SILVA, Laélia Maria Rodrigues. Procura-se uma pátria: a literatura no Acre (1900-1990). Tese de doutorado, 1996. PUC do Rio Grande do Sul.
“As crônicas de descobrimento ou relatos de viagens científicas apresentam a Amazônia como um cenário grandioso e misterioso onde sobressai uma floresta exuberante cortada por caudalosos rios, habitada por índios arredios...” (p. 01).
“A cultura Amazônia tem sido determinante por dois elementos significativos: o isolamento e a busca de identidade” (p. 01).
“As margens, os símbolos e os mitos não são criações irresponsáveis da psique; elas respondem a uma necessidade e preenchem a uma função: revela as mais secretas modalidades do ser”. Mircea Eliade. IMAGENS E SÍMBOLOS. 1991.
Pensamento dominante: superioridade do cenário em detrimento das ações humanas. É a herança da cultura extrativista. A pequenez humana em face da exuberância da floresta. (cf.: Euclídes de Cunha).
A linguagem denuncia que qualquer olhar sobre essa terra está contaminado pelos mitos e lendas que se incorporam à invenção do paraíso e do inferno verde. (p. 8).
A invenção é a tradução da Amazônia em discurso. Há um distanciamento da realidade. As representações também são constituídas do real. A realidade empírica é diferente da realidade instituída.
O imaginário social que diz o que é a Amazônia refere-se simultaneamente à realidade concreta e às imagens e discursos que lhe dão significação e identidade (p. 8).
O estudo das elaborações culturais pode levar à busca das relações entre o concreto da realidade social e sua representação simbólica.
As características culturais podem levar à busca das relações entre o concreto da realidade social e sua representação simbólica.
A significação dos aspectos da realidade acreana, que pode ser revelada pelos símbolos que a representam (p. 10). OBS: utiliza o conceito de linguagem como discurso.
Literatura como atividade, um modo pelo qual autores conseguem tornar seus textos objetos que circulam na comunidade e um modo pelo qual leitores extraem sentido de símbolos impressos sobre páginas (p. 11).
Os escritores não produzem livros e sim textos (p. 11).
A compreensão da realidade revelada pelas imagens que representam a região pode levar ao desvelamento das construções simbólicas na literatura produzida. O estudo procura estabelecer as conexões entre os eventos históricos e as manifestações literárias no Acre.
A literatura no Acre modifica-se conforme as condições sócio-econômicas, caracterizando-se diferentemente nos períodos que coincidem com as organizações políticas administrativas do espaço como território e como Estado. A INTEÇÃO AUTORAL orienta-se por uma busca identitária.
CAP.2 – A invenção da realidade: a riqueza, os rios e a floresta (p. 34).
As imagens construídas desde os primeiros textos permitem a compreensão da experiência humana nesse espaço geográfico.
A comercialização de produtos da floresta teve início com a exploração das chamadas drogas do sertão.
O Acre emergiu no cenário histórico e cultural brasileiro a partir do momento em que a Amazônia ganhou importância econômica (p. 26).
O PURUS foi o primeiro rio acreano a ser percorrido, buscava-se as DROGAS DO SERTÃO.
Milhares de nordestinos, principalmente cearenses, foram encaminhados a regiões insalubres dos Vales do Juruá, Purus e Acre que, para garantir a exploração do látex, mataram em correrias, os índios e expulsaram os que conseguiram fugir e sobreviver aos massacres, aos confrontos desiguais de arco e flecha contra rifles de repetição de milhares de bala, para outras regiões mais distantes e mais inóspitas (RODRIGUES, 1996, p. 27).
A violência do contato dos imigrantes com os nativos levou quase ao extermínio os grupos indígenas dos Vales do Juruá, Purus e Acre (RODRIGUES, 1996, p. 27).
Não podendo contar com a mão-de-obra indígena e tendo em vista a necessidade cada vez maior da produção de borracha para suprir a demanda do mercado internacional... os seringalistas associados às casas aviadoras contrataram agenciadores de braços para o trabalho de extração do látex na Amazônia (p. 27).
As primeiras cidades acreanas deram-se origem a partir dos núcleos de atividade extrativa.
“A mais imperfeita organização de trabalho engendrou o egoísmo humano, O sertanejo emigrante realiza, ali, uma anomalia sobre a qual nunca é demasiado insistir, é o homem que trabalhou para escravizar-se” (Euclides da Cunha).
A existência do território se firma como produtor da mesma matéria-prima que dá importância econômica à região durante os quase quarenta anos de vigência do 1° Surto da Borracha.
Por oferecer borracha de melhor qualidade, a fina, os Vales do Acre e Purus foram aceleradamente invadidos por seringalistas e seringueiros, dando início à ocupação... (RODRIGUES, 1996, p. 28).
Nada parecia abalar a idéia de que a riqueza líquida que jorrava das árvores sustentaria para sempre o sistema desumano da exploração vigente na economia do látex da Amazônia (RODRIGUES, 1996, p. 29).
O governo brasileiro era evidentemente desinteressado pelo Acre. Os brasileiros do Acre não faziam parte das preocupações governamentais. Estava alheio ao que ocorria além das ‘margens plácida do Ipiranga’.
O ACRE era sinônimo de borracha e nada mais. Expatriados nordestinos, habitantes dessa nova terra, nem sabiam ao certo se estavam sob o mesmo
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