sábado, 21 de fevereiro de 2009

HOBSBAWN, E. A Era das Revoluções (resumo do primeiro capítulo).

- O livro fala das transformações do mundo durante o período devido ao impacto da chamada dupla Revolução Francesa e Industrial. Onde as repercussões foram menores, o autor não comenta (ex: Japão).
“Se sua perspectiva é européia é porque nesse período o mundo ou parte dele transformou-se a partir de uma base européia – ou melhor, franco-britânica” p. 15.
“O livro não pretende ser uma narração, mas sim uma interpretação” p. 15.
“As palavras são testemunhas que muitas vezes falam mais alto que os documentos” p. 17.
- Durante o período de 60 anos estudado pelo autor, várias palavras foram inventadas ou ganharam significado: industrial, fábrica, classe média, classe trabalhadora, capitalismo, nacionalidade, socialismo, sociologia, estatística, etc.
- O livro não pretende ser de história da Europa. Trata das duas Revoluções e na medida em que tais afetam o mundo, o autor vai fazendo as análises dele. “É por que nesse período o mundo ou parte dele – transformou-se a partir de uma base européia, ou melhor, franco-britânica” p. 15
“As palavras são testemunhas que muitas vezes falam mais alto que os documentos”. P.17.
- Algumas palavras foram inventadas nesse período ou ganharam significados nele: proletariado, greve, classe média, fábrica, industrial, capitalismo, socialismo, aristocracia, nacionalidade, etc. “Imaginar o mundo moderno sem estas palavras é medir a profundidade da revolução que eclodiu entre 1789 e 1848, e que constitui a maior transformação da história humana desde os tempos remotos quando o homem inventou a agricultura e a metalurgia, a escrita, a cidade e o Estado” p. 17.
- A Grande Revolução (1789-1848) foi o triunfo não da indústria como tal, mas da indústria capitalista. Não da liberdade e igualdade em geral, mas da classe média ou da sociedade burguesa liberal. Não da Economia Moderna ou do Estado Moderno, mas das economias e Estados em uma determinada região geográfica do mundo.
- A dupla revolução não vai ser encarada como pertencente à história desses dois países apenas, “Mas sim como a CRATERA GÊMEA de um VULCÃO REGIONAL bem maior” p. 18.
- A erupção ocorreu na França e Inglaterra, no entanto, “são inconcebíveis sob qualquer outra forma que não a do triunfo do capitalismo liberal burguês” p. 18.
- Tais acontecimentos refletem a CRISE do Antigo Regime instalado no Noroeste Europeu, que seriam demolidos por essa dupla revolução.
- A Revolução Americana (1776) pode ser considerada uma erupção igual a da Europa ou como a precursora desta, no entanto, “ela pode no máximo evidenciar a oportunidade e o ajustamento cronológico da GRANDE RUPTURA e não explicar as causas fundamentais dela” p. 18.
- O interessante é saber que as forças econômicas, políticas, intelectuais e sociais de parte da Europa já estavam preparados para revolucionar o resto dela.
- A questão não é explicar os elementos dessa nova sociedade, mas por que eles triunfaram. Não interessa aqui traçar a trajetória das forças que o solaparam a velha ordem, mas a da conquista da nova.
“A história de que trata este livro é, sobretudo, regional”.
- Foi ante tais acontecimentos e suas conseqüências que os impérios ruíram.
“Por volta de 1848, nada impedia o avanço da conquista ocidental sobre qualquer território que os governos ou os homens de negócios ocidentais achassem vantajoso ocupar, como nada a não ser o tempo se colocava ante o progresso da iniciativa capitalista ocidental” p. 19.
“E ainda assim a história da dupla revolução não é meramente a história do triunfo da nova sociedade burguesa. É também a história do aparecimento das forças que, um século depois de 1848, viriam transformar a expansão em contração” p. 19.
- O socialismo foi uma reação a dupla revolução.
- O livro inicia com a construção do primeiro sistema fabril no Mundo Moderno e com a Revolução Francesa em 1789 e termina com a construção de sua primeira rede de ferrovias e a publicação do Manifesto Comunista. CAP. 1 – O Mundo na Década de 1780.
“A primeira coisa a observar o mundo na década de 1780 é que ele era ao mesmo tempo menor e muito maior que o nosso. Era menor geograficamente, porque os homens mais instruídos da época conheciam apenas pedaços do mundo habitado” p. 24.
- Em 1800, dois de cada três seres humanos eram asiáticos.
“Estar perto de um porto era estar perto do mundo” p. 26.
“A notícia da queda da Bastilha chegou a Madri em 13 dias p. 26.
- Os jornais eram poucos, as notícias chegavam à maioria das pessoas através dos viajantes.
“O mundo em 1789 era essencialmente rural e é impossível entendê-lo sem assimilar este fato fundamental [...] seria muito difícil encontrar um grande Estado Europeu no qual ao menos quatro de cada cinco habitantes não fossem camponeses. E até mesmo na própria Inglaterra, a população urbana só veio a ultrapassar a população rural pela primeira vez em 1851” p. 27.
“A cidade provinciana de fins do século XVIII podia ser uma próspera comunidade em expansão [...] mas essa prosperidade vinha do campo” p. 29.
“O problema agrário era o fundamental no ano de 1789, e é fácil compreender por que a primeira escola sistematizada de economistas do continente os FISIOCRATAS franceses, tomara como verdade o fato de que a terra era a ÚNICA FONTE de renda líquida” p. 29.
“O lavrador típico não era livre, e de fato estava quase afogado pela enchente de servidão que foi crescendo praticamente sem cessar desde fins do século XV e princípios do XVI (leste da Europa Ocidental)” p. 31.p
- Para o camponês qualquer um que possuía uma propriedade era membro da classe dominante. O senhor era inconcebível sem terra. P.32.
“A propriedade típica já de há muito deixara de ser uma unidade de iniciativa econômica e tinha-se tornado um sistema de cobrança de aluguéis e de outros rendimentos monetários” p. 33.
“Tecnicamente a agricultura européia era ainda, com exceção de algumas regiões adiantadas, duplamente tradicional e assustadoramente ineficientes. Seus produtos eram ainda tradicionais [...] a alimentação da Europa era essencialmente regional” p. 34.
“O mundo agrícola era LERDO, a não ser talvez em seu setor capitalista. Já os mundos do comércio e das manufaturas, e as atividades intelectuais e tecnológicas que os acompanhavam eram seguros de si e DINÂMICOS, e as classes que deles se beneficiavam eram ATIVAS, determinadas e OTIMISTAS” p. 35.
“Um individualismo secular, racionalista e progressista dominava o pensamento ESCLARECIDO. Libertar o indivíduo das algemas que o agrilhoavam era o seu principal objetivo: o tradicionalismo ignorante da Idade Média, que ainda lançava suas sombras pelo mundo, da superstição das igrejas, da irracionalidade que dividia os homens em uma hierarquia de patentes [...]” p. 37.
“A apaixonada crença no PROGRESSO que professava o típico pensador do iluminismo refletia os aumentos visíveis no conhecimento e na técnica, na riqueza, no bem-estar e na civilização que podia ver em toda a sua volta e que, com certa justiça, atribuía ao avanço crescente de suas idéias” p. 37.
- Os governos iluministas aboliam a escravidão.
“Não é propriamente correto chamarmos o iluminismo de uma ideologia da classe média, embora houvesse muitos iluministas – e foram eles os politicamente decisivos – que assumiram como verdadeira a proposição de que a sociedade livre seria uma sociedade capitalista. Em teoria seu objetivo era libertar todos os seres humanos” p. 38.
“É mais correto chamarmos o ILUMINISMO de ideologia revolucionária [...] pois o iluminismo implicava a abolição da ordem política e social vigente na maior parte da Europa” p. 38.
- Em 1780, parte dos iluministas depositava sua fé no despotismo esclarecido, “eram as próprias monarquias em que os iluministas moderados depositavam sua fé” p. 38.
“Com exceção da Grâ-Bretanha, que fizera sua revolução no século XVII, e alguns Estados menores, as monarquias absolutistas reinavam em todos os Estados em funcionamento no continente Europeu” p. 38.
- Os déspotas esclarecidos não se libertaram na hierarquia dos nobres proprietários, pois na verdade, eles eram seus pares e representavam os valores deles. A monarquia absolutista “na prática pertencia ao mundo que o iluminismo tinha batizado de feudalismo – termo popularizado pela revolução francesa” p. 39.
“O que de fato aboliu as relações agrárias feudais em toda a Europa Ocidental e Central foi a Revolução Francesa, por ação direta, reação ou exemplo, e a revolução de 1848” p. 40.
“Devemos completar o levantamento preliminar do mundo às vésperas da dupla revolução com um exame das relações entre a Europa (noroeste dela) e o resto do mundo. O completo domínio político e militar do mundo pela Europa viria a ser o produto da era da dupla revolução” p. 41.
“Os quatro séculos da história do mundo em que um punhado de Estados europeus e de forças capitalistas européias estabeleceram um domínio completo, embora temporário sobre o mundo inteiro, estava para atingir seu clímax. A dupla revolução estava a ponto de tornar irresistível a expansão européia, embora estivesse também a ponto de dar ao mundo não europeu as condições e o equipamento para seu eventual contra-ataque” p. 42.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Carnaval: de culto pagão à festa popular

Por: Eduardo Carneiro - artigo publicado no Jornal A GAZETA em 09/03/2006.
“Carnaval é uma grandiosa cosmovisão universalmente popular de milênios passados... é o mundo às avessas”. (Bakhtin, 1970).
O carnaval realizado no Brasil é a maior festa popular do mundo. Grande parte dos foliões brasileiros, no entanto, não conhecem as origens e as implicações dessa festa. Pensa-se que o carnaval é uma brincadeira típica do Brasil, mas várias cidades do mundo como Nice (França), Veneza (Itália), Nova Orleans (EUA), dentre outras, também a celebram anualmente. Então, em qual dessas cidades surgiu o carnaval?
O carnaval, para surpresa de muitos, é um fenômeno social anterior a era cristã. Assim como atualmente ela é uma tradição vivenciada em vários países, na antiguidade, o carnaval também era uma prática em várias civilizações. No Egito, na Grécia e em Roma, pessoas de diversas classes sociais se reuniam em praça pública com máscaras e enfeites para desfilarem, beberem vinho, dançarem, cantarem e se entregarem as mais diversas libertinagens.
A diferença entre o carnaval da antiguidade para o moderno é que, no primeiro, as pessoas participavam das festas mais conscientes de que estavam adorando aos deuses. O carnaval era uma prática religiosa ligada à fertilidade do solo. Era uma espécie de culto agrário em que os foliões comemoravam a boa colheita, o retorno da primavera e a benevolência dos deuses. No Egito, os rituais eram oferecidos ao deus Osíris, por ocasião do recuo das águas do rio Nilo. Na Grécia, Dionísio, deus do vinho e da loucura, era o centro de todas as homenagens, ao lado de Momo, deus da zombaria. Em Roma, várias entidades mitológicas eram adoradas, desde Júpiter, deus da urgia, até Saturno e Baco.
Na Roma antiga, o mais belo soldado era designado para representar o deus Momo no carnaval, ocasião em que era coroado rei. Durante os três dias da festividade, o soldado era tratado como a mais alta autoridade local, sendo o anfitrião de toda a orgia. Encerrada as comemorações, o “Rei Momo” era sacrificado no altar de Saturno. Posteriormente, passou-se a escolher o homem mais obeso da cidade, para servir de símbolo da fartura, do excesso e da extravagância.
Com a supremacia do cristianismo a partir do século IV de nossa era, várias tradições pagãs foram combatidas. No entanto, a adesão em massa de não-convertidos ao cristianismo, dificultou a repressão completa. A Igreja foi forçada a consentir com a prática de certos costumes pagãos, muitos dos quais, cristianizados para que se evitasse maiores transtornos. O carnaval acabou sendo permitido, o que serviu como “válvula de escape” diante das exigências que eram impostas aos medievos no período da Quaresma.
Na Quaresma, todos os cristãos eram convocados a penitências e à abstinência de carne por 40 dias, da quarta-feira de cinza até as vésperas da páscoa. Para compensar esse período de suplício, a Igreja fez “vistas grossas” às três noites de carnaval. Na ocasião, os medievos aproveitavam para se esbaldar em comidas, festas, bebidas e prostituições, como na antiguidade.
Na Idade Média, o carnaval passou a ser chamado de “Festa dos Loucos”, pois o folião perdia completamente sua identidade cristã e se apegava aos costumes pagãos. Na “Festa dos Loucos”, tudo passava a ser permitido, todos os constrangimentos sociais e religiosos eram abolidos. Disfarçados com fantasias que preservavam o anonimato, os “cristãos não-convertidos” se entregavam a várias licenciosidades, que eram, geralmente, associadas à veneração aos deuses pagãos.
O carnaval na Idade Média foi objeto de estudo de um dos maiores pensadores do século XX, o marxista russo Bakhtin. Em seu livro Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento, Bakhtin observa que no carnaval medieval – “o mundo parecia ficar de cabeça para baixo”. Vivia-se uma vida ao contrário. Era um período em que a vida das pessoas tornava-se visivelmente ambígua, pois a vida oficial - religiosa, cristã, casta, disciplinada, reservada, etc. – amalgamava-se com a vida não-oficial – a pagã e libertina. O sagrado que regulamentava a vida das pessoas era profanado e as pessoas passavam a ver o mundo numa perspectiva carnavalesca, ou seja, liberada dos medos e das pressões religiosas.
Com a chegada da Idade Moderna, a “Festa dos Loucos” se espalhou pelo mundo afora, chegando ao Brasil, ao que tudo indica, no início do século XVII. Trazido pelos portugueses, o ENTRUDO – nome dado ao carnaval no Brasil – se transformaria na maior manifestação popular do mundo e por tabela, numa das maiores adorações aos deuses pagãos do planeta. Quem dera todos os foliões brasileiros soubessem disso!!!!
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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

BLOG - Tarauacá Notícias

Confira a histórica foto no blog:
"Chegada das ferragens para a construção da ponte metálica em Rio Branco. E aqui em Tarauacá, a terra do abacaxi grande e da mulher bonita a balsa com material para construção da ponte que muitos disseram que iam morrer e não iam ver está próxima".

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Os Árabes Acreanos

Por: Profº Marcos Vinícius Neves (contato: memoriacre@uol.com.br) FONTE:
(http://www.pagina20.com.br/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=19&Itemid=24) A imigração de sírios e libaneses para o Brasil assumiu desde o início certos padrões que foram reproduzidos e mantidos nas colônias formadas nas mais diferentes regiões do país. Por isso diversas cidades brasileiras - como São Paulo, Rio de Janeiro, Belém e Manaus - receberam imigrantes que se portavam de forma muito semelhante, seja no que diz respeito ao comportamento individual, seja em relação à vida em comunidade, apesar das distâncias e do isolamento a que muitos ficaram sujeitos. O Acre não foi exceção. Neste artigo veremos algumas dessas características gerais assumidas pela imigração árabe que formam o pano de fundo da longa história oriental em terras acreanas. A migração de origem síria e libanesa foi realizada por conta dos próprios imigrantes, de maneira não oficial ou subsidiada, o que sempre foi motivo de orgulho, como prova do espírito altivo e brioso desse povo. Eles vinham para “Fazer a América” e qualquer lugar servia para ganhar dinheiro. Uma vez que o período de maior afluência da imigração proveniente do Oriente Médio coincidiu com o auge do ciclo da borracha, entre 1870 e 1913, a Amazônia se tornou um dos principais objetivos daqueles indivíduos interessados na fortuna rápida. A maioria acreditava que apenas alguns anos de trabalho e remessas do dinheiro ganho na América seriam necessários para atingir certa estabilidade financeira, possibilitando a volta rápida para casa. Efetivamente, um terço dos que imigraram retornaram aos seus países de origem, mas a grande maioria permaneceu constituindo família em diversas partes do continente americano. Aliás, a família, ao lado da religião, é o pilar da identidade de sírios e libaneses. Muitos imigrantes mandavam buscar esposas, ou voltavam às suas aldeias no Oriente para se casar e em seguida retornar para os locais onde tinham seus negócios. Some-se a isto ainda que a decisão pela migração era tomada em família, sendo geralmente orientada por seu chefe, bem de acordo com o espirito patriarcal tão marcante no Oriente. “Vendo gente, se não estiver pelado, é freguês” Logo, os primeiros sírio-libaneses desembarcados no Brasil perceberam que as maiores oportunidades estavam no pequeno comércio itinerante. Esta atividade não necessitava de grandes capitais para ser iniciada e servia ao objetivo de manter uma relativa liberdade. Dessa forma os pioneiros sírio-libaneses começaram a disputar espaço com os mascates italianos e portugueses que se espalhavam por todo o país. Começou, assim, a tradição brasileira de comerciantes sírio-libaneses, também conhecidos como mascates turcos. Na Amazônia estes mascates eram chamados de regatões (porque praticavam comércio navegando pelos rios) e se estabeleciam em qualquer parte onde encontrassem boas oportunidades de negócios. Subiam os rios, os paranás e os igarapés, negociando suas mercadorias em troca de borracha, castanha, couro de caça, ou qualquer outro produto com valor comercial. Alcançaram assim todos os vales acreanos, como pontas de lança do processo que formou uma nova civilização no extremo oeste do “inferno verde”. “Todo o libanês é brimo, até a brimeira falência” Foi nas cidades que a imigração árabe se tornou mais visível. Semelhante ao que ocorreu em São Paulo e outras regiões do país, os sírios e libaneses que se estabeleceram nas diversas cidades acreanas abriram pontos comerciais para a venda de armarinhos, tecidos e aviamentos em geral. Como essas lojas normalmente se concentravam numa área específica da cidade, ruas inteiras passaram a ser dominadas pelos árabes. Muitos desses comerciantes logo se tornaram não só varejistas mas também atacadistas e fornecedores de outros imigrantes que, recém chegados à região, necessitavam de apoio para se estabelecer. Apesar de existirem disputas entre os árabes imigrados, em razão de diferenças religiosas e étnicas, a cooperação que existia entre os integrantes da colônia era mais forte. “O imigrante ao chegar, pobre, era tratado por Turco. Ao se tornar regatão era Sírio e ao enriquecer como dono de comércio era Libanês.” De uma forma geral os regatões eram mal vistos pela elite da sociedade extrativista e sofriam com a marginalização e os preconceitos a que estavam sujeitos. Isso se dava porque os regatões eram atravessadores aos quais os seringueiros recorriam para comercializar sua produção, seja para conseguir melhor preço do que o oferecido pelos patrões, seja para escapar do endividamento crescente com o barracão, seja por conta da revolta contra os maus tatos infligidos por seringalistas violentos. Por isso a ordem nos seringais acreanos era de não deixar encostar regatões. Porém, os regatões não tinham como seu objetivo central, ameaçar a autoridade dos seringalistas. Pelo contrário, eles queriam a ascensão social proporcionada pelo enriquecimento. O regatão passava um período regateando pelas beiradas de rios, apenas o suficiente para acumular capital. Logo os “turcos” estavam abrindo uma porta de comercio em qualquer dos núcleos urbanos acreanos em formação. Começava ai sua batalha para tornar-se aceito na comunidade e ser visto, não mais como marginal, mas como parte integrante do sistema. Com o tempo e a prosperidade proporcionada pelo comércio do “ouro negro” (como era tratada a borracha no início do século) os árabes do Acre começaram a participar da maçonaria, dos clubes políticos, da fundação de clubes esportivos e diversas outras atividades que lhes rendiam dividendos sociais. Quando a Segunda Guerra Mundial teve início e deu origem, em 1942, ao novo ciclo de crescimento econômico, conhecido como a “Batalha da Borracha”, os imigrantes sírio-libaneses já estabelecidos puderam se beneficiar ao máximo.Com capital e proprietária de grande quantidade de empreendimentos a colônia árabe assumiu a condição de integrante da elite dirigente da sociedade acreana. Foi o período em que a participação política dos árabes e seus descendentes aumentou consideravelmente. Logo alguns dos representantes da colônia alcançavam posições políticas destacadas. Entre os diversos deputados de ascendência árabe, a história acreana registrou também a presença de senadores e governadores do estado do Acre. Os imigrantes sírio-libaneses e seus descendentes obtiveram completo sucesso ao vencer a opinião corrente que um dia os considerou marginais. Neste aspecto pesava também o fato de que, com o passar do tempo, houve uma gradativa mistura com a população local, proporcionando uma descendência de legítimos “filhos da terra”. Como acreanos natos os filhos da colônia árabe estavam em igualdade de condições com os filhos de outros imigrantes nacionais ou estrangeiros. Porém, o bem estar econômico alcançado por muitos sírio-libaneses proporcionou uma educação de boa qualidade para seus filhos. Estes eram mandados estudar fora, nos grandes centros do país, para depois voltar formados e preparados para se tornar parte da sociedade que abraçaram como sua e da qual não poderiam ser dissociados nunca mais. Obs: Publicado na revista da Casa Farah - 90 anos; RB, FEM, 2000