Cine Teatro Recreio foi instalado
no prédio do extinto Cine Éden, Segundo Distrito, após passar por uma reforma
quando foi feita a fachada em alvenaria que se manem até hoje. A inauguração se
deu em 13 de junho de 1948.
Além de projeções
cinematográficas o Cine Teatro Recreio era movimentado por companhias teatrais
que chegavam de outros Estados bem como por iniciativas do teatro amador local,
do qual destacamos, entre outros, nomes como Osvaldo Pinheiro de Lima e
Garibalde Brasil.
As sessões do Cine Teatro Recreio
eram, em geral, acompanhadas por outras atrações como apresentações da Banda de
Música da Ex – Guarda Territorial nas inesquecíveis retratas. Um auto – falante
nos altos do prédio entoava o “Cisne Branco” para avisar que a projeção estaria
para começar.
O cine Teatro Recreio situava-se
num complexo de diversões públicas do Segundo Distrito, juntamente com os
Arrais da Igreja N. S. da Conceição, a sinuca do Hotel Madrid, as casas
comerciais com suas vitrines sempre enfeitadas com as últimas novidades e os
encontros no Bar Brotinho, sem falar dos bailes carnavalescos da Tentamen.
Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação Elias
mansour
CINE TEATRO RECREIO
HISTÓRICO
Fátima
Almeida
O antigo cinema do Segundo
Distrito é patrimônio histórico por refletir ao longo de sua existência parte
da história desta cidade. Nos remete ainda às influências e tendências do cinema
mundial, de década por década, tendo contribuído grandemente para a informação
e formação de várias gerações pela
inegável posição de “porta para o mundo”. O cinema do Segundo Distrito que
recebeu nomes em meio século é uma referência de importância da memória social
de Rio Branco.
OS PRIMEIROS ANOS
Na virada do século o cinema
chega ao Brasil pelos irmãos Segretto. A primeira exibição pública da qual se
tem notícia aconteceu à rua do Ouvidor, RJ, em junho de 1896.
Pouco tempo depois, no Acre, um
também italiano, José Cicarelli teria projetado filmes em sua casa de diversões
no Segundo Distrito. Mas, a primeira sala de projeções, de fato, foi instalada
numa das casas da antiga rua do comércio, atual senador Assamar, numa época em
que o Segundo Distrito constituía-se num pólo dinamizador das atividades comerciais e culturais da
capital do ex-território do Acre. Esse primeiro cinema, o Cine Ideal, teve uma
pequena duração, nos idos de 1918 e 1919.
Em 1920, um pequeno grupo
empresarial liderado pelo português Leonel Vinagre, compra o cinema e muda-lhe
o nome para Cine Éden. O Cine Éden foi uma das mais arrojadas Casas de
Espetáculos de que se tem notícia, promovendo por mais de duas décadas,
recitais, consertos, projeções cinematográficas, peças teatrais e até
conferências de interesse público.
Em 1924 o Cine Éden passa a
funcionar no prédio do atual Cine Recreio, conforme o anúncio: “Éden, Cinema –
conforme fora antecipadamente anunciado, realizou-se domingo último a
inauguração do novo prédio dessa Casa de Diversão com estréia do majestoso
filme, em oito partes, ATLANTIS, da fábrica dinamarquesa Nordinsk”. (Correio do
Acre, 20.07.1924).
Em 1945 os sócios – proprietários
da Sociedade Recreativa Tentamen tendo na direção Mário de Oliveira, compra o
Cine Éden, submetendo-o à reforma pela qual o prédio foi dotado de uma fachada
em alvenaria como se vê até hoje. A reabertura do cinema, sob novo nome, CINE
TEATRO RECREIO, deu-se em 1948, com estréia do filme Gilda, em 13 de junho,
data comemorativa do aniversário de fundação da cidade. (O ACRE, 13.06.1948).
NOS TEMPOS DO EDEN
Nas décadas de 20, 30 e 40, o
principal meio de comunicação era o transporte fluvial. As projeções de cinema
ficavam, portanto, condicionadas à demora entre remessa e a chegada de filmes,
desde o porto de Recife, onde Leonel Vinagre estabeleceu intermediação, até
esta capital. “Éden Cinema”: Aguardem os novos filmes chegados pela chata
Uruguaiana”. (Folha do Acre, 20.01.1929)). Uma demora de três meses em média,
não permitia a locação de filmes como hoje, que por isso eram comprados e
revendidos, podendo formar às vezes verdadeiros estoques.
Quanto aos projetores eram
importado, o que trazia problemas quanto à falta de peças de reposição. Data de 1945 a aquisição de um projetor em 16
mm sendo que somente em 1945, o então Cine Recreio é dotado de um projetor em
35 mm sob a direção de Aref Jarud.
O Cine Éden ofereceu oportunidade
ao florescente teatro e de música instrumental, a começar pelo fato de que o
Cinema Mudo em toda parte fazia-se acompanhar por instrumentistas que obedeciam
aos movimentos das imagens projetadas, sessão por sessão. A pequena orquestra
do Cine Éden era regida por um pistonista. Plácido de Paiva Melo e por um
pianista, Hilda Leite. A irregularidade nas projeções fosse por problemas
técnicos, fosse pela demora das remessas, permitia a concorrência de companhias
teatrais. Há quem afirme que a freqüência
ao teatro era, inclusive, muito maior que a do cinema. Davam-se ainda
espetáculos circenses, pantomimas, arte ventríloqua, etc. Em 1928 o Jornal
Folha do Acre, nunciou a exibição de Mário Letona, peruano que executava música clássica em um
serrote de carpinteiro. Mas isto era exceção, sendo o mais comum apresentação
de música erudita, com um certo requinte. Em 1921, o filme BHOEMIA da obra de
Musset, é exibido, em quatro atos,
acompanhado da orquestra “Voluntários da Lyra”, sendo que a todas essas
partes de óperas e óperas cósmicas, Antônia Brandão interpretou com muita alma,
surpreendendo a platéia com um argumento de vocalização, tonalidade de volume e
extensão de voz”. E ainda: “O Éden
estava cheio, vendo-se ali sua excelência o Sr. Dr. Governador, altas
autoridades e muitas famílias” (OACRE, 06.08.1921). Antonia Brandão, cantará, um
ano depois “lindos trechos clássicos das operatas “traviata”, “Gioconda” e
“Fausto”. O estreito vínculo entre o exercício de altos cargos públicos e a
entrada pomposa em noites de espetáculos
condicionou a freqüência em sessões
elegantes e sessões populares. A polícia gozava de camarotes com lugares de
honra, ostentando uma respeitabilidade como não se vê. Juizes assinavam
portarias normativando com muita eficiência a freqüência da casa e o exercício da censura era
indispensável pois o próprio beijo surgiu nas telas muito depois. Apesar de ficarem
restritos às sessões populares, os freqüentadores que exerciam ofícios de catraeiros,
carpinteiros, carregadores, etc., gozavam também de respeitabilidade em geral, como
pessoas honradas, de boas famílias, numa época em que todos conheciam-se, muito
distante dos dias de hoje, em que trabalhadores não são mais pessoas com rosto
e um nome e sim categorias, classe social, massa.
O cine que após 1926 passou a ser
propriedade da empresa Moleiro Esteves não era tão somente uma casa de
diversões com finalidade comercial. Contribuía regularmente com campanhas
beneficentes: “Em benefício da Caixa Escolar, a pedido do diretor de Instrução
Pública, a Empresa Moleiro e Esteves, na sexta-feira, 30 deste mês, às 9 horas
da noite, realizará uma sessão cinematográfica em benefício da Caixa do Grupo
Escolar “7 de Setembro” . Será
focalizado o filme “Via Crucis”, caixa escolar é a instituição benemérita que
tem por finalidade a freqüência, fornecendo livros, etc., aos alunos reconhecidamente pobres. A noite será abrilhantada
pela banda de música da Força Policial”. (Folha do Acre, 27.09.1921). outro
anúncio no (O Acre, 07.09.1921) “Concerto litero-musical em benefício da Santa
Casa de Misericórdia do Acre”. Em outro
anuncio do (O Acre, 03.11.1929) “Dentro de brevidades com a próxima chegada da
primeira remessa de filmes novos, será o EDEN CINEMA – THEATRO reaberto ao público, com uma brilhante
estréia. Estão, pois, fracamente de parabéns os admiradores da soberba arte
moderna. Nota: a fração de 200 réis dos ingressos para as sessões elegantes
corresponde ao imposto de caridade taxado pela Intendência Municipal”.
O cine projetava ainda o FOX –
Jornal, uma espécie de revista dos principais acontecimentos mundiais em um
ato.
Em julho de 1928 o cine Éden
promove uma feira de arte em benefício
da estátua a ser erguida em Fortaleza
Ceará ao romancista José de Alencar. O monumento seria inaugurado um ano
depois, o próprio governador Hugo Carneiro, participou daquela feira proferindo
conferencia. (Folha do Acre, 17.02.1929). em 1929, o Éden exibe o filme “ATRAVES DO GRAN PARÁ” ou “A CONQUISTA
DA GUYANA BRASILEURA”.
As vezes as máquinas saiam para
tomar ar fresco: haverá no domingo uma sessão de cinema ao ar livre, na praça
Tavares Lyra, em homenagem ao natalício do Sr. Epitácio Pessoa, para que
será ali transportado o aparelho do Éden
...” (Folha do Acre, 26.05.1920).
No cine Éden realizavam-se
conferencias sobre os mais variados temas desde a essência do amor”, por
Juvenal Antunes até a necessidade do recenseamento”, POR Theodoro Albuquerque.
Sendo que os conferencistas eram aplaudidos de pé, em sua entrada.
O maior expoente do teatro nos
tempos do Éden foi, sem dúvida, Grijalva Antony, diretor e ator que
transferiu-se de Manaus, com sua companhia de teatro da qual faziam parte sua
mulher, Bianca Antony e atores como; Elias Andrade e Rui Barreto. “FOGO DE
BENGALA”, foi uma foi uma das peças
desse grupo que fez grande sucesso de público e de crítica como as notas no
jornal de então.
Os títulos dos filmes da época
não poderiam ser mais sugestivos num período de amplo romantismo no cinema: “O
Duque Ruivo”, “A Filha do Phaloreiro”, “O Hóspede Mysterioso”, “O Roubo dos
Documentos do Canhão”, “Memórias de um criminoso”. As atrizes Bertini e Diane
Merene eram as musas de filmes anunciadíssimos como: Ivone e Quando o Amor Refloresce. Poetas publicavam poesias
inspirados naquelas.
O CINE TEATRO RECREIO
O Cine Teatro Recreio é reaberto
ao público em 1948. ativistas culturais promovem espetáculos de teatro amador,
entre eles, Osvaldo Pinheiro de Lima e Garibaldi Brasil. As sessões continuam
abrilhantadas pela Banda de Música. Nas matines, o auto-falante entoa o Cisne
Branco para avisar que a projeção já vai começar, roubando os fregueses do
largo passeio entre o Bar Brotinho e o Cinema. Carros motorizados nem existiam.
Mas o aviação chegava. Nesse mesmo ano, o Aeroporto Salgado Filho é inaugurado
por José Guiomard dos Santos, as atenções voltam-se para ele. Chegar e sai, com
rapidez, sem a monotonia das longas viagens de chata ou navio, teve uma
repercussão imensurável.
É desse período também o
surgimento do Cine Rio Branco, na outra margem do rio promovendo uma acirrada
concorrência, como se percebe em normais do
período anúncios de quatro a cinco filmes para a semana inteira, entre
matines, matinal e sessões noturnas, nos dois cinemas, com remessas diferentes.
Hollywood em alta. Ingrid Bergmann e Humprey Bogart dominam a cena, títulos que
o cinema atual apenas reinterpreta e velhos temas com tecnologia mais avançada.
Um personagem chamado “Raimundo Doido” anuncia os filmes, tocando tambor, pelas
ruas do Segundo Distrito, pronunciando barbaramente nomes como Mickey Rooney e
Magarreth O’ Brian... ganhava gorjeta mas trabalhava quando queria...
O teatro vai perdendo a
efervescência de outrora. Há referências a um Teatro Escolar do Acre que era
patrocinado pelo Departamento de Educação e Cultura, o qual encenou dois
trabalhos em 1946. do grupo fazia parte a professora de música Elaís Meira. Em
1959, as irmãs do Imaculada Conceição, promovem um espetáculo teatral com suas
alunas, entre elas: Íris Célia Cabanellas Zannini, em 1959 no Cine Recreio. O
Teatro Escolar apresentava-se no Colégio Acreano, dotado de um palco como se vê
até hoje. Nos anos sessenta, um grupo de estudantes encena o “Príncipe
Valente”, com Hélio Koury no papel principal, no palco do Colégio Acreano.
A POLÍTICA NO CINEMA: ACABA O
FILME
O Cine Rio Branco pega fogo, em
24 de junho de 1956 durante a exibição de “Lampião, o Rei do Cangaço”. Os
filmes eram fabricados com material inflamável naquela época. Cinemas
incendiavam em todo mundo. O então governador Valério Magalhães fez doação das
máquinas para a Santa Casa de Misericórdia que vinha há décadas com seu pires
na mão às portas do cinema. No mesmo ano, a Santa Casa de Misericórdia arrenda
o Cine Recreio. Durante quatro anos, o cinema do Segundo Distrito, contribui
com sua renda para construção do Cine Rio Branco. Um arraial beneficente
permite comprar seiscentas cadeiras. O Cine Rio Branco reabre em 1960.
Mas os provedores eram nomeados
pelos governos ou interventores que eram nomeados pelos presidentes. Começam a
haver divergências entre provedores e gerentes de cinemas. Até mesmo em
questões como aquisição de projetores novos, se de marcas nacionais ou
importados. Foram-se os tempos de empresários entusiastas como Alfredo Mendes,
Sóciodede Leonel Vinagre.
A movimentação no Segundo
Distrito cai sensivelmente com a transferência das casas comerciais para o
Primeiro Distrito. O Cine Rio Branco passa a dominar na esfera das diversões
públicas, tendo por concorrente o Cine Acre por alguns anos. O Cine Recreio
torna-se mera filial sem importância, reprisando filmes da matriz, para um
público cada vez menor, num bairro cada vez mais sem iluminação.
No anos oitenta, quando Jacó
Picolli, era presidente da Fundação Cultural o Cine Recreio foi reconstruído.
Ressurge das cinzas como a fênix. Inúmeros espetáculos voltaram a ser encenados
ali, sobretudo, na gestão de Gregório Filho. Por último e atual presente da
Fundação, “Walter Félix de Souza,
pretende restabelecer o antigo cinema, que aliás é uma expectativa geral.
Sobretudo, por parte dos moradores do Segundo Distrito”.
REINAUGURAÇÃO DO CINE TEATRO
RECREIO
É com imensa satisfação, que a
Fundação Cultural do Acre, reinaugura hoje, dia 21 de maio de 1993, o Cine
Teatro Recreio, que contou com a sensibilidade e o entusiasmo do nosso
Governador Romildo Magalhães, pois sem o seu apoio seria impossível esta
reativação, principalmente na área cinematográfica.
O primeiro cinema de Rio branco,
o Cine Ideal, existiu aqui, no Cine Recreio, nos anos de 1918 / 1919,
tornando-se em 1920 o Cine Éden, com a aquisição do cinema por um grupo
empresarial liderado pelo português Leonel Venagre. Apesar de ter sido o mais
importante centro cultural da cidade, durante décadas, com intensa movimentação
de atores, literários, músicos e a comunidade em geral, o Cine Éden terminou
por desaparecer, dando lugar ao Cine Teatro Recreio, adquirido pelos sócios da
Sociedade Recreativa Tentamen, em 1945, sob a liderança de Mário de Oliveira.
As máquinas eram importadas da
França e Thecoslováquia, oferecendo inúmeros problemas, face a ausência de
peças de reposição no mercado. Somente em 1945, este cinema adquiriu um
projetor de 35 mm, sob a direção de Aref Jarude, proprietário naquele período.
Em 1956, a Santa Casa de
Misericórdia tornou-se arrendatária do Cine Recreio, após ter recebido a doação
das máquinas através de Domingos Jordão, do Cine Rio Branco, pelo então
Governador Valério Magalhães.
A intenção da Santa Casa em
arrendar o cinema era de promover sessões beneficentes cuja renda era revestida
para o hospital.
O cinema em nossa cidade foi um
fonte vital de conhecimentos, informações e acontecimentos mundiais. Via-se
filmes sobre a revolução francesa, sobre valores culturais brasileiros e
principalmente superproduções de Hollywood, como: E O VENTO LEVOU< POR QUEM
OS SINOS DOBRAM.
Fundação Cultural do Acre
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