INTRODUÇÃO: POR UMA GENEALOGIA DO PODER (Roberto Machado)
- Qual a grande inovação metodológica assinalada em 1961 pela HISTÓRIA DA LOUCURA? A resolução de estudar em diferentes épocas e sem se limitar a nenhuma disciplina – os saberes sobre a loucura para estabelecer o momento exato e as condições de possibilidade do nascimento da psiquiatria. “Projeto este que deixou de considerar a história de uma ciência como o desenvolvimento linear e contínuo a partir de origens que se perdem no tempo e são alimentadas pela interminável busca de precursores” p. VII.
- A ARQUEOLOGIA do saber complementa a GENEALOGIA do poder.
- Estabelecem-se relações entre os saberes, cada um considerado como positividade específica, a positividade do que foi efetivamente dito e deve ser aceito como tal e não julgado a partir de um saber posterior e superior.O objetivo não é sancionar ou invalidar o saber, mas perceber o estabelecimento de regularidades que permitam individualizar formações discursivas (VII-VIII).
- Estabelecem-se relações entre os saberes, cada um considerado como positividade específica, a positividade do que foi efetivamente dito e deve ser aceito como tal e não julgado a partir de um saber posterior e superior.O objetivo não é sancionar ou invalidar o saber, mas perceber o estabelecimento de regularidades que permitam individualizar formações discursivas (VII-VIII).
- Outra novidade metodológica: não se limitar ao nível do discurso para dar conta da questão da formação histórica da psiquiatria. A análise centrou-se nos espaços institucionais, descobrindo uma heterogeneidade entre os discursos teóricos.
- A psiquiatria é o processo de dominação do louco que começou muito antes dela. Não foi quem descobriu a essência da loucura.
- NASCIMENTO DA CLÍNICA (1963): marca a diferença entre a medicina moderna e a medicina clássica. Caracteriza a ruptura. Não se deve opor a medicina moderna a seu passado como se opõem a ciência a pré-ciência. Estabelece e caracteriza essa ruptura. “Não se deve opor a medicina moderna a seu passado como se opõe ciência a pré-ciência, racionalidade a irracionalidade, verdade a erro” p. VIII.
- O que mudou foi a própria positividade do saber com seus objetos, conceitos e métodos diferentes. A arqueologia buscou explicitar os princípios de organização da medicina em épocas diferentes[1]. O objetivo principal do livro é explicitar os princípios constitutivos da medicina moderna, definindo o tipo específico da ruptura que ela estabelece. Criticou a idéia de progresso na história da ciência.
- Quando se tratou de analisar historicamente as condições de possibilidade da psiquiatria, o próprio desenvolvimento da pesquisa apontou o saber sobre o louco (diretamente articulado com as práticas institucionais do internamento) como mais relevante do que o saber teórico sobre a loucura.
- AS PALAVRAS E AS COISAS (1966) – o objetivo é aprofundar e generalizar inter-relações conceituais capazes de situar os saberes constitutivos das ciências humanas, sem pretender articular as formações discursivas com as práticas sociais. A tese do livro é: só pode aparecer ciência humana[2] a partir do momento em que o aparecimento das ciências empíricas[3] e das filosofias modernas[4], tematizaram o homem como objeto e como sujeito de conhecimento, abrindo a possibilidade de um estudo do homem como representação.
Proposta arqueológica “... consistia em descrever a constituição das ciências humanas a partir de uma inter-relação de saberes, do estabelecimento de uma rede conceitual que lhes cria o espaço de existência, deixando propositalmente de lado as reações entre os saberes e as estruturas econômicas e políticas” p. IX.
- ARQUEOLOGIA DO SABER (1969): é uma história do saber. Reflete sobre as precedentes análises históricas com o objetivo não só de explicitar ou sistematizar, mas, sobretudo, de clarificar ou aperfeiçoar os princípios formulados a partir das próprias exigências das pesquisas. A arqueologia estabelece a constituição dos saberes, privilegiando as inter-relações discursivas e sua articulação co as instituições para responder como os saberes apareciam e se transformavam.
- A GENEALOGIA responde o porquê dos saberes aparecerem e se transformarem. Explica o aparecimento de saberes a partir de condições de possibilidade externas aos próprios saberes. Não se trata de considerá-los efeito ou resultado, mas situá-los como elementos de um dispositivo de natureza essencialmente estratégica. São técnicas infinitas de poder que estão intimamente relacionadas com a produção de determinados saberes. A análise é ascendente. Não devemos partir do Estado para explicar a constituição dos saberes na sociedade capitalista.
- A GENEALOGIA responde o porquê dos saberes aparecerem e se transformarem. Explica o aparecimento de saberes a partir de condições de possibilidade externas aos próprios saberes. Não se trata de considerá-los efeito ou resultado, mas situá-los como elementos de um dispositivo de natureza essencialmente estratégica. São técnicas infinitas de poder que estão intimamente relacionadas com a produção de determinados saberes. A análise é ascendente. Não devemos partir do Estado para explicar a constituição dos saberes na sociedade capitalista.
- VIGIAR E PUNIR (1975); A VONTADE DE SABER (1976); HISTÓRIA DA SEXUALIDADE (vol. 1) e o primeiro volume de História da Sexualidade: foi a introdução nas análises históricas da questão do poder como um instrumento de análise capaz de explicar a produção dos saberes.
- O poder não é um objeto natural, uma coisa, mas uma prática social e, como tal, é constituída historicamente (p. X). Para Foucault, toda teoria é provisória e acidental, pois depende do estado de desenvolvimento das pesquisas[5].
- O poder não é um objeto natural, uma coisa, mas uma prática social e, como tal, é constituída historicamente (p. X). Para Foucault, toda teoria é provisória e acidental, pois depende do estado de desenvolvimento das pesquisas[5].
- A genealogia tira do Estado o monopólio do poder. Existem formas de exercício de poder diferente da do Estado. O Estado é uma forma específica de espaço de poder. Os poderes periféricos, capilares ou moleculares não são confiscados e absorvidos pelo aparelho de Estado.
- As condições de possibilidades políticas de saberes (medicina ou psiquiatria) podem ser encontradas fora da relação direta com o Estado, mas por uma articulação com poderes locais. “O que aparece como evidência é a existência de formas de exercício do poder diferentes do Estado” (p. XI).
- Há uma relativa independência da periferia com relação ao centro. As mudanças minúsculas do o poder não estão necessariamente ligadas às mudanças do Estado. O controle do Estado por forças progressivas não é o suficiente para transformar a rede de poderes que impera em uma sociedade. “... as análises indicaram claramente que os poderes periféricos e moleculares não foram confiscados e absorvidos pelo aparelho de Estado. Não são necessariamente criados pelo Estado... os micro-poderes existem integrados ou não ao Estado...” (p. XII).
“O importante é que essa relativa independência ou autonomia da periferia com relação ao centro significa que as transformações ao nível capital, minúsculo, do poder não estão necessariamente ligadas às mudanças ocorridas no âmbito do Estado. Isso pode acontecer ou não...” (p. XII).
“A razão é que o aparelho de Estado é um instrumento específico de um sistema de poderes que não se encontra unicamente nele localizado, mas o ultrapassa... nem o controle, nem a destruição do aparelho de Estado, como muitas vezes se pensa... é suficiente para fazer desaparecer ou para transformar... a rede de poderes que impera em uma sociedade” (p. XIII).
- Foucault deu conta do nível molecular de exercício do poder, sem partir do centro para a periferia. Não se trata de minimizar o papel do Estado nas relações de poder existentes em determinada sociedade. Estuda o poder não como uma dominação global e centralizada que se pluraliza e tem repercussão nos outros setores da vida social. O Estado não é necessariamente o ponto de partida, a origem de todo tipo de poder social e do qual se deveria partir para explicar a constituição dos saberes nas sociedades capitalistas.
“O que se pretendia era se insurgir contra a idéia de que o Estado seria o órgão central e único de poder...” (p. XIII).
- O Estado não é o órgão central e único de poder. Os poderes não estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura social. O poder é algo que se exerce. Não existe de um lado os que têm o poder e, de outro, aqueles que se encontram dele alijados. O poder não existe, o que existe são práticas ou relações de poder. Qualquer luta é sempre resistência dentro da própria rede do poder[6]. Onde há poder, há resistência. Não existe o lugar da resistência, mas pontos móveis e transitórios (p. XIV).
O poder é luta, afrontamento, relação de força; não é um lugar que se ocupa, nem um objeto que se possui. É algo que se exerce. É uma disputa que se ganha ou perde
A GENEALOGIA desenvolveu uma concepção não-jurídica do poder[7]. A idéia de Foucault é mostrar que as relações de poder não se passam fundamentalmente ao nível do direito, nem da violência, muito menos no nível meramente contratual.
- VIGIAR E PUNIR: mostra que é falso definir o poder como algo que se diz NÃO, que impõe limites, que castiga. Critica a concepção negativa do poder que o associa a repressão e ao Estado. Este manifestaria o poder aos cidadãos através da repressão. Diz que a dominação capitalista não conseguiria se manter se fosse exclusivamente baseada na repressão.
- O poder tem um lado positivo, transformador e produtivo. O poder produz rituais de verdade. O poder tem como alvo o corpo humano, não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo, adestrá-lo. Pretende-se gerir a vida dos homens, controlar seus comportamentos. Pretende-se fazer o homem produzir mais com poucas inconveniências. Aumentar a força econômica e diminuir a força política. Diminuir sua capacidade de revolta, de resistência, de luta, de insurreição contra as ordens do poder, neutralização dos efeitos de contra-poder. Tornar os homens politicamente dóceis.
- PODER DISCIPLINAR: não é nem uma instituição e nem um aparelho. É uma técnica, um dispositivo, um instrumento de poder. São métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que asseguram a sujeição constante de suas forças e lhes impõe uma relação de docilidade-utilidade. Fabrica o tipo de homem necessário ao funcionamento e manutenção da sociedade industrial capitalista.
- A DISCIPLINA é um tipo de organização do espaço. É uma técnica de distribuição dos indivíduos através da inserção dos corpos em um espaço individualizado e classificatório. A DISCIPLINA[8] é uma sujeição do corpo ao tempo, com o objetivo de produzir com o máximo de rapidez.
- A VIGILÂNCIA é o principal instrumento de controle da disciplina. É uma vigilância contínua e permanente que precisa ser vista pelos indivíduos que a ela estão expostos. Precisa penetrar nos lugares mais recônditos e estar presente a toda hora. Em resumo: PANOPTICON (ver tudo sem ser visto)[9].
- O corpo só se torna força de trabalho quando trabalhado pelo sistema político de dominação característica do poder disciplinar. Pirâmides de olhares: um vigia o outro. O PODER DISCIPLINAR não destrói o indivíduo, ao contrário, ele o fabrica. “A disciplina ao mesmo tempo em que exerce o poder, produz um saber”.
GENEALOGIA: uma de suas teses principais é a de que o PODER produz individualidades. O indivíduo é uma produção ou um efeito do poder e do saber. O indivíduo não pode ser considerado uma matéria inerte anterior e exterior às relações de poder por elas atingido, submetido e destruído. É o hospício que produz o louco como doente mental - personagem individualizado a partir da instauração de relações disciplinares de poder.
- Não é todo o poder que individualiza. Somente o poder disciplinar individualiza, este poder é uma forma específica de dominação. Adestra o gesto, regula o comportamento, normaliza o prazer, interpreta o discurso com o objetivo de fazer aparecer, pela primeira vez na história, o HOMEM, como produção do poder e objeto do saber. Como as ciências humanas apareceram? Arqueologia tende a responder. Porque elas aparecerem? Genealogia tende a responder.
Não se procura as condições de possibilidades históricas das ciências humanas nas relações de produção, como sendo resultante da superestrutura. Não se relaciona o saber com a econômica.
Não se procura as condições de possibilidades históricas das ciências humanas nas relações de produção, como sendo resultante da superestrutura. Não se relaciona o saber com a econômica.
- A GENEALOGIA considera o saber[10] como peça de um dispositivo político que, enquanto dispositivo, se articula co a estrutura econômica. Determinadas práticas políticas disciplinares originam certos domínios de saber.
- Entre a Ciência e Ideologia não há espaços demarcatórios, não são vistas separadamente[11]. O OBJETIVO é neutralizar a idéia que faz da ciência um conhecimento em que o sujeito vence as limitações de suas condições particulares de existência instalando-se na NEUTRALIDADE objetiva do universal; além, de fazer da ideologia um conhecimento em que o sujeito tem sua relação com a verdade perturbada, obscurecida, velada pelas condições de existência.
- A investigação do saber não deve remeter a ORIGEM do conhecimento a um sujeito. Mas a relações de poder que lhe constituem. NÃO HÁ SABER NEUTRO. TODO SABER É POLÍTICO. Todo saber tem sua GÊNESE em relações de poder[12]. Não há relação de poder sem constituição de um campo de saber. Todo saber constitui relações de poder. Todo ponto de exercício do poder é um lugar de formação de saber. Todo saber assegura o exercício do poder.
CAP. 1 – VERDADE E PODER (p. 01)
CAP. 1 – VERDADE E PODER (p. 01)
“Pareceu-me que em certas formas de saber empírico... o ritmo das transformações não obedecia aos esquemas suaves e continuístas de desenvolvimento que normalmente se admite.... Não são simplesmente novas descobertas, é um novo regime no discurso e no saber...” p. 3
- As rupturas referem-se a uma modificação nas regras de formação dos enunciados que são aceitos como cientificamente verdadeiros. É uma questão de política do enunciado científico. É preciso saber: “... que efeitos de poder circulam entre os enunciados científicos... como e porque em certos momentos ele se modifica de forma global” p. 4.
“Admite-se que o estruturalismo tenha sido o esforço mais sistemático para eliminar, não apenas da etnologia, mas de uma série de outras ciências e até da história, o conceito de acontecimento. Eu não vejo quem possa ser mais antiestruturalista do que eu” p. 5.
“Creio que aquilo que se deve ter como referência não é o grande modelo da língua e dos signos, mas sim da guerra e da batalha. A historicidade que nos domina e nos determina é belicosa e não lingüística” p. 5.
“A HISTÓRIA NÃO TEM SENTIDO, o que não quer dizer que seja absurda ou incoerente. Ao contrário, é inteligível e deve poder ser analisada em seus menores detalhes, mas segundo a inteligibilidade das lutas, das estratégias, das táticas” p.5.
- Foucault recusa o SUJEITO CONSTITUINTE, remetendo a problemática das possibilidades discursivas à uma trama histórica. “É preciso se livrar do sujeito constituinte, livrar-se do próprio sujeito, isto é, chegar a uma análise que possa dar conta da constituição do sujeito na trama histórica. É isto que eu chamaria de GENEALOGIA, isto é, uma forma de história que dê conta da constituição dos saberes, dos discursos, dos domínios de objeto, etc. sem ter que se referir a um sujeito, seja ele transcendente com relação ao campo de acontecimentos, seja perseguindo sua identidade vazia ao longo da história” p. 7
O problema não é avaliar num discurso o que de fato revela de cientifico ou verdadeiro, mas “... ver historicamente como se produzem efeitos de verdade no interior de discursos que não são em si nem verdadeiros nem falsos” p. 7.
“O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz o prazer, forma saber, produz discurso. Deve considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir” p. 8.
“... a verdade não existe fora do poder ou sem poder... A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem o seu regime de verdade, sua política geral de verdade, isto é, os tipos de discursos que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiro... o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer que funciona como verdadeiro” p. 12.
“... a verdade é centrada na forma do discurso científico e nas instituições que o produzem; está submetida a uma constante incitação econômica e política (necessidade de verdade tanto para a produção econômica, quanto para o poder político); é objeto, de várias formas, de uma imensa difusão e de um imenso consumo (circula nos aparelhos de educação ou de informação, cuja extensão no corpo social é relativamente grande, não obstante algumas limitações rigorosas); é produzida e transmitida sob o controle, não exclusivo, mas dominante, de alguns grandes aparelhos políticos ou econômicos (universidade, exército, escritura, meios de comunicação); enfim, é objeto de debate político e de confronto social (as lutas ideológicas)” p. 13.
“... por verdade não quero dizer o conjunto das coisas verdadeiras a descobrir ou a fazer aceitar, mas o conjunto de regras segundo as quais se distingue ao verdadeiro do falso e se atribui aos verdadeiros efeitos específicos de poder” p. 13.
CAP. II - NIETZSCHE: A Genealogia e a História (p. 15)
- Foucault diz que os ingleses se ENGANARAM ao “... descrever gêneses lineares... como se as palavras tivessem guardado seu sentido, os desejos sua direção, as idéias sua lógica. Como se esse mundo de coisas ditas e queridas não tivesse conhecido invasões, lutas, rapinas, disfarces, astúcias. Daí, para a genealogia, um indispensável demorar-se: MARCAR A SINGULARIDADE DOS ACONTECIMENTOS... apreender seu retorno não para traçar a curva lenta de uma evolução, mas para reencontrara as diferentes cenas onde eles desempenharam papéis distintos; e até definir o ponto de sua lacuna, o momento e que eles não aconteceram...” p. 15.
“Ela (a genealogia) deve construir seus momentos ciclópicos... Ela se opõe ao desdobramento meta-histórico das significações ideais e das indefinidas teleologias. Ela se opõe à pesquisa da origem” p. 16.
- Nietzsche aborda a questão da genealogia em dois momentos: a) A Gaia Ciência; b) Para Genealogia da Moral; c) Humano, demasiadamente humano. Porque recusar a pesquisa da origem?
“Porque, primeiramente, a pesquisa, nesse sentido, se esforça para recolher nela a essência exata da coisa, sua mais pura possibilidade, sua identidade cuidadosamente recolhida em si mesma, sua forma imóvel e anterior a tudo o que é externo, acidental, sucessivo. Procurar uma tal origem é tentar reencontrar o que era imediatamente, o aquilo mesmo de uma imagem exatamente adequada de si... é querer tirar todas as máscaras para desvelar, enfim, uma identidade primeira[13]”. P. 17.
“De fato, ela é apenas uma invenção das classes dominantes. O que se encontra no começo histórico das coisas não é a identidade ainda preservada da origem - é a discórdia entre as coisas, é o disparate. A história ensina também a rir das solenidades da origem. A alta origem é o exagero metafísico que reaparece na concepção de que no começo de todas as coisas se encontra o que há de mais precioso e de mais essencial[14]” p. 18.
“... gosta-se de acreditar que as coisas em seu início se encontravam em estado de perfeição; que elas saíram brilhantes das mãos do criador, ou na luz sem sombra da primeira manhã. A origem está sempre antes da queda, antes do corpo, antes do mundo e do tempo; ela está do lado dos deuses, e para narrá-la se canta sempre uma teogonia...” p. 18.
OBS: Procura-se despertar o sentimento de soberania do homem mostrando seu nascimento divino. A origem seria o lugar da verdade. Darwin mexeu com tudo isso, ao colocar na origem do homem o macaco.
Fazer genealogia é “... demorar nas meticulosidades e nos acasos dos começos; prestar uma atenção escrupulosa a sua derrisória maldade; esperar vê-los surgir, máscaras, enfim, retiras com o rosto do outro; não ter pudor de ir procurá-las lá onde elas estão, escavando os basfond; deixar-lhes o tempo de elevar-se do labirinto onde nenhuma verdade as manteve jamais sob sua guarda. A GENEALOGIA necessita da história para conjurar a quimera da origem...” p. 19.
“A verdade, espécie de erro que tem a seu favor o fato de não poder ser refutada, sem dúvida por que o longo cozimento da história a tornou inalterável” p. 19.
“A verdade e seu reino originário tiveram sua história na história” p. 19.
“É preciso ser metafísico para lhe procurar uma alma na idealidade longínqua da origem” p. 20.
É a tentativa de encontrar em um indivíduo antepassado um sentimento de caracteriza e marca a sociedade em que viveu. Em vez de encontrar o que de há em comum entre os seres, exclui e esconde as dessemelhanças.
“Lá onde a alma pretende se unificar, lá onde o Eu inventa para si uma identidade ou uma coerência, o genealogista parte em busca do começo - dos começos inumeráveis que deixam esta suspeita de cor, esta marca quase apagada que não saberia enganar um olho, por pouco histórico que seja; a análise da proveniência permite dissociar o EU e fazer pulular nos lugares e recantos de sua síntese vazia, mil acontecimentos agora perdidos” p. 20.
“A genealogia não pretende recuar no tempo para restabelecer uma grande continuidade para além da dispersão do esquecimento; sua tarefa não é a de mostrar que o passado ainda está lá, bem vivo no presente, animando-o ainda em segredo, depois de ter imposto a todos os obstáculos do percurso uma forma delineada desde o início”.
“Seguir o filão complexo da proveniência é manter o que se passou na dispersão que lhe é própria: é demarcar os acidentes, os ínfimos desvios, os erros, as falhas na apreciação, os maus cálculos que deram nascimento ao que existe e tem valor para nós; é descobrir que na RAIZ daquilo que nós conhecemos e daquilo que nó somos – não existem a verdade e o ser, mas a exterioridade do acidente” p. 21.
“A pesquisa da proveniência não FUNDA, muito pelo contrário: ela agita o que se percebia imóvel, ela fragmenta o que se pensava unido; ela mostra a heterogeneidade do que se imaginava em conformidade consigo mesmo” p. 21.
“A genealogia, como análise da proveniência, está, portanto, no ponto de articulação do corpo com a história. Ela deve mostrar o corpo inteiramente marcado de história e a história arruinando o corpo” p. 22.
ORIGEM: emergência, ponto de surgimento, princípio, aparecimento. Interpretar é se apoderar, por violência, de um sistema de regra que não tem em si significação.
“Colocando o presente na origem, a metafísica leva a acreditar no trabalho obscuro de uma destinação que procuraria vir à luz desde o primeiro momento. A GENEALOGIA restabelece os diversos sistemas de submissão: não a potência antecipadora de um sentido, mas o jogo casual da dominação. A emergência se produz sempre em um determinado estado das forças...” p. 23.
“... história que nos permitiria nos reconhecermos em toda parte e dar a todos os deslocamentos passados a forma de reconciliação... é que ela supôs uma verdade eterna, uma alma que não morre, uma consciência sempre idêntica a si mesma” p. 26.
“Ele (o sentido histórico) deve ter apenas a acuidade de um olhar que distingue, reparte, dispersa, deixa operar as separações e as margens – uma espécie de olhar que dissocia e é capaz ele mesmo de se dissociar e apagar a unidade deste ser humano que supostamente o dirige soberanamente para seu passado... reintroduz no devir tudo o que se tinha acreditado imortal no homem... o saber histórico não tem dificuldade em colocá-los em pedaços...” p. 27.
“A genealogia, como análise da proveniência, está, portanto, no ponto de articulação do corpo com a história. Ela deve mostrar o corpo inteiramente marcado de história e a história arruinando o corpo” p. 22.
ORIGEM: emergência, ponto de surgimento, princípio, aparecimento. Interpretar é se apoderar, por violência, de um sistema de regra que não tem em si significação.
“Colocando o presente na origem, a metafísica leva a acreditar no trabalho obscuro de uma destinação que procuraria vir à luz desde o primeiro momento. A GENEALOGIA restabelece os diversos sistemas de submissão: não a potência antecipadora de um sentido, mas o jogo casual da dominação. A emergência se produz sempre em um determinado estado das forças...” p. 23.
“... história que nos permitiria nos reconhecermos em toda parte e dar a todos os deslocamentos passados a forma de reconciliação... é que ela supôs uma verdade eterna, uma alma que não morre, uma consciência sempre idêntica a si mesma” p. 26.
“Ele (o sentido histórico) deve ter apenas a acuidade de um olhar que distingue, reparte, dispersa, deixa operar as separações e as margens – uma espécie de olhar que dissocia e é capaz ele mesmo de se dissociar e apagar a unidade deste ser humano que supostamente o dirige soberanamente para seu passado... reintroduz no devir tudo o que se tinha acreditado imortal no homem... o saber histórico não tem dificuldade em colocá-los em pedaços...” p. 27.
“É preciso despedaçar o que permitia o jogo consolante dos reconhecimentos. Saber, mesmo na ordem histórica, não significa reencontrar e, sobretudo, não significa reencontrar-nos. A história será efetiva na medida em que ela reintroduzir o descontínuo em nosso próprio ser” p. 27.
“A história efetiva faz ressurgir o acontecimento no que ele pode ter de único e agudo. É preciso entender por acontecimento não uma decisão, um tratado, um reino, ou uma batalha, mas uma relação de forças que se inverte, um poder confiscado...” p. 28.
“Mas o verdadeiro sentido histórico reconhece que nós vivemos sem referências ou sem coordenadas originárias, em miríades de acontecimentos perdidos” p. 29.
“A história tradicional... se compraz em lançar um olhar para o longínquo, para as alturas: as épocas mais nobres, as formas mais elevadas, as idéias mais abstratas, as individualidades mais puras...” p. 29.
“Os historiadores procuram, na medida do possível, apagar o que pode revelar, em seu saber, o lugar de onde eles olham, o momento em que eles estão, o partido que eles tomam – o incontrolável de sua paixão” p. 30.
“... o europeu não sabe quem ele é; ele ignora que raças se misturam nele; ele procura que papel poderia ter; ele não tem individualidade” p. 32.
“A esse homem confuso e anônimo que é o europeu – e que não sabe mais quem ele é e que nome deve usar – o historiador oferece identidades sobressalentes aparentemente melhor individualizadas e mais reais do que a sua” p. 33.
“A genealogia é a história como um carnaval organizado” p. 34.
“... esta identidade, bastante fraca, contudo, que nós tentamos assegurar e reunir sob uma máscara, é apenas uma paródia: o plural a habita, almas inumeráveis nela disputam; o sistemas se entrecruzam e se dominam uns aos outros” p. 34.
“A história, genealogicamente dirigida, não tem por fim reencontrar as raízes de nossa identidade, mas ao contrário, se obstinar em dissipá-la, ela não pretende demarcar o território único de onde nós viemos, essa primeira pátria à qual os metafísicos prometem que nós retornaremos; ela pretende fazer aparecer todas as descontinuidades que nos atravessam... Tratava-se, então, de reconhecer continuidades nas quais se enraíza nosso presente: continuidades do solo, da língua, da cidade...” p. 35.
“Se a genealogia coloca, por sua vez, a questão do solo que nos viu nascer, da língua que falamos ou das leis que nos regem, é para clarificar os sistemas heterogêneos que, sob a máscara de nosso eu, nos proíbem toda identidade” p. 35.
- Usar a história para “...destruir as venerações tradicionais a fim de libertar o homem e não lhe deixar outra origem senão aquela em que ele quer se reconhecer” p. 37.
CAP. III – SOBRE A JUSTIÇA POPULAR (p. 39).
“A genealogia é a história como um carnaval organizado” p. 34.
“... esta identidade, bastante fraca, contudo, que nós tentamos assegurar e reunir sob uma máscara, é apenas uma paródia: o plural a habita, almas inumeráveis nela disputam; o sistemas se entrecruzam e se dominam uns aos outros” p. 34.
“A história, genealogicamente dirigida, não tem por fim reencontrar as raízes de nossa identidade, mas ao contrário, se obstinar em dissipá-la, ela não pretende demarcar o território único de onde nós viemos, essa primeira pátria à qual os metafísicos prometem que nós retornaremos; ela pretende fazer aparecer todas as descontinuidades que nos atravessam... Tratava-se, então, de reconhecer continuidades nas quais se enraíza nosso presente: continuidades do solo, da língua, da cidade...” p. 35.
“Se a genealogia coloca, por sua vez, a questão do solo que nos viu nascer, da língua que falamos ou das leis que nos regem, é para clarificar os sistemas heterogêneos que, sob a máscara de nosso eu, nos proíbem toda identidade” p. 35.
- Usar a história para “...destruir as venerações tradicionais a fim de libertar o homem e não lhe deixar outra origem senão aquela em que ele quer se reconhecer” p. 37.
CAP. III – SOBRE A JUSTIÇA POPULAR (p. 39).
“A minha hipótese é que o tribunal não é a expressão natural da justiça popular mas, pelo contrário, tem por função histórica reduzi-la, dominá-la, sufocá-la, reinscrevendo-a no interior de instituições no interior de instituições características do aparelho do Estado” p. 39.
CAP. IV – Os INTELECTUAIS E O PODER: Conversa entre Michel Foucault e Gilles Deleuze (p. 69).
CAP. V – O NASCIMENTO DA MEDICINA SOCIAL (p. 79).
CAP. IV – Os INTELECTUAIS E O PODER: Conversa entre Michel Foucault e Gilles Deleuze (p. 69).
CAP. V – O NASCIMENTO DA MEDICINA SOCIAL (p. 79).
“O controle da sociedade sobre o indivíduo não se opera simplesmente pela consciência ou pela ideologia, mas começa no corpo, com o corpo. Foi no biológico, no somático, no corporal que, antes de tudo, investiu a sociedade capitalista. O corpo é uma realidade bio-política” p. 80.
“A Prússia, o primeiro Estado moderno, nasceu no coração da Europa mais pobre, menos desenvolvida economicamente e mais conflitada politicamente. E enquanto a França e a Inglaterra arrastavam suas velhas estruturas, a Prússia foi o primeiro modelo de Estado Moderno” p. 82.
“A Prússia, o primeiro Estado moderno, nasceu no coração da Europa mais pobre, menos desenvolvida economicamente e mais conflitada politicamente. E enquanto a França e a Inglaterra arrastavam suas velhas estruturas, a Prússia foi o primeiro modelo de Estado Moderno” p. 82.
CAP. VI – O NASCIMENTO DO HOSPITAL (p. 99).
- O hospital deixou de ser um morredouro para ser um local de cura, primeiramente no âmbito simbólico. A saída do negativo para o positivo foi devido a DISCIPLINA e não a partir de técnicas médicas.
“A disciplina é uma técnica de exercício de poder que foi, não inteiramente inventada, mas elaborada em seus princípios fundamentais durante o século XVII... Os mecanismos disciplinares são, portanto, antigos, mas existiam em estado isolado, fragmentado, até os séculos XVII e XVIII, quando o poder disciplinar foi aperfeiçoado como uma nova técnica de gestão dos homens... nova maneira de gerir os homens, controlar suas multiplicidades, utilizá-las ao máximo e majorar o efeito útil de seus trabalhos e sua atividade, graças a um sistema de poder suscetível de controlá-los” p. 105.
“A disciplina do exército começa no momento em que se ensina o soldado a se colocar, se deslocar e estar onde for preciso” p. 106.
“A disciplina é, antes de tudo, a análise do espaço. É a individualização pelo espaço, a inserção dos corpos em um espaço individualizado, classificatório, combinatório” p. 106.
“A disciplina exerce seu controle, não sobre o resultado de uma ação, mas sobre seu desenvolvimento” p. 106.
“A disciplina é uma técnica de poder que implica uma vigilância perpétua e constante dos indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o que fizeram é conforme a regra. É preciso vigiá-los durante todo o tempo da atividade e submetê-los a uma perpétua pirâmide de olhares... A disciplina implica um registro contínuo...” p. 106.
“A disciplina é o conjunto de técnicas pelas quais os sistemas de poder vão ter por alvo e resultado os indivíduos em sua singularidade. É o poder de individualização que tem o exame como instrumento fundamental” p. 107.
- O exame é um elemento pertinente para o exercício do poder.
CAP. VII – A CASA DOS LOUCOS (p. 113).
- A prática científica acredita que em todo lugar há uma verdade a ser vista. Embora adormecida, está lá, à espera de nosso olhar, basta encontrarmos o ângulo certo e os instrumentos necessários. A ESSÊNCIA. Toda verdade tem o seu ritual de cimentação. As tecnologias da verdade mudam com o tempo. A verdade deve ser encarada como um acontecimento produzido por regras e rituais historicamente datadas[15].
“SE existe uma geografia da verdade, esta é a dos espaços onde reside, e não simplesmente a dos lugares onde nos colocamos para melhor observá-la” p. 113. Ex: Delfos era o lugar onde a verdade falava.
CAP. VIII – SOBRE A PRISÃO (p. 129).
“Os historiadores, como os filósofos e os historiadores da literatura, estavam habituados a uma história das sumidades. Mas hoje, diferentemente dos outros, aceitam mais facilmente trabalhar sobre um material ‘não nobre’. A emergência deste material plebeu na história... Foucault se ocupa apenas de medíocres” p. 129.
“... quando penso na mecânica do poder, penso em sua forma capilar de existir, no ponto em que o poder encontra o nível dos indivíduos, atinge seus corpos, vem se inserir em seus gestos, suas atitudes, seus discursos, sua aprendizagem, sua vida quotidiana” p. 131.
“Minha hipótese é que a prisão esteve, desde sua origem, ligada a um projeto de transformação dos indivíduos” p. 131.
- Precisamos “... desvencilhar as cronologias e as sucessões histórias de toda perspectiva de progresso” (História da Loucura).
“... não tomar o ponto em que nos encontramos por final de um progresso que nos caberia reconstituir com precisão na história. Isto é, ter em relação a nós mesmos, a nosso presente, ao que somos, ao aqui e agora este ceticismo que impede que se supunha que tudo isto é melhor ou que é mais do que o passado. O que não quer dizer que não se tente reconstituir os processos geradores, mas sem atribuir-lhes uma positividade, uma valoração” p. 140.
“E o que se passa agora não é forçosamente melhor, ou mais elaborado, ou melhor elucidado do que o que se passou antes” p. 140.
- Os humanistas crêem que há uma separação entre o saber e o poder. Quando se atinge o poder se enlouquece.
- Para Foucault há íntima relação. O poder tem necessidade de desenvolver certos saberes. “... que exercer o poder cria objetos de saber, os faz emergir, acumula informações e as utiliza” p. 141.
“O exercício do poder cria perpetuamente saber e, inversamente, o saber acarreta efeitos de poder... O humanismo moderno se engana, assim, ao estabelecer a separação entre o saber e poder... Não é possível que o poder se exerça sem saber, não é possível que o saber engendre poder” p. 142.
“Cito Marx sem dizê-lo, sem colocar aspas, e como eles não são capazes de reconhecer os textos de Marx, passo por ser aquele que não cita Marx” p. 142.
“Nietsche é aquele que ofereceu como alvo essencial, digamos ao discurso filosófico, a relação de poder. Enquanto que para Marx era a relação de produção. Nietsche é o filósofo do poder...” p. 143.
CAP. IX – PODER x CORPO (p. 145).
- O movimento revolucionário marxista a partir do final do século XIX, privilegia o aparelho de Estado como alvo de luta.
“... o poder não está localizado no aparelho de Estado e que nada mudará na sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo, ao lado dos aparelhos de Estado a um nível muito mais elementar, quotidiano, não forem modificados” p. 150.
CAP. X - SOBRE A GEOGRAFIA (p. 153).
“Território é sem dúvida uma noção geográfica, mas é antes de tudo uma noção jurídica-política: aquilo que é controlado por um certo tipo de poder” p. 157.
“Pois este discurso geográfico que justifica as fronteiras é o discurso do nacionalismo...” p. 161.
“Pois minha hipótese é de que o indivíduo não é o dado sobre o qual se exerce e se abate o poder. O indivíduo - com suas características, sua identidade, fixado a si mesmo - é o produto de uma relação de poder que se exerce sobre corpos, multiplicidades, movimentos, desejos, forças” p. 162.
“Marx, para mim, não existe. Quero dizer, esta espécie de entidade que se construiu em torno de um nome próprio, e que se refere às vezes a um certo indivíduo, às vezes à totalidade do que escreveu e, `s vezes, a um imenso processo histórico que deriva dele... Fazer Marx funcionar como um ‘autor’. Localizável em um manancial discursivo único e suscetível de uma análise em termos de originalidade ou de coerência interna, é sempre possível. Afinal de contas, tem-se o direito de ‘academizar’ Marx. Mas isso é desconhecer a explosão que ele produziu” p. 164.
CAP. XI – GENEALOGIA e PODER (p. 167).
“... o que se poderia chamar insurreição dos saberes dominados. Por saber dominado, entendo duas coisas: por um lado, os conteúdos históricos que foram sepultados, mascarados em coerências funcionais ou em sistematizações formais... os saberes dominados são estes blocos de saber histórico que estavam presentes e mascarados no interior dos conjuntos funcionais e sistemáticos e que a crítica pode fazer reaparecer. Evidentemente através do instrumento da erudição... uma série de saberes que tinham sido desqualificados como não competentes ou inferiores, saberes abaixo do nível requerido de conhecimento ou cientificidade... psiquiatrizado, do doente... no saber da erudição como naquele desqualificado, nestas duas formas de saber sepultado ou dominado, se tratava na realidade do saber histórico da luta” p. 170.
“... nos saberes desqualificados das pessoas jazia a memória dos combates, exatamente aquela que até então tinha sido subordinada” p. 171.
“Chamaremos provisoriamente genealogia o acoplamento do conhecimento com as memórias locais, que permite a constituição de um saber histórico das lutas e a utilização deste saber nas táticas atuais... não é um empirismo, nem um positivismo... Trata-se de ativar saberes locais, descontínuos, desqualificados, não legitimados, contra a instância teórica unitária que pretenderia depurá-los, hierarquizá-los, ordená-los em nome de um conhecimento verdadeiro, em nome dos direitos de uma ciência detida por alguns. Pouco importa que esta institucionalização do discurso científico se realiza em uma universidade ou, de modo geral, em um aparelho político com todas as suas aferências, como no caso do marxismo; são os efeitos de poder próprios a um discurso considerado como científico que a genealogia deve combater” p. 171.
“As questões a colocar são: que tipo de saber vocês querem desqualificar no memento em que vocês dizem é uma ciência?” p. 172.
“A genealogia seria... um empreendimento para libertar da sujeição os saberes históricos, isto é, torná-los capazes de oposição e de luta contra a coerção de um discurso teórico, unitário, forma e científico” p. 172
“Enquanto a arqueologia é o método próprio à análise da discursividade local, a genealogia é a tática que, a partir da discursividade local assim descrita, ativa os saberes libertos da sujeição que emergem desta discursividade” p. 172.
- Trata-se de uma batalha: batalha dos saberes contra os efeitos de poder do discurso científico.
“... o poder é essencialmente repressivo. O poder é o que reprime a natureza, os indivíduos, os instintos, uma classe. Quando o discurso contemporâneo define repetidamente poder como sendo repressivo, isto não é uma novidade. Hegel foi o primeiro a dizê-lo, depois, Freud...” p. 175.
“... as relações de poder nas sociedades atuais têm essencialmente por base uma relação de força estabelecida, em um momento historicamente determinável, na guerra e pela guerra... Sempre se escreve a história da guerra, mesmo quando se escreve a história da paz e de suas instituições” p. 176.
- CONCEPÇÃO DE PODER DO SÉC. XVIII – poder como direito originário que se cede, constitutivo da soberania, tendo como matriz o contrato.
CAP. XII – SOBERANIA E DISCIPLINA (p. 179).
- DIREITO: produz uma verdade (leis) para limitar o poder.
“Não há possibilidade de exercício do poder sem uma certa economia dos discursos de verdade...” p. 179.
“... somos julgados, condenados, classificados, obrigados a desempenhar tarefas e destinados a um certo modo de viver ou morrer em função dos discursos verdadeiros que trazem consigo efeitos específicos de poder... No ocidente, o direito é encomendado pelo rei” p 180.
“... o indivíduo não é o outro do poder: é um de seus primeiros efeitos. O indivíduo é um efeito do poder e simultaneamente, ou pelo próprio fato de ser um efeito, é seu centro de transmissão. O poder passa através do indivíduo que ele contribuiu” p. 183-184.
“A burguesia não se interessa pelo pelos loucos, mas pelo poder. Não se interessa pela sexualidade infantil, mas pelo sistema de poder que a controla...” p. 189.
- O poder para exercer-se é obrigado a formar, organizar e fazer circular um saber, ou melhor, aparelhos de saber.
- SOBERANIA: ler páginas 188-190.
“As disciplinas são portadoras de um discurso que não pode ser o do direito; o discurso da disciplina é alheio ao da lei e da regra enquanto efeito da vontade soberana. As disciplinas veicularão um discurso que será o da regra, não da regra jurídica derivada da soberania, mas o da regra natural, quer dizer, da norma; definirão um código que não será o da lei, mas o da normalização; referir-se-ão a um horizonte teórico que não pode ser de maneira alguma o edifício do direito, mas o do domínio das ciências humanas...” p. 189.
CAP. XIII – A POLÍTICA DA SAÚDE NO SÉCULO XVIII (p. 193)
CAP. XVI – O OLHO DO PODER (p. 209)
“Eu queria saber como o olhar médico havia se institucionalizado; como ele se havia inscrito efetivamente no espaço social; como a nova forma hospitalar era o mesmo tempo o efeito e o suporte de um novo tipo de olhar” p. 209.
“... o olhar vai exigir muito pouca despesa. Sem necessitar de armas, violência física, coações materiais. Apenas um olhar. Um olhar que vigia e que cada um, sentido-o sobre sí, acabará por interiorizar, a ponto de observar a si mesmo; sendo assim, cada um exercerá esta vigilância sobre e contra si mesmo..” p. 218.
“... as técnicas de poder foram inventadas para responder às exigências da produção” p. 223.
- o olhar ocasiona resistência.
CAP. XV – NÃO AO SEXO REI (p. 229)
“Vivemos em uma sociedade que em grande parte marcha ‘ao compasso da verdade’ – ou seja, que produz e faz circular discursos que funcionam como verdade, que passam por tal e que detêm por este motivo - poderes específicos. A produção de discursos verdadeiros é um dos problemas fundamentais do Ocidente” p. 231.
- O discurso fundador é um discurso de afirmação de identidade. É preciso dissolver a falsa unidade.
CAP. XVI – SOBRE A HISTÓRIA DA SEXUALIDADE (p. 243).
“O dito e o não-dito são os elementos dos dispositivos. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos” p . 24
“O dispositivo, portanto, está sempre inscrito em um jogo de poder, estando sempre, no entanto, ligado a uma ou a configurações de saber que dele nascem, mas que igualmente o condicionam... É isto, o dispositivo: estratégias de relações de força sustentando tipos de saber e sendo sustentadas por eles... a epistéme é um dispositivo especificamente discursivo...” p. 246.
“Geralmente se chama instituição todo comportamento mais ou menos coercitivo, aprendido. Tudo que em uma sociedade funciona como sistema de coerção, sem ser um enunciado, ou seja, todo o social não discursivo é a instituição” p. 247.
“O poder não existe... é um feixe de relações mais ou menos organizado, mais ou menos piramidalizado, mais ou menos coordenado” p. 248.
“... as relações de poder são uma relação desigual e relativamente estabilizada de forças” p. 250.
- O poder é representado no ocidente como uma forma negativa, ou seja, jurídica.
“Em relação à loucura (a Revolução Acreana), meu problema era saber como se pode fazer a questão da loucura (da Rev.Ac.)funcionar no sentido dos discursos de verdade, isto é, dos discursos tendo estatuto e função de discursos verdadeiros” p. 258.
“Não há possibilidade de exercício do poder sem uma certa economia dos discursos de verdade...” p. 179.
“... somos julgados, condenados, classificados, obrigados a desempenhar tarefas e destinados a um certo modo de viver ou morrer em função dos discursos verdadeiros que trazem consigo efeitos específicos de poder... No ocidente, o direito é encomendado pelo rei” p 180.
“... o indivíduo não é o outro do poder: é um de seus primeiros efeitos. O indivíduo é um efeito do poder e simultaneamente, ou pelo próprio fato de ser um efeito, é seu centro de transmissão. O poder passa através do indivíduo que ele contribuiu” p. 183-184.
“A burguesia não se interessa pelo pelos loucos, mas pelo poder. Não se interessa pela sexualidade infantil, mas pelo sistema de poder que a controla...” p. 189.
- O poder para exercer-se é obrigado a formar, organizar e fazer circular um saber, ou melhor, aparelhos de saber.
- SOBERANIA: ler páginas 188-190.
“As disciplinas são portadoras de um discurso que não pode ser o do direito; o discurso da disciplina é alheio ao da lei e da regra enquanto efeito da vontade soberana. As disciplinas veicularão um discurso que será o da regra, não da regra jurídica derivada da soberania, mas o da regra natural, quer dizer, da norma; definirão um código que não será o da lei, mas o da normalização; referir-se-ão a um horizonte teórico que não pode ser de maneira alguma o edifício do direito, mas o do domínio das ciências humanas...” p. 189.
CAP. XIII – A POLÍTICA DA SAÚDE NO SÉCULO XVIII (p. 193)
CAP. XVI – O OLHO DO PODER (p. 209)
“Eu queria saber como o olhar médico havia se institucionalizado; como ele se havia inscrito efetivamente no espaço social; como a nova forma hospitalar era o mesmo tempo o efeito e o suporte de um novo tipo de olhar” p. 209.
“... o olhar vai exigir muito pouca despesa. Sem necessitar de armas, violência física, coações materiais. Apenas um olhar. Um olhar que vigia e que cada um, sentido-o sobre sí, acabará por interiorizar, a ponto de observar a si mesmo; sendo assim, cada um exercerá esta vigilância sobre e contra si mesmo..” p. 218.
“... as técnicas de poder foram inventadas para responder às exigências da produção” p. 223.
- o olhar ocasiona resistência.
CAP. XV – NÃO AO SEXO REI (p. 229)
“Vivemos em uma sociedade que em grande parte marcha ‘ao compasso da verdade’ – ou seja, que produz e faz circular discursos que funcionam como verdade, que passam por tal e que detêm por este motivo - poderes específicos. A produção de discursos verdadeiros é um dos problemas fundamentais do Ocidente” p. 231.
- O discurso fundador é um discurso de afirmação de identidade. É preciso dissolver a falsa unidade.
CAP. XVI – SOBRE A HISTÓRIA DA SEXUALIDADE (p. 243).
“O dito e o não-dito são os elementos dos dispositivos. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos” p . 24
“O dispositivo, portanto, está sempre inscrito em um jogo de poder, estando sempre, no entanto, ligado a uma ou a configurações de saber que dele nascem, mas que igualmente o condicionam... É isto, o dispositivo: estratégias de relações de força sustentando tipos de saber e sendo sustentadas por eles... a epistéme é um dispositivo especificamente discursivo...” p. 246.
“Geralmente se chama instituição todo comportamento mais ou menos coercitivo, aprendido. Tudo que em uma sociedade funciona como sistema de coerção, sem ser um enunciado, ou seja, todo o social não discursivo é a instituição” p. 247.
“O poder não existe... é um feixe de relações mais ou menos organizado, mais ou menos piramidalizado, mais ou menos coordenado” p. 248.
“... as relações de poder são uma relação desigual e relativamente estabilizada de forças” p. 250.
- O poder é representado no ocidente como uma forma negativa, ou seja, jurídica.
“Em relação à loucura (a Revolução Acreana), meu problema era saber como se pode fazer a questão da loucura (da Rev.Ac.)funcionar no sentido dos discursos de verdade, isto é, dos discursos tendo estatuto e função de discursos verdadeiros” p. 258.
CAP. XVII – A GOVERNABILIDADE (p. 277).
- O Príncipe: a arte de manter o principado.”Ser hábil em conservar seu principado não é de modo algum possuir a arte de governar... as práticas de governo são, por um lado, práticas múltiplas, na medida em que muita gente pode governar: o pai de família, o superior do convento, o pedagogo... todos estes governos estão dentro do Estado ou da sociedade” p. 280.
...........
[1] A medicina clássica se fundou na história natural. A Medicina moderna na biologia.
[2] Psicologia, sociologia e antropologia.
[3] Biologia, economia e filologia.
[4] Que tem como marco inicial a filosofia de Kant.
[5] A teoria geral subordina a variedade e a descontinuidade a um conceito universal, ou seja, a teoria geral reduz a multiplicidade e as dispersões das práticas de poder. Toda teoria é provisória, acidental.
[6] Ninguém pode escapar dela, pois se exerce numa multiplicidade de relações de forças.
[7] Os filósofos iluministas definiram o poder como “direito originário que se cede, se aliena para constituir a soberania e que tem como instrumento o contrato social”. Assim, o poder se exerce como expressão do direito, algo feito sob a tutela da legalidade. O poder é concebido como violência legalizada.
[8] Tornar o homem útil economicamente e dócil politicamente
[9] Interioriza no sujeito o olhar de quem o olha.
[10] Acontecimento, Prática e Materialidade.
[11] É exatamente isso que a Arqueologia propõe.
[12] É político não pelo fato do Estado se apropriar dele, servindo-se dele como instrumento de dominação.
[13] O ANDARILHO E SUA SOMBRA.
[14] Buscar atrás dos fatos uma essência, um segredo que é a-histórico.
[15] Quais as formas de produção da verdade ou de saber no Acre durante o Centenário?
[2] Psicologia, sociologia e antropologia.
[3] Biologia, economia e filologia.
[4] Que tem como marco inicial a filosofia de Kant.
[5] A teoria geral subordina a variedade e a descontinuidade a um conceito universal, ou seja, a teoria geral reduz a multiplicidade e as dispersões das práticas de poder. Toda teoria é provisória, acidental.
[6] Ninguém pode escapar dela, pois se exerce numa multiplicidade de relações de forças.
[7] Os filósofos iluministas definiram o poder como “direito originário que se cede, se aliena para constituir a soberania e que tem como instrumento o contrato social”. Assim, o poder se exerce como expressão do direito, algo feito sob a tutela da legalidade. O poder é concebido como violência legalizada.
[8] Tornar o homem útil economicamente e dócil politicamente
[9] Interioriza no sujeito o olhar de quem o olha.
[10] Acontecimento, Prática e Materialidade.
[11] É exatamente isso que a Arqueologia propõe.
[12] É político não pelo fato do Estado se apropriar dele, servindo-se dele como instrumento de dominação.
[13] O ANDARILHO E SUA SOMBRA.
[14] Buscar atrás dos fatos uma essência, um segredo que é a-histórico.
[15] Quais as formas de produção da verdade ou de saber no Acre durante o Centenário?
4 comentários:
MUITO OBRIGADO!
Valeu mesmo.Bem completo.
Valeu!
Vou ampliar isto.
Vou fazer uma comentario critico a respeito dessa obra comaparativamente com ideias de outros autores, como tenho pouco tempo darei uma lida neste,,obrigado
muito bom!
Postar um comentário