quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O espetáculo das Campanhas Eleitorais no Acre



 “Já não vejo diferença entre os dedos e os anéis,
Já não vejo diferença entre a crença e os fiéis...
Há tão pouca diferença e tanta coisa a escolher...
 (Engenheiros do Hawaii)

         Assumir um mandato político, ser assessor parlamentar ou ter o nome indicado para algum cargo comissionado são os objetivos de muitos acreanos com essas eleições. Afinal, vale a pena, é um grande negócio, trabalha-se três meses em campanhas para colher dinheiro, poder e status por quatro anos. Nessas horas, todos querem “transformar o mundo”, ser atuantes na sociedade, etc. Os Pastores descem dos púlpitos, Oficiais da Polícia pedem afastamento temporário, Médicos largam seus consultórios, Comerciantes e Empresários deixam seus afazeres. A disputa para estrelar na passarela da política é grande.
         Num mercado formado por bens homogêneos, onde as firmas que ofertam produtos idênticos conquistam os fregueses por diferenciações criadas pela publicidade, a contratação de um especialista em propaganda é fundamental. Em política, tal profissional é mais conhecido como marqueteiro. Eles elaboram estratégias para convencer o comprador-eleitor de que o produto-candidato oferecido é o melhor do mercado-eleição. Para diferenciar artificialmente os candidatos-homogêneos, é preciso maquiá-lo, colocá-lo numa “atraente” promessa-embalagem. O povo sempre compra-elege os que chamam mais a atenção.
Os candidatos à prefeitura de Rio Branco estão vendendo a idéia de “mudanças”. A embalagem é formada por vários enfeites: “cuidar de Rio Branco”, “governar com o coração”, “prefeito de verdade”, “descentralização administrativa”. Meros palavreados! São estratégias de marketing para diferenciarem-se. Não há “frente alternativa”, muito menos forças do bem lutando contra as do mal como mais uma vez estão espalhando por aí. A oposição conceitual entre a “esquerda” e a “direita” se rompeu, não se sabe mais quem é quem. Nessas eleições o que impera é a embalagem e não o produto.
      O uso do sentimentalismo como forma de comover o eleitor é uma estratégia vergonhosa. O Candidato que não tem propostas consistentes apela para sensacionalismo. Os candidatos precisam ser mais realistas, principalmente quanto ao orçamento da prefeitura.  O que farão para superar a crise orçamentária existente? A capital acreana é totalmente dependente das transferências constitucionais estaduais e federais. Com uma receita anual de 125 milhões de reais (dados de 2003), apenas 20,5% correspondem a receitas próprias, das quais 70% são oriundas de tributação. Com um minguado capital disponível, as inúmeras mudanças apregoadas encontram impedimentos estruturais. Quem denuncia oito anos de marasmo e prega uma administração messiânica, blefa.
As eleições políticas sempre geram muitas expectativas, principalmente aos candidatos e a seus "puxa-sacos" que sonham com a trilogia “poder, status e dinheiro fácil”.  Os vultosos gastos com as propagandas eleitorais são um mal necessário, um investimento para quem pensa em ficar quatro anos desfrutando das benesses que o cargo político oferece.
O objetivo de todo esse show que presenciamos, dessa encenação teatral que chamam de campanha eleitoral, é abocanhar o voto do cidadão. Não para realizar uma “revolução” em Rio Branco, esse era o sonho de alguns marxistas de outrora. A trilogia “poder, status e dinheiro fácil” engoda até os bem intencionados. A grande questão é: em quem votar? Em Preto, em Branco ou em Cinza? 
Não, os contrastes não existem nessas eleições, as diferenças são apenas no âmbito do marketing. Em quem votar? Que produto comprar? “Há tantos quadros na parede, há tantas formas de se ver o mesmo quadro... todos iguais, todos iguais, mas um mais igual que os outros” (Engenheiros do Hawaii).

Eduardo de Araújo Carneiro

publicado em Jornal A GAZETA em 28/08/2004, Sábado.

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