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- O autor é Paraibano, (14/01/1883
† 31/12/1960). Depois, chegou a se formar em odontologia. “atraído pela riqueza
da borracha foi com um irmão mais velho, tentar a fortuna, na Amazônia. Lá
esteve dez anos, de 1897-1907, justamente no período de maior riqueza da
região” José Lins do Rego (O Globo, Rio, 1950).
- Devido as mortes indígenas em função da empresa
gomífera, ele diz: “Não era sem a sua ponta de razão que o povo, no nordeste,
sempre via com maus olhos o dinheiro que chegava no Amazonas. Parecia-lhe um
dinheiro amaldiçoado” (idem). - Ficou na Amazônia entre os 10 a 17 anos.
- O Acre como todo o Amazonas foi um grande cemitério de
nordestinos.
APRESENTAÇÃO
(Senador Jorge Kalume, p. 05)
- Escreveu a pedido do
professor universitário Octacílio Nóbrega de Queiroz, que apresentou o livro em
sua primeira edição. O autor já era de saudosa memória.
“O heroísmo dos nossos patrícios do Nordeste não pode ser
aquilatado apenas pela forma como enfrentaram o fenômeno climático, obrigando
muitos a abandonarem, no passado remoto ou recente, a terra mater, em busca de outras plagas, para
eles totalmente desconhecidas” p. 5.
OBS: tenta dizer que o
nordestino é forte e altivo por ter “escolhido” enfrentar à Amazônia.
- O autor chegou ao Acre
(Vila Seabra/Tarauacá) em 1897. Segundo o senador, na época “somente os fortes
dos fortes sobreviveriam” p. 6.
PREFÁCIL (1° Edição) – Por Octacílio Nóbrega
de Queiroz, escrito em junho de 1949.
“O Amazonas é uma torrente de sangue que corre por uma
floresta: a floresta é o
Brasil” (FRANK, Waldo. America Hispana, p. 165).
“A agitada tragédia da borracha amazonense não tem nada
que se lhe possa comparar”
(NORMANDO, Evolução Econômica do Brasil, p.48).
- Foi o prefaciador que
incentivou o autor a escrever o livro.
“Órfão aos quatorze anos,
emigrou, acompanhando o irmão para o Amazonas, onde foi seringalista, mateiro,
remador e varejador de canoa, cozinheiro, regatão, agricultor e inspetor de
quarteirão... De volta à terra natal, se fez professor primário na Escola
Normal da Paraíba, em 1912... depois músico, vereador, rapadureiro, adjunto de
promotor por duas vezes e, finalmente, vinte anos mais tarde, já aposentado no
exercício do magistério público, cirurgião-dentista pela Faculdade de Medicina
e Odontologia do Recife” p. 12.
“Dele (do autor) não
podemos abstrair um só instante a sinceridade espontânea da narrativa” p. 12.
............................................................
O irmão, Silvino Lustosa
Cabral, aos 24 anos, retornou ao Paraíba em 1897, depois de ter ficado no
amazonas por cinco anos. No entanto, disse que voltaria.
“ouvia aquelas histórias
bonitas, às vezes fantásticas, que ele contava, vem como, da facilidade de
enriquecer em pouco tempo. Fiquei logo desejando de conhecer tudo aquilo” p.
23.
“Viajava eu, junto aos
tropeiros... com o coração partido de saudade do rincão natal” p. 25.
OBS: Tudo indica que a idéia de pátria, terra natal,
estava mesmo vinculada ao local/região onde se nascia. No Acre, os nordestinos
não tinham as terras como suas. Ali defendiam
não à Pátria, que era o nordeste, mas a fonte de renda que os levaria novamente
a sua terra natal.
- Quando é descoberto que
um deles estava com varíola: “Como preventivo, ingerimos fortes goladas de
aguardente” p. 29.
“Era um velho barco
carcomido pela ação corrosiva do iodo marítimo e do tempo... Vinha cheio como
lata de sardinha... A muito custo localizamos nossas redes e bagagens por cima
das malas dos passageiros, pois, não havia mais espaço nos porões do navio” p.
29.
- No barco (o Pernambuco) iam
“os remanescentes do 27 Batalhão da Paraíba que havia tomado parte na campanha
de Canudos... vinha ali também a política do Pará, composta de rapazes moços e
fortes” p. 29. Ao todo eram “mais de quinhentos, com destino àquele Estado” p.
30.
“Passamos o resto da tarde
ouvindo histórias de Canudos” p. 30.
- O barco ainda rumou para
o Rio Grande do Norte para pegar mais pessoas. “Os seus porões não comportavam
mais um grilo” p. 31.
“O comandante recebeu uma
lista de quinhentos flagelados para o Amazonas” p. 31.
“As redes armadas, duas,
três, por cima das outras” p. 32.
“A certa distância da
cidade o navio ancorou. Em pouco tempo estávamos rodeados de botes e de
catraias com seus balaios repletos de vendagens comestíveis, doces, camarões,
frutas etc., para serem vendidas a bordo. Esses
negociantes, compostos em maior número de mulheres, eram quase todos negros,
poucos brancos viam-se ali” p. 32.
“Não se podia mais tolerar
o ambiente de imundície nos porões. Entristecidos, embriagados, vomitando no
fundo de redes porcas, jazia uma quarta parte dos passageiros” p. 32.
“estávamos acordados,
ansiosos para nos livrar da velha e sórdida embarcação” p. 33.
- Chegado em Belém “Fomos
nos hospedar no Hotel das Duas Nações que pertencia a espanhóis e portugueses,
razão por que tinha esse nome” p. 33. Era outubro.
“A iluminação, à noite –
maravilha fascinante especialmente no largo da Pólvora. Poucas eram as cidades
do Brasil iluminadas à luz elétricas, nesse tempo” p. 33.
“O comércio estrangeiro
focalizara-se na Praça de Belém atraído pela riqueza da borracha” p. 33.
- De Belém, “o navio saiu
direto para Manaus. Gastamos sete dias” p. 33.
- De Belém ao Juruá: 40
dias.
OBS: Belíssima narração da viagem.
“Não existia dinheiro na
região” p. 35.
“Meu irmão, guarda-livros
e gerente, havia já três anos, era estimadíssimo, e teve, por isso, recepção
formidável” p. 35.
“O Sr. João Marques de
Oliveira, dono do seringal, bom e maneiroso, não sabia ler” p. 35.
- O mesmo, tão logo o
irmão do autor chegara, foi ao nordeste atrás de mais pessoas para o trabalho
gomífero. “Trouxe uma companheira de estatura regular, bonita e simpática,
alegre e jovial. Contava vinte e quatro anos e chamava-se Maria Mendes Maciel. Era sobrinha de Antônio Conselheiro” p.
36.
“Tinha o nome de brabos
os que chegavam ali pela primeira vez” p. 36.
“Na margem oposta do lago
moravam dois brabos. Em um domingo,
fomos visitá-los. Receberam-nos alegremente. Haviam matado dois mutuns. Estavam em festa. A panela fervia
exalando um cheiro agradável, tempero com pimenta e banha do Rio Grande do Sul”
p. 37.
“Não eram penas de mutum,
e sim de urubu-rei. Tomamos somente uma xícara de café e voltamos à nossa
residência” p. 37.
“Aos sábados dirigíamo-nos
para o rio com o fim de arrancar, na areia das praias, ovos de tracajá, que
havia em abundância nos meses de julho e agosto e os de tartaruga, de setembro
e outubro” p. 37.
“Nas safras de tracajá e
tartaruga, o seringueiro vive de pança cheio e confortado com os ovos que traz
da praia quase todos os dias” p. 38.
“Entramos no rio da
esquerda, chegando no seringal Belmonte, de bom leite, com metade a ser
explorado. A inconveniência que tinha
eram duas malocas dos índios caxinauá e catuquina a pouca distância” p. 40.
“Não acabamos de abrir o
mato; quando soubemos que os índios tinham atacado uma barraca de quatro
seringueiros. Repelidos a bala, correram” p. 40.
- os índios eram chamados
de “os selvagens” p. 40; considerados “inimigos” p. 41.; “ferozes” p. 42.
“Nas correrias o pessoal
não se dispersa. Marcha em fileira” p. 41.
- Em 1899 “presenciamos um
forte movimento sísmico, que durou uns quatro segundos com tremos de terra e prolongado
gemido” p. 42.
OBS: até agora
não falou de Galvez. Talvez o ano de 1899 ainda não era tão conhecido assim
pelo Juruá.
- O patrão “Era um velho de sessenta anos, violento,
enraivecido por qualquer futilidade. Fora capitão do Exército e renunciara à
farda para se entregar à cultura da borracha. Estava ali há muito tempo.
Enriqueceu...” p. 43.
“Em ajuste de conta com um seringueiro [...] mandou
matá-lo e, por causa de uma melancia, tirada na praia sem a devida ordem, matou
outro” p. 44.
OBS: quem ia para o Acre já estava disposto a matar ou
morrer. “Morria um e chegavam cinco para substituí-lo” p. 53.
A REVOLUÇÃO ACREANA (p.
53)
“Para aumento de revezes
estourara no rio Acre a luta do seringueiro com a Bolívia, encabeçada por
Plácido de Castro” p. 53.
“Plácido de Castro vendo as coisas um
pouco turvas enviou ao Tarauacá um emissário com poderes de requisitar forças
dando patente de capitão para os donos
de seringal que conduzissem pelo menos vinte homens. Todo o rio
acelerou-se, todo mundo queria ir” p. 53.
OBS: fica
patente a forma como Plácido de Castro arregimentava os patriotas soldados que,
quando designados, ficavam pulando de alegria, tudo era melhor do que a tortura
da colocação.
“Fato curioso é que,
naquela época, segundo ouvi dizer – não tenho certeza -, esteve também por lá o
colega Getúlio Vargas (colega na
idade e na espingarda) incorporado às forças do coronel Antonio Olímpio da
Silveira” p. 53.
“Terminada a guerra, os
combatentes proclamaram a independência do rio em República Acreana. Adotaram
um pavilhão como símbolo da Pátria e outras coisas mais” p. 54.
“O Governo Federal
constituía-se senhor das terras em questão, que dali por diante nem eram
República Acreana nem tampouco pertenciam mais ao Estado do Amazonas, e sim ao
Brasil” p. 54.
“Foi inaugurada, na foz do
rio Moa, a cidade do Cruzeiro do Sul, tendo como Prefeito o General Gregório
Thaumaturgo de Azevêdo, que nomeou os tenentes do Exército, Guapindaia,
delegado do Juruá, e Luiz Sombra, do Tarauacá, com atribuições de resolverem todos os problemas atinentes ao policiamento
e negócios dos rios. Em todos os
seringais encontrava-se uma autoridade investida de poderes – o Inspetor de
Quarteirão... Todas as brigas e encrencas, que surgiram, eram resolvidas pelo
Inspetor que, depois, dava conta ao tenente dos ocorridos em sua circunscrição”
p. 54.
“Ali não existia mulher,
elemento esse indispensável em toda parte” p. 55.
“Lugar que tem índio não
há caça, ele devora tudo” p. 57.
“O seringueiro chega
sempre do trabalho da estrada fatigado sem encontrar o que comer” p. 57.
“A umas quinhentas braças
de nossa barraca, existia um velho roçado encapoeirado, pertencente a tribo
JAMINÁUA que, pressentindo nossa chegada, afugentara-se, havia alguns anos,
para mais longe. Viu que nossa invasão a
seus domínios era positiva, inexorável. Por esta razão, mudara-se,
tornando-se qual nômade, sem um ponto certo de morada. ” p. 65.
“Só não investiam contra a
civilização porque tinham a certeza que a reação era tremenda, brutal” p. 66.
“Às onze horas, estava de
volta à barraca. Defumei o látex, tomei banho no igarapé, troquei de roupa,
almocei... com os companheiros, segui ansioso para dançar e tomar aguardente no
barracão. Não existia mulher na festa” p. 67.
“... viviam os índios nas
cabeceiras dos afluentes da margem direita do Alto Juruá, inclusive o
Tarauacá... A horda de invasores apoderara-se de sua habitações e roçados,
enxotando-as a bala para o centro da mata bem distante das margens do rio...
Evadiram-se, todavia, os selvagens, com
medo, mas cautelosamente ali apareciam para abastecer-se” p. 67.
“O aborígine, como
sabemos, é de índole preguiçosa e indolente, desconfiado e ciumento. Quem for a
uma aldeia não faça motejo, todo cuidado é pouco... São bastante sadios.
Desconhecem moléstias venéreas e seus dentes são quase imunizados da cárie
dentária. Raro é o que tem ferida braba... Nunca se vê um índio aleijado. Dizem
que se, ao nascer, a criança tiver defeito físico grave, o pai, ordem do chefe
da taba, mata-a novinha, pela razão de não poder manter-se com seu próprio
trabalho, quando crescer, nem achar quem a sustente... O índio chama o negro de
TAPAIÚNA. Odeia-o e tem do mesmo grande aborrecimento... Ninguém quer nem pode
trabalhar para o outro. Cada qual cuide de si” p. 68.
OBS: nas páginas
seguintes, faz uma descrição pormenorizada da vida cotidiana indígena.
“Trabalhara ali já havia
decorrido três anos sem poder libertar-se da conta que, dia a dia, avultava
contraída com seu patrão” p. 71.
“No referido lugar morava
um seringueiro de nome Paulino de Azevedo Sombra, de Aquiraz, Ceará.
Trabalhador, econômico, conseguiu acumular no Contas Correntes do patrão sua
meia dúzia ou mais de contos de réis. Crédito era só quem tinha” p. 71.
- O patrão propôs que se
Paulinho pagasse a conta do outro, daria a mulher do inadimplente para ele.
“Não é de todo dispensável
dizer que eram muito difíceis, naquela época, as relações entre os dois secos.
Regiões havia, numa extensão de dez a doze propriedades, onde não se encontrava
uma dona-de-casa. A aquisição de uma donzela
da selva era tarefa temerária, porque raramente a índia se sujeitava ao
regime doméstico. Isso inda podia acarretar o perigo de ser a moça levada pelos
da tribo ou haver choques violentos, de parte a parte, transformando-se em
intriga que não se acabaria mais. Sob
esse aspecto, as uniões de seringueiros com selvagens eram quase nulas” p.
73-74.
“Foi por isso, atendendo a
tamanha irregularidade de vida, que, certa ocasião a polícia de Manaus, de
ordem do Governador do Estado, fez requisição nos hotéis e cabarés dali de umas
cento e cinqüenta rameiras. Com tão
estanha carga, encheu-se um navio cuja missão foi a de solta, de distribuir as
mulheres em Cruzeiro do Sul, no Alto Juruá [...] não faltou pretendentes” p. 74
“De propósito, convém não
esquecer ser o cearense um tipo enérgico, conquistador de terras, afável,
trabalhador, valente no momento oportuno, mas divertido e de espírito crítico”
p. 76.
OBS: da página 79 em diante fala de alguns
mitos e lendas que assolavam os seringueiros: Curupiara, jabuti, sucuruju,
boto, irapuru, mapinguari etc.

“Em 1906 já havia posto
fiscal federal na foz do Muru” p. 107.
OBS: comenta sobre a
inauguração da Vila Seabra.
“Que era esse ambicionado
tesouro que vim a conhecer em janeiro de 1907 tão somente em Manaus? A mais
luxuosa pensão, o mais empolgante cabaré da América do Sul. Fortemente
iluminado, com todas as sortes de jogos, com teatro, era lugar de lindos rostos
de todas as partes do mundo – polonesas, francesas, portuguesas, peruanas,
brasileiras dos vinte e um Estados, todas, enfim, ali se exibiam numa libertinagem
desordenada, doida” p. 108.
“Escravizado oito ou dez
anos na selva, sem relações com o sexo oposto, o seringueiro que chegava à
cidade, não o deixava de freqüentar. A exploração era roxa. Muitos ali deixavam
todo o dinheiro que haviam arranjado com enormes sacrifícios. “Lisos” –
restava-lhes ir ao escritório do patrão implorar uma passagem no gaiola e
retornar ao seringal de onde saíram” p. 108.
“Ao chefe do barracão
cabia o papel de resolver as questões do seu seringal. Existiam no Juruá muitos
criminosos de morte, sem a menor punição, até que chegaram fortes censuras aos
ouvidos do Governo” p. 120.
“Não existia roubo ou
furto, porque se o indivíduo chegasse à barraca de qualquer desconhecido, sem o
encontrar em casa, podia servir-se do que entendesse – alimentação, munição,
contanto que deixasse um bilhete ou, se não soubesse ler, no soalho da barraca,
um sinal qualquer” p. 121.
“O elemento preponderante
no Juruá era o peruano e, com este, não tínhamos relações confidenciais. Vez
por outra, estavam surgindo desavenças, críticas, aborrecimentos. Começavam por
nos apelidar de maquiçapos ou macaquitos... O peruano trabalhava no caucho e
vivia como um bicho, arredado no interior da mata, distante, sem contato com os
brasileiros, enquanto que este só se enfeitiçava pela seringueira, sempre às
margens dos rios ou a três ou quatro horas de viagem destas” p. 121.
SOBRE A REVOLUÇÃO ACREANA
p. 129.
“O nome de Acre resultou de alteração da palavra Aquire,
denominação de um rio afluente do Purus, segundo o geógrafo inglês Chandless
(1865), descoberto por um mulato
amazonense, Manoel Urbano da Encarnação, ou de aquiri – água corrente do
tupi” p. 131.
- Plácido de Castro “Antes
de morrer, ferido gravemente, pediu que, morto, seu coração fosse dividido,
parte para sua mãe e outra para a noiva, em terras de seu distante Rio Grande”
p. 132.