Israel Souza[1]
O governo do Acre continua sua desesperada luta em defesa do - indefensável - manejo, posto sob crítica pelas denúncias vindas das Reservas Extrativistas e pela Carta do Acre.
Por sua influência, há três dias, veio à luz uma carta assinada por varias entidades. Trazendo uma moção de apoio ao “manejo sustentável”, a carta (que será analisada em texto posterior) deixa claro o intento de se contrapor à Carta do Acre. Por ela é possível perceber a magnitude do processo de cooptação sob os governos petistas local, estadual e nacional. Trata-se, para ser claro, de um peleguismo em larga escala. Dentre outras assinaram a carta: Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Conselho Nacional dos Seringueiros CNS, Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Comissão Pró Índio do Acre (CPI).
Ontem (20/10/2011), em parceria com grandes madeireiros beneficiados pelo manejo, o governo estadual promoveu uma manifestação na Assembleia Legislativa do Acre. A manifestação era em defesa do manejo. As galerias ficam lotadas. Houve até início de desentendimentos entre os moradores das Reservas Extrativistas e trabalhadores das madeireiras.
Os primeiros criticavam o manejo, ressaltando a destruição ambiental, o desrespeito a seus direitos e o pouco valor que recebem (quando recebem) pela madeira. Os outros, mais que as madeireiras, defendiam seus postos de trabalho. Algo compreensível, justo. Em conversa, alguns deles diziam ter sido ameaçados (por seus patrões) de perder o emprego se não estivessem ali.
Enquanto os seringueiros e seus apoiadores que ali estavam gritavam “O povo unido jamais será vencido”, os defensores das madeireiras gritavam “Triunfo. Triunfo”, nome da empresa madeireira envolvida nas denúncias. A seu modo, o líder do governo, Moisés Diniz (PC do B), tomou parte neste coro. Disse ele na sessão: “Eu sei que vou quebrar o protocolo. Mas eu peço uma salva de palmas para o manejo”. Vale dizer que, pelas denúncias que pesam sobre a atividade do manejo, a atitude do deputado equivale a uma apologia ao crime.
De tudo isso, é possível extrair algumas implicações de caráter mais geral. Primeiro, o estado continua central para a implantação dos modelos de desenvolvimento e, portanto, para a acumulação do capital. Segundo, a “colonização da política pela economia”, como diria Francisco de Oliveira. Terceiro, a falência dos instrumentos tradicionais de representação política - para chegar a essa conclusão não tivemos que passar pelas calamidades que hoje assolam a Europa e de modo destacado a Grécia. Quarto, as denúncias referentes ao manejo são tão graves que o governo e seus consortes não podem mais ignorá-las ou silenciá-las. E, para defender sua fama de governo preocupado com a questão ambiental, chega ao ponto de passar por cima das populações locais e a fazer apologia aos crimes que hoje o manejo representa.
[1] Cientista Social e membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental - NUPESDAO. E-mail: israelpolitica@gmail.com
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