Segundo
esse entendimento, o Acre, enquanto região banhada pelo rio Acre, é diferente
do Acre proclamado como República por Luiz Galvez. O território nacional da
Repúblicas, além do rio Acre, também abrangia o Purus e Iaco. O Acre, enquanto
território estrangeiro, é diferente daquele visto como nacional. Da mesma
forma, não há como montar uma genealogia entre o Acre Território e o Acre Estado,
a não ser arbitrariamente. Ambos representam entes políticos e jurídicos
diferentes.
O Acre do Estado Independente proclamado
por Plácido de Castro em 1903 não pode ser o mesmo Acre que conhecemos hoje.
Embora homônimos, evocam sentidos diferentes, pois são signos linguísticos
singulares. O primeiro foi um país autônomo e o segundo é uma unidade federativa
da República do Brasil. O Acre enquanto terras demarcáveis reivindicadas pelas lideranças
aborígines não é o mesmo do discurso autonomista defendido por Guiomard Santos
em fins dos anos 1950. O Acre amazonense que aparece nos discursos de Rui
Barbosa não pode ser o mesmo Acre “ecologizado” dos porta-vozes da Frente
Popular. No campo semântico, esses dois fenômenos linguísticos são diferentes.
O Acre Estado não estava potencialmente
presente nos primeiros núcleos de colonização das terras que ficavam às margens
do rio Acre em fins dos anos 1870. Caso contrário, a história seria uma mera
sequência cronológica de fatos teleologicamente marcados. Portanto, não há um
lastro de historicidade entre o Acre contemporâneo e o Acre colonizado por João
Gabriel de Carvalho em meados de 1877/78. Estamos diante de dois Acre, embora
homônimos.
O Acre que aparece no
discurso do historiador boliviano José Aguirre Achá (1902) não foi o mesmo
daquele dos discursos do senador Jonathan Pedroza (1848-1922), autor do Projeto
de Lei que visava a incorporação do Acre Setentrional ao Estado do Amazonas. O
Acre da expressão Departamento do Alto
Acre, criado pelo governo federal em 1904, nada tem a ver com o da expressão
Acre Setentrional[1],
inventado com a chegada das tropas brasileiras lideradas pelo general Olímpio
da Silveira em Puerto Alonso em 1903.
[1] No dia 3 de abril de 1903, o general
Olímpio da Silveira assumiu o governo do Acre Setentrional, na mesma ocasião
Plácido de Castro assumiu o governo do Acre Meridional. Um mês e dez
dias depois, o general invadiu e o Acre Meridional, formando um único governo.
Antes da chegada do homem branco
civilizado de nacionalidade brasileira, o território que hoje pertence ao estado
do Acre já havia sido nomeado com os mais diversos topônimos. As Repúblicas do
Peru e da Bolívia já o tinham como parte de seus respectivos territórios. Isso
sem dizer das diversas nações aborígines que mantinham relações identitárias
com a região há centenas de anos. Todas essas representações de pertencimento
foram sacrificadas em favor da emergência do topônimo “Acre”, que já surge
enodoado de “violência simbólica”.
Talvez
os gestores do estado do Amazonas tenham sido os primeiros a inventarem aquele
território como brasileiro, mas não como Acre, e sim como parte do município de
Floriano Peixoto.
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