segunda-feira, 18 de maio de 2009

Virou Notícia: sobre a Autonomia do Acre

PERIODICO: CORREIO DO ACRE DATA: Anno I , 20 de novembro de 1910 - Nº 11 LOCAL: Xapury - Departamento do Alto Acre Pág. 2 - Col. 3 e 4
Acervo Digital do Departamento Histórico do Acre. TÍTULO: O ACRE NÃO TEM CAPACIDADE PARA SER AUTONOMO. O ACRE AUTONOMO SERIA O TERRITORIO MAIS INFELIZ DO BRAZIL Agora, que o governo da Republica acaba de receber communicação official de reinar inteira calma no Territorio do Acre, é natural, é justo que se volte a cuidar de melhorar as condições desse rico pedaço da nossa terra. Ás classes dirigentes da Repubica impõe-se esse dever inilludivel. Entretanto, grande prudencia e sabedoria devem presidir ás deliberações que nesse sentido se tomem. E para que, na medida das nossas forças, possamos contribuir para o esclarecimento dos nossos homens publicos sobre a situação actual do Acre, iniciamos hoje a publicação de uma serie de artigos que nos enviou um patricio illustre, vindo ha pouco daquellas regiões, que por largo tempo palmilhou.
É um espirito culto e independente, sem ambições que o subjuguem, sem interesses, sem cobiça, sem parcialidade. E pelas suas palavras, pelo seu desassombro, pela intrepida sinceridade dos seus conceitos, o governo e os legisladores devem meditar sobre o seu depoimento. “Essa historia da autonomia do Acre está se tornando uma velha canção de realejo, batida e estafante. É preciso dizer a verdade sobre ella e pôr um ponto final em toda essa campanha feita de inconfessaveis desejos, de mascaradas ambições, e sustentada por um enorme bando de aventureiros e traficantes, que a todo o transe procuram se apoderar da renda daquelle Territorio, illudindo, illaqueando a boa fé, a ingenuidade de alguns homens de responsabilidade perante a Nação.
Ponhamos a questão neste pé: - Póde o Acre ser autonomo? Tem elle capacidade para lhe serem conferidos taes direitos? Há em seu Territorio cidadãos capazes de preencher e exercer todos os cargos de responsabilidade em que se dividem os diversos ramos da administração publica? A sua população é fixa, ligada ao solo por multiplos interesses, ou é uma população quasi nomade, erradia, sem o caracter de definitivo? Qual a vantagem palpavel e real que traz a autonomia para as classes laboriosas e para o proprio progesso da região acreana? Não será antes uma desvantagem conceder -se tal direito a quem não se acha sufficientemente preparado, podendo advir dahi irregularidades insanaveis, sérios abusos; violencias, depredações, attentados a vida e às propriedades dos habitantes do Acre? Os chefes do movimento autonomista, pelo menos os que aqui se acham, são pessoas de valor moral acima de quaesquer suspeitas?
Que nos respondam os homens de boa fé, independentes e sérios. Reflictam os nossos legisladores sobre todos estes pontos da questão acreana pescrutem, indaguem, analysem todos os problemas que se predem a um caso de tanta relevancia e vejam se pode haver autonomia onde, nem mesmo com a direcção do governo federal, ha garantias seguras e certas para os habitantes daquella malfadada região.
Para se avaliar que possa ser o Acre autonomo, longe da tutela do governo da união, basta relatarmos o que ali se passou, quando ficou imcumbido da prefeitura do Alto Acre, na ausencia do capitão Gesuino de Albuquerque, o Coronel Alencar, indigitado para o futuro governador daquella zona e que aqui se acha dizendo-se enviado do povo acreano e pacificador do jurúa.
Vendo-o, mellifluo e affavel, manso e delicado, ninguem irá que debaixo dessa mansidão e dessa delicadeza, se esconda um verdadeiro typo de coronel sertanejo, autoritario e violento, sanguinario e máo, cheio de despeitos e inveja, vaidoso, fófo e ridiculo. Durante a sua negregada administração, como prefeito interino, deram-se naquelle departamento os mais graves abusos, as maiores violencias, que a imprensa desta capital, com especialidade do correio da noite, profligou e analysou profundamente.
Armou um bando de secarios, sob o commando do canguaceiro Bacuráo, para perseguir todos os amigos de Placido de Castro; poz a villa do Xapury em estado de sitio; fechou violentamente o jornal o Acre; mandou prender e espancar barbaramente o seu redactor. Justo Gonçalves da justa e Julio Tupy, espancando de um assasinato o certo o honrado negociante Coronel Francisco Conde, foi se ter foragido.
Na villa de rio branco era encarcerado o juiz Otavio Stenier do Campo e o tabelião Octavio Fontoura teve de fugir para o seringal bagaço, levando consigo o cartorio, para não ser victima de sania homicida do Coronel Alencar. Muitas outras violencias praticou o sr. Coronel Antonio Antunes Alencar quando prefeito interino; calcula-se agora o que não faria sua exc. Governador daquelle infeliz territorio, entregue ao temperamento do chefete local, que não admitte que ninguem deixe de render homenagem ao seu talento e à sua illustração.
Pois é esse homem feroz, inimigo de Placido de Castro, portado de uma fé de officio tão cheia de crimes, que aqui vem, como embaixador. A ursi todos os protagonistas da autonomia do Acre são typos do quilate desse coronel - autoritario e violento. Ninguem se illuda com os interinos e as pretenções dessa gente, que apenas, quer arranjar um meio de “cavação”, em detrimento dos reais interesses do Acre.
Nós aqui ficamos para orientar a opinião publica sobre as coisas e os homens do Acre, para que se não diga depois, quando o mal fôr irre mediavel, que não houve quem dissesse a verdade, quem esclarecesse ao paiz e o publico sobre a sorte que teria o Acre autonomo”. ( Da Gazeta da tarde do Rio de Janeiro, 3 de setembro).

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