de Carlos Antônio Bezerra Salgado
Resumo em Português: Há poucas informações sobre a segurança alimentar e nutricional em sociedades indígenas. Estudos sobre esse tema se justificam com a crescente compreensão de que doenças podem ser evitadas com uma dieta equilibrada. Sabemos dos problemas alimentares que ocorrem tanto entre os pobres e os indigentes que têm fome, quanto entre os ricos que comem, mas não se nutrem adequadamente. Nas sociedades indígenas, temos algumas situações graves. Nelas não só as crises de abastecimento alimentar e o uso inadequado dos alimentos disponíveis devem ser considerados, mas também outros fatores, mais profundos, que merecem uma análise criteriosa sobre suas nefastas conseqüências para a saúde. Esses fatores, determinantes da insegurança alimentar são de ordem histórica, social, econômica e ambiental. Não há como dissociar quaisquer dessas dimensões. Terras indígenas foram demarcadas para seu "usufruto exclusivo" e "benefícios sociais" de nossa sociedade lhes foram estendidos para diminuir o sofrimento causado pela desestruturação da vida tribal. Os seus recursos alimentares naturais e os originários de sistemas de produção equilibrada passaram de componentes da sobrevivência autóctone a mercadorias necessárias às frentes de expansão do capital nacional. Ao mesmo tempo em que lhes foi modificada a economia, também lhes foi imposta uma nova condição territorial, com a demarcação de terras que nem sempre atendem à manutenção tradicional da sobrevivência. O sistema de Segurança Alimentar e Nutricional estabelecido ao longo de milênios, em pouco tempo, foi modificado completamente, gerando constantes crises alimentares. Dessa forma, as sociedades indígenas remanescentes vivem uma saga particular de contato com nossa sociedade, que promove, em graus variados, uma ruptura com o “etos tribal”, trazendo modificações nos seus modos de vida. Com a identidade étnica afetada pela perda de parte de suas tradições, absorvem novos elementos culturais. Passam assim a sobreviver de modo semelhante ao da sociedade que os cerca, absorvendo por vezes seus mesmos padrões de nutrição e, conseqüentemente contraindo suas mesmas doenças, o que demanda cuidados extras com a “saúde”. Nesta dissertação, procurou-se realizar um aprofundamento do tema segurança alimentar e nutricional no contexto das sociedades indígenas no Brasil. Analisaram-se, em um recorte, as atuais condições de vida do povo Shanenawá da aldeia Morada Nova, na terra indígena Katukina/Kaxinawá, município de Feijó. Pudemos constatar um elevado grau de ruptura sociocultural, uma redução da diversidade alimentar e uma elevada fragilidade ambiental, com o comprometimento da capacidade de suporte no fornecimento de proteína animal. Foi verificado também um elevado grau de dependência econômica no abastecimento alimentar e com relação a benefícios sociais e empregos, principais geradores de renda.
Palavras-chave em Português: Segurança alimentar, Terras indígenas - sustentabilidade, Índios Shanenawá, Alimentação - Cultura.
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