É LAMENTÁVEL E VERGONHOSO
Silvio Simione da Silva
Maria de Jesus Morais
Estamos vinculados à área de Geografia, na Universidade Federal do Acre, como professores com dedicação exclusiva, há aproximadamente 16 anos. Entramos aqui via aprovação em concurso, cuja banca era formada por professores com os quais não tínhamos nenhum vínculo. Até competimos entre nós e obtivemos a classificação de primeiro e segundo lugares, respectivamente. Por tudo isto, acreditamos que foi um processo de ampla lisura.
Porém, temos visto e vivido nos últimos 10 anos muitas situações que nos envergonham em decorrência das ações de bancas de concursos formadas por grupos de professores da área de Geografia. Nas conduções desses processos, por estes professores, a maioria se diz vinculada à Geografia Física, com exceções de alguns professores que estão afastados para pós-graduação, cargos no governo e ainda a competentíssima mestre Socorro Maia.
A realidade é que muitas vezes, em reuniões assistidas ou presididas pela chefia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre (CFCH), têm sido marcados verdadeiros “feudos” nesta área. Assim, articulam o “certame” de modo pouco confiável, a nosso ver, mas favorável à participação de seus amigos, ex-orientandos ou orientandos atuais.
Na verdade, isto é reforçado pelos editais que fazem distinção entre a “contratação/formação de banca”, e apenas a “formação de banca”; e ainda quando resguarda direito de decidir por área de contratação. O concurso é “apenas expectativas de vagas”; não basta ser aprovado, caberá à unidade acadêmica apontar quem deve ser contratado.
Desse modo, o concurso passa a ser verdadeira “caixa-preta”, em que as bancas decidem, pela aprovação ou não, às vezes, “estrangulando” sonhos de vidas de muitos candidatos que se prepararam. Isso tem impedido a formação de um quadro docente mais qualificado para que a instituição possa dar passos mais largos. Resulta disso, por exemplo, a impossibilidade de implantação efetiva de pós-graduação na área.
Voltando ao fato, pode-se dizer que, sendo assim, cabe à unidade acadêmica, amparada amplamente nos itens que “regulamentam” o concurso, decidir pela contratação. Então, justifica-se uma área. Tendo maioria para decidir, decidem conforme a conveniência para o candidato preferido. Não se obedece critério de titulação, curricular ou mérito científico. Isso está acontecendo agora na Geografia.
Vejamos os fatos: no final do ano passado ocorreu um concurso para duas áreas: Geografia Física e Epistemologia da Geografia.
Para Epistemologia da Geografia o concurso seria para a “formação de banca”, conforme o edital. O processo transcorreu normal, com aprovação de dois candidatos mestres em Geografia e com experiência no ensino superior – pessoas vindas de outros estados, portanto desconhecidos daqui. Isso, embora que pelos currículos, notam-se a excelência dos candidatados. Dado este que atestamos, uma vez fizemos parte desta banca e não temos restrições em abri-las, se por acaso, for necessário.
Na área de Geografia Física, no primeiro momento, quando abriram as inscrições para mestres e doutores, apareceram vários candidatos acreanos e de diversos estados brasileiros. Muitos com experiências em práticas docentes e pesquisas em grandes universidades brasileiras. Todos ficaram reprovados.
O fato não é novidade, pois, nos últimos anos, pelo menos em três outros concursos, o “fenômeno” já havia acontecido. Quando abriu para graduados, então novos candidatos se inscreveram. Mesmo sendo em nível de graduação houve candidatos com mestrados, daqui e de outros estados. A maioria foi reprovada e foram aprovados apenas candidatos que possuem ou já possuíram vínculos de orientações ou amizades com membros do grupo de professores. O interessante é que, dos classificados aprovados, o único mestre ficou em terceiro lugar.
Assim, encerrou o certame. Foi, portanto, contratado de imediato um candidato da área de Geografia Física. Em abril de 2011 surgiu outra vaga para contratação. Embora as disciplinas da área de Epistemologia estivessem descobertas desde 2007, segundo informou o coordenador do curso, corporativamente, numa reunião da área com a chefia do CFCH, decidiu-se contratar o segundo classificado na área de Geografia Física e deixar a área de Epistemologia novamente descoberta.
Justificaram para tanto a maior carência de Geografia Física, fato que pode ser contestado, dado que é esta área que tem maior numero de professores em atividade. Cabe relembrar que também houve liberação pelo menos de um professor, desta área, para doutoramento sem indicar como seriam cobertas suas atividades, o que tem sido exigido para outros que não são tão próximo do referido grupo.
Para confirmar isto, no momento atual, foi aberto processo seletivo para vaga provisória na área de Epistemologia da Geografia. O curioso é que existe gente desse grupo que perpassou todos os certames (das bancas referidas) como membro de banca. Isso, numa prática de bancas, sempre reprovando candidatos que não se alinham a eles e aprovando candidatos com os perfis antes mencionados.
Seria isso mera coincidência? Isso me faz perguntar: será que é no Acre que produzimos o melhor nível de formação da Geografia Brasileira? Onde está a produção científica, destes que se acham acima do bem e do mal, para menosprezar candidatos daqui “não amigos” e do “restante” do Brasil?
Há, em tudo isso, parece-nos, manipulação pouco correta dos processos. Por muito tempo ficamos em silêncio, após discussões e desentendimentos internos, para não expor o nome da instituição e da Geografia. Mas ultimamente, vimos que a situação tende a piorar a cada dia. Não aceitamos que nossos nomes sejam expostos a este “mar de lama”.
Enfim, esta fama negativa sobre como ocorrem os concursos na Geografia da Universidade Federal do Acre já ultrapassou os limites dos muros da instituição. Já tem dimensão nacional. Para nós é lamentável, vergonhoso e nos causa ampla indignação.
Silvio Simione da Silva e Maria de Jesus Morais são professores do curso de Geografia, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre
Maria de Jesus Morais
Estamos vinculados à área de Geografia, na Universidade Federal do Acre, como professores com dedicação exclusiva, há aproximadamente 16 anos. Entramos aqui via aprovação em concurso, cuja banca era formada por professores com os quais não tínhamos nenhum vínculo. Até competimos entre nós e obtivemos a classificação de primeiro e segundo lugares, respectivamente. Por tudo isto, acreditamos que foi um processo de ampla lisura.
Porém, temos visto e vivido nos últimos 10 anos muitas situações que nos envergonham em decorrência das ações de bancas de concursos formadas por grupos de professores da área de Geografia. Nas conduções desses processos, por estes professores, a maioria se diz vinculada à Geografia Física, com exceções de alguns professores que estão afastados para pós-graduação, cargos no governo e ainda a competentíssima mestre Socorro Maia.
A realidade é que muitas vezes, em reuniões assistidas ou presididas pela chefia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre (CFCH), têm sido marcados verdadeiros “feudos” nesta área. Assim, articulam o “certame” de modo pouco confiável, a nosso ver, mas favorável à participação de seus amigos, ex-orientandos ou orientandos atuais.
Na verdade, isto é reforçado pelos editais que fazem distinção entre a “contratação/formação de banca”, e apenas a “formação de banca”; e ainda quando resguarda direito de decidir por área de contratação. O concurso é “apenas expectativas de vagas”; não basta ser aprovado, caberá à unidade acadêmica apontar quem deve ser contratado.
Desse modo, o concurso passa a ser verdadeira “caixa-preta”, em que as bancas decidem, pela aprovação ou não, às vezes, “estrangulando” sonhos de vidas de muitos candidatos que se prepararam. Isso tem impedido a formação de um quadro docente mais qualificado para que a instituição possa dar passos mais largos. Resulta disso, por exemplo, a impossibilidade de implantação efetiva de pós-graduação na área.
Voltando ao fato, pode-se dizer que, sendo assim, cabe à unidade acadêmica, amparada amplamente nos itens que “regulamentam” o concurso, decidir pela contratação. Então, justifica-se uma área. Tendo maioria para decidir, decidem conforme a conveniência para o candidato preferido. Não se obedece critério de titulação, curricular ou mérito científico. Isso está acontecendo agora na Geografia.
Vejamos os fatos: no final do ano passado ocorreu um concurso para duas áreas: Geografia Física e Epistemologia da Geografia.
Para Epistemologia da Geografia o concurso seria para a “formação de banca”, conforme o edital. O processo transcorreu normal, com aprovação de dois candidatos mestres em Geografia e com experiência no ensino superior – pessoas vindas de outros estados, portanto desconhecidos daqui. Isso, embora que pelos currículos, notam-se a excelência dos candidatados. Dado este que atestamos, uma vez fizemos parte desta banca e não temos restrições em abri-las, se por acaso, for necessário.
Na área de Geografia Física, no primeiro momento, quando abriram as inscrições para mestres e doutores, apareceram vários candidatos acreanos e de diversos estados brasileiros. Muitos com experiências em práticas docentes e pesquisas em grandes universidades brasileiras. Todos ficaram reprovados.
O fato não é novidade, pois, nos últimos anos, pelo menos em três outros concursos, o “fenômeno” já havia acontecido. Quando abriu para graduados, então novos candidatos se inscreveram. Mesmo sendo em nível de graduação houve candidatos com mestrados, daqui e de outros estados. A maioria foi reprovada e foram aprovados apenas candidatos que possuem ou já possuíram vínculos de orientações ou amizades com membros do grupo de professores. O interessante é que, dos classificados aprovados, o único mestre ficou em terceiro lugar.
Assim, encerrou o certame. Foi, portanto, contratado de imediato um candidato da área de Geografia Física. Em abril de 2011 surgiu outra vaga para contratação. Embora as disciplinas da área de Epistemologia estivessem descobertas desde 2007, segundo informou o coordenador do curso, corporativamente, numa reunião da área com a chefia do CFCH, decidiu-se contratar o segundo classificado na área de Geografia Física e deixar a área de Epistemologia novamente descoberta.
Justificaram para tanto a maior carência de Geografia Física, fato que pode ser contestado, dado que é esta área que tem maior numero de professores em atividade. Cabe relembrar que também houve liberação pelo menos de um professor, desta área, para doutoramento sem indicar como seriam cobertas suas atividades, o que tem sido exigido para outros que não são tão próximo do referido grupo.
Para confirmar isto, no momento atual, foi aberto processo seletivo para vaga provisória na área de Epistemologia da Geografia. O curioso é que existe gente desse grupo que perpassou todos os certames (das bancas referidas) como membro de banca. Isso, numa prática de bancas, sempre reprovando candidatos que não se alinham a eles e aprovando candidatos com os perfis antes mencionados.
Seria isso mera coincidência? Isso me faz perguntar: será que é no Acre que produzimos o melhor nível de formação da Geografia Brasileira? Onde está a produção científica, destes que se acham acima do bem e do mal, para menosprezar candidatos daqui “não amigos” e do “restante” do Brasil?
Há, em tudo isso, parece-nos, manipulação pouco correta dos processos. Por muito tempo ficamos em silêncio, após discussões e desentendimentos internos, para não expor o nome da instituição e da Geografia. Mas ultimamente, vimos que a situação tende a piorar a cada dia. Não aceitamos que nossos nomes sejam expostos a este “mar de lama”.
Enfim, esta fama negativa sobre como ocorrem os concursos na Geografia da Universidade Federal do Acre já ultrapassou os limites dos muros da instituição. Já tem dimensão nacional. Para nós é lamentável, vergonhoso e nos causa ampla indignação.
Silvio Simione da Silva e Maria de Jesus Morais são professores do curso de Geografia, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre
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