BARTHES,
Roland. MITOLOGIAS. Ed. 9°. Tradução: Rita Boungermino e Pedro de
Souza. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S. A. 1993.
- O livro foi
escrito entre os anos 10954 e 1956. “Tentava então refletir regularmente sobre
alguns mitos da vida cotidiana francesa... O ponto de partida desta reflexão
era, as mais das vezes, um sentimento de impaciência frente ao ‘natural’ com
que a imprensa, a arte, o senso comum, mascaram continuamente uma realidade...”
p. 7.
“A noção
de mito pareceu-me desde logo designar estas falsas evidências... o mito é uma
linguagem” p. 7.
“... o que
procurei com tudo isto foi captar significações... Exijo a possibilidade de
viver plenamente a contradição da minha época, que pode fazer de um sarcasmo a
condição da verdade” p. 8.
“É grave a
situação de uma sociedade que começa a desenvolver gratuitamente as formas de
suas virtudes” p. 43.
SEGUNDA
PARTE – O Mito, hoje.
CAP. 1 – O
MITO É UMA FALA (p. 131)
“... o mito é um sistema de comunicação, é uma mensagem...
ele é um modo de significação, uma forma... o mito é uma fala, tudo pode
constituir um mito, desde que seja suscetível de ser julgado por um discurso”
p. 131.
“O mito não
se define pelo objeto da sua mensagem, mas pela maneira como a profere: o mito
tem limites formais, mas não substanciais. Logo, tudo pode ser mito? Sim, julgo
que sim...” p. 131.
“... pode
conceber-se que haja mitos muito antigos, mas não eternos; pois é a história
que transforma o real em discurso, é ela e só ela que comanda a vida e a morte
da linguagem mítica... o mito é uma fala escolhida pela história: não
poderia de modo algum surgir da natureza das coisas” p. 132.
“O mito não
pode definir-se nem pelo seu objeto, nem pela sua matéria, pois qualquer
matéria pode der arbitrariamente dotada de significação...” p. 132.
“Entender-se-á,
portanto, daqui para diante, por linguagem, discurso, fala, etc, toda a unidade
ou toda a síntese significativa, quer seja verbal ou visual... os próprios
objetos poderão se transformar em fala se significarem alguma coisa” p. 133.
“... a
mitologia é apenas um fragmento dessa basta ciência dos signos que Saussure
postulou... sob o nome de semiologia... postular uma significação é recorrer à
semiologia... A semiologia é uma ciência das formas, visto que estuda
as significações independentemente do seu conteúdo” p. 133.
- A mitologia estuda idéias-em-forma, por isso, faz parte
da semiologia e da ideologia. Um único
significante pode passar por inúmeros processos de significação.
Significante
|
Significado
|
|
SIGNO
Significante (2)
|
Significado (2)
|
|
SIGNO (3)
|
“É preciso
não esquecer que, contrariamente ao que sucede na linguagem comum, que me diz
simplesmente que o significante exprime o significado, devem-se considerar em
todo o sistema semiológico não apenas dois, mas três termos diferentes...
temos, portanto, o SIGNIFICADO, o SIGNIFICANTE e o SIGNO, que é o total
associativo dos dois primeiros termos” p. 134-135.
“... o mito é
um sistema particular, visto que ele se constrói a partir de uma cadeia
semiológica que existe já antes dele: é um sistema semiológico segundo. O que é signo no primeiro sistema,
transforma-se em simples significante no segundo” p. 136.
“...É da
língua de que o mito se serve para construir o seu próprio sistema; e o próprio
mito, a que chamarei metalinguagem, por que é uma segunda língua, na qual se
fala da primeira” p. 137.
“Sabemos
agora que o significante
pode ser encarado, no mito, sob dois pontos de vista: como termo final d
sistema lingüístico, ou como termo inicial do sistema mítico.
Precisamos, portanto, de dois nomes: no plano da língua, isto é, como termo
final do primeiro sistema, chamarei ao significante – SENTIDO... no plano do
mito, chamar-lhe-ei – FORMA. Quanto ao significado, não há ambigüidade
possível: continuaremos a chamar-lhe conceito. O terceiro termo é a correlação
dos dois primeiros: no sistema da língua é o signo; mas não se pode retomar
esta palavra sem ambigüidade, visto que, no mito (e isto constitui a sua
particularidade principal) o significante já é formado pelos signos da língua.
Chamarei ao terceiro termo do mito, SIGNIFICAÇÃO... porque o mito tem efetivamente uma dupla função:
designa e notifica, faz compreender e impõe” p. 138-139.
“O
significante do mito apresenta-se de uma maneira ambígua: é simultaneamente
sentido e forma, pelo de um lado, vazio do outro” p. 139.
“... o
sentido do mito tem um valor próprio, faz parte de uma história” p. 139.
- Quando o
significante já está pleno, o mito o esvazia. Nega a história, permanece apenas
a letra. A forma faz com que haja uma pobreza que requer uma significação que a
preencha.
“Mas o ponto
capital em tudo isto é que a forma não suprime o sentido, empobrece-o apenas,
afasta-o, conservando-o à sua disposição. Cremos que o sentido vai morrer, mas
é uma morte suspensa: o sentido perde o seu valor, mas conserva a vida, que vai
alimentar a forma do mito. O sentido passa a ser para a forma como uma reserva
instantânea de história, como uma riqueza submissa, que é possível aproximar e
afastar numa espécie de alternância rápida: é necessário que a cada momento a
forma possa reencontrar raízes no sentido, e aí se alimentar... jogo de
esconde-esconde entre o sentido e a forma que define o mito. A forma do mito
não é um símbolo... é uma presença emprestada” p. 140.
“Através do
conceito, toda uma história nova é implantada no mito...” p. 141.
“... o que se
investe no conceito é menos o real do que um certo conhecimento do real;
passando do sentido à forma, a imagem perde parte do seu saber: torna-se
disponíveis para o saber do conceito. De fato, o saber contido no conceito
mítico é um saber confuso, constituído por associações moles, ilimitadas” p.
141.
“Um
significado pode ter vários significantes... posso encontrar mil imagens que me
signifiquem a imperialidade francesa” p. 141.
“No mito... o
conceito pode cobrir uma grande extensão de significante: por exemplo, um livro
inteiro será o significante de um só conceito... não existe nenhuma rigidez nos
conceitos míticos: podem construir-se, alterar-se, desfazer-se, desaparecer
completamente. E é precisamente porque é histórico, que a história pode
facilmente suprimi-lo” p. 142.
“Conforme se
vê, a significação é o próprio mito, exatamente como o signo saussuriano é a
palavra” p. 143.
“O mito não
esconde nada: tem como função deformar, não fazer desaparecer. Não há nenhuma
latência do conceito em relação à forma: não é absolutamente necessário um
inconsciente para explicar o mito” p. 143.
“A relação
que une o conceito do mito ao sentido é essencialmente uma relação de deformação...
para Freud, o sentido latente do comportamento deforma o sentido manifesto,
assim, no mito, o conceito deforma o sentido. Naturalmente, esta deformação só
é possível porque a forma do mito já é constituída por um sentido lingüístico”
p. 143.
- O que o
conceito deforma é o sentido, o objeto fica sem história, é transformado em
gesto. Retira-se a memória e não a existência.
“... o
sentido existe sempre para apresentar a forma; a forma existe sempre para
distanciar o sentido” p. 145.
“Sabemos que
o mito é uma fala definida pela sua intenção, muito mais do que pela sua
literalidade” p. 145.
- Sabe-se
que, na língua, o signo é arbitrário: nada obriga ‘naturalmente’ a imagem
acústica a significar o conceito: o signo é imotivado.
“...
encarregado de ‘transmitir’ um conceito intencional, o mito só encontra traição
na linguagem, pois a linguagem ou elimina o conceito escondendo-o, ou o
desmascara dizendo-o” p. 150.
“... tudo se
passa como se a imagem provocasse naturalmente o conceito, como se o
significante criBARTHES,
Roland. MITOLOGIAS. Ed. 9°. Tradução: Rita Boungermino e Pedro de
Souza. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S. A. 1993.
- O livro foi
escrito entre os anos 10954 e 1956. “Tentava então refletir regularmente sobre
alguns mitos da vida cotidiana francesa... O ponto de partida desta reflexão
era, as mais das vezes, um sentimento de impaciência frente ao ‘natural’ com
que a imprensa, a arte, o senso comum, mascaram continuamente uma realidade...”
p. 7.
“A noção
de mito pareceu-me desde logo designar estas falsas evidências... o mito é uma
linguagem” p. 7.
“... o que
procurei com tudo isto foi captar significações... Exijo a possibilidade de
viver plenamente a contradição da minha época, que pode fazer de um sarcasmo a
condição da verdade” p. 8.
“É grave a
situação de uma sociedade que começa a desenvolver gratuitamente as formas de
suas virtudes” p. 43.
SEGUNDA
PARTE – O Mito, hoje.
CAP. 1 – O
MITO É UMA FALA (p. 131)
“... o mito é um sistema de comunicação, é uma mensagem...
ele é um modo de significação, uma forma... o mito é uma fala, tudo pode
constituir um mito, desde que seja suscetível de ser julgado por um discurso”
p. 131.
“O mito não
se define pelo objeto da sua mensagem, mas pela maneira como a profere: o mito
tem limites formais, mas não substanciais. Logo, tudo pode ser mito? Sim, julgo
que sim...” p. 131.
“... pode
conceber-se que haja mitos muito antigos, mas não eternos; pois é a história
que transforma o real em discurso, é ela e só ela que comanda a vida e a morte
da linguagem mítica... o mito é uma fala escolhida pela história: não
poderia de modo algum surgir da natureza das coisas” p. 132.
“O mito não
pode definir-se nem pelo seu objeto, nem pela sua matéria, pois qualquer
matéria pode der arbitrariamente dotada de significação...” p. 132.
“Entender-se-á,
portanto, daqui para diante, por linguagem, discurso, fala, etc, toda a unidade
ou toda a síntese significativa, quer seja verbal ou visual... os próprios
objetos poderão se transformar em fala se significarem alguma coisa” p. 133.
“... a
mitologia é apenas um fragmento dessa basta ciência dos signos que Saussure
postulou... sob o nome de semiologia... postular uma significação é recorrer à
semiologia... A semiologia é uma ciência das formas, visto que estuda
as significações independentemente do seu conteúdo” p. 133.
- A mitologia estuda idéias-em-forma, por isso, faz parte
da semiologia e da ideologia. Um único
significante pode passar por inúmeros processos de significação.
Significante
|
Significado
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|
SIGNO
Significante (2)
|
Significado (2)
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|
SIGNO (3)
|
“É preciso
não esquecer que, contrariamente ao que sucede na linguagem comum, que me diz
simplesmente que o significante exprime o significado, devem-se considerar em
todo o sistema semiológico não apenas dois, mas três termos diferentes...
temos, portanto, o SIGNIFICADO, o SIGNIFICANTE e o SIGNO, que é o total
associativo dos dois primeiros termos” p. 134-135.
“... o mito é
um sistema particular, visto que ele se constrói a partir de uma cadeia
semiológica que existe já antes dele: é um sistema semiológico segundo. O que é signo no primeiro sistema,
transforma-se em simples significante no segundo” p. 136.
“...É da
língua de que o mito se serve para construir o seu próprio sistema; e o próprio
mito, a que chamarei metalinguagem, por que é uma segunda língua, na qual se
fala da primeira” p. 137.
“Sabemos
agora que o significante
pode ser encarado, no mito, sob dois pontos de vista: como termo final d
sistema lingüístico, ou como termo inicial do sistema mítico.
Precisamos, portanto, de dois nomes: no plano da língua, isto é, como termo
final do primeiro sistema, chamarei ao significante – SENTIDO... no plano do
mito, chamar-lhe-ei – FORMA. Quanto ao significado, não há ambigüidade
possível: continuaremos a chamar-lhe conceito. O terceiro termo é a correlação
dos dois primeiros: no sistema da língua é o signo; mas não se pode retomar
esta palavra sem ambigüidade, visto que, no mito (e isto constitui a sua
particularidade principal) o significante já é formado pelos signos da língua.
Chamarei ao terceiro termo do mito, SIGNIFICAÇÃO... porque o mito tem efetivamente uma dupla função:
designa e notifica, faz compreender e impõe” p. 138-139.
“O
significante do mito apresenta-se de uma maneira ambígua: é simultaneamente
sentido e forma, pelo de um lado, vazio do outro” p. 139.
“... o
sentido do mito tem um valor próprio, faz parte de uma história” p. 139.
- Quando o
significante já está pleno, o mito o esvazia. Nega a história, permanece apenas
a letra. A forma faz com que haja uma pobreza que requer uma significação que a
preencha.
“Mas o ponto
capital em tudo isto é que a forma não suprime o sentido, empobrece-o apenas,
afasta-o, conservando-o à sua disposição. Cremos que o sentido vai morrer, mas
é uma morte suspensa: o sentido perde o seu valor, mas conserva a vida, que vai
alimentar a forma do mito. O sentido passa a ser para a forma como uma reserva
instantânea de história, como uma riqueza submissa, que é possível aproximar e
afastar numa espécie de alternância rápida: é necessário que a cada momento a
forma possa reencontrar raízes no sentido, e aí se alimentar... jogo de
esconde-esconde entre o sentido e a forma que define o mito. A forma do mito
não é um símbolo... é uma presença emprestada” p. 140.
“Através do
conceito, toda uma história nova é implantada no mito...” p. 141.
“... o que se
investe no conceito é menos o real do que um certo conhecimento do real;
passando do sentido à forma, a imagem perde parte do seu saber: torna-se
disponíveis para o saber do conceito. De fato, o saber contido no conceito
mítico é um saber confuso, constituído por associações moles, ilimitadas” p.
141.
“Um
significado pode ter vários significantes... posso encontrar mil imagens que me
signifiquem a imperialidade francesa” p. 141.
“No mito... o
conceito pode cobrir uma grande extensão de significante: por exemplo, um livro
inteiro será o significante de um só conceito... não existe nenhuma rigidez nos
conceitos míticos: podem construir-se, alterar-se, desfazer-se, desaparecer
completamente. E é precisamente porque é histórico, que a história pode
facilmente suprimi-lo” p. 142.
“Conforme se
vê, a significação é o próprio mito, exatamente como o signo saussuriano é a
palavra” p. 143.
“O mito não
esconde nada: tem como função deformar, não fazer desaparecer. Não há nenhuma
latência do conceito em relação à forma: não é absolutamente necessário um
inconsciente para explicar o mito” p. 143.
“A relação
que une o conceito do mito ao sentido é essencialmente uma relação de deformação...
para Freud, o sentido latente do comportamento deforma o sentido manifesto,
assim, no mito, o conceito deforma o sentido. Naturalmente, esta deformação só
é possível porque a forma do mito já é constituída por um sentido lingüístico”
p. 143.
- O que o
conceito deforma é o sentido, o objeto fica sem história, é transformado em
gesto. Retira-se a memória e não a existência.
“... o
sentido existe sempre para apresentar a forma; a forma existe sempre para
distanciar o sentido” p. 145.
“Sabemos que
o mito é uma fala definida pela sua intenção, muito mais do que pela sua
literalidade” p. 145.
- Sabe-se
que, na língua, o signo é arbitrário: nada obriga ‘naturalmente’ a imagem
acústica a significar o conceito: o signo é imotivado.
“...
encarregado de ‘transmitir’ um conceito intencional, o mito só encontra traição
na linguagem, pois a linguagem ou elimina o conceito escondendo-o, ou o
desmascara dizendo-o” p. 150.
“... tudo se
passa como se a imagem provocasse naturalmente o conceito, como se o
significante criasse o significado” p. 150-151.
“A
naturalização do conceito, que acabo de colocar como função essencial do mito,
é aqui exemplar...” p. 151. O significante e i significado parece manter
relações naturais.
“Qual é a
função específica do mito? Transformar um sentido em forma. Isto é, o mito é
sempre um roubo de linguagem”. 152.
“... a melhor arma contra o mito é talvez mitificá-lo a
ele próprio... este mito reconstituído será uma verdadeira mitologia” p. 156.
“A linguagem
do escritor não está encarregada de representar o real, mas de o dignificar” p.
157.
“A semiologia
ensinou-nos que a função do mito é transformar uma intenção histórica em
natureza, uma contingência em eternidade...” p. 162-163.
asse o significado” p. 150-151.
“A
naturalização do conceito, que acabo de colocar como função essencial do mito,
é aqui exemplar...” p. 151. O significante e i significado parece manter
relações naturais.
“Qual é a
função específica do mito? Transformar um sentido em forma. Isto é, o mito é
sempre um roubo de linguagem”. 152.
“... a melhor arma contra o mito é talvez mitificá-lo a
ele próprio... este mito reconstituído será uma verdadeira mitologia” p. 156.
“A linguagem
do escritor não está encarregada de representar o real, mas de o dignificar” p.
157.
“A semiologia
ensinou-nos que a função do mito é transformar uma intenção histórica em
natureza, uma contingência em eternidade...” p. 162-163.
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