quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Resumo de livro: PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo.


PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1996.

BIOGRAFIA (Francisco Iglésias)[1]
- Nasceu em fevereiro de 1907 e Morreu em novembro de 1990[2] [83 anos]
- Foi historiador, economista, geógrafo, político e filósofo;
- Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo (1928), onde mais tarde seria livre-docente de Economia Política.
- Toda sua obra é marcada pelo sentido pragmático de luta. Inaugurou a historiografia de tradição marxista no Brasil.
- Filho de pai rico, estudou nos melhores colégios de São Paulo. Quando adolescente, estudou um ano na Inglaterra.
- Como intelectual teve importante atuação política ao longo das décadas de 1930 e 1940, tendo participado das articulações para a Revolução de 1930 (23 anos).
- Participou da Guerra Civil Espanhola.
- Anos 30: fundação da USP e dos Cursos de Ciências Sociais. O marxismo ainda não é tão forte. Surgimento dos EUA como potência.
- 1924-28: Faz o curso de Direito em São Paulo.
- 1931: aos 24 anos se fila ao PCB.[3]
- 1933: estreou na vida acadêmica com o livro Evolução Política do Brasil, aplicando o pensamento marxista na abordagem dos fenômenos históricos. “Ensaios de interpretação materialista da história econômica”. Livro síntese. Caracteriza o período colonial, às vezes, como feudal.
- 1934: Fundou a Associação dos Geógrafos Brasileiros. Viaja para Rússia e depois publica “Rússia: um novo mundo”. Livro cassado por Getúlio Vargas.
- Vice-presidente da Aliança Nacional Libertadora. Fica preso por dois anos e vai para a Europa[4];
- 1937: Golpe de Getúlio Vargas.
- 1942: Formação do Brasil Contemporâneo[5];
- 1943: Funda a Editora Brasiliense, por influência de Monteiro Lobato.
- 1945: História Econômica do Brasil.
- 1945: Deputado Estadual Paulista – PCB.
- 1948: Deputado Constituinte Nacional (cassado no mesmo ano); Gilberto Freire também?
- 1952: Dialética do Conhecimento.
- 1957: Esboço de Fundamentos da Teoria Econômica;
- 1962: O Mundo Socialista.
- 1964: sofre perseguição da Ditadura Militar, foi proibido de lecionar. Gilberto Freire apoia o “Golpe”.
- 1966: A Revolução Brasileira. Uma análise dos rumos do país após o movimento de 1964.
- 1966: foi eleito o Intelectual do Ano, com a conquista do Prêmio Juca Pato;
- 1971: Estruturalismo de Lévi-Strauss - O Marxismo de Louis Althusser;
- 1972: História e Desenvolvimento;
- 1979: A Questão Agrária no Brasil;
- 1980: O que é Liberdade;
- 1981: O que é Filosofia;
- 1983: A Cidade de São Paulo.

INTRODUÇÃO
- Ainda é a obra mais relevante sobre o período colonial.
“O início do século XIX não se assinala para nós unicamente por estes acontecimentos relevantes que são a transferência da sede da monarquia portuguesa para o Brasil e os atos preparatórios da emancipação política do país. Ele marca uma etapa decisiva em nossa evolução e inicia em todos os terrenos, social, político e econômico, uma FASE NOVA” p. 9.
- Constitui-se num balanço final de três séculos de colonização.
“Constitui uma chave, e chave preciosa e insubstituível para se acompanhar e interpretar o processo histórico posterior e a resultante dele que é o Brasil de hoje” p. 9.
“Alcança-se aí o instante em que os elementos constitutivos da nossa nacionalidade […] entra-se então na fase propriamente do Brasil Contemporâneo” p. 9.
- Não era o regime de subordinação colonial que estava em jogo, mas sim o “conjunto das instituições, o sistema colonial na totalidade de seus caracteres econômicos e sociais” p. 9.
“A obra colonizadora dos portugueses, na base em que assentava, e que em conjunto forma aquele sistema, esgotar suas possibilidades” p. 9.
“O Brasil contemporâneo se define assim: o passado colonial que se balanceia e encerra com o século XVIII, mais as transformações que se sucederam no decorrer do centenário anterior a este e no atual. Naquele passado se constituíram os FUNDAMENTOS da nacionalidade: povoou-se um território semi-deserto, organizou-se nele uma vida humana que diverge tanto daquela que havia aqui, dos indígenas e suas nações, como também, embora em menor escala, da dos portugueses que empreenderam a ocupação do território” p. 10.
“Criou-se no plano das realizações humanas algo de novo […] uma organização social definida por relações específicas; finalmente, até uma consciência, mais precisamente certa ATITUDE MENTAL coletiva particular” p. 10.
“Os sintomas de cada um dos caracteres vão aparecendo no curso de toda nossa evolução colonial; mas é no termo dela que se completam e, sobretudo, se definem nitidamente ao observador” p. 10.
“Entremos então em NOVA FASE” p. 10.
- A colonização deu fruto a um “organismo social completo e distinto” p. 10.
“É por isso, que para compreender o Brasil contemporâneo, precisamos ir tão longe” p. 10.
“O passado, aquele passado colonial que referi acima, aí ainda está, e bem saliente; em parte modificado, é certo, mas presente em traços que não se deixam iludir. Observando-se o Brasil de hoje, o que salta à vista é um organismo em franca e ativa transformação e que não se sedimentou ainda em linhas definidas; que não tomou forma” p. 10-11.
“[...] sente-se a presença de uma realidade já muito antiga que até nos admira de aí achar e que não é senão aquele passado colonial” p. 11.
“No terreno econômico, por exemplo, pode-se dizer que o trabalho livre não se organizou ainda inteiramente em todo país […] O mesmo poderíamos dizer do caráter fundamental da nossa economia, isto é, da produção extensiva para o mercado do exterior, e da correlata falta de um largo mercado interno solidamente alicerçado e organizado. Donde a subordinação da economia brasileira a outras estranhas a ela […] Numa palavra, não completamos ainda hoje a nossa evolução da economia colonial para a nacional” p. 11.
- Em relação ao terreno social, as relações coloniais prevaleceram.
“Os problemas brasileiros de hoje, os fundamentais, pode-se dizer que já estavam definidos e postos em equação há 150 anos atrás” p. 12.
“Faço primeiro um balanço geral da colônia em princípios do século passado, ou antes, naquele período que cavalga os dois séculos que precedem imediatamente o atual; teremos então uma síntese do Brasil que saía, já formado e constituído, dos três séculos de evolução colonial; e tal será o objeto deste primeiro volume. As transformações seguintes, que nos trouxeram até o estado atual virão depois” p. 13.

SENTIDO DA COLONIZAÇÃO
“Todo povo tem na sua evolução, vista a uma certa distância, um sentido. Isso se percebe no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que constituem num largo período de tempo” p. 19.
“Quem observa aquele conjunto […] não deixará de perceber que ele se forma de uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em ordem rigorosa e dirigida sempre numa determinada orientação. Isso é que se deve procurar quando se aborda a análise da história de um povo […] porque todos os momentos e aspectos não são senão partes, por si só incompletas, de um todo que deve ser sempre o objetivo último do historiador” p. 19.
“Povo, país, nação, sociedade […] aquela unidade que lhe permite destacar uma tal parcela humana para estudá-la à parte” p. 19.
“O sentido da evolução de um povo pode variar” p. 19.
“Visto de um ângulo geral e amplo, a evolução de um povo se torna explicável” p. 20.
“Os pormenores e incidentes que constituem a trama de sua história ameaçam nublar o que VERDADEIRAMENTE forma a LINHA MESTRA que a define” p. 19.
- Se deixar de lado esses por menores, só então “nos é dado alcançar o sentido daquela evolução, compreendê-la, explicá-la” p, 19.
- O autor diz não precisar de toda história do Brasil e que por isso parte do “final do período de colônia […] um elo da mesma cadeia que nos traz desde o nosso mais remoto passado” p. 20.
“Não sofremos nenhuma descontinuidade no correr da história da colônia […] aquele momento se apresenta como um termo final e a resultante de toda nossa evolução anterior” p. 20.
“precisamos reconstituir o conjunto de nossa formação colocando-a no amplo quadro, destes três séculos de atividade colonizadora que caracterizam a história dos países europeus do século XV; atividade que integrou um novo continente na sua órbita” p. 20.
“Mundo moderno, em que a Europa, ou melhor, sua civilização, se estenderia dominadora por toda parte […] a ocupação e povoamento do Brasil não é senão um episódio, um pequeno destaque daquele quadro imenso” p. 20.
“A colonização portuguesa na América […] é apenas a parte de um todo, incompleto sem a visão deste todo” p. 20.
- A colonização aparece como um acontecimento natural após o descobrimento.
- ESTREITO DE GILBRALTAR: “[...] se revelará profunda e revolucionária todo o equilíbrio europeu, foi deslocar a primazia comercial dos territórios centrais do continente […] para aqueles que formam a sua fachada oceânica: Holanda, Inglaterra, Normandia, Bretanha e Península Ibérica” p. 21.
“Em suma e no essencial, todos os grandes acontecimentos desta era, que se convencionou com razão chamar de “descobrimentos”, articulam-se num conjunto que não é senão um capítulo da história do comércio Europeu” p. 22.
“É sempre como traficantes que os vários povos da Europa abordarão cada uma daquelas empresas que lhes proporcionarão sua iniciativa, seus esforços, o acaso e as circunstâncias do momento em que se achavam” p. 23.
“Tudo isto lança muita luz sobre o espírito com que os povos da Europa abordam a América. A idéia de povoar não ocorre inicialmente a nenhum. É o comércio que os interessa, e daí o relativo desprezo por este território primitivo e VAZIO que é a América” p. 23.
“Ocupar com povoamento efetivo, isto só surgiu como contingência, necessidade imposta por circunstâncias novas e imprevistas [...] nenhum povo da Europa estava em condições naquele momento de suportar sangrias na sua população (por conta da peste negra” p. 24.
“Fala-se em colonização, mas o que o termo envolve não é mais que o estabelecimento de feitorias comerciais” p. 24.
“Na América a situação se apresenta de forma inteiramente diversa: um território primitivo habitado por rala população indígena incapaz de fornecer qualquer coisa de realmente aproveitável” p. 24.
“Para os fins mercantis que se tinham em vista, a ocupação não se podia fazer como nas simples feitorais, com um reduzido pessoal incumbido apenas do negócio, sua administração e defesa armada; era preciso ampliar estas bases, criar um povoamento capaz de abastecer e manter as feitorias [...] A idéia de povoar surge daí, e só daí” p. 24.
“Os problemas de novo sistema de colonização, envolvendo a ocupação de TERRITÓRIOS QUASE DESERTOS E PRIMITIVOS” p. 25.
“Durante mais de dois séculos despejar-se-á na América todo resíduo das lutas político-religiosas da Europa” p. 26.
“O tabaco, originário da América e por isso ignorado antes do descobrimento, não teria, depois de conhecido, menor importância” p. 28.
“O colono europeu ficará então aí na única posição que lhe competia: de dirigente e grande proprietário rural” p. 30.
- No Brasil, “não se chegou nem a ensaiar o trabalho branco [...] em Portugal, a que pertencia à maioria delas, havia, não havia como na Inglaterra, braços disponíveis, e dispostos a emigrar a qualquer preço. Em Portugal, a população era tão insuficiente que a maior parte do seu território se ainda, em meados do século XVI, inculto e abandonado” p. 30.
“As colônias tropicais tomaram um rumo inteiramente diverso do de suas irmãs da zona temperada [...] uma sociedade à semelhança do seu modelo e origem europeus; nos trópicos, pelo contrário, surgirá um tipo de sociedade inteiramente original” p. 30.
“A colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais completa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar, os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu” p. 31.
“Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros, mais tarde ouro e diamante; depois, algodão, e em seguida, café, para o comércio europeu” p. 32.

Cap. 1 – Povoamento (p. 35).



 POVOAMENTO
“As estatísticas demográficas que possuímos da colônia são extremamente escassas. Não havia coleta regular e sistemática de dados, e faziam-se levantamentos apenas para dois fins especiais e restritos: um eclesiástico, outro militar [...] só pelos últimos anos do século XVIII, a metrópole cogitou da organização de estatísticas gerais e sistemáticas” p. 35.
“[...] 4.400.000, incluindo os índios não domesticados que se avaliavam, sem grande base em 800.000. São estes, em suma, os dados mais seguros que possuímos” p. 36.
“A sua distribuição pelo território da colônia é grandemente irregular” p. 36.
“[...] forma o Território do Acre, e que não fazia ainda parte do Brasil, nem se achava ocupada” p. 36.
“Concorrem em seguida, para a expansão interior, dois fatores essenciais: o bandeirismo prendedor de índios e prospector de metais e pedras preciosas” p. 37.
“[...] 60% da população colonial, ou sejam, quase 2.000.000 de habitantes, concentram-se numa faixa litorânea que não ultrapassa para o interior [...] Este desequilíbrio entre o litoral e o interior exprime muito bem o caráter predominante da colonização: AGRÍCOLOA – donde a preferência pelas férteis, úmidas e quentes baixadas da marinha; e COMERCIALMENTE voltada para o interior, onde estão os mercados para seus produtos” p. 39.
“Excluo as BANDEIRAS, que andaram por toda parte, mas que exploram apenas e não fixam povoadores [...] A dispersão pelo interior, intensa e rápida, é da primeira metade do século XVIII, quando o outro, descoberto sucessivamente em Minas Gerais, Cuiabá e Goiás desencadeia o movimento” p. 39.
“A decadência franca é do terceiro quartel do século. Cessa então a corrente de povoamento para o interior; e até em muitos casos ela se inverte. Renasce o litoral e a agricultura recupera a primazia” p. 40.
“Em conjunto, nosso litoral se apresenta pouco favorável ao estabelecimento do homem [...] os raros pontos favoráveis foram, por isso, avidamente aproveitados” p. 40.

POVOAMENTO INTERIOR
“Já me referi aos fatores principais que determinaram a penetração do povoamento pelo vasto interior da colônia [...] Foram tais fatores a mineração e a dispersão das fazendas de gado” p. 55.
“No extremo-norte, na Amazônia, atuam circunstâncias locais e próprias” p.55.
“Entre a mineração e o avanço dos rebanhos ocorre, no que diz respeito ao povoamento, uma primeira diferença [...] a primeira impele o homem num arranco brusco, do litoral para o coração do continente; não há contigüidade na expansão: os núcleos mineradores vão surgir muito longe dos pontos de partida das correntes migratórias ]...] coisa muito diversa se passa com a penetração levada pelas fazendas de gado [...] as fazendas, e com elas o povoamento, vão-se espraiando paulatinamente para o interior” p. 56.
“[...] ao contrário do povoamento provocado pela mineração, não se constitui de núcleos que surgem isolados do interior e largamente agastados uns dos outros, bem como de seus centros de origem no litoral” p. 56.
“As regiões mineradoras não eram favoráveis nem à agricultura nem à pecuária” p. 57.
- O segundo grande núcleo de povoamento derivado da mineração foi a capitania de Mato Grosso. P. 58.
- O terceiro grande núcleo foi GOIÁS.
“A comarca do norte de Goiás sofria duramente da hostilidade dos índios” p. 60.
“Já afirmei acima que à pecuária se deve a ocupação de boa parte do território da colônia, e calculado em área efetivamente colonizada, ela ultrapassa a mineração” p. 61.
- Sobre o nordeste: p. 61.
- A colonização iniciou-se a partir de dois focos principais: Bahia e Pernambuco.
“É na margem dos poucos rios perenes que se condensa a vida humana” p. 63.
 “Um fundo escasso de população pastoril, concentrada nas bacias de alguns rios perenes [...] Sobre este fundo pastoril condensam-se em certos pontos núcleos de população mais concentrada e de nível econômico mais elevado e diferenciado [...] Numa síntese, é esta a estrutura do povoamento nordestino” p. 64-65.
“Volvamos agora para o outro extremo da colônia, que também se povoou com fazendas de gado: o sul” p. 65.
“À pecuária juntou-se aí um pouco de agricultura” p. 65.
- O caso de São Paulo (p. 66-68).
“As grandes fontes da vida paulista serão o comércio de escravos indígenas, preados no alto sertão e vendidos nos centros agrícolas do litoral” p. 67.
- A região norte “Ele se fez e se manteve isolado do resto do país [...] a Amazônia ficará à margem deste sistema que constitui o resto da colônia [...] Forma-se e evoluirá por conta própria” p. 68.
“Se apesar de tudo isto a bacia amazônica entrou na órbita da colonização luso-brasileira e fugiu à dominação espanhola, a que pertencia na maior parte do seu território pelo direito inconteste de Tordesilhas, é que na face portuguesa do continente sul-americano se abre sua única via de acesso cômodo e fácil” p. 69.
“[...] o castelhano, vindo em sentido contrário, e que teve de fazer caminho através das ásperas quebradas dos Andes, em três mil quilômetros para o interior” p. 69.
“E a Amazônia se tornou brasileira” p. 69.
“Para efeitos da colonização, o grande rio e seus afluentes se apresentaram como um verdadeiro prolongamento do litoral” p. 69.
“O povoamento se disseminou por isso linearmente, em pequenos núcleos ribeirinhos ao longo das artérias fluviais. Além deste povoamento fixo, há outra forma de ocupação humana nesta região de colheita dos frutos espontâneos da floresta: é a intermitente das expedições que vão anualmente à estação própria, percorrer o alto curso dos rios à cata de produtos” p. 69.
“Esta região (rio negro) será assim a mais povoada do alto Amazonas, até que a borracha, quase um século depois, faça surgir do DESERTO os estabelecimentos do Alto Purus e Juruá” p. 70.

CORRENTES DE POVOAMENTOS
- Três fases do povoamento do Brasil: “A primeira, que se inaugura com a colonização e vai até fins do século XVII [...] o século XVIII abre-se com a revolução demográfica que provoca a descoberta do ouro no centro do continente [...] sem esta análise, ter-se-ia uma pálida idéia apenas do povoamento brasileiro nas vésperas de nossa emancipação política” p. 72.
“O que interessa aqui é notar que a colonização não se orienta no sentido de constituir uma base econômica sólida e orgânica, isto é, a exploração racional e coerente dos recursos do território para a satisfação das necessidades materiais da população que nela habita” p. 73.
“A Seca Grande de 1793-3 foi o último e quase mortal golpe sofrido, no século XVIII, pelos sertões do nordeste. Já referi que é esta a causa principal por que a região perdeu seus mercados nos grandes centros agrícolas do litoral norte” p. 74.
“Analise acima a evolução do povoamento de São Paulo e a decadência que atinge a capitania no correr do século XVIII” p. 81.
“Em fins do século a mineração já se achava inteiramente abandonada e substituída pela agricultura” p. 84.
“Em suma, o que se deve reter desta análise dos movimentos demográficos no centro-sul da colônia, no período que ora nos ocupa, é a sua extrema complexidade. Vemos as correntes povoadoras se cruzarem e entrecruzarem [...] territórios virgens são devassados e ocupados [...] o eixo econômico do Brasil se desloca definitivamente para este setor. A mineração o levara do norte açucareiro para o centro do território da colônia. Ele se fixará agora neste setor que compreende as capitanias do Rio de Janeiro e São Paulo” p. 84.
“Das três raças que entraram na constituição do Brasil, duas pelo menos, os indígenas e africanos, trazem à baila problemas étnicos muito complexos. Se para os brancos ainda há uma certa homogeneidade, que no terreno puramente histórica pode ser dada como completa, o mesmo não ocorre com os demais” p. 85.
“No caso dos índios, o avanço da colonização, a ocupação do território, a maior ou menor facilidade com que prestam seu concurso ao colono branco, com ele coabitam e se amalgamam, contribuindo assim para as características étnicas do país” p. 84.
RAÇAS
“[...] estudo da composição étnica do Brasil, em tomar as três raças como elementos irredutíveis, considerar cada qual unicamente na sua totalidade” p. 86.
“O branco, que até princípios do século XIX, entra na composição da população brasileira, é quase só de origem portuguesa” p. 86.
“É praticamente nula a participação não lusitana no Brasil dos primeiros anos do século XIX” p. 87.
“O recrutamento dos colonos deste tipo se fez, sobretudo, nos Açôres, que sempre constituíram um viveiro demográfico a braços com excessos de população que o reduzido território das ilhas não comportava [...] ao Pará chegaram os primeiros açorianos em 1673”. P. 89.
“No sul, esta forma de colonização por açorianos é mais importante, e é ela que constituirá o fundo principal do povoamento de Santa Catarina” e do Rio Grande do Sul” p. 90.
“Aquelas relações entre colonos e índios nunca foram além de uma simples aliança de igual para igual” p. 91.
“Aqui no Brasil tratou-se desde o início de aproveitar o índio, não apenas para obtenção dele, pelo tráfico mercantil, de produtos nativos, ou simplesmente como aliados, mas sim como elementos participantes da colonização. Os colonos viam nele um trabalho aproveitável” p. 91.
“O que Portugal podia pretender, e de fato pretendeu como nação colonizadora de um território imenso para o que não lhe sobrava população suficiente, era utilizar todos os elementos disponíveis; e o índio não podia ser desprezado na consecução de tal fim” p.92.
“À escravidão sumária e exploração brutal do índio pelo colono o jesuíta opôs o segregamento, o isolamento dele”.
“Tese jesuíta da liberdade dos índios, da necessidade de educa-los e os preparar para a vida civilizada” p. 93.
“A legislação pombalina [...] regularizou definitivamente o problema indígena [...] desaparece com ela a escravização do índio” p. 95.
“O incremento do tráfico africano, que é fomentado depois das leis pombalinas, particularmente para as capitanias cuja mão-de-obra fora até então constituída quase exclusivamente de índios” p. 95.
- Índios na Amazônia. P. 96.
“Os índios, o que quer dizer a quase totalidade da população, viviam segregados dos colonos e sob a jurisdição exclusiva das missões” p. 97.
“A verdadeira língua era o tupi, universal e exclusivamente utilizada” p. 98.
“É a isto que a legislação pombalina obviou. Por efeito dela e do contato mais íntimo que estabelece entre a massa indígena e o elemento branco, aquela massa vai aos poucos, embora através de crises dolorosas, integrando-se na população geral, e confundindo-se com ela” p. 98.
“A mestiçagem, que é o signo sob o qual se forma a nação brasileira, e que constitui sem dúvida o seu traço característico mais profundo e notável, foi à verdadeira solução encontrada pela colonização portuguesa para o problema indígena” p. 98.
- A Legislação Pombalina foi abolida em 1798. “Equiparam-se então os índios, a todos os respeitos, aos demais súditos da coroa, suprimindo a tutela dos diretores [...] impõe-se aos índios a obrigação de trabalhadores, mediante remuneração” p. 98.
“Em certos pontos da colônia organiza-se mesmo o tráfico de índios escravizados de uma para outra capitania” p. 100.
“Em troca de mercadoria européia, os índios forneciam os produtos naturais colhidos nas suas matas” p. 101.
- “índios bárbaros”, “índios selvagens”.
“A terceira grande área contínua de território povoado de índios selvagens ocupa a bacia do rio Paraná” p. 104.
“É isto, em suma, o que sobrava de índios selvagens no Brasil em princípios do século passado. Uma outra parte da população indígena é a dos mandos” p. 104.
“A aguardente se revelara o melhor estímulo para levar o índio para o trabalho” p. 105.
“A população indígena, em contanto com os brancos, vai sendo progressivamente eliminada e repetindo mais uma vez um fato que sempre ocorreu em todos os lugares e em todos os tempos em que se verificou a presença, de rapaz de níveis culturais muito apartados: a inferior e dominada desaparece. E não fosse o cruzamento, praticado em larga escala entre nós e que permitiu a perpetuação do sangue indígena, este estaria fatalmente condenado à extinção total” p. 106.
- Início do século XIX = 6 milhões de negros.
“A notável participação do elemento negro na população brasileira se exprime por números elevados: só os escravos constituíam um terço da população total, segundo os dados mais prováveis para os primeiros anos do século” p. 107.
“É este aliás o caráter mais saliente da formação étnica do Brasil: a mestiçagem profunda das três raças [...] numa orgia de sexualismo desenfreado que faria da população brasileira um dos mais variegados conjuntos étnicos que a humanidade jamais conheceu” p. 107.
“Os brancos pela imigração; os pretos pelo tráfico; os índios pela incorporação contínua de indivíduos” p. 107.
“A MESTIÇAGEM, signo sob o qual se formou a etnia brasileira, resulta da excepcional capacidade do português em se cruzar com outras raças” p. 107.
- O imigrante vem só. O colono imigra individualmente.
“A falta de mulheres brancas sempre foi um problema de toda colonização européia em territórios ultramarinos” p. 108.
“A mestiçagem brasileira é antes de tudo uma resultante do problema sexual da raça dominante, e por centro do colono branco”.
“Tudo que acabamos de ver diz respeito ao Brasil tomado EM CONJUNTO. Podemos reuni-las (as variantes regionais) em traços essenciais” p. 112.
“O preto e seus derivados dominam nas regiões de grande atividade econômica” p. 112.
- Norte: o índio prevalece. “Trata-se de região de nível econômico baixo” p. 113.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    
Cap. 2 – Vida Material (p. 119)

ECONOMIA
“No primeiro capítulo, em que procurei destacar o sentido da colonização brasileira, já se encontra o essencial do que precisamos para compreender e explicar a economia da colônia” p. 119.
“Aquele sentido é o de uma colônia destinada a fornecer ao comércio europeu alguns gêneros tropicais ou minerais de grandes importâncias: açúcar, algodão, outro, etc” p. 119.
“A nossa economia se subordina inteiramente a este fim, isto é, se organizará e funcionará para produzir e exportar aqueles gêneros. Tudo mais que nele existe, e que é, aliás, de pouca monta, será subsidiário e destinado unicamente a amparar e tornar possível a realização daquele fim essencial” p. 119.
“Na agricultura, depois falarei dos demais setores, o elemento fundamental será a grande propriedade monocultural trabalhada por escravos” p. 119.
“A grande exploração agrária – o engenho, a fazenda – é consequência natural e necessária de tal conjunto. Resulta de todas aquelas circunstâncias que concorrem para a ocupação e aproveitamento deste território que havia de ser o Brasil” p. 119.
“Já vimos no primeiro capítulo o tipo de colono europeu que procura os trópicos e nele permanece. Não é o trabalhador, o simples povoador; mas o explorador, o empresário de um grande negócio” p. 120.
“[...] construir na colônia um regime agrário de grandes propriedades” p. 120.
“A grande propriedade lavrada por trabalhadores dependentes, sejam escravos ou assalariados, ou bem formas intermediárias de trabalho, representa o sistema de organização agrária que sempre acaba dominando nos trópicos, mesmo quando outros são inicialmente tentados” p. 120.
“A monocultura acompanha necessariamente a grande propriedade tropical [...] a agricultura tropical tem por objetivo único a produção de certos gêneros de grande valor comercial e, por isso, altamente lucrativos” p. 121.
“O sistema da grande propriedade trabalhada por mão-de-obra inferior, como é a regra nos trópicos, não pode ser empregada numa exploração diversificada e de alto nível técnico” p. 122.
Com a grande propriedade monocultural instala-se no Brasil o trabalho escravo” p. 122.
A escravidão torna-se assim necessidade: o problema e a solução foram idênticos em todas as colônias tropicais e mesmo subtropicais da América” p. 122.
“No fim da era colonial, cerca de um terço da população colonial era composta de escravos negros” p. 122.
“Completam-se assim os três elementos constitutivos da organização agrária do Brasil: a) a grande propriedade; b) monocultura; c) trabalho escravo. Estes três elementos se conjugam num sistema típico, a Grande Exploração Rural, isto é, a reunião numa mesma unidade produtora de grande numero de indivíduos; é isto que constitui a célula fundamental da economia agrária brasileira. Como constituirá também a base principal em que assenta toda a estrutura do país, econômica e social” p. 122-123.
“O terceiro setor das grandes atividades fundamentais da economia brasileira é o extrativismo. Ela própria, quase exclusivamente do bale do Amazonas. Organizar-se-á de forma diferente, porque não terá por base a propriedade territorial” p. 123.
“Além disso, a extração não é uma atividade permanente, e se organiza de cada vez, para se dissolver logo depois da estação apropriada em que se efetua” p. 123.
- A pecuária e outras atividades não estão relacionadas com o comércio exterior, portanto, não caracteriza  a economia colonial brasileira.
“O que procuro é apenas destacar os elementos fundamentais e característicos da organização econômica da colônia” p. 124.
“Elas são a Grande Unidade Produtora, seja agrícola, mineradora ou extrativista” p. 24.
- A economia colonial é caracteriza pela concentração extrema da riqueza.
“Em suma essas são as características fundamentais da economia colonial brasileira: de um lado, esta organização da produção e do trabalho, e a concentração da riqueza que dela resulta; do outro, a sua orientação, voltada para o exterior e simples fornecedora do comércio internacional [...] não há na realidade modificações substanciais do sistema colonial nos três primeiros séculos de nossa história” p. 125.
“Em substância, nas suas linhas gerais e caracteres fundamentais de sua organização econômica, o Brasil continuava, três séculos depois do início da colonização, aquela mesma colônia visceralmente ligada, à economia da Europa; simples fornecedora de mercadorias para o seu comércio. Empresa de colonos brancos acionada pelo braço de raças estranhas, dominadas, mas ainda não fundidas na sociedade colonial” p. 125.
“As colônias existem e são estabelecidas em benefício exclusivo da metrópole” p. 126.
“O Brasil existia para fornecer-lhe ouro e diamante, açúcar, tabaco e algodão” p. 126.
“O resultado desta política, reduzido o Brasil à simples situação de produtor de alguns gêneros destinados ao comércio internacional, acabou por se identificar a tal ponto com a sua vida, que já não se apoiava unicamente em nossa subordinação de colônia, já não derivava apenas da administração do reino” p. 126.
“Não podíamos ser outra coisa mais que o que fôramos até então: uma feitoria da Europa, um simples fornecedor de produtos tropicais para seu comércio” p. 127.
- História econômica brasileira foi por ciclos.
“É assim que se formou e sempre funcionou a economia brasileira: a repetição no tempo e no espaço de pequenas e curas empresas de maior ou menor sucesso” p. 128.
“[...] característica fundamental é: de um lado, na sua estrutura, um organismo meramente produtor, e constituído só para isto: um pequeno número de empresários e dirigentes que senhoreiam tudo, e a grande massa da população que lhe serve de mão-de-obra [...] um fornecedor do comércio internacional dos gêneros que este reclama e de que ela dispõe [...] a exploração extensiva e simplesmente especuladora, instável no tempo e no espaço, dos recursos naturais do país” p. 129.
GRANDE LAVOURA
A agricultura é o nervo econômico da civilização. Com ela se inicia – se excluirmos o insignificante ciclo extrativo do pau-brasil – e a ela deve a melhor porção de sua riqueza. Numa palavra, é propriamente na agricultura que assentou a ocupação e exploração da maior e melhor parte do território brasileiro. A mineração não é mais que um parêntese; de curta duração aliás” p. 130.
“Os depósitos auríferos, ricos apenas na superfície do solo, se tinha esgotado, e não pagavam mais a sua exploração” p. 130.
- A revolução industrial tem reflexos no mundo colonial – “seus mercados se alargam, seus produtos se valorizam” p. 130.
“Todos os conflitos europeus, desde a guerra de sucessão da Espanha, e inclusive as guerras napoleônicas, têm sempre, como última causa, o problema colonial” p. 130.
“Aliás, estas guerras, cujo teatro principal é quase sempre nas grandes rotas marítimas, vão contribuir para a valorização dos produtos do ultramar, embaraçando e tornando escasso o seu fornecimento” p. 130.
“Os progressos técnicos do século XVIII permitirão o aproveitamento do algodão em medidas quase ilimitadas, e ele se tornará a principal matéria-prima do momento [...] O Brasil terá sua parte neste surto sem paralelo no passado do comércio algodoeiro” p. 131.
“Produzindo exclusivamente para o exterior, as atividades econômicas da colônia se fixam naturalmente próxima aos portos de embarque e exportação” p. 133.
“A desvantagem das capitanias do interior, neste terreno, é manifesta. Numa economia essencialmente exportadora como a da colônia, sua posição é excêntrica. Só com a agricultura, a colonização não teria penetrado o interior; e por isso que até o século XVII os portugueses continuavam a arranhar o litoral como caranguejos. São a mineração e a pecuária que tornaram possíveis e provocaram o avanço: a primeira por motivos óbvios, o valor considerável do outro e dos diamantes e do ouro; a segunda, para empregar a pitoresca fórmula do mesmo autor que acabei de citar acima, os gados não necessitam de quem os carreguep. 133.
“É no planalto (região produtora de açúcar) e não no litoral que São Paulo começa sua restauração e progresso” p. 134.
“De modo geral, é assim a faixa de território mais próxima do mar que é atingida pelo renascimento agrícola da colônia” p. 134.
“Para a instalação de novas culturas, nada de novo se realizara que o processo brutal, copiado dos indígenas, da QUEIMADA para o problema do esgotamento do solo [...] a mata [...] desaparecia rapidamente devorada pelo fogo” p. 135.
“A devastação da mata em larga escala ia semeando desertos estéreis atrás do colonizador” p. 136.
“O vácuo de matas que se ia formando em torno dos engenhos criava outros problemas igualmente sérios [...] a falta de lenha é uma das causas comuns do abandono de engenhos” p. 136.
- Nada faziam para melhorar o aproveitamento, a restauração ou a conservação das propriedades naturais do solo.
- O processo de lavrar o solo era primitivo, o instrumento agrícola era e enxada.
“O sistema geral da colonização fundada no trabalho ineficiente e quase sempre semibárbaro do escravo africano” p. 139.
“A colonização européia nos trópicos inaugurou ali um novo tipo de agricultura comercial extensiva e em larga escala” p. 140.
“A baixa produtividade da agricultura brasileira, e que acabará numa esterilização quase completa da área extensa (exceção o café)” p. 141.
“O que nos cabe concluir é que o baixo nível técnico das nossas atividades agrárias, e as consequências que teria não se devem atribuir unicamente à incapacidade do colono” p. 141.
- AGRICULTURA COLINIAL: a) Grande Lavoura; b) Agricultura de Subsistência.
“A grande lavoura representa o NERVO da agricultura colonial; a produção dos gêneros de consumo interno – a mandioca, o milho, o feijão – foi um apêndice dela, de expressão puramente subsidiária” p. 143.
“Outro aspecto que distingue a agricultura de subsistência da grande lavoura é a organização da produção” p. 143.
“O traço essencial das grandes lavouras é, como já afirmei, a exploração em larga escala” p. 143.
“O Brasil é um dom do açúcar. E ainda no termo da história colônia, representa seu principal esteio econômico” p. 144.
“O engenho é uma organização complexa e dispendiosa” p. 146.
“O engenho compreende numerosas instalações: moenda, caldeira, casa de purgar, etc. além da casa-grande que é a habitação do senhor [...] a senzala dos escravos e instalações acessórias e suntuárias; oficinas, estrebarias, etc.” p. 146.
“O engenho é um verdadeiro mundo em miniatura, em que se concentra e resume a vida toda de uma pequena parcela da humanidade” p. 147.
“O trabalho é todo escravo” p. 147.
- Cada engenho tem, no mínimo, 80 escravos. Os maiores têm na média 400 escravos.
“Até o terceiro quartel do século XVIII, quando começa a ser exportado, o algodão nada mais representa que uma insignificante cultura de expressão local e de valor econômico mínimo” p. 148.
- A função exportadora da economia brasileira “é ela o fator único determinante de qualquer atividade econômica de vulto” p. 149.
“A primeira remessa de algodão brasileiro para a exterior data, ao que parece, de 1760” p. 149.
“O progresso da lavoura algodoeira foi facilitado pela relativa simplicidade da produção” p. 152.
“A terceira grande lavoura da colônia é a do tabaco [...] boa parte da exportação destina-se à África, servindo no escambo de escravos” p. 153.

AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA
- Cacau era a principal atividade agrícola do Pará e Rio Negro.
- A aguardente era outro produto utilizado no escambo de escravos.
- O papel secundário da agricultura de subsistência originou um sério problema “A do abastecimento dos núcleos de povoamento mais denso, onde a insuficiência alimentar se tornou quase a regra” p. 163.

MINERAÇÃO
“No alvorecer do século XIX, a indústria mineradora do Brasil, que se iniciara sob tão brilhante auspícios e absorvera durante cem anos o melhor das atenções e atividades do país, já tocava sua ruína final”. P. 169.
“As causas da decadência que se segue não são difíceis de precisar”.
“A indústria mineradora no Brasil nunca foi além, na verdade, desta aventura passageira” p. 171.
“As descobertas de jazidas eram obrigatoriamente manifestadas às autoridades competentes” p. 174.
“Subordinava-se à intendência a Casa de Fundição, onde se recolhia obrigatoriamente todo ouro extraído, e onde, depois de fundido, ensaiado, quintado, e reduzido a barras cunhadas, era devolvido ao portador acompanhado de um certificado de origem que deviam circular as barras [...] A intendência não exerceram efetivamente e de forma normal senão a função de cobrar o quinto e fiscalizar os descaminhos do ouro [...] Seus funcionários, bacharéis e burocratas inteiramente alheios a assuntos de mineração, não deram nunca um passo no sentido de promover melhorias, tentar o aperfeiçoamento dos processos empregados na extração do outro” p. 176.
“Nada interessava, senão o quinto” p. 177.
“Quando a indústria mineradora da colônia á era uma ruína, e sob seus escombros gemia uma população empobrecida Cuja miséria flagrante não podia mais iludir ninguém, nem a miopia da administração, nem a inconsciência do ganancioso fisco, veio à reforma” p. 177.
- Dois métodos de organização da exploração das jazidas: a) lavras: estabelecimentos fixos
“A faiscação sempre existiu na indústria aurífera da colônia”.
- De 1729 a 1740: período áureo da extração de diamantes. P. 181.

PECUÁRIA
“A carne tem importante papel na alimentação da colônia”. P. 186.
- A pecuária foi importante para a conquista do território.
- Três grandes zonas: a) sertão do norte; b) parte meridional de Minas Gerais; c) Paraná.
- O trabalhador aí é o escravo.

PRODUÇÕES EXTRATIVAS
“O primeiro açougue paraense só foi aberto em 1726” p. 210.
“Aa maior importância da indústria extrativa não é o seu valor como riqueza entre as demais da colônia [...] mas doutro lado, avulta como base quase exclusiva da vida humana em uma região que é a maior do país [...] o vale do amazonas, cuja colonização não se compreende sem esta análise da atividade principal e quase única que nela se pratica: a colheita natural dos frutos da floresta e dos rios” p. 211.
“Sem as fontes de riquezas, teria sido impossível ocupar o grande vale” p. 211.
“No vale amazônico, as formas de atividade se reduzem praticamente a duas: penetrar a floresta ou os rios para colher os produtos ou capturar o peixe; e conduzir as embarcações que fazem todo o transporte e constituem o único meio da locomoção” p. 212.
 “Nesta remodelação fisiográfica ininterrupta de um território longe ainda de qualquer forma de equilíbrio, o homem se amesquinha, se anula” p. 218.
“Faltava-lhe o elemento essencial: gente. Os poucos brancos, a multidão relativa de indígenas, pouco eficiente para o serviço que deles se exigia, não podiam dar conta da tarefa” p. 212.
- A singularidade faz da região um “outro Brasil” p. 217.
 “Empregado assim em tarefas que lhe são familiares [...] o índio se amoldou com muito mais facilidade à colonização e domínio do branco” p. 218.
“Do tipo do povoamento, já disse alguma coisa: ele também se amolda às contingências da colheita florestal” p. 218.
“[...] cuja população, que em princípio do século passado não alcançava uma centena de mil habitantes” p. 218.
- Por que a preferência das margens dos rios? Resp. 218 p.
- A Carta Régia de 12 de maio de 1798 legitimou a exploração indígena.
- O peixe é o alimento básico.
- Produção extrativa importante: madeira, pesca, sal, erva-mate.

ARTES E INDÚSTRIAS
“No final desta revisão dos setores da produção colonial há que reservar um canto, modesto, embora, e proporcional a sua insignificância, às artes e à indústria” p. 220.
“Pequena indústria doméstica, entregue a escravos mais hábeis, tem papel na vida da colônia” p. 220.
- Tecelagem, cerâmica, olarias, curtumes, metalurgia, etc.
“A metalurgia foi, entretanto mais feliz que a manufatura de tecidos” p. 226.
“Em suma, achava-se ainda a indústria brasileira, em princípios do século XIX, em seus primeiros e mais modestos passos” p. 227.
“Tomadas as devidas proporções, a nossa minúscula indústria colonial não representaria para sua época mais que estes simulacros de atividades manufatureiras que tivemos no século XIX” p. 227.
COMÉRCIO
“A análise da estrutura comercial de um país revela sempre, melhor que a de qualquer um dos setores particulares da produção, o caráter de uma economia, sua natureza e organização. Encontramos aí uma síntese que a resume e explica” p. 228.
“Podemos prever desde logo o traço fundamental daquele comércio: ele deriva imediatamente do próprio caráter da colonização, organizada como ela está na base da produção de gêneros tropicais e metais preciosos para o fornecimento do mercado internacional” p. 228.
“O comércio exterior brasileiro é todo ele marítimo” p. 228.
“Todo este comércio extremo por via terrestre é em sua de pouca monta, desprezível mesmo” p. 229.
“Monopolizado legalmente pelos portugueses, contrabandeado pelos ingleses, tais são os caracteres gerais do comércio externo da colônia nas vésperas da abertura dos portos” p. 231.
“O ramo mais importante do comércio de importação é o tráfico de escravos” p. 231.
“Os gêneros que esta gente não produz e precisa ir buscar no comércio não são senão os importados do exterior: ferro, sal, manufaturas” p. 233.
- Sobre o comércio interno não se tem fontes seguras.
- Grandes correntes de circulação: marinha, sertão e minas.
“Considerações gerais”, “natureza da economia colonial – inteiramente voltada para o comércio internacional”.
- O comércio condicionou a própria existência da colônia. P. 235.


Cap. 3 – Vida Social (p. 269)


[1] Professor de História Econômica do Brasil (UFMG).
[2] Roberto Simonsen (Recife, fevereiro/1889 a maio/1948) [59 anos]: engenheiro, grande industrial, político e professor na cadeira de História da Economia Nacional. Casou com a filha de José de Alencar. Em 1934, foi eleito deputado federal por São Paulo. Em 1937, publica História econômica do Brasil;
Gilberto Freire (março/1900 a julho de 1987) [87 anos]: Sociólogo pernambucano, professor de Economia Política. Em 1933, publica Casa Grande e Senzala. Criou o conceito de "Democracia Racial".
Sérgio Buarque de Holanda (julho/1902 a abril/1982) [80 anos]: Em 1936, publica Raízes do Brasil. A partir de 1960, passou a coordenar o projeto da História Geral da Civilização Brasileira. Em 1959, publica Visão do Paraíso.
OUTRA GERAÇÃO
Celso Furtado (julho/1920novembro/2004) [84 anos]. Formado em Direito, doutorou-se em economia na Sorbone. Foi um dos PRACINHAS de 1944, na Itália. Em 1949, fez parte da CEPAL. Em 1959, foi presidente da SUDENE. Em 1962, foi primeiro ministro no governo de Jango. Em 1959, publica Formação Econômica do Brasil.
Florestan Fernandes (São Paulo, julho/1920 — agosto/1995) [75 anos]. Formado em ciências sociais. Funcionalista. Aposentado compulsoriamente pela ditadura. Em 1959, publica Fundamentos empíricos da explicação sociológica. Em 1964, publica A integração do negro na sociedade de classes. Em 1975, publica A revolução burguesa no Brasil. Em 1986 e em 1990, foi eleito deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores. Mais de cinquenta obras publicadas
Paulo Freire (Recife, setembro/1921 - maio/1997) [76 anos]. Educador e filósofo brasileiro. Em 1959, Educação e atualidade brasileira. Em 1970, Pedagogia do oprimido.
Darcy Ribeiro (outubro/1922Brasília, fevereiro/1997) [75 anos]. Antropólogo e político brasileiro. Foi vice-governador no governo de Leonel Brizola (1983). Fui chefe da casa civil de Jango.  Eleito senador em 1991. Culturas e línguas indígenas do Brasil – 1957. Em 1968, O processo civilizatório. Os índios e a civilização – 1970. Em 1992, A fundação do Brasil. Em 1995, publica O POVO BRASILIERO.

[3] A República ainda mergulhada em tradições clientelistas, paternalistas, oligárquicas e federativas, desconhecia partidos nacionais.
[4] Falava inglês, francês, alemão e espanhol.
[5] Seria a primeira parte, a fase colonial, de uma obra ampla que envolveria toda a nossa história. No entanto, os outros volumes nunca foram publicados.

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