quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A GEOPOLÍTICA DO CAPITALISMO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Carlos Alberto Franco da Silva e Flávio Almeida Reis FONTE: http://www.marxismo.org.br/index.php?pg=artigos_detalhar&artigo=377 Com este breve artigo de estudiosos da UFF (Universidade Federal Fluminense), iniciamos um conjunto de contribuições para o debate sobre a expansão da fronteira capitalista na Amazônia brasileira. A questão ambiental no Brasil envolve dois padrões de desenvolvimento que se apresentam como contraditórios na aparência, mas são parte integrante do modelo capitalista de produção.O primeiro possui uma vertente industrial, mineral e agrícola e consolidou-se a partir de 1960. A abertura da fronteira agrícola capitalista, a expansão da fronteira urbana, a exploração do subsolo, os projetos de colonização privados e oficiais e a instrumentalização técnica do território eram parte da geopolítica de integração econômica do país em direção às regiões consideradas “periféricas”.
Logo, projetou-se na Amazônia o imaginário de região atrasada e vazia, a fim de legitimar um processo de inserção de áreas privilegiadas nos circuitos de acumulação de capital em escalas nacional e global. Para tanto, o desmatamento se afirma como ideário de inserção do Cerrado e da Floresta Equatorial no projeto desenvolvimentista do Estado.O “país do futuro” possuía uma natureza rica, mas hostil.
O progresso demandava controle da natureza. A sagração da Natureza convocava a nação para a marcha rumo ao Norte, ao Oeste, ao Sertão. A Amazônia era o Eldorado a ser conquistado. Tais signos escamotearam as lutas de classes no Brasil. A abertura da fronteira se tornava uma válvula de escape para as questões fundiárias. A nação una e indivisível se afirmava na incorporação de terras e uso indiscriminado dos recursos do subsolo.
Tal imaginário ainda se verifica quando se analisa os projetos capitalistas previstos para a Amazônia. Assim, os capitalistas subordinaram os trabalhadores à sua ideologia dominante. Ou seja, mascararam seus interesses particulares como interesses nacionais. Entre 1960 e 1985, a nação foi colocada a serviço do ideário desenvolvimentista do país. Toda oposição era vista como ameaça comunista aos interesses nacionais, mas na verdade ameaçava os pecuaristas, sojicultores, industriais e grupos mineradores.
O segundo padrão, a partir de 1980, possui uma vertente tecno-ecológica. A questão ambiental passa a ser uma preocupação do capital, a defesa de saberes culturais e a manutenção da biodiversidade se tornam estratégicos para aumentar os lucros. É como se o capital se vestisse de verde, um “eco-capitalismo”, com preocupações agro-ecológicas. Desenvolvimento sustentável, crédito de carbono e aquecimento global são alguns dos pontos-chave dessa agenda. A Amazônia encerra esses dois padrões de acumulação.
O agronegócio, de um lado, e a agro-ecologia, do outro, simbolizam o debate entre duas aparentes forças contraditórias.Se o agronegócio na Amazônia representa um padrão que demanda expansão da lavoura, desmatamento, concentração fundiária e exclusão social, a agro-ecologia revela duas faces. Uma delas envolve os movimentos sociais de resistência ao agronegócio. A outra apesar do discurso contra-hegemônico ao capital não é capaz de revolucionar a sociedade.
Trata-se de um discurso radical que não combate as raízes do sistema, mas somente tenta reformá-lo; Acaba sendo uma “prática humanista” que não vai até o fim dos reais problemas. Não busca a destruição do mercado capitalista e suas leis orientadas para acumulação. Sem esse combate, não é possível inverter a situação que temos hoje: alimentos sendo produzidos, não para alimentar pessoas, e sim para dar lucro às grandes corporações.
A luta contra a propriedade privada dos meios de produção e pela planificação da economia, isto é, o planejamento democrático da produção, circulação e consumo das mercadorias, são as bandeiras dos revolucionários, e isso não aparece no cerne da luta pela agro-ecologia. Outro debate é a atuação do Estado, que é contraditório, mas funcional ao capitalismo. Os embates atuais entre os ministérios da Agricultura e Planejamento x Meio Ambiente revelam as contradições da coalizão que compõem o governo Lula. Debateremos isso nos próximos artigos.

Nenhum comentário: