quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
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sábado, 22 de dezembro de 2012
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
UM HISTORIADOR VALE TANTO QUANTO UM MÉDICO OU UM ADVOGADO, NÃO É?
Por Marcos Silva
- Professor Titular de Metodologia da História, FFLCH/USP -
O Senado brasileiro vem de aprovar lei regulamentando a profissão de Historiador. A partir de agora, algumas tarefas específicas passarão a ser privilégio profissional de quem tiver formação acadêmica na área. Não é a primeira carreira de nível superior que merece essa regulamentação. Mesmo no campo das Ciências Humanas, Sociólogos e Geógrafos já desfrutam há alguns anos de condição similar.
Participo do debate sobre a questão, na área de História, ao menos desde os anos 80 do século XX. Lembro de colegas que sustentavam a falta de necessidade de regulamentação em nosso espaço profissional, considerando que importantes historiadores brasileiros do século XX (Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda e Caio Prado Jr.) não tinham formação em curso superior de História. Esse argumento apresentava duas graves fragilidades: 1) quando os três fizeram cursos superiores, não havia bacharelado em História no Brasil; 2) Freyre, Buarque de Hollanda e Prado Jr. tiveram condições pessoais ou familiares para requintadas formações humanísticas fora do Brasil – respectivamente, Estados Unidos, Alemanha e Grã-Bretanha.
A situação é muito diferente para um jovem brasileiro de classe média ou menos que, nos dias de hoje, estuda História e se lança num mercado de trabalho fortemente regulamentado noutras áreas. Permanecer nesse mercado fora de suas regras dominantes
é assistir à consolidação dos direitos alheios sem garantia de direitos próprios.
Regulamentar uma profissão é definir exclusividades de exercício, sim. Isso não se confunde com impedir o direito ao pensamento. A História, como tema, sempre será objeto de livre acesso para jornalistas, ficcionistas, advogados, médicos, cidadãos em geral... O desempenho profissional na área, diferentemente, dependerá de uma comprovada capacidade técnica e teórica, obtida em formação acadêmica – como ocorre em relação a médicos, engenheiros, dentistas...
Há quem legitime a regulamentação de algumas carreiras (Medicina e Direito, particularmente) e reivindique a liberdade de prática profissional para as demais: Medicina lida com vidas humanas, Direito zela pelas garantias individuais e coletivas
diante da Lei. Quer dizer que falar sobre o tempo humano (fazer, memória) não possui igual magnitude? Quer dizer que pesquisar e ensinar o Holocausto Nazista ou a Ditadura brasileira de 1964/1984 não é tão minucioso quanto interpretar uma lei ou fazer uma cirurgia? Não vejo hierarquia entre essas práticas. Respeito muito os colegas profissionais de outras áreas regulamentadas. Tenho muito respeito por mim mesmo e pelos demais colegas de minha área profissional.
Enquanto houver regulamentação de algumas profissões, não vejo legitimidade em exigir desregulamentação de outras. Agora, podemos conversar sobre desregulamentação geral das profissões no Brasil. Quem se habilita?
PROJETO DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE HISTORIADOR APROVADO NO SENADO
No dia 7 de
novembro foi aprovado no Senado Federal o projeto de Regulamentação da
Profissão de Historiador (PLS 368 de 2009). A aprovação resultou do esforço da
Diretoria da ANPUH-Brasil que, cumprindo determinação da Assembléia Geral da
entidade realizada em São Paulo no mês de julho do ano passado, tem envidado
esforços para que essa meta seja atingida.
No dia 6, o
presidente da ANPUH-Brasil deslocou-se para Brasília a fim de solicitar apoio
dos senadores à medida, bem como seu empenho em inseri-la na Ordem do Dia do
Senado, já que o projeto havia tramitado em todas as comissões necessárias,
restando apenas ser votado em Plenário.
Foram visitados
os gabinetes dos seguintes senadores: Jarbas Vasconcelos, Ciro Nogueira, Clésio
Andrade, João Capiberibe, Eduardo Suplicy, Jayme Campos, Sérgio Souza, Antonio
Carlos Valadares, Magno Malta, Álvaro Dias, Paulo Paim e Ana Amélia Lemos.
Fomos recebidos ou diretamente pelos senadores (Capiberibe, Suplicy, Dias e
Malta) ou por seus assessores. Todos se mostraram favoráveis ao projeto e
prometeram trabalhar para a sua aprovação.
Ao final do
tarde, a Senadora Ana Amélia, apoiadora da causa, foi mais além e encarregou-se
de solicitar, naquele mesmo dia, a inclusão da votação da matéria na Ordem do
Dia, o que foi acatado pelo presidente da sessão, Senador Paulo Paim, autor do
Projeto. Iniciadas as discussões, manifestaram-se contrariamente ao projeto os
senadores Aloysio Nunes Ferreira e Pedro Taques.
O Senador Ferreira, inclusive,
se manifestou oralmente em oposição à proposta, considerando "um profundo
equívoco" dar exclusividade em atividades de ensino e pesquisa, seja em
graduação ou pós-graduação, apenas para quem tem formação em História. Na opinião
do parlamentar, a situação cria "absurdos" como impedir que
economistas, sociólogos, diplomatas ou outros profissionais qualificados
ministrem a disciplina, havendo o risco de "engessar" o ensino da
História. Citou inclusive os nomes dos eminentes intelectuais Evaldo Cabral de
Mello e Alberto da Costa e Silva como pessoas que ficariam impedidas de
escrever e lecionar sobre o tema.
Ora, tal
posicionamento expressa, ao nosso ver, desconhecimento do teor do projeto, já
que o que se pretende não é impedir ninguém de escrever ou se manifestar sobre
o passado, mas sim assegurar a presença de historiadores profissionais, com
formação específica, nas instituições que realizem pesquise e ensino de
História. Além disso, pelo raciocínio do Senador, não seria um problema a
situação que, infelizmente, ocorre hoje, na qual, em diversos espaços
profissionais, historiadores acabam tendo que lecionar Geografia, Sociologia,
Artes, entre outras matérias, sem terem conhecimentos específicos para isso (e
vice-versa), o que certamente prejudica a formação dos estudantes dos variados
níveis de ensino.
Também por analogia, poder-se-ia, caso a perspectiva do
Senador fosse correta, pensar que grandes atletas teriam a possibilidade de
lecionar Educação Física nas escolas, sem possuírem para isso conhecimentos de
Anatomia, Fisiologia, Movimento Humano, Pedagogia, entre outros, apenas a sua
prática em determinados esportes (não é à toa que muitos atletas percebem tal
lacuna formativa e, em algum momento de sua carreira, ingressam em cursos de
Educação Física). Por fim, nem é preciso dizer o quanto a ANPUH reconhece e
admira o trabalho de estudiosos como Cabral de Mello e Costa e Silva e sua
contribuição à historiografia brasileira, inclusive convidando-os a participar
de eventos promovidos pela entidade.
Já a senadora
Ana Amélia defendeu o projeto ao ler relatório do senador Flexa Ribeiro, em que
este declara que "a omissão do legislador pode permitir que pessoas
inabilitadas no exercício profissional coloquem em risco valores, objetos ou
pessoas".
Ao final, como
ressaltado, o projeto foi aprovado com o apoio de todos os líderes partidários.
Por essa razão, as visitas do dia seguinte foram canceladas, mas mesmo assim
registramos nosso apoio aos seguintes senadores que se disponibilizaram a nos
receber: José Pimentel, Zezé Perrella, Renan Calheiros, Lúcia Vânia, Cacildo
Maldaner, José Agripino, Luiz Henrique da Silveira, Wellington Dias, Antonio
Carlos Rodrigues, Aníbal Diniz, Lídice da Mata, Alfredo Nascimento e Pedro
Taques (que, acreditamos, teria compreendido melhor o teor do projeto se
tivéssemos tido a oportunidade de conversar antes da votação).
Ressaltamos,
contudo, que a nossa luta deve ter continuidade, pois a matéria segue agora
para votação na Câmara dos Deputados. Por isso, solicitamos às/aos colegas que
pressionem os deputados de seus estados em prol da celeridade da tramitação e,
é claro, da aprovação do projeto.
Nesta
articulação, foi fundamental o apoio do colega historiador Marcos Ronaldo F. de
Araújo, também presidente da Associação dos Servidores do Ministério Público
Federal, que gentilmente ajudou na articulação parlamentar no Senado.
PARABÉNS A
TODOS NÓS!!!
PROFISSÃO
DE HISTORIADOR: MARCHA DA INSENSATEZ OU DO DESCONHECIMENTO?
Nós,
historiadores profissionais, sabemos que uma das regras básicas do nosso ofício
é a elaboração de um discurso de prova, assentado na pesquisa e na crítica dos
vestígios do passado, os documentos . Fernando Rodrigues, por não ter essa
formação, talvez desconheça essa regra tão elementar e, por isso, não se deu ao
trabalho de ler com atenção o documento que deveria balizar a sua análise (sic)
publicada no jornal Folha de São Paulo de 10 de novembro de 2012: o Projeto de
Regulamentação da Profissão de Historiador, aprovado no Senado Federal na
última quarta-feira. Em nenhum momento este projeto veda que pessoas com outras
formações, ou sem formação alguma, escrevam sobre o passado e elaborem
narrativas históricas.
Apenas estabelece que as instituições onde se realiza o
ensino e a pesquisa de História contem com historiadores profissionais em seus
quadros, por considerar que, ao longo de sua formação, eles desenvolvem
habilidades específicas como a crítica documental e historiográfica e a
aquisição de conhecimentos teóricos, metodológicos e técnicos imprescindíveis à
investigação científica do passado. Da mesma maneira, a regulamentação pode
evitar que continuem a se verificar, nos estabelecimentos de diversos níveis de
ensino, situações como a de o professor de História ser obrigado a lecionar Geografia,
Sociologia, Educação Artística, entre outras disciplinas, sem ter formação
específica para isso (e vice-versa).
Temos certeza
que o Senador Cristovam Buarque, tão sensível aos problemas da educação
brasileira, apóia esta idéia, pois ela possibilita um ensino mais qualificado.
Temos certeza
também que o Senador José Sarney, conhecedor do teor do projeto, está
tranqüilo, pois sabe que não vai ser impedido, como nenhum cidadão brasileiro,
de escrever sobre a história de seu estado, ou de qualquer período, indivíduo,
localidade ou processo. Isso atentaria contra as liberdades democráticas, das
quais os historiadores profissionais são grandes defensores.
Fique tranqüilo
senhor Fernando Rodrigues, o senhor também poderá escrever sobre história. Só
sugerimos que leia os documentos necessários antes de o fazer.
Benito Bisso
Schmidt
Presidente da Associação Nacional de História – ANPUH-Brasil
(Gestão 2011-2013)
A ANPUH
E O ENSINO DE HISTÓRIA
A segunda
secretaria da Anpuh, responsável pelo Fórum de Graduação, juntamente com a
atual coordenação do GT Nacional Ensino de História e Educação, tem procurado,
desde sua constituição, estabelecer princípios norteadores conjuntos para o
desenvolvimento de suas ações, cujas diretrizes foram definidas na reunião nacional,
acontecida em março de 2012.
Neste sentido,
temos ouvido as demandas dos colegas das distintas regiões do país e assumimos
as ações da 2ª secretaria apoiando firmemente a atuação do GT Nacional em sua
articulação para construção coletiva e articulada dos GTs estaduais. Seguindo
esses princípios, temos atuado em diversas frentes: acompanhando e participando
o debate das Políticas Públicas que afetam o ensino de História; estimulando a
participação dos professores da Educação Básica por meio de campanhas de
mobilização; fortalecendo a articulação interna da entidade, por meio do
fomento dos GTs estaduais (nesse sentido, foram criados ou reativados 09 GTs
estaduais); e constituindo um eixo de pesquisa vinculado ao GT, por meio do
Projeto Panorama.
Recentemente,
uma série de eventos trouxe à baila discussões sobre o lugar da disciplina
História no currículo da Educação Básica e o espaço da pesquisa na área do
ensino de História, nas instituições de Ensino Superior, em particular, nos
cursos de História. O edital para um concurso de professor para a área de
Ensino de História na Universidade Estadual do Ceará, que excluía a
participação de doutores em outras áreas, alimentou um importante debate
relativo ao perfil dos profissionais que atuam na área e ao sentido de
manutenção de uma área de pesquisa, que, infelizmente, ainda parece não obter
reconhecimento em certos segmentos acadêmicos. Por outro lado, a difusão das
"Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio" a partir das
discussões a respeito do "mau" desempenho das escolas públicas no
ENEM, deu-se em meio a uma discussão enviesada que apontava para o suposto
inchaço do currículo e a necessidade de "fusão" das disciplinas em
áreas, trazendo à baila a possibilidade de esvaziamento e destituição das
disciplinas de seus estatutos específicos de cientificidade. Essas discussões,
que acenderam debates sobre a possibilidade de "retorno" de uma
formação aligeirada em Ciências Humanas e um novo movimento de reformas do
Ensino Médio, têm sido objeto das preocupações da ANPUH-Brasil.
Por isso,
recentemente, a 2ª secretaria, por intermédio do GT, e em nome da Direção
Nacional, solicitou reuniões junto ao MEC, a CAPES e ao Conselho Nacional de
Educação (CNE), para solicitar informações sobre as reformulações em curso e
discutir os rumos das políticas públicas que afetam o ensino de História. Para
representar a ANPUH nessas reuniões foram indicados os membros GT de Ensino de
História e o Prof. Carlos Augusto Lima Ferreira. Essas reuniões ocorreram todas
no dia 01/10/12 em Brasília.
As pautas das
reuniões foram diferenciadas, segundo uma agenda específica previamente
acertada com cada um dos órgãos. Na CAPES, nos reunimos com o coordenador do
PIBID, Prof. Helder Eterno da Silveira. Discutimos o PIBID na área de História
e expressamos a intenção de organizar um evento de caráter nacional, em
articulação com outras entidades, que reúna as experiências desse programa, com
o objetivo de refletir sobre os resultados do programa na Educação Básica e os
impactos nos cursos Licenciatura de História. No MEC nos reunimos com a
Diretora de Currículos e Educação Integral, a Profa. Jaqueline Moll, e com a
Coordenadora Geral do Ensino Médio, a Profa.
Sandra Garcia, para tratarmos da
pauta da reforma do Ensino Médio e os caminhos indicados pelos debates em torno
do ENEM. Expressamos a preocupação da entidade de que a reforma induza as redes
de ensino a suprimirem as disciplinas criando áreas amorfas e
descaracterizadas. Segundo a equipe do MEC, a intenção não é realizar uma
reforma que trabalhe com essa perspectiva para as redes, mas sim fomentar um
debate preliminar no MEC sobre os desdobramentos das novas diretrizes
curriculares, que tem sido feito na perspectiva dos "direitos de
aprendizagem" dos alunos. Segundo o MEC o objetivo é ampliar esse debate
e, na ocasião, convocou a ANPUH – como entidade coletiva dos historiadores – a
participar das discussões, junto a outras associações de ensino. No CNE, nos
reunimos com o presidente da Câmara de Ensino Superior, o Prof. Gilberto
Gonçalves Garcia, para tratarmos dos possíveis desdobramentos das reformas
sobre as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de História. Nesse
sentido, a ANPUH foi convidada a articular uma reunião com as demais
associações representativas da área de humanas, junto ao CNE para iniciar essa
discussão.
O objetivo
destas reuniões foi provocar no MEC, CAPES e CNE, a necessidade de ampliar os
debates sobre as novas diretrizes curriculares nacionais e seus impactos sobre
a disciplina História e a formação dos professores nessa área, por meio do
diálogo com instituições coletivas, como a ANPUH, AGB, dentre outras.
Representantes
do GT Ensino de História e Educação da ANPUH também participaram de outra
reunião no CNE, ocorrida em 10/10/12. Articulada pela SBPC, a reunião contou
com presença de diversas associações científicas. A possível integração das
disciplinas escolares em áreas comuns gerou amplas discussões. A divulgação do
tema realizada por órgãos da imprensa promoveu repercussões tanto entre as
sociedades científicas como nos espaços escolares, motivando manifestações que
apontam para a incompatibilidade dos atuais processos formativos no âmbito do
ensino superior com a suposta proposta de integração disciplinar que partiria
do MEC.
Os conselheiros
José Fernandes Lima (presidente do CNE) e Erasto Fortes Mendonça esclareceram
aos presentes que as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio mantêm as disciplinas escolares. Apresentando o relato da reunião
realizada no dia 01/10 no MEC, os representantes da ANPUH reforçaram as falas
dos conselheiros, informando que os integrantes do referido órgão governamental
pretendem contar com o apoio das associações científicas para avançar no debate
relativo às reformas curriculares.
Os
encaminhamentos da reunião acerca da discussão das reformas curriculares para o
Ensino Médio foram os seguintes: estreitamento das relações entre as
associações científicas para a intervenção nas questões educacionais;
articulação das associações científicas no sentido de participar do processo de
discussão curricular; elaboração de um documento solicitando ao MEC um encontro
do ministro com as associações científicas para o estudo de propostas,
considerando sua viabilidade e potencial de implementação.
Como resultados
desses encontros, apontamos a abertura do MEC, e dos demais órgãos visitados,
ao diálogo sobre os temas levantados, reconhecendo a ANPUH como uma das
entidades qualificadas para esse debate.
Como
encaminhamentos dessas reuniões, estamos buscando outras entidades e
associações para constituir um espaço de diálogo mais amplo relativo aos
desdobramentos das novas Diretrizes Curriculares Nacionais; além disso, também
estamos articulando formas de participação, que assegurem a mobilização
coletiva nesse processo, enfatizando tratar-se de um debate público, que,
necessariamente, expressará diferentes visões sobre o tema. Afinal, entendemos
que uma de nossas tarefas, naquilo que cabe à 2ª secretaria e ao GT, é forjar
os meios para que os associados da ANPUH-Brasil possam se manifestar e promover
ações que deem visibilidade ao debate.
Carlos Augusto
Lima Ferreira
2º secretário da ANPUH-Brasil (Gestão 2011-2013)
Arnaldo
Pinto Jr, Paulo Mello e Ricardo Oriá
Coordenadores do GT de Ensino de História da ANPUH-Bra
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
VI Simpósio Linguagens e Identidades da/na Amazônia Sul-Ocidental
Apresentação
“Literaturas
e estudos culturais nas Amazônias”. Com este tema abrimos o VI Simpósio
Linguagens e Identidades da/na Amazônia Sul-Ocidental, que acontece em conjunto
com o V Colóquio Internacional as Amazônias, as Áfricas e as Áfricas na Pan-Amazônia,
encerrando um ciclo de discussões extremamente fecundo para o fortalecimento
das redes de contatos, estudos e pesquisas envolvendo três universidades
brasileiras (PUC-SP, UFG, UFAC) e a Universidade do Texas (UT – EUA), iniciado
com o Convênio Capes/UT (2007-2012) a partir do projeto “Identidades
diaspóricas em trânsito no Atlântico sul: áreas de culturas negras entre
África, Brasil, Caribe”.
Com este
simpósio, que atravessa as fronteiras Pan-amazônicas e Pan-americanas, o
Programa de Pós-Graduação (PPG) em Letras: Linguagem e Identidade da
Universidade Federal do Acre (Ufac), por intermédio dos grupos de pesquisa que
dão sustentação ao evento, em parceria com o Núcleo de Estudos das Culturas
Amazônicas e Pan-Amazônicas (Nepan), com o Centro de Estudos Culturais
Africanos e da Diáspora (Cecafro – PUC-SP), com o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – Acre e com o Instituto Federal do Acre
(Ifac) concorrem para o fortalecimento das ações acadêmicas, com especial
atenção para as questões que têm a ver com a difusão e circulação de pesquisas,
num significativo intercâmbio de conhecimentos produzidos como parte da função
social de cada uma dessas instituições.
As mesas de
conferências, sessões temáticas, atividades artísticas, sessões de pôsteres e
comunicações livres, mini-cursos e Grupos de Trabalho, abrangendo complexos e
variados temas da atualidade, contarão com a presença de estudantes,
pesquisadores e professores de diversas instituições de ensino, mas,
fundamentalmente, com lideranças e professores indígenas, a exemplo de Joaquim
Maná Kaxinawa, Lucas Manchineri e Francisca Arara, que, ao lado de Elias Rosendo,
poeta seringueiro – primeiro presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de
Brasiléia, berço da luta sindical na Amazônia acreana – e de Aldísio
Filgueiras, poeta e escritor amazonense, permitem-nos antever a riqueza das
reflexões e trocas de saberes que ocorrerão no período de 5 a 9 de novembro, no
âmbito do Campus Universitário da UFAC.
Ao longo
desses seis anos de realização do simpósio, temos acumulado muitas expectativas
e quase nenhuma certeza, especialmente, porque, a cada ano, surgem novas
surpresas, aprendizagens, perguntas, inquietações e dúvidas, lançando-nos em
zigue-zague, recuos e avanços, mas, também, convidando-nos a imprescindíveis
paradas, a ouvir as vozes dos silêncios e a elaborar/tecer outras palavras na
gestualidade de nossos corpos que se produzem e reproduzem em muitas
metamorfoses e trocas com as cores, formas e sons da natureza, transitando em
meio à melodia de nossos movimentos e a poesia de nossas vidas.
A partir
dessa perspectiva, pensamos o horizonte como premissa e não apenas para nossas
lutas cotidianas pelo direito à vida, à liberdade, à diferença e ao espaço
público – lugar da pluralidade e direito de todos. Essa é a perspectiva da
afirmação de nossas culturas humanas, no dizer de Édouard Glissant,
identificando-se “umas com as outras, para, a partir de então, se transformarem
mutuamente”. Um bom encontro/desencontro para todos.
Rio Branco, Acre,
inverno de 2012.
A Comissão de Organização
domingo, 28 de outubro de 2012
Resumo. BARTHES, Roland. MITOLOGIAS.
BARTHES,
Roland. MITOLOGIAS. Ed. 9°. Tradução: Rita Boungermino e Pedro de
Souza. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S. A. 1993.
- O livro foi
escrito entre os anos 10954 e 1956. “Tentava então refletir regularmente sobre
alguns mitos da vida cotidiana francesa... O ponto de partida desta reflexão
era, as mais das vezes, um sentimento de impaciência frente ao ‘natural’ com
que a imprensa, a arte, o senso comum, mascaram continuamente uma realidade...”
p. 7.
“A noção
de mito pareceu-me desde logo designar estas falsas evidências... o mito é uma
linguagem” p. 7.
“... o que
procurei com tudo isto foi captar significações... Exijo a possibilidade de
viver plenamente a contradição da minha época, que pode fazer de um sarcasmo a
condição da verdade” p. 8.
“É grave a
situação de uma sociedade que começa a desenvolver gratuitamente as formas de
suas virtudes” p. 43.
SEGUNDA
PARTE – O Mito, hoje.
CAP. 1 – O
MITO É UMA FALA (p. 131)
“... o mito é um sistema de comunicação, é uma mensagem...
ele é um modo de significação, uma forma... o mito é uma fala, tudo pode
constituir um mito, desde que seja suscetível de ser julgado por um discurso”
p. 131.
“O mito não
se define pelo objeto da sua mensagem, mas pela maneira como a profere: o mito
tem limites formais, mas não substanciais. Logo, tudo pode ser mito? Sim, julgo
que sim...” p. 131.
“... pode
conceber-se que haja mitos muito antigos, mas não eternos; pois é a história
que transforma o real em discurso, é ela e só ela que comanda a vida e a morte
da linguagem mítica... o mito é uma fala escolhida pela história: não
poderia de modo algum surgir da natureza das coisas” p. 132.
“O mito não
pode definir-se nem pelo seu objeto, nem pela sua matéria, pois qualquer
matéria pode der arbitrariamente dotada de significação...” p. 132.
“Entender-se-á,
portanto, daqui para diante, por linguagem, discurso, fala, etc, toda a unidade
ou toda a síntese significativa, quer seja verbal ou visual... os próprios
objetos poderão se transformar em fala se significarem alguma coisa” p. 133.
“... a
mitologia é apenas um fragmento dessa basta ciência dos signos que Saussure
postulou... sob o nome de semiologia... postular uma significação é recorrer à
semiologia... A semiologia é uma ciência das formas, visto que estuda
as significações independentemente do seu conteúdo” p. 133.
- A mitologia estuda idéias-em-forma, por isso, faz parte
da semiologia e da ideologia. Um único
significante pode passar por inúmeros processos de significação.
Significante
|
Significado
|
|
SIGNO
Significante (2)
|
Significado (2)
|
|
SIGNO (3)
|

![]() |
|||
![]() |
|||

“É preciso
não esquecer que, contrariamente ao que sucede na linguagem comum, que me diz
simplesmente que o significante exprime o significado, devem-se considerar em
todo o sistema semiológico não apenas dois, mas três termos diferentes...
temos, portanto, o SIGNIFICADO, o SIGNIFICANTE e o SIGNO, que é o total
associativo dos dois primeiros termos” p. 134-135.
“... o mito é
um sistema particular, visto que ele se constrói a partir de uma cadeia
semiológica que existe já antes dele: é um sistema semiológico segundo. O que é signo no primeiro sistema,
transforma-se em simples significante no segundo” p. 136.
“...É da
língua de que o mito se serve para construir o seu próprio sistema; e o próprio
mito, a que chamarei metalinguagem, por que é uma segunda língua, na qual se
fala da primeira” p. 137.
“Sabemos
agora que o significante
pode ser encarado, no mito, sob dois pontos de vista: como termo final d
sistema lingüístico, ou como termo inicial do sistema mítico.
Precisamos, portanto, de dois nomes: no plano da língua, isto é, como termo
final do primeiro sistema, chamarei ao significante – SENTIDO... no plano do
mito, chamar-lhe-ei – FORMA. Quanto ao significado, não há ambigüidade
possível: continuaremos a chamar-lhe conceito. O terceiro termo é a correlação
dos dois primeiros: no sistema da língua é o signo; mas não se pode retomar
esta palavra sem ambigüidade, visto que, no mito (e isto constitui a sua
particularidade principal) o significante já é formado pelos signos da língua.
Chamarei ao terceiro termo do mito, SIGNIFICAÇÃO... porque o mito tem efetivamente uma dupla função:
designa e notifica, faz compreender e impõe” p. 138-139.
“O
significante do mito apresenta-se de uma maneira ambígua: é simultaneamente
sentido e forma, pelo de um lado, vazio do outro” p. 139.
“... o
sentido do mito tem um valor próprio, faz parte de uma história” p. 139.
- Quando o
significante já está pleno, o mito o esvazia. Nega a história, permanece apenas
a letra. A forma faz com que haja uma pobreza que requer uma significação que a
preencha.
“Mas o ponto
capital em tudo isto é que a forma não suprime o sentido, empobrece-o apenas,
afasta-o, conservando-o à sua disposição. Cremos que o sentido vai morrer, mas
é uma morte suspensa: o sentido perde o seu valor, mas conserva a vida, que vai
alimentar a forma do mito. O sentido passa a ser para a forma como uma reserva
instantânea de história, como uma riqueza submissa, que é possível aproximar e
afastar numa espécie de alternância rápida: é necessário que a cada momento a
forma possa reencontrar raízes no sentido, e aí se alimentar... jogo de
esconde-esconde entre o sentido e a forma que define o mito. A forma do mito
não é um símbolo... é uma presença emprestada” p. 140.
“Através do
conceito, toda uma história nova é implantada no mito...” p. 141.
“... o que se
investe no conceito é menos o real do que um certo conhecimento do real;
passando do sentido à forma, a imagem perde parte do seu saber: torna-se
disponíveis para o saber do conceito. De fato, o saber contido no conceito
mítico é um saber confuso, constituído por associações moles, ilimitadas” p.
141.
“Um
significado pode ter vários significantes... posso encontrar mil imagens que me
signifiquem a imperialidade francesa” p. 141.
“No mito... o
conceito pode cobrir uma grande extensão de significante: por exemplo, um livro
inteiro será o significante de um só conceito... não existe nenhuma rigidez nos
conceitos míticos: podem construir-se, alterar-se, desfazer-se, desaparecer
completamente. E é precisamente porque é histórico, que a história pode
facilmente suprimi-lo” p. 142.
“Conforme se
vê, a significação é o próprio mito, exatamente como o signo saussuriano é a
palavra” p. 143.
“O mito não
esconde nada: tem como função deformar, não fazer desaparecer. Não há nenhuma
latência do conceito em relação à forma: não é absolutamente necessário um
inconsciente para explicar o mito” p. 143.
“A relação
que une o conceito do mito ao sentido é essencialmente uma relação de deformação...
para Freud, o sentido latente do comportamento deforma o sentido manifesto,
assim, no mito, o conceito deforma o sentido. Naturalmente, esta deformação só
é possível porque a forma do mito já é constituída por um sentido lingüístico”
p. 143.
- O que o
conceito deforma é o sentido, o objeto fica sem história, é transformado em
gesto. Retira-se a memória e não a existência.
“... o
sentido existe sempre para apresentar a forma; a forma existe sempre para
distanciar o sentido” p. 145.
“Sabemos que
o mito é uma fala definida pela sua intenção, muito mais do que pela sua
literalidade” p. 145.
- Sabe-se
que, na língua, o signo é arbitrário: nada obriga ‘naturalmente’ a imagem
acústica a significar o conceito: o signo é imotivado.
“...
encarregado de ‘transmitir’ um conceito intencional, o mito só encontra traição
na linguagem, pois a linguagem ou elimina o conceito escondendo-o, ou o
desmascara dizendo-o” p. 150.
“... tudo se
passa como se a imagem provocasse naturalmente o conceito, como se o
significante criBARTHES,
Roland. MITOLOGIAS. Ed. 9°. Tradução: Rita Boungermino e Pedro de
Souza. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S. A. 1993.
- O livro foi
escrito entre os anos 10954 e 1956. “Tentava então refletir regularmente sobre
alguns mitos da vida cotidiana francesa... O ponto de partida desta reflexão
era, as mais das vezes, um sentimento de impaciência frente ao ‘natural’ com
que a imprensa, a arte, o senso comum, mascaram continuamente uma realidade...”
p. 7.
“A noção
de mito pareceu-me desde logo designar estas falsas evidências... o mito é uma
linguagem” p. 7.
“... o que
procurei com tudo isto foi captar significações... Exijo a possibilidade de
viver plenamente a contradição da minha época, que pode fazer de um sarcasmo a
condição da verdade” p. 8.
“É grave a
situação de uma sociedade que começa a desenvolver gratuitamente as formas de
suas virtudes” p. 43.
SEGUNDA
PARTE – O Mito, hoje.
CAP. 1 – O
MITO É UMA FALA (p. 131)
“... o mito é um sistema de comunicação, é uma mensagem...
ele é um modo de significação, uma forma... o mito é uma fala, tudo pode
constituir um mito, desde que seja suscetível de ser julgado por um discurso”
p. 131.
“O mito não
se define pelo objeto da sua mensagem, mas pela maneira como a profere: o mito
tem limites formais, mas não substanciais. Logo, tudo pode ser mito? Sim, julgo
que sim...” p. 131.
“... pode
conceber-se que haja mitos muito antigos, mas não eternos; pois é a história
que transforma o real em discurso, é ela e só ela que comanda a vida e a morte
da linguagem mítica... o mito é uma fala escolhida pela história: não
poderia de modo algum surgir da natureza das coisas” p. 132.
“O mito não
pode definir-se nem pelo seu objeto, nem pela sua matéria, pois qualquer
matéria pode der arbitrariamente dotada de significação...” p. 132.
“Entender-se-á,
portanto, daqui para diante, por linguagem, discurso, fala, etc, toda a unidade
ou toda a síntese significativa, quer seja verbal ou visual... os próprios
objetos poderão se transformar em fala se significarem alguma coisa” p. 133.
“... a
mitologia é apenas um fragmento dessa basta ciência dos signos que Saussure
postulou... sob o nome de semiologia... postular uma significação é recorrer à
semiologia... A semiologia é uma ciência das formas, visto que estuda
as significações independentemente do seu conteúdo” p. 133.
- A mitologia estuda idéias-em-forma, por isso, faz parte
da semiologia e da ideologia. Um único
significante pode passar por inúmeros processos de significação.
Significante
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Significado
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|
SIGNO
Significante (2)
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Significado (2)
|
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SIGNO (3)
|


“É preciso
não esquecer que, contrariamente ao que sucede na linguagem comum, que me diz
simplesmente que o significante exprime o significado, devem-se considerar em
todo o sistema semiológico não apenas dois, mas três termos diferentes...
temos, portanto, o SIGNIFICADO, o SIGNIFICANTE e o SIGNO, que é o total
associativo dos dois primeiros termos” p. 134-135.
“... o mito é
um sistema particular, visto que ele se constrói a partir de uma cadeia
semiológica que existe já antes dele: é um sistema semiológico segundo. O que é signo no primeiro sistema,
transforma-se em simples significante no segundo” p. 136.
“...É da
língua de que o mito se serve para construir o seu próprio sistema; e o próprio
mito, a que chamarei metalinguagem, por que é uma segunda língua, na qual se
fala da primeira” p. 137.
“Sabemos
agora que o significante
pode ser encarado, no mito, sob dois pontos de vista: como termo final d
sistema lingüístico, ou como termo inicial do sistema mítico.
Precisamos, portanto, de dois nomes: no plano da língua, isto é, como termo
final do primeiro sistema, chamarei ao significante – SENTIDO... no plano do
mito, chamar-lhe-ei – FORMA. Quanto ao significado, não há ambigüidade
possível: continuaremos a chamar-lhe conceito. O terceiro termo é a correlação
dos dois primeiros: no sistema da língua é o signo; mas não se pode retomar
esta palavra sem ambigüidade, visto que, no mito (e isto constitui a sua
particularidade principal) o significante já é formado pelos signos da língua.
Chamarei ao terceiro termo do mito, SIGNIFICAÇÃO... porque o mito tem efetivamente uma dupla função:
designa e notifica, faz compreender e impõe” p. 138-139.
“O
significante do mito apresenta-se de uma maneira ambígua: é simultaneamente
sentido e forma, pelo de um lado, vazio do outro” p. 139.
“... o
sentido do mito tem um valor próprio, faz parte de uma história” p. 139.
- Quando o
significante já está pleno, o mito o esvazia. Nega a história, permanece apenas
a letra. A forma faz com que haja uma pobreza que requer uma significação que a
preencha.
“Mas o ponto
capital em tudo isto é que a forma não suprime o sentido, empobrece-o apenas,
afasta-o, conservando-o à sua disposição. Cremos que o sentido vai morrer, mas
é uma morte suspensa: o sentido perde o seu valor, mas conserva a vida, que vai
alimentar a forma do mito. O sentido passa a ser para a forma como uma reserva
instantânea de história, como uma riqueza submissa, que é possível aproximar e
afastar numa espécie de alternância rápida: é necessário que a cada momento a
forma possa reencontrar raízes no sentido, e aí se alimentar... jogo de
esconde-esconde entre o sentido e a forma que define o mito. A forma do mito
não é um símbolo... é uma presença emprestada” p. 140.
“Através do
conceito, toda uma história nova é implantada no mito...” p. 141.
“... o que se
investe no conceito é menos o real do que um certo conhecimento do real;
passando do sentido à forma, a imagem perde parte do seu saber: torna-se
disponíveis para o saber do conceito. De fato, o saber contido no conceito
mítico é um saber confuso, constituído por associações moles, ilimitadas” p.
141.
“Um
significado pode ter vários significantes... posso encontrar mil imagens que me
signifiquem a imperialidade francesa” p. 141.
“No mito... o
conceito pode cobrir uma grande extensão de significante: por exemplo, um livro
inteiro será o significante de um só conceito... não existe nenhuma rigidez nos
conceitos míticos: podem construir-se, alterar-se, desfazer-se, desaparecer
completamente. E é precisamente porque é histórico, que a história pode
facilmente suprimi-lo” p. 142.
“Conforme se
vê, a significação é o próprio mito, exatamente como o signo saussuriano é a
palavra” p. 143.
“O mito não
esconde nada: tem como função deformar, não fazer desaparecer. Não há nenhuma
latência do conceito em relação à forma: não é absolutamente necessário um
inconsciente para explicar o mito” p. 143.
“A relação
que une o conceito do mito ao sentido é essencialmente uma relação de deformação...
para Freud, o sentido latente do comportamento deforma o sentido manifesto,
assim, no mito, o conceito deforma o sentido. Naturalmente, esta deformação só
é possível porque a forma do mito já é constituída por um sentido lingüístico”
p. 143.
- O que o
conceito deforma é o sentido, o objeto fica sem história, é transformado em
gesto. Retira-se a memória e não a existência.
“... o
sentido existe sempre para apresentar a forma; a forma existe sempre para
distanciar o sentido” p. 145.
“Sabemos que
o mito é uma fala definida pela sua intenção, muito mais do que pela sua
literalidade” p. 145.
- Sabe-se
que, na língua, o signo é arbitrário: nada obriga ‘naturalmente’ a imagem
acústica a significar o conceito: o signo é imotivado.
“...
encarregado de ‘transmitir’ um conceito intencional, o mito só encontra traição
na linguagem, pois a linguagem ou elimina o conceito escondendo-o, ou o
desmascara dizendo-o” p. 150.
“... tudo se
passa como se a imagem provocasse naturalmente o conceito, como se o
significante criasse o significado” p. 150-151.
“A
naturalização do conceito, que acabo de colocar como função essencial do mito,
é aqui exemplar...” p. 151. O significante e i significado parece manter
relações naturais.
“Qual é a
função específica do mito? Transformar um sentido em forma. Isto é, o mito é
sempre um roubo de linguagem”. 152.
“... a melhor arma contra o mito é talvez mitificá-lo a
ele próprio... este mito reconstituído será uma verdadeira mitologia” p. 156.
“A linguagem
do escritor não está encarregada de representar o real, mas de o dignificar” p.
157.
“A semiologia
ensinou-nos que a função do mito é transformar uma intenção histórica em
natureza, uma contingência em eternidade...” p. 162-163.
asse o significado” p. 150-151.
“A
naturalização do conceito, que acabo de colocar como função essencial do mito,
é aqui exemplar...” p. 151. O significante e i significado parece manter
relações naturais.
“Qual é a
função específica do mito? Transformar um sentido em forma. Isto é, o mito é
sempre um roubo de linguagem”. 152.
“... a melhor arma contra o mito é talvez mitificá-lo a
ele próprio... este mito reconstituído será uma verdadeira mitologia” p. 156.
“A linguagem
do escritor não está encarregada de representar o real, mas de o dignificar” p.
157.
“A semiologia
ensinou-nos que a função do mito é transformar uma intenção histórica em
natureza, uma contingência em eternidade...” p. 162-163.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
RESUMO = LAROSSA, Jorge. Para qué nos sirven los extrangeros? In: Educação & Sociedade: revista quadrimestral de Ciência da Educação/CDES. N° 79-2002. Campinas: CEDES, 2002 – V. XXIII. F.2. p. 67-84.
por: Eduardo Carneiro
|
1.Conceitos:
Ø
COMPREENSÃO: é um movimento reflexivo, volta
para dar segurança ao ‘eu’. Compreender o outro é interpretar a si mesmo. A compreensão familiariza o
estranho. Tem um benefício simbólico, a dimensão reflexiva da
compreensão volta para dar segurança ao “eu”.
Ø
EXTRANGEIRO: São conceitos empregados para
fabricar a imagem do “si”, do que é familiar. É um julgamento feito a partir do olhar do outro.
A idéia de que há um centro e uma periferia hierarquiza tudo. O estrangeiro
está na fronteira, no entre-lugares, ele é o culturalmente diferente. O
SuperEgo nega o outro; quando não, o regula.
Ø
MULTICULTURALISMO: A presença do outro inventou
a sociedade multicultural. A diferença é um meio para o fortalecimento da
identidade, que não é estática, mas movente. Conjura o que é estranho no outro,
desinfeta o que no outro parece inquietante, ou seja, familiariza o estranho.
Para o autor, o multiculturalismo é uma mera palavra de efeito, uma utopia na
prática; mas que visa construir uma boa imagem de sí.
Ø
PEDAGOGIA: não é encarada no seu conceito
tradicional. Não tem uma missão salvadora de tirar o sujeito da barbárie para o
reino da sabedoria e da luz. A
educação que prometia a emancipação dos povos ocultava práticas de normalização
comportamental, justificando
a exploração. As missões civilizadoras empregam as palavras -
convivência, diálogo, pluralismo- de forma acrítica.
2.Idéia central:
Ø O
texto trata do discurso atual do multiculturalismo no campo pedagógico. O autor
defende que tal discurso está relacionado com a construção da própria
identidade e pode ser entendido como um mecanismo para conjurar o que o
estrangeiro pode ter de inquietante. Além do mais, certas palavras como
convivência, diálogo e pluralismo estão sendo empregados de forma acrítica
pelos pedagogos para alimentar uma boa imagem dos que as utilizam.
3.Desenvolvimento:
Ø
A questão do estrangeiro é fundamental para a
discussão da identidade.
Ø
Larrossa afirma que no início quando o estrangeiro é visto de forma negativa[1],
pois causa impacto ao já
familiarizado, ou seja, turbulência ao que já se tinha como seguro. O outro passa por um processo de
familiarização para não causar erosão na identidade já estabelecida. A loucura
não pode inquietar ou questionar a razão, o ‘eu’ deve estar seguro do ‘outro’.
Ø
O
processo de assimilação do outro tão fecundo no discurso dos
multiculturalistas não seria mais do que uma forma de fortalecimento da
identidade de “si”. Já que, ao falar de multiculturalismo, a cultura do outro é
classificada e hierarquizada para que “a loucura não inquiete a razão”[2].
Ø
Foucault já dizia que a “ordem do discurso lhe prepara um lugar que o
honra, mas o desarma”. O discurso pedagógico do multiculturalismo surgiu
com a presença do outro.
Ø
A sociedade “do mesmo” não suporta a diferença
sem que haja inquietações. Foi preciso que o estrangeiro entrasse na ordem do
discurso, para ser “compreendido”.
Ø
Podemos observar alguns exemplos na América
Latina no início do século XVI, na ocasião da ocupação das terras pelos
europeus.
Ø O outro não foi “encontrado”
como outro. Mas confrontado como o “si mesmo”. Um “si mesmo” classificado como
bárbaro, que precisava passar por um processo de “familiarização” para se
tornar moderno e civilizado.
Ø
A catequização dos indígenas não seria uma forma
de neutralizar o que nele havia de estranho e inquietante? Falava-se da cultura
do índio para se firmar uma identidade européia universalizadora.
Ø
As trevas fazem parte do conceito da luz – a
diferença “bem compreendida” serve para dar segurança ao “eu”.
Ø
A retórica multiculturalista da pedagogia não
passa de utopia[3]. Essa
retórica tem uma função ideológica bem nítida: construir uma boa imagem de si
mesmo. A afirmação do “eu” se dá com a estranheza do outro.
Ø
Quando se propõe a assimilação, indiretamente,
está havendo uma classificação entre as culturas. Neste aspecto, como o autor
diz, não devemos nos preocupar com o que o discurso diz do estrangeiro, mas o
que ele faz com nós mesmos.
4. Citações
“En la comprensión, el
movimiento hacia el otro sería un momento mediador de la relación del
intérprete consigo mismo. El otro no sería sino un rodeo, quizá necesario, en
la permanente construcción y reconstrucción de lo mismo, la diferencia no sería
sino un medio para el fortalecimiento de la identidad, la negatividad no sería
sino un momento en el proceso de constitución de un sentido positivo, la
comprensión del otro no sería sino una parte del trabajo requerido para el
crecimiento de la auto comprensión” p. 68.
“... la locura no sea sino lo otro
en relación a lo que la razón construye la imagen que tiene de sí misma, quizá
la infancia no sea sino lo otro en relación a lo que la madurez construye la
imagen que tiene de si misma...” p. 68.
“Mi hipótesis en lo que sigue es
que la retórica multicultural que comienza a proliferar en el campo pedagógico
puede ser tratada en términos de la imagen que produce de nosotros mismos o,
dicho de otro modo, en tanto que dicha retórica trabaja en la construcción de
nuestra propia identidad” p. 69.
“Por otra parte, esa retórica funciona también como
un mecanismo para conjurar lo que el otro extranjero pueda tener de inquietante”
p. 69.
“... los discursos
multiculturales estén ahí para dar un sentido confortable a nuestra relación
con los extranjeros, para que lo extraño no inquiere lo propio, para que no nos
extrañemos de nosotros mismos y para que en el encuentro con el extranjero, no
aprendamos que, en realidad, nosotros también somos extranjeros” p. 69.
“... la comprensión procura un beneficio
simbólico cuando su dimensión reflexiva se resuelve en un fortalecimiento de
las seguridades que constituyen la identidad del intérprete. En se sentido el
otro extranjero es el que te permite sentirte en casa, el que te permite ser tú
mismo haciendo de ti el (más o menos generoso) propietario de la casa.
Podríamos localizar aquí la soberbia del sujeto de la comprensión, un sujeto
que se reconoce en el optimismo de una racionalidad que no reconoce límites...”
p. 69
“Ahora sabemos que
la edición orientada a la ‘emancipación de los pueblos’ ocultaba prácticas de
normalización tecnocrática o moral de los comportamientos, cuando no
justificaba la explotación pura y dura
de las personas y los países” p. 72.
“En el tema
multicultural el discurso pedagógico continua saturado de efectos retóricos que
van rápidamente de lo patético a lo profético, de la descripción emotivamente
cargada de los problemas...” p. 72.
“Todos iguales,
todos diferentes. He ahí el lema de la utopía multicultural que la escuela
debería reproducir entre sus paredes y contribuir a producir fuera de ellas...
No sería difícil ironizar sobre lo fácilmente que la escuela convierte la
‘diferencia’ en una serie de ‘cualidades diferenciales’ sobre las que el saber
y el poder hacen inmediatamente presa” p. 73.
“La indiferencia no
tiene nada que ver con la falta de conocimientos o con la pérdida de valores”
p. 76.
“.. por un lado la
comprensión familiarizaría lo extraño; por otro lado, extrañaría lo familiar.
Sin la primera dimensión no habría entendimiento puesto que lo extraño,
conservaría siempre una irreducible opacidad que lo bahía inasimilable” p. 77.
“En la tradición
hermenéutica, por tanto, la comprensión del otro extranjero suele ser
considerada con un proceso dialéctico que, comenzando por un momento de
extrañamiento, se resolvería finalmente en una recuperada re-familiarización.
De ese modo, la inquietud que lo extraño produce quedaría aliviada en tanto
que, mediante la comprensión, el otro extranjero habría sido incorporado a lo
familiar y a lo acostumbrado” p. 78.
“La comprensión y la
apropiación del otro son como las dos caras de una misma ambición, ambas
igualmente metódicas y arrogantes “
p. 79.
“Dicha represtación
consiste en presentar al extranjero como ya de antemano conocido y comprendido
por medio de su consideración como el re-presentante de una cultura. La
representación de la diversidad cultural sería entonces el resultado de una
comprensión abarcador en la que el otro extranjero quedaría subsumido en un
contexto cultual que daría cuenta y razón de su extrañeza e identificaría su
diferencia... la representación de la diversidad cultural funcionaría, a un
nivel simbólico, de modo análogo a la identificación socio-policial del
continente de extranjeros” p. 81.
“Convenientemente
re-presentado e identificado, desactivada ya su inquietante extrañeza, el otro
extranjero ya no da miedo. La neutralización de su extrañeza no es quizá
sino un efecto de nuestra cobardía,
de nuestra necesidad de permitirnos sólo encuentros seguros y
asegurados, planificados y sin sorpresas, convenientemente pre-visto y
despojados siempre de toa incertidumbre” p. 82.
“El otro extranjero
aparece como el desarraigado, el que no tiene mundo. Su diferencia es una
diferencia de una particular pureza, desnuda, emancipada de cualquier contexto
que pudiera dar cuenta de ella” p. 83.
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