quarta-feira, 23 de novembro de 2016

ACREANOCENTRISMO x ETNOCENTRISMO



Os gregos tinham desprezo pelos persas, os romanos discriminavam os judeus, o mundo ocidental segrega a cultura islãmica ... criticamos autores europeus de eurocentrismo... e tudo mais.

OBS: Por que não criticamos autores locais de acreanocentrismo? Desde Craveiro Costa ao famoso Leandro Tocantins ... todos contaminados pela visão do homem brando de nacionalidade brasileira... a visão do vencedor.. a visão acreanocentrica da anexação do Acre.

O Eurocentrismo e o Acreanocentrismo são variantes de um mesmo fenômeno = o etnocentrismo, que é tão fundamental para a manutenção de qualquer identidade comunitária.

Se o acreano lutou para ser brasileiro, não está ali um germe de xenofobia? kkkk ... quem tem ouvidos ouça .. ksks

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

ENTREVISTA COM O DR. EDUARDO CARNEIRO SOBRE TRATADO DE PETRÓPOLIS E O BARÃO DO RIO BRANCO




Prof. Dr. Eduardo Carneiro (UFAC)
autor e editor de livros.

“Nem a dita Revolução Acreana e nem Plácido de Castro foram os responsáveis pela anexação do Acre. Nossa historiografia é bairrista e provinciana, olha tudo a partir do umbigo. Foi o corpo diplomático brasileiro quem pôs fim à Questão do Acre, negociando com os EUA, o Bolivian Syndicate, a Bolívia e o Peru. Sem tal negociação, o Acre não teria sido nacionalizado” Eduardo Carneiro.


1. Qual a importância do Tratado de Petrópolis para a anexação do Acre ao Brasil?

Foi fundamental, pois resolveu diplomaticamente a chamada Questão do Acre com a Bolívia, que era naquele momento quem mais reivindicava o território e com o qual os “brasileiros do Acre” já haviam travado uma disputa armada. No entanto, o processo de anexação do Acre ao Brasil e, consequentemente, o fim da Questão do Acre, só veio mesmo em 1909, com o Tratado assinado entre o Brasil e o Peru, já que este último país também pleiteava essa região que hoje chamamos de Acre. Até a assinatura do Tratado de Petrópolis em 17 de novembro de 1903, o Acre não figurava oficialmente nos mapas do Brasil.

2. Como assim não era do Brasil? E os brasileiros na região? E a Revolução Acreana?
Ter brasileiros na região, não faz a região território brasileiro. Assim como o bairro da Liberdade em São Paulo não deixa de ser brasileiro mesmo sendo sediando a maior colonia japonesa do mundo. Os brasileiros não perderiam sua nacionalidade, apenas se tornariam estrangeiros, pois o que estava em jogo era a nacionalidade do território, portanto, o patriotismo não passava de uma artimanha retórica para mobilizar a opinião pública nacional em favor dos interesses fundiários dos seringalistas e das rendas fiscais do governo do Amazonas. E foi exatamente a defesa desses dois interesses que ocasionaram a chamada Revolução Acreana que, diga-se de passagem, não pôs fim a Questão do Acre, pelo contrário, apenas serviu para dar visibilidade nacional à mesma, além, é claro, de produzir dezenas de cadáveres.

3. O senhor está querendo dizer que a tão comemorada Revolução Acreana não foi a responsável pela anexação do Acre ao Brasil?

Não sou eu quem diz, são as evidências históricas quem afirmam isso. Basta analisar os fatos sem o preciosismo típico da literatura acreanocentrica. Senão vejamos: a) independente do conceito de “Revolução Acreana”, quer seja todos os eventos de resistência ao governo boliviano, quer seja apenas aquele liderado militarmente por Plácido de Castro, ela nunca resultou na incorporação de um palmo de terra sequer ao Brasil, o máximo que fez foi tornar o Acre um país independente; b) a vitória militar obtida contra o “miúdo” exército boliviano pelas tropas acreanas em Puerto Alonso em janeiro de 1903 não foi definitiva, já que o próprio Presidente da Bolívia, juntamente com o seu Ministro de Guerra e tropas bolivianas, ameaçaram invadir a região; c) Foi o Barão do Rio Branco quem evitou a carnificina, pois sabendo da “desforra”, tratou logo de acordar um modus vivendis com o governo boliviano; d) a vitória militar parcial obtida pelos acreanos em janeiro de 1993 contra os bolivianos não representou o fim da Questão do Acre, pois o território já estava “arrendado” para o Bolivian Sindicate e, contra esse sindicato internacional, os acreanos pouco ou nada podiam fazer; além do mais, a Revolução, no máximo, garantiria a posse de terra dos brasileiros na região do Purus, já que a do Juruá, o conflito era com os peruanos e não com os bolivianos; e) a dita Revolução foi mais obra da iniciativa do governo do Amazonas do que a dos acreanos propriamente ditos; Plácido de Castro nunca foi o mentor intelectual e nem o político da Revolução, no máximo, foi um líder militar convidado (ou contratado?) para uma causa que não era dele.

Sem a renúncia do Bolivian Syndicate assinada em 26 de janeiro de 1903 e sem a assinatura do modus-vivendi em 21 de março de 1903, tanto o destino do Acre, quanto o dos acreanos estava em suspenso. Por isso é que digo que o destino deles foi mais um resultado diplomático traçado nos gabinetes ministeriais do que um resultado militar traçado nos campos de batalha. Em resumo: a Revolução chegou ao fim sem que o Acre fosse nacionalizado.




4. Então, a participação do Barão do Rio Branco na Questão do Acre foi mais importante do que a do herói Plácido de Castro?

Claro que sim, não tenho a menor dúvida quanto a isso. Como já falei, a fase militar do processo de anexação do Acre ao Brasil não conseguiu incorporar sequer um palmo de terra ao Brasil. De nada adiantaria uma vitória militar definitiva contra os bolivianos, sem o sucesso diplomático que o Itamarati teve com os EUA, com o Bolivian Sindicate e com o Peru. Já pensou se o Bolivian Sindicate não renunciasse seus direitos sobre o Acre? Já pensou se os EUA unidos resolvessem apoiar a Bolívia e o Bolivian Sindicate contra o Brasil? Apesar de ambos serem parceiros comerciais, o Brasil até então se recusava ao alinhamento requerido pela Doutrina Monroe. Foi o esforço diplomático que garantiu a neutralidade dos EUA, a renúncia do Bolivian Sindicate,  além das compensações à Bolívia e do Peru. Plácido de Castro sequer foi convidado a participar das negociações, ele em nada interferiu ou contribuiu com o desfecho diplomático. Foi em meio a essa disputa simbólica sobre quem seria o “herói” do Acre que a figura de Plácido de Castro passou a ser mitificada em âmbito regional como o principal responsável pelo sucesso da anexação do Acre ao Brasil. Isso como uma forma de diminuir a importância do Barão do Rio Branco que, como já foi falado, também foi um dos responsáveis pelo “rebaixamento” do Acre à condição de Território.


5. Por que então foi Plácido de Castro que recebeu uma projeção local como herói dos acreanos e não o Barão do Rio Branco?
Simples, pois os autonomistas preferiram consagrar um líder local do que um nacional. Não devemos esquecer que o Barão do Rio Branco foi um dos mentores do “rebaixamento” do Acre à condição de Território, e tê-lo como herói não era estratégico para a causa autonomista. Os autonomistas queriam tornar o Acre um Estado, para tal propósito, era mais estratégico a escolha de liderança local como herói. O “Barão” sendo aceito como “pai do Acre”, ficaria mais fácil justificar o domínio político federal naquele território. O diplomata Barão do Rio Branco encarnava melhor o caráter nacional dos republicanos. Em contrapartida, a figura de Plácido de Castro fortalecia o regionalismo dos “coronéis” do Acre.  A idolatria a Plácido de Castro foi uma tradição construída e mantida postumamente.  Enquanto esteve vivo, nenhum prefeito endossou práticas comemorativas à “Revolução” ou aos “heróis da Revolução”, muito menos ao próprio Plácido de Castro. A consagração dele como “herói do Acre” só aconteceu porque ao longo da história não faltou quem obtivesse algum tipo de ganho simbólico ou dividendo político com a exaltação dele. Primeiramente os autonomistas, que fizeram dele um patrono de suas causas, depois os próprios militares, que exaltavam Plácido de Castro mais por ele ter sido um militar do que um “revolucionário”. Na literatura nacional, porém, é comum encontrarmos quem dedique o sucesso da anexação do Acre ao Brasil ao Barão do Rio Branco e não a Plácido de Castro. “Rio Branco” foi nomeado um dos centros comerciais mais importantes do Acre naquele início de século. O governo federal, através dos prefeitos, rendia-lhe homenagens, tratando-o como “patrono do Acre” (jornal Acreano, de Xapuri, 1 de novembro de 1909, Nº 56, primeira página). O Barão do Rio Branco ainda estava vivo e seu nome passou a ser utilizado em ruas, estabelecimentos públicos e praça. Sem dizer do “17 de novembro”, data da assinatura do Tratado de Petrópolis, que também virou nome de escola e outros.





EDUARDO DE ARAÚJO CARNEIRO
É licenciado em História (UFAC) e bacharel em Economia (UFAC). É mestre em Linguagem e Identidade (UFAC) e doutor em História Social (USP). Atualmente é aluno do                                 Doutorado em Estudos Linguísticos (UNESP). É Professor da UFAC, blogsta, escritor, editor de livros e poeta nas horas vagas.

LIVROS DO AUTOR (www.eaceditor.blogspot.com):
1)      Amazônia, limites & fronteiras: uma história revisada da nacionalização do Acre;
2)      A Formação da Sociedade Econômica do Acre:  “sangue” e “lodo” no surto da borracha (1876-1914); e
3)       A Epopeia do Acre e a manipulação da história.
4)      A Fundação do Acre(ano): História e Linguística.
5)      “Acreanidade” e comemorações cívicas no Acre (no prelo)


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A propósito da conferência mundial: o que é a ayahuasca mesmo?

A propósito da conferência mundial: o que é a ayahuasca mesmo? – artigo

17.10.20167:51Por Onides Bonaccorsi Queiroz
Tags:II Conferência Mundial da Ayahuascauso da ayahuascauso da ayahuasca no Acre

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O cipó jagube ou mariri e folhas do arbusto rainha ou chacrona (Foto: Sergio Polignano)
O cipó jagube ou mariri e folhas do arbusto rainha ou chacrona, utilizados no preparo da ayahuasca (Foto: Sergio Polignano)

A ayahuasca é uma bebida sacramental de uso milenar. Resulta do cozimento de duas plantas originárias da Floresta Amazônica: o cipó jagube ou mariri (Banisteriopsis caapi) e as folhas da rainha ou chacrona (Psychotria viridis).
Em torno dela, diversas tradições espirituais se estabeleceram entre povos indígenas do Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia e Equador. Atualmente, 16 etnias do Acre utilizam a ayahuasca, que também recebe muitos outros nomes, como caapi, yagé, huní, nixi-pãe e kamarãpi.
Entre os não indígenas, o maranhense Raimundo Irineu Serra fundou, no início do século passado, em Rio Branco, a doutrina do Daime. Mais tarde, outro maranhense, seu amigo e seguidor, Daniel Pereira de Mattos, fundou o Centro Espírita e Culto de Orações Casa de Jesus Fonte de Luz, na mesma capital, de onde se originaram também as Barquinhas. Em Rondônia, no início da década de 60, o baiano José Gabriel da Costa fundava a União do Vegetal (UDV).
A ayahuasca é um chá medicinal psicoativo (ou seja, com atuação sobre o psiquismo), que promove a expansão da consciência humana. Seu uso ritual é protegido pela lei brasileira e é comprovadamente inofensivo à saúde.
A substância tem sido estudada por diversas áreas do conhecimento formal, como antropologia, psiquiatria, psicologia, química, botânica e medicina e a observação de seus efeitos antidepressivos têm chamado a atenção de pesquisadores do mundo todo.
Desse modo, esses estudiosos têm voltado seus olhares para uma região que é berço da cultura ayahuasqueira: o Acre.  Daí a realização da II Conferência Mundial da Ayahuasca em Rio Branco, de 17 a 22 de outubro.
Na capital acreana, o Conselho Municipal de Políticas Culturais abriga, desde 2008, a Câmara Temática da Ayahuasca, que reúne regularmente seguidores de várias linhagens em torno de pautas comuns.
Além disso, o Estado do Acre concedeu, em 2010, o título de Cidadão Acreano a cada um dos fundadores das três linhagens tradicionais: Mestre Irineu, Mestre Daniel e Mestre Gabriel, constituindo um passo importante no reconhecimento oficial da contribuição desses cidadãos e de suas comunidades à cultura amazônica e à promoção humana.
Onides Bonaccorsi Queiroz é jornalista, escritora e ayahuasqueira desde 1996.

Carta aberta dos Povos indígenas do Acre sobre Conferência Mundial da Ayahuasca

Carta aberta dos Povos indígenas do Acre sobre Conferência Mundial da Ayahuasca

22 de Outubro de 2016

CARTA ABERTA DOS POVOS INDÍGENAS DO ACRE – BRASIL À CONFERÊNCIA MUNDIAL DA AYAHUASCA (nixi pae, huni pae, uni pae, kamarãbi, kamalanbi, shuri, yajé, kaapi…)

Nós, abaixo-assinados, presentes nesta Conferência, pertencentes aos povos indígenas Yawanawa, Shanenawa, Jaminawa, Huni kui, Apurinã, Manchinery, Katukina, Nukini, Puyanawa, Ashaninka, Madja, Jamamadi, Nawa, Shawãdawa, Apolima-Arara, Jaminawa-Arara e Kuntawa, presentes no Estado do Acre e Sul do Amazonas desde nossas ancestralidades, somos 17 povos indígenas de 36 terras indígenas reconhecidas pelo governo federal, falantes das línguas Pano, Aruak e Arawa, perfazendo uma população estimada em 23.000 indígenas, os quais estão distribuídos em aproximadamente 230 aldeias. Vale lembrar que tais terras estão situadas em 11 dos 22 municípios acrianos.


A II WORLD AYAHUASCA CONFERENCE foi realizada na cidade de Rio Branco-AC entre os dias 17 a 21 de outubro de 2016, tendo como objetivo maior: “promover um espaço de diálogo, partilha e aprendizagem, sinergia e colaboração, no respeito pela diversidade cultural das tradições da ayahuasca”.

Isso ficou evidente a partir do momento em que se constituiu a primeira Mesa, na qual já ficou perceptível qual seria o tom geral do Evento. Nesse primeiro momento, já se verificou que não seria dada condição de amplo debate e participação dos indígenas, tanto dos palestrantes, como da plenária, e percebeu-se que seria este o tom geral da Conferência.

Assim sendo, vimos manifestar nossa insatisfação para com as questões a seguir:

A I Conferência Internacional, que aconteceu em Ibiza, na Espanha, não contou com a participação ampla dos povos indígenas que são os verdadeiros detentores desse conhecimento, posto que na mesma estiveram presentes apenas dois Huni Kui.
Não foi repassado aos povos indígenas nenhuma informação oficial das discussões realizadas nesta primeira Conferência, nem dos encaminhamentos procedidos na ocasião.
Acreditamos ser questionável o próprio nome dado ao evento, “Conferência da Ayahuasca”, uma vez que ele é genérico, e não contempla as diferentes designações dadas por cada povo. Note-se que, um nome, não é apenas “o nome”, uma vez que a ele estão atrelados conceitos simbólicos de suma importância cultural e espiritual para cada um dos povos que faz uso dessa bebida. E bom lembrar também que não estamos conferindo nada acordado anteriormente com qualquer povo indígena.
Ainda que este evento conte com maior número de participantes indígenas, não estamos nos sentindo realmente parte de sua criação e organização.
O formato das mesas também não nos contempla, uma vez que a duração dessas mesas não dá espaço para o debate necessário. Não houve tempo para os palestrantes expressar o que haviam se preparado para dizer, nem houve tempo para debater. Entendemos que o formato do evento é ‘acadêmico’, mas acreditamos que o evento deveria ter compreendido que a maior parte dos participantes não são oriundos do meio acadêmico, e, sequer o assunto da conferência é acadêmico, visto que a Ayahuasca não se restringe a um tema científico, mas fala de identidade, saber, ritual, sacralidade, cultura, vivências e práticas milenares. E entendemos que a Academia deveria considerar e contemplar essas especificidades, e não impor o seu formato.
Nós indígenas não fomos convidados a participar de muitas das mesas, a despeito do fato de que os temas debatidos eram de interesse dos indígenas.
As mesas estão acontecendo de maneira simultânea, o que impede a participação ampla das pessoas, que precisam escolher qual das palestras assistir.
Encaminhamentos

Por meio de um diálogo majoritariamente indígena, nós participantes desta Conferência não tomaremos nenhuma decisão relacionado aos assuntos abordados neste evento, sobretudo, aqueles de caráter mais relevante, sem antes de:

a) promover a realização de encontros indígenas em que se faça presente todos os detentores do conhecimento das plantas (cipó e a folha) com as quais se prepara a bebida sagrada que está sendo chamada de Ayahuasca, com a presença das instituições responsáveis e envolvidas na discussão de patrimonialização.


b) discutir melhor o assunto sobre patrimonialização, pois durante sua abordagem fragmentada ocorrida na conferência, não ficou claro para os povos indígenas o que significa isso na sua essência.


c) fazer um Grupo Técnico (GT) sob a coordenação e orientação dos indígenas para a realização de consultas em respeito aos detentores do conhecimento sobre a Ayahuasca e ao Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004, que diz que o Brasil deve respeitar a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, e consultar as comunidades indígenas antes das obras (prévia), da forma que as próprias comunidades escolherem para ser consultadas (livre) e ainda tem que levar todas as informações que existem sobre o empreendimento (informada).


d) constituir um conselho ético para discutir o assunto da origem e definir critérios sobre o uso e a patrimonialização da Ayahuasca, e a partir dessa perspectiva e entendimento, realizar reuniões com as igrejas e demais segmentos que utilizam essa bebida sagrada, diante disso, poderemos apresentar nossa posição sobre os assuntos.


e) Requeremos a garantia de participação dos povos indígenas dos demais estados brasileiros que fazem uso da bebida sagrada na discussão sobre a patrimonialização;


f) Requeremos, ainda, o direito de deliberação, participação e planejamento do que acontecerá nas próximas Conferências Mundiais da Ayahuasca, a partir da próxima que está previsto a realizar-se em Tóquio no Japão. Requeremos também a participação igualitária em todas as mesas de debate no âmbito do evento;


g) Requeremos, por fim, que as Conferências Mundiais da Ayahuasca e os órgãos públicos e privados que discutem o tema reconheçam as tradições de uso, de cura e de preparo dos líderes espirituais dos povos indígenas.


Por fim, reafirmamos que estamos dispostos a colaborar em todos os processos para os avanços das discussões para o uso e o Direito da consagração da bebida por toda a humanidade.

Rio Branco, Acre, 21 de outubro de 2016.

Congresso Internacional da Ayahuasca

A vinte e cinco anos atrás, na Universidade Federal do Acre, acontecia o I Congresso Internacional da Ayahuasca, sob a batuta do idealista professor Clodomir Monteiro. Em 1991, o Brasil era outro, não havia internet nem celular, a produção acadêmica de pesquisa sobre a Ayahuasca era muito incipiente, mas o Acre já se destacava por um esforço de documentação patrimonial dessa cultura popular no âmbito estadual, mesmo com poucos recursos, trabalho do qual fiz parte no Museu da Borracha e que resultou no atual processo de tombamento da Ayahuasca pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, possivelmente do Ofício de Feitor de Daime, o que representará um enorme progresso, assim como a abertura da Casa de Leôncio Gomes como centro de informação e pesquisa sobre o bairro Irineu Serra, no Alto Santo, em Rio Branco, que marca um novo tempo de cidadania cultural das comunidades ayahuasqueiras do Acre. A AyaConference de 2016 é a modernidade chegando a Rio Branco por iniciativa de uma organização não-governamental espanhola, a ICEERS, que já realizou uma primeira conferência internacional no centro turístico de Ibiza, no Mediterrâneo, e trouxe o projeto dessa nova conferência para a Amazônia brasileira, onde Rio Branco é o polo da cultura ayahuasqueira em maior evidência internacional, em especial nos últimos tempos pelas festividades rituais indígenas que têm sido levadas aos grandes centros urbanos do Brasil e do exterior. Assim como o etnoturismo nas aldeias, apesar de promessas da Funai e do setor cultural, ainda ser improvisado em acordos casuais, sem sustentabilidade assegurada no referente ao contrato social para as atividades turísticas nas aldeias, também é na base do improviso que a ayahuasca tem expandido-se no exterior, sendo que a maioria dos pajés viajam sem a garantia de um visto de trabalho e seguro de viagem para as apresentações artísticas que realizam, algumas vezes como menestréis dependendo de "arrecadação" pelos rituais que apresentam a título de valorizar sua cultura ancestral. Espera-se que a AyaConference sirva para a discussão dos aspectos concretos a serem considerados para a plena liberdade de expressão das culturas da Ayahuasca, dentre os quais a valorização dos pajés como artistas profissionais, e de sua etnoterapêutica como um tesouro a ser respeitado e não dilapidado por projetos individualistas que desconheçam a ética necessária aos convênios e acordos de intercâmbio, que devem beneficiar sempre o direito coletivo das comunidades ancestrais. A liberdade do uso da Ayahuasca está ancorada em legislação aprovada pelo Conselho Nacional Anti-Drogas, o CONAD, órgão do Ministério da Justiça. Ajustes às regras vigentes vêm sendo pleiteados continuamente ao longo dos anos, e será natural que voltem a ser debatidos, normal que se acentuem diferenças, assim como alianças e convênios surgirão certamente entre os diferentes grupos presentes na AyaConference. O importante será aproveitar a oportunidade para uma visão ampla sobre essa cultura tão complexa, em constante evolução, mas ciosa da necessidade de preservação de suas diferentes tradições, sejam elas complementares ou antagônicas, para a continuidade do esforço beneficente desses trabalhos de cunho espiritual. O resultado não poderá ficar apenas no papel: são muitas as lacunas a serem preenchidas para que a consciência das pessoas que se reúnem a esse fim esteja satisfeita, com certeza, mas as respostas surgem do próprio encontro dessas muitas vozes. Será uma chance e tanto, e as sementes aí lançadas, quem sabe, daqui a vinte e cinco anos possam estar verdejando uma nova mentalidade para as relações humanas em geral. A uma cultura tão viva, não se poderá calar: é tão amazônica que é universal! * Eduardo Bayer trabalhou na pesquisa da Cultura da Ayahuasca para a Fundação Elias Mansour, do Acre, de 1988 a 2014. Escritor e engenheiro florestal aposentado, vive atualmente em Santa Catarina.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

UM DIA ESPECIAL CHAMADO HOJE

UM DIA ESPECIAL CHAMADO HOJE

(Poemas Matutinos, Por Eduardo Carneiro)
Que neste dia tão especial,
Em que o sol apareceu a todos,
Com seu brilho sem igual,
O destino nos surpreenda:
Uma ligação tão desejada,
Um encontro ocasional,
Uma mensagem inesperada,
Um bom dia quase acidental,
Um convite de almoço,
Um beijo hiper sentimental
Um abraço apertado,
Uma voz doce quase transcendental,
Um pedido de namoro
Ou um poema como esse, coisas e tal.
VAMOS SER FELIZES HOJE?
Pois o romantismo ainda é fundamental!

Rio Branco, 19/10/2016
Eduardo A Carneiro

UM DIA ESPECIAL CHAMADO HOJE

UM DIA ESPECIAL CHAMADO HOJE

(Poemas Matutinos, Por Eduardo Carneiro)

Que neste dia tão especial,
Em que o sol apareceu a todos,
Com seu brilho sem igual,
O destino nos surpreenda:
Uma ligação tão desejada,
Um encontro ocasional,
Uma mensagem inesperada,
Um bom dia um tanto acidental,
Um convite de almoço,
Um beijo hiper sentimental
Um abraço apertado,
Uma voz doce quase transcendental,
Um pedido de namoro
Ou um poema como esse, coisas e tal.
VAMOS SER FELIZ HOJE?
Pois o romantismo ainda é fundamental!

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Escritos & Poemas de Renã Pontes, escritor e poeta acreano.

A LENDA DA PAXIÚBA: VERSÃO APÓCRIFA
      ______________________
      Por Renã Leite Correa Pontes*

 Há não muitas luas, após ser submetido, com vitória, a um ritual de combate, tornara-se guerreiro-emplumado e saiu em missão: vigiar a fronteira do Norte, ameaçada pelos "peles de pano". Foram dias e noites de fome, frio, privações e agruras enfrentadas com paciência e abnegação.

Durante uma incursão do inimigo, na defesa, foi transpassado na virilha, mas escapou com vida e trouxe, aos anciões da tribo, informações que em muito serviram para resguardar a soberania da comunidade. Os anciões, cumprindo um bom papel, responderam magnanimamente. Na ausência de um sistema de saúde pública, liberaram dez arcos do tesouro comunitário para cobrir as despesas do tratamento.

O que o guerreiro, forçosamente chegado de missão, não sabia, era que, na sua ausência, na calada da noite, a "assembleia de pretextos" decidira, por escrutínio secreto, ceder à "oligarquia dos apuís" o monopólio dos rituais dos xamãs e, ainda, as patentes da manipulação de toda a biodiversidade da floresta, além de deslocar, para bem longe, o hospital homeopático:

- Agora, também, doente nenhum tem mais direito a acompanhante!
Na busca do socorro, alheio aos perigos do caminho, o jovem ferido percorreu, desacompanhado, a distância que conduzia ao hospital dos espíritos benzedores das ervas, sem compreender, ainda, a plenitude do significado da intermediação da milenar cultura guardada pelos pajés.

Depois de uma demorada e desgastante caminhada, o guerreiro chegou ao seu destino. Para adentrar o setor médico, onde outrora trabalhou o próprio Muratutzalipoca, segundo a tradição da tribo, era obrigatória a pronúncia de certas palavras místicas, além da realização de algumas misuras, aos olhos leigos, para ser atendido.

Cumprido o ritual, o doente foi atendido, na triagem, por um sujeito cujo comportamento mais se assemelhava ao de um encarregado de barracão, vestido de auxiliar de curandeiro - o chefe da assistência social, que acumulava também a função do setor de tesouraria.

 - Foi há sete luas...
 - E o pagamento?
 - Para o pagamento, eu trago dez arcos do tesouro dos anciãos, para trocar pelo chá encarnado.
 - Deixe-me ver, então, o ferimento.
 - Hummm, ai.
 - Não é ferimento de morte para um colosso feito você. Isto vai curar com chá de unha de gato mesmo, tomado por dez dias... Mas, você só trouxe dez arcos. Por este material, só posso lhe fornecer chá para cinco dias.
 - Mas, o certo não é eu tomar os dez dias? Eu preciso me curar porque o meu posto está abandonado, meu trabalho espera por mim.
- Veja só amigo, como está se processando o atendimento aqui agora. Por dois arcos, aqui, damos chá para um dia. Você trouxe dez arcos. Faça as contas e verá como estou no justo.
Mas....
- Vamos fazer o seguinte, você volta e vai falar com os colarinhos-brancos, diga que os anciãos já fizeram a parte deles e que você necessita de mais dez arcos e conta a sua história, que eles já conhecem as regras. Você é um guerreiro valoroso, tem serviço prestado e valores para penhorar. Você sabe como fazer.
- Ah, não, eu não vou entrar nestes esquemas. O meu avô dizia: "Dê a morte a um homem que a necessite para continuar homem.". Estas pessoas nos dão as coisas, mas, em compensação, cobram, de volta, a nossa consciência. Eu sei que estes privilégios individuais prejudicam a tribo e produzem o mal de uns, em detrimento do bem-estar de poucos, constituindo-se na causa principal do sofrimento do nosso povo. Eu posso morrer muito feliz sem precisar passar por estas humilhações.
- A franqueza do jovem irritou o funcionário, porque soou como uma crítica ao canibalismo das raposas, dita diretamente à chefa da raposada.
O interlocutor, então, pigarreou e retrucou
- Ah, então o jeito é você tomar chá só por cinco dias, o resto seu corpo reage. Mas, o que te custa mesmo ir lá?
- Não! Definitivamente, eu não vou cometer nenhum ato contra a minha consciência, nem o meu sentido de decoro moral.
- Veja, não é por má vontade, meu bravo, mas assim você me deixa sem alternativa. Você entende? São as novas regras...
E, se eu te entregar também o meu arco pessoal, minhas flechas e os meus "cestus" [1]? Eu a nada mais de penhorável possuo. Este arco, inclusive, é espólio de guerra. Pertenceu a um antigo chefe tucandeira e tem um valor simbólico em meio a nossos bravos.
Bem, com o seu arco, as flechas e os "cestus", eu poderia te dar sete doses e meia.
E, o doente persistiu na justa argumentação, com um tom de voz carregado de uma humildade inaudita:
- Olha, onze arcos não são pouca coisa, considerando que os curumins da nova geração não mais têm demonstrado interesse na arte de fazer arcos. Nós estamos sob ataques constantes, nos quais perdemos armas e vidas. A cada dia está mais comprometida a nossa segurança.
- Saiba meu bravo, eu compreendo sua necessidade e reconheço o seu valor e dedicação. E, para provar o interesse desta casa na cura de um dos nossos benfeitores, te dou oito doses, mas a associação fica com todos os implementos que você carrega consigo. Estamos em trabalho de resgate da nossa reputação institucional e, não queremos que nossos beneficiários saiam daqui pensando que não nos esforçamos o máximo para prestar um bom serviço. Sei que me entende!
Foi aí, então, que a impaciência do jovem guerreiro aflorou, motivada pela impossibilidade de êxito, ou quem sabe, pelo estresse do ferimento
- Sabe, desde que cheguei aqui hoje, tenho percebido que o senhor não tem demonstrado nenhuma preocupação com a minha cura, mas apenas em lucrar com a minha doença. Olha, esta instituição não está me prestando nenhum favor, além das suas obrigações. Reconheça que fui ferido em combate para proteger nossa tribo. Isso inclui o senhor, sua família e até esta instituição comercial que o senhor chama de casa.
Quando o jovem guerreiro pronunciou as últimas palavras, por tratar-se de uma tremenda verdade, o ânimo do encarregado da tesouraria atingiu a estratosfera.
- Bem, nestes termos, vou lhe dizer também a minha opinião a respeito das suas reclamações. A sua relação com os anciãos da tribo... Você tem que entender que aqueles velhos atiram com a flecha dos outros, têm palavra de político. Eu admiro a sua sinceridade, mas, na verdade, penso que você não passa de um megalomaníaco. Não é por sua falta que deixaremos de estar protegidos. Ademais, aqui, nós reconhecemos você é como um crítico acerbo dos costumes desta casa. Reconheça, também, que, em meio a tantos bravos que temos em nossas hostes, você é apenas um número passivo de reprodução.

Novamente ferido, desta vez, na alma, sentindo-se acuado. Nem os sete idiomas que falava, com fluência, foram capazes de fornecer, ao índio, uma simples palavra que fosse. O sofrido guerreiro, aspirando a cura, entregou resignadamente ao atendente, em troca da possibilidade de cura, a materialidade e o impulso da sua defesa.

No longínquo retorno à aldeia, por falha do serviço de contraespionagem, os implementos ora penhorados fizeram falta na defensiva. Ferido, cansado e com sede, o guerreiro solitário parecia presa fácil dos "pés de couro". Por ser ingrediente valioso e exportável, arrebataram-lhe o chá.
Com movimentos difíceis, descoordenados, o guerreiro defendeu-se com as últimas forças: correu pela mata, perseguido por gente descansada, transpondo troncos e riachos; ainda matou dezenas e dezenas de perseguidores, mas eles eram muitos; se trepou em uma bacaba, mas ela era fina e instável; na queda, foi novamente ferido e agravou a ferida já existente, vertendo o restante da vida. Por fim, resistindo, subjugado, recebeu o golpe de misericórdia e entregou seu alento a Tupã.

            Porque o sumiço do guerreiro causara comoção entre seus pares, a diretoria do hospital homeopático desvirtuou a história e pulverizou a notícia de que, na condição de internado, o bravo havia deixado o hospital sem autorização do corpo médico.... Espalharam ainda outros boatos nada lisonjeiros que amiúde a história contada pelo vencedor inspira.
Passadas três luas, os queridos de Ágrafo conseguiram encontrá-lo, e logo, colheram-lhe o corpo e o plantaram, a sete palmos, em local transmontano, sem direito a pompas fúnebres, depois da floresta da grande gameleira, na margem de lá do rio, a casa de Tupã.

           Mas, a verdadeira história, em detalhes, foi registrada no Akasha[2], quando Tupã a leu, comoveu-se e chorou... Em seguida, ficou aborrecido e, além de vingar a morte do guerreiro, limpou-lhe o nome, lavou-lhe a honra e fez brotar, da sua tumba, a palmeira conhecida pelo nome de paxiúba. A planta logo passou a servir para tudo: da tábua para habitações à confecção de flechas... era imponente, rija, hidrófila e resistente as intempéries do tempo de estio. Tupã também a fez fértil e reproduziu-a aos milhares pela floresta.

E, assim, um nome foi lembrado, a história do vencido foi contada e recontada aos curumins das tribos e, com a ajuda do alto, o jovem guerreiro seguiu, através da natureza, protegendo e servindo seu povo.

[1 O "cestus indígena" consistia em uma luva de batalha, geralmente utilizada, durante os combates, para ferir o inimigo e proteger os punhos dos guerreiros indígenas antigos. Quando incrustada de ossos, bicos de aves, dentes de animais ou outros componentes da floresta, manifestava sua versão mais letal (N. do A.).
 [2] Suposto livro da vida ou dimensão onde a natureza mantém, de acordo com tradições antigas de diversas civilizações, em registro, todos os acontecimentos humanos. Termo do sânscrito que significa "céu", "espaço" ou "éter" (N do A.).

* Renã Leite Correa Pontes
É escritor e poeta; Membro da IWA, Toledo, Ohio, EUA; Presidente da Academia dos Poetas Acreanos e Titular da Cadeira 33 da AAL.







CAMONIANO
____________________________
Por Renã Leite Correa Pontes

O mundo segue seu curso confuso:
amigos têm prazo determinado!
por isso, as vezes, mesmo censurado,
fazer amigos poucas vezes uso,

porque  percebo que o amor difuso,
dadivoso, fraterno e consagrado,
tem sido torpemente profanado,
por toda sorte de peçonha e abuso.

Amigo que me torne a natureza,
mais afável e repleta de beleza,
existe... em meu poema, em minha prece.

não sou iconoclasta resolvido,
mas, por aquele amigo que hei perdido,
pagaria a fortuna que eu tivesse.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO E AS MUDANÇAS NO MUNDO DO CONSUMO


Pedro Henrique Ferreira Costa
UNESP/RCbhpedro00@gmail.com
Paulo Roberto Teixeira de Godoy
UNESP/RCprtg@rc.unesp.br

O capitalismo contemporâneo e as mudanças no mundo do consumo (Resumo)
O processo de globalização proporcionara mudanças no mundo do consumo mediante estratégias que reorganizam as formas de acesso a uma diversidade crescente de produtos através da extensão do crédito e da materialização de equipamentos urbanos articulados através de redes constituídas em torno de centros de interesse que unem forças específicas de mercado. Essas metamorfoses socioeconômicas e culturais que vão para além de sua aparência funcional e objetiva, contribuem para a identificação de um novo período que chamaremos de capitalismo contemporâneo. A consagração deste período será abordada a partir de um viés interpretativo que ressalta um aspecto que julgamos pertinente para a compreensão das mudanças nas relações de consumo: a apropriação e controle da subjetividade. Partimos da premissa de que a apropriação, controle e produção da subjetividade por parte das empresas do setor varejista, tornou-se um aspecto de extrema relevância para a definição de diretrizes e estratégias de ampliação do consumo banal, bem como da capacidade competitiva em um mercado cada vez mais segmentado e controlado por corporações globais.
Palavra chave: capitalismo, contemporâneo, consumo

El capitalismo contemporáneo y los cambios en el mundo del consumo (Resumen)
El proceso de globalización proporcionará cambios en el mundo del consumo por medio de las estrategias que reorganizan las formas de acceso a una diversidad creciente de productos a través de la extensión del crédito y de la materialización de los equipamientos urbanos puestos a través de las redes constituidas alrededor de los centros del interés que unen fuerzas especificas del mercado. Esas metamorfosis socioeconómica y culturales que van para además de su apariencia funcional y objetiva, que contribuyen para la identificación de un nuevo periodo que llamaremos de capitalismo contemporáneo. La consagración de este periodo será estudiada a partir de un bies interpretativo que resalta un aspecto que juzgamos pertinente para la comprensión de los cambios en las relaciones de consumo: la apropiación y el control de la subjetividad. Partimos de la premisa que la apropiación, control y producción de la subjetividad por parte de las empresas del sector minorista, se volvió un aspecto de extrema un aspecto de extrema relevancia para la definición de directrices y estrategias de ampliación del consumo, bien como de la capacidad competitiva en un mercado cada vez más segmentado y controlado por corporaciones globales.
Palabra clave: capitalismo, contemporáneo, consumo

The contemporary capitalism and changes in consumption world (Abstract)
The globalization process will provide changes in the world of the consumption by means of strategies that reorganize the forms of access to an increasing diversity of products through the extension of the credit and of the materialization urban equipment, articulated through nets constituted around interest centers that join specific forces of market. These socioeconomic and cultural metamorphosis that go for beyond its functional and objective appearance, contribute for the identification a new period that we will call capitalism contemporary. The consagration of this period will be boarded from a way that an aspect stands out that we judge pertinent for the understanding of the changes in the consumption relations: the appropriation and control of the subjectivity. We go away of the premise that the appropriation, control and production of subjectivity on the part of the companies of the retail sector, became a aspect of extreme relevance for the definition the lines and strategies of magnifying of the consumption, as well as of the competitive capacity in a market each time more segmented and controlled for global corporations.     
Key words: capitalism, contemporary, consumption

O atual estágio do capitalismo, que a partir da década de 60, adquiriu uma forma globalizada e se serviu da evolução das novas tecnologias da informação e da comunicação (microeletrônica, computação, telecomunicações, óptica eletrônica, radiodifusão, engenharia genética, entre outras; que vieram operacionalizar a atividade humana e o comportamento social) tanto nos processos produtivos quanto nas relações sociais, apontam para o que, de uma maneira geral, chamamos de capitalismo contemporâneo.
Este se consagra por uma nova economia política que substitui, em parte, o modelo de produção e consumo em massa que vigorou durante as décadas de 1930 a 1970, por um novo modelo de reprodução do mundo que valoriza sobremaneira o indivíduo (self) e os segmentos de consumo especializados do mercado.
As potências industriais e financeiras produzem, desse modo, não apenas mercadorias, mas também subjetividades. A produção de subjetividades, de necessidades, de corpos e mentes, consiste na criação não só de um modelo de consumo, mas principalmente na produção do mundo do consumidor. Segundo Moles (1975, p. 12, grifo do autor).
“As relações do indivíduo com o meio social passam, a partir de agora e fundamentalmente, pelos objetos e produtos transformados nas expressões mais tangíveis da presença e da sociedade em seu ambiente, desde o momento em que tomam o lugar das coisas naturais”.
Assim, o período imediato pós-guerra é considerado como período de gestação do capitalismo contemporâneo, onde se inicia a arquitetura de uma economia globalizada com características distintas daquele que o precedeu. Esta fase utilizou-se dos efeitos resultantes do colapso do regime de acumulação fordista para projetar, segundo as especificidades sócio-espaciais do conjunto das economias capitalistas, as estratégias políticas de um modelo “híbrido” de acumulação que almeja harmonizar sob a égide do capital, as esferas da cultura e do consumo.
As metamorfoses socioeconômicas e culturais no capitalismo contemporâneo
Primeiramente, deve-se reconhecer que a sucessão dos regimes de acumulação capitalista contribui para a modernização da dinâmica dos processos laborais, das formas de
Regulaçãoi , da composição política do proletariado, do tipo de organização da produção.
Estas novas configurações territoriais do capitalismo contemporâneo derivam, em grande parte, da sucessão de rupturas desencadeadas a partir do colapso sistêmico do regime de acumulação fordista, na segunda metade do século XX. (Godoy, 2002). Segundo Boyer (1994); Benko (1999); Harvey (1992); neste período, o fordismo passa por uma aguda crise: baixa lucratividade, elevação inflacionária nos países capitalistas, taxas de juros altas empregadas pelos Estados Unidos, desvalorização do dólar, crise do petróleo, avanço do modelo de reivindicação das classes sociais, compilação da teoria crítica ao trabalho.
Além do conjunto combinado de tais eventos, a desintegração vertical das indústrias de produção de massa levantou evidências, nos anos 70 e 80, em pleno período de reestruturação econômica e reajustamento político e social (Harvey, 1992), de que as estruturas sócio-espaciais produzidas durante as fases de industrialização fordista encontravam-se em processo de dissolução e aniquilamento. Estas estruturas, ao serem parcialmente substituídas por novas formas e por novas funções na organização industrial e na vida social, econômica e política dos países capitalistas exige, paulatinamente, o fim da rigidez das relações sociais de produção e consumo e, por conseguinte, a emergência de modelo denominado de  acumulação flexível ii.
Na concepção de Harvey (1992), a transição do regime de acumulação fordista para o modelo de acumulação flexível permitiu minar certa rigidez normativa pré-existente entre as relações sociais e promover a restauração do progresso do sistema capitalista.
As práticas relacionadas a esta nova etapa de acumulação de capital em resposta à crise do capitalismo, para o qual Harvey (1992, p. 140-141) aponta as seguintes características: flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrões de consumo; surgimento de serviços financeiros e novos mercados; manutenção de taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional; rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas; valorização do trabalho no setor de serviços; e, finalmente, a inserção de conjunto e práticas industriais em áreas até então, pouco industrializadas que utilizam estratégias arrojadas de atração de capital, mão de obra barata, isenção de imposto e baixo custo de instalação das empresas (Flandres, na Bélgica; Califórnia, nos EUA; Cingapura, em Cingapura; Seul, na Coréia do Sul, entre outros).
Além disso, a profusão de técnicas e tecnologias que permitem a “compressão do espaço-tempo” acompanhada por uma radical reestruturação no mercado de trabalho diante da volatilidade do mercado e do aumento de competição inter empresarial e também um retrocesso do poder de luta dos sindicatos trabalhistas.
Esta fase, iniciada na década de 60 e parcialmente completada no início dos anos 90 provocou mudanças estruturais não somente na organização do trabalho e operação produtiva, mas em todos os segmentos do consumo. Esse novo princípio contém em único processo de tratamento da produção, desde a mercantilização das formas culturais até a racionalização do trabalho operário (Harvey, 1992). Por tal razão, assisti-se uma maior mobilidade e flexibilidade do capital, tendendo para uma existência nômade crescente e representando uma relação global em todos os setores da economia, da política e da sociedade.
Inicialmente, o novo modo de desenvolvimento capitalista, estrutura-se mediante o tratamento da informação e a introdução de novas tecnologias a partir da automação das máquinas e sua extensão normativa para os sistemas virtuais de controle na vida social. Para Mônica Arroyo, (1999, p. 19), “a informação aparece, então, como o principal motor da vida contemporânea, como a forma de energia predominante no comando de todas as fases do processo de produção”. Neste sentido, a informação se define como um meio eficaz de abordar e seduzir as fragilidades do indivíduo.
Estes novos aliados do modelo capitalista lançam mão de recursos tais como: softwares de interfaces microeletrônicas, a produção de conhecimento para alcançar o pleno desenvolvimento dos meios de acumulação e de gestão organizacional das atividades produtivas.
Este modelo de acumulação, que combina estratégias comerciais, escoamento da produção, gestão de excedentes, teve seu nascimento no Japão durante os anos 70 e ficou conhecido como Toyotismo. É importante lembrar que este novo conceito de produção e consumo, apesar de ter origem em terras nipônicas, a sua dimensão foi deveras alargada em diversos países, podendo dispor de outras nomenclaturas regionais.
O conjunto de inovações organizacionais que transformou profundamente as estruturas de produção, quanto à relação dos processos de trabalho (contratos, organização no interior da empresa, salários, gestão de recursos humanos) e do convívio social (dinâmica do consumo, lazer, acesso), apresenta como objetivo básico o atendimento dos quesitos necessários para a prosperidade do capital. Estas modificações buscam uma maior eficiência produtiva associada à produção sem estoque e de pronta reação à demanda do mercado. Para Coriat (1994), essas inovações consistem na combinação de dois princípios: auto-ativação e Just in time. O primeiro, a auto-ativação, procede para um único processo de transformação do trabalhador em atores multifuncionais a partir da linearização da produção e da organização do trabalho em torno de postos polivalentes. O segundo, o just in time, refere-se ao maior rendimento do trabalho vivo, centrado na manipulação e observação simultânea da necessidade de suprir no tempo estipulado a quantidade exata de produtos.
Pode-se afirmar que a característica deste refere-se à diminuição do tempo de giro da mercadoria e a racionalização do trabalho. Isto se torna possível mediante a introdução de novas tecnologias de produção, como a automação e robotização dos sistemas, em relação à redução do tempo de circulação do consumo do produto, o denominado tempo de vida substancial. Esses dois campos são de grande importância para entender a constituição do capitalismo contemporâneo e as relações de interdependência. Segundo Harvey (1992, p. 148), “a meia vida de um produto fordista típico, por exemplo, era de cinco a sete anos, mas a acumulação flexível diminuiu isso em mais da metade em certos setores (como o têxtil e o de vestuários)”.
Os investimentos foram repassados por ambas as áreas, porém, ocorre uma intensificação na da preparação do novo consumidor. Com efeito, dedica-se uma maior atenção nos artifícios de indução de necessidades e de transformação cultural ordenada no cenário material da vida.
O modo de funcionamento da reprodução capitalista reside, sobretudo, na imaterialidade (trabalho intelectual/lingüístico e trabalho afetivo) e na simbiose entre a produção e o consumo. De modo que, no presente período, conhecimento/informação transformam-se na base do processo de valorização e circulação da mercadoria. A circulação deve ser concluída em uma determinada extensão de tempo de rotação, socialmente necessária para o consumo e ditada pelas lógicas do mercado antes de se tornarem obsoletas para a sociedade. A valorização implica, neste sentido, a forma de acesso ao universo da mercadoria e no exercício de tornar ativa a “pulsão espontânea” de consumo do indivíduo.
O poder do consumo é epidêmico, envolve o indivíduo e estimula a dinâmica da sociedade capitalista. O consumo, como argumenta Rolnik (2003), foi (e é) cafetinado a serviço da acumulação capitalista. Para Santos (2000, p.34), “o poder de consumo é contagiante, e sua capacidade de alienação é tão forte que sua exclusão atribui às pessoas a condição de alienados”. O que está em jogo é a racionalidade consumista, em moldes não mais apropriáveis pelos antigos conceitos do paradigma produtivista, tais como produção-produção e sim pela forma categórica de transformar simples objetos em ícones do consumo. Para que isto ocorra, o capitalismo contribui para oprimir o ócio, reduzir o tempo, padronizar o gosto e controlar a natureza intrínseca das coisas.
Segundo Pelbart (2000, p. 34) esta nova fase do capitalismo, que a denomina de neocapitalismo, propende a subsumir a integralidade do tempo em função da produção de sentidos. Tudo visa aceleração do consumo e acumulação capitalista. De modo que “o tempo livre virou tempo escravizado”. Assim, o consumidor, onde quer que esteja, tende a conceber a visita às lojas e o ato do consumo mais como uma saída lúdica do que como uma tarefa enfadonha.
No entanto, este movimento do consumo é acompanhado por um desvio de valores na sociedade, entre valor de uso e o espírito de aquisição das mercadorias (Smith, 1988; Haug, 1997; Costa, 2004). Neste caso, a lei do valor consiste no mecanismo através do qual a forma histórica particular do caráter social se expressa. Quando contextualizada na mercadoria aglutina os processos e atos produtivos diversos e contraditórios, representando um uso em prol do funcionamento do sistema econômico vigente. Segundo Smith (1988, p. 130) “a forma na qual um valor de uso ocorre (...) compreende suas propriedades espaciais. Mas não é apenas a substância intrínseca de uma mercadoria que determina seu valor de uso. Antes, é a utilidade do objeto em relação aos outros objetos, eventos e atividades. O valor de uso é, em primeira instância, uma relação, e como parte do conjunto de relações que determinam um valor de uso particular está um conjunto de relações espaciais”.
A força da fetichização da mercadoria contribui para substituir estes princípios sociais de valores. Esta, por sua vez, submete a sociedade a uma dominação por coisas supra-sensíveis que se realiza nas imagens manipuladas pelas lógicas capitalistas e no movimento de produção pseudo-real que repudia a realidade. A mercadoria apresenta-se, em sua aparência, como algo auto construída (Debord, 1992). Assim, o exercício de controle “fascista” à mercadoria encontrou as condições de reprodução nas formas diversificadas de comércio e na fluidez dos fluxos de informação.
Além de manter uma grande oferta de utensílios para a sociedade as empresas percebem que a utilidade da compra é um fator secundário e que os consumidores estão mais interessados no prazer de comprar do que na satisfação de suas necessidades básicas. Contudo, as vendas agregam valores ideológicos e movem, cada vez mais, os consumidores para o universo simbólico do status social.
Segundo Padilha (2006, p. 55), “os objetos passaram a ser adquiridos não pelo seu valor de uso, mas pelo significado social de sua posse” e “não apenas a compra de bens materiais para a satisfação das necessidades, mas também o consumo de imagens e de valores para uma grande parte da sociedade”. De acordo com Debord, (1992, p. 9) “o consumidor real torna-se um consumidor de ilusões”.
O papel do desenvolvimento avassalador do capitalismo reflete-se na transformação dos hábitos cotidianos, das relações entre as pessoas, das percepções dos espaços e dos seus respectivos significados. Assim concebida, esta cultura redefine o território e cria  territorialidades orientada pelo mercado.   
A configuraçao dos territorios e a terrirorialidade
O conceito de território, cunhado na Geografia Clássica em meados do século XIX pelas mãos de Ratzel e Reclus, época nutrida pelo romantismo alemão e o imperialismo; encaravam o conceito de território como algo concreto delimitado pela paisagem e como lócus de controle do Estado. “Um povo deve viver sobre o solo que recebeu do destino, deve morrer aí, deve suportar sua lei” (Ratzel apud Gomes, 1996, p.186). O conceito de território era associado a uma escala nacional, limitado por fronteiras marcadas pela fluidez. Com efeito, a utilização do conceito território será de grande importância para o campo das questões políticas na ótica ratzeliana; o território torna-se um espaço qualificado pelo domínio de um grupo humano, sendo definido pelo controle político do Estado.
O conceito de território, frente ao capitalismo contemporâneo, assume outra dimensão em virtude da nova configuração existente entre as esferas políticas, econômicas e sociais. Assim, o território é reconhecido como uma relação simbólica direta com o espaço geográfico, um produto histórico a partir de uma relação de poder sob a ótica produtivista. Entretanto, o conceito território não se confunde com o conceito de espaço geográfico, pois se apresenta como uma manifestação fenomênica do espaço marcado por sua singularidade. O território é fruto da produção do espaço geográfico. Espaço onde se projeta o trabalho de natureza intencional que é transformado pelas redes, circuitos e fluxos que ai se instala.
Assim, o território dentro de um conjunto de movimentos, fluidez e interconexão cuja complexidade é apresentada na relação entre processos sociais, materialidade das lógicas capitalista e sua historicidade (Haesbaert, 2004).
Para Raffestin (1993, p. 143), “é essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, e é resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível”.
No entanto, o território exprime uma ação imediata de limites sob a superfície e é re-configurado de acordo com os objetivos dos agentes sociais e pelo contexto histórico em que está inserido. Assim, pode-se admitir que a escala global, sob o comando das lógicas capitalistas, procura impor uma racionalidade a todos os lugares os quais dinamizam as ações no território. Sendo assim, o território pode ser considerado como um produto que acumula diferentes processos de um tempo de sucessões de coexistência.
A configuração do território pesa diferentemente dentro das esferas políticas, econômicas e sociais existentes no contemporâneo e é realizada pelos interesses capitalistas. Como visto o território, além de ter uma base física, é também, uma estrutura construída por uma sociedade. O território se apresenta como um fator que absorve todas as manifestações sociais e delas partem as novas direções e composições territoriais.
Enquanto objeto construído por relações complexas, o território é baseado numa leitura da relação de poder, cujo espaço socialmente apropriado, produzido, é dotado de significado (Raffestin, 1993; Sack, Haesbaert, 2002). Uma das características do território, no mundo atual, é a facilidade de ser edificado pela sociedade e depois de constituir identidades para reger a própria sociedade que a configurou. Tais fatores perpassam pelos processos produtivos do capital. Assim, ao atender as exigências reveladas pelo modo de produção capitalista, “o território se metamorfoseia em algo mais que um simples recurso, (...) constitui um abrigo” (Santos, 2000, p. 111-112).
Neste caso, o território é uma inconstância que absorve e protege o resultado da competitividade entre os agenciadores do capital. Estes propõem o modo imperativo da remodelação da re-organização espacial e das formas (re)constituídas no espaço geográfico sob um processo contínuo de perdas e ganhos. O que nos leva a pensar que o produto formado por esta compensação de movimentos de retração e dilatação, na totalidade, é o território construído e com possibilidades de serem sobrepostos. Porém, os novos braços que direcionam para esta dinâmica são as territorialidades que enfatizam o seu caráter simbólico.
A territorialidade, no sentido dinâmico, não deve ser analisada como uma justa-posição de territórios locais, mas como uma realidade territorial nova que surge de um sistema de inter-relações e interesses comuns. Ao cabo desse novo território formado, um meio propagador de informação sobre o elemento que se move e emerge. Portanto, não substitui o território físico, o compõem de elementos novos, porém efêmeros. O território constituído, ao integrar todas as peças, coloca-se a favor de novas ações para se deslocar. De acordo com Raffestin (1983, p. 265), a territorialidade é “o conjunto de relações estabelecidas pelo homem enquanto pertencente a uma sociedade, com a exterioridade e a alteridade através do auxilio de mediadores ou instrumentos”. Assim a territorialidade afirma sua relativa flexibilidade pelo qual o espaço e a sociedade se dialogam.
Para Haesbaert, (2002, p. 87) “na modernidade, por exemplo, a territorialidade tende a ser mais ubíqua e bastante mutável” de modo que tanto o território quanto a territorialidade podem desempenhar qualquer função ou configuração ou exercer controle sobre os fluxos, as redes e as conexões ou ainda, permitir a apropriação ou dominação do espaço geográfico a partir de um conjunto de transformações técnica.  Assim, a territorialidade pensada na escala de uma empresa é controlada pela concorrência capitalista ou interesses corporativos que se unem em torno de centros de interesses comuns. Essa racionalização procede das práticas do capital que promovem as externalidades apropriadas para tal propagação e que caracteriza a dominação ou apropriação do território.
A empresa controla não somente todo o aparelho da sua produção, que compreende seres e coisas, mas também os próprios seres e as coisas por intermédio seus segmentos de mercado. Entretanto, quando entra em concorrência com outras empresas, coloca na balança tudo ou parte de seus trunfos (Raffestin, 1993, p. 59).
No capitalismo contemporâneo as empresas utilizam novas ferramentas para persuadir o consumidor desguarnecido. Assim, as territorialidades construídas, também, são de responsabilidade daqueles que usufruem os produtos oferecidos pela empresa, que de posse de lógicas mercadológicas aproximam o consumidor de sua “seara”. Isto é, as empresas utilizam, cada vez mais, das ferramentas da comunicação social para assegurar os objetivos intencionais, quanto à mercadoria, e as realizações proporcionadas pelos meios oferecidos pelas empresas. Para Raffestin, (1993, p. 145) “fizemos da imagem um ‘objeto’ em si e adquirimos, com o tempo, o hábito de agir mais sobre as imagens, simulacros dos objetos, do que sobre os próprios objetos”. Portanto, pode-se refletir que as empresas não existem fora dos consumidores (objeto de sua manutenção no mercado), mas no seu próprio interior, transformando o consumidor em uma espécie de território móvel.
De acordo com Marx (1977, p 210), a produção não produz somente um objeto para o sujeito e para o objeto em si mesmo; a produção forja o consumo, primeiro fornecendo-lhe materiais, segundo deturpando o modo de consumo e, terceiro, excitando no consumidor a necessidade dos produtos colocados por ela como objetos. Logo, ela produz o objeto de consumo, o modo de consumo, e a tendência para o consumo.
Marx já apontava que a produção cria os objetos de consumo e o consumo cria o sujeito para esse objeto, mas além de criar o sujeito para esse objeto, o consumo inventa todo o espaço que esse sujeito faz parte. A empresa não cria o objeto (a mercadoria), mas o mundo onde o objeto existe. Ela não cria tampouco o sujeito (trabalhador e consumidor), mas o mundo onde o sujeito existe (Lazaratto, 2004).
Considerações finais: a sociedade do consumo e hipertrofias do contemporâneo
De forma geral, diversos autores discutiram este tema por diferentes caminhos e reflexões. Pode-se destacar: “sociedade burocrática do consumo dirigidoiii” (Lefebvre, 1975); “sociedade do consumoiv” (Boudrillard, 1972); “sociedade dos consumidoresv” (Arendt, 1958); e “sociedade do espetáculovi” (Debord, 1998). O fator comum, entre todos, foram os efeitos que o consumo exerce sobre a sociedade e, em particular, sobre o indivíduo. Assim, o consumo revela-se como termo forte da sociedade contemporânea. Portanto, este resultado pode ser passivo ou ativo. Em nossas análises centramos atenção entre dois pilares: por um lado, o consumo como um querer de coisas e inerente a natureza do indivíduo e, por outro, o consumo como fim do processo produtivo.
O consumo não pode, então, ser considerado um momento autônomo, ele se encontra determinado, seja, pelo complexo processo constitutivo dos desejos humanos, seja pela lógica de produção, o que, nas sociedades capitalistas, significa dizer que se encontra estabelecido pela lógica do lucro. (Padilha, 2006, p. 85).
O que esta em pauta, nesse encontro, é a legitimidade das lógicas capitalistas de manipulação da “massa social”, que ativa os estados de consumo nas sociedades modernas. Estas representam, em expressão, certa subsunção ao modo de produção vigente. As necessidades de valorização do capital são maiores que as necessidades humanas, convertem-se em satisfação das exigências das unidades de produção e resguardam, sobremaneira, a expansão do capital.
A sociedade de consumo é um produto do qual o capitalismo contemporâneo assume certa responsabilidade sob a lógica de operação do capital. Para o desenvolvimento da sociedade burguesa, no presente período, é necessário submeter-se aos imperativos da economia capitalista. Para esta nova fase, a imagem (representação imaterial do objeto), a partir da publicidade e o marketingvii, invadem a esfera da mercadoria e agrega outros valores ao produto – o valor subjetivista.
O Marketing é uma prática baseada em diferenças, e quanto maior elas forem tanto mais intensas serão as suas formas de incidência sobre a subjetividade do indivíduo. O marketing pós-moderno reconhece a diferença de cada mercadoria e de cada segmento da população, elaborando suas estratégias apropriadamente. Toda diferença é uma oportunidade (Hardt, Negri, 2000, p.170)
Estas atividades representam uma das etapas da esfera produtiva da atual fase do capitalismo. Para isto, as práticas de marketing e publicidade incidem sob a esfera do consumo e transformam imagens em mercadorias. Assim, os pressupostos vislumbrados visam à celebração do fetichismo e de simulacros na busca contínua pela novidade, pela satisfação, pela realização, além da eficiência, lucratividade e acumulação de capitais.
Na segunda metade do século XX, na Europa de modo geral e na França, em particular, nada (um objeto, um indivíduo, um grupo social) possui valor a não ser através de sua duplicata: a imagem publicitária que lhe atribui uma aureola. Esta imagem duplica não apenas a materialidade sensível do objeto, mas avança também sobre o imaginário. Ela traz uma pseudo felicidade, isto é, a satisfação ilusório do consumidor. A publicidade destinada a suscitar o consumo de bens, torna-se assim o primeiro dos bens de consumo. (Lefebvre, 1991, p. 115).
A imagem passa a atuar diretamente sobre os indivíduos, a serviço dos capitalistas, como consumidores, no sentido criar o novo, novos arquétipos ou símbolos que estes devem adotar (Padilha, 2006). Sobre esse conjunto de informação que as pessoas passam a constituir as pseudonecessidades que leva ha uma artificialização da vida. É, neste contexto, que a sociedade contemporânea constroi seus alicerces e se baseia em falsas idéias. A interpenetração das lógicas capitalista, por meio das imagens fabricadas, na sociedade, se faz no cotidiano do sujeito e dar lugar ao consumo como norteador da vida. Este elemento esconde o mundo real da sociedade e a coloca sob um universo de certezas positivas que contaminam toda a coletividade sem distinção de classes.
Os indivíduos, desta sociedade, são anestesiados sobre um processo de personalização imposto pelas lógicas capitalistas. Definem-se por não adotar um único sistema de referência. Conflituam os mais íntimos desejos. E misturam às vontades de modo a praticarem um ritual antropofágico de subjetivação sobre os sentidos. (Rolnik, 2002). O reconhecimento, do sujeito como sujeito, vem através do universo lingüístico, os quais criados pelo sistema capitalista.
De acordo com Padilha, (2006, p.110), na “sociedade de consumo”, as relações pessoais são mediatizadas pelo sistema de signos, e fazem os indivíduos desejarem desprezar suas qualidades pessoais e sua idiossincrasia para se igualar aos outros e demonstrar adesão ao código socialmente construído.
Os consumidores, nesta sociedade, acabam por aceitar a proposta oferecida deste universo subjetivo de forma passiva, que o tornam compradores em potencial, e ajudam as empresas a definirem suas territorialidades, ou melhor, criam para as empresas suas territorialidades. Para manter esse objetivo as empresas lançam estratégias das mais diversas para garantir a persuasão ao espírito do sujeito. Conforme Lazzarato, (2004, p.1), “a empresa tenta assim construir a correspondência, os entrelaçamentos, o quiasma entre os consumidores e os trabalhadores e seu mundo”.
Assim, a esfera privada, constitui um território a partir de forma que se produzem e conferem um sentido específico de desejo. Mas, formações provisórias que misturam finitos materiais de dominação e a faz confundir o sujeito da ação ou o consumidor por que caminho seguir ou a que objeto irei me render. Este habitante do mundo capitalista contemporâneo é atravessado por todo uma rede de informação de aparência desejante, econômica, política, cultural, afetiva que a convida a experimentar a composição de todas elas, de algumas delas, de somente uma dela, de nenhuma dela, sob um movimento ágil e veloz de mudanças.
As sociedades contemporâneas são marcadas por um processo contínuo de aceleração onde as matérias de expressão tornam-se rapidamente obsoletas. Parece que o mundo transforma-se numa seqüência aleatória e infinita. Neste sentido, a pluralidade configura-se em intensidade e não em densidade. (Machado, 1999, p. 215). O sujeito desta sociedade vive sob um estado profundo de letargia. Desestabilizado este absorve à determinação das lógicas capitalistas. Atravessados por princípios burgueses o sujeito vive um processo de desterritorializaçãoviii. Para Machado (1999, p. 220) “a incoerência nos aflige”. O capitalismo contemporâneo permite que as empresas incidem ao sujeito da sociedade de consumo informações suscetíveis de atrapalhar, embaralhar e perturbar a opinião e assim vendem as mercadorias. Tornam-se suas próprias figuras obsoletas muito rapidamente, forçando-a desempenharem uma nova configuração. Para Baudrillard (1972b, p. 14), “os objetos nunca se esgotam para que servem”, assim eles constituem um ciclo de renovação, antes de serem descartados pela totalidade da sociedade.
Assim, a sociedade materializada no presente passa por um constante processo de abundância. Porem este recurso se pauta somente no que concerne o mundo da mercadoria. Este processo contribui para que a pulsão, que controla nossos desejos, se limitem ao campo do consumo. Esta sociedade se esquece, que o mecanismo manipulado pelo capital, esvazia de sentido as relações humanas e anestesia o sujeito frente à violência real da ordem social. 

Notas

i Um regime de acumulação explicita o conjunto das regularidades que permitem uma acumulação mais ou menos coerente do capital, isto é, que amortecem e esbatem no tempo os desequilíbrios gerados constantemente pelo próprio processo de formação do capital. (Boyer, 1994, p. 122).
ii Em relação à polêmica teórica em torno da concepção de uma economia com relações de produção denominadas flexíveis, preferiu-se o não aprofundamento deste problema, tampouco, a aceitação sem fundamentos prévios, da idéia de que a expansão do capitalismo “pós-fordista” ocorre de igual modo em diferentes escalas espaciais. De passagem, vale dizer que as formas organizacionais da acumulação flexível não se tornaram hegemônicas em escala planetária – mas o fordismo que as precedeu também não (Harvey, 1992; GODOY, 2002; Braga, 2003).
iii Em 1968, Henri Lefebvre, coloca ao debate acadêmico esta qualificação ha sociedade que o representava. Naquele período, esta sociedade tinha como característica uma cotidianidade programada, destinada a ser nódulo estratégico da reprodução social frente à artificialidade do mundo sob a afirmação da artificialidade do sujeito. O autor também relaciona a este momento com a estruturação das camadas média urbanas, apesar de que a inclusão ao consumo perpassa por uma indefinição de quem consumir, ou seja, perde a categorização de classe a esta atividade.
iv Sob esta perspectiva o autor tenta mostrar os processos subjetivos intrínsecos aos desejos individuais, que modulam a atividade de consumir, presente ao cotidiano das pessoas no espaço geográfico.
v A sociedade de consumidores é a fusão de dois estágios sociais: o labor e o consumo, visto como uma alternativa do modo de viver em sociedade. A crítica que a autora presta é como o consumo é encarado na sociedade, uma vez que este não se restringe às necessidades da vida, mas ao contrário visa principalmente as superfluidades da vida. De modo que chegará o momento em que nenhum objeto do mundo estará a salvo do consumo e da aniquilação através do consumo. (Arendt, 2004, p. 146).
vi A “sociedade - espetáculo” é o mundo das pseudonecessidades, o mundo da economia do consumo, o mundo do espaço-tempo da “monotonia imóvel”, o mundo em que o viver tornou-se uma representação caricata da própria forma-mercadoria, enfim, o mundo em que o valor de troca das mercadorias acabou por dirigir o seu uso (Debord, 1998, p. 33).
vii A publicidade, o marketing e a mídia, de uma forma geral, transformaram-se nas grandes vilãs da sociedade, diversos autores apontam estes meios como os grandes colaboradores do distanciamento da realidade. Porém, faço uma pausa para uma reflexão.É possível servir-se destes mecanismos de forma a libertar o sujeito do enclausuramento em vez de nos rendermos às forças centralizadoras de sentido? Então, acreditamos que estas ferramentas, da sociedade contemporânea, não produza esse efeito sozinha e o que as condena é o sistema em que estão sendo utilizados.
viii Segundo Machado (1999, p. 217) “O processo de desterritorialização é um movimento de destruição dos territórios constituídos, podendo desdobra-se em processo de territorialização, onde novos territórios provisórios seriam inventados, ou em processo de reterritorialização, onde o processo de desterritorialização é capturado, e em lugar da invenção de outros territórios teríamos a recomposição de territórios vinculados à ordem de produção capitalistica. Os territórios se compõem de materiais existenciais, como comportamento, valores, relações sociais etc. O território e as desterritorializações fazem parte e produzem formas de subjetividade. O que não quer dizer que o território seja uma identidade e que cada um tenha o seu. Muitos e variados territórios compõem nossa existência e eles podem ter sido produzidos ou não a partir da perspectiva de personalidade. Os territórios são organizações de materiais de expressões históricos”.

 

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Referencia bibliográfica:
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