terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Rio Branco: 1882-2007 (I)

Por Marcos Vinícius
No próximo dia 28 de dezembro a capital acreana completará mais um ano de existência. Eu convidei a Cobra Grande da Gameleira (talvez a única testemunha ainda viva desde a época da fundação da cidade) para conceder uma entrevista à coluna, mas como ela não quis nem conversa conosco, nesta semana e nas duas próximas traremos uma breve história da formação de Rio Branco. É uma singela, porém sincera, maneira de homenagear essa cidade onde vivemos e a quem amamos.
Casa Comercial da Villa Rio Branco, do Sr. N. Maia e Cia. Armazéns dos Srs. Apolinário, Floquel e outros. “Álbum do Rio Acre”, 1906 – 1907, pg. 99. Porto de desembarque da Vila Rio Branco, Flotinha do comerciante Newtel Maia e diversos batelões de negociantes ambulantes. Álbum do Rio Acre” , 1906 – 1907, pg. 108
Os 125 anos de Rio Branco
Rio Branco, não é uma cidade qualquer. Além de ser o mais antigo núcleo urbano de todo o Acre, logo se constituiu como a maior e mais importante cidade da região e foi por isso escolhida como a capital do antigo Território Federal e posteriormente do Estado do Acre. Mas Rio Branco ainda aguarda a elaboração de pesquisas mais aprofundadas sobre sua história e uma melhor compreensão da importância que possui para o conhecimento da própria sociedade acreana.
Nesta breve síntese iremos abordar alguns aspectos da formação da cidade de Rio Branco com ênfase em sua história territorial, no processo de ocupação do espaço e na configuração de uma malha urbana diferenciada do meio florestal circundante. Uma história que pode ser dividida em quatro períodos bem marcados, dos quais vemos hoje o primeiro.
1882 / 1908 – de seringal a cidade (1º Período)
Este primeiro período da história urbana de Rio Branco é marcado por três características centrais. A primeira diz respeito à transformação do seringal Volta da Empreza no povoado denominado Villa Rio Branco.
A segunda característica é que foi exatamente nesta época que Rio Branco alcançou a condição de liderança política e econômica do Acre que lhe valeria posteriormente a condição de capital. Finalmente, a terceira característica fundamental da cidade nascente foi que neste período o povoado da Volta da Empreza – Villa Rio Branco esteve restrito a uma estreita faixa de terras na margem direita do rio Acre (atual 2º Distrito).
O Seringal Volta da Empreza foi fundado na margem direita do rio Acre, em 28 de dezembro1882, pelo cearense Neutel Maia. Mas logo se diferenciou dos outros seringais da região ao se tornar um porto muito freqüentado pelos vapores que transitavam pelo rio durante a época das cheias. Neutel Maia criou então, já em 1884, uma casa comercial denominada “Nemaia e Cia.” para atender aos vapores, seringais do rio Acre e realizar a intermediação do gado importado da Bolívia para o abastecimento da região.
Espontaneamente, portanto, a Volta da Empreza deixou de ser um seringal como todos os outros do Acre para se tornar um povoado, o que equivale dizer que muito cedo a Volta da Empreza deixou de ser um espaço privado (de domínio exclusivo do seringalista) para se tornar um espaço público onde outros comerciantes ou indivíduos podiam livremente atuar ou se fixar.
Por isso, além de se tornar a principal referencia comercial do médio rio Acre, o povoado da Volta da Empreza foi o principal palco de diversos movimentos da guerra entre acreanos e bolivianos que abalou a região no final do século XIX e princípio do XX. Tornou-se assim a sede do Acre Setentrional durante a ocupação militar de 1903 e, logo após a anexação das terras acreanas através do Tratado de Petrópolis, foi alçada a condição de sede do Departamento do Alto Acre no regime territorial recém implantado. Passou então a ter o nome de Villa Rio Branco (1904), em homenagem ao diplomata articulador dos Tratados de limites que tornaram o Acre parte do Brasil.
Temos, portanto, neste período de 1882 a 1908 pelo menos três fases distintas na história da cidade, a saber: 1ª Fase - 1882 / 1898 – durante a qual o seringal se torna um povoado e se consolida comercialmente na região; 2ª Fase – 1899 / 1903 – na qual os diversos acontecimentos da Revolução Acreana levam a Volta da Empreza a se tornar o centro do poder político no vale do rio Acre; 3ª Fase 1904 / 1908 – quando a agora denominada Villa Rio Branco consolida sua liderança política e econômica tornando-se a sede do Departamento do Alto Acre.
Em relação à configuração espacial de Rio Branco, durante todo este período a área urbana da cidade se restringiu a uma estreita faixa de terras na margem direita do rio Acre, que correspondia a uma parte da área pertencente à Neutel Maia.
Inicialmente foi a Casa Nemaia e Cia., situada diante da enorme gameleira que assinalava o porto da Volta da Empreza, que serviu como referencia para a construção de uma série de outros prédios seguindo o traçado da margem do rio. Formou-se assim um primeiro arruamento onde se estabeleceram hotéis, restaurantes, casas comerciais e residenciais construídos com a madeira que era abundante nos arredores desta primeira rua do povoado (atualmente chamada de Rua Eduardo Assmar).
Com a extensão e adensamento desta primeira rua organizaram-se três áreas distintas que se constituíram como os primeiros bairros do povoado. Uma pequena área residencial de trabalhadores que ocupava as terras da volta do rio Acre, acima da Gameleira, e que era denominada Canudos (área da atual Cidade Nova).
O centro do povoado da Volta da Empreza propriamente dito que era constituído pela rua ao longo da margem do rio no trecho entre a Gameleira e o local onde hoje está a cabeceira da Ponte Metálica. E, finalmente, formou-se outro pequeno bairro de trabalhadores que recebeu o sintomático nome de rua África por abrigar os negros habitantes da cidade. Este ultimo bairro era a extensão da única rua da cidade na direção do igarapé da judia e era formado quase que exclusivamente por precárias casas de palha.
Ainda surgiria um quarto “bairro” (para empregar um termo de época) no povoado da Volta da Empreza – Villa Rio Branco. Isto se deu durante a ocupação militar de 1903 quando, diante da necessidade de aquartelar tropas nesta área, o General Olimpio da Silveira decidiu faze-lo distante do centro do povoado escolhendo para tanto um local periférica, rio acima, e ali acampou o 15º Batalhão de Infantaria do Exército.
A presença dos militares atraiu pequenos comerciantes que constituíram um novo arruamento, também ao longo da margem do rio, para atender as necessidades dos soldados e deram origem ao bairro Quinze, numa referência ao numero do Batalhão ali estacionado, cuja denominação permanece até hoje.
Ou seja, ao longo deste primeiro período de formação da área urbana de Rio Branco, podemos identificar não só sua consolidação como espaço diferenciado em relação aos seringais da região como também a configuração de um primeiro ordenamento espacial que refletia a organização da própria sociedade com bairros diferenciados para os trabalhadores ou para os “negros” da cidade.

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