluídos reinvindicarão sua exclusão sob o nome de personalidade nacional: é o colonialismo que cria o patriotismo dos colonizados” p. 30. - O sistema opressivo que torna o colonizado em animal leva o povo a pensar que só a morte o libertaria. A partir de então, são capazes de morrer pelo que defendem ser a pátria. A defesa da pátria nada mais é do que a defesa de dias melhores. “É seu infortúnio que se tornará em coragem; desta eterna recusa que a colonização lhe opõe ele fará a recusa absoluta da colonização” p. 32. Pode ser que os seringueiros tivessem sido bombardeados com a idéia de que os bolivianos fossem o mau de toda aquela opressão. Por isso, deram as vidas para a causa acreana. A atroz agonia do seringueiro não produziu nada mais do que uma sociedade conservadora ao extremo... Esse é o produto direto da revolução!!!!. PARTE 1 – RETRATO DO COLONOLIZADOR O sentido da viagem colonial “Os motivos econômicos da empreitada colonial já foram esclarecidos por todos os historiadores da colonização; ninguém mais acredita na missão cultural e moral, mesmo original, do colonizador” p. 37. - A partida rumo à colônia geralmente não é uma escolha incerta, uma aventura como se costuma dizer. A viagem é uma tentação à facilidade. - Quais razões do colono se expatriar e quais os motivos dele ter persistido no exílio? “Nosso viajante nos proporá a melhor definição que existe da colônia: lá se ganha mais e se gasta menos. Vai-se para a colônia porque as situações são asseguradas, os tratamentos elevados, as carreiras, mas rápidas e o negócios mais frutuosos” p. 38. - A colônia é um purgatório remunerado no qual enriquecerá para voltar à metrópole. “Seu exílio, na verdade, é de base econômica: o do novo-rico que corre o risco de ficar pobre [...] quanto mais o tempo passar, mais durarão as vantagens” p. 39. “Nem mesmo aqueles que chamamos na colônia de pássaro de passagem manifestaram pressa excessiva de partir” p. 39. “Mas se um dia o econômico é atingido, se as situações, como se diz, correm riscos reais, o colonizador se sente então ameaçado e pensa, seriamente desta vez, em voltar para a metrópole” p. 40. “Ele percebe que esse lucro só é tão fácil por ser arrancado de outros” p. 40. - é a relação com o colonizado que cria o privilégio do colonizador. “Se seu nível de vida é elevado, é porque o do colonizado é baixo” p. 41 - O discurso oficial é sempre escrito por ele. “É ele que concebe as leis que fixam seus direitos exorbitantes e os deveres dos colonizados [...] é ele o beneficiário de toda a empreitada” p. 42. “Estrangeiro, chegado a um país pelos acasos da história, ele conseguiu não somente criar um espaço para si como também tomar o do habitante, outorgar-se espantosos privilégios em detrimento de quem de direito” p. 42. - As leis locais, legitimam a desigualdade pela tradição. É um usurpador – um privilegiado não legítimo. E isso, “não apenas aos olhos do colonizado, mas aos seus próprios olhos” p. 42. “Os colonizados mais favorecidos jamais deixarão de ser colonizados” p. 43. “O colonial seria o europeu vivendo na colônia sem privilégios, em condições de vida que não seriam superiores às do colonizado de categoria econômica e social equivalente. Por temperamento ou condição ética seria o europeu benevolente, que não teria em relação ao colonizado a atitude do colonizador. Ora, vamos dizer logo, a despeito da aparência ultrajante da afirmação: o colonial assim definido não existe, pois todos os europeus das colônias são privilegiados” p. 43-44. “Se o pequeno colonizador defende o sistema colonial com tanta firmeza, é porque é mais ou menos beneficiário dele. A mitificação reside no fato de que, para defender seus limitadíssimos interesses, ele defende outros infinitamente mais significativos, dos quais, por outro lado, é a vítima” p. 45. “Em maior ou menor grau, todo colonizador é privilegiado” p. 45. - Há um preconceito do próprio colonizado, “que concede a ele mais do que aos melhores dos seus” p. 46. - Os valores dos colonizadores são reinantes na colônia. - Os colonizados querem escapar da condição de colonizado. “Por isso, eles se esforçam para se assemelhar ao colonizador, na esperança declarada de que este pare de reconhecê-los como diferentes” p. 48. “Ao decidirem se colocar a serviço do colonizador e defender exclusivamente os interesses dele, acabam adotando sua ideologia, mesmo em detrimento do próprio grupo e de si mesmos” p. 49. PARTE 2 – O COLONIZADO QUE RECUSA A SI MESMO (p. 53). O colonizador de boa vontade... “Antes da colonização, os colonizados já não estavam atrasados? Se se deixaram colonizar foi precisamente porque não tinham porte para lutar, nem militar nem tecnicamente” p. 60. “Existe incontestável mal-estar da esquerda européia diante do nacionalismo” p. 64. “A esquerda atual está desorientada diante do nacionalismo” p. 65. “Ora, por múltiplas causas, históricas, sociológicas e psicológicas, a luta dos colonizados por sua libertação assumiu uma fisionomia nacional e nacionalista pronunciada” p. 65. - O socialismo é exportável? O marxismo é universal? PARTE 3 – O COLONIZADOR QUE ACEITA A SI MESMO ... ou o colonialista (imigrante!!!). “O colonialista, em suma, é apenas o colonizador que se aceita como colonizador. E que, então, ao explicitar sua situação, busca legitimar a colonização” p. 83. “É comum opor o imigrante ao colonialista de nascimento. O imigrante adotaria mais frouxamente a doutrina colonialista” p. 83. - Decidir fazer a vida na colônia já não é um bom sinal. O imigrante, de início, está disposto a aceitar tudo. “Vindo expressamente para provar do benefício colonial, ele será colonialista por vocação” p. 84. O RETRATO “Geralmente o homem é jovem, prudente e civilizado, tem a espinha curvada e os olhos grandes. Em qualquer circunstância justifica tudo, as pessoas de posição e o sistema... está atento a possibilidade de conquistar uma posição, de obter sua parte. Na maioria das vezes, aliás, ele foi chamado ou enviado para a colônia: um protetor o envia, um outro o recebe, e sua posição já está à sua espera” p. 84. “Como é que tais outros não se regozijariam por terem vindo para a colônia? Não estariam convencidos da excelência do sistema, que faz deles o que são?” p. 85. “Desde então o defenderão agressivamente e acabarão achando que é justificado. Em suma, transformaram-se em colonialistas” p. 85. O COLONIALISTA POR PERSUASÃO “Funcionário nomeado ali por acaso, ou primo a quem o primo oferece asilo, ele pode até mesmo ser de esquerda ao chegar e se transmudar irresistivelmente, por meio do mesmo mecanismo fatal, em colonialista intratável ou dissimulado” p. 85. - Os mais éticos partem da colônia... “não aceitam se beneficiar da injustiça cotidiana” p. 85. Os interesseiros e gananciosos esperam dali saírem ricos. “Os medíocres ficam, e pelo resto da vida. Pois eles não esperavam tanto, uma vez instalados, evitarão largar sua posição; a não ser que lhes seja oferecida uma melhor, o que só pode lhes acontecer na colônia” p. 87. “A promoção dos medíocres não é um erro provisório, mas uma catástrofe definitiva, de que a colônia jamais se recuperava” p. 88. “Essa seleção gradual dos medíocres, que necessariamente se opera na colônia, é ainda agravada por um campo exíguo de recrutamento. Apenas o colonizador é chamado por seu nascimento, de pai para filho, de tio para sobrinho, de primo para primo, por uma jurisdição exclusiva e racista, para a direção dos negócios da cidade. Assim, a classe dirigente, que provém unicamente do grupo colonizador, de longe o menos numerosos, só é beneficiada de uma irrisória aeração” p. 88. “É o MEDÍOCRE, enfim, que impõe o tom geral da colônia. É ele o verdadeiro parceiro do colonizado, pois é quem mais precisa de compensação e da vida colonial [...] De maneira que, se nem todo colonialista é um medíocre, mas todo o colonizador deve aceitar em alguma medida a mediocridade da vida colonial, deve compor com a mediocridade da maioria dos homens da colonização...” p. 88. - O usurpador é o privilegiado não-legítimo. - Fazem qualquer coisa para tornar sua usurpação em legitimidade. a) ressaltando os méritos do usurpador, “tão eminentes que pedem uma recompensa como essa” p. 99. “A inquietação do usurpador, sua sede de justificação exigem dele, ao mesmo tempo, que se auto-eleve às nuvens, e que afunde o usurpado para baixo da terra” p. 90. “quanto mais o usurpado é esmagado, mais o usurpador triunfa na usurpação, para depois se confirmar em sua culpabilidade e em sua condenação” p. 90. - A simples existência do usurpado é o bastante para caracterizar o usurpador. “Uma vez que tomou consciência da injusta relação que une ao colonizado, precisa aplicar-se sem trégua à absolvição de si mesmo. Jamais se esquecerá de ostentar publicamente suas próprias virtudes, agirá com impetuosa tenacidade para parecer heróico e grande, merecendo amplamente sua fortuna” p. 62. “A situação colonial fabrica colonialistas assim como fabrica colonizados” p. 93. “Pois não é impunemente que se tem necessidade da política e do exército para ganhar a vida, da força e da iniqüidade para continuar a existir. Não é sem danos que se aceita viver permanentemente com a própria culpa” p. 93. O PATRIOTA (p.95) - é na metrópole que ele busca se encontrar. Ele apela à Metrópole, pois é o meio de diferenciar-se do colonizado. “Ele apelará, portanto, para as qualidades de sua pátria de origem, celebrando-as, amplificando-as, insistindo em suas tradições particulares, em sua originalidade cultural” p. 96. - Ao colonizado é negado a participação do esplendor da Metrópole. “Seu puro fervor pela pátria faz dele, enfim, o patriota verdadeiro, aquele que melhor a representa, e no que ela tem de mais nobre” p. 96. - POLÌTICA DO PRESTÍGIO: mostrar a força para não ter que utilizá-la. O CONSERVADOR “O nacionalismo do colonialista é, na verdade, de uma natureza particular. Ele se dirige essencialmente ao aspecto da pátria que tolera e protege sua existência sua existência ao aspecto da pátria que tolera e protege sua existência como colonialista. Uma metrópole que se tornasse democrática, a ponto, por exemplo, de promover uma igualdade de direitos até mesmo nas colônias, correria também o risco de abandonar as empreitadas colônias” p. 99. - O nacionalismo é o rosto da pátria. “Para que ele possa subsistir como colonialista, é necessário que a metrópole permaneça sendo eternamente uma metrópole. E na medida em que isso depende dele, compreende-se que se dedique à causa com todas as forças” p. 100. “Toda nação colonial carrega assim, em seu seio, os germes da tentação fascista. O que é o fascismo se não um regime de opressão em proveito de alguns? [...] não há qualquer dúvida, para quem o viveu, de que o colonialismo é uma variação do fascismo” p. 100. “O colonialista só pode sustentar governos e tendências opressivos e reacionários, ou no mínimo conservadores” p. 100. “O colonialista é um germe de apodrecimento da metrópole” p. 101. “O perigo e a ambigüidade de seu excessivo ardor patriótico podem ser, aliás, reencontrados e constatados na ambigüidade mais geral de suas relações com a metrópole. É claro que ele a glorifica e se agarra a ela, a ponto de paralisá-la, de afogá-la se for preciso” p.101. “O colonialista não ignora que obriga a metrópole a sustentar um exército, e que se a colônia, para ele, só representa vantagens, para o metropolitano custa muito mais do que lhe dá em troca” p. 102. “É notável que o racismo faça parte de todos os colonialismos, sob todas as latitudes. Não é uma coincidência: o racismo resume e simboliza a relação fundamental que une colonialista e colonizado” p. 107. “O racismo colonial é tão espontaneamente incorporado aos gestos, às palavras, mesmo as mais banais, que parece constituir uma das estruturas mais sólidas da personalidade colonialista” p. 107. “Um esforço constante do colonialista consiste em explicar, justificar e manter, tanto pelo verbo quanto pelo comportamento, o lugar e a sorte do colonizado, seu parceiro no drama colonial, e, portanto, seu próprio lugar” p. 107. - Marcas do racismo: a) evidenciar as diferenças; b) valorizar as diferenças em benefício dele; c) afirmar que tais diferenças são essenciais e definitivas. Agem para que realmente passem a sê-las. “A conversão do colonizado à religião do colonizador teria sido uma etapa no caminho da assimilação. Foi uma das razões pelas quais as missões coloniais fracassaram” p. 109. “O paternalismo mais aberto se revolta assim que o colonizado reivindica alguma coisa, seus direitos sindicais, por exemplo,” p. 112. PARTE 3 – RETRATO MÍTICO DO COLONIZADO O nascimento do Mito p. 117 “Assim como a burguesia propõe uma imagem do proletário, a existência do colonizador demanda e impõe uma imagem do colonizado” p. 117. “Nada melhor para legitimar o privilégio do colonizador do que seu trabalho; nada melhor para justificar a penúria do colonizado do que sua ociosidade. O retrato mítico do colonizado abarcará, portanto, uma inacreditável preguiça” p. 117. “O que é suspeito é a unanimidade da acusação e a globalidade de seu objeto; de maneira que nenhum colonizado é salvo, nem nunca poderia ser” p. 119. “Por meio de sua acusação, o colonizador institui o colonizado como ser preguiçoso” “O colonizado não é livre para decidir se é colonizado ou não colonizado” p. 124. “Um colonizado que dirige um automóvel é um espetáculo com o qual o colonizado se recusa a se acostumar; nega-lhe toda normalidade, como uma pantomima simiesca” p. 124. “A ideologia de uma classe dirigente, como se sabe, se faz adotar em larga escala pelas classes dirigidas” p. 125. “Para que o colonizador seja completamente o senhor, não basta sê-lo objetivamente; é preciso ainda que ele creia em sua legitimidade; e para que essa legitimidade seja completa, não basta que o colonizado seja objetivamente escravo, é necessário que ele se aceite como tal. Em suma, o colonizado deve ser reconhecido pelo colonizado” p. 126. “Assim como o colonizador é tentado a aceitar-se como colonizador, o colonizado é obrigado, para viver, a aceitar-se como colonizado” p. 127. Que o fez seringueiro? Quem o fez seringalista? A economia gomífera impõe a distinção. Era necessário que irmãos nordestinos se odiassem um ao outro, que um oprimisse o outro e que ambos fossem espoliados por um acima deles. A situação do colonizado p. 129. “Podemos dizer que a colonização fabrica colonizados, assim como vimos que fabrica colonizadores” p. 132. “Munido apenas de sua língua, o colonizado é um estrangeiro em seu próprio país” p. 147. “Curioso destino o de escrever para um outro povo que não o seu! Mais curioso ainda é escrever para os vencedores do seu povo!” p. 150. “O esmagamento do colonizado está compreendido nos valores colonizados. Quando o colonizado adota esses valores, adota também sua própria condenação” p. 164. - os primeiros homens são sempre os portadores da moral universal. CONCLUSÃO “Chega o dia em que o colonizado reergue a cabeça e faz oscilar o equilíbrio sempre instável da colonização” p. 188. “A simples existência do colonizador cria a opressão, e só a liquidação completa da colonização permite a libertação do colonizado” p. 188. “O que tem menos de trinta anos já não compreende a moderação dos mais velhos” p. 189.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

TRATADO DE PETRÓPOLIS

“É fora de dúvida que teoricamente, isto é, baseado em tratados, convenções, etc., só o Peru e a Bolívia têm o direito de pretender ou discutir a soberania do Acre e terras que o circundam” (Genesco de Castro, p. 21). HISTÓRIA DA BOLÍVIA (Júlio Chiavenato. Bolívia com a pólvora na Boca) - Tornou-se parte do império Inca no século XV. Quando os espanhóis chegaram no século XVI, a Bolívia, rica em depósitos de prata, foi incorporada no vice-reino do Pelo, e mais tarde no de La Plata. - 1524: Francisco Pizarro[1], Diego de Almagro e Hernando de Luque lideraram a conquista espanhola do Império Inca. - As colônias espanholas na América Latina estavam divididas em quatro VICE-REINOS: Nova Espanha; Nova Granada, Peru e Prata. - O Alto Peru, inicialmente parte do Vice-reinado do Peru, juntou-se ao novo Vice-reinado do Rio da Prata (sendo a capital Buenos Aires) quando foi criado em 1776. Em 1784, a Espanha estabeleceu quadro intendências distritais no Alto Peru, cobrindo as atuais repartições administrativas de La Paz, Cochabamba, Potosí e Chuquisaca. - Em 1782 o Alto-Peru se desliga do Vice-Reino de Lima e passa a fazer parte do Vice-Reinado de LA PLATA (hoje Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia). - 26 de maio de 1825: Bolivar cria a República do Alto-Peru (que passaria a chamar Bolívia, a partir de 6 de agosto). - GRANDE SECA (1876-79) – 20 mil morrem. - TERREMOTO (1877) - PESTE (1877) – dizimou sua lavroura. - GUERRA COM O CHILE (1879-82) - a Bolívia perdeu seu acesso ao mar. - GUERRA CIVIL (1899) - Implantação Liberal (1899) – Golpe do General Pando. - - - - - -- -- - - É um paíse saqueado, perdeu mais de três quartos de seu território. “País do exército que perde todas as batalhas contra o invasor, mas que venceu todas contra seu próprio povo” (CHIAVENATO). Brasil, Paraguai, Chile e Argentina colocam suas réguas e dividem esse país. Geopolítica – fome territorial dos sub-imperialistas. - País em que os Generais dão golpe de Estado para assegurar o contrabando de cocaína. 85% do país é formado por etnias indígenas. - Sua economia é baseada na exportação de estanho. “O exército boliviano era um amontoado de famintos” (CHIAVENATO). CONCLUSÃO: diante da caótica situação, a Bolívia não tinha condição de estabelecer a ORDEM no Acre. A Bolívia e o Acre - As terras apareciam nos Mapas Bolvianos como “Tierras Non Descobiertas[2]”. - A Bolívia não colonizou o Acre por que: a) sua atenção econômica estava voltada para a extração de ouro e prata; b) a mão-de-obra escrava estava quase totalmente alocada nas minas; c) tinha sua penetração dificultada pelos seringalistas brasileiros e pelo governo amazonense. d) Até chegar ao Acre exigia uma caminhada de 2 mil km pela selva. - 02 de janeiro de 1899: Fundação da Alfândega (Aduana) Boliviana. Os Amazonenses perdem o direito de cobrar impostos sobre a produção da borracha (medo da crise fiscal). Dentre os vários decretos permitiu a navegação estrangeira ao rio amazonas. A polêmica fez Paravicini revogá-la. Nomeou vários brasileiros como funcionários. - Após a deposição dos bolivianos por José Carvalho, o Governo Andino passa a negociar com os EUA. A trama é denunciada por Galvez. *1901-1902: o ano mais boliviano no Acre. *1902 – 1º de julho - Formação da Junta Revolucionária (Joaquim Vitor, Rodrigo de Carvalho, José Galdino, Gentil Norberto e Plácido de Castro). Os três primeiros já envolvidos com atentados anteriores. *1902 – 03 de dezembro (Barão de Rio Branco é nomeado como Ministro das Relações Exteriores). *1903 – 15 a 24 de janeiro (Vitória de Plácido de Castro – conquista Porto Acre). A tropa foi formada por seringueiros do Bom Destino, São Jerônimo e Caquetá. *1903 – 21 de março (MODUS VIVENDI). - BARÃO DE RIO BRANCO ficou com medo do confronto entre as tropas do presidente Pando e as de Plácido de Castro. - Por isso, manda o General Olímpio com uma tropa de 3 mil homens para o local (mais um couraçado, um contra-torpedo e um cruzador). O objetivo era manter a paz até que as negociações diplomáticas terminassem (Paz Armada)[3]. *1903 – 28 de janeiro (Decreto nº 03 de Plácido de Castro, define os limites do Estado Independente do Acre). RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS ENTRE BRASIL E BOLÍVIA - O Brasil Imperial chegou a impedir que bolivianos navegassem pelo rio Amazonas. Isso só mudou por ocasião da Guerra do Paraguai (1864-1870). Tratado de Ayacunho (27 de março de 1867) - Foi assinado sem que ambos conhecessem a região. Não houve Comissões Demarcatórias. - Foi assinado Malgarejo oprimia os indígenas. - A linha BENI-JAVARI foi substituída pela MADEIRA-JAVARI. - O artigo 11 fazia referência ao UTI POSSIDETIS. - 1870: Comissão Demarcatória liderada pelo Visconde de Maracaju. - 1878: Outra tentativa de levar a efeito o tratado com a Comissão Demarcatória liderada pelo Barão de Paima. As duas comissões fracassaram. A partir daí. O Tratado é esquecido. Protocolo de 19 de fevereiro de 1895 - Estabelecimento de uma Comissão Demarcatória com o fim de estabelecer os limites do Tratado de Ayacucho. - Brasil: Cel. Thaumaturgo de Azevedo. Bolívia: José Manuel Pando. - Sob pressão do Ministro Castro Cerqueira, Thaumaturgo de Azevedo pede demissão e dá lugar à Cunha Gomes. Acordo Medina-Carvalho, em 14 de junho de 1895 - O ministro boliviano Frederico Medina veio ao Brasil para discutir o processo demarcatório. O acordo foi assinado, no entanto, o Congresso Nacional brasileiro não o aprovou. Linha Cunha Gomes (1898)[4] - Resultado do acordo entre Brasil e Bolívia. “Da confluência do Rio Beni com o Mamoré (onde começa o rio madeira), para o este seguirá a fronteira por uma paralela (linha) tirada da sua esquerda, na latitude 10º 20’ até encontrar a nascente do Rio Javari” (7º 17’). - O Congresso Nacional também ainda me parece que não havia aprovado a dita Linha. Bolivian Syndicate (1899-1903). - A idéia foi do embaixador boliviano em Londres Félix Aramayo. - O objetivo era barrar o ímpeto revolucionário (conter o imperialismo brasileiro) e agilizar a exploração econômica da região. - Tinha como um dos chefes o filho do presidente Roosevelt. - Aramayo dizia que o Brasil queria fazer uma “América do Sul para os brasileiros”. - Se propagou que o Sindicato era uma forma de amenizar os conflitos raciais nos EUA. Diziam que uma migração de negras para a região estava sendo organizada. TRATADO DE PETRÓPOLIS (17 de Novembro de 1903)[5]. - Foi assinado diante da região dominada militarmente pelo Brasil. - Evitou que organizações financeiras internacionais tivessem lugar na região. - Põe fim ao Estado do Acre Meridional, a que Plácido de Castro administrava. CONCLUSÃO: a) a Bolívia teria trânsito livre nos rios acreanos; b) 2 milhões de libras esterlinas; c) construção da ferrovia Madeira-Mamoré[6] (350 quilômetros), tinha o objetivo de transportar matérias-primas à Bolívia. d) cessão de terras no Mato Grasso. [1] Dezessete cavalos e 200 aventureiros foram suficientes para dominar o Império Inca com 15 milhões de habitantes. [2] Era longe dos centros administrativos. Era de difícil acesso. [3] Manteve tropas no local forçando a Bolívia assinar o Tratado. “A Bolívia nada mais havia que fazer se não entregar o território”. [4] Vale dizer que até o momento a região banhada pelo Rio Acre, Yaco e Purus era administrada pelo município amazonense chamado Floriano Peixoto. [5] Ler Cláudio Araújo Lima que diz que a solução foi boa para a Bolívia por ter evitado a presença yanke na região. [6] Concluída em 1912, a Madeira–Mamoré foi construída por 30 mil trabalhadores, dos quais 6 mil perderam a vida na empreitada (daí muitos a chamarem de “Ferrovia da Morte”). A importância econômica da Madeira–Mamoré foi efêmera. Em 1912, o Sudeste Asiático já despontava como o novo centro produtor que desbancaria a borracha brasileira. Mais tarde, a própria Bolívia perderia seu interesse pela ferrovia, pois uma estrada de ferro construída pelo Chile passou a ligá-la ao Oceano Pacífico de forma rápida e muito mais barata. Na década de 1960, o governo brasileiro finalmente desativou a Estrada de Ferro Madeira–Mamoré, da qual restam hoje em operação 27 quilômetros, utilizados apenas para fins turísticos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

TEORIA: A HISTÓRIA FALADA

História Falada

História do Negro no Brasil

Livro - Uma Historia Do Negro No Brasil

Criacionismo x Evolucionismo

Philip Yancey - Feito de Um Modo Especial e Admirável

LIVRO: Da Monarquia à República - Emilia Viotti.

Emilia Viotti Da Costa - DA MONARQUIA À REPÚBLICA (Momentos Decisivos

O ACRE POR UM CAVALO BRANCO

Por Marcos Vinícius Neves (*)
É normal para os brasileiros, que estudam ou trabalham na Bolívia, ouvirem uma estranha história de que o Acre foi trocado com o Brasil por um cavalo branco. É uma história estranha porque aqui, no Brasil, não conhecemos essa história, mas basta conversar um pouco com os bolivianos pra descobrir de onde surgiu isso.
Dizem os bolivianos que, infelizmente para eles, tiveram durante um período de sua história um presidente louco chamado Mariano Melgarejo. Coube a esse Presidente, ridicularizado por seu próprio povo, negociar com o Brasil a questão de limites entre os dois países no período da Guerra do Paraguai.
Isso era importante para o Brasil porque interessava ao governo brasileiro neutralizar qualquer possibilidade da Bolívia se unir ao Paraguai na guerra que estava sendo travada entre esse país e a coalizão formada por Brasil, Argentina e Uruguai. Por isso, sob pressão, o governo brasileiro se propôs a rever o Tratado de Madri (1750), que até então definia a fronteira entre o Brasil e a Bolívia.Entretanto, o consul brasileiro na Bolívia, Regino Correa, conhecendo a paixão do presidente Melgarejo por cavalos, antes mesmo de iniciar as negociações, o condecorou com uma medalha e lhe deu de presente um casal de lindos cavalos brancos de raça.
Contam que o Presidente boliviano ficou tão feliz com o presente recebido que na hora da negociação deu de presente para o Brasil dois dedos de terra marcados no mapa, uma vez que se tratava de terras despovoadas. Com isso, a linha divisória, que a partir de 1750 era reta, passou a ser oblíqua, dando origem à linha imaginária conhecida hoje como Linha Cunha Gomes.Entretanto, essas terras ao norte da linha oblíqua Cunha Gomes, não pertencem ao Acre, mas hoje fazem parte do território do Estado do Amazonas.
Sendo que as terras ao sul da linha Cunha Gomes foram conquistadas pela luta dos brasileiros do Acre durante a Revolução Acreana e legalmente anexadas ao Brasil através do Tratado de Petrópolis (1903), assinado com a Bolívia, e do Tratado do Rio de Janeiro (1909), assinado com o Peru.A seguir textos mais antigos, já publicados, que detalham um pouco melhor a questão dos Tratados de Limites.
(*) O historiador Marcos Vinícius Neves é presidente da Fundação Garibaldi Brasil.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

FUNDO PREVIDENCIÁRIO DO ACRE

Ednei Muniz O governador Binho Marques (PT) afirmou nesta segunda-feira, 26, durante o “Seminário de Previdência do Estado do Acre”, que o Fundo Previdenciário Estadual é uma verdadeira bomba-relógio. Disse, ainda, que a saúde financeira do mesmo poderá não ser satisfatória para arcar com o pagamento das aposentadorias que virão no futuro próximo. O problema, bastante previsível à época em que começou a ser produzido, é grave e precisa entrar na pauta de todos os sindicatos, e demais instituições, imediatamente. O alerta já foi dado, sabiamente, pelo governador. Para ilustrar a situação, e também para ajudar na reflexão do problema, faremos alguns comentários, inevitáveis, diga-se, a cerca do histórico do Fundo Previdenciário Estadual desde que foi criado. Desde o nascedouro, em 1994, o Fundo Previdenciário nunca deixou de causar polêmicas. Já no ano de sua criação, o então governador Romildo Magalhães pegou emprestado R$ 1,5 milhão para complementar as despesas de pagamento dos servidores públicos, referente ao mês de julho, e também para garantir o repasse do duodécimo dos Poderes Legislativo e Judiciário, bem como do Ministério Público e do Tribunal de Contas, referente ao mês de agosto daquele ano. Na época, o procedimento contou com o aval de todas as instituições interessadas. Ninguém disse nada, até mesmos os sindicatos assinaram em baixo. Detalhe: o procedimento foi ilegal. Em 1996, mais especificamente em 30 de março, o governo, mais uma vez contrariando a lei, solicitou ao Fundo um empréstimo de R$ 7 milhões para, novamente, pagar os salários atrasados dos servidores. A medida foi adotada após o governo argumentar que o Estado passava por dificuldades financeiras, o que foi desmentido pelo Tribunal de Contas logo em seguida, ao afirmar que havia disponibilidade financeira de R$ 13 milhões. Levantamentos realizados à época confirmaram que no período de 1º de abril de 1994 a 31 de março de 1996 foi descontado dos servidores para o Fundo Previdenciário R$ 26 milhões. No entanto, nesse período todo, apenas R$ 7 milhões foram destinados efetivamente para as contas do fundo. Até hoje não se sabe ao certo onde o dinheiro foi parar. Segundo o Ministério Público Federal, Orleir Camelir teria argumentado que seria para investimentos em casas, mas que nunca saíram do papel. Os fatos chegaram a constar do pedido de impeachment do ex-governador, que como já narrado por mim em outra oportunidade, acabou em cachaça e coca-cola em pleno salão nobre da Aleac. Ainda existe gente afirmando que alguns deputados foram comprados com dinheiro do fundo. Enfim, o tempo passou, veio o atual governo e tentou evitar o pior (é preciso reconhecer), mas, ao que tudo indica, as feridas do passado foram mais profundas do que se imaginava na época negra em que instituições públicas e sindicatos, entre a cruz e a espada, assinavam acordos ilegais para destruir a aposentadoria futura de pobres trabalhadores. Por fim, fica a pergunta: quem pagará a conta? ♦ Edinei Muniz é advogado Fonte: http://altino.blogspot.com/

III Simpósio Linguagens e Identidades da/na Amazônia Sul-Ocidental: Línguas, Linguagens e Fronteiras

23 a 27 de novembro de 2009 Programação Oficial 23/11/09, segunda-feira, das 14:00 às 17:00hs. Sessão Inaugural: “Oralidade, memórias da resistência e lutas pela terra nas fronteiras Bolívia-Peru-Brasil-Paraguai”. • Doris Domiguez Ecuari (Federación de Mujeres Campesinas Bartolina Sisa de Pando - Bolívia). • Dercy Teles (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri – Brasil). • Jorge Gomes (Liderança kaiowa Guarani, aldeia Pirakua, Bela Vista Mato Grosso do Sul – Brasil). • Egon Dionisio Heck (Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Mato Grosso do Sul – Brasil). 23/11/09, segunda-feira, das 19:00 às 22:30hs. Sessão e Conferência de Abertura: “Amazonía: imaginario y discurso”. • Ana Pizarro (Universidade do Chile). 24/11/09, terça-feira, das 08:00 às 12:00 hs. • Oficina: “A sala de aula no Atlântico Negro: escolarizando a temática da diáspora”, com Salomão Jovino da Silva (músico e historiador, São Paulo - Brasil). • Oficina: “Ritmos negros de tambores do sudeste”, com José Carlos da Silva – Caçapava (músico – São Paulo – Brasil). • Mini-curso: “Globalização, sociedades regionais e etnicidade”, com Eliseo López Cortés e César Pérez Ortiz (Universidade de Guadalajara - México). • Mini-curso: “A violência e o corpo coletivo da mulher negra na diáspora", com Christen A. Smith (Universidade do Texas – EUA). • Mini-curso: “Como documentar línguas e culturas indígenas através de gravações digitais de áudio e vídeo: os equipamentos, métodos e técnicas mais recentes”, com Denny Moore (Museu Paraense “Emílio Goeldi” – Brasil). • Mini-curso: "América Latina: problemas culturales en la modernidad tardía", com Ana Pizarro (Universidade do Chile). 24/11/09, terça-feira, das 14:00 às 17:00 hs. Sessão Temática: “Histórias, territorialidades e línguas indígenas nas Amazônias”. • Denny Moore (Museu Paraense “Emílio Goeldi” - Brasil). • José Ribamar Bessa Freire (Universidade Estadual do Rio de Janeiro/Universidade do Rio de Janeiro - Brasil). 24/11/09, terça-feira, das 19:00 às 22:30 hs. Sessão Temática: “As Amazônias nas literaturas de viajantes naturalistas e ‘À margem da história’ de Euclides da Cunha”. • Hideraldo Lima da Costa (Universidade do Amazonas - Brasil). • Cesar Augusto de Oliveira Casella (Universidade Federal do Acre - Brasil. • Cássio Santos Melo (Universidade Federal do Acre - Brasil). 25/11/09, quarta-feira, das 08:00 às 12:00 hs. • Oficina: “Ritmos negros de tambores do sudeste”, com José Carlos da Silva – Caçapava (músico – São Paulo – Brasil). • Mini-curso: “Globalização, sociedades regionais e etnicidade”, com Eliseo López Cortés e César Pérez Ortiz (Universidade de Guadalajara - México). • Mini-curso: “A violência e o corpo coletivo da mulher negra na diáspora", com Christen A. Smith (Universidade do Texas – EUA). • Mini-curso: “Como documentar línguas e culturas indígenas através de gravações digitais de áudio e vídeo: os equipamentos, métodos e técnicas mais recentes”, com Denny Moore (Museu Paraense “Emílio Goeldi” – Brasil). • Mini-curso: "América Latina: problemas culturales en la modernidad tardía", com Ana Pizarro (Universidade do Chile). 25/11/09, quarta-feira, das 14:00 às 17:00 hs. Sessão Temática: “Territórios, fronteiras e identidades nas Amazônias e um pouco além”. • Eliseo López Cortés (Universidade de Guadalajara - México). • César Pérez Ortiz (Universidade de Guadalajara – México). • Maria de Jesus Morais (Universidade Federal do Acre - Brasil). • Irma Norka del Aguila Peralta (School for International Training - Peru). 25/11/09, quarta-feira, das 19:00 às 22:30 hs. Sessão Temática: “Perspectivas dos estudos linguísticos nas Amazônias”. • Júlio César Barreto Rocha (Universidade de Rondônia - Brasil). • Vicente Cruz Cerqueira (Universidade Federal do Acre - Brasil). • Aldir Santos de Paula (Universidade Federal de Alagoas - Brasil). 26/11/09, quinta-feira, das 08:00 às 12:00 hs. • Oficina: “Recital de violão afro-brasileiro”, com Valder Pereira do Lago - Dinho Nogueira (músico – São Paulo – Brasil). • Mini-curso: “Globalização, sociedades regionais e etnicidade”, com Eliseo López Cortés e César Pérez Ortiz (Universidade de Guadalajara - México). • Mini-curso: “A violência e o corpo coletivo da mulher negra na diáspora", com Christen A. Smith (Universidade do Texas – EUA). • Mini-curso: “Como documentar línguas e culturas indígenas através de gravações digitais de áudio e vídeo: os equipamentos, métodos e técnicas mais recentes”, com Denny Moore (Museu Paraense “Emílio Goeldi” – Brasil). • Mini-curso: "América Latina: problemas culturales en la modernidad tardía", com Ana Pizarro (Universidade do Chile). 26/11/09, quinta-feira, das 14:00 às 17:00 hs. Sessões de Comunicações Livres. 26/11/09, quinta-feira, das 19:00 às 22:30 hs. Sessão Temática: “Colonialidade e decolonialidade de saberes históricos em Áfricas e Américas ao Sul”. • Márcio Souza (Escritor amazonense, Manaus - Brasil). • Maria Antonieta Antonacci (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Brasil). • Marcos Vinicius das Neves (Fundação Municipal de Cultura “Garibaldi Brasil”, Rio Branco – Brasil). 27/11/09, sexta-feira, das 14:00 às 17:00 hs. Sessão Temática: “Diáporas negras e afroindígenas nas fronteiras Atlânticas”. • Bebel Nepomuceno (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Brasil). • Agenor Sarraf Pacheco (Universidade da Amazônia - Brasil). • Christen A. Smith (Universidade do Texas – EUA). 27/11/09, sexta-feira, das 19:00 às 22:30 hs. Sessão Especial de Encerramento: “Viola de Angola, percussões, letras, músicas e diálogos afrodescendentes”. • Salomão Jovino da Silva (músico e historiador – São Paulo - Brasil). • Cassius Jansen Coelho da Silva (músico – São Paulo – Brasil). • Valder Pereira do Lago - Dinho Nogueira (músico – São Paulo – Brasil). • Rogério da Silva Carlos – Temporini (músico – São Paulo – Brasil). • José Carlos da Silva – Caçapava (músico – São Paulo – Brasil).

sábado, 17 de outubro de 2009

PARA QUESTIONAR A COMUNICAÇÃO PÚBLICA NO ACRE

Por João Veras - Músico, advogado e outras coisas mais...
A propósito da conferência nacional de comunicação, também acho que é fundamental compreender a comunicação social no Acre muito além da idéia que aqui se tem dela como instrumento de propaganda governamental. Nesse sentido, não quero ficar analisando, neste momento, o que acontece fora daqui e fora dela (estaria alguma coisa mesmo fora?), muito menos entreter-me em discussão teórica sobre o nome, papel e “fenomenologia” das novas tecnologias no campo da comunicação. Não quero o desvio.
O que desejo é o enfrentamento reto das questões que envolvem as políticas governamentais de comunicação daqui. Interessa-me questionar a comunicação relacionada à cidadania local. Prefiro o que está ao meu alcance como, inclusive, cidadão consumidor da gestão dos meios de comunicação públicos no contexto republicano.
E já faço isso aproveitando a visibilidade do debate, que o governo local, não por gosto, mas por desgosto, foi levado a “abrir”, empurrado pela avalanche política do movimento popular pré-conferência nacional de comunicação - este que também empurrou o governo federal - e, com o mais legítimo interesse e a mais profunda franqueza, questionar se a política de comunicação pública, praticada pelo chamado sistema público estadual de comunicação do Acre, continuará sendo tão-só instrumento de propaganda dos feitos e idéias governamentais. Mais que isso. Se ele continuará impedindo que a pluralidade e diversidade de idéias, manifestações e informações locais seja objeto de suas transmissões igualmente locais.
Se ele continuará selecionando, sob critério da não-crítica, as caras e assuntos merecedores de difusão pública. Se ele continuará censurando o que não é espelho de dividendos eleitorais. Se ele continuará forjando uma imagem unívoca daquilo que tem denominado de acreanidade. Se ele continuará sendo alheio à pluralidade e diversidade da produção artística e científica locais. Se ele continuará sendo antidemocrático, também no aspecto da participação social na formulação de sua política de difusão radiofônica e televisiva (alguém conhece o Decreto Estadual 2.097, de 11/05/00?). Se continuará dominando, com mão de ferro, a imprensa local com a sua política de “distribuição” de verbas de mídia de governo.
O que me interessa tem cheiro de terra, de tempo imediato, de realidade, de mudança. Não me interessa simulações e truques. Apesar de saber que continuaremos envoltos em truques e simulações, apesar de saber que a caravana da insatisfação social passará enquanto os cães da comunicação continuam ladrando e lambendo suas patas de cifras, votos e enganos, com ou sem “conferências-tur” rumo à capital federal.
(por João Veras – joão_veras@hotmail.com)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A modernização econômica do Acre: a transformação da Amazônia sul-ocidental de um estado brasileiro.

Fonte:
Por Daniel da Silva Klein. Sobre o autor[1]. No dia 26 de abril de 1969 foi inaugurada no bairro 6 de Agosto, no segundo distrito da capital do Acre, Rio Branco, a Serraria Montenegro, com uma festa iniciada às nove da manhã e que teve a participação do então governador do estado do Acre Jorge Kalume, deputados e personalidades da vida pública local[2]. Na solenidade a professora Clarisse Fecury cortou a fita inaugural e uma benção de todo o estabelecimento foi feita pelo padre Nilo Zanini.
Logo em seguida o proprietário Sylvio Montenegro falou que seu investimento representa o começo de uma nova realidade, que deve superar toda a problemática tradicional de falência da borracha, mas não desprezou décadas de trabalho árduo realizado pelos seringueiros na manutenção dessa atividade econômica. Após o governador saudou o empenho do jovem investidor, ressaltando que o poder público só vinha aplaudir a iniciativa e ato contínuo o chefe das oficinas fez o primeiro movimento das maquinas para mostrar a real capacidade produtiva da serraria[3].
Alguns meses mais tarde a serraria colocava anúncios nos periódicos locais para fazer propagandas de seus produtos, principalmente para os moradores do primeiro distrito da capital, que só tinham acesso ao segundo distrito por barcos, catraias ou balsas. A serraria entregava seus produtos no porto do bairro da Base no primeiro distrito, sendo que seu leque de produtos incluía janelas, tacos, caixilhos e portas, madeiras serradas em geral e lambris variados[4].
Com a Serraria Montenegro iniciava no Acre uma mudança econômica de vulto, que tinha como principal objetivo a modernização de sua zona rural e o fomento de atividades voltadas para o setor de agropecuária e indústria madeireira. Esse projeto tem inicio em 1961, quando o então presidente João Goulart assina um acordo entre o Brasil e o Banco Mundial para o financiamento da construção da Br-364, ligando Cuiabá a Porto Velho.
O acordo previa que entre os mais de dois mil quilômetros de estradas que seriam abertas e asfaltadas, o governo brasileiro deveria bancar projetos de assentamento e fomentar atividades do setor agropecuário[5]. Com esse acordo diversas linhas de crédito para empreendimentos econômicos ligados a esse setor foram abertas na Amazônia e a Serraria Montenegro foi o primeiro estabelecimento no Acre a receber esses incentivos fiscais.
Ao deixar o cargo que ocupou no governo entre 1966 e 1971, Jorge Kalume assume a diretoria financeira do Banco da Amazônia, o BASA, ficando até 1978 gerindo projetos, planos e linhas de créditos que financiavam empreendimentos como serrarias, fazendas e assentamentos dirigidos pelos governos estaduais dos estados amazônicos[6].
Kalume era um político da ARENA e seu governo foi caracterizado de fato pela introdução no Acre do discurso e das praticas de colonização modernizadora da Amazônia, na época um dos pilares do regime militar. A partir do final dos anos 60 os antigos seringais deveriam ser substituídos por outros investimentos, porque pressões nesse sentido eram constantes e a ditadura assumiu como sua principal política pública para a Amazônia brasileira a modernização de sua zona rural e urbana, fomentando em larga escala a economia agropastoril.
Desde a segunda guerra mundial os seringais acreanos já não conseguiam mais sua auto-sustentação, os governos federais e estaduais foram cortando seguidamente os incentivos fiscais e os seus proprietários, os seringalistas, faliram porque não puderam mais manter o arcaico sistema de aviamento, que consistia numa cadeia hierárquica de escambos entre seringueiros, seringalistas, casas comerciais e casas aviadoras. Muitos deles foram viver de rendas nas praias do Rio de Janeiro ou Fortaleza, literalmente abandonando seus investimentos[7].
Era imperativo aos economistas dos governos militares mudarem essa situação. Existiam pressões para que o universo falido dos seringais fosse reocupado e nada mais obvio, então, que o fomento de toda uma política publica de re-ocupação do vale amazônico, que poderia se tornar tanto um receptor de populações indesejadas do centro sul do país como um espaço de investimentos de capital agropecuário.
O Banco da Amazônia vinculava naqueles anos propagandas a nível nacional para atrair pessoas interessadas na exploração da agropecuária em terras amazônicas, afirmando que muitos já eram capazes de tirar proveito daquela vasta região mergulhada em lendas. Vendia-se a idéia de que os estados daquelas paragens eram verdadeiras minas de ouro, capazes de oferecer aos primeiros que chegassem riquezas inimagináveis[8].
Como Jorge Kalume foi o quem iniciou essa política de re-ocupação da Amazônia no Acre, seu sucessor, Francisco Wanderley Dantas, no cargo entre 1971 a 1975, foi quem de fato implantou um forte programa de governo para fomentar esse projeto.
Homem nascido na cidade de Porto Acre, filho de família tradicional, cujo pai, Sebastião Gomes Dantas, lutou ao lado de Plácido de Castro na guerra do Acre, Wanderlei Dantas era experimentado nos estudos humanistas. Formado em geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi professor da Escola Superior de Guerra e escreveu diversos livros sobre a falência dos seringais[9]. Figura, portanto, perfeita para o cargo e para gerir esse grande projeto ao lado de Jorge Kalume, que lhe garantia fundos do governo federal.
Ao contrario de seu antecessor, Dantas chegou ao poder com um projeto já encaminhado e pronto para ser desenvolvido. O Acre daqueles tempos ainda dependia muito da falida economia da borracha, que há tempos vivia devido aos subsídios do governo federal. A estratégia de seu governo foi continuar maciçamente com as campanhas publicitárias sobre os incentivos fiscais na região, dando especial atenção, porém, a facilidade de compra de terra para implantação de fazendas de gado.
Chegou mesmo a pagar para que a Rede Globo fizesse um documentário sobre essa temática no Acre, que foi apresentado pelo jornalista Amaral Neto em cadeia nacional e deveria ser o programa televisivo responsável pela atração de pecuaristas para região[10].
Corria o ano de 1972 quando os primeiros fazendeiros do centro sul motivados por esses incentivos todos chegaram ao Acre. Tinham adquirido o antigo e vasto seringal Catuaba, uma propriedade gigantesca com mais de 150 mil hectares de terras, localizado no rio Acre logo abaixo da cidade de Rio Branco e margeando, pelos fundos, a recém inaugurada Br-364.
Já fazia algum tempo que os seringueiros desse seringal não viam os donos daquela propriedade, nem mesmo os noteiros que cuidavam da sede, que se encontrava fechada e tombando de velha. Não havia controle sobre a produção e há uns cinco anos produziam o que bem entendiam, sem se preocupar com a propriedade das terras[11].
Os novos donos do seringal encontraram um jeito diferente de tomar posse de suas terras, que eram ocupadas há décadas por gerações de famílias desses seringueiros. Contrataram dois jagunços com a incumbência de expulsar esses antigos moradores do lugar. Seu Raul, seringueiro residente na colocação Limeira, nas proximidades do deposito Desengano, foi o primeiro a receber a visita desses jagunços, que chegaram a sua casa ameaçando-o de expulsão imediata. Não sabendo do que se tratava, pois não tinha sido avisado da venda do seringal, seu Raul começou a discutir com os jagunços. A discussão descambou para um tiroteio onde seu Raul matou os jagunços e fugiu da região. Ninguém do Catuaba jamais o veria de novo[12].
A noticia desse tiroteio correu os varadouros dos seringais do vale do rio Acre. Poucos sabiam o que estava se passando, mas logo entenderam os motivos da visita daqueles jagunços. A parte do seringal Catuaba que margeava a Br-364 seria desocupada nos meses seguintes ao evento e suas florestas seriam derrubadas, dando lugar a grandes fazendas. A senhora Ivanilde Lopes que morava então nesse seringal não entendia como ele tinha falido, porque o Catuaba: era um seringal que tinha três campos de gado. Na sede do seringal tinha também trinta e cinco moradores. Todos trabalhavam no barracão, uns trabalhavam na sede, outros comboieiros, outros eram vaqueiros, outro era escrivão do barracão, aí tinha o caixeiro, tinha o gerente do seringal [...] era um seringal muito grande[13]. Mas que de uma hora para outra foi sendo abandonado. Todos pensavam que os donos tinham se ausentado, mas voltariam e não imaginavam que alguém pudesse derrubar suas ricas florestas cheias de seringueiras prontas para serem exploradas. O que tinha acontecido de fato era que o Catuaba tinha sido vendido para um grupo de pecuaristas, que o dividiram entre si e que foram expulsando os seringueiros do local. Muitos saíram outros ficaram, resistiram e com o passar dos anos conseguiram a posse de suas terras através de um projeto de assentamento[14].
Paradoxalmente o discurso e as praticas econômicas modernizadoras iniciadas por Jorge Kalume e continuadas por Wanderley Dantas trouxeram vários conflitos, porque a substituição dos antigos seringais por fazendas e madeireiras não levava em conta o que fazer com uma legião de seringueiros que moravam nessas regiões.
A expulsão dos seringueiros se tornou corrente a partir de 1972 e desde então os fazendeiros passaram a ver sua atividade como uma luta, que opunha, por um lado, agentes de um sistema econômico falido e, de outro, arautos da modernidade agropastoril. Mario Junqueira, grande fazendeiro do sudeste, via assim seu trabalho na Amazônia: os seringalistas, outrora um homem rico e hoje, em sua maioria endividados no Banco da Amazônia, sem condições de saldar seus compromissos, melhor será também enfrentar as novas estruturas, o novo desafio, e unir-se aos investidores que chegam, ou abandonar o campo de luta[15]. . A modernização da Amazônia era um projeto extremamente conflituoso e que movimentava cifras estratosféricas, tanto que durante o governo de Wanderley Dantas foram vendidos mais de 4.000.000 de hectares de terras no Acre para apenas 284 pecuaristas. Esse número é ainda mais intrigante quando se fica sabendo que de toda essa área adquirida apenas quatro pessoas compraram mais de 1.200.000 hectares, ou seja, mais de 30% da área total do estado estava na posse de alguns poucos latifundiários[16].
O objetivo de implantação de uma economia agropecuária tornou-se posteriormente uma norma comum nos governos acreanos, tanto que Geraldo Mesquita, no cargo entre 1975 e 1979, realizou um grande seminário para discutir essa questão assim que assumiu seu mandato. Esse evento deveria tratar com profundidade esse problema e viabilizar com celeridade a modernização agropecuária na região.
Nomeado como Secretario do Fomento Econômico dessa administração, o professor José Fernandes do Rêgo deu uma pequena palestra nesse seminário, discutindo, dentre outras pautas, o trabalho do seringueiro. Segundo ele esse agente não estava apto a exercer os ofícios ordenados de uma fazenda, porque trabalhava nos momentos que quisesse. O objetivo de sua fala era enfatizar a idéia de que o meio agrícola moderno do Acre deveria impor a esse sujeito a emigração para as cidades[17].
Outro palestrante da mesa, o senhor Assis Couto, então coordenador regional do INCRA, concordou com os rumos apontados pelo senhor José Fernandes, afirmando ainda que esse sujeito econômico, o seringueiro, estava tornando-se a cada dia um elemento indesejável aos investidores, devendo, portanto, ser tratado como um elemento a ser eliminado. Geraldo Mesquita fechou os trabalhos lembrando que em seu governo algo seria feito com relação a essa classe de pessoas esquecidas e inaptas ao desenvolvimento moderno do Acre[18].
Essa reviravolta modernizadora da zona rural trouxe suas conseqüências. Os conflitos pela posse da terra no Acre acentuaram-se a tal ponto que diversos seringueiros e seringueiras foram barbaramente assassinados, populações inteiras foram deslocadas de suas colocações nos seringais para as cidades acreanas, sobretudo para Rio Branco, e os fazendeiros modificaram ao extremo a paisagem do vale do rio Acre. Antes onde se viam florestas verdejantes, viam-se extensas pastagens ocupadas por gado nelore.
A economia do Acre no inicio dos anos 80 já era baseada na agropecuária e o governo de Joaquim Falcão Macedo, que geriu o estado entre 1979 a 1983, foi responsável pela ampliação dessa política publica modernizadora. A principal característica de seu governo foi o esquema montado para receber as populações seringueiras que migravam em massa para as cidades do vale do rio Acre, principalmente Rio Branco.
A tônica na virada da década de 70 para a de 80 não era mais o fomento de uma economia agropastoril, mas a garantia de seu sucesso, tendo em vista que já era uma realidade no estado.
Antes dos anos 50 a cidade de Rio Branco era apenas uma pequena vila urbana encravada no meio da selva, porém sua população começa a dar saltos e nas duas décadas seguintes apresenta um significativo crescimento, que atinge seu ápice durante os anos 80. Entre 1970 e 1985 sua população quase duplica de tamanho e sua estrutura urbana entra em falência quase que completa. A modernização tinha chegado a capital do Acre e a sua zona urbana.
Informações dão conta de que nessa década de crescimento exorbitante bairros surgiam da noite para o dia, áreas que dormiam como matagais acordavam com dezenas de casebres de papelão. Um exemplo de bairro surgido impulsionado pelo êxodo dos seringueiros, que rumavam sem parar para a cidade de Rio Branco é o Triangulo Novo que tem seu núcleo original em uma ocupação datada de 1975.
Nos primeiros dias desse ano mais de 60 famílias limparam um matagal em uma área entre o bairro Triangulo Velho, a escola Carlos Vasconcelos e o igarapé do Almoço, construindo barracas de lona, madeira e papelão. Imediatamente os donos do terreno entram com um pedido de reintegração de posse e uma diligencia com carpinteiros, tratores e policiais comandados pelo delegado Enoch Santos e enviada ao local[20].
O proprietário do local afirmava que o terreno é de sua família desde a época em que o Acre ainda era território federal e exigia que as casas fossem todas derrubadas, o que causou ainda mais conflitos com os ocupantes. Alguns chegaram a perder todos os móveis por causa dos tratores que derrubaram as barracas sem prévio aviso[21].
Os anos passaram e a ocupação do Triangulo Novo foi tomando corpo até que a comunidade conseguiu a desapropriação do terreno para fins sociais em 1981, e a partir de então os moradores conseguiram de fato transformar a ocupação em bairro[22].
A saída encontrada pela administração de Joaquim Falcão Macedo para os graves problemas habitacionais da cidade foi inusitada: sua tática era esperar que uma ocupação de um determinado bairro aglomerasse um número significativo de pessoas, que se formasse ali uma comissão de ocupação e somente depois ele desapropriava o terreno ocupado, sem, contudo, realizar nenhuma benfeitoria no local.
Outro caso que demonstra essa estratégia de intervenção é o caso da ocupação do bairro João Eduardo. A área desse bairro no final de 1979 era apenas um grande matagal, habitado apenas por bois que pastavam por ali e entrecortado por caminhos de terra batida por onde circulavam moradores dos bairros vizinhos como o Bahia e o Palheiral.
Mas esse local estava ficando extremamente perigoso, porque os moradores dos bairros circunvizinhos estavam sofrendo violências das mais variadas, incluindo três assassinatos graves em pouco tempo. Após o último desses assassinatos, lideranças resolveram que a área deveria ser ocupada, então: Este bairro foi construído a partir de uma tomada de posição dos moradores da Bahia, quando no final de 1979, acontecia a terceira vítima de violento assassinato em um matagal que separava aquele bairro da cidade, sendo desta vez a estudante Hosana Cordeiro[23]. Hosana Cordeiro foi estuprada, esquartejada e seu corpo foi deixado nessa área. Morava nas proximidades e quando foi assassinada estava voltando da aula a noite. O caso em si chocou a comunidade do Bahia que resolveu direcionar uma ocupação no bairro que tinha dois objetivos, um de sanar o problema da violência e outro de oferecer uma oportunidade às pessoas que naquele momento não tinham casas em Rio Branco.
Uma comissão formada pelas lideranças João Eduardo, Grangeiro, Maria do Cabelão e outras tomou a frente e começaram a divulgar uma ocupação na área, demarcando lotes e ruas. Em pouco tempo casebres de madeira e papelão eram erguidos e toda uma área encontrava-se habitada por mais de 200 famílias, que foram formando desde logo uma comissão mais ampla para reivindicar a posse da terra junto ao governo do estado[24]. José Granjeiro Mendes fazia parte dessa comissão e se refere a ele nesses termos: A nossa comissão tinha dez pessoas e eu posso ainda citar alguns nomes, que eram o João Eduardo como presidente e eu como vice-presidente, tinha o Miguel Soares que chamavam de ‘Miguelzinho’, o Chico Bezerra, que foi o primeiro presidente da associação do bairro João Eduardo depois da comissão, e a dona Maria do Cabelão e tantos outros companheiros completando um número de pessoal. Essa era a comissão organizadora que foi eleita numa assembléia geral para cuidar da organização para que os moradores que ocupassem a área realmente não tivessem dificuldades e para que se pudessem evitar conflitos[25] Nessa comissão João Eduardo logo assumiu a frente dos trabalhos de demarcação dos lotes, que tinham todos o formato de 10 metros de frente por 25 de fundos e com a frente para alguma rua. Toda a ocupação foi se desenhando e o futuro bairro assumia um padrão quadriculado de ruas em quadras. Dessa forma, João Eduardo começou a ser conhecido como engenheiro da ocupação[26]. Os trabalhos da comissão eram o de impor um mínimo ordenamento urbano necessário ao lugar, que no futuro poderia receber benefícios estatais dos mais variados como implantação de escolas, construção de praças ou pavimentação de ruas. Após alguns dias de ocupação os moradores do bairro resolveram fazer uma passeata em direção ao palácio Rio Branco, a sede administrativa do governo do estado do Acre. Conseguiram arregimentar mais de 500 pessoas e seguiram a pé do bairro até o centro da cidade, portanto cartazes e entoando musicas de cunho religioso das comunidades de base da igreja católica. Chegando em frente ao palácio a comissão de ocupação foi recebida pelo então governador Joaquim Falcão Macedo e seu chefe de gabinete, Elias Mansour, que garantiram aos moradores a desapropriação do terreno ocupado. O governo garantia apenas a posse dos ocupantes e a regularização fundiária do local, mas não previu nenhum investimento no lugar. A demarcação dos lotes e o encaminhamento das documentações sobre os mesmos deveriam ser encaminhados pela comissão de ocupação, que teriam livre acesso aos órgãos governamentais[27]. Dessa maneira o governo reconhecia a ocupação do lugar, garantia a posse aos ocupantes e não realizaria nenhum investimento no bairro nascente. A estratégia adotada por Joaquim Macedo refletia a incapacidade do estado à época em resolver o problema da moradia, que atingia níveis de calamidade pública para uma cidade do porte de Rio Branco. Por conta de problemas na ocupação João Eduardo foi morto ao demarcar um lote por um cidadão que se sentia prejudicado, mas os trabalhos continuaram e em 1980 o bairro já estava todo formado, recebendo o nome do líder comunitário. Nos anos seguintes os investimentos do governo não chegaram, as ruas continuavam sem pavimentação e a violência era tão alta, que motivou o surgimento de uma outra passeata rumo ao palácio do governo para exigir um posto policial no bairro[28]. O primeiro investimento no bairro só foi construído em 1985, quando o governo inaugurou ali uma pequena escola. A instituição, porém, teve que encerrar provisoriamente as aulas durante alguns dias do primeiro semestre do ano letivo porque os mais de 450 alunos não tinham acesso à água. A diretora Zilda Florêncio afirmou então que a escola João Paulo I só voltaria a funcionar se o abastecimento de água se regularizasse[29].
Esse cenário de calamidade pública foi avolumou-se de tal maneira que Rio Branco foi se tornando um caldo, onde grandes bairros em sua zona periférica não tinham as mínimas estruturas urbanas. Um dos resultados de anos de uma política modernizadora da zona rural acreana foi o êxodo das populações seringueiras, que viam os seringais serem vendidos e suas matas derrubadas para o crescimento de pastagens.
O governo de Joaquim Falcão Macedo concluiu um ciclo de modernização que teve duas frentes: a mudança econômica de toda uma região e o fomento ao crescimento da população urbana. Logicamente que esse ciclo trouxe sérios conflitos e a paisagem acreana foi sensivelmente modificada.
Pode-se dizer que essa modernização foi responsável pela pecuarização da economia acreana bem como pela mudança de um panorama onde a floresta amazônica era dominante. O Acre a partir da segunda metade dos anos 80 seria um estado eminentemente urbano, sua população se concentraria em cidades onde a estrutura urbana era quase inexistente. Referencias. Arquivos do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural do Acre. Divisão de Pesquisa. ALBERTO, Carlos. História do Acre: novos temas, nova abordagem. Rio Branco: Envira, 2002. GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Geografando: nos varadouros do mundo. Brasília: IBAMA, 2003. Jornal O Rio Branco, várias edições. KLEIN, Daniel da Silva. A conquista de Rio Branco: movimentos comunitários e direitos humanos na capital acreana de 1970 a 2000. Belém: Paka Tatu, 2009. MARTINELLO, Pedro. A batalha da borracha na segunda guerra mundial e suas conseqüências para o vale amazônico. Rio Branco: Cadernos UFAC – Série “C”,1988. PACHECO, Juraci Regina. A modernização do campo no Vale do Juruá. Rio Branco: edição da autora, S/D. Revista Temporal: História e fontes orais. Varadouros de uma vida: Matias por ele mesmo. Rio Branco: UFAC, novembro de 1997. Revista Veja, 12 de novembro de 2008. www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_pdf/populaço.shtm. [1] Graduado em História pela Universidade Federal do Acre – UFAC, cursando o mestrado em Letras dessa mesma instituição. Autor do livro A conquista de Rio Branco editado pela Paka Tatu. Atualmente funcionário público concursado para o cargo de Historiador do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural do Acre e recentemente aprovado para a cadeira de Estudos em História da UFAC. [2] Serraria Montenegro Inaugura hoje setor de carpintaria. In: Jornal O Rio Branco, 26 de abril de 1969, Rio Branco, Acre. p. 04. [3] Serraria Montenegro Amplia suas atividades. In: Jornal O Rio Branco, de abril de 1969. p. 01. [4] Serraria Montenegro modernize sua residência ou escritório. In: Jornal O Rio Branco, 24 de junho de 1969. p. 03. [5] KLEIN, Daniel da Silva. A conquista de Rio Branco: movimentos comunitários e direitos humanos na capital acreana de 1970 a 2000. Belém: Paka Tatu, 2009. pp. 38/39. [6] Pasta Governadores, arquivos do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural do Acre. Divisão de Pesquisa. Documento Lema dos Governadores do Acre, p. 12. [7] MARTINELLO, Pedro. A batalha da borracha na segunda guerra mundial e suas conseqüências para o vale amazônico. Rio Branco: Cadernos UFAC – Série “C”,1988. Cap. V. [8] Chega de lendas, vamos faturar. In: Revista Veja, 12 de novembro de 2008. p. 133. [9] Pasta Governadores, ibid, p. 1. [10] PACHECO, Juraci Regina. A modernização do campo no Vale do Juruá. Rio Branco: edição da autora, S/D. p. 113. [11] KLEIN, ibid, pp. 53-54. [12] Id, ibid. [13] SILVA, Ivanilde Lopes da. In: KLEIN, ibid, p. 54. [14] KLEIN, ibid, p. 58. [15] GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Geografando: nos varadouros do mundo. Brasília: IBAMA, 2003. p. 343. [16] Id, ibid. [17] Comissão Parlamentar se reúne. In: Jornal O Rio Branco, 11 de novembro de 1975, p. 2. [18] Id, ibid. [19] Essas estimativas populacionais foram retiradas das seguintes fontes: População recenseada. Confronto dos resultados censitários de 1872 a 1960; Brasil – Séries estatísticas retrospectivas. População estimada. Municípios das capitais de 1960 a 1970; Anuário estatístico do Brasil. População presente recenseada, segundo os municípios das capitais de 1872 a 1980; População recenseada estimada. População residente estimada, segundo as unidades da federação e municípios; Anuário estatístico do Brasil. Estatísticas populacionais. População residente, segundo os municípios das capitais. Todas acessadas no site: www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_pdf/populaço.shtm. [20] Reintegração no Triangulo. In: Jornal O Rio Branco, 18 de fevereiro de 1975. p. 01. [21] Id, ibid. [22] KLEIN, ibid, p. 100. [23] Associação de Moradores do Bairro João Eduardo, 6 de julho de 1983. Memorando: A Situação do Bairro Hoje. p. 1. [24] ALBERTO, Carlos. História do Acre: novos temas, nova abordagem. Rio Branco: Envira, 2002. pp. 45/46. [25] Pasta Revista João Eduardo, arquivos do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural do Acre. Divisão de Pesquisa. Documento Entrevista de José Granjeiro, 13 de maio de 2005. [26] Revista Temporal: História e fontes orais. Varadouros de uma vida: Matias por ele mesmo. Rio Branco: UFAC, novembro de 1997. p. 89. [27] Entrevista de José Granjeiro Mendes, ibid. [28] Nabor recebe comissão que pede segurança para o bairro. In: Jornal O Rio Branco, 28 de julho de 1984, Rio Branco, Acre. p. 06. [29] Falta d’água. In: Jornal O Rio Branco, 20 de março de 1985, Rio Branco, Acre. p. 03.