sábado, 27 de abril de 2013
terça-feira, 23 de abril de 2013
segunda-feira, 22 de abril de 2013
DUARTE, Élio Garcia. Conflitos pela terra no Acre: a resistência dos seringueiros de Xapuri. São Paulo: UNICAMP, 1986. (Dissertação de Mestrado)
Duarte,Elio Garcia. Conflitos pela terra no acre - a resistencia dos seringueiros de xapuri.pdf by Eduardo Carneiro
- O livro foi uma adaptação da dissertação de
mestrado defendida em 1986 na UNICAP.
- O autor foi professor de História na UFAC
no período de 1978 a 1981. Na época da edição do livro era professor de
História Econômica na Universidade de Goiás.
- O Acre se caracteriza por um processo violento de ocupação
fundiária. Os fazendeiros ocupavam os antigos seringais, desmatando-os.
“Atitudes concretas foram tomadas por um grupo de acreanos
inconformados, que em maio de 1899, se rebelaram e conseguiram expulsar a Delegação
boliviana da região. Foi a primeira Revolução Acreana, que ocorreu sem tiros”
p. 13.
“Enquanto isso, em Belém e Manaus, preparava-se um plano
para a tomada da região pelos brasileiros. O mentor deste plano foi o espanhol
Luiz Galvez Rodrigues de Arias. Galvez, com a ajuda do Governo do Amazonas e de
comerciantes de Manaus, formou uma expedição que partiu para o Acre com a
finalidade de constituir um governo no local. Chegando ao Acre, Galvez se
reuniu com os seringalistas...” p. 13.
- O Estado Independente do Acre teve sede em Puerto Alonso.
O governo de Galvez durou 8 meses e neste período foram criados vários
departamentos administrativos, “... organizados os serviços públicos e também
se legislou sobre títulos de propriedade” p. 13.
“Seu governo, no entanto, foi efêmero. Logo surgiram
reações. Os comerciantes de Manaus e Belém se recusavam a pagar o imposto
cobrado da borracha exportada pelo território acreano e também suspenderam o
fornecimento de mercadorias para o Acre. Outra reação foi dos bolivianos que se
prepararam para atacá-lo tanto através de Manaus, com o consentimento do
governo brasileiro, como diretamente da Bolívia, por via terrestre ou descendo
pelo Rio Acre. No entanto, quem acabou obtendo a rendição de Galvez foi uma
flotilha da Marinha brasileira, em março de 1900” p. 13.
“Após a deportação de Galvez, outros líderes da Revolução
Acreana assumiram a presidência do Estado Independente do Acre e continuaram
dificultando a consolidação do domínio boliviano na região” p. 13.
“O Governo brasileiro, com exceção do governo do Estado do
Amazonas, mantinha-se fiel ao tratado de Ayacucho, reconhecendo o direito da
Bolívia sobre a região... Só no final de 1901, após a constituição do Bolivian
Syndicate é que as autoridades brasileiras passaram a se opor à Bolívia, no
tocante à questão do Acre” p. 13.
- O Acre seria arrendado aos capitais ingleses e americanos.
Por trinta anos, ficariam à frente da administração fiscal do Acre. O Brasil se
preocupava com a segurança nacional, já que, o acesso ao Acre se dava por águas
nacionais.
“Este movimento se tornou mais forte quando D. Lino Romero,
o novo Delegado da Bolívia, chegou ao Acre e estabeleceu uma legislação
discricionária, com a cobrança de inúmeros impostos que descontentaram os
seringalistas e comerciantes”.
- O Estado Independente anterior ao de Plácido de Castro foi
extinto em abril de 1900, “... ocasião em que o então Presidente Joaquim Vítor
assinou uma ata de paz permitindo o funcionamento da alfândega boliviana e a
instalação de autoridades da Bolívia no Acre” p. 14.
- Acre Setentrional, ocupado pelo General Olímpio, ficava
entre a Linha Cunha Gomes e o paralelo 10°20’.
- O Acre ficou dividido em dois governos: “... o Governo
Militar do Território Setentrional do Acre e o Governo do Estado Independente
do acre, com jurisdição ao sul do paralelo 10°20’.
- Em maio de 1903, Plácido de Castro dissolve o exército e
declara extinto o Estado Independente.
“... enquanto a diplomacia brasileira negociava a
incorporação do Acre ao Brasil, era interessante manter o status quo da revolução acreana”
p.15.
- Posterior ao Tratado de Petrópolis, os Peruanos ocuparam
militarmente o alto Juruá e Purus, “... instalando postos aduaneiros e
militares” p. 15.
“A anexação das terras acreanas ao Brasil foi conseguida com
o sacrifício e a persistência dos seringueiros acreanos. Este fato traz outra
característica marcante para o Acre: o orgulho do seringueiro por ter sido aquela região incorporada ao
Brasil pela luta e pelo sangue de seus antepassados” p. 15.
- Xapuri foi sede do governo Independente por algum tempo.

- A vulcanização possibilitou a ampliação da aplicabilidade
da borracha como matéria-prima industrial.
“O enorme interesse pela borracha fez com que houvesse a
expansão das áreas produtoras e estimulou a migração de nordestinos para os
altos rios da Amazônia” p. 16.
“Segundo
cálculos de Benchimol, no período de 1877-1900, só no Ceará emigraram 158.125
pessoas para a Amazônia. Moacir Fecury, comparando a população paraense entre
1872 (275.237 hab.) e 1906 (872.000 hab.), observou que houve um aumento
populacional de 300% em 34 anos. Conforme Caio Prado, o Acre: ‘... entranhado
5.000 Km no continente, e deserto até os primeiros anos do século atual,
reunirá em menos de um decênio para ais de 50.00 habitantes[1]’.
Craveiro Costa calcula que na época da anexação do Acre ao Brasil sua população
chegava a 100.000 habitantes[2]”
p. 17.
“A
dispersão das seringueiras pelas florestas, a ausência de técnicas de produção
e cultivo, a falta de apoio oficial, o alto custo da mão-de-obra, a falta de
capital, as dificuldades de transportes, tudo isso contribuía par a manutenção
do alto custo de produção da borracha amazônica” p. 17.
- A economia do Acre era o mono-extrativismo gomífero.
“Uma das conseqüências desta crise foi a reemigração para o
nordeste, havendo um grande esvaziamento populacional. A população do Acre, que no início do século, segundo
Craveiro Costa, era calculada em aproximadamente 100.000 habitantes, no
censo de 1920 apresentava 92.379 habitantes, enquanto quem em 1940, esta
população baixara para 79.768. Somente no censo de 1950, é que apresentou um aumento
populacional; 114.755 habitantes[3]”.
P. 17
“Os seringueiros que permaneceram no Acre passaram a se
dedicar à agricultura de subsistência, à coleta de castanha, à caça e à pesca,
sem abandonar completamente a extração da borracha. Nos seringais abandonados,
muitos seringueiros permaneceram como posseiros, ficando livres da dependência
do seringalista. Nos outros seringais, pelo menos foi atenuada a subordinação
ao patrão...” p, 17-18.
- Na SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, “... o capital industrial voltou a se interessar pela
borracha nativa produzida em Amazônia” p. 18.
- Banco de Crédito da Borracha tinha como atribuição
estimular a produção da borracha e regularizar os preços para a comercialização
da mesma. Funcionava através no monopólio estatal da borracha.
- SEMTA (Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores
para a Amazônia) fazia o recrutamento de trabalhadores para a região. Foi
substituído pelo CAETA (Comissão Administrativa do Encaminhamento de
Trabalhadores para a Amazônia.
“Pensavam estar
servindo à Pátria, quando na verdade estavam servindo apenas aos interesses do
capital” p. 19.
“Como dissemos anteriormente a ocupação do Acre foi motivada
pelo capital industrial, que já estava plenamente constituído na Europa e nos
Estados Unidos, já exercendo seu domínio a nível mundial” p. 19.
“Portanto, a produção que se organizou na Amazônia,
especialmente no Acre, apesar de não ter assumido as formas típicas do
capitalismo, foi uma produção de
mercadoria para o capital[4]”
p. 19.
“O
seringueiro, portanto, mesmo não sendo um assalariado... trabalhava para
valorizar o capital” p. 19-20.
“O perpétuo endividamento e a quase total ausência de
dinheiro vivo fazia com que o seringueiro estivesse sempre vinculado ao patrão
seringalista” p. 20.
- Os jagunços do patrão impediam que o seringueiro fugisse
para outro seringal ou para sua terra natal.
- O seringueiro não era um assalariado porque não era livre para vender sua força de
produção.
- No dizer de Márcio Souza, o seringueiro era “... um
escravo econômico e moral do patrão[5]”
(apud, p. 20)
- O capitalismo reinventa o trabalho compulsório, no momento
em que o Brasil se livrava da escravidão.
- Capital Monopolista
Internacional → Capital Mercantil do Extrativismo da Borracha→Relações de
Produção Pré-Capitalista na Amazônia[6].
“O aviamento é uma forma sui
generis de relação de produção que foi recriada pelo capitalismo para
valorizar o capital” p. 21.
“...
foi o capital industrial, com as relações capitalistas predominantes, que
estimulou e organizou a produção extrativista da borracha, por intermédio do
capital mercantil” p. 21.
- A produção da borracha foi estimulada diretamente pelo
capital mercantil. No entanto, o comércio gomífero respondia a uma demanda
imprimida pelo capital industrial.
- O capital mercantil só funciona na esfera da circulação,
como uma das fases do processo de reprodução do capital.
- O sistema de
aviamento funcionava sob a dominação imediata do capital mercantil
(capital mercadoria/dinheiro). No entanto, era o CAPITAL INDUSTRIAL das grandes
potências que fazia funcionar a empresa do seringal nativo, isso porque as
casas exportadoras estavam diretamente ligadas ao capital monopolista
internacional e era este que, em última instância, detinha o controle do
sistema de aviamento.
- LER MARX: capital mercantil e financeiro
“Acreditamos que no caso do Acre em particular e da Amazônia
de maneira geral, apesar de o capital não ter atuado diretamente na organização
da produção, extraindo a mais-valia através da subordinação real, mas através
do capital mercantil, recriou e subordinou formalmente relações de produção que
permitiram a apropriação do sobretrabalho do produtor direto, e que
contribuíram par apropriação do capital industrial” p. 22.
“Embora
o extrativismo gomífero tenha sido estimulado pelo desenvolvimento da indústria
na Europa e Estados Unidos, a produção da borracha não foi organizada
diretamente pelo capital industrial. A produção desta mercadoria, importantíssima
como matéria-prima para as indústrias, teve a intermediação do capital
mercantil... O capital mercantil era, internamente, representado pelas casas
aviadoras e pelas exportadoras. As CASAS AVIADORAS, com financiamento da
rede bancária ou com crédito das casas exportadoras, eram as que estimulavam
diretamente a organização de seringais. Estas casas, não só financiavam e
organizavam o transporte de nordestinos para os seringais, como também aviavam,
isto é, forneciam a crédito, aos seringalistas, as mercadorias para a abertura
e movimentação do seringal” p. 23.
“Em compensação, as CASAS AVIADORAS mantinham, sobre os
seringalistas o monopólio da venda de mercadorias e o monopsônio da compra da
borracha” p. 23.
“O seringal era dividido em várias colocações, dispersas
pelo interior da floresta. Casa colocação era constituída pelo tapiri (cabana
de palha) e pelas estradas de seringa trabalhadas pelo seringueiro” p. 23.
- Os
seringais eram “... enormes latifúndios”
p. 25.
“O mono-extrativismo da borracha se baseou, portanto, em uma
estrutura fundiária bastante concentrada” p. 25.
- Isso por que as seringueiras estavam distribuídas de forma
aleatória a mata.
OBS: a monografia
de Economia tem por objetivo analisar os fundamentos econômicos da
ocupação do Acre.
“Dados do Censo
de 1920 nos mostram que 84% das terras recenseadas do Acre ocupadas por
propriedades com mais de 10.000 ha” p. 26.
- Logo no início, não se havia a preocupação em legalizar a
terra. Isso só veio a ocorrer a partir de 1870, quando se buscou nas leis a
garantia jurídica da posse. Assim, passou-se a demarcar as terras.
“Os
primeiros títulos de terra no Acre foram emitidos pela Província do amazonas
(na república passou a ser denominada de Estado). Com a instalação da Delegação
do Governo Boliviano no Acre, em 1899, tanto as antigas, como as novas concessões teriam que ser
registradas na Secretaria da Delegação. Também o Estado Independente do
Acre, criado por Galvez e depois o de Plácido de Castro, legislaram sobre
terras. Quando o Acre foi anexado ao Brasil, em 1903, o governo brasileiro se
comprometeu em respeitar os títulos emitidos pelos governos anteriores” p. 26.
- No entanto, antes da anexação, não foram feitas muitas
titulações, não havia uma grande preocupação com o domínio jurídico. O que
prevaleceu foi à posse efetiva. O que tornava a terra valiosa não era sua
extensão, mas a concentração de seringueiras.
- Na Batalha da Borracha, o financiamento ao seringalista
passou a ser feito pelo Banco de Crédito, que passou a ter o monopólio da
compra do produto.
CAP 2 – A política de ocupação da Amazônia Pós-64.
CAP 3 – Concentração fundiária e conflitos sociais no Acre.
CAP 4 – A luta pela terra em Xapuri.
BIBLIOGRAFIA:
ABGUA, Bastos. A conquista acreana.
SILVA, Adalberto Ferreira. Raízes da Ocupação Recente das
Terras do Acre. (1982).
CAVALCANTE, Francisco Carlos. O Processo de Ocupação Recente
das Terras do Acre (1983).
[1]
240 p.
[2]
128 p.
[3]
Anuário Estatístico do Brasil (1980) - Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, rio de janeiro, 1980, p. 72.
[4] Não vieram para estender
os limites da pátria, mas vieram à servido do grande capital.
[5] SOUZA, Márcio. A expressão
amazonense: do colonialismo ao neocolonialismo. São Paulo: alfa-ômega, 1977, p.
100.
[6] É uma produção capitalista
baseada em relações não-capitalistas.
Geralmente isso acontece quando o comércio comanda a
economia.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
terça-feira, 16 de abril de 2013
OS ARGUMENTOS DA DIPLOMACIA BRASILEIRA NO PROCESSO DE ANEXAÇÃO DO TERRITÓRIO ACREANO
A primeira proposta do Barão de Rio Branco foi a compra do território do
Acre, ficando o Brasil com a obrigação de se entender com o Bolivian Syndicate;
depois, a de permuta de territórios. A Bolívia recusou uma e outra. Agravou-se
a crise, e o mês de Janeiro de 1903 representou um momento dramático na
relações entre o Brasil e Bolívia. A 24 de Janeiro a resolução chefiada por
Plácido de Castro se achava de todo vitoriosa, tendo submetido e aprisionado a
guarnição boliviana de Porto Acre. Por sua vez, o general Pando, presidente da
Bolívia, estava em marcha, à frente de tropas, para invadir a região e submeter
os insurretos, enquanto o governo brasileiro preparava forças de terra e mar
com destino ao Acre.
Estava-se na expectativa de uma
guerra, com a opinião pública apaixonada e exaltada nos dois países.
Manifestações populares exigiam do governo uma ação violenta e imediata. Nos
círculos militares e políticos tinha-se como inevitável a solução pelas armas.
O presidente da República indagava já dos governadores do Amazonas e do Pará
que auxílios poderiam prestar, como conhecedores da região, as brigadas
policiais daqueles Estados. O assunto principal de todos os jornais e de todas
as reuniões era o Acre. Da questão técnica, em geral, quase nada conhecia o público
em tais discussões; era o sentimento, a paixão que fornecia os argumentos.
Enquanto os brasileiras se agitavam
em manifestações exaltadas no Rio – o Barão do Rio Branco trabalhava pela paz
no seu gabinete em Petrópolis. O seu temperamento de negociador encontra agora
ocupação adequada. Mantém-se, de janeiro a março, numa atividade febril,
ininterrupta, de quase todas as horas. Comunica-se, em constantes conferências
telegráficas, com os ministros da Guerra e da Marinha; discute, também pelo
telégrafo, com o governo boliviano; redige, quase todos os dias, despachos de
orientação ao ministro do Brasil em La Paz; conferencia pessoalmente, a cada
momento, com o ministro da Bolívia no Brasil. As suas decisões caem sobre os
acontecimentos com uma perfeita precisão, como se houvessem sido calculadas e
estudadas com rigor. Ele mede com certeza todo o seu alcance: as providências
enérgicas se alternam com os apelos conciliatórios; sem transigir quanto ao fim
essencial, deixa sempre aberta a porta para o entendimento e a negociação
amigável.
A 18 de Janeiro de 1903, Rio Branco
comunica à Bolívia que o Brasil dava ao artigo 2º do Tratado de 1867 uma nova
inteligência: a fronteira pela linha do paralelo de 10º 20’, e faz sentir ao
nosso vizinho “que o contrato de arrendamento, com os poderes dados ao Bolivian
Syndicate, é uma monstruosidade em Direito, importando alienação de soberania
feita em benefício de sociedade estrangeira sem capacidade sem capacidade
internacional. É concessão para terras da África, indigna do nosso continente”.
A 24, diante da notícia de que o presidente Pando pretendia ir combater os
brasileiros no Acre, “o nosso presidente resolveu concentrar tropas nos Estados
de Mato Grosso e Amazonas”.
Das notícias chegadas de La Paz
concluía-se que o governo boliviano recusa todos os alvitres de moderação e
senso diplomático. O vice-presidente da República, amigo do Brasil, havia sido
exilado. A uma primeira notícia, dizendo que o general Pando suspendera a
expedição militar, seguia-se outra em que se confirmava a partida do
presidente, ao mesmo tempo que o governo boliviano recusava entrar em
negociações sem que fosse pacificado o Acre e libertada a sua guarnição. A
despeito de ter autorizado Cláudio Pinilla, ministro, desde o dia 24, o general
Pando, a 26, saía de sua capital à frente de tropas.
Decide-se Rio Branco, então, por uma
medida extraordinária: em combinação com o presidente da República, os
ministros da Guerra e da Marinha, determina a ocupação militar do território do
Acre.
A 3 de fevereiro escrevia Rio
Branco:
O Govêrno Brasileiro não quer romper as suas relações
diplomáticas com o da Bolívia. Continua pronto para negociar um acôrdo honroso
e satisfatório para as duas partes, e deseja muito sinceramente chegar a êste
resultado. O Sr. Presidente Pando entendeu que é possível negociar marchando
com tropas para o norte. Nós negociaremos também fazendo adiantar fôrças para o
sul, com o fim já declarado.
Foi
decisivo, pela sua importância e significação, êsse despacho do 3, enviado ao
ministro do Brasil em La Paz, que o deveria passar, por cópia, ao ministro do
Exterior da Bolívia, Eliodoro Villazon:
Petrópolis, 3 de fevereiro de 1903, - Causou a mais
penosa impressão ao Presidente da República e a tôda a Nação Brasileira a
certeza de haver o Sr. Presidente Pando resolvido, no dia 26 de janeiro, partir
para o território do Acre com o propósito de submeter pelas armas os seus habitantes,
sem esperar o resultado da negociação de que encarregara no dia 24 o Sr.
Pinilla, e que, apenas iniciada, nos dava as melhores esperanças de um acordo
próximo, honroso para as duas partes e vantajoso para a Bolívia. Sendo o Acre
um território em litígio, pretendido também pelo Brasil e pelo Peru desde o
paralelo de dez graus e vinte minutos até a linha da nascente do Javari ao
marco do Madeira, e brasileiros todos os habitantes da região, não podemos
concordar em que ali penetrem tropas ou autoridades da Bolívia. Dos três
litigantes, Bolívia, Peru e Brasil, é a êste que melhor cabe a ocupação
administrativa provisória desta parte do território contestado, atenta a
nacionalidade de sua população.
Vossa Excelência fica, portanto, autorizado para mostrar ao
Govêrno Boliviano que as suas expedições em marcha não devem ultrapassar o
indicado paralelo, e para declarar-lhe que, tanto pelo dever de não permitir
que sejam maltratados ou exterminados os nossos compatriotas, levantados contra
a dominação estrangeira e senhores de todo o país, como para satisfazer ao
desejo, que manifestou no dia 23 de janeiro o Sr. Villazon quando disse que o
seu govêrno aceitaria a discussão imediata, se o Brasil se responsabilizasse
pela pacificação, iremo pacificar o território contestado, enviando para êsse
efeito tropas que ao mesmo tempo protejam a população, mantenham a ordem,
tornem impossível incursões para os lados do Abunã e do Orton e repilam
qualquer agressão. As tropas brasileiras farão a polícia do território contestado,
ao oriente do rio Iaco, ocupando-o até solução do litígio por via
diplomática....
Três
dias depois chegava a resposta da Legação do Brasil em La Paz:
O govêrno boliviano aceita a
situação provisória indicada apelo Brasil no despacho telegráfico de 3 de
fevereiro, comunicação pela Legação do Brasil, podendo portanto o govêrno
brasileiro ocupar militarmente e administrar o território em litígio, ao
oriente do Iaco.
Mas a 11 sugeria Villazon que o
litígio fôsse submetido à arbitragem do Tribunal de Haia, ao que replicou Rio
Branco:
Diga arbitragem é recurso
bastante demorado e para ser empregado depois se fôr indispensável. O interêsse
dos dois países é que cheguemos quanto antes ao arranjo amigável das
dificuldades presentes, o que, havendo boa-vontade, é perfeitamente possível.
Convém, portanto, entremos com urgência na negociação apenas iniciada e
interrompida de um acôrdo direto.
Enquanto isso, Rio Branco continuava
a negociar com Cláudio Pinilla as cláusulas de um “modus-vivendi” a ser estabelecido
durante o tempo necessário à discussão de um acordo definitivo.
Nos últimos dias de fevereiro,
porém, a questão do Acre ficava despojada de uma das suas dificuldades: o
Bolivian Syndicate. A 27 e 28 era assinado em Nova York o termo de renúncia do
Sindicato a todos os direitos e favores que lhe haviam sido concedidos por
contrato firmado em 11 de julho de 1901 entre Félix Aramayo, ministro da
Bolívia em Londres, e Frederick Whitridge, de Nova York, para a administração
fiscal, polícia e exploração do Território do Acre ou Aquiri, contrato aprovado
pelo Congresso Nacional da Bolívia e promulgado pelo Presidente Pando.
Fora este o primeiro exito
diplomático do Barão do Rio Branco no caso do Acre. Ele construíra o problema,
desde o princípio, com a idéia de separar a Bolívia do Bolivian Syndicate, de
negociar com cada um dêles separadamente. Pensou começar a negociação pela
Bolívia, comprando-lhe o Acre ou adquirindo-o mediante compensações, para
entender-se depois com o Sindicato; diante da sua recusa, abriu caminho até o
Sindicato; afastou-o da questão, deixando assim as duas nações livres uma em
face da outra. Pois tudo indicava que, sem o prestígio e o incitamento do
poderoso sindicato estrangeiro, a Bolívia se tornaria razoável e conciliadora.
De Berlim, em outubro de 1902, Rio
Branco se comunicara com Assis Brasil, nosso ministro em Washingto, a fim de se
informar da posição do governo norte-americano. A Bolívia vinha solicitando a
interferência dos Estados Unidos e procurando interessá-lo através do
Sindicato. Rio Branco sempre se recusou a pedir essa intervenção estrangeira em
favor do Brasil. O que ele pleiteava, por intermédio de Assis Brasil, era
neutralidade dos Estados Unidos; desejava que eles não cobrissem a organização
comercial do Sindicato com a autoridade oficial do governo. E isto foi o que
conseguiu a sua ação diplomática, argumentando junto às chancelarias americanas
com o perigo dessa ameaça de transplantação do sistema sul-africano para o
nosso continente.
Foi nesta base, exatamente, que
Assis Brasil, como representante de Rio Branco, dirigiu as negociações para a
desistência do Sindicato, a quem o Brasil pagou cento e dez mil libras, além de
mil para o advogado e quatro mil para o agente, embora ressalvando que o fazia
para evitar controvérsias e evitar que a Bolívia pagasse uma indenização maior
se o negócio fôsse liquidado mais tarde, mas que não reconhecia, como nunca
reconhecera, a validade do contrato, porque o território era litigioso e porque
isso implicava concessão a uma sociedade estrangeira de poderes soberanos
intransferíveis.
Afastado o Sindicato, Rio Branco
tornou mais firme a sua insistência junto à Bolívia para estabelecimento de um
modus-vivendi que permitisse as negociações em torno de um acordo definitivo.
A Bolívia cede, afinal. Assina-se a
21 de março em La Paz o modus-vivendi, pelo qual as tropas brasileiras ficariam
ocupando o território em litígio e também passariam ao sul do paralelo com o
fim de evitar conflitos entre os acreanos e as forças bolivianas. Regulava
ainda o acordo questões econômicas a respeito de postos aduaneiros ou fiscais e
de exportação da borracha.
Não se tratava mais, na discussão que ia começar para o acordo
definitivo, de compreender o Tratado de 1867, mas de criar um novo Tratado, dentro
das novas condições da fronteira do Acre habitado por brasileiros – eis o ponto
de partida do Barão do Rio Branco. Ele teve a coragem de ultrapassar os
convênios existentes para atingir o problema na sua zona mais difícil e
perigosa: o povo que habita ao norte e ao sul do paralelo de 10º 20’ não quer
submeter-se à soberania da Bolívia e o Brasil não pode ficar indiferente a esse
pronunciamento de uma população brasileira. Mas, por outro lado, ele vê o
direito da Bolívia e não deseja uma solução que o desrespeite pela conquista.
Não deseja solução nenhuma que não se harmonize com o Direito Internacional e
com a tradição na política exterior do Brasil. Por isso colocou o problema na
base de aquisição do Acre mediante compensações territoriais e pecuniárias. Um
acordo em que não houvesse vencido nem vencedor.
Iniciadas as negociações em julho, só em agosto os plenipotenciários
bolivianos concordaram com a idéia de uma compensação pecuniária em troca do
Acre, mas devendo o Brasil abrir mão também de algum pequeno território, a fim
de que a negociação diplomática não se transformasse numa simples operação de
compra e venda. No dia 22 de julho era apresentada aos bolivianos uma proposta
concreta: o Acre em troca de um milhão de libras esterlinas, a construção de
uma via férrea da cachoeira Guajará-Mirim a Santo Antônio, no Madeira, dois
pequenos territórios junto ao rio Madeira. Nesse mesmo dia, em conferência com
os dois colegas brasileiros, Rio Branco manifesta a opinião de que seria talvez
necessário fazer algumas concessões no Baixo Paraguai brasileiro, de acordo,
aliais, com o pensamento do governo do Império em 1867, que era dar ali à
Bolívia portos para o seu comércio exterior. Concessão esta, porém, que ele não
lançara na primeira proposta, guardando-a, como trunfo, para as discussões
finais. A 24 de julho os plenipotenciários bolivianos declaravam inaceitável a
proposta brasileira do dia 22. Por sua vez a contraproposta por eles apresentada
a 13 de agosto continha tais exigências territoriais – territórios no Amazonas
e em Mato Grosso, nas duas margens do Madeira, a oeste do rio Paraguai, a oeste
do Jauru, ao sul do seu afluente Bagres, a oeste do Alto Guaporé – que Rio
Branco nem consultou ninguém sobre ela: recusou-a imediatamente. Seguiram-se
conversações particulares entre plenipotenciários brasileiros e bolivianos,
lentas, penosas, quase enervantes. Rio Branco sabia, porém, que a primeira
qualidade diplomática, como a política, é a paciência, a capacidade de esperar
sem irritação ou desânimo. Duas vezes, a pedido seu, reuniu-se o Ministério. E
nenhuma solução definitiva aparecia.
A 17 de novembro de 1903, em Petrópolis, assinavam os plenipotenciários
brasileiros e bolivianos o Tratado pelo qual terminava a questão do Acre e se
estabeleciam as fronteiras entre o Brasil e a Bolívia. Pelo Tratado de
Petrópolis o Brasil incorporava ao seu território não só os 142.000 quilômetros
quadrados – reconhecidos sempre pela nossa chancelaria como bolivianos e pelo
Barão do Rio Branco, pela primeira vez, declarados litigiosos – como também
mais 48.000 quilômetros quadrados, nos quais estavam contidas as mais ricas
florestas do Acre superior, nunca disputados à Bolívia, por todos reconhecidos
como da sua exclusiva propriedade. Incorporávamos, na verdade, cerca de 200.000
quilômetros quadrados, todo o território habitado por brasileiros, tanto ao
norte como ao sul do paralelo 10º 20’. Um território mais vasto do que o de
qualquer destes Estados; Ceará, Rio Brande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Oferecíamos
em troca uma área de 2.296 quilômetros quadrados, entre os rios Madeira e
Abunã, habitada, aliás, por bolivianos, e mais 723 quilômetros quadrados sobre
a margem direita do rio Paraguai, dentro de terrenos alagados, 116 sobre a
lagoa de Cáceres, 20,3 sobre a lagoa Mandioré e 8,2 sobre a margem meridional
da lagoa Gaíba. Dávamos 3.164 quilômetros quadrados em troca de cerca de
200.000 quilômetros quadrados do Acre. Para estabelecer o equilíbrio nesse
desnível de quantidade, o Brasil oferecia à Bolívia mais duas compensações: o
pagamento de dois milhões de libras esterlinas e a construção da estrada de
ferro Madeira-Mamoré, esta última, aliás, de utilidade para o comércio e a
economia de ambos os países. Era uma empresa, a estrada, já prometida pelo
Brasil no Tratado de 1867, e recomendada no Império por alguns dos seus
principais estadistas, como o Visconde do Rio-Branco, o Marquês de São Vicente,
o Barão de Cotegipe e Tavares Bastos.
BIBLIOGRAFIA:
LINS, Alvaro – Rio-Branco:
Biografia pessoal e História política, São Paulo, 1965.
sexta-feira, 12 de abril de 2013
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Resumo do processo de anexação do Acre ao Brasil
"Quem limita a História do Processo de Anexação do Acre às ações de Plácido de Castro é por que não conhece a história do Acre e sim a literatura epopeica que a tematizou"
quinta-feira, 4 de abril de 2013
segunda-feira, 1 de abril de 2013
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