AGRADECIMENTOS
- O doutorado serviu para “reforçar a convicção da necessidade de se avançar numa reinterpretação da questão amazônica, notadamente nos aspectos relativos à configuração da região acreana. Nessa trajetória, acumulei compromissos e débitos para com aqueles que não se acomodaram diante da visão de uma Amazônia fundada no exótico”.
- O Acre é fundado no exótico.
INTRODUÇÃO (Conceito de Região e espaço na economia)
“O estudo, embora elabore referências e momentos anteriores, procura dar conta do horizonte temporal que vai do último quartel do século passado, até os anos iniciais da década de 1960” (p. 21).
“Trata-se, portanto, de explicitar as complexas relações entre a economia do extrativismo e a industrialização como determinantes do espaço regional em questão” (p.22).
- O Acre é resultado dos desdobramentos do capitalismo.
- A dimensão econômica é suficiente para explicar o conjunto social?
“Nessa rede de interação que é a história, o MOTOR estará onde o quisermos colocar” Paul Veyner. Fazer História.
- O Econômico como o Motivador do Comportamento Humano.
- É possível que não haja fatos que sejam exclusivamente econômicos.
- Economia – produção, circulação e apropriação de riqueza.
OBS: A Revolução Acreana tem a ver com a disputa pela apropriação de riqueza. Tem a ver com a atividade econômica do homem. Foi consequência da satisfação das necessidades de sobrevivência. O MOTIVO MAIOR que desencadeou a AÇÃO foi o Sentimento Patriótico ou a $ Riqueza $?
“No Acre, por longos cem anos operamos uma estrutura produtiva que nos levou à pobreza a que chegamos”.
“Constitui uma marca da nossa história pornôs as riquezas naturais da região a serviço da acumulação capitalista que se efetiva fora dos limites regionais e em nome e benefício dos países centrais”.
- O PARAÍSO PERDIDO foi brutalmente explorado. Pessoas que macularam a terra com sangue inocente.
- Ler artigo do autor: Abraçando a Utopia.
- Singularidade da região em meio a uma totalidade.
- Ler: LIPIETZ, A. O Capital e seu espaço..
- Comenta sobre a teoria marginalista neoliberal. Critica os neoclássicos.
- Região incorporada ao capitalismo a partir da importância comercial dela, dos recursos naturais existentes. Conceito de região (p. 7).
- Ler: SILVA, Marcos (coord.). Repútlica em Migalhas – História Regional e Local.
- Região é o espaço onde se reproduz o capital, portanto, um locus da luta de classe.
“A produção capitalista se baseia no valor ou no desenvolvimento do trabalho contido no produto como (trabalho) social” (p. 10).
“As generalizações das trocas é necessidade vital na constituição do capital”.
OBS: a mercadoria te valor pois materializa trabalho. O capital exige troca/movimento/inversão lucrativa dos investimentos iniciais. Para que isso aconteça, todas as barreiras tende a ser removidas. O capital precisa de movimento.
- Defende a teoria marxista do capitalismo.
- Mobilidade do capital – trocas. Mobilidade dos fatores de produção.
“A liquidação da economia de base agrária implicou deslocamento do eixo dinâmico da economia, afirmando o padrão de acumulação de capital definido a partir dos setores industriais” (p. 15).
- Lênin fala sobre um tal de Desenvolvimento Capitalista Desigual e Combinado.
- A difusão tecnológica pode ser utilizada como critério diferenciador dos espaços.
- Fala sobre a teoria do desenvolvimento capitalista desigual (p. 18).
“Noção de região que emerge da dinâmica da acumulação de capitalista” (p. 19).
- Base Teórica em Maria Conceição Tavares.
- A atividade produtiva acontece em um espaço, no entanto, não se expande igualmente em todo ele.
- O conceito de região[1] deve estar ligada ao movimento de expansão exigido pela acumulação de capital.
- Região = é um corte espacial delimitado historicamente da formação social. O importante a ser observado é o nível de relação e articulação que ela tem com o modelo de acumulação dominante.
- Todo o debate que faz é para ao final falar sobre o seu objeto “A Região Acreana”.
“(Região Acreana) Espaço regional criado a partir das necessidades postas pelos avanços da industrialização nos países centrais, o atual Estado do Acre, depois de mais de um século de ocupação, tem na economia do extrativismo elemento representativo da base econõmica da sua reprodução social” p. 21.
- O Acre foi alvo de dominação por ser reserva de recursos naturais.
- Espaço Temporal da pesquisa (1860-1960).
- Mudança na Base Produtiva do Acre: anos 1960.
“Trata-se, portanto, de explicitar as complexas relações entre a economia do extrativismo e a industrialização como determinações do espaço regional em questão” (p. 22.)
- As Estruturas Espaciais é composta de Estruturas Temporais (estado/superfície) e de Estruturas Permanentes (conteúdo).
- Por isso, o espacial só será plenamente compreendido quando analisado em relação com o social (atividades produtivas).
- Qual a forma de reprodução de capital na região?
- LER: SILVEIRA, Rosa. República em Migalhas: história regional e local.
- O presente estudo é sobre o Espaço Regional: “sobre uma particular região situada a parte meridional da Amazônia brasileira: a região acreana. Espaço Regional criado a partir das necessidades postas pela industrialização dos países centrais, o atual Estado do Acre, depois de mais de um século de ocupação, tem na economia do extrativismo elemento representativo da base econômica da sua reprodução social”( p. 21).
- CONTEXTO INTERNACIONAL: “predominam as relações decorrentes da consolidação da produção industrial como núcleo do desenvolvimento capitalista em sua feição monopolísta”.
- CONTEXTO NACIONAL: “se desenrola do processo de industrialização brasileira até a formação do núcleo de indústria pesada”.
CAPÍTULO 1: CONDIÇÕES HISTÓRICAS DA EXPANSÃO GOMÍFERA (p. 25).
“Procuramos demonstrar as determinações que fazem da gênese da economia do extrativismo resultar de uma ruptura que se estabelece de velhas formas de uma economia fundada na mera coleta e que, no universo amazônico, dão sustentação à base econômica de extração colonial” (p. 22).
“A atividade extrativista como um subsetor produtivo, formado sob o império das indústrias dos países centrais” (p. 22).
“[...] da economia do extrativismo como resultado da produção industrial em bases científicas” (p. 22).
1.1. Considerações sobre a industrialização nos países centrais (p. 25)
“A laicização do conhecimento, movimento que é visto com muita nitidez já no século XVII, perfaz o circuito que corre no sentido do desenvolvimento das forças produtivas sob o regime de produção capitalista e, ao mesmo tempo, se posiciona ao lado das transformações revolucionárias que promovem a derrocada do mundo feudal. Com Bacon reformula-se o conceito de natureza dando-a como algo explicitamente exterior a sociedade humana e, daí, um objeto a ser dominado e manipulado. O andamento do fazer científico, por conseguinte, orientando-se no sentido da construção de meios para a tarefa de dominar a natureza, passa a contar com uma expressão ideológica de sustentação. É ainda, um momento onde o trabalho se relaciona desde uma posição muito próxima ao seu objeto, e as relações entre a indústria e o método científico são expressas de forma muito nítida” (p.26-27).
“Não constitui o aspecto nuclear deste tópico centrar-se em uma explicação plena do tema dos novos materiais, o que corresponderia a seguir cada ramo industrial em suas especificidades. É suficiente para nossos objetivos estabelecer a centralidade que as relações entre ciência e o fazer técnico assumem no contexto das transformações essenciais para a reafirmação do capitalismo enquanto resultado histórico[...] As transformações no fazer prático e o desenvolvimento do campo da ciência de forma combinada tem correspondência nas formas que operam o campo da economia, estabelecendo um ambiente próprio para acumulação do capital” (p.28).
- A maquinaria representa o ponto forte da acumulação e centralização do capital. Depois dela, a produção familiar não tem mais vez. O “Mundo das Mercadorias”. Novas técnicas advindas de descobertas científicas redundaram o acumulo de capital.
“Construído sobre a herança deixada pelo mundo feudal, o capitalismo que supera a estreita base técnica da fabricação introduzindo maquinaria e organizando o sistema de fábrica, já no século XIX, sinaliza sobre a existência de limitações ao seu caráter expansivo” (p.29).
“A dinâmica centrada no desenvolvimento de técnicas fundadas no conhecimento empírico, já a partir da primeira metade do século, dá sinais de esgotamento, traduzidos em sucessivas que expressam os limites do padrão de acumulação vigente” (p.29).
LER: LANDES, David. Progresso Tecnológico e Revolução Industrial[2].
“Para Landes, o esgotamento das possibilidades tecnológicas da Revolução Industrial coincidiu com as mudanças na estrutura e no tamanho do mercado, que agravaram o efeito amortecedor da diminuição no investimento autônomo” (p.30).
“A partir de então, as transformações postas em andamento, no entanto, não correspondem àquelas propostas pela Revolução Industrial, quando a introdução de máquinas substituía de forma exclusiva o trabalho. Momentos que consubstanciam as condições sob as quais as estruturas capitalistas realizam a homogeneização da estrutura técnica adequando-a a si próprias enquanto potência social” (p.30).
“Associada aos desenvolvimentos da química, o avanço da maquinaria implica no desdobramento da produção industrial em novos produtos e na possibilidade constantemente ampliada de uso de novos materiais. Em sentido amplo, são momentos onde as inovações combinam a introdução de novos produtos com a adoção de novos processos produtivos, impondo efeitos profundos sobre o crescimento econômico e as condições da produção, através da expansão da produtividade do trabalho” (p.31).
“Os principais progressos técnicos foram essencialmente científicos” (p. 31).
“Afirma-se a predominância da produção industrial sobre as demais formas produtivas” (p. 31).
“Seguindo a proposta analítica de Teixeira[3], três aspectos estariam em questão quando se trata de identificar os padrões de industrialização: em primeiro lugar deveriam ser objeto de atenção a estrutura e a dinâmica que, em suas determinações centrais referem-se às relações e encadeamentos intra-industriais e inter-industriais; em segundo lugar, recorrendo à noção dos aspectos externos à indústria em si, como proposta Rosa Luxemburgo, “as condições de organização social econômica sobre as quais nasceu e se desenvolveu a indústria”. (p.31-32).
“[...] em terceiro lugar, torna-se necessária a explicitação das condições históricas “de expansão da economia mundial, particularmente nos aspectos relacionados com a industrialização” (p. 32).
“O contexto temático da questão proposta neste estudo é exemplarmente o entrelaçado dos três campos propostos. Quanto ao primeiro aspecto anunciado, na medida em que ambos os conjuntos de transformações tanto as intra-industriais quanto as inter-industriais repercutem diretamente sobre a forma e a capacidade de uso dos materiais. A primeira perspectiva, ou seja, as questões propostas pelas transformações no interior de cada grande ramo referem-se às modificações na base técnica e na estrutura e organização de mercados (por empresas ou produtos). Sendo que as primeiras (transformações na base técnica) funcionam como a principal alavanca para levar adiante a acumulação do capital por meio de aumentos permanentes no valor da produtividade da força de trabalho. E isto, ao tempo em que, promovendo a concentração de capital, realiza a ampliação da capacidade produtiva para cada indústria, reforçando as relações concorrenciais” (p.32-33).
“A introdução das invenções ou inovações na economia responde basicamente à MOTIVAÇÃO DO LUCRO EXTRAORDINÁRIO que o inovador pode obter” (p. 33).
“Em primeiro lugar, é necessário entender o avanço na capacidade de processamento em um sentido dinâmico, ou seja, na perspectiva da própria acumulação de capital. Isto equivale a dizer que o ritmo produtivo dos setores das matérias primas refletirá as necessidades dos setores industriais responsáveis pelo consumo produtivo, ou seja, refletirá o ritmo e as possibilidades da acumulação de capital na indústria” (p.34).
“Em segundo lugar, a avaliação econômica das possibilidades de um dado ramo produtivo terá em conta os limites físicos da produção. Estes, no entanto, não devem se por como fronteiras para o processo de valorização. Daí que serão, progressivamente, determinados pela ação deliberada da gestão empresarial” (p.34).
- A PRODUÇÃO envolve uma CADEIA DE MERCADOS.
“Quanto mais monopolizada estiver a economia, tanto maior será a sua capacidade de controlar a introdução de inovações significativas[4]” (p. 34).
“As condições determinantes dos custos produtivos devem e são, por conseguinte, constantemente revolucionadas a partir das necessidades do núcleo hegemônico do desenvolvimento capitalista mundial. A tendência à centralização e à concentração espacial da produção repercute de forma a generalizar as condições industriais da produção até os limites da produção de matérias-primas” (p.35).
“No movimento amplo da dinâmica capitalista setores da produção de matérias-primas são estruturados para, em seguida, serem completamente transformados ou simplesmente desmobilizados e substituídos por agregados materiais de origem científica (os sintéticos). Esta, a nosso juízo, é uma perspectiva possível de apreensão do âmbito da dinâmica capitalista na formulação do conceito de padrão industrial, como proposto por Teixeira” (p.36).
“Nesse período, onde a expansão econômica já se processa nucleada pela tecnologia científica (segunda metade do século XIX), abrem-se os espaços para uma rápida expansão para uso de materiais de origem vegetal oriundos das regiões tropicais, como é o caso da borracha amazônica[5]” (p.36).
“A transformação da borracha de droga do sertão em matéria rima industrial insere-se nas condições de expansão produtiva que se consubstancia na combinação de um conjunto de transformações tanto de ordem intra-industriais quanto de ordem inter-industriais” (p.36).
“A borracha, por um lado, passa alimentar uma produção voltada para mercados característicos de colocação de produtos o que corresponde à afirmação de ramos industriais que se beneficiam de momentos de expansão do poder aquisitivo e sobre os quais se fundamentam as novas formas de incorporação da força de trabalho” (p. 36-37).
“Por um lado, trata-se de um material que se integra, também, ao uso em setores de produção de bens de capital, pólo que afirma as condições fundamentais da acumulação de capital” (p. 37).
“A introdução de novos processos produtivos e a abertura de novos ramos de produção estarão posicionadas como elementos centrais dessa nova fase de operação das estruturas produtivas capitalistas e da definição do novo patamar da acumulação, que se determina por uma contextualidade marcada por um campo de investimento potencializado” (p.37-38).
“As novas relações de comércio, redesenhadas por uma nova forma de inserção das economias nacionais nas relações internacionais, passam a estar dominadas por parcelas de capitais que articulam a formidável acumulação de capital bancário e as novas bases técnicas de produção. Não se trata mais de relações comerciais buscando o domínio sobre mercadorias exóticas ou sobre uma reduzida pauta de matérias-primas. O capital monopolizado expande o seu controle sobre a produção dos materiais que alimentam o processo produtivo, alterando processos e relações sociais de produção, em bases extraordinariamente ampliadas” (p.38).
- IMPERIALISMO “como resultado da busca do domínio sobre as fontes naturais de matérias-primas que se resolve na reorganização espacial do mundo, estabelecendo a geografia específica do capitalismo monopolista” (p. 38).
“Dois aspectos se destacam no contexto marcado pelas novas dimensões das unidades operacionais capitalistas. Em primeiro lugar, a incorporação de novos materiais não se efetiva nos limites da mera apropriação da natureza. A produção penetrada pela ciência permite que a revolução técnica permanente da base produtiva atinja de forma intensa também a produção de matérias-primas de origem agrícola” (p.39).
“As necessidades de acumulação exigem, lembrando Marx, o aniquilamento do tempo e do espaço e, neste movimento, se aprofunda e ganha novos contornos a geografia do capitalismo. Em segundo lugar, as novas formas capitalistas se explicitam em um universo de produção espacialmente ampliado” (p.39).
“A partir de uma base técnica tipicamente capitalista, a definição de espaços revigora o investimento nos próprios países cêntricos, ampliando as já elevadas concentrações de capitais e de trabalho naqueles países, ao tempo em que problematiza o movimento de capitais no sentido de outros países, que como o Brasil, já havia iniciado um processo de investimentos produtivos avançando mudanças substanciais no processo produtivo” (p.40).
“Se há uma redefinição das condições produtivas no centro, através do aprofundamento da estratégia de obtenção e mais-valia relativa [...] o campo próprio de matérias-primas passa a experimentar determinações que remetem para o novo padrão de acumulação” (p.40).
“As forças de trabalho passam a ser pôr numa relação de complementariedade, quando a produção periférica a passa a buscar um produto que servirá ao andamento do processo produtivo no centro [...] Nesta perspectiva, se estabelece uma clivagem nas relações de comércio entre o centro e a periferia. Um fluxo de produtos de origem primária, mas destinado ao consumo direto, outro de matérias-primas, material sobre o qual incidirá no centro o esforço produtivo industrial. Sobre este recairá, com maior intensidade, toda a repercussão experimentada pela dinâmica de capital fixo, enquanto expressão dos avanços e propriedades das relações entre o processo de desenvolvimento das ciências e da técnica” (p.41).
1.2. A montagem da economia extrativista e reconfiguração da Amazônia (p. 42)
“No último quartel do século XIX, a Amazônia já experimentara um extenso e complexo processo histórico de configuração das suas dimensões sociais e econômicas. As raízes coloniais da sua ocupação foram definidas já no século XVI e estiveram profundamente marcadas por transformações ocorridas no continente europeu [...] Os primeiros contatos do mundo europeu com terras amazônicas são marcados por interesses mercantilistas predominantes entre o período dos Descobrimentos e da Revolução Industrial” (p.42).
- Pedro de Orsúas já tinha navegado o Juruá atrás de minas de ouro (XVI).
- A Questão da Propriedade Fundiária na formação economia do Acre.
LER: MENDONÇA, Belarmino. Reconhecimento do rio Juruá (1905). Fundação Cultura do Estado do Acre. Rio Branco: 1989.
“É o que se depreende, também, das afirmações do Barão de Santa’Anna, em seu livro LE PAYS DES AMAZINES, publicado em 1899, dando o Juruá por conhecido, desde o meado do século XVI” (p. 43).
“Em meio às contradições da expansão capitalista e da ascensão burguesa na Europa, as bases históricas, as modalidades e o grau da integração elevam a ocupação da Amazônia à condição de uma particularidade no universo da ocupação e definição do espaço econômico e social brasileiro” (p.43-44).
“São destacáveis dois elementos constitutivos da realidade regional: a tentativa pioneira de montagem de uma base econômica articulada por uma pauta diversificada de produtos e a formação de uma base populacional que tem na incorporação da população pré-existente um elemento fundamental” (p. 44).
“Esta característica da produção, que segue os desdobramentos da industrialização dos países centrais, se deve a uma busca ampliada de materiais e produtos, negando a fixação de objetivos marcados pela monoprodução. A extração florestal, apesar da precariedade e dos limites da exploração das chamadas “drogas do sertão”, atividade tipicamente e de limitados impulsos de transformação técnica, no entanto, está na base da diversificação dos elementos sociais articulados pela produção solicitada pela rede de comércio que se forma entre a colônia e a metrópole” (p.44-45).
“É nos interstícios dessa atividade de extração, em princípio nômade, que surgem as determinações de uma base produtiva marcadamente sedentária” (p. 45).
- A produção que surge em uma base espacial fixa tende a suprir demandas externas.
“A visão reducionista está presente em autores como Censo Furtado, Caio Prado entre outros, que posicionam cada espaço particular enquanto sua contribuição para a formação econômica do país, o que equivale, regra geral, as regiões em suas contribuições para o desenvolvimento de industrialização que se desdobra na região sudeste”[6] (p. 45).
“O segundo elemento, incorporação da população regional na montagem das estruturas produtivas, envolve o reconhecimento da pré-existência de condições sócio-culturais com as quais vai interagir o movimento da ocupação. A necessidade de transformação da população regional em força de trabalho corresponde, portanto, a um esforço de destruição de traços culturais regionais e a sua substituição por condições sociais que viabilizassem o desenvolvimento de relações adequadas à produção de um excedente para o comércio” (p.46).
- Confronto entre os LUSITANOS e os POVOS AMAZÔNICOS.
- Conceito “conquista” e “ocupação” = tem a ver com o processo produtivo.
- Estudar sobre CABANAGEM[7] (1835) = oligarquia local, senhores de terras e escravos, “comprova o desenvolvimento da consciência social do nativo amazônico” (p. 47). A região era o principal núcleo populacional.
“A ocupação da região fica, por outro lado, submetida a estreitas condições econômicas” (p. 48).
“Conquanto resultasse num desdobramento histórico marcado por relações de classe complexas, a ocupação regional fica, por outro lado, submetida a estreitas condições econômicas. Predominam nas relações comerciais o resultado da atividade extrativista (coleta), além de a produção agrícola apresentar indícios de desenvolvimento razoável” (p.48).
“As informações sobre a dinâmica das exportações regionais permitem que se avaliem os momentos da transição de uma base produtiva dominada pela atividade extrativista florestal para uma situação onde começa a surgir uma produção penetrada por maior domínio do homem sobre a natureza, através de mudanças nos processos de trabalho. A organização de uma base produtiva capaz de gerar um excedente voltado para o mercado externo, corresponde no caso amazônico, à formação, nos limites regionais, de espaços produtivos especializados. As necessidade básicas da população passam a ser atendidas pelas transformações nas condições da produção interna, a qual avança para um processo de diversificação, enquanto se aprofundam novas bases para divisão social do trabalho. A separação de campo e cidade, neste período, já se expressa de forma nítida e é reforçada com a progressiva participação da borracha nos negócios regionais” (p.49).
“A produção de mercadorias na Amazônia assume os limites postos pelo uso da terra e da mão de obra essencialmente extensivo e ineficaz, característicos da extração florestal e da agricultura rudimentar como momentos essenciais da sua reprodução, no entanto, deve ser entendida enquanto esfera do amplo mercado mundial em construção pelos desdobramentos do universo capitalista que, cada vez mais nitidamente, se sustenta pela fluidez dos seus limites produtivos” (p.50).
“A função desempenhada pela propriedade fundiária, na formação da economia amazônica, está determinada mais pela procura de maior parcela do produto regional e menos como mecanismo restritivo ao acesso à terra, impedimento à formação da pequena propriedade” (p. 51).
“A dinâmica do capital mercantil, que prevalece ao longo da estruturação histórica da base produtiva regional, se sustenta com o desenvolvimento de formas de ajustamento entre uma base escravista e a produção de trabalho livre pela incorporação de segmentos das populações indígenas, notadamente através da ação da catequese” (p. 51).
“A inclusão da borracha entre os produtos regionais exportáveis se efetiva em três fases: a primeira, enquanto “droga do sertão”, na forma de artesanato indígena; a segunda ocorre com a sua adaptação ao uso industrial graças ao desenvolvimento do processo de vulcanização; a terceira, após o desenvolvimento da indústria automobilística e a invenção dos pneumáticos” (p.52).
LER: DARCY, Ribeiro. Os índios e a civilização.
“A incorporação da borracha como matéria-prima implica a sua transformação em produto de uma nova sequencia de processo de trabalho” (p. 53).
“A transformação da borracha em matéria-prima é uma decorrência da descoberta do processo de vulcanização por Charles Goodyer, em 1939 [...] Surgido como resultado do desenvolvimento da penetração da ciência na produção” (p. 53).
- Houve um processo de domesticação da seringueira que consolidou a região como espaço de produção gumífera.
“À medida que se expandem as possibilidades de ganhos com atividade gomífera, setores da elite comercial procuram uma saída funcional mais viável para o curso do novo setor da produção da região, terminando por optar por aquela mais obviamente de acordo com a configuração estrutural das condições de reprodução social, mantendo o controle que já exercem, em vez de perseguirem alguma alternativa estratégica que pudesse exigir o afastamento de práticas bem estabelecidas” (p.54).
“Inicialmente, o maior volume de produção é ainda obtido através do trabalho da população indígena, tradicionalmente envolvida no artesanato da borracha” (p.54).
“Afirma josé Veríssimo: até 1877, quem extraía, ou antes, quem tirava, para usar da expressão amazônica, a borracha, a qual já naquele ano se elevava a uma considerável soma de quilogramas, era exclusivamente o indígena amazônico: o caboclo ou tapuio e o mameluco” (p.54).
“Nesta fase, o pessoal envolvido na atividade da extrativa da hévea era de cerca de 1700 homens” (p.54).
- Produtividade/homem. Rendimento/árvore.
“Roberto Santos estima que o pessoal em exploração em 1872, estaria por volta de 21 mil pessoas” (p.54).
- A extração do látex leva em consideração as características da própria árvore. “Gera um sistema produtivo determante na organização social do trabalho” (p. 56).
- A árvore é SANGRADA. “O tronco da árvore é primeiro atacado a golpes de machadinha” (p. 56).
- Durante uma semana até cessar o escoamento do leite. Sendo que em muitas das vezes ela é derrubada afim de extrair as últimas gotas. Quais as condições técnicas da operação de extração do látex?
- LER: MACEDO SOARES, José Carlos. A Borracha. 1928.
“Octavio Ianni chama a atenção para as consequências que decorrem dessa atividade, enquanto momento de transformação das relações sociais na região, dado que ao apropriar-se da natureza, o homem modifica destrutivamente essa mesma natureza. Mas ele também se modifica, e não só pelo ganho, a apropriação do látex. É obrigado a seguir adiante. Ao destruir as árvores que lhe permitem viver, ou sobreviver, condena-se ao nomadismo, que é uma forma singular de organizar socialmente a existência[8]” (p.57).
“Outros autores[9] preferem denominar essa fase da economia do extrativismo de EXTRATIVISMO EXPEDICIONÁRIO[10], o que corresponde a uma minimização das consequências sociais produzidas pela extração do caucho e que tornam os momentos da sua predominância como determinantes da definição das tramas sociais da região” (p.57).
“Essa maneira de ver a extração do caucho enfraquece ou considera a constituição de momentos significativos das relações de produção, notadamente enquanto decorrência da forma de apropriação dos meios de produção” (p.57).
- Octavio Ianni “O nomadismo não significa inexistência de relação com a natureza, ou fraco relacionamento com ela. Significa uma relação muito especial; incidental, mas necessária, básica dos homens com a natureza”.
- Há quem diferencie a forma de exploração da seringueira com o caucho. O primeiro sedentário, o último um nômade.
“O trabalho forçado de índios sedentários pacificados era limitado e se desenvolvia num sistema de corveia supervisionado por capatazes e, ao mesmo tempo, submetido a uma grande dificuldade de recrutamento” (p. 59).
“A ampliação da atividade extrativista da hévea era vista pelos segmentos da classe dominante como uma ameaça para os mecanismos de reprodução social. A escassez do trabalho era, portanto, uma evidência que se agravara com o declínio acentuado da mão de obra africana desde a rebeliões de 1830. A abolição definitiva ocorreu 1884 na Província do Amazônas e 1888 no resto do país” (p.60).
“Por outro lado, a dinamização da demanda industrial incidindo sobre a produção gomífera, criava as condições para o desenvolvimento do universo das mercadorias, ampliando o círculo da produção e gerando repercussão sobre a esfera do consumo. Estes elementos eram por si desestabilizadores das condições sob as quais se processava a produção e a extração do excedente do qual depende da vida material da região. A expansão da produção começará, portanto, a configurar-se como uma ameaça real à continuidade do conjunto das demais produções”. (p.60).
“Polarizando os recursos anteriormente destinados a reprodução de outras produções, a borracha vai se responsabilizando pela desestruturação das condições de abastecimento e de funcionamento dos mercados locais” (p.60).
“À medida que se definem condições cada vez mais favoráveis ao crescimento da borracha, setores das classes dirigentes [...] tornam-se progressivamente incapazes de evitar o deslocamento da mão- de- obra para aquelas atividades, o que problematiza sua própria sobrevivência econômica e acarreta a perda de poder político” (p.61).
“O vertiginoso aumento do volume de borracha é simultâneo a uma violenta compressão do café” (p. 61).
- O Comércio Gumífero trouxe capitais externos para a região.
“Em que pese a ampliação da participação da borracha na pauta das exportações regionais, a década de 1980 é marcada pelos programas de colonização que seguiram basicamente os modelos estabelecidos pelos ‘núcleos’ iniciados ao tempo do império” (p.62).
- A fabricação de NAVIOS À VAPOR (sistema de transportes) contribuiu para o sucesso do empreendimento extrativista.
“Por volta dos anos cinquenta do século passado, as transformações técnicas, que redundaram na introdução do navio a vapor, revolucionaram os transportes e abriram novas alternativas para as relações internacionais, ao tempo que revitalizaram o comércio regional. As possibilidades de uma aceleração da velocidade de circulação no consumo pré-existente, postas pelas novas condições de transporte, no entanto, contribuíram na fase inicial da exploração gomífera, para uma saída conservadora no que tange às relações de trabalho regionais, sem que os segmentos da classe dominante regional embarcassem na aventura mais complicada e arriscada de alargar o próprio círculo” (p.63).
- Barão de Mauá detinha o monopólio da Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas. O Brasil firmou a soberania no local. Contribuiu para a integração e fortalecer o comércio. Alterou a forma de circulação de pessoas e mercadorias. Tudo isso foi visto como um CRIME CONTRA A HUMANIDADE pelos EUA[11].
- 7 de dezembro de 1866 = abertura dos portos à navegação estrangeira.
“A reordenação das estruturas de controle sobre a força de trabalho indígena, como forma de obter um produto gumífero ampliado, corresponde recurso aos mecanismos de exploração da mais-valia absoluta, ao lado da submissão das necessidades das comunidades indígenas às relações de mercado” (p.64).
“Os interesses internacionais sobre o potencial econômico da região amazônico foram fortemente revigorados, notadamente por parte de potência emergentes tais como os EUA” (p.64).
“Em 1874, a ampliação das bases de negócios regionais e a quebra do monopólio que se processara já 1853, abriram espaço para que uma empresa de capitais ingleses, fundada em Londres por volta de 1874, incorporasse as três companhias existentes. [...] A ampliação das bases de negócio repercute sobre o espaço geográfico, como decorrência da ocupação territorial” (p.65).
- A NAVEGAÇÃO FLUVIAL ampliou as possibilidades de incorporação da região ao comércio.
“A economia do extrativismo promove a dinamização das relações comerciais com Sul. Segundo Mendes[12], bem se pode dizer que, nas transações com o Sul, o Norte mantém sua conta corrente com saldo devedor, que liquida a prazo curto; por isso que lhe compra larga quantidade de seus produtos, sem que nada lhe venda”. (p.66)
“A referência explicita as condições de preponderância da borracha enquanto elemento da pauta das exportações amazônicas. Isto, num momento em que o nascente processo de industrialização nacional ainda não assumira o produto como matéria-prima, faz das relações entre Norte e o Sul atos de compras unilaterais: o Norte compra do Sul com os saldos exportações efetivadas para o exterior” (p.66-67).
“O pagamento das compras amazônicas eram efetuadas em moeda estrangeira” (p.67).
“À medida que se expandem os negócios da economia do extrativismo no último quartel do século XIX é promovida uma ampla rede de negócios na região” (p.67).
- Além de várias companhias de seguros. “O capital estrangeiro diversifica-se em um amplo conjunto de atividades, que engloba desde atividades específicas da economia do extrativismo, como participação no setor de aviamento, até o setor de serviços urbanos” (p. 67).
- Benchimol diz que o Comercio Típico de Aviador surgiu com os imigrantes portugueses.
“A estrutura de aplicações mais diversificada era formada pelos capitais estrangeiros, com forte predominancia dos de origem britânica, que se distribuiam entre serviços urbanos, portos e navegações, ocorrendo, inclusive, aplicações diretas no setor da produção” (p. 68).
- O capital britânico concentrava-se seu interesse em atividades que davam suporte à economia do extrativismo: transporte, colonização e comércio.
- Processo de ocupação: condições locais e globais.
- Economia retardatária e periférica.
“Trata-se de uma combinação de interesses entre a fração da burguesia comercial da região e representações de capitais internacionais ou de origem sulista. Por mais que as firmas nacionais se fundem em capitais próprios, nacionais, seu funcionamento, no entanto, se realiza através de operação articulada com capitais faraôneos” (p. 67).
- 1869 = Banco Comercial do Pará.
- 1883 = Banco do Pará.
- 1895 = Banco do Amazonas.
- 1904 = Banco Amazonense.
[1] Expressão espacial do desenvolvimento desigual.
[2] “O tamanho do mercado agravou o efeito amortecedor da diminuição no investimento autônomo”. Ou seja, após conquistar o mercado interno, o aumento produtivo não tinha mais razão de ser até que pensou-se a exportação.
[3] TEIXEIRA, A. O Movimento da Industrialização nas Economias Capitalistas Centrais no Pós-Guerra.
[5] Faz parte do processo da “ampliação do Mundo das Mercadorias”.
[6] O que acontece em relação ao estudo da História Mundial em função da Europa, ou a história do Acre em função do Purus.
[7] Ernesto Pinho Filho. Amazônia entre contrastes. “O movimento resultou em mais de 30 mil vítimas”.
[8] IANNI, Octavio. A Luta pela Terra.
[9] Euclides da Cunha fala de “Frente caucheira”.
[10] O extrativismo era predatório por demais. Fraco relacionamento com a natureza.
[11] “Portas fechadas aos barcos estrangeiros” era um crime, pois estes vinham trazer “civilização” e não ofender a soberania do Brasil na região.
[12] MENDES, J. A Crise Amazônica e a Borracha. 1908.
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