domingo, 20 de setembro de 2009

BRANDÃO, Helena. Introdução à Análise do discurso. Unicamp, 1995.

“O discurso materializa o contato entre o ideológico e o lingüístico”. “O discurso representa no interior da língua, os efeitos das contradições ideológicas”. “O ideológico reside no interstício entre a coisa e sua representação significa”. Bakhtin – a palavra é o signo ideológico por excelência, caracterizada pela plurivalência. “Dialógica por natureza, a palavra se transforma em arena de luta, vozes situadas em diferentes posições querem ser ouvidas por outras”. “A linguagem é o lugar onde a ideologia se manifesta concretamente”. SEMIOLOGIA – caráter ideológico do signo, disciplina que estuda o sentido. “A linguagem é lugar de conflito, de confronto ideológico”. “Há uma relação necessária entre o dizer e as condições de produção desse mesmo dizer”. A.D. – é o estudo lingüístico das condições de produção de um enunciado. Ideologia em Marx: conceito negativo. Instrumento de dominação de classe. As idéias de uma classe passam a ser as idéias de toda coletividade. É uma visão ilusória da realidade. Althusser – A classe dominante para manter sua dominação e hegemonia, gera mecanismos de perpetuação de poder. Reproduz as condições materiais, ideológicas e políticas. Através dos aparelhos repressores e ideológicos, a classe dominante submete seus subordinados ao sistema de exploração. “O homem produz formas simbólicas de representação da sua relação com a realidade concreta”. “A ideologia perpetua um ato fundador inicial, converte-o em credo. Perpetua a energia inicial para além do período de efervescência”. “A ideologia impulsiona a prática social. A práxis é movida pelo desejo de demonstrar que o grupo que a professa tem razão de ser o que é”. “A ideologia nos faz tomar a imagem pelo real, o reflexo pelo original”. “O signo tem um caráter arbitrário, possibilita novos sentidos no tempo”. “A regularidade é atingida pela análise dos enunciados que constituem a formação discursiva” DISCURSO – é o conjunto de enunciado que se remetem a uma mesma formação discursiva. É um conjunto de enunciados que tem seus princípios de regularidade em uma mesma formação discursiva. A análise da formação discursiva consistirá na descrição dos enunciados que a compõem”. DISPERSÃO – várias posições do sujeito no discurso. ENUNCIADO – quando alguém emite um conjunto de signos. “Uma frase em diferentes contextos jamais representa o mesmo enunciado, pois cada espaço possui uma função enunciativa diferente”. A geração do discurso é controlada. O discurso é o espaço em que os saberes se articulam. Quem fala, fala de algum lugar, a partir de um direito reconhecido institucionalmente. A.D. Utiliza: Materialismo Histórico como a teoria das formações sociais e suas transformações. Lingüística – como teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação. Teoria do discurso – como teoria da determinação histórica do processo semântico. Psicanálise – Teoria da subjetividade. A A.D. não analisa os indivíduos, mas os lugares de onde falam. Na reprodução das relações de produção, a instância ideológica funciona como interpelação do sujeito: faz com que cada indivíduo seja levado a ocupar seu lugar, muitas vezes, inconscientemente. Os discursos são governados pelas formações ideológicas. “São as formações discursivas que, em uma formação ideológica específica e levando em conta uma relação e classe, determinam o que pode e deve ser dito, a partir de uma posição dada e em uma conjuntura dada”. PARÁFRASE: é um espaço em que enunciados são retomados e reformulados num esforço constante de fechamento de suas fronteiras em busca da preservação de sua identidade. POLISSEMIA: rompe as fronteiras, embaralhando os limites entre diferentes formações discursivas. Instala a pluralidade e a multiplicidade dos sentidos. “Embora a formação discursiva homogeneíze o discurso, os efeitos das contradições de classe são recuperáveis no interior do discurso”. “Na materialidade dos discursos estão as marcas das contradições ideológicas”. “Analisar os discursos é descrever os sistemas de dispersão dos enunciados que o compõe”. “Dispersão semelhantes, equivalem a formações discursivas iguais”. ENUNCIAÇÃO – é o processo de apropriação da língua para dizer algo. “A subjetividade é inerente a toda linguagem” “Sua fala é um recorte das representações de um tempo histórico e de um espaço social... em sua fala outras vozes também falam” p. 49 Bakhtin critica Saussure por tratar a língua como um sistema monológico. “Constituindo-se do já-dito, o discurso é determinado ao mesmo tempo pela réplica ainda não dita, mas que já está sendo solicitada e já é prevista” Bakthin. “O discurso articula-se com o seu avesso ou revesso. Não se reduz a um dizer explícito, pois é permanentemente atravessado pelo seu avesso” p. 54 “O sentido não é dado a priori, mas construídos no discurso”. Pêcheux: “O sentido de uma palavra, expressão, proposição não existe em si mesmo, mas é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico em que elas são produzidas” p. 62 O discurso é a dispersão de textos. Texto é a dispersão do sujeito. O discurso pode está atravessa por várias formações discursivas, todas submetidas a relações de dominância. AUTOR – é a função social que o eu assume enquanto produto da linguagem. Não há discurso monológico, toda palavra é dialógica, portanto, fingem a monologia. INTERDISCURSO – espaço de troca entre vários discursos convenientemente escolhidos. O estudo de um discurso se faz colocando-o em relação com outros discursos. UNIVERSO DISCURSIVO – é constituído pelo conjunto de formações discursivas de todos os tipos que interagem numa dada conjuntura. CAMPO DISCURSIVO – conjunto de formações discursivas que encontram em concorrência, se delimitam reciprocamente em uma região determinada do universo discursivo, ex: campo político, filosófico, gramatical etc. (P. 73) ESPAÇOS DISCURSIVOS – são recortes discursivos que o analista isola no interior de um capo discursivo tendo em vista a análise. Produz-se o discurso para o outro. O outro deve ser percebido no texto, mesmo ausente e silenciado. Pois é a parte do sentido que foi preciso sacrificar para se construir a auto-identidade. O AVESSO é a parte oculta do discurso que se mascara a rejeição do outro, do diferente, co concorrente. A identidade discursiva se constrói na relação com um outro presente lingüisticamente. INTERTEXTO: é o conjunto dos fragmentos que o discurso cita efetivamente. INTERTEXTUALIDADE: abrange os tipos de relações intertextuais definidas como legítimas que uma formação discursiva mantém com outras. Interna – quando pertence ao mesmo campo e Externa – quando dialoga com outros campos. MEMÓRIA DISCURSIVA – torna possível a formação discursiva fazer circular formulações anteriores, já enunciadas. Essa noção implica o estatuto histórico do enunciado inserido nas práticas discursivas reguladas por aparelhos de Estado. Elege um determinado fato histórico e rejeitam outros, recupera arte do passado e eliminam outros. ENUNCIAR – é situar-se sempre em relação a um já-dito que se constitui num outro do discurso” p.77 “Na medida em que retiramos de um discurso fragmentos e inserimos em outro discurso, fazemos uma transposição de suas condições de produção. Mudadas as condições de produção, a significação desses fragmentos ganha nova configuração semântica”. MEMÓRIA LACUNAR – são os vazios, os esquecimentos deixados pela memória oficial e que produz um efeito de inconsistência. Esse efeito é ideologicamente neutralizado pelas manobras discursivas, que homogeneízam e monoformizam as dessemelhanças. Anulam os desníveis, planificam a heterogeneidade. É o processo de apagamento. A.D. - Volta-se para o exterior lingüístico, procurando apreender como no lingüístico inscrevem-se as condições sócio-históricas de produção. Na reduz o discurso a análise puramente lingüísticas. Sua missão é aflorar as contradições onde a ideologia linealiza. Revela o múltiplo na materialidade do discurso: antagonismos, alianças e dissimulações. É contra a cristalização dos sentidos. O discurso representa os efeitos das contradições ideológicas no interior da língua. Bibliografia BRAGA, M. Produção de linguagem e ideologia. Cortez, 1980. MACHADO, R. Ciência e Saber: a trajetória da arqueologia de Foucault. Graal, 1981. DUCROT, O. O dizer e o dito. Pontes, 1987. Glossário ASSUJEITAMENTO = INTERPELAÇÃO: fazer com que o indivíduo, sem que tome consciência, seja levado a ocupar seu lugar, a identificar-se ideologicamente com grupos ou classes. AUTOR: é a função social que o sujeito falante assume enquanto produto da linguagem DISCURSO: é o efeito de sentido construído no processo de interlocução. “Aquilo que ele diz tem significado com o que ele não disse”. ENUNCIAÇÃO: emissão de um conjunto de signos que é produto da interação de indivíduos socialmente organizados. É marcada pela singularidade. Acontece no tempo e espaço. ENUNCIADOR: é a figura da enunciação que representa a pessoa cujo ponto de vista é apresentado. É a perspectiva que o locutor constrói e de cujo ponto de vista narra, quer identificando-se como ele quer distanciando-se dele. FORMAÇÃO DISCURSIVA: é o conjunto de enunciados marcados pela mesma regularidade, pelas mesmas regras de formação. Ela se define pela relação que mantém com a formação ideológica. Os textos que fazem parte de uma formação discursiva remetem a uma mesma formação ideológica. Determina o que pode e deve ser dito a partir de um lugar social historicamente determinado. Um mesmo texto pode aparecer em formações discursivas diferentes, acarretando variações de sentido. FORMAÇÃO IDEOLÓGICA – é constituída por um conjunto complexo de atitudes e representações que dizem respeito às posições de classe em conflitos umas com as outras. FORMAÇÃO SOCIAL: caracteriza-se por um estado determinado de relações (antagônicas, dominância e alianças) entre as classes que compõem uma comunidade em um determinado momento de sua história. INTERLOCUÇÃO – processo de interação entre indivíduos através da linguagem verba ou não-verbal. INTERTEXTO – compreende o conjunto dos fragmentos que o discurso cita efetivamente. INTERTEXTUALIDADE – abrange s tipos de relação que uma formação discursiva mantém com outras. LINGUAGEM – na perspectiva discursiva, não é vista apenas como instrumento de comunicação e transmissão de informação. É interação, lugar de conflito, de confronto ideológico em que a significação se apresenta em toda sua complexidade. POLIFONIA – refere-se à qualidade de todo discurso estar tecido pelo discurso de outro, de toda fala estar atravessada pela fala do outro. SENTIDO – para A.D.. não existe um sentido a priori, mas um sentido que é construído, produzido no processo da interlocução, por isso deve ser referido às condições de produção do discurso. O sentido muda, caso também mude a formação discursiva. SUJEITO – Para a A.D., é socialmente compreendido, interpelado pela ideologia. O sujeito não é a origem, por que na sua fala outras falas se dizem. SUPERFÍCIE DISCURSIVA: é constituída pelo conjunto de enunciados pertencentes a uma mesma formação discursiva. FOUCAULT “Não se diz o que se quer, em qualquer situação e de qualquer maneira”. “Analisar o discurso é fazer desaparecer e reaparecer as contradições” p.40 “As diferentes formas de poder fabricam diferentes tipos de individualidades”. Funções enunciativas do Sujeito Falante (modos hierarquizados de apagamento do sujeito): LOCUTOR – aquele que se representa como eu no discurso. É quem diz. ENUNCIADOR – é a perspectiva que esse eu constrói. É o sujeito divido em suas várias posições no texto.AUTOR – é a função social que esse eu assume enquanto produtor de linguagem. É a ação do discurso sobre o sujeito. É a origem das significações. A linguagem está sob forte controle social. ILUSÃO DO SUJEITO: pensa que é fonte do que diz, mas, na verdade, retoma sentidos preexistentes e inscritos em formações discursivas determinadas. O autor implica uma inserção do sujeito na cultura, uma posição dele no contesto histórico-social.

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