sábado, 31 de março de 2007

Jornal A Tribuna (Ac) critica minissérie da Globo

*Publicado na Coluna BOM DIA (01 e 02 de abril de 2007)
Crítica 1 - Há pessoas no Acre que acreditam, sinceramente, que foram ungidas por Deus e que seus atos, suas opiniões, seus pensamentos e posturas estão acima do bem e do mal, imunes a críticas. Pior, não admitem que se critique sequer seus amigos, apaniguados, cúmplices. Parece que tudo é proibido, que só se pode elogiar, só há verdade no que eles apóiam e quem ousa levantar a voz contra comete crime de lesa-pátria. Esses são os mesmos que se vendem barato, por um cargo em governo ou ONG, por uma simples menção de seu nome na minissérie, por exemplo, um prêmio à covardia com que se portam perante o que julgam ser o poder supremo, absoluto e infalível.
Crítica 2 - Para essas pessoas, não se pode nem criticar a minissérie da Globo, pois seria um ato contra o Acre. Ora, que vão puxar o saco e babar os ovos da Rede Globo! Ninguém lhes nega esse direito, como o de aparecer de figurante, como o cocô do cavalo do bandido, ou receber passagens e mordomias grátis como “consultores”. O que eles não podem negar é o direito sagrado de ser contra, de mostrar as falhas, de se insurgir contra as mentiras e falácias da minissérie.
Felizmente, ainda há democracia nesta terra e as críticas não partem só da coluna. Um exemplo é o e-mail do ex-deputado Osmir Lima, ele próprio um autonomista respeitado em sua juventude e hoje membro do Instituto Histórico e Geográfico do Acre, portanto, com autoridade para dar sua opinião.
Osmir 1 - Leiam o que diz Osmir Lima sobre o posicionamento da coluna: “Meus cumprimentos ao articulista da coluna Bom-Dia! pelas oportunas e corretas críticas que faz à minissérie Amazônia. A autora, Glória Perez, prefere transformar esta bela história num folhetim de segunda categoria. Deixa, entre outros exemplos, de abordar os movimentos autonomistas que ocorreram ao longo desse tempo, o que daria ao Brasil uma visão mais ampla de nossos desejos, de nossas frustrações com a incorporação e de nossas inquietações. Nós, do Acre-Juruá, afirmamos com toda convicção: esta história não é a nossa. A nossa foi feita de outros sacrifícios, de outros ideais e por outros ideais.”
Osmir 2 - Outro ponto levantado por Osmir é que a maior fonte de informações da noveleira Glória Perez, nos créditos da minissérie, é a ativista Mary Alegretti, que tem uma posição absolutamente ideológica nesta questão e que não pode dizer que tem isenção para falar sobre o Acre. Junto a ela, toda uma malta de favorecidos que se manifestam em blogs ressentidos, de quem perdeu a boquinha e quer recuperar as boas graças.
Marinho Outro acreano de boa cepa que vai contra a novelinha é o conceituado xapuiense Marinho Galo, que se espanta dos absurdos e conta que a honra era um atributo muito sério nos seringais, onde qualquer ato indecoroso era punido com a morte, não importando se feito por seringalistas ou por seringueiros.
Trata-se de uma afronta: qual foi o político, deputado, médico acreano que se deslocou para um seringal para trocar votos por um aborto a ser feito em uma garota? Qual a veracidade disso? Esse foi um ataque a todos os acreanos de bem, a todos os políticos que, na época retratada, lutavam pela autonomia do Estado. Por que não há uma única menção à luta autonomista? É fácil responder: pela ideologia rasteira e barata por trás da minissérie. Para não empanar o brilho de Chico Mendes, no pensamento míope da autora acreana e seus “conselheiros” locais, que deveriam ser mais isentos.
Lhé E não é que existe gente que tenta ligar os comentários do Abrahim Farath com a questão do petróleo, alegando que ele trabalha no gabinete do Tião Viana? É mais que ignorância, é má-fé. Sem procuração para defender o Lhé, a coluna lembra que muitos gozavam das benesses da ditadura, quer diretamente, quer por seus parentes e antecedentes, enquanto o Lhé já lutava quase solitário, junto a alguns outros visionários, pelas causas da esquerda, da igualdade, da Justiça. E nunca precisou ou reivindicou cargo público, depois que essa esquerda chegou ao poder. Quantos de seus detratores podem dizer o mesmo?
Essa coluna tem o direito e o dever de criticar e de protestar. Toda novela é obra de ficção e, por isso, os excessos seriam perdoados. Mas a ficção não pode, então, tomar ares de verdade, escondendo alguns de seus protagonistas. É muito bonitinho a novelinha citar atuais ocupantes de cargos públicos e socialites como supostos acreanos anônimos dos anos 50. Alimenta o ego deles. Mas é injusto que a novela deixe de citar Guiomard Santos, Omar Sabino e tantos outros autonomistas que dedicaram sua vida ao Acre para privilegiar a violência e o sexo gratuito.
A TRIBUNA e esta coluna nada devem a Glória Perez ou à Rede Globo, tem dado toda a cobertura à minissérie, com página diária, gratuita, mas reservam-se o direito constitucional de criticar. Chato é quem elogia a minissérie por ter recebido vantagens pessoais durante sua elaboração e gravação. Que a carapuça caia onde couber.

Nenhum comentário: