quarta-feira, 27 de julho de 2011

EXCLUSIVO!!! Resumo da livro de Roberto Santos. História Econômica da Amazônia (1800/1920). São Paulo: T.A. Queiroz, 1980, (Cap. 1-3)358p.



PREFÁCIO 1979
“Eu não ter podido cuidar de sua elaboração senão em períodos descontínuos”.
- Escreveu o livro em 1973, quando concluiu o curso de mestrado em economia. Em 1977, apresentou-o à USP.
“A história não se esgotava nos eventos do poder”.

INTRODUÇÃO
“O que conhecemos da economia amazônica no passado é ainda pouco”.
“Não sendo um profissional da História, mas simples economista interessado no hoje e no amanhã da região, foi com certo receito que empreendi o trabalho” p. 3.
“O ensaio se propõe, de início, a contribuir para a superação de certos obstáculos que historiadores e economistas têm encontrado no estudo daquele período da vida regional e que dificultam a correta interpretação dos movimentos da economia amazônica” p. 3.
v  Obstáculos à interpretação:
a) caráter fragmentário ou episódico das informações de natureza quantitativa;
b) natureza impressionista das informações qualitativas[1];
c) pressuposto da moeda de valor estável (os valores são apresentados a preços correntes)[2];
d) absolutização do crescimento econômico (a noção de média por habitante raramente aparece nos conceitos de receita pública)[3].
v  Objetivo do livro:
 a) determinar como a economia amazônica emerge no princípio do século XIX e com que perspectivas;
b) que fatores presidiram à estruturação da economia gomífera, esclarecendo os mecanismos que a puseram em marcha;
c) estabelecer qual o significado do crescimento regional da Amazônia para a economia nacional na época.
- Volumoso refluxo de renda ocorria por ocasião de cada safra de borracha, de modo que parte dos frutos do crescimento era largamente transferida a outros países e a outras regiões do Brasil, impedindo a região de incorporá-los a um processo firme de progresso técnico e reestruturação econômica.
- Até que ponto o crescimento da Amazônia teria sido induzido pela Borracha?
- Teria sido endógeno ou exógeno? Para isso, é preciso estudar a distribuição da renda entre fatores residentes no país e no exterior. (p. 5)
“Espera-se, no entanto, que os resultados já reunidos neste volume permitam trazer novas luzes à História Econômica da região e particularmente ao estudo da contribuição real da economia gomífera ao desenvolvimento do país” p. 5.
“Revela que um volumoso refluxo de renda ocorria por ocasião de cada safra de borracha, de modo que parte dos frutos do crescimento era largamente TRANSFERIDA a outros países e a outras regiões do Brasil, impedindo a região de incorporá-los a um processo firme de progresso técnico e reestruturação econômica” p. 5.
“Evitou-se lançar mão de modelos quantitativos generalizantes na interpretação” p. 5.
“Fascinava-nos primeiramente a idéia de determinar a contribuição da MÃO-DE-OBRA e do CAPITAL à formação da renda, isto é, a elasticidade da Renda Interna em relação às variações no emprego desses fatores” p. 5. No entanto, não se obteve dados suficientes sobre o capital.
- Para atingir os objetivos, foram feitos estudos em três áreas: a) sobre a população; b) evolução secular dos preços; c) estudos sobre os movimentos de renda.

PRIMEIRA PARTE – PERIODIZAÇÃO: A FASE DE DECADÊNCIA
CAP. 1 – PERIODIZAÇÃO DO CRESCIMENTO ECONÔMICO REGIONAL (p. 12)
- Inicialmente a Amazônia surge como peça de pouca expressão no vasto império lusitano, e AL final como uma área de elevada renda per capita, ou seja, fonte de poderosa geração de divisas.
- Início do século XVIII – é nula a produção de borracha.
- No final do século XVIII a região produz cerca de 30.000 toneladas de borracha e 15.000 de castanha (1917).
- 1920 = 9.000 toneladas de arroz e 10.000 de milho.
- SÍNTESE = A Renda Interna ao custo dos fatores foi na ordem de 30 milhões de cruzeiro em 1800 (a preço de 1972) e elevou0se para 1.359 milhões em 1900. A RENDA POR HABITANTE situa-se em torno de 30 dólares em 1820 e vai para U$ 332,00 em 1900. Uma elevação espantosa, levando-se em consideração uma economia primária, formas de organização de trabalho atrasadas e quase selvagens.
 “Essa evolução espantosa da renda, graças à qual uma economia primária atinge marcos muito superiores aos que se poderiam esperar de suas formas de organização atrasada e de início quase selvagens” p. 11.
- O critério de periodização pela Renda Interna, numa região em que grande parte dos fatores de produção pertence a pessoas não residentes nela, pode insinuar ilusões sobre o proveito real de um dado crescimento para a população residente.
QUADRO – População e Renda Interna 1800/1900 (p. 12)
“Quando começa a grande imigração nordestina em 1877 e a população regional se expande, a tend~encia da renda se torna incontidamente crescente até 1910” p. 12.
- Na década de 1940, com a Batalha da Borracha, tem início um novo período de crescimento da renda.
“A direção geral de cada fase só pode ser precisada mediante o cálculo da renda per capita (QUADRO p. 13)”   p. 12-13.
- Pode-se dividir a Economia da Amazônia nas seguintes fases (p. 13-14):

1º) Fase de Decadência (1800-1840);
2º) Fase de Expansão Gomífera (1840-1910);
3º) Fase de Declínio (1910-1920);
4º) Fase não caracterizada (1920-1940);
5º) Fase de crescimento moderado (1940-1970).








RENDA PER CAPITA A PREÇOS CONSTANTES
ANOS
DÓLARES
1840
49
1910
323
1920
74







“Nada assegura que o comportamento da renda per capita entre 1920 e 1940 haja sido incessantemente ascensional” p. 14.
“Sabemos que o critério de periodização pela Renda Interna, numa região em que grande parte dos fatores de produção pertence a pessoas não residentes nela, pode insinuar ilusões sobre o proveito real de um dado crescimento para a população residente” p. 14.
1º) Fase de Colonial (1800-1822);
2º) Fase Imperial (1822-1889);
3º) Fase Republicana (1889- 1920);





Outra periodização:


QUADRO P. 15 – Evolução da renda per capital entre 1800-1920.

CAP. 2 – Fase da decadência: 1800-1840 (p. 16)
- A emergência do chamado “Ciclo Agrícola” da Amazônia ocorreu no século XVIII.
- Um ou dois navios por ano tocavam o porto de Belém no princípio do século XVIII. Quanto mais ao norte ia, mais caro o frete ia ficando.
- Só quando o cacau amazônico se tornou um produto relativamente expressivo é que se começou a verificar maior regularidade no transporte marítimo.
- 1730:  o cacau representava mais de 90% das exportações regionais. O chocolate era produto nobre na Europa.
“O impulso da demanda externa transmitiu-se à Amazônia” p. 17.
- A Queda da exportação ocorrida entre 1750-1754, mostrava que a região carecia de um reforço oficial a sua atividade, que veio na época de Pombal com a Campanha Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-78):                           a) consolidando o contato entre a região e os mercados da Europa; b) introduzindo escravos africanos; e organizando a produtividade considerada relevante. (p. 17).
“Consolidando o contato entre a região e os mercados da Europa pela rota marítima que ligava Belém a Lisboa” p. 17
- A agricultura foi a principal atividade incentivada, complemento à coleta primária das drogas do sertão.
- Durante os 20 anos de funcionamento da Companhia o CACAU representou 61% das exportações da Amazônia para Portugal; o café, cerca de 10%; o cravo 11 %.
“O principal produto exportável continuou sendo o cacau, que presumivelmente se tornou o eixo da economia regional, da mesma forma que o açúcar foi para o nordeste, o café no sul e a borracha na própria Amazônia constituíram produtos líderes”. P. 18.
“Havia, em primeiro lugar, o peso da tradição colonial quanto a todas as conhecidas DROGAS DO SERTÃO, impelido os habitantes a simplesmente  colherem os frutos nativos da floresta a poupando-os do esforço do preparado da terra, semeadura e tratos culturais” (p. 18)
- CAMPANHA DO MARANHÃO: setor agrícola teve considerável desenvolvimento à base da atividade algodoeira. Beneficiou-se do processo da revolução industrial inglesa e da crise dos fornecimentos americanos à Europa (guerra de independência 1776-83).
“O Grão-Pará era, de longe o maior  produtor de cacau do país” p. 20.
- A elevação de preços na Economia Mundial entre 1790 e 1815 repercute na cotação do cacau em Amsterdã e em Belém. P. 21.
- A economia amazônica ingressa o século XIX em plena expansão, em clima de euforia. P. 22.
QUADRO P. 23 – Evolução das Exportações, da instalação da Companhia de Comércio (1756-1805)
“A verdade é que se tratava de uma economia ainda muito DEPENDENTE dos acasos do mercado, principalmente do mercado de cacau [...] não se achava tecnicamente  preparada, sequer para acompanhar com conseqüência as provocações do mercado. Tudo parece indicar que sua atividade principal é a extrativista” p. 23.
- Os dados poderão estar “mascarando a enorme espoliação característica do relacionamento colonial” LER p. 24.
QUADRO P. 25 – Contração da renda da primeira metade do século XIX.
“A curva calculada de tendência secular descreve um movimento claramente descendente, indicando que o produto interno por habitante se contraiu bastante entre 1800 entre 1900 e 1840” p. 25.  
v  A descoberta econômica da borracha deu-se por:
a) técnica de dissolução em nafta de carvão (Macintosh, em 1823);
b) vulcanização (Goodyear, em 1839). P. 29.
- Há notícias de que os EUA teriam comprado borracha em forma de garrafas antes de 1800.
 “Em 1827, o valor da borracha regional exportada não ia além de 9 contos de réis, para uma exportação total de 488 contos [...] em todo caso, foi a borracha um dos produtores que impediram a total prostração do sistema amazônico” p. 29.
“Há muito a borracha era usada por portugueses e índios residentes sob a forma de bidos de seringa, piteiras para fumar, capas protetoras da chuva e do sereno” p. 29.
“A partir de 1820, negociantes de Boston passaram a importar com certa regularidade sapatos de borracha para manter secos e bem protegidos os pés” p. 29.
- Faz uma crítica à Leandro Tocantins, pois este segundo o autor exagera ao dizer que em 1830 em diante, a importação de sapatos dominou o tráfico marítimo entre América do Norte e a Amazônia. Roberto Santos afirma que em 1838, o valor total das exportações da Amazônia ainda não ultrapassava a 16,6%, dez anos mais tarde não ultrapassava 24%. P. 29.
“Num sistema fraco, empregando técnicas de alto custo real, como o amazônico, era natural que, DETIDO O ESTÍMULO EXTERNO, a região iniciasse um retorno ao estado anterior a 1795” p. 32.
“Os centros industriais haviam reduzido suas compras no Brasil, levando a economia brasileira a uma das maiores, senão, a maior dificuldade de toda a sua história econômica” p. 33.
- Em 1835, explodiu a Revolução Cabana[4], o maior movimento de massas do Brasil. Alcançou as mais importantes povoações da Amazônia. Tornou-se o centro  da vida regional. “A indistinção entre ódio patriótico e reivindicações econômicas” enfraqueceu a economia regional. P. 34.
- Em 1820, 137.017 habitantes. Em 1835, 125.000 habitantes.
- Arthur Cesar Ferreira Reis calcula em 30.000 o número de abatidos pela Guerra Civil (Cabanagem), que trouxe um dramático desfalque para a população economicamente. P. 35.
- A diminuição da população economicamente ativa afetou a economia local.
“A AMAZÔNIA  ingressa o século XIX como uma economia muito relacionada com o exterior e numa conjuntura de relativa euforia, herdada do final do século anterior (1790-1805). Não mostrava, porém, sinais de solidez interna”. (p. 35).

SEGUNDA PARTE – FASE DE EXPANSÃO
CAP. 3 – A BORRACHA: das raízes a 1877 (p. 41)
“A economia amazônica, altamente dependente do comércio exterior, experimentou um ligeiro avanço no final do século XVIII e início do século XIX” p. 41.
“Ao cessarem as condições externas favoráveis, a produção extrativa para exportação e a agricultura comercial passam a perder importância” p. 41.

- Ao cessar o estímulo externo, a produção e a agricultura comercial passam para a de subsistência.

v  Para resolver o impasse do declínio da RENDA PER CAPITA da primeira metade do século XIX na Amazônia, seria necessário (p. 41):
a) novo estímulo externo, durável e vigoroso;
b) em resposta a esse estímulo, mudanças ajudassem a superar dois problemas regionais – o sistema primitivo de transporte e a escassez de mão-de-obra;
c) que houvesse uma vulgarização do dinheiro e do cálculo monetário.
“Essas condições vieram a ocorrer, com efeito, a partir de 1850” p. 41.
 “O estímulo externo atuou principalmente sobre a atividade extrativa de borracha, e com tal violência que os demais setores da economia não puderam com ela competir na disputa dos fatores de produção. A oferta de mão-de-obra tardou a ampliar-se, de modo que a força de trabalho foi-se transferindo rapidamente para a produção extrativa, ressentindo-se até mesmo a agricultura de subsistência. Os capitais concentraram-se fortemente na comercialização ou na produção do principal produto extrativo, a borracha”. (p. 41-42)
“O mecanismo local de financiamento, chamado AVIAMENTO, apresentou deformações que falseavam o cálculo econômico, por outro lado, deixou larga margem ao escambo no interior da unidade produtiva, por outro, e limitou a liberdade de consumo dos trabalhadores, inibindo assim a expansão da procura monetária interna” p. 42.
 “De objeto de curiosidade no início de seu conhecimento pelos europeus, a borracha logo passaria a constituir um produto de largas perspectivas no comércio internacional”. P. 42.
“Nas antigas civilizações da América pré-colombiana, a BORRACHA parece ter desempenhado importante papel. Pinturas murais aztecas [...] aludem ao uso da borracha nativa para pagamento de tributos ao monarca reinante e para cerimônias religiosas. Presume-se que tais empregos da borracha detêm do século VI d.C. Em sua segunda viagem à América (1943-1496), Cristovão Colombo veio a conhecer outras utilização da borracha, pelos indígenas do Haiti: o jogo da bola” p. 42.
“Os habitantes naturais da América conheciam há tanto tempo vários empregos úteis e as propriedades físicas da borracha, para os europeus, para os europeus a descoberta do notável material foi motivo de completa surpresa. Maravilharam-se, primeiro, com a capacidade que tinham as bolas de saltar acima do nível de que fossem arremessadas. Além disso, a extraordinária substância era impenetrável à água” p. 42-43.
- Há vários documentos de 1723, que compõe o acervo sobre a borracha antes de La Condamine.
- Capas, canos, mangueiras, sapatos e outros eram feitos de couro – pesado e não impermeável totalmente.
“Coube a Charles La Condamine e François Fresneau chamar a atenção dos cientistas e industriais para as potencialidades contidas na borracha”. P. 43.
“La Condamine achava-se no Equador, comissionado pela Academia de Ciência de Paris para a medição do arco do meridiano, quando escreveu a primeira comunicação sobre a borracha, lida por Buffon em 1736 perante a academia” p. 43.
- 1745 = publicação do Relato Abreviado de uma viagem feita ao interior da América Meridional, onde La Condamine voltou a falar da borracha (elástico e impermeável a chuva). No mesmo ano foi traduzido para o inglês.
- François Fresneau[5] foi o pioneiro da indústria gomífera francesa. Amigo de La Condamine. P. 45.
“Seu grande desígnio era converter a borracha em matéria-prima de uma nova indústria” p. 45-46.
- Esteve pesquisando a seringueira por 14 anos. Voltou à França em 1749.
- Dizia ele “Aplicando-se sobre o pano, podem-se obter encerados, luvas para bombas, roupas para mergulhadores, sacos para bolachas, etc.”. P. 45.
 “O problema residia no fato de o produto chegar à Europa em estado já sólido, dada a facilidade de coagulação do látex no lugar da extração. Fresneau devotou cerca de 20 anos à pesquisa da liquefação da goma coagulada. Os solventes comuns não serviam. Afinal, depois de vários experimentos, conseguiu a dissolução em terebentina, comunicando suas conclusões ao governo francês em 1762” p. 45.
- Registraram-se patentes para lonas impermeabilizadas e roupas à provas d’água. No entanto, com exceção da borracha de apagar, os primeiros artigos só passaram a ter curso comercial em 1803, quando se instalou em Paris a primeira fábrica de borracha. Produziam-se ligas elásticas para suspensórios.
“A segunda fábrica surgiu em Viena em 1811. A terceira. Em 1820, na Inglaterra, implantada por Thomas Hancock, considerado o pai da indústria da borracha, em virtude de ter sido ele o primeiro a executar com sucesso o projeto de manufatura de borracha em larga escala” p. 45.
- 1823 = Charles Macintosh  emprega nafta do carvão como solvente e funda uma fábrica de tecidos à prova d’água na escócia. p. 45.
- Em 1839, Goodyear descobre a VULCANIZAÇÃO[6] nos EUA. Começaram a importar borracha talvez em 1800 sob forma de garrafas (p. 45).
- Utilização da borracha: roupas e calçados impermeáveis, mangueiras, amortecedores, preservadores de infiltração em embarcações, lonas, carpetes.
“Os portugueses aprenderam com os indígenas os empregos da borracha. No entanto, a borracha não entrava no comércio com Portugal durante o século XVIII. Portugal não dava conta do potencial econômico e mercantil contido na goma elástica”.
- A partir de 1820, sapatos americanos eram enviados para o Pará a fim de serem revestidos de borracha.
“No princípio do século XIX, índios da Amazônia produziam calçados para a troca [...] imitando o modelo europeu em couro”. P. 46.
“Somente em 1922 surgiu a primeira indústria americana de borracha” p. 47.
“Em 1941, iniciou a fabricação de artigos de borracha vulcanizada. E em 1844, patenteou a invenção nos EUA” p. 49.
- A vulcanização fez a borracha um negócio confiável, “impelindo a indústria do setor a uma posição destacada na economia mundial”. P. 49.
“Na Inglaterra, a importação passou de 23 toneladas em 1830 a 68 em 1845, 209 em 1850 e 1818 em 1855. Nos EUA, em 1850 a borracha importada já atingia 1000 toneladas, e em 1865 subiu a 3000” p. 49.
“A borracha não entrava no comércio com Portugal durante o século XVIII, limitando-se a uma circulação interna” p. 50.
- O território africano só entrou no negócio da borracha silvestre em 1860; p. 53.
- A escassez de mão-de-obra era notória na Amazônia. O índio tornou-se escravo de serviços gerais. Essa escravidão continuou após a lei de 1888.
- Até 1840, o principal produto da Amazônia era o CACAU. A substituição pela borracha não consolidou a economia regional, cuja dependência em relação às atitudes rudimentares era grande.
- Na primeira metade do século XIX, a borracha não era o gênero principal da produção amazônica como aconteceu no final desse século, ficava no início atrás do fumo, cacau e couro.
“Portugal aparentemente se dava tão pouca conta do potencial econômico e mercantil contido na goma elástica [...] a partir de 1820, a Amazônia passou a exportar para os EUA calçados de borracha” p. 51.
“A borracha é fruto exclusivo do trabalho livre” Pimenta Bueno.
QUADRO p. 53 – QUANTIDADE DE BORRACHA EXPORTADA 1825/60.
- A resposta rápida que a Amazônia iria oferecer à procura mundial só se tornou possível em virtude da introdução do NAVIO A VAPOR em 1853. p. 53.
“Esse fato parece ter tido muito mais importância econômica e política do que a abertura do Amazônia à navegação internacional em 1867” p. 53.
“Em 1850, Teixeira de Macedo, representante do Brasil em Washington, denunciara secretamente ao Ministro das Relações exteriores a ameaça que se avolumava nos EUA à soberania sobre o Rio Amazonas” p. 53.
“O imperialismo das grandes potências destroçava impiedosamente quais quer obstáculos que se opusessem aos seus interesses econômicos” p. 54.
“OS EUA estavam dispostos, como a Inglaterra e a França, a obter a livre navegação no Amazonas, tanto pela suspeita de riquezas fabulosas como pela necessidade imediata e crescente da borracha” p. 54.
- O IMPERIALISMO residia na necessidade do aproveitamento regional dos recursos naturais. p. 54.
- Os EUA criticaram o governo brasileiro por causa de ele implantar a dita “política chinesa” das portas fechadas para aqueles que vinha trazer a civilização.
- O comércio trazia para região novas idéias de moda.
“Era preciso ocupar e dinamizar a Amazônia,  incorporando-a ao surto de progresso que o país começava a experimentar nos anos 50” p. 54.
“O que dominou o espírito do Governo foi a apreensão política relativamente a uma investida externa. Daí a idéia de monopolizar a navegação do amazonas, entregando-a, conforme a ideologia da época, a um grupo privado” p. 55.
“Foi Mauá convidado a lançar a navegação a vapor no Amazonas em regime de monopólio” p. 55.
- A companhia começou a funcionar com três navios, “dos quais Marajó gastava 22 dias na viagem Belém-Manaus-Belém, o que significava uma velocidade SETE VEZES maior que a das embarcações tradicionais” p. 55.
- A demanda foi tão grande que por mais que aumentasse a frota não pode atendê-la. Foi quando surgiram mais duas companhias nacionais.
“Em 1872 a Amazon Steam Navigatio[7] também penetrou no negócio dos transportes, desbancou a concorrência, incorporou em 1974 as três empresas e tornou-se a única em linha, se bem que a tripulação de suas embarcações fosse exclusivamente brasileiras” p. 55.
“em 1875, contava com 20 vapores, que detinham a capacidade total de 9 mil toneladas” p. 56.
“A exportação externa, cujo valor fora de 1840 contos em 1863-7, subiu três anos depois para 3855 contos, e em 1860 estava em 5913 contos” p. 56.
“As rendas do Governo Central no Pará aumentou”.
“Firmas nacionais e estrangeiras, casas aviadores, encomendavam navios a vapor” p. 56.
- O deslocamento do trabalho para a atividade gomífera foi acompanhado de queda brutal da produção per capita de quase todos os artigos locais.
- 07 de dezembro de 1866 = abertura do amazonas. A idéia de amizade e paz internacional em vez de timidez perante as potencias ocidentais.
“Só a 25 de março de 1874 uma nação amiga se utilizou da permissão brasileira. Trata-se de um navio a vela dinamarquês, oriundo de Hamburgo e eu ganhou o amazonas até Manaus, para embarcar mercadorias” p. 58.
QUADRO p. 59 – População livre e escrava da Amazônia 1800-1840[8].
“A evolução populacional desses primeiros 40 anos explicar-se-ia mais por fatores sanitários e políticos do que pelos movimentos da economia” p. 59.
-  Na saúde tinha a varíola, na política a insurreição cabana.
“Desde 1834, nenhum escravo africano entrara na Amazônia” p. 60.
“A escassez de mão-de-obra para trabalhos produtivos e domésticos era notória na Amazônia, desde os tempos iniciais da colonização” p. 61.
- O índio foi arregimentado. “Era arrancado de sua aldeia e escravizado” p. 61.
“Em 1855, o dólar andava por quase todas as mãos no Pará” Manuel Barata.  
- Até 1872, estatisticamente, não ocorreu o declínio na produção dos artigos amazônicos, no entanto, o ritmo de desenvolvimento da produção era inferior ao da população.
“A quantidade de borracha seca exportada em 1930 foi de 156.000 quilos [...] haveria ocupados na extração e preparo do produto apenas uns 1700 homens, todos ou quase todos indígenas” p. 62.
“O certo é que o recurso ao trabalho escravo do indígena prosseguiu décadas e décadas à frente, mesmo depois da abolição e talvez após a passagem ao século XX” p. 62.
“Aí o índio e o tapuio são ainda e muitíssimas veze escravos” p. 63.
“De 1878 em diante os seringais foram invadidos pelos retirantes cearenses, acossados pela seca” p. 63
“É importante assinalar que os escravos negros não participavam da produção de borracha” p. 63.
“A borracha é fruto exclusivo do trabalho livre” Pimenta Boeno em 1882, gerente da antiga Comanha do Amazonas que Mauá criara.
- RESUMO: a vulcanização criou novos estímulos a demanda da borracha amazônica. Até 1875, a exportação baseava-se no escravismo indígena.
- Em 1904, a borracha acreana constituía apenas 8,3% da produção total da Amazônia brasileira.
- SERINGAL:  cada estrada tinha 123 árvores. Cada seringueiro cuidava de 02 estradas.
“Saber como evoluiu a procura de mão-de-obra no setor extrativo da borracha, desde 1830 até princípios do século XX, eis um problema sério” p. 63.
- A demanda era por Trabalhadores de Exploração da Borracha (seringueiro, toqueiro, mateiro, comboieiro, caçadores, pescadores,  e de Administração (seringalista, gerente, guarda-livro, caixeiro, canoeiro, guardas, etc).
- Trabalhadores de Exploração = quantidade produzida/ média produzida (número de kilos por homem).
- Equações que tentam explicar a quantidade de seringueiros, pela quantidade total de estradas.
- Cada seringal = 594 hectares.
-TABELA p. 66 – Pessoal em atividade na exploração da borracha.
“O dólar americano andava em todas as mãos” Manoel Barata.  P. 69.
“Se agravavam pelos métodos PREDATÓRIOS de exploração dos seringais” p. 69.
“o emprego quase exclusivo dos braços na extração e fabrico da borracha, a ponto de nos ser preciso atualmente receber de outras províncias gêneros de primeira necessidade” p. 70.
“Tanto mais porque os LUCROS avultadíssimos dessa indústria, que absorve e aniquila todas as outras” p. 70.
- A acumulação de riquezas se dá “em poucas mãos, e pela maior parte estrangeiras, acarretando a miséria à grande massa daqueles que atrás dela abandonam seus lares [...] os ganhos da véspera evaporam-se no dia seguinte” p. 70.
“O governo deve começar por conceder a posse dos seringais a quem quiser empregar-se na extração das drogas” p. 70.
“tornar menos produtivos, face aos métodos destrutivos do trabalho de coleta” p. 72.
“Avaliar o número de migrantes dentro do Pará parece impossível até o presente” p. 72.
“A demanda mundial continuava crescendo mais intensamente que a oferta, como se via pela ascensão dos preços e o surgimento de produtos concorrentes” p. 73.
“A firmeza e longa duração da procura externa do produto suscitaria uma atmosfera propícia aos negócios regionais, justificando a importação de tecnologia então moderna no setor dos transportes e a orientação decidida de recursos para a produção gomífera” p. 75.
“As migrações transpõem a fronteira provincial do Amazonas e se dirigem aos seringais dos rios Madeira e Purus, iniciando um real devassamento e ocupação do interior do enorme vale, até então possuído pelo império do Brasil mais em termos jurídico-formal que efetivos” p. 76.
- 120 a 180 de seringueiras por estrada. Outros falam de 50 a 60.
“O Plano Nacional da Borracha menciona 90 a 170 pés” p. 77.
“O estudo da SUDHEVEA [...] menciona que um seringueiro dedica um dia a cada estrada e opera 2 a 3 estradas alternativamente” p. 77.
“Segue-se que cada seringueiro cuida de 164 árvores”.
“A média regional resulta, pois, em 255 kg anuais por seringueiro” p. 78.
“Primeiramente, é preciso notar que o látex recolhido perde enorme quantidade de peso (50%) com a defumação [...]  além disso, a borracha preparada pelo seringueiro não tem qualidade homogênea” p. 78.
Primeira = borracha fina (bem defumada);
Segunda = borracha entrefina (coagulação malfeita ou defumação de látex já meio coagulado);
Terceira = sernambi (látex que se coagula naturalmente na própria árvore ou nas paredes da tigelinha de colega; quase sempre misturada com detrito de terra).
“Segundo Le Cointe, um seringueiro era  capaz de produzir 400 a 450 quilos de goma fina e 90 a 100 de sernambi, por ano” p. 78.
- Cada árvore então produz pro ano cerca de 4kg.
“No começo da produção de borracha, quando o mundo inteiro não sabia ainda produzi-la em grandes quantidades, e a atividade estava entregue a aventureiros desorganizados e escravizadores de índios, a produtividade [...] uns 90 quilos por homem ao ano” p. 79.
QUATRO FASES:


1830-50= elevação inicial moderada[9];
1850-70= melhoria do tirocínio, com aceleramento da produtividade[10];
1870-90= adestramento nordestino, como modestíssima elevação de produtividade.
1890-1910= “fase acreana”.

“Ainda em 1904 a borracha acreana constituía apenas 8,3% da produção total da Amazônia brasileira da mercadoria. Nas safras seguintes, esse percentual se elevou para cerca de 30%” p. 81.
“A organização e a disciplina nos estabelecimentos, sempre autoritárias e não raro brutais [...] devia garantir, por outro lado, um rendimento alto do seringueiro” p. 81.
“Se o seringueiro, ocupando-se de 164 árvore, produz em nossos dias 255 kg, então cada árvore produz, em média - cerca de 1,6 kg por ano. Foi o número que adotamos” p. 81.
“Interpretar um fato econômico: a densidade da população vegetal que está sendo explorada” p. 82.
QUATRO – Número de árvores e de estradas produtivas p. 83.
- A média de estradas por seringal, de acordo com o tamanho dele, é de 40 a 800 estradas, e isso no início do século XX.
“Pelo Censo Agrícola de 1960, sabemos que 61% dos seringais possuíam menos de 100 hectares” p. 83.
“Até 1860, quando se padroniza e consolida a organização do seringal típico, a pequena e média unidade é que deveriam prevalecer” p. 84.
QUADRO – Número de seringueiros na Amazônia em 1960. P. 85.
QUADRO – Número de área dedicada a borracha na Amazônia em 1960. P. 86.



[1] “É aceitável avaliar indiretamente o sucesso econômico de uma região pelo esplendor dos monumentos e das artes. Mas, esse tipo de avaliação é evidentemente incompleto e em certa medida arriscado, principalmente quando os monumentos decantados e as artes desempenhadas não hajam sido criação autóctone e sim importada, sem vinculação com o avanço técnico da região” p. 4.
- O elemento qualitativo é fundamental, mas não suficiente.
[2] “A receita pública, o volume de impostos, o valor das exportações vêm apresentados a preços correntes [...] são argüidos como demonstração de mudança real” p. 4.
[3] “A noção média por habitante raramente aparece nos conceitos de receita pública” p. 4.
[4] Gustavo Moraes Rego Reis. A Cabanagem: um episódio histórico de guerra insurrecional na Amazônia (1835-39).
[5] Os portugueses já a conheciam, mas para os franceses era novidade. Talvez La Condamine não tenha descrito detalhes botânicos suficientes por não ter visto a seringueira propriamente dita.
[6] Mistura enxofre com borracha a uma temperatura elevada a 150° C, durante certo número de horas (p. 49). Evita com que a borracha  se tornasse pegajosa durante o calor e dura no frio. Ficava inalterado independente do estado da temperatura. O termo surgiu em 1942.
[7] Com o monopólio, aumentaram-se as tarifas, diminuiu-se a eficiência, diminui-se a higiene, aumentou-se o roubo de carga, o estrago de alimentos, dificuldade de ventilação. Sem medo de concorrência,  não havia preocupação com o conforto do público.
[8] 1840 = total de cerca de 130 mil.
[9] Mundo selvagem e atrasado, em que a maior parte da mão-de-obra era representada por índios e tapuios.
[10] Adequada a suposição de uns 5% de crescimento da produtividade nesta fase (200 p/ 210).

Um comentário:

Poemas disse...

Olá professor! Eu fico pesquisando e lendo a história da Amazônia para tentar entender o livro Múltiplos Olhares do Januário Amaral e Mata Virgem,terra prostituta do mesmo autor que trazem como tema a Amazônia.Ambos cairão no vestibular da UNIR 2012/RO que pretendo ir fazer também. O senhor não poderia fazer uma resenha e/ou resumo desses livros para facilitar o entendimento não somente meu como de muitos alunos daqui que irão fazer vestibular lá?seria excepcional,pois o senhor coloca esses temas de forma mais fácil para entendermos,pois tudo que se refere ao Acre aprendo melhor aqui no seu blog.E esses livros do Sr. Januário são muito complexo,já estou lendo pela segunda vez múltiplos olhares e confesso que não entendi muita coisa.
Desde já agradeço!
]um abraço
Nick