
INTRODUÇÃO: A presente investigação tem como proposta analisar o imaginário social e as ideologias contidas no discurso dos editoriais dos jornais O Rio Branco e Varadouro, que circularam na Capital acreana durante a Ditadura Militar (1964-1983), bem como discutir como se articulavam as relações de poder entre mídia impressa e política na sociedade acreana do período investigado. Mais de 40 anos se passaram desde que surgiu no cenário nacional o regime ditatorial, entretanto, a análise das relações entre imprensa e poder neste período ainda constitui uma lacuna nos estudos sobre a sociedade acreana. Busca-se, portanto, contribuir para o aprofundamento dos estudos referentes às interfaces do regime ditatorial instaurado no Acre, investigando suas especificidades no contexto da história nacional.
MATERIAL E MÉTODOS: Essa investigação compreende duas etapas: a primeira refere-se à pesquisa bibliográfica, baseando-se no pensamento Mikhail Bakhtin, partindo de sua noção de polifonia e nas concepções de Michel Foucault acerca da noção de discurso enquanto espaço atravessado pelas relações de poder, bem como nas noções de memória de Michael Polack e nas proposições de Stuart Hall acerca da identidade; a segunda etapa corresponde à pesquisa de campo, realizada através da visita aos acervos públicos e particulares (Arquivo Geral do Estado, C.D.I.H. da UFAC e Museu da Borracha). O corpus da pesquisa compõe-se de editoriais pertencentes aos jornais mencionados, os quais estão sendo analisados tendo como foco a tendência temática referente aos conflitos sociais, buscando identificar e compreender, dentro desta modalidade, como se articulavam as relações de poder político-governamentais e como se deu a busca de reassentamento nas periferias da capital acreana empreendida pelas populações provenientes da zona rural. Para a análise dos editoriais está sendo utilizado o método de abordagem hipotético-indutivo, associado ao histórico-literário, aliado às ciências afins, para a compreensão do estudo. Para a conjugação e precisão de dados sobre o imaginário riobranquense tem sido utilizado o método de procedimento analítico-comparativo, contrapondo as posturas ideológicas dos editoriais às entrevistas e leituras teóricas.
RESULTADOS: A análise dos jornais deste período revela que o jogo de interesses evidenciava-se, sobretudo pela celebração de alianças entre a imprensa e o poder político. O poder oficial, que já manipulava a produção jornalística local, passou a financiar de forma mais latente os gastos com os jornais. Verificou-se que com o jornal O Rio Branco inicia o processo de profissionalização da imprensa riobranquense, influenciando de forma decisiva o fazer jornalístico local e destacando-se por ter surgido em uma conjuntura difícil. Desde seu surgimento em 1969, este jornal é marcado pelo predomínio de consonância com a ideologia do poder político dominante, prova disto é a falta de veiculação de crítica aos atos presidenciais ou de governadores por eles indicados. Apesar de predominar o aliancismo entre mídia e política, a resistência se manifestou através de jornais alternativos, sendo o principal deles o Varadouro (1977-1981), que procurando expressar os anseios das camadas populares, refletia as inquietações políticas e sociais de seu tempo, congregando em torno do ideal “revolucionário” jovens preocupados com o destino do Brasil e do Acre. O discurso expresso nos jornais mostra não apenas o saber/poder que se institui com vistas à dominação, mas também permite perceber os conflitos e a exclusão sociais dos sujeitos tidos por “subversivos”: são seringueiros, posseiros, índios, pobres, prostitutas, mendigos, pessoas que sofreram na pele a violência política, abarrotados nos bairros que então se formavam, vindos nas levas de migrantes fugidos da expropriação pelo avanço da pecuária no Acre.
CONCLUSÃO: Embasado por esse viés teórico, segundo o qual a constituição do sujeito apresenta-se marcada por uma heterogeneidade discursiva, fruto de sua interação verbal com vários grupos sociais, os editoriais podem revelar-se como um universo discursivo caracterizado pela inquietude dos sujeitos responsáveis por sua produção e pelas movências destes atores sociais em relação às próprias inscrições dos lugares de onde falam.
PALAVRAS CHAVE: Discurso; Editorial; Identidades.
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