quarta-feira, 20 de agosto de 2008

olhares oblíquos, leituras diversas

Museu da borracha
Como você lê esse discurso materializado na placa "O Acre é Cem"? Eu leio da seguinte forma:
O indígena não entra na genealogia do acreano, muito menos na história como os legítimos donos das terras. Ele simplesmente some. A estratégia foi criar uma narrativa a partir da chegada dos nordestinos à região, fazendo evaporar daquele local todo patrimônio histórico das comunidades nativas. A história da região enquanto terra habitável por seres humanos não começa onde a história oficial inicia sua narrativa. Há um silêncio sepulcral em torno da milenar presença indígena naquelas florestas.
Surpreendentemente, passado pouco mais de cem anos do início do massacre, a figura do índio aparece de mãos dadas com os seus algozes. Nas comemorações do Centenário da Revolução Acreana, o governo do Estado inscreveu a figura do índio na memória discursiva da Revolução, como se o índio tivesse lutado junto com os seringueiros em defesa do Acre que o destruiu. Uma violência simbólica sem tamanho que a história há de julgar.
A leitura que se fez dela foi que: a) a conquista da “vasta floresta amazônica” pertencente a outro país, no caso, a Bolívia, foi valorada como “gloriosa”; b) essa “gloriosa conquista” foi capaz de enriquecer “os últimos 100 anos do Brasil”; c) a “bravura” foi fundadora do Estado Independente do Acre; d) a formação do Estado Independente do Acre foi um consenso entre índios e seringueiros nordestinos; e) os seringueiros da região eram todos nordestinos, não havendo migrantes de outras regiões ou estrangeiros; f) os índios eram todos iguais, não existindo diferenças étnicas entre eles; g) a chamada revolução acreana foi um consenso entre todos os moradores da região, e que todos (“o povo”) fizeram a revolução; h) o “povo” só foi capaz de realizar a tal revolução por meio da liderança de Plácido de Castro.
Muitas perguntas são possíveis, duas delas são inevitáveis: que índios (quais etnias) eram esses mencionados pelo discurso cuja bravura foi fundamental para a constituição do Estado Independente do Acre?
Que “povo” era esse do discurso que fez a revolução, já que menos de 2% da população civilizada da região banhada pelo rio Acre foram à guerra?
Quem souber me responda... rsrsrs

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