domingo, 29 de novembro de 2009

O Acre é Maravilhoso - Charge

Charge "INSS" - Diogo Novaes

O HOMEM ABSURDO de Albert Camus, por Isaac Melo

FONTE: Blog Alma Acreana: http://almaacreana.blogspot.com/2009/11/o-homem-absurdo-de-albert-camus.html
Albert Camus (1913-1960) foi um homem de muitas faces: foi jornalista, romancista, dedicou-se ao teatro, foi militante político e polemista. Sua vida e sua obra entrelaçam-se de uma maneira fecunda e criativa. São seus sentimentos que impulsionam sua obra, seu sentir frente a um mundo que lhe era estranho, absurdo, mas também fraternal e cheio de sol. É um mundo do absurdo, num primeiro momento, e da revolta num segundo. Ele não é um filósofo preocupado com definições nem com o rigor conceitual, mas com o simples, cotidianos e profundos problemas da existência.
É em O Mito de Sísifo que o tema do absurdo aparece em toda a sua plenitude no pensamento filosófico de Camus. Agora ele problematizará filosoficamente a vida e refletirá sobre ela. O livro começa colocando o único problema fundamental e, verdadeiramente, sério: o suicídio, isto é, julgar se a vida merece ou não ser vivida. Não tem importância maior saber se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias. Tudo é secundário.
O homem se sente estranho porque vê-se privado de repente das ilusões e das luzes. É o encontro do exílio, fuga sem conforto e solução, pois, não se tem esperança de se encontrar a tão querida e desejada terra prometida. O sentimento de absurdo consiste, pois, na afirmação do divórcio entre o homem e sua vida, entre o ator e sua decoração. Camus considera que todos os homens sadios pensam no suicídio. Conclui, daí, que há uma ligação direta, lógica entre esse sentimento e a aspiração ao vácuo, isto é, ao nada.
A revelação da morte tem algo de violento e nos transforma. Chega um dia em que nos damos conta de que o homem morre e de que morremos. Uma vez atingida esta verdade, seremos para sempre sua presa. É pela morte que nossa sensibilidade chega ao absurdo. Só depois de termos sidos atingidos de perto, a grande verdade terá significação e não mais se deixará levar ao desprezo. Ela é o nosso acesso à sensibilidade.
A verdadeira expressão camusiana é que os homens não são felizes porque morrem. O fato da morte é repugnante à sensibilidade. Por mais que façamos, a morte não pode ser enfeitada. Será sempre “uma aventura horrível e imunda”. A imagem da “aventura imunda” é uma barreira para que sonhemos uma eternidade. O absurdo sensível não é esta constatação da brutalidade de um termo. Mas é a constatação violando o meu desejo de vida.
A atitude essencial do homem absurdo será a lucidez, isto é, uma consciência que não se quer negar. Por isso, o homem absurdo não foge à luta, não despreza a razão. Acha que reúne todos os elementos, os dados da experiência. Contudo, não está disposto a saltar antes de saber. É resultante de sua lucidez, daí não haver lugar para esperanças. Os homens que acreditam na esperança, para Camus, vivem mal neste mundo.
Na última parte do livro Camus fala do antigo mito grego de Sísifo que tinha sido condenado a empurrar sem descanso um rochedo até o cume de uma montanha, de onde ela caía de novo, em conseqüência de seu peso. Para Camus, Sísifo é o herói absurdo, pelas suas paixões bem como pelo seu tormento. O tormento dele é o preço que é necessário pagar pelas paixões desta terra. Camus nos diz que seu desprezo pelos deuses, o seu ódio à morte e a paixão pela vida valeram-lhe esse suplício indizível em que seu ser se emprega em nada terminar.
Sísifo sobe e desce infinitamente, sem nenhuma esperança que isso termine. Camus faz da situação de Sísifo uma analogia com a situação de milhares de operários que devem recomeçar seu trabalho cada dia. Mas Sísifo é lúcido e, embora imponente e revoltado, conhece toda a extensão da sua miserável condição. É essa condição que Sísifo pensa durante a sua descida, pois, para Camus, a clarividência que devia fazer o seu tormento consome ao mesmo tempo também a sua vitória. Camus nos diz que não há destino que não se transcenda pelo desprezo. Ele conclui afirmando que há só um mundo e que a felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra, são inseparáveis.
Sísifo faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens, e ali é que Sísifo encontra sua silenciosa alegria. Seu destino pertence-lhe e é um destino único e pessoal, pois não há destinos superiores. Isto faz com que Sísifo sinta-se senhor de seus dias.
De acordo com Guimarães, o Mito de Sísifo é de fato uma análise da sensibilidade absurda, uma análise racional, que procurar tirar as conseqüências. O absurdo é um ponto de partida e não um estado. Transformar um sentimento em estado é negar qualquer saída e concordar com o que oprime. Fazer do absurdo uma regra é viver no desespero. Camus anota em O Mito de Sísifo várias possibilidades do surgimento do absurdo, sempre em situações corriqueiras, onde é apenas decisivo o exame da inteligência.
A consciência da rotina, seguida da indagação do sentido, leva-nos para a sensibilidade absurda. A inteligência dá-se conta de que a existência faz-se no tempo. Compreende a tragédia de jogarmo-nos, constantemente, no futuro. A cada momento aproxima-nos mais do termo e, não querendo o fim, queremos o futuro. O absurdo é a constatação de que o mundo se nos escapa. O absurdo não é nem o mundo nem a Inteligência, mas a relação entre a inteligência e o mundo.
A fidelidade do raciocínio à evidência que o despertou exige a manutenção do absurdo. O salto filosófico é uma empresa condenada. Esta é a lógica que reina no absurdo. A fidelidade ao absurdo é aqui uma fidelidade ao homem. O que obtemos com o salto, aquela certeza de ordem religiosa, ultrapassa a dimensão humana. O homem absurdo quer viver lucidamente. E a lucidez mostra uma realidade que nos rejeita. Rejeitados, talvez seja nossa tarefa rejeitar.
Num mundo sem sentido, permanece a exigência humana de sentido. Nada pode ser feito para satisfazê-la. Sou obrigado a manter o caos reinante, mas este caos, este inferno, é meu lugar. Assim me imponho frente a uma realidade que me contraria e frente a qual sou impotente. O confronto do homem com a realidade é favorável ao homem. Ele é o grande inocente.
O homem absurdo tem que viver. Viverá sem apelo, sem esperança. Outra vez não anulará o problema. A tentação seria a negação da consciência: o suicídio. Porém, um absurdo que nasceu da consciência tem que viver como verdade, logo, viver na consciência. A resposta absurda é viver. Viver é então convertido em revolta. A revolta é a manutenção dos dois elementos da questão: considera o real e mantém a consciência. Viver mantendo os dois elementos da oposição é viver a própria oposição. Negando-lhe o que lhe nega, ele se afirma e se faz superior, pois a consciência dá grandeza à revolta.
Sísifo é fiel à sua tarefa absurda. Mas sua fidelidade é consciente e, consciente, faz-se superior aos deuses que o condenaram. Sem esperanças, sem verdades absolutas, sem Deus, o homem é livre. Porém, o homem absurdo se sabe condenado ao que não dura. Aceitando o relativo, aceita a possibilidade. Sua liberdade é disponibilidade, é abertura. A liberdade absoluta será sua criação. Nada se impõe, pois ser livre é criar e examinar todas as soluções.
Por fim, desligado de valores absolutos não será possível procurar viver melhor, mas, unicamente, viver mais. Só o finito da condição pode nos levar a esta paixão. Só a morte justifica o amor intenso pela vida. Viver mais é viver conscientemente. A lucidez faz-nos sentir a vida. Só a consciência conta. Retirados todos os valores, a lucidez é o único valor. Se o absurdo acentua a experiência quantitativa, tal experiência terá que ser qualitativa, consciente, para ser válida. Estão aí as três conseqüências do absurdo: revolta, liberdade e paixão. Três afirmações da vida.
REFERÊNCIAS CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo. Tradução de Ari Roitman e Paulina Watch. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007. GUIMARÃES, Carlos Eduardo. As dimensões do homem: mundo, absurdo, revolta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971. GUTIÉRREZ, Jorge Luis. A revolta do homem absurdo. Revista Ciência & Vida (Filosofia). São Paulo, no. 21, ano II, p. 22-33, 2008. LEITE, Roberto de Paula. Albert Camus: notas e estudo crítico. São Paulo: Editora Edaglit, 1963.

Charge - Diego Novaes

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A SEMANA DA MÚSICA

João Veras*
Dia 22 de novembro é comemorado o dia da música. É dia de Santa Cecília, a padroeira internacional dos músicos. Esta data foi escolhida para iniciar a primeira Semana da Música no Acre que se estenderá até o dia 28 próximo.
Este evento, organizado pelas duas fundações – FEM e FGB- e os dois conselhos estadual e municipal de Cultura, envolve a realização de vários espetáculos musicais em espaços públicos da cidade de Rio Branco, como não poderia deixa de ocorrer. Mas a Semana da Música é, também, neste primeiro ano, uma iniciativa que busca, essencialmente, fazer com que todo aquele que, de alguma forma, tem interesse e relação com a música no estado (instrumentistas, intérpretes, compositores, professores e estudantes de música, comerciantes de equipamentos de som, de instrumentos musicais e de cds e dvds, técnicos de som, gestores públicos da área cultural e quem mais interessar) volte-se para as reflexões, os debates e as proposições no que diz respeito à atividade musical no Acre, às políticas públicas de educação, promoção e difusão musicais, assim como no que pertine aos processos de organização do movimento musical e seu envolvimento efetivo junto, inclusive, aos mecanismos institucionais de participação social na área da cultura. Nesse sentido, dos dias 26 a 28, será realizado, o Forum Setorial da Música, instância do Conselho Estadual de Cultura-Concultura, pelo qual, além da produção de propostas dos participantes com vistas à formalização de um futuro Plano Setorial da Música - com questões relacionadas à educação musical, ao mercado da música, à criação e difusão da produção musical acreana e à própria organização dos músicos - serão eleitos os representantes da área para ocuparem a titularidade, e respectiva suplência, da cadeira de música no Concultura, para o quadriênio 2010/2014. Tenho esta semana como o passo inicial para a retomada efetiva de um processo coletivo de organização e participação da classe musical acreana com vistas, especialmente, à proposição e defesa de políticas públicas específicas para a educação musical, a valorização e a difusão da criação e da execução da música no Acre. Vamos?
*João Veras é titular da cadeira de música do Conselho Estadual de Cultura.

Charge maldosa...rsrsrsr

Modo de Produção Feudal

SLADE 6 - Modo de Produção Feudal

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O ENTORNO DA PRÁXIS EDUCATIVA NO ENSINO DE HISTÓRIA NO ACRE

JOSE JULIO CESAR DO NASCIMENTO ARAUJO Josimar da Silva Freitas José Valderi Farias de Souza
Em Nietzsche, a genealogia, a história, Foucault considera Nietzsche o filósofo do poder. O que Foucault quer mostrar é a abertura produzida por Nietzsche para se pensar as relações de poder em cadeia histórica fugindo do paradigma jurídico- econômico, característico tanto de pensamento liberal, quanto de determinada tradição marxista. A partir desta indicação nietzschiana, Foucault irá propor uma “Microfísica do poder”, capaz de resgatar as lutas do cotidiano, as múltiplas relações de força, as táticas e estratégias de resistência.O que de certa forma pressupõem a construção de uma nova História.
Segundo Foucault, o estudo da microfísica do poder. [...] supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma ‘apropriação’, mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos, que se desvende nele antes uma rede de relações sempre tensas, sempre em atividade, que um privilégio que se pudesse deter; que lhe seja dado como modelo antes da batalha perpétua que o contrato que faz uma cessão ou a conquista que se apodera de um domínio(...). O que significa que estas relações aprofundam-se dentro de uma sociedade, que não se localizam na relação de Estado com os cidadãos, ou na fronteira das classes e que não se contentam em reproduzir ao nível dos indivíduos, dos corpos, dos gestos e dos comportamentos, a forma geral da lei ou do governo; que se há continuidade (realmente elas se articulam bem, nessa forma, de acordo com uma série de complexas engrenagens), não há analogia nem homologia, mas especificidades dos mecanismos e da modalidade. Finalmente, não são unívocas; definem inúmeros pontos de luta, foco de instabilidade comportando cada um de sus riscos de conflito, de luta e de inversão pelo menos transitória da relação de forças (FOUCAULT,2002,26-27). Articulando estas considerações de Michel Foucault com as preocupações de uma “história vista de baixo” de SHARPE e de E.P. Thompson, a História aos poucos procura repensar e recuperar o papel de atores históricos que não assumiram/ assumiam naquela forma de se fazer HISTÓRIA papel relevante. Tal possibilidade de conjuga a história da experiência e do cotidiano das pessoas comuns do povo, dando-lhe a oportunidade de reintegrar a sua história aos grupos sociais que podem ter pensado tê-la perdido, ou que nem tinham conhecimento da existência de sua história (SHARPE,1994).
A historia enquanto componente curricular, obrigatório no ensino fundamental e médio, era vista no passado do prisma factual. O ensino da História era o aprendizado dos fatos históricos, das fases, das civilizações e suas contribuições para a vida moderna, das datas, dos nomes e feitos dos atores históricos. Hoje, o estado de criticidade dos tempos modernos obrigou pesquisadores, historiadores e professores a repensar como se faz e se ensina História.
Em 2007, estivemos na Escola de E. F.M.C. para a realização de uma pesquisa em relação ao procedimento metodológico da pratica educativa em historia. Nas entrevistas aplicadas aos alunos pode-se aferir que em relação a afinidade dos alunos com o componente curricular, não há duvidas que este tem forte vínculos com os alunos. Isso ocorre, subjetivamente, porque os alunos observados possuem uma admiração exacerbada pelo professor da disciplina.
Aos serem perguntados sobre a melhor aula de História alguns relembram aulas passadas, mas em geral consideram todas as aulas do professor ótimas. O conceito de história na conceituação dos alunos não foge aos padrões de antigos manuais didáticos. Os alunos atribuem o gosto pela disciplina ao fato ‘’ do professor explicar bem’’; ‘’ se aprofundar nos assuntos’’ e ‘’ dá muitos exemplos’’.
Percebe-se com isso, que ao conquista os alunos como sua prática o professor consegue forjar competência nos alunos. Em relação aos procedimentos metodológicos usados pelo professor percebeu-se que na maioria das vezes o professor se vale de aulas expositivas, intercalando com exemplificações, desenhos e avaliações orais.
Uma técnica metodológica interessante que é usada pelo professor, é o uso do ‘’Momento da Notícia’’, onde alunos são escolhidos para assistirem ao noticiário da TV e na aula seguinte expor e apresentarem pontos de vista e opinião critica sobre as matérias assistidas. Isso de certa forma cumpre os pressupostos de Holiem G. Bezerra, ao afirma: ‘’ O objetivo primeiro do conhecimento histórico é a compreensão dos processos dos sujeitos históricos.
O desvendamento das relações que se estabelecem entre os grupos humanos em diferentes tempos e espaços’’(BEZERRA, Holiem G. O ensino da história: conteúdo e conceitos básicos (in) KARNAL, Leandro (org.). A História em sala de aula. São Paulo: Contexto,2000 ). O fato de implementar essa nova metodologia mostra que este assume o postulado do professorado crítico e consciente que a história é uma construção do presente onde participam os sujeitos sociais.
O aluno ao estabelecer com os noticiários da TV relação de critica faz história por que crítica o próprio momento no qual está inserido. Foi notável, também, que os discentes são constantemente levados ao exercício da pesquisa que é feita em livros, revistas ou com ajuda dos pais.Pelas respostas dos alunos foi possível perceber que o professor trabalhar muito com a questão da contextualização, ou seja, antes de explica conteúdos faz diversas explanações. Isso ocorre, também, nos exercícios e avaliações como pode-se observar na pesquisa. Sobre a avaliação, o professor observado, e com base nas respostas, utiliza perguntas orais, variando o conteúdo avaliado com filmes de embasamento e a participação ativa dos alunos.
Observou-se, também, que o professor trabalha a partir das experiências dos alunos. Ele prioriza a historia crítica, tentando mudar o costume de estudar. Observando que tudo na historia se constrói com a força das massas.Ficou bem claro nas entrevistas com o professor que este compreende que a história mudou sua s concepções e deve ser trabalhada de maneira diferente.
Referências FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. FOUCAULT, Michel. Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de Pensamento. Ditos e escritos vol. II. Manoel Barros da Motta (org.).Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. SHARPE, Jim. A História Vista de Baixo. In: BURKE, Peter. (org.) A Escrita da História. São Paulo: Unesp, 1998. THOMPSON, E. P. A Formação da Classe Operária Inglesa. 3 volumes. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1987. THOMPSON, E. P. Costumes em Comum: estudos sobre cultura popular tradicional. São Paulo: Cia das Letras, 1998.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A GEOPOLÍTICA DO CAPITALISMO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Carlos Alberto Franco da Silva e Flávio Almeida Reis FONTE: http://www.marxismo.org.br/index.php?pg=artigos_detalhar&artigo=377 Com este breve artigo de estudiosos da UFF (Universidade Federal Fluminense), iniciamos um conjunto de contribuições para o debate sobre a expansão da fronteira capitalista na Amazônia brasileira. A questão ambiental no Brasil envolve dois padrões de desenvolvimento que se apresentam como contraditórios na aparência, mas são parte integrante do modelo capitalista de produção.O primeiro possui uma vertente industrial, mineral e agrícola e consolidou-se a partir de 1960. A abertura da fronteira agrícola capitalista, a expansão da fronteira urbana, a exploração do subsolo, os projetos de colonização privados e oficiais e a instrumentalização técnica do território eram parte da geopolítica de integração econômica do país em direção às regiões consideradas “periféricas”.
Logo, projetou-se na Amazônia o imaginário de região atrasada e vazia, a fim de legitimar um processo de inserção de áreas privilegiadas nos circuitos de acumulação de capital em escalas nacional e global. Para tanto, o desmatamento se afirma como ideário de inserção do Cerrado e da Floresta Equatorial no projeto desenvolvimentista do Estado.O “país do futuro” possuía uma natureza rica, mas hostil.
O progresso demandava controle da natureza. A sagração da Natureza convocava a nação para a marcha rumo ao Norte, ao Oeste, ao Sertão. A Amazônia era o Eldorado a ser conquistado. Tais signos escamotearam as lutas de classes no Brasil. A abertura da fronteira se tornava uma válvula de escape para as questões fundiárias. A nação una e indivisível se afirmava na incorporação de terras e uso indiscriminado dos recursos do subsolo.
Tal imaginário ainda se verifica quando se analisa os projetos capitalistas previstos para a Amazônia. Assim, os capitalistas subordinaram os trabalhadores à sua ideologia dominante. Ou seja, mascararam seus interesses particulares como interesses nacionais. Entre 1960 e 1985, a nação foi colocada a serviço do ideário desenvolvimentista do país. Toda oposição era vista como ameaça comunista aos interesses nacionais, mas na verdade ameaçava os pecuaristas, sojicultores, industriais e grupos mineradores.
O segundo padrão, a partir de 1980, possui uma vertente tecno-ecológica. A questão ambiental passa a ser uma preocupação do capital, a defesa de saberes culturais e a manutenção da biodiversidade se tornam estratégicos para aumentar os lucros. É como se o capital se vestisse de verde, um “eco-capitalismo”, com preocupações agro-ecológicas. Desenvolvimento sustentável, crédito de carbono e aquecimento global são alguns dos pontos-chave dessa agenda. A Amazônia encerra esses dois padrões de acumulação.
O agronegócio, de um lado, e a agro-ecologia, do outro, simbolizam o debate entre duas aparentes forças contraditórias.Se o agronegócio na Amazônia representa um padrão que demanda expansão da lavoura, desmatamento, concentração fundiária e exclusão social, a agro-ecologia revela duas faces. Uma delas envolve os movimentos sociais de resistência ao agronegócio. A outra apesar do discurso contra-hegemônico ao capital não é capaz de revolucionar a sociedade.
Trata-se de um discurso radical que não combate as raízes do sistema, mas somente tenta reformá-lo; Acaba sendo uma “prática humanista” que não vai até o fim dos reais problemas. Não busca a destruição do mercado capitalista e suas leis orientadas para acumulação. Sem esse combate, não é possível inverter a situação que temos hoje: alimentos sendo produzidos, não para alimentar pessoas, e sim para dar lucro às grandes corporações.
A luta contra a propriedade privada dos meios de produção e pela planificação da economia, isto é, o planejamento democrático da produção, circulação e consumo das mercadorias, são as bandeiras dos revolucionários, e isso não aparece no cerne da luta pela agro-ecologia. Outro debate é a atuação do Estado, que é contraditório, mas funcional ao capitalismo. Os embates atuais entre os ministérios da Agricultura e Planejamento x Meio Ambiente revelam as contradições da coalizão que compõem o governo Lula. Debateremos isso nos próximos artigos.

sábado, 7 de novembro de 2009

MEMMI, Albert. Retrato do Colonizado precedido do Retrato do colonizador. Trad. Marcelo Jacques de Moraes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 200

- Foi escrito antes da Guerra da Argélia. Os primeiros trechos foram publicados nas revistas Les temps Modernes e Esprit em 1956. - É bom que os líderes dos povos colonizados sejam homens de ação e não filósofos. - O livro é um clássico para os historiadores da colonização. - O livro revela os mecanismos comuns à maior parte das opressões em qualquer lugar do mundo. - A colonização fabrica colonizados assim como fabrica colonizadores. PREFÁCIO DO AUTOR (1966) “Um dia certamente acabarei fazendo esse retrato geral do oprimido” p. 12. “Realizei este inventário sobre a condição do colonizado primeiramente para compreender a mim mesmo e identificar meu lugar entre os outros homens” p. 13. “Eu estava assim descobrindo, em suma, que todos os colonizados se pareciam; e deveria em seguida constatar que todos os oprimidos se pareciam em alguma medida” p. 13. “A noção de privilégio, como, no entanto, repeti com freqüência, está no cerne da relação colonial [...] o aspecto econômico da colonização é para mim fundamental” p. 16. “O privilégio colonial não é unicamente econômico” p. 17. - A relação opressora não se mostra apenas no viés econômico, ela tem outras facetas. “No fundo, não sabemos inteiramente o que o homem é em definitivo, o que é essencial para ele, se é o dinheiro ou o sexo, ou o orgulho, se a psicanálise tem razão contra o marxismo, ou se isso depende dos indivíduos e das sociedades” p. 17-18. “Esse retrato do colonizador era também em parte o meu; um retrato projetado, digamos, no sentido dos geômetras” p. 20. “Cada um é o que sua condição objetiva faz dele, já o disse várias vezes” p. 21. “Eu me perguntava se teria realmente conseguido condenar tão vigorosamente a colonização se tivesse me beneficiado mais dela” p. 21. “Sou incondicionalmente contra todas as opressões” p. 21. “Se a colonização destrói o colonizado, ela apodrece o colonizador” p. 22. PREFÁCIL (Jean-Paul Sartre/1957). “Os jornais de lá (Argélia francesa) nos repetem que apenas o colono está qualificado para falar da colônia” p. 25. “A conquista se deu pela violência; a superexploração e a opressão exigem a manutenção da violência e, portanto, a presença do exército” p. 27. “O colono desfruta lá na Metrópole, dos direitos democráticos que o sistema colonial recusa aos colonizados” p. 27. “O colonialismo recusa os direitos do homem a homens que submeteu pela violência, que mantém pela força na miséria de subumanidade” p. 28. - O racismo é uma prática colonialista (cf.: p. 28). “Não há bons ou maus colonos: há colonialistas” p. 29. “O conservadorismo engendra a seleção dos medíocres. Como é que esta elite de usurpadores conscientes de sua mediocridade pode fundar seus privilégios? Só há um meio: rebaixar o colonizado para engrandecer a si mesmo, recusar aos nativos a qualidade de homem, defini-los como simples privações” p. 29. “Os opressores produzem e mantêm pela força os males que, aos seus olhos, tornam o oprimido cada vez mais semelhante ao que precisaria ser para merecer sua sorte” p. 30. “O colono só pode absolver a si mesmo ao perseguir sistematicamente a desumanização do colonizado, isto é, ao identificar-se a cada dia um pouco mais com o aparelho colonial. O terror e a exploração desumanizam, e o explorador se sente autorizado por essa desumanização a explorar ainda mais” p. 39. Como fazer de um seringalista o herói, pois ele se beneficiou do sistema que o fez grande, que o fez rico, sistema esse que produziu milhares de desumanizados. A humanização do seringueiro poria em risco a espoliação. A opressão não pode, enfim, ser motivos de “comemorações” e “festejos”, pois é alimentada pelo ódio e pela violência. “A opressão é primeiramente o ódio do opressor contra o oprimido. Só há um limite para esse empreendimento de extermínio: o próprio colonialismo” p. 30. “O sistema quer a um só tempo a morte e a multiplicação de suas vítimas; qualquer transformação lhe será fatal: quer se assimilem ou se massacrem os nativos, o custo da mão-de-obra não vai parar de subir” p. 30 - Os que movem o sistema estão obrigados a se manterem mais perto da morte do que da vida. - O opressor ressuscita a humanidade que quer destruir. “Uma vez que a nega nos outros, reencontra-a em toda parte como uma força inimiga” p. 31. - O sistema colonial é uma força em movimento. “Esses excluídos reinvindicarão sua exclusão sob o nome de personalidade nacional: é o colonialismo que cria o patriotismo dos colonizados” p. 30. - O sistema opressivo que torna o colonizado em animal leva o povo a pensar que só a morte o libertaria. A partir de então, são capazes de morrer pelo que defendem ser a pátria. A defesa da pátria nada mais é do que a defesa de dias melhores. “É seu infortúnio que se tornará em coragem; desta eterna recusa que a colonização lhe opõe ele fará a recusa absoluta da colonização” p. 32. Pode ser que os seringueiros tivessem sido bombardeados com a idéia de que os bolivianos fossem o mau de toda aquela opressão. Por isso, deram as vidas para a causa acreana. A atroz agonia do seringueiro não produziu nada mais do que uma sociedade conservadora ao extremo... Esse é o produto direto da revolução!!!!. PARTE 1 – RETRATO DO COLONOLIZADOR O sentido da viagem colonial “Os motivos econômicos da empreitada colonial já foram esclarecidos por todos os historiadores da colonização; ninguém mais acredita na missão cultural e moral, mesmo original, do colonizador” p. 37. - A partida rumo à colônia geralmente não é uma escolha incerta, uma aventura como se costuma dizer. A viagem é uma tentação à facilidade. - Quais razões do colono se expatriar e quais os motivos dele ter persistido no exílio? “Nosso viajante nos proporá a melhor definição que existe da colônia: lá se ganha mais e se gasta menos. Vai-se para a colônia porque as situações são asseguradas, os tratamentos elevados, as carreiras, mas rápidas e o negócios mais frutuosos” p. 38. - A colônia é um purgatório remunerado no qual enriquecerá para voltar à metrópole. “Seu exílio, na verdade, é de base econômica: o do novo-rico que corre o risco de ficar pobre [...] quanto mais o tempo passar, mais durarão as vantagens” p. 39. “Nem mesmo aqueles que chamamos na colônia de pássaro de passagem manifestaram pressa excessiva de partir” p. 39. “Mas se um dia o econômico é atingido, se as situações, como se diz, correm riscos reais, o colonizador se sente então ameaçado e pensa, seriamente desta vez, em voltar para a metrópole” p. 40. “Ele percebe que esse lucro só é tão fácil por ser arrancado de outros” p. 40. - é a relação com o colonizado que cria o privilégio do colonizador. “Se seu nível de vida é elevado, é porque o do colonizado é baixo” p. 41 - O discurso oficial é sempre escrito por ele. “É ele que concebe as leis que fixam seus direitos exorbitantes e os deveres dos colonizados [...] é ele o beneficiário de toda a empreitada” p. 42. “Estrangeiro, chegado a um país pelos acasos da história, ele conseguiu não somente criar um espaço para si como também tomar o do habitante, outorgar-se espantosos privilégios em detrimento de quem de direito” p. 42. - As leis locais, legitimam a desigualdade pela tradição. É um usurpador – um privilegiado não legítimo. E isso, “não apenas aos olhos do colonizado, mas aos seus próprios olhos” p. 42. “Os colonizados mais favorecidos jamais deixarão de ser colonizados” p. 43. “O colonial seria o europeu vivendo na colônia sem privilégios, em condições de vida que não seriam superiores às do colonizado de categoria econômica e social equivalente. Por temperamento ou condição ética seria o europeu benevolente, que não teria em relação ao colonizado a atitude do colonizador. Ora, vamos dizer logo, a despeito da aparência ultrajante da afirmação: o colonial assim definido não existe, pois todos os europeus das colônias são privilegiados” p. 43-44. “Se o pequeno colonizador defende o sistema colonial com tanta firmeza, é porque é mais ou menos beneficiário dele. A mitificação reside no fato de que, para defender seus limitadíssimos interesses, ele defende outros infinitamente mais significativos, dos quais, por outro lado, é a vítima” p. 45. “Em maior ou menor grau, todo colonizador é privilegiado” p. 45. - Há um preconceito do próprio colonizado, “que concede a ele mais do que aos melhores dos seus” p. 46. - Os valores dos colonizadores são reinantes na colônia. - Os colonizados querem escapar da condição de colonizado. “Por isso, eles se esforçam para se assemelhar ao colonizador, na esperança declarada de que este pare de reconhecê-los como diferentes” p. 48. “Ao decidirem se colocar a serviço do colonizador e defender exclusivamente os interesses dele, acabam adotando sua ideologia, mesmo em detrimento do próprio grupo e de si mesmos” p. 49. PARTE 2 – O COLONIZADO QUE RECUSA A SI MESMO (p. 53). O colonizador de boa vontade... “Antes da colonização, os colonizados já não estavam atrasados? Se se deixaram colonizar foi precisamente porque não tinham porte para lutar, nem militar nem tecnicamente” p. 60. “Existe incontestável mal-estar da esquerda européia diante do nacionalismo” p. 64. “A esquerda atual está desorientada diante do nacionalismo” p. 65. “Ora, por múltiplas causas, históricas, sociológicas e psicológicas, a luta dos colonizados por sua libertação assumiu uma fisionomia nacional e nacionalista pronunciada” p. 65. - O socialismo é exportável? O marxismo é universal? PARTE 3 – O COLONIZADOR QUE ACEITA A SI MESMO ... ou o colonialista (imigrante!!!). “O colonialista, em suma, é apenas o colonizador que se aceita como colonizador. E que, então, ao explicitar sua situação, busca legitimar a colonização” p. 83. “É comum opor o imigrante ao colonialista de nascimento. O imigrante adotaria mais frouxamente a doutrina colonialista” p. 83. - Decidir fazer a vida na colônia já não é um bom sinal. O imigrante, de início, está disposto a aceitar tudo. “Vindo expressamente para provar do benefício colonial, ele será colonialista por vocação” p. 84. O RETRATO “Geralmente o homem é jovem, prudente e civilizado, tem a espinha curvada e os olhos grandes. Em qualquer circunstância justifica tudo, as pessoas de posição e o sistema... está atento a possibilidade de conquistar uma posição, de obter sua parte. Na maioria das vezes, aliás, ele foi chamado ou enviado para a colônia: um protetor o envia, um outro o recebe, e sua posição já está à sua espera” p. 84. “Como é que tais outros não se regozijariam por terem vindo para a colônia? Não estariam convencidos da excelência do sistema, que faz deles o que são?” p. 85. “Desde então o defenderão agressivamente e acabarão achando que é justificado. Em suma, transformaram-se em colonialistas” p. 85. O COLONIALISTA POR PERSUASÃO “Funcionário nomeado ali por acaso, ou primo a quem o primo oferece asilo, ele pode até mesmo ser de esquerda ao chegar e se transmudar irresistivelmente, por meio do mesmo mecanismo fatal, em colonialista intratável ou dissimulado” p. 85. - Os mais éticos partem da colônia... “não aceitam se beneficiar da injustiça cotidiana” p. 85. Os interesseiros e gananciosos esperam dali saírem ricos. “Os medíocres ficam, e pelo resto da vida. Pois eles não esperavam tanto, uma vez instalados, evitarão largar sua posição; a não ser que lhes seja oferecida uma melhor, o que só pode lhes acontecer na colônia” p. 87. “A promoção dos medíocres não é um erro provisório, mas uma catástrofe definitiva, de que a colônia jamais se recuperava” p. 88. “Essa seleção gradual dos medíocres, que necessariamente se opera na colônia, é ainda agravada por um campo exíguo de recrutamento. Apenas o colonizador é chamado por seu nascimento, de pai para filho, de tio para sobrinho, de primo para primo, por uma jurisdição exclusiva e racista, para a direção dos negócios da cidade. Assim, a classe dirigente, que provém unicamente do grupo colonizador, de longe o menos numerosos, só é beneficiada de uma irrisória aeração” p. 88. “É o MEDÍOCRE, enfim, que impõe o tom geral da colônia. É ele o verdadeiro parceiro do colonizado, pois é quem mais precisa de compensação e da vida colonial [...] De maneira que, se nem todo colonialista é um medíocre, mas todo o colonizador deve aceitar em alguma medida a mediocridade da vida colonial, deve compor com a mediocridade da maioria dos homens da colonização...” p. 88. - O usurpador é o privilegiado não-legítimo. - Fazem qualquer coisa para tornar sua usurpação em legitimidade. a) ressaltando os méritos do usurpador, “tão eminentes que pedem uma recompensa como essa” p. 99. “A inquietação do usurpador, sua sede de justificação exigem dele, ao mesmo tempo, que se auto-eleve às nuvens, e que afunde o usurpado para baixo da terra” p. 90. “quanto mais o usurpado é esmagado, mais o usurpador triunfa na usurpação, para depois se confirmar em sua culpabilidade e em sua condenação” p. 90. - A simples existência do usurpado é o bastante para caracterizar o usurpador. “Uma vez que tomou consciência da injusta relação que une ao colonizado, precisa aplicar-se sem trégua à absolvição de si mesmo. Jamais se esquecerá de ostentar publicamente suas próprias virtudes, agirá com impetuosa tenacidade para parecer heróico e grande, merecendo amplamente sua fortuna” p. 62. “A situação colonial fabrica colonialistas assim como fabrica colonizados” p. 93. “Pois não é impunemente que se tem necessidade da política e do exército para ganhar a vida, da força e da iniqüidade para continuar a existir. Não é sem danos que se aceita viver permanentemente com a própria culpa” p. 93. O PATRIOTA (p.95) - é na metrópole que ele busca se encontrar. Ele apela à Metrópole, pois é o meio de diferenciar-se do colonizado. “Ele apelará, portanto, para as qualidades de sua pátria de origem, celebrando-as, amplificando-as, insistindo em suas tradições particulares, em sua originalidade cultural” p. 96. - Ao colonizado é negado a participação do esplendor da Metrópole. “Seu puro fervor pela pátria faz dele, enfim, o patriota verdadeiro, aquele que melhor a representa, e no que ela tem de mais nobre” p. 96. - POLÌTICA DO PRESTÍGIO: mostrar a força para não ter que utilizá-la. O CONSERVADOR “O nacionalismo do colonialista é, na verdade, de uma natureza particular. Ele se dirige essencialmente ao aspecto da pátria que tolera e protege sua existência sua existência ao aspecto da pátria que tolera e protege sua existência como colonialista. Uma metrópole que se tornasse democrática, a ponto, por exemplo, de promover uma igualdade de direitos até mesmo nas colônias, correria também o risco de abandonar as empreitadas colônias” p. 99. - O nacionalismo é o rosto da pátria. “Para que ele possa subsistir como colonialista, é necessário que a metrópole permaneça sendo eternamente uma metrópole. E na medida em que isso depende dele, compreende-se que se dedique à causa com todas as forças” p. 100. “Toda nação colonial carrega assim, em seu seio, os germes da tentação fascista. O que é o fascismo se não um regime de opressão em proveito de alguns? [...] não há qualquer dúvida, para quem o viveu, de que o colonialismo é uma variação do fascismo” p. 100. “O colonialista só pode sustentar governos e tendências opressivos e reacionários, ou no mínimo conservadores” p. 100. “O colonialista é um germe de apodrecimento da metrópole” p. 101. “O perigo e a ambigüidade de seu excessivo ardor patriótico podem ser, aliás, reencontrados e constatados na ambigüidade mais geral de suas relações com a metrópole. É claro que ele a glorifica e se agarra a ela, a ponto de paralisá-la, de afogá-la se for preciso” p.101. “O colonialista não ignora que obriga a metrópole a sustentar um exército, e que se a colônia, para ele, só representa vantagens, para o metropolitano custa muito mais do que lhe dá em troca” p. 102. “É notável que o racismo faça parte de todos os colonialismos, sob todas as latitudes. Não é uma coincidência: o racismo resume e simboliza a relação fundamental que une colonialista e colonizado” p. 107. “O racismo colonial é tão espontaneamente incorporado aos gestos, às palavras, mesmo as mais banais, que parece constituir uma das estruturas mais sólidas da personalidade colonialista” p. 107. “Um esforço constante do colonialista consiste em explicar, justificar e manter, tanto pelo verbo quanto pelo comportamento, o lugar e a sorte do colonizado, seu parceiro no drama colonial, e, portanto, seu próprio lugar” p. 107. - Marcas do racismo: a) evidenciar as diferenças; b) valorizar as diferenças em benefício dele; c) afirmar que tais diferenças são essenciais e definitivas. Agem para que realmente passem a sê-las. “A conversão do colonizado à religião do colonizador teria sido uma etapa no caminho da assimilação. Foi uma das razões pelas quais as missões coloniais fracassaram” p. 109. “O paternalismo mais aberto se revolta assim que o colonizado reivindica alguma coisa, seus direitos sindicais, por exemplo,” p. 112. PARTE 3 – RETRATO MÍTICO DO COLONIZADO O nascimento do Mito p. 117 “Assim como a burguesia propõe uma imagem do proletário, a existência do colonizador demanda e impõe uma imagem do colonizado” p. 117. “Nada melhor para legitimar o privilégio do colonizador do que seu trabalho; nada melhor para justificar a penúria do colonizado do que sua ociosidade. O retrato mítico do colonizado abarcará, portanto, uma inacreditável preguiça” p. 117. “O que é suspeito é a unanimidade da acusação e a globalidade de seu objeto; de maneira que nenhum colonizado é salvo, nem nunca poderia ser” p. 119. “Por meio de sua acusação, o colonizador institui o colonizado como ser preguiçoso” “O colonizado não é livre para decidir se é colonizado ou não colonizado” p. 124. “Um colonizado que dirige um automóvel é um espetáculo com o qual o colonizado se recusa a se acostumar; nega-lhe toda normalidade, como uma pantomima simiesca” p. 124. “A ideologia de uma classe dirigente, como se sabe, se faz adotar em larga escala pelas classes dirigidas” p. 125. “Para que o colonizador seja completamente o senhor, não basta sê-lo objetivamente; é preciso ainda que ele creia em sua legitimidade; e para que essa legitimidade seja completa, não basta que o colonizado seja objetivamente escravo, é necessário que ele se aceite como tal. Em suma, o colonizado deve ser reconhecido pelo colonizado” p. 126. “Assim como o colonizador é tentado a aceitar-se como colonizador, o colonizado é obrigado, para viver, a aceitar-se como colonizado” p. 127. Que o fez seringueiro? Quem o fez seringalista? A economia gomífera impõe a distinção. Era necessário que irmãos nordestinos se odiassem um ao outro, que um oprimisse o outro e que ambos fossem espoliados por um acima deles. A situação do colonizado p. 129. “Podemos dizer que a colonização fabrica colonizados, assim como vimos que fabrica colonizadores” p. 132. “Munido apenas de sua língua, o colonizado é um estrangeiro em seu próprio país” p. 147. “Curioso destino o de escrever para um outro povo que não o seu! Mais curioso ainda é escrever para os vencedores do seu povo!” p. 150. “O esmagamento do colonizado está compreendido nos valores colonizados. Quando o colonizado adota esses valores, adota também sua própria condenação” p. 164. - os primeiros homens são sempre os portadores da moral universal. CONCLUSÃO “Chega o dia em que o colonizado reergue a cabeça e faz oscilar o equilíbrio sempre instável da colonização” p. 188. “A simples existência do colonizador cria a opressão, e só a liquidação completa da colonização permite a libertação do colonizado” p. 188. “O que tem menos de trinta anos já não compreende a moderação dos mais velhos” p. 189.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

TRATADO DE PETRÓPOLIS

“É fora de dúvida que teoricamente, isto é, baseado em tratados, convenções, etc., só o Peru e a Bolívia têm o direito de pretender ou discutir a soberania do Acre e terras que o circundam” (Genesco de Castro, p. 21). HISTÓRIA DA BOLÍVIA (Júlio Chiavenato. Bolívia com a pólvora na Boca) - Tornou-se parte do império Inca no século XV. Quando os espanhóis chegaram no século XVI, a Bolívia, rica em depósitos de prata, foi incorporada no vice-reino do Pelo, e mais tarde no de La Plata. - 1524: Francisco Pizarro[1], Diego de Almagro e Hernando de Luque lideraram a conquista espanhola do Império Inca. - As colônias espanholas na América Latina estavam divididas em quatro VICE-REINOS: Nova Espanha; Nova Granada, Peru e Prata. - O Alto Peru, inicialmente parte do Vice-reinado do Peru, juntou-se ao novo Vice-reinado do Rio da Prata (sendo a capital Buenos Aires) quando foi criado em 1776. Em 1784, a Espanha estabeleceu quadro intendências distritais no Alto Peru, cobrindo as atuais repartições administrativas de La Paz, Cochabamba, Potosí e Chuquisaca. - Em 1782 o Alto-Peru se desliga do Vice-Reino de Lima e passa a fazer parte do Vice-Reinado de LA PLATA (hoje Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia). - 26 de maio de 1825: Bolivar cria a República do Alto-Peru (que passaria a chamar Bolívia, a partir de 6 de agosto). - GRANDE SECA (1876-79) – 20 mil morrem. - TERREMOTO (1877) - PESTE (1877) – dizimou sua lavroura. - GUERRA COM O CHILE (1879-82) - a Bolívia perdeu seu acesso ao mar. - GUERRA CIVIL (1899) - Implantação Liberal (1899) – Golpe do General Pando. - - - - - -- -- - - É um paíse saqueado, perdeu mais de três quartos de seu território. “País do exército que perde todas as batalhas contra o invasor, mas que venceu todas contra seu próprio povo” (CHIAVENATO). Brasil, Paraguai, Chile e Argentina colocam suas réguas e dividem esse país. Geopolítica – fome territorial dos sub-imperialistas. - País em que os Generais dão golpe de Estado para assegurar o contrabando de cocaína. 85% do país é formado por etnias indígenas. - Sua economia é baseada na exportação de estanho. “O exército boliviano era um amontoado de famintos” (CHIAVENATO). CONCLUSÃO: diante da caótica situação, a Bolívia não tinha condição de estabelecer a ORDEM no Acre. A Bolívia e o Acre - As terras apareciam nos Mapas Bolvianos como “Tierras Non Descobiertas[2]”. - A Bolívia não colonizou o Acre por que: a) sua atenção econômica estava voltada para a extração de ouro e prata; b) a mão-de-obra escrava estava quase totalmente alocada nas minas; c) tinha sua penetração dificultada pelos seringalistas brasileiros e pelo governo amazonense. d) Até chegar ao Acre exigia uma caminhada de 2 mil km pela selva. - 02 de janeiro de 1899: Fundação da Alfândega (Aduana) Boliviana. Os Amazonenses perdem o direito de cobrar impostos sobre a produção da borracha (medo da crise fiscal). Dentre os vários decretos permitiu a navegação estrangeira ao rio amazonas. A polêmica fez Paravicini revogá-la. Nomeou vários brasileiros como funcionários. - Após a deposição dos bolivianos por José Carvalho, o Governo Andino passa a negociar com os EUA. A trama é denunciada por Galvez. *1901-1902: o ano mais boliviano no Acre. *1902 – 1º de julho - Formação da Junta Revolucionária (Joaquim Vitor, Rodrigo de Carvalho, José Galdino, Gentil Norberto e Plácido de Castro). Os três primeiros já envolvidos com atentados anteriores. *1902 – 03 de dezembro (Barão de Rio Branco é nomeado como Ministro das Relações Exteriores). *1903 – 15 a 24 de janeiro (Vitória de Plácido de Castro – conquista Porto Acre). A tropa foi formada por seringueiros do Bom Destino, São Jerônimo e Caquetá. *1903 – 21 de março (MODUS VIVENDI). - BARÃO DE RIO BRANCO ficou com medo do confronto entre as tropas do presidente Pando e as de Plácido de Castro. - Por isso, manda o General Olímpio com uma tropa de 3 mil homens para o local (mais um couraçado, um contra-torpedo e um cruzador). O objetivo era manter a paz até que as negociações diplomáticas terminassem (Paz Armada)[3]. *1903 – 28 de janeiro (Decreto nº 03 de Plácido de Castro, define os limites do Estado Independente do Acre). RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS ENTRE BRASIL E BOLÍVIA - O Brasil Imperial chegou a impedir que bolivianos navegassem pelo rio Amazonas. Isso só mudou por ocasião da Guerra do Paraguai (1864-1870). Tratado de Ayacunho (27 de março de 1867) - Foi assinado sem que ambos conhecessem a região. Não houve Comissões Demarcatórias. - Foi assinado Malgarejo oprimia os indígenas. - A linha BENI-JAVARI foi substituída pela MADEIRA-JAVARI. - O artigo 11 fazia referência ao UTI POSSIDETIS. - 1870: Comissão Demarcatória liderada pelo Visconde de Maracaju. - 1878: Outra tentativa de levar a efeito o tratado com a Comissão Demarcatória liderada pelo Barão de Paima. As duas comissões fracassaram. A partir daí. O Tratado é esquecido. Protocolo de 19 de fevereiro de 1895 - Estabelecimento de uma Comissão Demarcatória com o fim de estabelecer os limites do Tratado de Ayacucho. - Brasil: Cel. Thaumaturgo de Azevedo. Bolívia: José Manuel Pando. - Sob pressão do Ministro Castro Cerqueira, Thaumaturgo de Azevedo pede demissão e dá lugar à Cunha Gomes. Acordo Medina-Carvalho, em 14 de junho de 1895 - O ministro boliviano Frederico Medina veio ao Brasil para discutir o processo demarcatório. O acordo foi assinado, no entanto, o Congresso Nacional brasileiro não o aprovou. Linha Cunha Gomes (1898)[4] - Resultado do acordo entre Brasil e Bolívia. “Da confluência do Rio Beni com o Mamoré (onde começa o rio madeira), para o este seguirá a fronteira por uma paralela (linha) tirada da sua esquerda, na latitude 10º 20’ até encontrar a nascente do Rio Javari” (7º 17’). - O Congresso Nacional também ainda me parece que não havia aprovado a dita Linha. Bolivian Syndicate (1899-1903). - A idéia foi do embaixador boliviano em Londres Félix Aramayo. - O objetivo era barrar o ímpeto revolucionário (conter o imperialismo brasileiro) e agilizar a exploração econômica da região. - Tinha como um dos chefes o filho do presidente Roosevelt. - Aramayo dizia que o Brasil queria fazer uma “América do Sul para os brasileiros”. - Se propagou que o Sindicato era uma forma de amenizar os conflitos raciais nos EUA. Diziam que uma migração de negras para a região estava sendo organizada. TRATADO DE PETRÓPOLIS (17 de Novembro de 1903)[5]. - Foi assinado diante da região dominada militarmente pelo Brasil. - Evitou que organizações financeiras internacionais tivessem lugar na região. - Põe fim ao Estado do Acre Meridional, a que Plácido de Castro administrava. CONCLUSÃO: a) a Bolívia teria trânsito livre nos rios acreanos; b) 2 milhões de libras esterlinas; c) construção da ferrovia Madeira-Mamoré[6] (350 quilômetros), tinha o objetivo de transportar matérias-primas à Bolívia. d) cessão de terras no Mato Grasso. [1] Dezessete cavalos e 200 aventureiros foram suficientes para dominar o Império Inca com 15 milhões de habitantes. [2] Era longe dos centros administrativos. Era de difícil acesso. [3] Manteve tropas no local forçando a Bolívia assinar o Tratado. “A Bolívia nada mais havia que fazer se não entregar o território”. [4] Vale dizer que até o momento a região banhada pelo Rio Acre, Yaco e Purus era administrada pelo município amazonense chamado Floriano Peixoto. [5] Ler Cláudio Araújo Lima que diz que a solução foi boa para a Bolívia por ter evitado a presença yanke na região. [6] Concluída em 1912, a Madeira–Mamoré foi construída por 30 mil trabalhadores, dos quais 6 mil perderam a vida na empreitada (daí muitos a chamarem de “Ferrovia da Morte”). A importância econômica da Madeira–Mamoré foi efêmera. Em 1912, o Sudeste Asiático já despontava como o novo centro produtor que desbancaria a borracha brasileira. Mais tarde, a própria Bolívia perderia seu interesse pela ferrovia, pois uma estrada de ferro construída pelo Chile passou a ligá-la ao Oceano Pacífico de forma rápida e muito mais barata. Na década de 1960, o governo brasileiro finalmente desativou a Estrada de Ferro Madeira–Mamoré, da qual restam hoje em operação 27 quilômetros, utilizados apenas para fins turísticos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

TEORIA: A HISTÓRIA FALADA

História Falada

História do Negro no Brasil

Livro - Uma Historia Do Negro No Brasil

Criacionismo x Evolucionismo

Philip Yancey - Feito de Um Modo Especial e Admirável

LIVRO: Da Monarquia à República - Emilia Viotti.

Emilia Viotti Da Costa - DA MONARQUIA À REPÚBLICA (Momentos Decisivos

O ACRE POR UM CAVALO BRANCO

Por Marcos Vinícius Neves (*)
É normal para os brasileiros, que estudam ou trabalham na Bolívia, ouvirem uma estranha história de que o Acre foi trocado com o Brasil por um cavalo branco. É uma história estranha porque aqui, no Brasil, não conhecemos essa história, mas basta conversar um pouco com os bolivianos pra descobrir de onde surgiu isso.
Dizem os bolivianos que, infelizmente para eles, tiveram durante um período de sua história um presidente louco chamado Mariano Melgarejo. Coube a esse Presidente, ridicularizado por seu próprio povo, negociar com o Brasil a questão de limites entre os dois países no período da Guerra do Paraguai.
Isso era importante para o Brasil porque interessava ao governo brasileiro neutralizar qualquer possibilidade da Bolívia se unir ao Paraguai na guerra que estava sendo travada entre esse país e a coalizão formada por Brasil, Argentina e Uruguai. Por isso, sob pressão, o governo brasileiro se propôs a rever o Tratado de Madri (1750), que até então definia a fronteira entre o Brasil e a Bolívia.Entretanto, o consul brasileiro na Bolívia, Regino Correa, conhecendo a paixão do presidente Melgarejo por cavalos, antes mesmo de iniciar as negociações, o condecorou com uma medalha e lhe deu de presente um casal de lindos cavalos brancos de raça.
Contam que o Presidente boliviano ficou tão feliz com o presente recebido que na hora da negociação deu de presente para o Brasil dois dedos de terra marcados no mapa, uma vez que se tratava de terras despovoadas. Com isso, a linha divisória, que a partir de 1750 era reta, passou a ser oblíqua, dando origem à linha imaginária conhecida hoje como Linha Cunha Gomes.Entretanto, essas terras ao norte da linha oblíqua Cunha Gomes, não pertencem ao Acre, mas hoje fazem parte do território do Estado do Amazonas.
Sendo que as terras ao sul da linha Cunha Gomes foram conquistadas pela luta dos brasileiros do Acre durante a Revolução Acreana e legalmente anexadas ao Brasil através do Tratado de Petrópolis (1903), assinado com a Bolívia, e do Tratado do Rio de Janeiro (1909), assinado com o Peru.A seguir textos mais antigos, já publicados, que detalham um pouco melhor a questão dos Tratados de Limites.
(*) O historiador Marcos Vinícius Neves é presidente da Fundação Garibaldi Brasil.