quinta-feira, 15 de maio de 2014

O 13 de maio e a “história oficial” do Acre


POR DENISE SCHAAN

Assisti nesta terça-feira (13), por volta do meio-dia, em um jornal televisivo de Rio Branco, a entrevista dada por Marcus Vinícius Simplício das Neves sobre o dia 13 de maio. Considerado o "historiador oficial" do Acre, Marcus Vinícius contava ao repórter sobre a contribuição de descendentes de africanos ao Estado.

O mais antigo de que se tem notícia, segundo ele, é Manoel Urbano da Encarnação, que "nos descobriu" na metade do século XIX; é "nosso Pedro Álvares Cabral". Deve fazer tempo que o historiador deixou a escola, porque hoje não se fala mais das invasões colonialistas como "descobrimentos".

As centenas de geoglifos encontrados no leste do Estado provam que povos indígenas viviam no Alto Purus pelo menos 3.000 anos antes da chegada dos emissários do governo colonial, fossem eles mestiços ou não.

Uma das tarefas de Marcus Vinícius tem sido esconder da imprensa e do povo do Acre os geoglifos, que ele mesmo estava pesquisando em segredo nos anos de 1990, e posteriormente tentou impedir que fossem conhecidos quando o professor Alceu Ranzi começou a divulgá-los.

Essa história oficial da formação do Estado do Acre, prenhe de resquícios colonialistas e militaristas que vem sendo continuamente repetida, mascara conflitos e a enorme diversidade cultural existente no Estado.

Marcus Vinícius, ao pretender defender um status quo que é herança do governo militar, presta um desserviço aos povos indígenas, escondendo-os, e aos povos de origem africana, criando falsos heróis, assim como a todos os imigrantes que vieram para o Estado ao longo de um século marcado por lutas e conflitos pela terra e seus recursos.

Ele presta um desserviço ao próprio PT que ele representa, um partido que foi construído com lutas de trabalhadores para restabelecimento de direitos essenciais a todos.

Penso que é hora dos jornalistas acreanos procurarem os verdadeiros historiadores. Acredito que deve haver profissionais no Estado com Mestrado e Doutorado em História, que possuem um melhor entendimento dos processos históricos e que tragam ao público uma visão pós-colonialista e crítica da história regional.
 

Denise Schaan é historiadora, arqueóloga, antropóloga da Universidade Federal do Pará e pesquisadora do CNPq.
 
Fonte: Blog do Altino

Um comentário:

Luiz disse...

Será que os indígenas,negros, etc. ´para terem suas Histórias 'validadas'.precisam realmente que os 'doutores, mestres' a contem? E o 'povo', não conta?
Conclamar desta forma a 'Academia', não será uma forma de preconceito contra os não acadêmicos, uma maneira sutil de desqualificar os não acadêmicos que têm visões diferentes sobre sua História.
A mim, a proposta do texto se revela tão excludente quanto a quem pretende atacar.