segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O que faria Maquiavel se estivesse no Acre?


Os nobres vendo que não resistirão ao povo, escolhem um cidadão do povo, aumentam-lhe o prestígio e o fazem Príncipe.              Para com isso, sob sua sombra, satisfazerem os próprios apetites” (Maquiavel).

               Ufa! Essa viagem pelo túnel do tempo foi cansativa, mas, enfim, cheguei ao Acre - terra dos coronéis de barranco, dos fazendeiros e dos caudilhos políticos. Nossa!!! Estou na última década do século XX e é época de eleições. Essa é a minha chance, vou candidatar-me. Mostrarei ao Lourenço de Médicis o que ele deveria ter feito com a pobre Itália do século XVI. Eu, Maquiavel, tornar-me-ei O PRÍNCIPE.

            As coisas por aqui não vão bem. O Acre em 1998, mais parece a minha Itália de 1500 - dividida e inundada de crimes e corrupção. O “clero” e a “nobreza” parecem não convencerem mais o povo. Além do mais, no Acre tudo está por fazer. Nessas condições, não terei dificuldades para chegar à "Casa Cor-de-Rosa", pois os homens mudam de senhor com prazer, se bem fizermos acreditarem que terão melhorias.

            Em se tratando de política, já sou “macaco velho”, sei que os grandes caminham por estradas batidas por outros. Vou unir, numa só coligação, a “oposição” e os burgueses dissidentes, será um "show de democracia". O resto é puro marketing, é prometer o que o povo quer ouvir: 40 mil empregos, saúde de primeiro mundo, educação para todos, etc.

Foi fácil ganhar, agora sou o Príncipe do Acre. Tenho que tomar medidas urgentes para me manter no poder. Primeiro, devo eliminar os herdeiros do antigo regime. Para isso, farei uma grande campanha difamatória, afirmando que todos os meus inimigos pertencem ao grupo de extermínio e ao narcotráfico. Que são pessoas malvadas, oportunistas, corruptas, falsas e que não merecem o respeito dos acreanos. Depois, perseguirei os que não me apoiaram, fechando “portas”, cortando privilégios, retirando gratificações e vigiando o cumprimento dos horários. Devo aproveitar o início do meu reinado, já que, as injúrias sempre devem ser feitas de uma só vez, para que cicatrizem logo. Meu desejo é ser temido e não odiado.

Outra coisa que devo fazer é colocar os “pingos nos Is” em relação aos meus aliados. Fui eleito com o apoio de mais de dez partidos, no entanto, isso não significa que irei me condicionar a qualquer espécie de Conselho Político. No máximo, podem me aconselhar. Eu, porém, sou quem delibero, sozinho e como achar melhor. O PRÍNCIPE não pode ser governado por ninguém.  Pelo contrário, precisa ter sob seu controle os quatro poderes: o executivo, o legislativo, o judiciário e os meio de comunicação.

Talvez dirão: Vossa Excelência não era um democrata antes das eleições? Responderia: há quinhentos anos eu também era um republicano, no entanto, quando os Médicis reassumiram o poder em Florença, tornei-me um fervoroso defensor do Absolutismo. Em política não há ética, só há a sede pelo poder! Na política, não se pensa em ajudar as pessoas, mas em como se assenhorear dos “espaços de mando”. Para conservar a minha coroa, faço qualquer coisa: prometo o que nunca vou cumprir, finjo acreditar na democracia, faço aliança com os empresários ao mesmo tempo em que discurso a favor dos trabalhadores. Penhoro a floresta acreana para o BID ao mesmo tempo em que defendo a balela de um Tal Desenvolvimento Sustentável. Viro defensor das reformas, pratico o assistencialismo e até ando de mãos dadas com antigos inimigos. A glória provém da vitória e não do modo como a obtemos.

O Príncipe que desejar permanecer no trono, precisa fomentar o espírito cívico e construir uma identidade coletiva em seus liderados. Por isso, contratarei uma “penca” de historiadores profissionais para reescrever a história dessa pacata região, de modo que vejam que eu sou a continuidade de um passado glorioso, de um passado “revolucionário”. Organizarei “centenárias” comemorações, reconstruirei prédios, lançarei livros, trarei artistas da Globo, etc. O povo precisa conhecer o próprio passado, cultuar os seus heróis e reverenciar as autoridades, pois é no passado e nas tradições que se apagam os desejos e os motivos para as mudanças.

Escrevi uma frase há alguns anos que até hoje é observada: “É muito vantajoso para um príncipe mostrar uma excelente imagem de si próprio”. Afinal de contas, contra quem tem boa reputação é difícil conspirar. Quando se é respeitado e amado pelo povo, não se deve temer as eleições, a vitória é garantida. Daí a importância que dou a minha imagem pessoal, o povo se preocupa muito com a aparência das coisas. Nas TV, minhas ações e palavras devem mostrar que sou cheio de piedade, fé, integridade, humanidade e religião. Mas, para isso, se é necessário controlar a imprensa e gastar alguns milhões com marketing político. Ações consideradas normais quando se é um Príncipe.

...Já fazem muitos anos que governo essas terras, estou cansado de tanto marasmo, minha intenção agora é ir para Brasília, a fim de aumentar minha influência e expandir meu território. Entretanto, para que isso aconteça, preciso deixar herdeiros por aqui, vassalos capazes, inteligentes e acima de tudo obedientes. Minha intenção é administrar o Acre à distância. Quanto à população, agradá-la-ei com grandes empreendimentos em fins de mandato, pois, nada traz mais estima a um príncipe do que construir grandes obras.

Que barulho é esse? Quem é você? – Eu sou Karl Marx, tenho analisado o seu reinado e percebo que está perto do fim. O poder político continua sendo organizado por uma classe, para oprimir outra. O governo “moderno”, como na época do Manifesto que escrevi, não passa de um comitê para gerir os negócios de uma minoria. O desenvolvimento anunciado, não é o mesmo vivido pela população. Os que trabalham não lucram; e os que lucram não trabalham. As condições materiais de vida são similares as de antes. O Acre ainda não passou de sua pré-história! O motor da história não para, o Acre virtual deve ser superado. Acreanos de toda Rio Branco uní-vos!


-          Ei barbudo, o que você está querendo dizer com isso? Sai pra lá! Xô Satanás!!!

*Eduardo de Araújo Carneiro, artigo publicado em 2004.


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