FENELON, Déa (Et all). MUITAS MUITAS MEMÓRIAS, OUTRAS HISTÓRIAS.
- Proposta é o intercâmbio e o diálogo.
- OBJETO: memória e história. “Entendendo-as como um campo atravessado por lutas de classe”.
- Questionar a “historiografia que se proclamam versões autorizadas dos acontecimentos e que produzem a invisibilidade e a inaudibilidade dos dissentes, bem como o apagamento dos vestígios de suas memórias e histórias”.
- Textos de agosto de 2003.
INTRODUÇÃO (FENELON, Déa. MUITAS MEMÓRIAS, OUTRAS HISTÓRIAS / p. 5).
“Quando sinalizamos para MUITAS MEMÓRIAS assumimos lidar com memória no plural” p. 5.
“É muito difícil colocar o S na História com H” p. 6.
“O que se busca era colocar em causa as relações entre memória e história” p. 6.
“Buscávamos retirar a História do campo da erudição neutra ou da mera especulação do passado e a colocávamos no campo da política, no melhor sentido da palavra [...] enfatizar o caráter ativo da memória na construção da história” p. 6.
“Como qualquer experiência humana, a memória é também um campo minado pelas lutas sociais. Um campo de luta política” p. 6.
“A memória histórica constitui uma as formas mais poderosas e sutis de dominação e de legitimação” p. 6.
- Memórias alternativas são produzidas na vida cotidiana. “Reavivar lembranças e narrativas de sujeitos excluídos e dissidentes” p. 6.
- TEMA: memória, tradições e patrimônios. “Cultura, trabalho e cidade”.
- Quais as formas pelas quais a memória se materializa?
“Já formulamos que todo documento é monumento” p. 7.
- A diversidade do social se expressa na diversidade de formas, linguagens e suportes materiais.
- O desafio é produzir outras histórias. A historiografia acadêmica seria a única versão autorizada dos acontecimentos?
-Valorizar a categoria ‘Trabalhador Urbano Assalariado’. “Preocupação com os movimentos sociais e não apenas com o movimento operário” p. 8.
“Culturas é aqui tomada como expressão de todas as dimensões da vida, incluindo valores, sentimentos, emoções, hábitos, costumes e, portanto, associada a diferentes tipos de realidade” p. 9.
- Ao estudar as cidades, o que interessa para esse grupo de pesquisa são as relações sociais. Cidade foi considerada para além de suas manifestações políticas e culturais.
- Romperam com a tradição de tratar as fontes como sendo aquelas bem definidas e registradas, oficiais ou privadas.
- O documento “expressa sujeitos históricos, inseridos ativamente numa complexa rede de relações e acontecimentos e num intricado jogo de pressões e limites que é preciso problematizar” p. 10.
- A imprensa não era fonte de dados objetivos. A literatura não pode ser olhada como um espelho fiel da realidade.
“Considerar a imprensa um espaço articulador de projetos políticos e formador de opinião, e desnudar qualquer pretensão de universalidade” p. 10.
“Enfrentar as questões das linguagens nos levou até mesmo a aceitar que era possível produzir outras fontes” p. 10.
“O grande desafio que nos coloca é o de empreender o caminho de volta. É o de questionarmos a natureza e o lugar social de nossa atividade profissional e de nossa escrita” p. 11.
“Quando falávamos de ‘Muitas Memórias, Outras Histórias’ estávamos dizendo que há um lugar para disputar hegemonia e várias maneiras de produzir História no social” p. 11.
“Numa visão linear do tempo, considera-se o presente mero desdobramento do passado no qual já estava, de certa maneira, inscrito” p. 12.
“Propomos a construção de um olhar político, segundo o qual o tempo presente é uma dimensão que nos impulsiona, não importando o tema escolhido ou o tempo histórico em que situamos a nossa investigação. E mais: orienta-se para o futuro, já que a nossa perspectiva é a de transformar este presente e nossa inspiração é a vontade de buscar a utopia” p. 12.
- Que tipo de consciência histórica estamos trabalhando? “Que contribuição estamos fazendo em termos de traduzir em outras histórias aquelas memórias que foram obscurecidas, ou que nós estamos procurando trazer a tona?” p. 12.
“O debate historiográfico que propomos deverá produzir memórias” p. 13.
CAP. 1 - Produzindo notícias e histórias: algumas questões em torno da relação telégrafo e imprensa (1880/1920). [PAULA, Dilma. p. 41].
- A mídia define o que é importante para compreendermos o mundo hoje; “na construção de sentido e ordenamento da realidade social e na constituição de memórias hegemônicas” p. 14.
- A imprensa seria o lugar privilegiado para a realização de uma história imediata.
- Notícias apresentadas de forma fragmentada e hierarquizada. Descobrir o que não é dito, ou o insinuado.
- Reivindica um lugar de verdade. “Disputas e lutas que marcam a produção social da memória, considerando a imprensa um dos lugares privilegiados para a construção de sentidos para o presente e uma das práticas de memorização do acontecer social” p. 15.
- Precisamos desvendar como o processo de dominação opera no campo histórico para desqualificar memórias e histórias, procurando atribuir um sentido universal para experiências extremamente particulares.
“Cabe-nos voltar aos acontecimentos passados não apenas para conhecer sua história, mas para detectar as razões que o engendraram” p. 16.
“Memória como um processo socialmente ativo de criação de fatos e significados que modela nossa consciência do ontem e do hoje, afirma algumas tendências, possibilidades e sujeitos, apagando outras memórias e histórias dissidentes” p. 16.
- Problematizar a intensidade e o poder da permanência de uma memória construída.
- Maneira pela qual, diferentes sujeitos históricos elaboram práticas sociais, organizam significados e valores.
- Notícia, carrega um “efeito de verdade”. Tornam evidentes algumas experiências e apagam outras.
“Minha preocupação tem sido acompanhar a articulação histórica das diversas linguagens instituintes das memórias, destacando a construção de temporalidades, projetos e sujeitos sociais” p. 18.
“Refletir sobre marcos construídos no interior das memórias de jornalistas” p. 19.
“Como as memórias trazem dimensões do passado e ajustam-nas às aspirações e compreensões do momento” p. 19.
“Proponho refletir sobre o movimento de constituição de uma rede mundial de comunicação e de difusão de informações – via telégrafo e imprensa” p. 19.
“A linguagem é produzida no mundo letrado e urbano” p. 20.
“A proposta é investigar a natureza das relações entre cultura letrada, periodismo e vida urbana e os processos de letramento do povo ou as formas como a cultura letrada populariza-se” p. 20.
- Propõe indagar sobre o lugar social onde estas linguagens foram produzidas.
- Informação como mercadoria, feita em série em um ritmo industrial. Paga-se pela exclusividade.
“Se em 1903 ainda eram necessários nove minutos para que uma mensagem telegráfica desse a volta ao mundo; às vésperas da primeira guerra, o tempo já havia sido reduzido para um segundo” p. 24.
- Vendia-se a idéia de que a matéria era isenta de sensacionalismo.
“É preciso indagar sobre o modo como os jornais constituem formas de olhar e narrar o acontecimento e de fixar uma versão entre outras possíveis” p. 26.
- A agência de notícia tem um caráter propagandístico.
“É preciso desvendar os significados, interesses e tensões que pontuaram a produção desses registros” p. 27.
“Os jornais organizam a narrativa sobre um determinado tempo histórico” p. 27.
- Jornal como um órgão de informação.
- Acontecimentos falsos, boatos, relatos tendenciosos etc eram espalhados via agência de notícias.
“A escolha das palavras, imagens, associações e cronologia construída não são aleatórias” p. 38.
- Uma forma de explicar o vivido, que aponta a existência de disputa e tensões.
“O jornal, como uma força social que atua no presente, seleciona e fatia aspectos da realidade que constituirão a pauta do debate público” p. 40.
CAP. 2 – O Futuro traído pelo passado: a produção do esquecimento sobre as ferrovias brasileiras (PAULA, Dilma, p. 40).
- Os trens interurbanos de passageiros foram progressivamente extintos no Brasil desde a década de 1960.
- Em 2004, completam-se 150 anos de ferrovias no Brasil.
- Tentou-se fazer das ferrovias brasileiras sinônimo de atraso e de déficits operacionais.
- Os trilhos foram liberados para transporte de cargas.
- O incentivo governamental passou a ser dirigido para as rodovias.
“Tratar-se-á, neste trabalho, do processo de construção do esquecimento sobre as ferrovias brasileiras, por meio da sua constante depreciação como transporte coletivo, principalmente daqueles que se ocupavam do transporte interurbano e inter-regional de passageiros” p. 43.
“No âmbito da grande empresa, pela construção da imagem do atraso e da ineficiência” p. 43.
- Tem a ver com a História e a Memória.
“A memória é um campo minado pelas lutas sociais [...] a MEMÓRIA HISTÓRICA constitui uma das formas mais poderosas e sutis da dominação e da legitimação do poder. Tem sido sempre o poder estabelecido que definiu, ao longo do tempo histórico, quais memórias e quais histórias deveriam ser consideradas para que se pudesse se estabelecer uma certa Memória para cunhar uma História certa” p. 43.
“Sob a voz de uma memória única foi instituída a política anti-ferroviária e pró-transporte automotivo e individual. Reivindica-se, portanto, o direito a outras memórias e a outras históricas” p. 44.
- Antes as ferrovias eram consideradas como as condutoras da civilização aos mais distantes rincões.
- Setembro de 1853, Mauá encenou a primeira viagem de trem na história do Brasil.
“Precisou-se construir a noção de obsolescência de outros meios de transporte para que o investimento ferroviário se justifique e alcançasse status de hegemonia” p. 48.
“A ideologia do progresso incorporada ao transporte ferroviário moldou hábitos sociais, provocou sonhos e esperanças” p. 48.
“Símbolo da modernidade e do futurismo, o tem chegava às cidades desenhando uma nova paisagem urbana, criando bairros e redefinindo o sentido do tempo” p. 49.
“Símbolo da modernidade e do futurismo, o trem chegava às cidades desenhando uma nova paisagem urgana, criando bairros e redefinindo o sentido do tempo” p. 49.
- A chegada do trem marcava as horas e trazia as noticias.
- A ferrovia provocou em São Paulo e em outras regiões o surgimento das primeiras fábricas.
“Esse movimento veloz de construir e de destruir é o mais fascinante e o mais amedrontador do mundo capitalista” p. 51.
“Quaisquer que sejam os interesses dos grupos dominantes, tudo se justifica ideologicamente” p. 51.
- Moderno, Modernização, Progresso, Desenvolvimento = são termos utilizados pelas classes hegemônicas e que justificaram grandes projetos de transformações, transformações essas que faltou ao encontro da maioria da sociedade.
“Nos projetos de modernização, a idéia de novo assume um papel central” p. 52.
“Mais do que uma ruptura com o passado, o novo significa um esquecimento, uma ausência de passado” p. 53.
“O moderno também está fadado à destruição”.
- O trem ficou obsoleto, novos projetos de transportes provocaram desajustes sociais. A função do trem foi reavaliada.
“A partir de 1913, paralelamente ao discurso de ineficiência da ferrovia, que já se esboçava, surgiram os argumentos de exaltação às rodovias, defendidos pelos diversos governantes e assessores” p. 53.
“Difusão da idéia e valores positivos associados ao automóvel” p. 53.
- Com o processo de industrialização do país, as ferrovias vão, aos poucos, perdendo espaço para as ferrovias.
“O argumento do progresso se vincularia, agora, à rodovia, sendo a ferrovia identificada ao arcaísmo e, principalmente, ao antieconômico” p. 55.
- Kubitschek (1956-60): incentivo às indústrias automobilísticas.
“A obsolescência dos trens não significou o seu desaparecimento imediato e por inteiro” p. 56.
“Os símbolos do que significaram as ferrovias estão presentes em vários caminhos da memória, nos quais o passado não está apaziguado” p. 57.
“Cabe investigar o sentido destas lembranças para as pessoas que vivenciaram o transporte ferroviário” p. 56.
- A referência ao trem na literatura é uma constante.
“Qualquer pessoa que tenha vivido às margens de ferrovias ou que foi ferroviário tem muitas histórias a contar” p. 59.
“A memória frequenta as ruínas” p. 59.
- Máquinas abandonadas. “Seriam esses os símbolos da modernidade brasileira?” p. 60.
- As cidades foram crescendo, engolindo o trajeto ferroviário.
“Como poderíamos enfrentar a dinâmica lembrança-esquecimento sobre as ferrovias?” p. 62.
LER p. 62.
“Nos documentos oficiais em fins do século XIX, a ferrovia era tratada como o veículo por excelência da integração nacional e veículo condutor da civilização. O discurso modifica-se a partir da década de 1950” p. 65.
- Como qualquer serviço público, as ferrovias padeciam de problemas, no entanto, o governo não se preocupou em saná-los, pelo contrário, potencializava-os com o fim asfixiá-lo financeiramente.
- O trabalho tenta investigar como foi aceita a argumentação de que a ferrovia era inviável. “A investigação sobre a produção dessa aceitação e desse esquecimento” p. 66.
- Estudar a ferrovia como um símbolo de um tempo que já se foi. Recordar o passado.
CAP. 3 – Os carnavais na cidade de São Paulo nos anos de 1938 a 1945. (SILVA, Zélia. p. 68).
“O objetivo é aprofundar as relações entre memória social e história, tematizando a compreensão dos processos de constituição da memória dominante em diferenciadas dimensões do cotidiano de sujeitos sociais”.
“As interpretações sobre os festejos carnavalescos brincados no país durante os anos de 1938 a 1945 apresentam elementos incontestes dessa imbricação entre memória e história” p. 68.
- Ao nacionalizar as festas consagrou-se uma das faces da identidade do país.
“Ao longo da década de 1930, houve alterações significativas na estrutura do carnaval praticado no Rio de Janeiro” p. 70.
“Os festejos ocorridos nesse período estiveram envolto por algumas peculiaridades que os distinguem dos momentos anteriores” p. 70.
- O cenário bélico afeta as festas carnavalescas.
“O foco das proibições alterou-se significativamente em relação à década anterior” p. 72.
- Antigo e Novo Modelo.
“Tendência ao esvaziamento do carnaval de rua em favor de um carnaval em espaços fechados” p. 77.
- Qualquer desfile passou a precisar de autorização oficial.
“Se seria ético o país mergulhar na folia, quando brasileiros morriam nos campos de batalha”.
“As determinações dos órgãos de censura não eram poucas” p. 84.
- A autora mostra que as proibições não foram aceitas sem que houvesse resistências.
- Algumas letras de músicas mostram isso.
“Os festejos carnavalescos estiveram marcados por muitas proibições e um policiamento ostensivo, notadamente voltado para o controle das manifestações populares que tiveram suas manifestações cerceadas” p. 92.
CAP. 4 – Os famintos do Ceará. (BARBOSA, Marta. P. 94)
- Trabalho a respeito de 14 fotos sobre a seca do Ceará (1877-78).
- Pessoas transformadas em objeto fotográfico. Por que tais fotos? Quem as tirou? Quais motivos? Etc.
- Recompor uma visão crítica do presente. LER p. 95.
“As imagens da fome e do Ceará Seco indiciam um percurso de constituição de uma memória que se tornou dominante, que é preciso problematizar sua natureza e seus significados, e, ao mesmo tempo, articular uma visibilidade para outras histórias e memórias” p. 95.
“Valeria a pena pensar em processos que constituíram a seca como uma recorrência temática” p. 95.
- O relato quase cotidiano sobre a seca.
- AS FOTOS: narrativa da imagem, a experiência do olhar e ler não só pelas palavras escritas, mas pela composição de imagens escolhidas.
“O trabalho com essas fotografias sugere pensar na construção de uma memória que começa a se forjar na articulação entre textos escritos e imagens” p. 96.
- Produção de imagens que institui a memória.
- Fala sobre o papel da imprensa em divulgar as fotos.
- Fome no terceiro mundo associada ao processo de colonização.
- Miséria exposta, horror declarado, estampado nas primeiras páginas dos jornais.
- A foto dar credibilidade ao texto jornalístico.
- Barthes: “A foto não é cópia do passado, mas parte dele”.
- As fotos passaram a fazer parte da estética dos famintos no Ceará.
- A eloquência das palavras supera o poder das palavras.
- Recordar o vivido.
“Retorno a esse campo de narrativa não para com ele concordar ou para não esquecê-lo. Retorno para interroga-lo sobre o que escondeu e silenciou” p. 115.
CAP. 5 – Muitas memórias, outras histórias: cultura e o sujeito na história (KHOURY, Yara. P. 116).
- É uma reflexão entre cultura e memória.
“Considerando a história um processo de disputas entre forças sociais, envolvendo valores e sentimentos, tanto quanto interesses, e dispostos a pensar e avaliar a vida cotidiana em sua dimensão histórica, a ponderar sobre significados políticos das desigualdades sociais, nossas atenções se voltam para modos como os processos sociais criam significações e como essas interferem na própria história. Nesse sentido é que entendemos e lidamos com cultura como todo um modo de vida” p. 117.
- As significações podem constituir-se em memórias.
- O historiador pode construir conhecimento que também pode se instituir em memória.
“Uso da história oral como um meio de aproximação de modos específicos como as pessoas vivem e interpretam os processos sociais” p. 117.
- Cidade como referência cultural.
“A memória como campo de disputas e instrumentos de poder, ao explorarmos modos como memória e história se cruzam e interagem nas problemáticas sociais sobre as quais nos debruçamos, vamos observando como memórias se instituem e circulam, como são apropriadas e se transformam na experiência social vivida” p. 118.
“Por meio do diálogo com pessoas, observamos, de maneira especial, modos como lidam com o passado e como esse passado continua a interpelar o presente enquanto valores e referências” p. 118.
“[...] sempre dentro da perspectiva de construir um conhecimento histórico que incorpore toda a experiência humana” p. 118.
“Centramo-nos na cultura como um campo fértil para identificar diferenças e descobrir tendências que questionam a ordem; procuramos desconstruir processos sociais de produção da memória e analisar as mútuas relações entre história é memória” p. 118.
- Memória enquanto prática política. “Tomamos a cultura popular como o espaço da diferença” p. 119.
“Insistindo na vitalidade de cultura e considerando o sentido incorporador da tradição, uma versão do passado que se liga ao presente e o ratifica, politizamos o trabalho com a cultura e a memória, assim como nossas temáticas de estudo e nossos próprios procedimentos na construção do conhecimento histórico” p. 119.
“Pluralizar os lugares sociais como também atuar no sentido de procurar garantir a liberdade de criar e modificar fronteiras, alianças e formas estabelecidas” p. 119.
“Há uma luta contínua e necessariamente irregular e desigual por parte da cultura dominante, cujo propósito é desorganizar e reorganizar constantemente a cultura popular, confinar suas definições e fórmulas dentro de uma gama mais completa de formas dominantes. Mas há também pontos de resistências [...] posições estratégicas que se conquistam e se perdem” p. 120.
“A cultura não transcende a política, mas represente os termos em que a política se articula” p. 122.
“De que maneira temos lidado com as peculiaridades e a dinâmica da experiência e da consciência social articulada pelas falas e pela memória, impregnada nos gestos, comportamentos, costumes, rituais” p. 122.
“Como produzir um texto forjado por múltiplas vozes, atribuindo-lhes o devido valor como atos interpretativos significativos da realidade em estudo?” p. 123.
“Como restituir, com a narrativa final que construímos, um produto no qual as pessoas com as quais entrevistamos, possam se reconhecer [...]”.
“Narrativas como práticas sociais, como expressões da experiência vivida, enraizadas no social e interferindo nele” p. 123.
“As narrativas como práticas sociais, portanto em movimento, na dinâmica do social vivida. Tanto fatos como narrativas se constroem nas e pelas redes de relações em que estão inseridos [...] as narrativas como atos interpretativos, como processos constantes de atribuição de significados, como expressões da consciência de cada um sobre a realidade vivida. Dialogar com as pessoas supõe apreender os sentidos que cada um dos fatos narrados e das pessoas que narram assume nas problemáticas estudadas” p. 123.
“Nosso propósito de lidar com as narrativas como práticas que se forjam na experiência vivida e que, também intervêm nela, nos coloca o desafio de adotar e desenvolver procedimentos que nos possibilitem apreender o trabalho da consciência e incorporá-lo na explicação histórica. Ao narrar, as pessoas interpretam a realidade vivida, construindo enredos sobre essa realidade, a partir de seu próprio ponto de vista” p. 125.
“As pessoas são um amálgama de muitas experiências, que se constituem e se transformam na vida diária, vivendo e se comunicando através de fronteiras e transitando entre elas” p. 127.
“Lidar com as narrativas requer pensa-las no movimento da história [...] o desafio é de pensar e explorar como elas se forjam e se realimentam, na natureza contraditória das relações sociais, como as pessoas as incorporam e as subvertem nas pressões e nos limites da vida diária” p. 127.
“As instituições de comunicação exercem um papel de destaque, ao produzirem enunciados que participam ativamente de construção de sentidos que se generalizam rapidamente, como parte da cultura pública” p. 127.
“Nosso interesse é trabalhar a narrativa oral no movimento da história; como uma prática social, ela tem sua própria historicidade; o narrador constrói sua identidade, fazendo uso dos elementos de sua cultura e historicidade e recorrendo a um passado significado e resinificado no presente” p. 128.
“Lidar com o tempo nas narrativas é também lidar com a memória. A fala oral está sempre impregnada de memória. Nas conversas estamos em contato direto com modos como as pessoas costumam significar o passado, marcar e usar o tempo” p. 128.
“Estamos habituados a uma divisão sacralizada do tempo histórico em grandes períodos”.
“Datar um evento não é simplesmente coloca-lo numa sequência cronológica, mas decidir a que sequencia pertence” p. 128.
“As entrevistas estão impregnadas de relações, oferecendo um terreno rico para apreensão de padrões sociais e culturais e suas transformações” p. 129.
“Ao narrar, as pessoas estão sempre fazendo referência ao passado e projetando imagens, numa relação imbricada com a consciência de si mesmos, ou daquilo que elas próprias aspiram ser na realidade social” p. 131.
“Os silêncios são poderosas acumulações de energia, invisível, mas carregadas de significados” p. 132.
“Nosso compromisso de inventariar as diferenças e de perceber tendências que tencionam na dinâmica social, passa, também, por compreender processos sociais de construção de memórias” p. 132.
“[...] recorrendo também a discursos e práticas simbólicas” p. 132.
“O esforço é de compreender como as pessoas se apropriam e usam o passado, no campo complexo das discutas dentro das quais se constituem” p. 133.
“A construção das hegemonias se faz na relação com os que elas dominam e estes também se fazem e se reconhecem nessa relação”.
“Explorar modos como memórias se fazem e se refazem, tencionam e se articulam na experiência diária, transições, costumes e sensibilidades” p. 133.
“Essas questão da memória articula-se, também, à problemática das identidades” p. 134.
“O potencial da memória como prática política ainda requer, igualmente, muita exploração e reflexão sobre modos como grupos marginalizados ou deslocados se refazem, reconstroem territórios e identidades, reinventam tradições e práticas culturais” p. 134.
“O processo de lembrar a guerra entre os kosovares parece ligar grupos de diferentes nacionalidades; construções de memória de sofrimento para aproximá-los” p. 135.
“Vamos procurando compreender como esses processos históricos criam significações numa relação de forças complexas e imbricada e como essas atuam nessa mesma realidade, influindo nos rumos da transformação histórica” p. 136.
“Na história oral, as versões pessoais sobre experiências vividas e compartilhadas são representativas de horizontes que se colocam para muitos outros”.
“Lidar com significados que se elaboram na consciência das pessoas no embate de forças da dinâmica social é também um exercício de análise e compreensão dos enredos como fatos e dos processos de visão como elementos significativos na explicação histórica” p. 136.
“Vamos refletindo sobre a história oral como um campo de exercício do direito de falar, de expressar as interpretações e perspectivas de cada um” p. 137.
CAP. 6 – Encantos e desencantos da cidade: trajetórias, cultura e memória de trabalhadores pobres de Uberlândia [1970/2000]. (ALMEIDA, Paulo. P. 139)
- Cidade como espaço de múltiplas experiências.
“Buscamos entender os modos de viver, de morar, de lutar, de trabalhar e de se divertir dos moradores que impregnam e constituem cotidianamente a cultura urbana” p. 139.
“O espaço urbano se caracteriza como um espaço de disputas, sempre conflituoso, sempre presente nas diversas dimensões. Isso porque a cidade e suas instituições devem ser vistas como espaços de produção de conflituosas relações que historicamente podem exprimir-se em dominação, cooptação ou consenso, mas também em insubordinação e resistência” p. 141.
“Fazendo emergir a cidade da experiência e das expectativas de seus moradores, a luta pela habitação ganha contornos dramáticos à medida que entra em confronto com a legislação urbana” p. 141.
“A cidade aparece aqui como um local privilegiado para entender as novas dinâmicas das relações entre Capital e Trabalho” p. 141.
- Sujeitos reais, com seus dramas, expectativas e sonhos.
“tentativa de visualizar sujeitos coletivos, homogeneizando, com isso, expectativas e visões de mundo” p. 143.
“Como qualquer experiência humana, a MEMÓRIA é também um campo minado pelas lutas sociais: um campo de luta política, de verdades que se batem, no qual esforços de ocultação e de clarificação estão presentes na luta entre sujeitos históricos diversos que produzem diferentes versões, interpretações, valores e práticas culturais. A memória histórica constitui uma das formas mais poderosas e sutis da dominação e da legitimação do poder. Reconhecemos que tem sido sempre o poder estabelecido que definiu, ao longo do tempo histórico, quais memórias e quais histórias deveriam ser consideradas para que se pudessem se estabelecer uma certa Memória para cunhar uma histórica certa” p. 144.
- Priorizou as fontes orais.
- Pesquisar a formação, sedimentação e perpetuação de certa memória.
- Embate de uma memória que parece cristalizada, “representada pela presença hegemônica de registros oficiais e de uma memória mais amplamente reconhecida e autorizada” p. 144.
“não creio muito em algo que se coloque como uma memória coletiva, porque não vejo onde está situada uma memória coletiva, a não ser nas atividades intelectuais de cada um dos indivíduos. Uma memória coletiva institucionalizada pode transformar-se nessas memórias hegemônicas” p. 145.
“Os momentos de vida na cidade tornam-se ou são profundamente marcados por expectativas passadas” p. 147.
“[...] a forma como os sujeitos elaboram suas trajetórias, o que chamamos experiências” p. 148.
“A impressão é de que no imaginário desses sujeitos sociais a cidade representava uma esperança” p. 150.
- Como a imagem da cidade é trabalhada por parte do Governo. O migrante se decepcionou.
“É sugestivo notar como o mundo desconhecido é qualificado” p. 154.
CAP. 7 – Muitas memórias, outras histórias de uma cidade. Lembranças e experiências de viveres urbanas em Uberlândia. (CALVO, Célia. P. 155).
- Direto a OUTRAS HISTÓRIAS e MUITAS MEMÓRIAS.
“... enquanto cidadãos, interpretavam por meio de suas experiências sociais o processo de mudanças da cidade, focalizando os seus viveres sociais o processo de mudança da cidade” p. 156.
“Busquei produzir memórias com as quais fosse possível uma compreensão crítica do processo de transformação da cidade, destacando a construção de temporalidades, de projetos e, sobretudo, de sujeitos que elegiam outros momentos, processos e lugares para cunhar os sentidos das mudanças da cidade, vislumbrando, assim, as articulações históricas entre as memórias hegemônicas e aquelas que foram produzidas e que tinham como referência as mudanças nos espaços, territórios e viveres cotidianos” p. 156.
- O que seria no imaginário popular a expressão do progresso? Como tal imaginário foi construído.
- Como certos significados prevalecem sobre outros. LUGAR DE MEMÓRIA.
- descrevem os fatos da maneira como vivenciaram.
“uma cidade cujo valor se constituía nos significados que atribuíam a esse passado”. A importância dado ao passado para tal comunidade.
“Poderiam dizer que estes narradores sentiam falta desses viveres por meio dos quais atribuíam um sentido às práticas e aos costumes compartilhados e identificados nas relações com a cidade” p. 172.
CAP. 8 – Memórias de um trauma: o massacre na GEB (Brasília/1959). [CARDOSO, Heloísa. p. 173]
“A forma como as pessoas vão construindo, ao longo do tempo, as suas visões sobre ele possibilita-nos entender essa memória como um campo de disputas, onde se luta para minimizar ou para ressaltar certos elementos, que colocam determinados sujeitos no centro de uma história sobre a construção da cidade de Brasília [...] as memórias recompõem histórias da cidade” p. 174.
“As memórias constroem uma história da cidade, os elementos ressaltados pelos dirigentes do projeto de construção voltam-se para as ações que possibilitam engrandecer a iniciativa pessoal e a modernidade da nação” p. 176.
- HÁ uma distância muito grande entre as interpretações dadas pelos entrevistados.
“A proposta do documentário é a de apresentar a construção de Brasília pelo avesso” p. 176.
“Lembrança e esquecimento compõem uma interpretação que se coloca fora do tempo cronológico” p. 176.
- Na voz oficial, o que deve ser lembrado é a ousadia da empreitada. Os assassinatos não compõem a narrativa da execução do projeto. “reforçar os aspectos heroicos do empreendimento” p. 178. Os trabalhadores não aparecem como sujeitos históricos nessa narrativa.
- Deixar o trabalhador de Brasília falar é fazer emergir outros significados na tensão do diálogo.
“Reafirmar o episódio como massacre, matança ou fuzilamento é a versão que une os diversos depoimentos de trabalhadores” p. 180.
- Na voz oficial, os assassinatos se justificam, pois “os homens que se dirigiram para a região de Brasília eram uns bichos” p. 180.
- A jornada de trabalho era de até 20h ao dia.
“É tarefa nossa, como historiadores, entender não o evento em si, mas os mecanismos da lembrança que colocam fatos como eventos e como eles são capazes de articular o passado no presente” p. 182.
- Qual o significado de Brasília para os familiares dos assassinados? Ou para os trabalhadores?
“A sua fala constrói no presente uma versão sobre o que aconteceu” p. 184.
“Aa história oral lhes possibilita a afirmação como sujeitos históricos” p. 185.
“Lidamos com uma memória dividida, não só como oposição entre uma hegemonia, de um lado, e a dos trabalhadores, de outro, mas também porque ambas são múltiplas” p. 189.
“O episódio de 1959 se insere em um tempo histórico que é exaltado pela história oficial. Esta privilegia os caminhos do desenvolvimento e insere neles a construção de Brasília como linha única de interpretação da história do país” p. 189.
“Com os trabalhadores, ele recupera os seus significados do que foi viver nos canteiros de obras. Esses significados foram atravessando o tempo e se transformaram em símbolo contra a opressão” p. 189.
CAP. 9 – Algumas experiências no diálogo com memórias. (SILVA, Dalva. p. 191)
- Os relatos são buscados de acordo com interesses de uma memória histórica, “construída e forjada pelo poder no processo de dominação e que se pretende hegemônica” p. 191.
- Interpretar a memória a partir do sujeito, do lugar dele, da situação da entrevista, etc.
“As memórias ganham novo sentido a cada vez que são narradas, pois a EXPERIÊNCIA faz-se presente na interpretação que o narrador faz do passado quando a memória é arrancada do esquecimento” p. 192.
“Entre o momento vivido e aquele no qual o sujeito narra, há uma trajetória que deve ser levada e consideração e analisada como processo de composição” p. 192.
“Os relatos orais são vida e sentido a outros tipos de documentação” p. 193.
“Cada entrevistado compôs suas memórias a partir do momento vivido e do lugar social em que se encontrava no momento da entrevista” p. 194.
“São muitas memórias expressas das mais diversas formas, como os documentos escritos, as imagens, os objetos, o espaço, a arte, a música, a poesia, a oralidade [...] que constituem fontes para muitas histórias” p. 205.
CAP. 10 – Trabalhadores e memórias: disputas, conquistas e perdas na cidade (VARUSSA, Rinaldo. P. 208).
- Faz um estudo da história de Jundiaí (SP), nas décadas de 1940/60.
- Durante o período a cidade passou por um processo de industrialização.
- Houve uma divulgação de que a agricultura estava vinculada ao atraso.
-Momento em que a ferrovia perde o status para as rodovias.
- O progresso, no entanto, não é confirmado na fala de diferentes sujeitos sociais.
- As narrativas tornam possível a percepção dos mecanismos de tomada de consciência dos sujeitos acerca dos processos experimentados e como eles forjam valores, significados e situam-se em relação ao social. “Narrar e estabelecer um fato dá-se indissociavelmente à produção de significado pelos depoentes” p. 215.
- Na agricultura figurava a coerção física. Na fábrica, o poder da lei. Fala da tomada de consciência do trabalhador da nova ordem.
- fala do desenraizamento.
“Os lugares que ocupavam na cidade, quando da realização do depoimento, é significativo na produção de outras memórias e histórias” p. 223.
CAP. 11 –Tempo, trajetórias de vida e trabalho de carroceiros na cidade (Uberlândia – 1970/1998). [MORAIS, Sérgio. P. 225].
“Este artigo trata de mudanças ocorridas nos modos de trabalho e vida de trabalhadores que viviam da utilização de carroças, em um momento particular da história das relações urbanas de Uberlândia, compreendido entre os anos de 1970 e 90”.
- Contexto: remoção da rede ferroviária para a implantação de asfalto. Promessas de casas populares.
- História de sujeitos silenciados, insignificantes para a história oficial.
- O discurso era que era preciso mudar o presente para se ter um futuro. O tempo das carroças era findo. Esses não se enquadravam no projeto de modernização da cidade.
- A pesquisa girou em torno de saber como os carroceiros interpretavam as mudanças nos espaços urbanos.
“A procura desses significados faz-se possível e necessário por intermédio da busca dos sentidos produzidos pelas fontes orais” p. 231.
- Valorizar as múltiplas vozes, “em que os interlocutores possam se reconhecer como protagonistas das relações históricas vividas” p. 232.
“Busca de sentidos e significados atribuídos pelos trabalhadores às modificações nas maneiras de trabalhar” p. 232.
- Trabalha com fontes orais.
- Analisa o sentido do trabalho na fala dos entrevistados.
CAP. 12 – Tempos e Memórias. Caminhos para o sertanejo: quem conta histórias? (VASCONCELOS, Regina. P. 247)
- Processo de constituição de memórias dominantes. Articulação histórica das linguagens instituintes de memória.
- Pesquisa sobre as histórias de assombração de sertanejos.
- As histórias refletem as relações dos sujeitos com o espaço do sertão.
- Estudar objeto que, para muitos, não tinha nada de histórico.
- A justifica está no fato de se trabalhar com memórias de sertanejos.
- História de pessoas comuns.
“eu desejava explorar significados diferentes da vida de sertanejos [...] os sentidos daquelas práticas de contação de histórias” p. 249.
- Por trás da abstração POVO, existem pessoas concretas, diferenciadas.
- O resultado da pesquisa serviu para combater a visão estereotipada do sertanejo.
- Entrevista girava em torno do cotidiano dos entrevistados.
“As histórias são importantes no sentido de que compuseram uma prática de transmissão de saberes entre gerações e vizinhos” p. 259.
CAP. 13 – Memórias e experiências: desafios da investigação histórica. (OLIVEIRA, Lêda. P. 263).
- Fala sobre o exercício da representação popular no conselho municipal de saúde em juiz de fora. Partindo da narrativa dos conselheiros.
“É a história oral que possibilita ouvir, conhecer os significados que atribuem às suas experiências, desvendar como vivem sua vida e como explicam as experiências vividas. Isto não representa descolar o sujeito da estrutura social, das condições materiais de existência. Ao contrário, implica analisar como esta estrutura é vivida, construída e modificada por sujeitos sociais [...] A história oral possibilita ao investigador conhecer o sujeito na sua singularidade, isto é, permite que este se manifeste no contexto de sua vida” p. 267.
- Experiência Social = “Este modo expressa a sua forma de produzir e reproduzir a sua vida envolvendo seus sentimentos, valores, crenças, costumes e práticas sociais” p. 267.
“Acredito que a história oral possibilita redescobrir a trama do real a partir dos sujeitos sociais que a vivem e que, recuperando as experiências de vida, podem-se trazer à tona os valores, a cultura e os significados que os sujeitos imprimem à sua prática social, a sua vida, é que optei pela metodologia de história oral para abordar meu objeto de estudo” p. 267.
“Trazer à tona estas experiências vividas pelos sujeitos significa recuperá-las, reconstruí-las na relação que se estabelece entre pesquisador e entrevistado [...] a entrevista constitui-se nesta relação e, como tal, ela se expressa na experiência de vida, posições, visões de mundo do narrador e pesquisador” p. 267.
- Debate a teoria da Memória Individual e Memória Coletiva.
“A memória é um processo ativo de criação de fatos e significados na experiência social e que pode ser compartilhada, mas só se materializa nas reminiscências e nos discursos individuais” p. 269.
“Não entendemos os macro acontecimentos se não entendermos os micro traumas” p. 271.
“Micro traumas que se produzem e reproduzem na vida cotidiana, nesta vida de todos os dias que se manifesta e é vivida de forma complexa, contraditória e ambígua” p. 271.
“Compreendi que partir das experiências vividas pelos sujeitos sociais no seu cotidiano significa recuperar, decifrar sobre histórias em seus acontecimentos diários, buscando conhecer aquilo que muitas vezes fica oculto por traz de grandes eventos, deixando pouco espaço para conhecer o que os sujeitos pensam, fazem, dizem e como organizam suas vidas, as relações com familiares, amigos, vizinhos, enfim, suas relações sociais” p. 271.
- Autora faz citações de Thompson.
- Cultura = Modos de vida. “[...] busca desvendar o como e o porquê homens e mulheres se apresentam, se posicionam diante da vida, lutam por seus sonhos, reivindicam seus direitos” p. 273.
“O exercício da representação foi e é processo vivido e construído no dia-a-dia de cada conselheiro” p. 273.
- Os entrevistados como sujeitos sociais, fazedores de história.
“Trabalhar essas memórias significou perceber como elas constroem marcos, referenciais e significou perceber como elas constroem marcos, referências e significados comuns, definem momentos significativos para os movimentos populares” p. 276.
CAP. 14 – Memória popular: teoria, política, método. (Grupo Memória Popular, p. 282).
- Memória Popular e história oral.
- Debater a própria escrita da histórica.
- Memória Popular como objeto de estudo. Tal objeto é uma dimensão da prática política.
“O primeiro passo para definir memória popular é ampliar o que entendemos por escrita da história e, portanto, o que implica a interpretação historiográfica, para ampliar a produção histórica bem além dos limites da escrita da história acadêmica” p. 283.
“Devemos incluir todas as maneiras pelas quais um sentido do passado é construído em nossa sociedade [...] chamaremos isso de a produção social da memória” p. 283.
“Nessa produção coletiva, todos participam, embora de maneira desigual. Todo mundo, nesse sentido, é um historiador” p. 283.
- Quais as maneiras pelas quais a memória social é produzida?
“É útil distinguir as principais maneiras pelas quais se produzem os sentidos do passado: por meio de representações públicas e por meio da memória privada” p. 283.
- Representações públicas da história. Como tais representações afetam as concepções individuais.
“Podemos falar de memória dominante. Este termo aponta para o poder e a universalidade das representações históricas, suas conexões com instituições dominantes e o papel que desempenham na obtenção de consenso e na construção de aliança nos processos de políticas formais” p. 284.
“Mas não queremos insinuar que concepções do passado que se tornam dominantes no campo das representações públicas são monoliticamente instalas nem que possuem credibilidade em todo lugar. Nem todas as representações que alcançam domínio público são dominantes” p. 284.
“A memória dominante é produzida no transcorrer dessas lutas e sempre está exposta a contestação” p. 284.
“Certas representações conseguem centralidade e se vangloriam enormemente; outras são marginalizadas, ou excluídas ou reformuladas. Mas os critérios de sucesso aqui não são os da verdade: representações dominantes podem ser aquelas que são as mais ideológicas, as que mais obviamente correspondem aos estereótipos homogeneizados do mito” p. 284.
“Nos estudos concretos, memórias privadas não podem ser facilmente desvinculadas dos efeitos dos discursos históricos dominantes [...] memórias do passado são, como todas as formas de senso comum, construções singulares complexas parecendo m tipo de geologia, sedimentação seletiva de vestígios do passado” p. 286.
“A luta constante pela hegemonia tem um interesse substancial na história e particularmente na memória popular [...] trata-se de políticas da história e dimensões históricas da política” p. 287.
“Mais importante, talvez, é a forma pela qual nos tornamos autoconscientes da formação de nossas crenças de senso comum, aquelas de que nos apropriamos dentro do nosso meio social e cultural imediato. Estas crenças tem uma história e também são produzidas em determinados processos. O importante é resgatar seu inventário” p. 287.
- A história oral é base para uma memória popular.
Cap. 15 - O momento da minha vida: funções do tempo na história oral. (PORTELLI, Alessandro. P. 296).
“Contar uma estória é tomar as armas contra a ameaça do tempo, resistir ao tempo ou controlar o tempo. O contar uma estória preserva o narrador do esquecimento; a estória constrói a identidade do narrador e o legado que ela ou ele deixa para o futuro” p. 296.
“Tentarei aqui explorar a relação entre o tempo e a narração de estórias” p. 297.
- A tarefa do mito é resistir ao tempo.
“As histórias de vida e os relatos pessoais dependem do tempo, pelo simples fato de sofrerem acréscimos e subtrações em cada dia da vida do narrador” p. 298.
“Uma história de vida é algo vivo. Sempre é um trabalho em evolução, no qual os narradores examinam a imagem do se próprio passado enquanto caminham” p. 298.
“Nenhuma estória será contada duas vezes de forma idêntica. Cada estória que ouvimos é única” p. 298.
- As circunstância influencia o relato do entrevistado.
“O tempo tira tanto quanto acrescenta (às narrativas orais)” p. 299.
“A interação entre o historiador e a fonte cria uma forma completamente nova de contar estórias” p. 299.
“A própria tecnologia do nosso trabalho é transformar o oral em palavra escrita, congelar material fluido em um momento arbitrário no tempo” p. 300.
“Enquanto os historiadores estão interessados em reconstruir o passado, os narradores estão interessados em projetar uma imagem” p. 300.
“Tudo acontecendo ao mesmo tempo, todos inseparáveis uns dos outros, mas logicamente distintos. Se tomarmos uma unidade de tempo convencional, um segundo ou um ano, sempre há mais de um evento acontecendo nele. Cada unidade de tempo convencional pode ser usada para designar mais de um evento” p. 306.
- As narrações podem privilegiar fatos pessoais, coletivos ou institucionais.
“Datar um evento não é simplesmente coloca-lo na sequencia linear, mas também decidir a qual sequencia pertence” p. 307.
“Os eventos são identificados de acordo com um padrão de significado. O que para nós é um evento, pode ser um não-evento para o montanhês de Nuto Revelli” p. 309.
“Um evento histórico não é meramente realidade objetiva, mas é construída como tal por uma rede de relações em que está inserida. A atribuição de relevância e sentido é um ato cultural e depende de uma interação complexa de padrões individuais e coletivos” p. 309.
- Evento = ponto no tempo. Isso é uma ilusão, pois ele se estende em todas as direções.
“Tanto o conceito de evento quanto o de duração parecem ser mais uma questão de como olhamos/narramos a histórica, do que algo inscrito”.
“A presença da escrita libera a oralidade do peso da memória” p. 311.
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