No dia 7 de
novembro foi aprovado no Senado Federal o projeto de Regulamentação da
Profissão de Historiador (PLS 368 de 2009). A aprovação resultou do esforço da
Diretoria da ANPUH-Brasil que, cumprindo determinação da Assembléia Geral da
entidade realizada em São Paulo no mês de julho do ano passado, tem envidado
esforços para que essa meta seja atingida.
No dia 6, o
presidente da ANPUH-Brasil deslocou-se para Brasília a fim de solicitar apoio
dos senadores à medida, bem como seu empenho em inseri-la na Ordem do Dia do
Senado, já que o projeto havia tramitado em todas as comissões necessárias,
restando apenas ser votado em Plenário.
Foram visitados
os gabinetes dos seguintes senadores: Jarbas Vasconcelos, Ciro Nogueira, Clésio
Andrade, João Capiberibe, Eduardo Suplicy, Jayme Campos, Sérgio Souza, Antonio
Carlos Valadares, Magno Malta, Álvaro Dias, Paulo Paim e Ana Amélia Lemos.
Fomos recebidos ou diretamente pelos senadores (Capiberibe, Suplicy, Dias e
Malta) ou por seus assessores. Todos se mostraram favoráveis ao projeto e
prometeram trabalhar para a sua aprovação.
Ao final do
tarde, a Senadora Ana Amélia, apoiadora da causa, foi mais além e encarregou-se
de solicitar, naquele mesmo dia, a inclusão da votação da matéria na Ordem do
Dia, o que foi acatado pelo presidente da sessão, Senador Paulo Paim, autor do
Projeto. Iniciadas as discussões, manifestaram-se contrariamente ao projeto os
senadores Aloysio Nunes Ferreira e Pedro Taques.
O Senador Ferreira, inclusive,
se manifestou oralmente em oposição à proposta, considerando "um profundo
equívoco" dar exclusividade em atividades de ensino e pesquisa, seja em
graduação ou pós-graduação, apenas para quem tem formação em História. Na opinião
do parlamentar, a situação cria "absurdos" como impedir que
economistas, sociólogos, diplomatas ou outros profissionais qualificados
ministrem a disciplina, havendo o risco de "engessar" o ensino da
História. Citou inclusive os nomes dos eminentes intelectuais Evaldo Cabral de
Mello e Alberto da Costa e Silva como pessoas que ficariam impedidas de
escrever e lecionar sobre o tema.
Ora, tal
posicionamento expressa, ao nosso ver, desconhecimento do teor do projeto, já
que o que se pretende não é impedir ninguém de escrever ou se manifestar sobre
o passado, mas sim assegurar a presença de historiadores profissionais, com
formação específica, nas instituições que realizem pesquise e ensino de
História. Além disso, pelo raciocínio do Senador, não seria um problema a
situação que, infelizmente, ocorre hoje, na qual, em diversos espaços
profissionais, historiadores acabam tendo que lecionar Geografia, Sociologia,
Artes, entre outras matérias, sem terem conhecimentos específicos para isso (e
vice-versa), o que certamente prejudica a formação dos estudantes dos variados
níveis de ensino.
Também por analogia, poder-se-ia, caso a perspectiva do
Senador fosse correta, pensar que grandes atletas teriam a possibilidade de
lecionar Educação Física nas escolas, sem possuírem para isso conhecimentos de
Anatomia, Fisiologia, Movimento Humano, Pedagogia, entre outros, apenas a sua
prática em determinados esportes (não é à toa que muitos atletas percebem tal
lacuna formativa e, em algum momento de sua carreira, ingressam em cursos de
Educação Física). Por fim, nem é preciso dizer o quanto a ANPUH reconhece e
admira o trabalho de estudiosos como Cabral de Mello e Costa e Silva e sua
contribuição à historiografia brasileira, inclusive convidando-os a participar
de eventos promovidos pela entidade.
Já a senadora
Ana Amélia defendeu o projeto ao ler relatório do senador Flexa Ribeiro, em que
este declara que "a omissão do legislador pode permitir que pessoas
inabilitadas no exercício profissional coloquem em risco valores, objetos ou
pessoas".
Ao final, como
ressaltado, o projeto foi aprovado com o apoio de todos os líderes partidários.
Por essa razão, as visitas do dia seguinte foram canceladas, mas mesmo assim
registramos nosso apoio aos seguintes senadores que se disponibilizaram a nos
receber: José Pimentel, Zezé Perrella, Renan Calheiros, Lúcia Vânia, Cacildo
Maldaner, José Agripino, Luiz Henrique da Silveira, Wellington Dias, Antonio
Carlos Rodrigues, Aníbal Diniz, Lídice da Mata, Alfredo Nascimento e Pedro
Taques (que, acreditamos, teria compreendido melhor o teor do projeto se
tivéssemos tido a oportunidade de conversar antes da votação).
Ressaltamos,
contudo, que a nossa luta deve ter continuidade, pois a matéria segue agora
para votação na Câmara dos Deputados. Por isso, solicitamos às/aos colegas que
pressionem os deputados de seus estados em prol da celeridade da tramitação e,
é claro, da aprovação do projeto.
Nesta
articulação, foi fundamental o apoio do colega historiador Marcos Ronaldo F. de
Araújo, também presidente da Associação dos Servidores do Ministério Público
Federal, que gentilmente ajudou na articulação parlamentar no Senado.
PARABÉNS A
TODOS NÓS!!!
PROFISSÃO
DE HISTORIADOR: MARCHA DA INSENSATEZ OU DO DESCONHECIMENTO?
Nós,
historiadores profissionais, sabemos que uma das regras básicas do nosso ofício
é a elaboração de um discurso de prova, assentado na pesquisa e na crítica dos
vestígios do passado, os documentos . Fernando Rodrigues, por não ter essa
formação, talvez desconheça essa regra tão elementar e, por isso, não se deu ao
trabalho de ler com atenção o documento que deveria balizar a sua análise (sic)
publicada no jornal Folha de São Paulo de 10 de novembro de 2012: o Projeto de
Regulamentação da Profissão de Historiador, aprovado no Senado Federal na
última quarta-feira. Em nenhum momento este projeto veda que pessoas com outras
formações, ou sem formação alguma, escrevam sobre o passado e elaborem
narrativas históricas.
Apenas estabelece que as instituições onde se realiza o
ensino e a pesquisa de História contem com historiadores profissionais em seus
quadros, por considerar que, ao longo de sua formação, eles desenvolvem
habilidades específicas como a crítica documental e historiográfica e a
aquisição de conhecimentos teóricos, metodológicos e técnicos imprescindíveis à
investigação científica do passado. Da mesma maneira, a regulamentação pode
evitar que continuem a se verificar, nos estabelecimentos de diversos níveis de
ensino, situações como a de o professor de História ser obrigado a lecionar Geografia,
Sociologia, Educação Artística, entre outras disciplinas, sem ter formação
específica para isso (e vice-versa).
Temos certeza
que o Senador Cristovam Buarque, tão sensível aos problemas da educação
brasileira, apóia esta idéia, pois ela possibilita um ensino mais qualificado.
Temos certeza
também que o Senador José Sarney, conhecedor do teor do projeto, está
tranqüilo, pois sabe que não vai ser impedido, como nenhum cidadão brasileiro,
de escrever sobre a história de seu estado, ou de qualquer período, indivíduo,
localidade ou processo. Isso atentaria contra as liberdades democráticas, das
quais os historiadores profissionais são grandes defensores.
Fique tranqüilo
senhor Fernando Rodrigues, o senhor também poderá escrever sobre história. Só
sugerimos que leia os documentos necessários antes de o fazer.
Benito Bisso
Schmidt
Presidente da Associação Nacional de História – ANPUH-Brasil
(Gestão 2011-2013)
A ANPUH
E O ENSINO DE HISTÓRIA
A segunda
secretaria da Anpuh, responsável pelo Fórum de Graduação, juntamente com a
atual coordenação do GT Nacional Ensino de História e Educação, tem procurado,
desde sua constituição, estabelecer princípios norteadores conjuntos para o
desenvolvimento de suas ações, cujas diretrizes foram definidas na reunião nacional,
acontecida em março de 2012.
Neste sentido,
temos ouvido as demandas dos colegas das distintas regiões do país e assumimos
as ações da 2ª secretaria apoiando firmemente a atuação do GT Nacional em sua
articulação para construção coletiva e articulada dos GTs estaduais. Seguindo
esses princípios, temos atuado em diversas frentes: acompanhando e participando
o debate das Políticas Públicas que afetam o ensino de História; estimulando a
participação dos professores da Educação Básica por meio de campanhas de
mobilização; fortalecendo a articulação interna da entidade, por meio do
fomento dos GTs estaduais (nesse sentido, foram criados ou reativados 09 GTs
estaduais); e constituindo um eixo de pesquisa vinculado ao GT, por meio do
Projeto Panorama.
Recentemente,
uma série de eventos trouxe à baila discussões sobre o lugar da disciplina
História no currículo da Educação Básica e o espaço da pesquisa na área do
ensino de História, nas instituições de Ensino Superior, em particular, nos
cursos de História. O edital para um concurso de professor para a área de
Ensino de História na Universidade Estadual do Ceará, que excluía a
participação de doutores em outras áreas, alimentou um importante debate
relativo ao perfil dos profissionais que atuam na área e ao sentido de
manutenção de uma área de pesquisa, que, infelizmente, ainda parece não obter
reconhecimento em certos segmentos acadêmicos. Por outro lado, a difusão das
"Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio" a partir das
discussões a respeito do "mau" desempenho das escolas públicas no
ENEM, deu-se em meio a uma discussão enviesada que apontava para o suposto
inchaço do currículo e a necessidade de "fusão" das disciplinas em
áreas, trazendo à baila a possibilidade de esvaziamento e destituição das
disciplinas de seus estatutos específicos de cientificidade. Essas discussões,
que acenderam debates sobre a possibilidade de "retorno" de uma
formação aligeirada em Ciências Humanas e um novo movimento de reformas do
Ensino Médio, têm sido objeto das preocupações da ANPUH-Brasil.
Por isso,
recentemente, a 2ª secretaria, por intermédio do GT, e em nome da Direção
Nacional, solicitou reuniões junto ao MEC, a CAPES e ao Conselho Nacional de
Educação (CNE), para solicitar informações sobre as reformulações em curso e
discutir os rumos das políticas públicas que afetam o ensino de História. Para
representar a ANPUH nessas reuniões foram indicados os membros GT de Ensino de
História e o Prof. Carlos Augusto Lima Ferreira. Essas reuniões ocorreram todas
no dia 01/10/12 em Brasília.
As pautas das
reuniões foram diferenciadas, segundo uma agenda específica previamente
acertada com cada um dos órgãos. Na CAPES, nos reunimos com o coordenador do
PIBID, Prof. Helder Eterno da Silveira. Discutimos o PIBID na área de História
e expressamos a intenção de organizar um evento de caráter nacional, em
articulação com outras entidades, que reúna as experiências desse programa, com
o objetivo de refletir sobre os resultados do programa na Educação Básica e os
impactos nos cursos Licenciatura de História. No MEC nos reunimos com a
Diretora de Currículos e Educação Integral, a Profa. Jaqueline Moll, e com a
Coordenadora Geral do Ensino Médio, a Profa.
Sandra Garcia, para tratarmos da
pauta da reforma do Ensino Médio e os caminhos indicados pelos debates em torno
do ENEM. Expressamos a preocupação da entidade de que a reforma induza as redes
de ensino a suprimirem as disciplinas criando áreas amorfas e
descaracterizadas. Segundo a equipe do MEC, a intenção não é realizar uma
reforma que trabalhe com essa perspectiva para as redes, mas sim fomentar um
debate preliminar no MEC sobre os desdobramentos das novas diretrizes
curriculares, que tem sido feito na perspectiva dos "direitos de
aprendizagem" dos alunos. Segundo o MEC o objetivo é ampliar esse debate
e, na ocasião, convocou a ANPUH – como entidade coletiva dos historiadores – a
participar das discussões, junto a outras associações de ensino. No CNE, nos
reunimos com o presidente da Câmara de Ensino Superior, o Prof. Gilberto
Gonçalves Garcia, para tratarmos dos possíveis desdobramentos das reformas
sobre as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de História. Nesse
sentido, a ANPUH foi convidada a articular uma reunião com as demais
associações representativas da área de humanas, junto ao CNE para iniciar essa
discussão.
O objetivo
destas reuniões foi provocar no MEC, CAPES e CNE, a necessidade de ampliar os
debates sobre as novas diretrizes curriculares nacionais e seus impactos sobre
a disciplina História e a formação dos professores nessa área, por meio do
diálogo com instituições coletivas, como a ANPUH, AGB, dentre outras.
Representantes
do GT Ensino de História e Educação da ANPUH também participaram de outra
reunião no CNE, ocorrida em 10/10/12. Articulada pela SBPC, a reunião contou
com presença de diversas associações científicas. A possível integração das
disciplinas escolares em áreas comuns gerou amplas discussões. A divulgação do
tema realizada por órgãos da imprensa promoveu repercussões tanto entre as
sociedades científicas como nos espaços escolares, motivando manifestações que
apontam para a incompatibilidade dos atuais processos formativos no âmbito do
ensino superior com a suposta proposta de integração disciplinar que partiria
do MEC.
Os conselheiros
José Fernandes Lima (presidente do CNE) e Erasto Fortes Mendonça esclareceram
aos presentes que as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio mantêm as disciplinas escolares. Apresentando o relato da reunião
realizada no dia 01/10 no MEC, os representantes da ANPUH reforçaram as falas
dos conselheiros, informando que os integrantes do referido órgão governamental
pretendem contar com o apoio das associações científicas para avançar no debate
relativo às reformas curriculares.
Os
encaminhamentos da reunião acerca da discussão das reformas curriculares para o
Ensino Médio foram os seguintes: estreitamento das relações entre as
associações científicas para a intervenção nas questões educacionais;
articulação das associações científicas no sentido de participar do processo de
discussão curricular; elaboração de um documento solicitando ao MEC um encontro
do ministro com as associações científicas para o estudo de propostas,
considerando sua viabilidade e potencial de implementação.
Como resultados
desses encontros, apontamos a abertura do MEC, e dos demais órgãos visitados,
ao diálogo sobre os temas levantados, reconhecendo a ANPUH como uma das
entidades qualificadas para esse debate.
Como
encaminhamentos dessas reuniões, estamos buscando outras entidades e
associações para constituir um espaço de diálogo mais amplo relativo aos
desdobramentos das novas Diretrizes Curriculares Nacionais; além disso, também
estamos articulando formas de participação, que assegurem a mobilização
coletiva nesse processo, enfatizando tratar-se de um debate público, que,
necessariamente, expressará diferentes visões sobre o tema. Afinal, entendemos
que uma de nossas tarefas, naquilo que cabe à 2ª secretaria e ao GT, é forjar
os meios para que os associados da ANPUH-Brasil possam se manifestar e promover
ações que deem visibilidade ao debate.
Carlos Augusto
Lima Ferreira
2º secretário da ANPUH-Brasil (Gestão 2011-2013)
Arnaldo
Pinto Jr, Paulo Mello e Ricardo Oriá
Coordenadores do GT de Ensino de História da ANPUH-Bra
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