sábado, 22 de outubro de 2011

A RELIGIÃO ISLÂMICA MERECE MAIS RESPEITO E DEVEMOS PROCURAR COMPREENDER MELHOR O QUE CHAMAMOS DE “CULTURA ORIENTAL”.



"Só o termo Oriente Médio já define um olhar ocidental". José Arbex


Por que a mídia ocidental tem tanto interesse em estigmatizar o Oriente como uma região violenta?
Por que os orientais são genericamente taxados de fundamentalistas?
Por que o Oriente deve sempre estar associado ao pólo negativo do mundo, e o Ocidente com o positivo? Seria este sempre o "mocinho", enquanto aquele o "bandido"?

Por que o Oriente sempre tem que aparecer em oposição ao Ocidente? Seria o Oriente tão simplesmente o não-Ocidental?

Por que é que temos que pensar a pluralidade cultural em termos de ocidente e oriente?
Vale lembrar que  visão bipolar do mundo não vem de hoje. Desde a antiguidade, as pessoas já  eram ensinadas a pensar o mundo de forma maniqueísta. O universo estaria dividido em duas partes completamente distintas: o bem e o mal. O estrangeiro era visto como inimigo.

Quem pertencia, por exemplo, à civilização romana, via uma outra civilização como a representação do não-romano. Se os romanos representavam a modernidade, todas as outras civilizações, por mais distintas que fossem entre si, representavam a barbárie.

Entre 1945 e 1990 durante a  Guerra Fria, essa visão maniqueísta poderia ser percebida facilmente: Para nós que estávamos no “mundo ocidental” pertencíamos  bloco capitalista, éramos, portanto considerados "bons" mas aqueles que  pertenciam ou simpatizavam com o bloco socialista, eram considerados "maus".

Após o fim do socialismo real, o mundo capitalista perdeu o seu lado antagônico. Isso representou um potencial prejuízo para as indústrias bélicas, pois teoricamente não haveria mais justificativa para os enormes "investimentos" em artefatos de guerra.
O governo norte-americano foi obrigado a criar uma nova ameaça mundial, um novo inimigo a ser combatido.

A invasão do Iraque ao Kuwait em 1990 se encaixou, com diz o adágio popular, como uma verdadeira "luva", a essa situação.

A Guerra do Golfo em 1991 foi encarada como uma guerra da luz contra as trevas. O mundo ocidental ia ao encontro do oriental para salvaguardar os ideais democráticos.
Dez anos mais tarde, o  “11 de setembro" serviu para delinear melhor a face do inimigo ocidental: não estaria mais personificado na pessoa de Saddam Hussein, mas representado no multifacetado "terror" do Oriente, ou no atraso dos “novos bárbaros”de ocasião: os fundamentalistas islâmicos.

Afinal, o que é o Oriente? Quando estudamos coordenadas geográficas no Ensino Médio, somos ensinados que a área que está ao leste do meridiano de Greenwich é o oriente e tudo o que está ao oeste é o Ocidente. No entanto, não devemos nos esquecer que o centro geodésico é uma construção humana.

A terra é esférica, não dá para definir o seu início, nem o ser fim, quanto mais o seu meio.

A longitude de 0° é uma arbitrariedade. Foi fruto de uma convenção para tornar a Inglaterra, a maior potência Européia dos séculos XVIII e XIX, no centro do mundo. Convencionou-se iniciar o 0° longitudinal tendo como referência o observatório astronômico de Greenwich na Inglaterra. Portanto, os mapas cartográficos são ideológicos, são referências de interesses geopolíticos. Poder-se-ia representar o mapa mundi tendo como centro o continente asiático, ou, como é a tendência do século XXI, a América do Norte.

Queremos dizer com isso que os termos Oriente e Ocidente não são espaços geográficos definidos, mas construções ideológicas.


Heródoto, o "pai da História", foi o primeiro a empregar o termo Oriente na antiguidade "clássica". Ele referia-se ao sul da Síria.
O Oriente bíblico (Mt 2:1-2; Gn 19:9, 11; 29:1; Jz 6: 3, etc) certamente não tinha como referência o meridiano de Greenwich, mas a terra de Canaã (todas as terras da palestina ao ocidente do Jordão).
Outro exemplo é o caso do Tratado de Tordesilhas que em 1494 dividiu o mundo ao meio tendo por base ilhas de Cabo Verde.

Para ilustrar ainda mais esse caráter ideológico, observemos que a Austrália, mesmo estando localizada no extremo oriente do mapa mundi atual, para muitos, pertence ao mundo ocidental.

Na primeira metade do século XX, estudiosos Ingleses dividiram o Oriente em três grandes partes, de acordo com a aproximação geográfica com a Europa:

a) O Oriente Próximo, parte do oriente mais perto da Europa, englobava toda a região dominada pela cultura árabe-mulçumana.

b) O Oriente Médio, constituído pelo universo cultural hindu.

c) O Extremo Oriente, que compreendia o universo cultural chinês. No entanto, a Independência da Índia e a criação do Paquistão em 1947, além da criação do Estado de Israel em 1949, tornaram essa divisão antiquada.

Na época da Guerra Fria, com a Rússia "engolindo" praticamente todo o leste Europeu e a China Comunista dominando o sudeste da Ásia, resolveu-se demarcar bem as "fronteiras" entre o Ocidente e o Oriente. A mídia norte-americana baniu a idéia de Oriente "Próximo", pois, a aproximação tinha como referência a Europa comunista e ela não pagaria esse "mico", é claro. Como essa área estava sendo disputada por Capitalistas e Socialistas, ficou mais adequado chamá-la de "Oriente Médio".


Mulheres muçulmanas.
Na visão predominante no mundo
ocidental, seriam todas infelizes e
oprimidas. Precisamos entender e respeitar
a cultura de todos os povos e religiões.
Assim sendo, para muitos estudiosos e para a imprensa ocidental, Chipre, Egito, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Arábia Saudita, Síria, Turquia, Iêmen, Bahrein, Omã, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tajiquistão e Quirguistão passaram a constituir o "crescido" Oriente Médio.

A região situa-se no sudoeste da Ásia e no nordeste da África e é a região mais islamizada do mundo, com exceção de Israel. Também é a região mais rica em petróleo do mundo.
A questão religiosa e econômica do Oriente Médio é fundamental para compreendermos o processo de construção do novo inimigo ocidental e a nova concepção de oriente na atualidade. A visão maniqueísta continua, apesar do fim da dicotomia capitalismo e socialismo.

Hoje, a grande dicotomia é: mundo cristão versus mundo islâmico; quem tem petróleo versus quem não tem. Por isso que agora a concepção de Oriente restringiu-se às fronteiras do Oriente Médio.

Os islâmicos passaram a representar melhor o estrangeiro, o "bárbaro", o terrorista, o "outro que é diferente de nós". E quem é diferente de "nós", necessariamente é inferior a "nós".

Por isso, o que conhecemos sobre o Oriente não é o Oriente, mas uma representação criada do Oriente pelo Ocidente. É uma versão inferiorizada do Oriente.

Quando se é mostrado o tratamento dispensado à mulher oriental como o símbolo da opressão e do atraso da cultura mulçumana, esquecem de que os países ocidentais são os campeões mundiais de violência contra a mulher. Se alguém quiser saber o quanto a sociedade cristã ocidental trata bem suas mulheres experimente acompanhar um único dia de ocorrência em uma Delegacia da Mulher em qualquer cidade brasileira que a possua. Apenas para ficarmos em um exemplo “básico”, pois estima-se que as queixas registradas não refletem nem 30% da realidade da violência contra a mulher no Brasil.

Os fundamentalistas islâmicos são acusados de serem  foram os responsáveis pelo "11 de setembro" o maior atentado da história (3 mil  mortos).

Mas, alguém já parou para avaliar as tragédias, genocídios e extermínios em massa, provocados pelo fundamentalismo cristão?


Foto de Hiroshima após
a bomba atômica.
Não teria sido um atentado as bombas atômicas jogadas em Hiroxima e Nagasáqui que provocaram de imediato cerca de 70 mil mortos?


Na Guerra do Vietnã foram mortos cerca de 3 milhões de vietnamitas e 58 mil norte-americanos. Ou será ainda que  os 600 mil civis mortos no Camboja na década de 70, por soldados norte-americanos se apagaram da história?


Foto de família na Índia no
final do século XIX.
No século XIX a Índia era colônia da Inglaterra, país governado por  brancos protestantes ingleses. Esta situação foi o resultado da política Britânica de exportar comida da Índia e recolher pesados impostos no país em uma época de grande seca.

Os cristãos foram os responsáveis pelo odioso apartheid que vigorou na República Sul Africana até 1993, onde durante quase meio séculos a população negra foi explorada em condições sub-humanas por governos brancos cristãos, porém racistas.


O resultado foi trágico
– cerca de 7 milhões de
pessoas morreram de
fome na Índia entre 1876 e 1878. Você ainda acha que o mundo ocidental é civilizado?
Foi necessário o fim da Guerra Fria, para que a África do Sul perdesse a sua importância geopolítica na África Meridional para os EUA e o apartheid pudesse então ser eliminado.

A mídia ocidental solidificou  a idéia de que todos os muçulmanos são violentos. Certamente não foram eles que fabricaram as duas Guerras Mundiais do século XX.

Tenho certeza também  que Hitler, Stálin, Mussolini, Mao-Tsé-Tung, Augusto Pinochet, Papa Doc Duvalier, etc, nunca foram fundamentalistas islâmicos, mas  foram eles os responsáveis por milhões de assassinatos de forma sumária, perseguições e genocídios no século XX. Também é certo que o “Imperador”  George Bush, nunca freqüentou uma mesquita e mesmo assim comanda a maior e mais mortífera máquina de guerra do planeta, passando por cima de todas as resoluções da ONU.


A imprensa da Dinamarca chegou ao descaso de satirizar em charges o profeta Muhamed (ou Maomé como é conhecido no Ocidente). Mas será que acharíamos graça se os países islâmicos publicassem na Internet charges com padres homossexuais ou pedófilos?Transformando  maus comportamentos individuais em condutas generalizadas de todos os padres?

Certamente que não, até porque os que cometem desatinos de conduta são uma minoria dentro da Igreja Católica, que também merece respeito por tudo o que representa. Mas da mesma forma, os muçulmanos radicais que cometem desatinos ou atos de terror, também são ínfima minoria no enorme universo islâmico com mais de 1,2 bilhões de fiéis.


 







Será que os católicos acham graça
nas caricaturas do Papa?
A Igreja Católica errou feio em 2006, quando o atual Papa Bento XVI, resolveu criticar o mundo Islâmico, esquecendo-se que a história da Igreja Católica Romana também é tingida pelo sangue da Inquisição, da intolerância, pelas Cruzadas, pelos assassinatos de Papas, pelos Papas guerreiros, etc. Os muçulmanos dominaram a Península Ibérica (Portugal e Espanha) por sete séculos e nenhuma Igreja Católica sequer foi destruída. O mesmo não se pode dizer da passagem dos cruzados pela Turquia e Israel.

Na verdade, os grandes causadores da maioria dos conflitos no Oriente Médio são os próprios países ocidentais. Foram eles que desenharam a atual divisão política do Oriente Médio, são eles os maiores exportadores de armas para essa região. Assim como na África, as grandes potências ocidentais, impuseram aos povos da região fronteira artificiais, que não retratam a realidade étnica e religiosa existente.

A formação de fronteiras dos Estados no Oriente Médio, foi estabelecida com o objetivo de facilitar o controle externo das grandes reservas de petróleo.Recurso energético vital para o ocidente, não renovável e finito.

A grande problemática da atual visão maniqueísta de mundo é que o Islã não está confinado no Oriente Médio.

O mundo islâmico não se limita aos Árabes. O islamismo foi a religião que mais cresceu no último século, estando presente em todas as parte do mundo. Existem mais muçulmanos  não-árabes do que propriamente árabes. Os árabes correspondem a apenas 20% dos 1,2 bilhões de muçulmanos em todo o mundo.



População de Muçulmanos
100% da População
de 50% à 70% da População
20% da População
de 2,5% à 10% da População
menos de 1% da População
Islamismo é a religião que mais cresce no mundo

E o interessante é que em outras regiões alheias ao Oriente Médio, são reduzidas as  notícias  de conflito. Eles ocorrem, mas em número e intensidade bem menor do que no “mundo civilizado cristão ocidental”. E na maioria das vezes são conflitos onde as causas principais estão ligadas a interesses externos e não propriamente a questões religiosas.Tudo esconde o fato de que o Oriente é uma região permeada pelos interesses das potências ocidentais.

Será que todas as culturas da terra estariam bem condicionadas às generalizações Ocidente e Oriente?

No dia em que soubermos conviver com o diferente sem ter que classificá-lo como inferior, não precisaremos mais esconder o turbilhão de culturas que existem por trás dessa visão bipolar de mundo.

Quando isso acontecer, seguramente não estaremos mais vivendo sob o jugo do "capetalismo".

Obs: Este artigo foi adaptado e atualizado pelo Professor Paulinho Franco a partir de um artigo originalmente escrito por dois mestres de grande competência: Eduardo Carneiro acadêmico do Mestrado em Letras da UFAC  e por  Egina Carli,  professora de História do CIEB

Bons estudos! Prof. Paulinho Franco / 2007

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