“Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste... Imita na grandeza a terra em que nasceste”.
Olavo Bilac.
CAP. 1 – COM FÉ E ORGULHO (p. 5).
- Rocha Pita, o primeiro historiador do Brasil, escreve em 1730: “Em nenhuma outra região se mostra o céu mais sereno, nem madrugada mais bela a aurora... enfim o Brasil Terreal Paraíso descoberto...” p. 6.
“Aprendemos que nossa história foi escrita sem derramamento de sangue... que a grandeza do território foi um feito da bravura heróica do Bandeirante” p. 6.
- Fazer uma pesquisa para saber se os acreanos sentem orgulho pelo Acre. Quais os motivos?
“... alguns dos heróis forjados para o engrandecimento da pátria (Tiradentes, Caxias, os bandeirantes e o Barão de Rio Branco): marcas de uma representação homogênea que os brasileiros possuem do país e de si mesmos” p. 7.
“... cada um de nós experimenta no cotidiano a forte presença de uma representação homogênea que os brasileiros possuem do país e de si mesmo. Essa representação permite, em certos momentos, crer na unidade, na identidade e na indivisibilidade da nação e do povo brasileiros, e, em outros momentos, conceber a divisão social e a divisão política sob a forma dos amigos da nação e dos inimigos a combater, combate que engendrará ou conservará a unidade, a identidade e a indivisibilidade nacionais” p. 7-8.
“A força persuasiva dessa representação transparece quando a vemos em ação, isto é, quando resolve imaginariamente uma tensão real e produz uma contradição que passa despercebida. É assim, por exemplo, que alguém pode afirmar que os índios são ignorantes, os negros são indolentes, os nordestinos são atrasados, os portugueses são burros, as mulheres são naturalmente inferiores, mas, simultaneamente, declarar que se orgulha de ser brasileiros porque somos um povo pacífico, ordeiro e inimigo da violência” p. 8.
“Em suma, essa representação permite que uma sociedade que tolere a existência de milhões de crianças sem infância e que, desde seu surgimento, pratica o apartheid social possa ter de si mesma a imagem positiva de sua unidade fraterna” p. 8.
“Se indagarmos de onde proveio essa representação e de onde ela tira sua força sempre renovada, seremos levados em direção ao MITO FUNDADOR[1] do Brasil, cujas raízes foram fincadas em 1500” p. 9.
“Ao falarmos em MITO nós o tomamos não apenas no sentido etimológico de narração pública de feitos lendários da comunidade (isto é, no sentido grego da palavra mythos), mas também no sentido antropológico, no qual essa narrativa é a solução imaginária para tensões, conflitos e contradições que não encontram caminho para serem resolvidos no nível da realidade” p. 9.
“Se também dizemos MITO FUNDADOR é porque... esse mito impõe um vínculo interno com o passado como origem, isto é, com um passado que não cessa nunca, que se conserva perenemente presente e, por isso mesmo, não permite o trabalho da diferença temporal e da compreensão do presente enquanto tal”. Nesse sentido, falamos em MITO também na acepção psicanalítica, ou seja, como impulso à repetição de algo imaginário que cria um bloqueio à percepção da realidade e impede lidar com ela” p. 9.
“Um MITO FUNDADOR é aquele que não cessa de encontra novos meios para exprimir-se, novas linguagens, novos valores e idéias, de tal modo que, quanto mais parece ser outra coisa, tanto mais é a repetição de si mesmo” p. 9.
- Há diferença entre mito fundador e fundação e/ou formação.
“... o registro da FORMAÇÃO é a história propriamente dita, aí incluídas suas representações...” p. 9.
“... a FUNDAÇÃO se refere a um momento passado imaginário, tido como instante originário que se mantém vivo e presente no curso do tempo, isto é, a fundação visa a algo tido como perene (quase eterno) que traveja e sustenta o curso temporal e lhe dá sentido. A fundação pretende situar-se além do tempo, fora da história, num presente que não cessa nunca sob a multiplicidade de forma ou aspectos que pode tomar” p. 9-10.
“A marca peculiar da FUNDAÇÃO é a maneira como ela põe a transcendência e a imanência do momento fundador: a fundação aparece como emanando da sociedade (em nosso caso, da nação) e, simultaneamente, como engendrando essa própria sociedade (ou nação) da qual ela emana. É pro isso que estamos nos referindo à fundação como mito” p. 10.
“O mito fundador oferece um repertório inicial de representações da realidade e, em cada momento da formação histórica, esses elementos são reorganizados tanto do ponto de vista de sua hierarquia interna (isto é, qual o elemento principal que comanda os outros) como da ampliação de seu sentido (isto é, novos elementos vêm se acrescentar ao significado primitivo)” p. 10.
“... as ideologias, que necessariamente acompanham o movimento histórico da formação, se alimentam das representações produzidas pela fundação, atualizando-as para adequá-las à nova quadra histórica. É por isso que, sob novas roupagens, o mito pode repetir-se indefinidamente[2]” p. 10.
CAP. 2 – A NAÇÃO COMO SEMIÓFORO[3] (p. 11)
“SEMEIOPHOROS é uma palavra grega composta de duas outras: semeion ‘sinal’ ou ‘signo’ e phoros, ‘trazer para a frente’, ‘expor’, ‘carregar’, ‘brotar’ e ‘pegar’ (no sentido que, em português, dizemos que uma planta ‘pegou’, isto é, refere-se à fecundidade de alguma coisa). Um semeion[4] é um sinal distintivo que diferencia uma coisa de outra, mas é também um rastro ou vestígio deixado por algum animal ou por alguém, permitindo segui-lo ou rastreá-lo, donde significar ainda as provas reunidas a favor ou contra alguém” p. 11.
“... o semióforo era a comunicação com o invisível, um signo vindo do passado ou dos céus, carregando uma significação como conseqüências presentes e futuras para os homens. Com esse sentido, um semióforo é um signo trazido à frente ou empunhado para indicar algo que significa alguma outra coisa e cujo valor não é medido por sua materialidade e sim por sua força simbólica: uma simples pedra se for o local onde um deus apareceu... Um semióforo é fecundo porque dele não cessa de brotar efeitos de significação” p. 12.
“Um semióforo é, pois, um acontecimento, um animal, um objeto, uma pessoa ou uma instituição retirados do circuito do uso ou sem utilidade direta e simbólico, capaz de relacionar o visível e o invisível, seja no espaço, seja no tempo, pois o invisível pode ser o sagrado (um espaço além de todo espaço) ou o passado ou o futuro distante (um tempo sem tempo ou eternidade)...” p. 12.
“É um objeto de celebração (o semióforo) por meio de cultos religiosos, peregrinações a lugares santos, representações teatrais de feitos heróicos, comícios e passeatas em datas públicas festivas, monumentos; e seu lugar deve ser público... locais onde toda a sociedade possa comunicar-se celebrando algo comum a todos e que conserva e assegura o sentimento de comunhão e de unidade” p. 12.
- Os semióforos são signos de poder e prestígio. O poder político estimula a propaganda de novos semióforos para o culto cívico.
- Embora um semióforo seja lago retirado do circuito da utilidade e esteja encarregado de simbolizar o invisível espacial ou temporal e de celebrar a unidade indivisa dos que compartilham uma crença comum ou um passado comum, ele é também posse e propriedade daqueles que detêm o poder para produzir e conservar um sistema de crenças ou um sistema de instituições que lhes permite dominar um meio social” p. 13.
“Dessa disputa de poder e de prestígio nascem, sob a ação do poder político, o patrimônio artístico e o patrimônio histórico-geográfico da nação, isto é, aquilo que o poder político detém como seu contra o poder religioso e o poder econômico” p. 14.
“Para realizar essa tarefa, o poder político precisa construir um semióforo fundamental, aquele que será o lugar e o guardião dos semióforos públicos. Esse semióforo matriz é a nação” p. 14.
“Por meio da intelligentsia (ou de seus intelectuais orgânicos), da escola, da biblioteca, do museu, do arquivo de documentos raros, do patrimônio histórico e geográfico e dos monumentos celebratórios, o poder político faz da nação o sujeito produtor dos semióforos nacionais e, ao mesmo tempo, o objeto do culto integrador da sociedade uma e indivisa” p. 14.
2.1 – A nação: uma invenção recente (p. 14)
“É muito recente a invenção histórica da nação, entendida como Estado-nação, definida pela independência ou soberania política e pela unidade territorial e legal. Sua data de nascimento pode ser colocada por volta de 1830” p. 14.
“De fato, a palavra ‘nação’ vem de um verbo latino, nascor (nascer), e de um substantivo derivado desse verbo, natio ou nação, que significa o parto de animais, o parto de uma ninhada. Por significar o ‘parto de uma ninhada’, a palavra natio/nação passou a significar, por extensão, os indivíduos nascidos ao mesmo tempo de uma mesma mãe, e, depois, os indivíduos nascidos num mesmo lugar” p. 14.
“... povo se referia (antes do surgimento do Estado-nação) a um grupo de indivíduos organizados institucionalmente, que obedecia a normas, regras e leis comuns” p. 15.
“Esta palavra (pátria) também deriva de um vocabulário latino, pater[5], pai.... Pater é o senhor, o chefe, que tem a propriedade privada absoluta e incondicional da terra e de tudo o que nela existe, isto é, plantações, gado, edifícios (‘pai’ é o dono do patrimonium), e o senhor, cuja vontade pessoal é lei, tendo o poder de vida e morte sobre todos os eu formam seu domínio (casa, em latim, se diz domus, e o poder do pai sobre a casa é o dominium), e os que estão sob seu domínio formam a família ( mulher, filhos, parentes, clientes e escravos). Pai se refere, portanto, ao poder patriarcal e PÁTRIA é o que pertence ao pai e está sob seu poder.
- Patrimônio: tudo o que pertence ao pai. Patrício: é o que possui um pai nobre e livre. Patriarcal: sociedade estruturada segundo o poder do pai. A sociedade romana estava divida entre o Senado (patrícios) e o povo (plebe livre).
- Os patrícios eram os PAIS DA PÁTRIA, enquanto os plebeus eram os PROTEGIDOS DA PÁTRIA. A igreja substituiu os “pais da pátria” pelo Deus Pai[6].
“A partir do século XVIII, com as revoluções norte-americana, holandesa e francesa, PÁTRIA passa a significar o território cujo senhor é o povo organizado sob a forma de Estado independente” p. 16.
“Eis por que, nas revoltas de independência, ocorridas no Brasil nos finais do século XVIII e início do século XIX, os revoltosos falavam em PÁTRIA MINEIRA, PÁTRIA PERNAMBUCANA, PÁTRIA AMERICANA; finalmente, com o patriarca da independência, José Bonifácio, passou-se a falar em pátria brasileira. Durante todo esse tempo, nação continuava usada apenas para os índios, negros e judeus” p. 16.
- HOBSBAWN, em seus estudos, partiu do surgimento do Estado Moderno da “era das revoluções”. Esse Estado Moderno era definido por um território preferencialmente contínuo, com limites e fronteiras claramente demarcados, agindo política e administrativamente sem sistemas intermediários de dominação e que precisava do consentimento prático de seus cidadãos válidos (definida pela condições financeiras da pessoa) para políticas fiscais e ações militares. Idéia de proteção contra outros estados.
- O Estado liberal enfrentou dois problemas: 1) ter que incluir todos os habitantes do território na esfera da administração estatal; 2) obter a lealdade dos habitantes ao sistema dirigente, uma vez que a luta de classes, a discórdia religiosa e as intrigas partidárias estavam grandes. A idéia de nação viria solucionar o problema.
- O aparecimento do vocábulo nação no dicionário político deu-se por volta de 1830 e seguiu as seguintes etapas:
1) 1830-1980: fala-se em “princípios da nacionalidade” - vincula nação ao território. Provém de uma economia política liberal (OBS: liberalismo não é sinônimo de democracia). Os economistas alemães defendiam um princípio que definia a existência ou não de uma nação. Daí surgiu a idéia de nação como expansão – conquista de territórios. A dimensão do território, a densidade populacional e a expansão de fronteiras tornaram-se os princípios definidores da nação como Estado. O ESTADO-NAÇÃO veio para produzir um elemento de identificação entre as diferenças para mobilizá-los para a expansão. Esse elemento foi a língua.
2) 1880-1918: fala-se em “idéia nacional” – vincula a nação à língua, à religião e a raça. Provem dos intelectuais pequeno-burgueses, particularmente alemães e italianos. Contexto: Os poderes constituídos disputavam a lealdade da massa trabalhadora com os socialistas. O Estado precisava de algo que não só os pacificassem, mas que os mobilizassem a seu favor. Foi aí que o patriotismo entrou como uma religião cívica. “Durante o período de 1880-1918, a religião cívica transforma o patriotismo em nacionalismo, isto é, o patriotismo se torna estatal, reforçado com sentimentos e símbolos de uma comunidade imaginária cuja tradição começava a ser inventada” p. 18.
- Tudo isso veio solucionar três problemas: as lutas populares socialistas, as resistências de grupos tradicionais ameaçados pela modernidade capitalista e o surgimento de um estrato social ou de uma classe intermediária – a pequena burguesia[7].
OBS: Foi exatamente no momento em que a divisão social das classes apareceu em sua maior força tal que ameaçou o capitalismo, que se propões a IDÉIA NACIONAL – um instrumento unificador da sociedade.
“Foram os intelectuais pequeno-burgueses, apavorados com o risco de proletarização, que transformaram o patriotismo em nacionalismo quando deram ao espírito do povo, encarnado na língua, nas tradições populares ou folclore e na raça (conceito central das ciências sociais do século XIX), os critérios da definição da nacionalidade” p. 18.
“A partir dessa época, a nação passou a ser visto como algo que sempre teria existido, desde tempos imemoriais, porque suas raízes deitam-se no próprio povo que a constitui... a nação está nos usos, costumes, tradições, crenças da vida cotidiana... Sem essa referência, tornar-se-ia incompreensível que, em 1914, milhões de proletários tivessem marchado para a guerra para matar e morrer servindo aos interesses do capital” p. 19.
3) 1918-1960: fala-se em “questão nacional” – enfatiza a consciência nacional definida por um conjunto de lealdades políticas. Emana dos partidos políticos e do Estado. É a época do nacionalismo militante – época dos grandes comícios.
- A consciência do poder persuasivo da “idéia nacional” ocasionou a “questão nacional”, ou seja, um fortalecimento dos ideais nacionalistas[8].
- O nacionalismo se expandiu com a comunicação de massa que transformaram símbolos nacionais em parte da vida cotidiana dos indivíduos. Não havia mais diferença entre o público e o nacional.
- Essa idéia se materializou nas competições esportivas, transformados em espetáculos de massas em não eram somente equipes em disputas, mas nações em confronto. As crianças eram ensinadas que ter lealdade ao time era ter lealdade à nação.
- Porque a luta de classe teve uma capacidade mobilizadora menor do que o nacionalismo? Por que as revoluções socialistas acabaram assumindo formas de nacionalismo?
- Uma possível resposta é o fato de que a consciência política do cidadão o civismo está ligado à nação. Nela não diferença marcante entre classe social e nação[9].
“O processo histórico de INTENÇÃO DA NAÇÃO nos auxilia a compreender um fenômeno significativo, no Brasil, qual seja, a passagem da idéia de ‘caráter nacional’ para a de ‘identidade nacional’. O primeiro corresponde, grosso modo, aos períodos de vigência do ‘princípio da nacionalidade (1830-1880) e da ‘idéia nacional (1880-1918), enquanto a segunda aparece no período da ‘questão nacional’ (1918-1960)” p. 21.
“Território, densidade demográfica, expansão de fronteiras, língua, raça, crença religiosas, usos e costumes, folclore e belas-artes foram os elementos principais do caráter nacional - entendido como disposição natural de um povo e sua expressão cultural” p. 21.
LER: O CARÁTER NACIONAL BRASILEIRO (Dante Moreira Leite).
- Define um núcleo essencial[10] tomando como critério algumas determinações internas da nação que são percebidos por suas referências ao que lhe são externos. A identidade não pode ser construída sem a diferença.
“... a identidade nacional precisa ser concebida como harmonia e/ou tensão entre o plano individual e o social e também como harmonia e/ou tensão no interior do próprio social” p. 26.
- A identidade deve incluir uma autoconsciência, A identidade nacional propõe o deslizamento da consciência de classe para a consciência nacional.
- Brasil PÓS-80: nação e nacionalismo se deslocam para o campo das representações já consolidadas. A tarefa maior agora é legitimar sociedades autoritárias, oferecer mecanismos para se tolerar as várias formas de violência.
“BRASIL 500 ANOS é, pois, um semióforo historicamente produzido. Como todo semióforo que se destina a explicar a origem e dar um sentido ao momento fundador de uma coletividade é uma entidade mítica, BRASIL 500 também pertence ao campo mítico, tendo como tarefa a reatualização de nosso MITO FUNDADOR” p. 29.
METODOLOGIA DA AUTORA – de maneira breve e sem acompanhar as condições materiais da história do Brasil e sua periodização, a autora propõe assinalar momentos variados em que “...a mitologia da origem se espraia em ações e falas da sociedade e do Estado brasileiros... os exemplos aqui escolhidos correspondem, grosso modo, às três etapas de construção da idéia de nação que, muito rapidamente, apresentamos acima” p. 19. “... o que nos interessa aqui, ou seja, não o da produção histórica ou material concreta da nação e sim o da construção ideológica do semióforo nação” p. 44.
CAP. 3 – O VERDEAMARELISMO (p.31).
1958 – “A copa do mundo é nossa, por que com brasileiro há quem possa”.
“A celebração consagrava o tripé da imagem da excelência brasileira: café, carnaval e futebol” p. 31.
“... quando a seleção, agora chamada de CANARINHA, venceu o torneio mundial em 1970, surgiu um verdadeiro hino celebratórios, cujo início dizia: noventa milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração. A mudança do ritmo – do samba para a marcha, a mudança do sujeito – do brasileiro bom aos 90 milhões em ação, e a mudança do significado de vitória – de ‘a copa do mundo é nossa’ ao ‘ pra frente, Brasil” não foram alterações pequenas” p. 31.
Em 1958 – Kubitschek pregava o desenvolvimentismo para o brasileiro (mercado interno), com o capital internacional. Para comemorar, o povo saiu às ruas com o verde-amarelo, mas não a bandeira.
Em 1970, vivia-se a Ditadura (pós AI-5), o terror da ideologia do BRASIL GRANDE. A aparição da bandeira de forma hegemônica deu-se somente na de 70 “... quando a vitória foi identificada com a ação do Estado e se transformou em festa cívica” p. 32.
- Em duas formas diferentes, contextos diferentes, os mesmos verde-amarelos aparecem.
3.1 – O QUE É VERDEAMARELISMO[11]? (p. 32).
“O verdeamarelismo foi elaborado no curso dos anos ela classe dominante brasileira como imagem celebrativa do país” p. 32.
“... sua construção coincide com o período em que o princípio da nacionalidade era definido pela extensão do território e pela densidade demográfica” p. 32.
- Foi a ideologia dos senhores da terra do sistema colonial, do império e da velha república. Por que não desapareceu com a indústria? O modernismo a TOMOU emprestada.
- No período QUESTÃO NACIONAL o Estado deliberadamente promoveu a imagem verdeamarela.
- ESTADO NOVO (1937-1945): luta intensa contra a dispersão e a fragmentação do poder enfeixado pelas oligarquias estaduais. Falava-se em povo brasileiro como em cultura nacional. Foi nessa época que um personagem do Império virou herói nacional da República – Duque de Caxias – a unidade construída em torna da guerra.
- O ESTADO toma conta dos meios de comunicação, surge o programa A Hora do Brasil.
- O verde-amarelo sob a ideologia da Questão Nacional (1918-1960) precisa incorporar a luta de classes, para neutralizar a ação política dos trabalhadores. Entra em cena o herói bandeirante. Não há espaço para luta de classe, mais de cooperação entre o capital e o trabalho – sob direção e vigilância do Estado.
- DITADURA: Integração Nacional, Segurança Nacional e Desenvolvimento Nacional.
- São instrumentos com os quais o poder político constrói o SEMIÓFORO NAÇÃO.
CAP. 4 – Do IV ao V Centenário (p. 47).
- Esse capítulo é um comentário sobre o livro lançado em 1900 em comemoração ao IV Centenário do Brasil - Porque me ufano de meu país, de Afonso Celso.
CAP. 5 – O MITO FUNDADOR (p. 27)
- A América não estava aqui à espera de Colombo, assim como o Brasil não estava aqui à espera de Cabral. A América e o Brasil são invenções.
- Elementos constituintes do Mito Fundador do Brasil: a) Visão de Paraíso; b) História Teleologia e Providencial; c) Figura do governante como rei pela graça de Deus – a sagração do governante[13].
HISTÓRIA TELEOLÓGICA - a história é uma realização do plano de Deus ou da vontade divina. A história linear introduz a noção de história como memória – a garantidora da imortalidade dos homens cujos feitos são dignos de serem lembrados. “Nosso passado assegura nosso futuro num contnuum temporal que vai da origem ao porvir...” p. 75.
CAP. 6 – COMEMORAR? (p. 89)
- A sociedade brasileira até hoje é marcada por uma estrutura hierárquica e verticalizada em todos os aspectos. “O outro jamais é reconhecido como sujeito nem como sujeito de direitos, jamais é reconhecido como subjetividade nem como alteridade” p. 89.
- A relação dos que se julgam iguais é de parentesco ou de cumplicidade – apadrinhamento.
- “A divisão social das classes é naturalizada por um conjunto de práticas que ocultam a determinação histórica ou material da exploração, e que, imaginariamente, estruturam a sociedade sob o signo da nação uma e indivisa, sobreposta como um manto protetor que recobre as divisões reais que a constituem” p. 89-90.
“Porque temos o hábito de supor que o autoritarismo é um fenômeno político que, periodicamente, afeta o Estado, tendemos a não perceber que é a sociedade brasileira que é autoritária e que dela provêm às diversas manifestações do autoritarismo político” p. 90.
-Quais os traços mais marcantes dessa sociedade autoritária? Vejamos: a) estruturada sobre uma matriz senhorial; b) divisões sociais naturalizadas; c) Não há distinção definida entre o público e o privado; d) Os governantes e parlamentares são os donos do poder: mantendo com os cidadãos relações pessoais de favor, clientela e tutela e praticam a corrupção sobre os fundos públicos; e) somos uma formação social que produz imagens de si fortes o suficiente para pacificar as contradições sociais; f) o discurso do poder define o consenso como unanimidade. g) nossa sociedade tem fascínio pelos signos de prestígio e poder.
“... o mito fundador produz a sagração do governante, a política se oculta sob a capa da representação teológica, oscilando entre a sacralização e a adoração do bom governante e a satanização e a execração do mau governante” p. 94.
“... a classe dirigente instalada no aparato estatal percebe a sociedade como inimiga e perigosa, e procura bloquear as iniciativas dos movimentos sociais, sindicais e populares” p. 94.
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[1] Representação que sempre se renova.
[2] Talvez essa seja a diferença em relação ao Discurso Fundador inspirado nos pressupostos foucaultianos. Para Foucault, os discursos não têm origem, ao se reformularem, já são outros, pois romperam com a cadeia sígnica do primeiro. Não é uma simples atualização e sim uma ruptura.
[3] Ex: relíquias, oferendas, espólios de guerra, aparições celestes, meteoros, objetos de arte, documentos raros, HERÓIS, a nação, etc.
[4] Ex: constelação – indicam as estações do ano; a castanheira – governo do Acre; estandarte;
[5] Não como genitor de filhos, mas um conceito jurídico-político vindo da lei romana. Pátrio-poder, o poder legal do pai sobre filhos, esposa e dependentes.
[6] Diante de Deus pai todos são plebeus. Os que eram de Deus eram separados pela igreja e classificados como povo cristão. Os descrentes eram as NAÇÕES pagãs.
[7] Apavorados com o risco da proletarização da sociedade transformaram o patriotismo em nacionalismo.
[8] No Brasil, a AÇÃO INTEGRALISTA DO BRASIL foi criada entre 1927 e 1928, pelo escritor modernista Plínio Salgado.
[9] No Brasil, nos anos 50-60, a esquerda passou a defender o nacionalismo. A divisão social das classes passou a dar lugar a uma unidade imaginada imposta pela idéia de nação.
[10] No plano individual é a personalidade de alguém. No social, é o lugar funcional que ocupa, qual classe?
[11] Uma Auto-imagem celebrativa que a elite tinha de si mesma.
LER ( LEITE, Dante M. O caráter nacional brasileiro: história de uma ideologia. São Paulo: pioneira, 1983).;
[12]
[13] VISÃO do governante como salvador, não como representante do povo, mas de Deus. Visão MESSIÂNICA da política - impera práticas clientelistas e de tutela. Mantém ilesa a CULTURA SENHORIAL.
Um comentário:
Li e gostei do resumo. Bem feito e leitura tranquila.
Parabenizo os autores pelo trablho.
Estou muito grato.
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