Dalmir Ferreira - historiador, poeta, artista plástico, membro da Academia Acreana de Letras, e ex-presidente do Conselho de Cultura do Estado do Acre.
14/07/2008.
A instalação de algumas instituições de cultura nas comunidades mais afastadas dos grandes centros urbanos é essencial ao processo de desenvolvimento democrático, não só como auxiliares ao processo político-administrativo, mas principalmente como espaço único de debate e participação da comunidade na construção coletiva do caminho em busca de seu destino. Sendo algo que tende a substituir aos campos de pelada que ainda agrega nossa população desinformada. Isso porque os centros de convivência não despertam ou estimulam a agregação que deveriam.
A implantação do nosso conselho de patrimônio histórico, poderia ter tido um significado maior que o cumprimento de uma determinação judicial, se a ele se tivesse buscado alternativas de agregação/participação apartidária. No entanto, com um papel indefinido quanto a sua atuação, até então serviu apenas para referendar decisões já tomadas, decisões essas, nem sempre respaldadas por estudos mais aprofundados e necessariamente idôneos e representativos da vontade coletiva como deveria.
A implantação do Conselho Estadual de Patrimônio Histórico poderia ter acontecido com a garantia do respeito, da autonomia e da representatividade, num espaço para reuniões periódicas para tratar de seu funcionamento e do estabelecimento de uma política cultural voltada para este fim. Como Estado novo que somos, é fundamental que cada Município esteja atento para essa questão e para isto tenha o apoio e a orientação do poder estadual, segundo consta na constituição.
No entanto de maneira geral, temos tido ao longo de todo esse primeiro século de existência, uma completa desatenção para esta área, somos um povo assumidamente sem memória, pois tudo a ela relativo é frágil e fugaz. Assim, sempre sujeita às tentativas de apossamentos politiqueiros e desrespeitosos, cuja pior marca é a da heteronomia que empobrece qualquer atitude para a efetiva escrita da história.
Nossas elites de maneira geral têm um pé aqui e o outro lá fora, marca de um arrivismo que a desatrela de qualquer vinculo com nossa terra e que torna esse “acreanismo” uma máscara que se contrapõe ao verdadeiro patriotismo do acreano. Sendo bastante que se veja o exagerado valor que vem sendo dado a quem está lá fora em detrimento de tantas boas mentes que aqui afloram e lutam sem que a eles se dê qualquer reconhecimento.
Aqui existem espaços, instituições e pessoas que muito poderiam contribuir nesta área, mas não há interesse do poder, nem há estímulo para os que trabalham nessa área. As instituições de maneira geral sofrem do mal crônico da eterna indiferença dos que comandam a cultura, não sendo desconhecido que muitas delas foram fechadas pela indiferença e desconhecimento dos que lhe deveriam respeito, o que deveria se constituir em crime de responsabilidade contra o próprio Estado. Lamentavelmente sequer temos um inventário de colecionadores, embora saibamos que os haja em boa quantidade.
Enquanto no País, de maneira geral as universidades têm sido chamadas para auxiliar no novo processo de salvaguarda e expansão da memória que se implanta no planeta, no Acre, nosso Departamento de História e o Centro de Documentação Histórica, a despeito do processo de renovação do estatuto da Universidade, não se deram importância às propostas afins que ali foram ventiladas. Enquanto isso o próprio estado, indiferente à morte de seu Instituto Histórico e Geográfico, manda fechar o recém nascido Museu de Belas Artes.
E não foi só isso. Nas escolas de Rio Branco pra não dizer de todo o Estado, jamais chegou qualquer notícia sobre educação patrimonial que é atualmente um assunto importante para nossa educação. Enfim, são muitos os nossos desacertos para com esta área, que ao perdurar nos proporcionam uma regressão cujo preço certamente poderá ser de um preço muito alto, sobretudo nesse contexto de crescente cobiça pela Amazônia.
Nosso despertar como Estado da federação não precisa ser modificado como querem alguns políticos, porque disso tiram suas vantagens. Também não foi tão bonito como querem outros sonhadores indiferentes aos estudos históricos que estão por ser feitos. Nem foi tão feio que não mereça nosso mais alto respeito, isso afinal não pode ser escolha nossa.
O importante é que tenhamos consciência de que não podemos ficar reféns de um poder que perigosamente não se importa com a memória, a ponto de que a sociedade civil tenha que estar a cobrar sua atuação. Será necessário criarmos novamente um Estado Independente, não da Federação. Mas da safadeza estabelecida.
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