quarta-feira, 31 de agosto de 2011

RESUMO = BARTHES, Roland. MITOLOGIAS.

- O livro foi escrito entre os anos 10954 e 1956. “Tentava então refletir regularmente sobre alguns mitos da vida cotidiana francesa... O ponto de partida desta reflexão era, as mais das vezes, um sentimento de impaciência frente ao ‘natural’ com que a imprensa, a arte, o senso comum, mascaram continuamente uma realidade...” p. 7.
“A noção de mito pareceu-me desde logo designar estas falsas evidências... o mito é uma linguagem” p. 7.
 
“É preciso não esquecer que, contrariamente ao que sucede na linguagem comum, que me diz simplesmente que o significante exprime o significado, devem-se considerar em todo o sistema semiológico não apenas dois, mas três termos diferentes... temos, portanto, o SIGNIFICADO, o SIGNIFICANTE e o SIGNO, que é o total associativo dos dois primeiros termos” p. 134-135.
“... o mito é um sistema particular, visto que ele se constrói a partir de uma cadeia semiológica que existe já antes dele: é um sistema semiológico segundo. O que é signo no primeiro sistema, transforma-se em simples significante no segundo” p. 136.
“...É da língua de que o mito se serve para construir o seu próprio sistema; e o próprio mito, a que chamarei metalinguagem, por que é uma segunda língua, na qual se fala da primeira” p. 137.
“Sabemos agora que o significante pode ser encarado, no mito, sob dois pontos de vista: como termo final d sistema lingüístico, ou como termo inicial do sistema mítico. Precisamos, portanto, de dois nomes: no plano da língua, isto é, como termo final do primeiro sistema, chamarei ao significante – SENTIDO... no plano do mito, chamar-lhe-ei – FORMA. Quanto ao significado, não há ambigüidade possível: continuaremos a chamar-lhe conceito. O terceiro termo é a correlação dos dois primeiros: no sistema da língua é o signo; mas não se pode retomar esta palavra sem ambigüidade, visto que, no mito (e isto constitui a sua particularidade principal) o significante já é formado pelos signos da língua. Chamarei ao terceiro termo do mito, SIGNIFICAÇÃO... porque o mito tem efetivamente uma dupla função: designa e notifica, faz compreender e impõe” p. 138-139.
“... o que procurei com tudo isto foi captar significações... Exijo a possibilidade de viver plenamente a contradição da minha época, que pode fazer de um sarcasmo a condição da verdade” p. 8.
“É grave a situação de uma sociedade que começa a desenvolver gratuitamente as formas de suas virtudes” p. 43.

SEGUNDA PARTE – O Mito, hoje.
CAP. 1 – O MITO É UMA FALA (p. 131)
“... o mito é um sistema de comunicação, é uma mensagem... ele é um modo de significação, uma forma... o mito é uma fala, tudo pode constituir um mito, desde que seja suscetível de ser julgado por um discurso” p. 131.
“O mito não se define pelo objeto da sua mensagem, mas pela maneira como a profere: o mito tem limites formais, mas não substanciais. Logo, tudo pode ser mito? Sim, julgo que sim...” p. 131.
“... pode conceber-se que haja mitos muito antigos, mas não eternos; pois é a história que transforma o real em discurso, é ela e só ela que comanda a vida e a morte da linguagem mítica... o mito é uma fala escolhida pela história: não poderia de modo algum surgir da natureza das coisas” p. 132.
“O mito não pode definir-se nem pelo seu objeto, nem pela sua matéria, pois qualquer matéria pode der arbitrariamente dotada de significação...” p. 132.
“Entender-se-á, portanto, daqui para diante, por linguagem, discurso, fala, etc, toda a unidade ou toda a síntese significativa, quer seja verbal ou visual... os próprios objetos poderão se transformar em fala se significarem alguma coisa” p. 133.
“... a mitologia é apenas um fragmento dessa basta ciência dos signos que Saussure postulou... sob o nome de semiologia... postular uma significação é recorrer à semiologia... A semiologia é uma ciência das formas, visto que estuda as significações independentemente do seu conteúdo” p. 133.
- A mitologia estuda idéias-em-forma, por isso, faz parte da semiologia e da ideologia. Um  único significante pode passar por inúmeros processos de significação. 

 
“O significante do mito apresenta-se de uma maneira ambígua: é simultaneamente sentido e forma, pelo de um lado, vazio do outro” p. 139.
“... o sentido do mito tem um valor próprio, faz parte de uma história” p. 139.
- Quando o significante já está pleno, o mito o esvazia. Nega a história, permanece apenas a letra. A forma faz com que haja uma pobreza que requer uma significação que a preencha.
“Mas o ponto capital em tudo isto é que a forma não suprime o sentido, empobrece-o apenas, afasta-o, conservando-o à sua disposição. Cremos que o sentido vai morrer, mas é uma morte suspensa: o sentido perde o seu valor, mas conserva a vida, que vai alimentar a forma do mito. O sentido passa a ser para a forma como uma reserva instantânea de história, como uma riqueza submissa, que é possível aproximar e afastar numa espécie de alternância rápida: é necessário que a cada momento a forma possa reencontrar raízes no sentido, e aí se alimentar... jogo de esconde-esconde entre o sentido e a forma que define o mito. A forma do mito não é um símbolo... é uma presença emprestada” p. 140.
“Através do conceito, toda uma história nova é implantada no mito...” p. 141.
“... o que se investe no conceito é menos o real do que um certo conhecimento do real; passando do sentido à forma, a imagem perde parte do seu saber: torna-se disponíveis para o saber do conceito. De fato, o saber contido no conceito mítico é um saber confuso, constituído por associações moles, ilimitadas” p. 141.
“Um significado pode ter vários significantes... posso encontrar mil imagens que me signifiquem a imperialidade francesa” p. 141.
“No mito... o conceito pode cobrir uma grande extensão de significante: por exemplo, um livro inteiro será o significante de um só conceito... não existe nenhuma rigidez nos conceitos míticos: podem construir-se, alterar-se, desfazer-se, desaparecer completamente. E é precisamente porque é histórico, que a história pode facilmente suprimi-lo” p. 142.
“Conforme se vê, a significação é o próprio mito, exatamente como o signo saussuriano é a palavra” p. 143.
“O mito não esconde nada: tem como função deformar, não fazer desaparecer. Não há nenhuma latência do conceito em relação à forma: não é absolutamente necessário um inconsciente para explicar o mito” p. 143.
“A relação que une o conceito do mito ao sentido é essencialmente uma relação de deformação... para Freud, o sentido latente do comportamento deforma o sentido manifesto, assim, no mito, o conceito deforma o sentido. Naturalmente, esta deformação só é possível porque a forma do mito já é constituída por um sentido lingüístico” p. 143.
- O que o conceito deforma é o sentido, o objeto fica sem história, é transformado em gesto. Retira-se a memória e não a existência.
“... o sentido existe sempre para apresentar a forma; a forma existe sempre para distanciar o sentido” p. 145.
“Sabemos que o mito é uma fala definida pela sua intenção, muito mais do que pela sua literalidade” p. 145.
- Sabe-se que, na língua, o signo é arbitrário: nada obriga ‘naturalmente’ a imagem acústica a significar o conceito: o signo é imotivado.
“... encarregado de ‘transmitir’ um conceito intencional, o mito só encontra traição na linguagem, pois a linguagem ou elimina o conceito escondendo-o, ou o desmascara dizendo-o” p. 150.
“... tudo se passa como se a imagem provocasse naturalmente o conceito, como se o significante criasse o significado” p. 150-151.
“A naturalização do conceito, que acabo de colocar como função essencial do mito, é aqui exemplar...” p. 151. O significante e i significado parece manter relações naturais.
“Qual é a função específica do mito? Transformar um sentido em forma. Isto é, o mito é sempre um roubo de linguagem”. 152.
“... a melhor arma contra o mito é talvez mitificá-lo a ele próprio... este mito reconstituído será uma verdadeira mitologia” p. 156.
“A linguagem do escritor não está encarregada de representar o real, mas de o dignificar” p. 157.
“A semiologia ensinou-nos que a função do mito é transformar uma intenção histórica em natureza, uma contingência em eternidade...” p. 162-163.