PRIMEIRA PARTE: DO OURO AO CAPITAL
Cap. 1 - A longa marcha para o
capitalismo (p. 18)
“É
nessa decomposição da ordem feudal que vai se enraizar a formação do
capitalismo mercantil. Nesse sentido, é em vários séculos que se estende a
“longa marcha” para o capitalismo” (p 18,19).
A
primeira etapa dessa longa marcha é marcada pela conquista e pela pilhagem da
América (século XVI), a segunda pela ascensão e afirmação das burguesias
(século XVII) (p 19).
Monarcas
ávidos de grandezas e de riquezas, Estados lutando pela supremacia, mercadores
e banqueiros encorajados ao enriquecimento: são estas as forças que promoverão
o comércio, as conquistas e as guerras, sistematizarão a pilhagem, organizarão
o tráfico de escravos, prenderão os vagabundos para obrigá-los a trabalhar (p
20).
De
acordo com o relatório de Colombo, o Conselho de Castela resolveu tomar posse
de um país cujos habitantes estavam fora do estado de se defender. O piedoso
propósito de convertê- los ao cristianismo santificou a injustiça do projeto (p
20).
Cortez,
conquistador do México, confessava isso: "Nós, espanhóis, sofremos de uma
doença do coração da qual o ouro é o único remédio" (p 21).
De
acordo com os dados oficiais, dezoito mil toneladas de prata e duzentas
toneladas de ouro foram transferidas da América para a Espanha entre 1521 e
1660; de acordo com outras estimativas, o dobro (p 21).
Ao mesmo tempo que os metais se tornam
mais abundantes, os preços sobem (p 22).
Trava-se um debate confuso no qual são
acusados indiscriminadamente pela carestia os agricultores, os intermediários,
os exportadores, os estrangeiros, os mercadores e os usurários, mas também as
"elevações monetárias" que reduzem o conteúdo das moedas em metal
precioso (p 23,24).
A principal causa da elevação dos
preços é sempre a abundância daquilo com que o preço das mercadorias é
medido" (p 24).
Essa explicação tinha a grande
vantagem de corresponder a um aspecto maior da realidade, ao mesmo tempo que permitia
evitar o questionamento de outras fontes de inflação: o luxo dos reis e dos
grandes, o custo das guerras, o encargo do endividamento, que tornavam
necessárias as sucessivas "elevações" (p 24).
Os reis da Espanha, da França e da
Inglaterra vão tomar medidas nesse sentido: primeiras criações de manufaturas, monopólios
ou privilégios para novas produções, proibições ou tarifas contra a entrada de
mercadorias estrangeiras, proibições de exportar matérias-primas (p 25).
Mesmo nas formações sociais em que
desabrocha o capitalismo, o antigo continua a ser predominante: população essencialmente
rural, produção principalmente agrícola, troca relativamente restrita (com
grande parte da população vivendo em auto-subsistência). A prestação (em
trabalho, em gênero ou em dinheiro) é tirada de uma grande massa camponesa em
proveito do clero, da nobreza e do Estado real; através das despesas deles, ela
possibilita o acúmulo de fortunas privadas de grandes negociantes e de
banqueiros (p 28).
... no século XVI, são introduzidas e
desenvolvidas as condições do desenvolvimento posterior do capitalismo: burguesias
bancárias e mercantis dispõem simultaneamente de imensas fortunas e de redes
bancárias e financeiras; Estados nacionais dispondo de meios de conquista e de
dominação; uma concepção do mundo que valoriza a riqueza e o enriquecimento (p
31).
... é principalmente na Holanda, na
Inglaterra e na França que vai prosseguir, no século XVII, a longa marcha para
o capitalismo (p 33).
Sob o impulso de uma ativa burguesia
mercantil e bancária, aberta às novas idéias e acolhedora aos homens de
iniciativa, o capitalismo mercantil e manufatureiro vai conhecer um grande
desenvolvimento na Holanda (p 34).
... o banco pode fornecer aos
mercadores a moeda de qualquer país que seja, o que permite a compra de
mercadorias de qualquer origem e atrai os comerciantes estrangeiros (p 35).
... os holandeses tinham para a rota
do Levante ou para a das índias navios pesados, solidamente construídos e
armados (p 35).
Potência comercial, a Holanda
desenvolve atividades de transformação: indústria de lanifício em Leiden e
indústria de tecidos em Haarlem; tingimento e tecelagem da seda, depois fiação
de seda e corte de diamantes em Amsterdã; refinação de açúcar e acabamento de
tecidos ingleses, cervejaria, destilaria, preparação do sal, de tabaco, de
cacau, trabalho de chumbo em Roterdã; polimento de lentes ópticas, fabricação de
microscópios, de pêndulos e instrumentos de navegação, estabelecimento de mapas
terrestres e marítimos, impressões de livros em todas as línguas, etc. A metade
da população holandesa (dois milhões e meio de habitantes) vive então nas
cidades. Uma rica burguesia promove essas atividades e domina o país (p 37).
... com a depressão econômica e a
queda dos preços coloniais que marcam a segunda metade do século XVII, o
capitalismo holandês endivida-se, enfraquece-se e, finalmente, perde sua
posição dominante (p 38).
Aliada do monarca na base da expansão
colonial e do mercantilismo, a burguesia inglesa saberá utilizar os
descontentamentos populares em sua luta contra o absolutismo, ou seja, para
o fortalecimento de seu próprio poder (p
38).
Grandeza nacional, enriquecimento do
Estado e dos mercadores, domínio do universo: esta è a base de um compromisso
entre a burguesia e o soberano (p 41).
O mundo rural continua, vê-se bem,
amplamente predominante: grande, média e pequena nobreza proprietárias de
terras tiram seus recursos principalmente do trabalho das camadas do
campesinato que lhes são submissas; um campesinato nitidamente estratificado e
que produz a maior parte das riquezas de origem nacional, das quais se
beneficiam as classes dominantes e o Estado (p 41, 42).
Esses artesãos pobres, esses operários
que trabalham para negociantes-fabricantes, não é a liberdade, não é a
democracia que eles reclamam — é a proteção da regulamentação, tendo sempre os
mesmos objetivos: a elevação da tarifa ou do salário; a redução da jornada de
trabalho; a proteção contra a concorrência externa (p 47).
... num contexto geral de depressão
econômica, frente aos poderosos capitalismos mercantis holandês e inglês, é através
da ação do Estado real que se estabelecem, na França, as bases simultaneamente
sólidas e modestas de um capitalismo manufatureiro e colonial. O Estado real, o
Estado absoluto, sustentou maciçamente o esforço de desenvolvimento da produção
manufatureira e do comércio mundial; é sob sua proteção que se formou a
burguesia francesa: ela carregará por muito tempo a marca disso... (p 58, 59).
Diante da classe dominante da
sociedade feudal e pós feudal — a nobreza —, a classe ascendente — a burguesia bancária e
comerciante — utiliza no mais das vezes uma estratégia de aliança com o
soberano, tendo por base o que se pode chamar de "compromisso
mercantilista": enfatização da "riqueza do príncipe", em
seguida, da coincidência entre a prosperidade do Estado e a dos mercadores,
para promover uma política de defesa em relação aos concorrentes estrangeiros, de
expansão comercial e colonial, de desenvolvimento da produção (p 62).
Um dos fatos mais importantes para se
guardar é a importância do Estado no próprio nascimento do capitalismo; é
também, e de um modo vinculado, a dimensão nacional da
formação do capitalismo: não há
capitalismo sem burguesia; e esta se fortalece no âmbito do Estado-nação, ao
mesmo tempo que se forja a realidade nacional; é neste âmbito que foi
progressivamente criada, modelada, adaptada a mão de obra necessária (p 63).
Desde sua formação, o capitalismo é
nacional e mundial, privado e estatal, concorrencial e monopolista (p 63).
O SÉCULO DAS TRÊS REVOLUÇÕES
... século da expansão dos intercâmbios
mercantis, notadamente do comércio mundial, e do progresso da produção
mercantil, agrícola e manufatureira, com alta dos preços e crescimento da
população; tudo isso principalmente na segunda metade do século, e tendo, como
resultados simultâneos, a multiplicação das riquezas e o agravamento da pobreza
(p 64, 65).
É, portanto, o século em que se
acentuam as contradições vinculadas ao desenvolvimento das relações mercantis e
do capitalismo: contradições da dominação colonial, com as guerras entre a
França e a Inglaterra e a independência das colônias da América; contradição
entre a nobreza e a burguesia na França, que explodem na revolução de 1789;
contradições entre o desenvolvimento dos intercâmbios mercantis e os limites da
produção manufatureira, de onde surge o início da revolução industrial na
Inglaterra (p 65).
Nesse movimento geral, as companhias
de comércio existentes desenvolvem suas atividades, tendo por vezes lucros
enormes (p 68).
Abre-se, assim, para a Inglaterra um
período de supremacia mundial; e é sobre uma base territorial expandida que o
capitalismo inglês vai desenvolver seus mercados, estender sua dominação,
organizar a acumulação (p 70).
Conhecer, observar, explicar,
compreender, duvidar, debater, descobrir... Com a condição de ter o tom, tudo
pode ser dito, ou quase. É uma época de excepcional entusiasmo pela observação
da matéria e da natureza (p 78).
É também uma época de pesquisa
científica e de descobertas... (p 78).
Nesse contexto florescem as idéias dos
filósofos: a evidência, a clareza, a conformidade com a razão; um universo
admirável, mecânico, obedecendo a leis eternas estabelecidas por um ser
supremo, Deus, ao mesmo tempo "todo-poderoso e todo inteligente"; um
mundo fundamentado sobre leis naturais, um direito natural, uma moral natural,
que convém redescobrir; a felicidade, o prazer, o egoísmo, o utilitarismo, mas
também a indulgência, a tolerância, uma certa humanidade (p 79).
Soberania do povo, vontade geral,
Rousseau a apresenta: inalterável, indivisível, infalível se ela for bem
informada, absoluta ao mesmo tempo que se proíbe de "passar os limites das
convenções gerais", e portanto "sagrada" e
"inviolável" (p 83, 84).
... no fervilhamento de idéias do
século XVIII na França, constitui-se um arsenal ideológico de uma extrema diversidade:
armas para contestar a monarquia (contrato social, vontade geral, democracia),
para questionar os privilégios da nobreza (liberdade, igualdade), para unir os
camponeses e os artesãos das cidades (liberdade, igualdade, propriedade), para
atender às aspirações dos fabricantes e dos negociantes (liberdade, ainda, mas
de produzir e de comerciar)... (p 98).
É
nesse movimento que se introduz uma nova forma de produção: a fábrica (p 107).
A produção vai crescer potentemente, o
assalariado se expandir e as lutas operárias se multiplicarem e se organizarem
(p 109).
A IRRESISTÍVEL ASCENSÃO DO CAPITALISMO
INDUSTRIAL
O
monopólio e a concorrência; a ação do Estado e a iniciativa privada;
o mercado mundial e o interesse nacional estão, sob formas diferentes,
presentes juntos ao longo da formação do capitalismo. Essa formação é promovida
pelas burguesias nacionais; sustentada ou defendida pelos Estados nacionais; suportada pelos trabalhadores
desses países e pelos povos submetidos ou dominados por todo o mundo (P 123).
No início do século XIX ... Os
trabalhadores das fábricas, e dentre eles, um grande número de mulheres e
crianças, são submetidos à implacável disciplina da produção mecânica e à
terrível ameaça da miséria nua: desraigados, desajustados, sem estabilidade,
eles não constituem uma classe (p 124).
Aí está colocada uma das bases
ideológicas do pensamento econômico dos séculos XIX e XX: produzir é aumentar a
utilidade; três "fatores de produção", trabalho, capital e terra ...
(p 136).
Uma mercadoria deve ser útil para ter
valor, mas a dificuldade de sua produção é a verdadeira medida de seu valor. (p
136).
Com efeito, no decorrer do século XIX,
é principalmente através da instalação da indústria mecanizada que se opera a
extensão do modo de produção capitalista. Multiplicam-se as
"fábricas" que vimos nascer na Inglaterra no fim do século XVIII...
(p 138).
Com o êxodo rural, ao qual se deve
acrescentar um fluxo de artesãos arruinados, o crescimento demográfico suscita a
formação de uma massa de mão-de-obra miserável e disponível, da qual se
alimentam ao mesmo tempo a constituição da classe operária britânica e a
emigração britânica (p 144).
É com o apoio do Estado que a
industrialização capitalista, até então moderada, intensifica-se a partir dos
anos 60. A burguesia acha-se, então, perante uma classe operária que, muito
depressa, se organiza... (p 159).
... nos anos 1860-1870, a burguesia só
se impôs realmente como classe dominante na Grã-Bretanha. Na França, ela ainda
tem de contar com pesadas alianças com a pequena burguesia e com o campesinato,
e só ganha ímpeto realmente, em breves períodos favoráveis, com a sustentação
do Estado (p 160).
O capitalismo do século XIX
desenvolve, ao mesmo tempo que si mesmo, um brutal frente a frente: entre a riqueza e a miséria
operária, entre o bem-estar culto e a angústia bruta; entre o poder e a
absoluta independência (p 166).
Há inicialmente as lutas operárias
que, amiúde, no século XIX, são ações de homens e mulheres acuados pela miséria
e pela fome, impelidos, para tentar sobreviver, a arriscarem a morte, a prisão
ou a deportação. Reações brutais de artesãos e operários, arruinados e privados
de trabalho pelo desenvolvimento da produção mecânica, e que quebram as
máquinas, queimam as fábricas. (p 168, 169).
A história de toda a sociedade até
hoje é a história da luta das classes. Homem livre e escravo, patrício e
plebeu, barão e servo, mestre e companheiro, em resumo, opressores e oprimidos,
erguidos uns contra os outros numa oposição constante, travaram uma luta
ininterrupta, ora escondida, ora aberta, uma luta que toda vez terminou numa
subversão revolucionária de toda a sociedade ou na ruína comum das classes em luta
(p 174).
Toda a sociedade se divide cada vez
mais em dois campos inimigos, em duas grandes classes diretamente opostas uma à
outra: a burguesia e o proletariado (p 175).
Há dezenas de anos, a história da
indústria e do comércio não passa da história da revolta das forças produtivas
modernas contra as relações modernas de produção, contra o regime de propriedade
que condiciona a existência da burguesia e de sua dominação (p 175).
O processo de produção capitalista
considerado em sua continuidade, ou como reprodução, não produz somente
mercadoria, nem somente mais-valia, ele produz e eterniza a relação social
entre capitalista e assalariado (p 181).
A riqueza, o poder burguês se
desenvolvem com base na assustadora miséria operária do século XIX: jornadas de
trabalho ampliadas, salários reduzidos, graças à concorrência a que se entregam
os diferentes tipos de operários, condições de vida amiúde julgadas mais duras
que aquelas dos antigos servos (p 187).
Pessimista, J. S. Mill estava
persuadido de que se ia estabelecer um durável "estado estacionado",
ao passo que Karl Marx esteve por toda sua vida convencido do inelutável
desabamento do capitalismo e do surgimento de uma sociedade sem classes: o
comunismo (p 188).
A ERA DO IMPERIALISMO
O capitalismo não é
uma pessoa, nem uma instituição. Não quer, nem escolhe. É uma lógica em
andamento através de um modo de produção: lógica cega, obstinada, de acumulação
(p 191).
Lógica que se
espalhou, no último terço do século XVIII e nos dois primeiros terços do século
XIX, por ocasião da "primeira industrialização": têxteis e roupas;
máquinas; ferramentas e utensílios domésticos de metal; estradas de ferro e
armas (p 191).
... queremos
apreender o capitalismo em seu movimento histórico. Mas como fazê-lo sem
reduzir excessivamente, sem cair no simplismo? (p 192).
É o caso da família.
Com o capitalismo, ela se torna a célula de reprodução e de manutenção da força
de trabalho, sem deixar de ser o lugar complexo de reprodução da sociedade
global (p 192).
Por meio da família
se transmitem normas fundamentais da sociedade (hierarquia, disciplina,
poupança, consumo)
... (p 192).
Em 1870-1880, o
capitalismo ainda não revolucionou senão em parte a Grã-Bretanha, e só se
afirma nitidamente em zonas bem delimitadas da Europa Continental e da América
do Norte. Em um século ele vai estender-se, concentrar-se, impor-se com um
vigor-inacreditável: através da ascensão de novas técnicas e de novas
indústrias, com base em reagrupamentos sempre mais amplos e poderosos de
capitais e do alargamento de seu campo de ação ao mundo inteiro ... (p 193).
Um século de
exploração econômica e de saqueamento do planeta; um século de industrialização
acelerada, de modernização e de "desenvolvimento do
subdesenvolvimento"; um século de imperialismo (p 193).
DA GRANDE DEPRESSÃO À GRANDE GUERRA (1873-1914)
Antes que o
capitalismo dominasse, a vida econômica conhecera abalos, mais ou menos
regulares, vinculados às condições meteorológicas e às colheitas, aos
equilíbrios demográficos, às guerras. Toda a fase de industrialização
capitalista é feita através de movimentos cíclicos de uma certa regularidade:
períodos de prosperidade e de euforia freados por uma recessão ou quebrados por
uma crise (p 194).
A "Grande
Depressão" que se inicia com a crise de 1873 e que se estenderá até 1895
abre o que se poderia chamar de segunda idade do capitalismo: a idade do
imperialismo (p 194).
1873: o craque da
bolsa de Viena é seguido de falências bancárias na Áustria e depois na
Alemanha; a indústria pesada alemã acabava de conhecer, com o esforço de
guerra, com a construção de estradas de ferro e de navios, uma forte expansão
que se emperra com a elevação dos custos e com a baixa da rentabilidade ... (p
195).
... desemprego, baixa
dos salários, a crise ganha a construção e o setor têxtil (p 196).
1882: ... inúmeras
outras falências bancárias, mas também industriais: minas e metalúrgicas, bem
como construção civil, têxtil e porcelana. Grande aumento do desemprego, queda
dos salários. "Nunca vi uma catástrofe igual", declara o diretor do
Crédit Lyonnais (p 196).
1884: "Pânico
das estradas de ferro" nos Estados Unidos ... As companhias de estradas de
ferro ficam presas entre a alta dos preços de construção das vias e a
concorrência a que elas se entregam (p 196).
Descoberta de ouro na
África do Sul, projeto francês de um canal no Panamá, abertura de novas vias
férreas nos Estados Unidos, perspectivas de novos desenvolvimentos econômicos
na Argentina, Austrália, Nova Zelândia: abrem-se novas perspectivas de lucro,
iniciam-se novas especulações, que desembocam em novos bloqueios (p 197).
1889: na França, a
companhia encarregada da construção do canal do Panamá e a Société des
Métaux, envolvida numa especulação
com cobre, vai à bancarrota. Pânico na bolsa, crise de crédito, depressão que
conduz a uma reação protecionista (tarifas Méline) (p 197).
1890: ... sobrevém
uma nova depressão, envolvendo inicialmente o setor têxtil, notadamente o
algodão, depois a construção naval e a metalurgia, depressão que se agrava por
causa da redução das trocas ligadas às crises que castigam em 1893 os Estados
Unidos, a Argentina e a Austrália (p 197).
1893: os Estados
Unidos haviam conhecido até então um período de prosperidade com a retomada da
construção civil e da construção de estradas de ferro e excelentes colheitas
... Entretanto, mais uma vez as sociedades de estrada de ferro vêem seus lucros
caírem, algumas suspendem seus pagamentos; as cotações dos valores ferroviários
na bolsa desabam; 491 bancos abrem falência. A depressão se acentua em 1894,
com desenvolvimento do desemprego e empenho para reduzir os salários (p 198).
... tudo pode
desencadear a crise: um rumor na bolsa, um mercado perdido, uma empresa ou um
banco que interrompe os pagamentos: é a incontrolável engrenagem (p 198).
Nas crises da
"Grande Depressão", observamos igualmente uma baixa dos preços
acompanhando a compressão e a redução das produções. Mas essa
baixa constitui uma "tendência pesada" no decorrer desses vinte
anos; de 1873 a 1896 ... (p 198).
... o patronato
organiza o capitalismo: formação de empresas ou de grupos de grande porte ...
(p 201).
... como caracterizar
essa Grande Depressão do fim do século XIX? Toda crise capitalista resulta do
jogo de quatro contradições fundamentais:
— entre capital e
trabalho, isto é, concretamente, entre
empresas capitalistas
e classes operárias;
— entre capitalistas
(seja no mesmo setor, seja de setores a setores);
— entre capitalismos
nacionais;
— entre capitalismos
dominantes e povos, países ou regiões dominadas (p 201).
O poder, a
prosperidade, a riqueza da Grã-Bretanha são inegáveis. A praça de Londres é a
primeira do mundo. A libra esterlina é a moeda internacional. A dominação
britânica se estende aos cinco continentes e o capitalismo britânico tira dela
consideráveis rendimentos (p 203, 204).
... os novos
capitalismos alemão e norteamericano se beneficiam a partir de então de uma
dinâmica de crescimento que prevalece nitidamente sobre aquela dos
"velhos" capitalismos francês e inglês (p 205).
Da "Grande
Depressão" até a véspera da Grande Guerra, o crescimento é duas vezes mais
rápido na Alemanha do que na França, e quase duas vezes mais rápido nos Estados
Unidos do que na
Grã-Bretanha (p 206).
Portanto, é realmente
o declínio do capitalismo britânico (acompanhado pelo capitalismo francês) que
se inicia no último terço do século XX, enquanto avança a ascensão em poderio
dos capitalismos alemão e norte-americano (p 206).
No total, no período
que precede a Primeira Guerra Mundial, os capitalismos antigos — inglês e
francês — são alcançados, depois superados pelos novos capitalismos — alemão e
norte-americano. Isso se sucede em parte através das crises que marcam o fim do
século XIX. Outro movimento de fundo que marca este período é a afirmação das
classes operárias (p 207).
A AFIRMAÇÃO DAS CLASSES OPERÁRIAS
Esse movimento é
seguramente o mais fundamental: marca a passagem de uma fase em que o
capitalismo se desenvolveu utilizando uma mão-de-obra ... (p 208).
Ele se desenvolve no
âmbito de uma transformação mais ampla da sociedade, também provocada pela
industrialização capitalista: — O prosseguimento do processo do assalariamento
... (p 208).
... nos quatro
grandes países capitalistas, as classes operárias representam cerca de 30
milhões de homens e de mulheres; e no conjunto dos países envolvidos pela
industrialização capitalista, em torno de 40 milhões. Ao mesmo tempo, esses
trabalhadores se conscientizam de sua solidariedade, e pouco a pouco de sua
força (p 209).
Há também, cada vez
mais poderosas, cada vez mais longas, particularmente nesses períodos de crise,
as greves ... (p 211).
Há também o
desenvolvimento das organizações operárias: sindicatos, bolsas de
trabalho, associações, partidos (p 211).
Na França, é na
efervescência das escolas de pensamento,
as seitas e das tradições, num contexto de debate permanente e de
cisões, que o movimento operário se organiza no fim do século XIX ... (p 212).
Nos Estados Unidos,
enfim, é ao ritmo das crises, das greves e da repressão que é forjado o
movimento sindical (p 212).
No total, há no
mundo, em 1913, cerca de 15 milhões de trabalhadores sindicalizados (p 213).
A classe operária tem
peso a partir de então, mesmo que ela ainda esteja excluída em inúmeros
aspectos, na vida local e nacional. E é essa nova relação de forças, e apenas
ela, que explica as conquistas, as novas vantagens do mundo do trabalho nesse
fim do século XIX e no início do século XX (p 213).
Na Alemanha ... leis
sobre o seguro de doença (1883); sobre o seguro de acidentes (1884) e sobre o
seguro de velhice; aposentadoria aos sessenta anos (1889). Na França, lei
concedendo a liberdade de associação (1884), leis sobre a duração do trabalho
(1874, 1892 e 1900), sobre a higiene e segurança (1893), sobre os acidentes do
trabalho (1898), sobre as aposentadorias (1905), sobre o descanso semanal
(1906). Ainda na Grã-Bretanha, lei de 1906 facilitando a ação sindical; lei de
1908 sobre as aposentadorias operárias; lei de" 1908 regulamentando o
trabalho a domicílio; lei de 1911 instituindo indenizações de desemprego e
ampliando o seguro de doença (p 214).
Essa nova relação de
forças faz com que a Igreja "incline-se" sobre a questão social ...
(p 214).
Leão XIII publica em
1891 sua encíclica Rerum Novarum ... O trabalho do corpo (...), longe de
ser um motivo de vergonha, honra o homem (...). O que é vergonhoso e desumano é
usar o homem como um vil instrumento de lucro, de só avaliá-lo em proporção ao
vigor de seus braços" (p 214).
... "na
sociedade as duas classes estão destinadas pela natureza a se unirem
harmoniosamente e a se manterem mutuamente em perfeito equilíbrio. Elas têm uma
necessidade imperiosa uma da outra; não pode haver capital sem trabalho, e
trabalho sem capital" (p 215).
Mas o capitalismo já
se adapta, se transforma, abre novas perspectivas, modifica o terreno do
afrontamento (p 216).
As leis sociais? Há
sempre patrões para condená-las, tal como Henri Schneider, entrevistado pelo Figaro
em 1897: "A intervenção do Estado nos problemas operários, muito mal,
muito mal (...). Daqui a cinco ou seis anos ninguém pensará mais nela; terão
inventado outra coisa (...)Para mim, a verdade é que um operário com boa saúde
pode muito bem fazer suas dez horas, e devemos deixá-lo livre para trabalhar
mais, se isso lhe dá prazer..." (p 216).
As greves? Elas são
combatidas com dureza ... "visto que o operário que se põe em greve torna
impossível, por sua própria vontade, a continuação da execução do contrato de
trabalho que o ligava ao patrão (p 216, 217).
... esse sistema
"estabelece um desacordo permanente entre os patrões e os operários; ele
leva os segundos à dissimulação para com os primeiros; ele obriga os patrões a
parecerem implacáveis e gananciosos, mesmo que não seja nada disso, aos olhos
dos operários" (p 217, 218).
F. W. Taylor, que se
tornou "engenheiro consultor,
especialista em organização sistemática de fábricas", como anuncia
seu cartão de visita, é, a partir de 1893, o obstinado propagador da
organização científica do trabalho: decomposição em tarefas, organização,
definição dos movimentos, norma, remuneração que incite o respeito à norma...
(p 218).
Seus resultados são
freqüentemente espetaculares: assim ele obtém que lá onde um operário carregava
dentro de um vagão 12,7 toneladas de ferro gusa por dia, ele carregue 48 a 49
toneladas, tendo a felicidade como prêmio, já que ele se dizia seguro de que os
operários ficavam "mais felizes e mais satisfeitos quando carregavam ao
ritmo de 48 toneladas do que quando carregavam no velho ritmo de 12,7
toneladas" (p 219).
Paralelamente,
desenvolvem-se, numa abundância extraordinária, progressos científicos e
técnicos, invenções, inovações, que abrem novos caminhos (p 220).
... em 1869, Gramme
havia tirado uma patente de gerador de corrente contínua ... A iluminação
elétrica se torna possível, a partir de 1879, com a lâmpada com filamento de
carbono fabricada por Edison; ela se desenvolve, após 1910, com a lâmpada com
filamento de tungstênio. Equipamento de centrais elétricas — hidráulicas ou
térmicas —, colocação de cabos, iluminação das cidades, transportes públicos
eletrificados, motores elétricos, equipamentos de fábricas, de escritórios e de
residências. Poderosas empresas se desenvolvem rapidamente nesse novo setor. (p
220, 221).
... a construção do
motor a explosão (a partir de 1862) conduz, com a invenção do carburador
(1889), ao motor a gasolina, depois ao motor Diesel (1893-1897) utilizando óleo
diesel. Inumeráveis construtores fabricam automóveis, que se modernizam de ano
para ano ... a esta indústria nascente, bem como à indústria automobilística, a
guerra de 1914-1918 vai dar um vigoroso impulso (p 221).
Em 1914 dois milhões
de automóveis circulam no mundo (a metade nos Estados Unidos) (p 222).
Eletroquímica e
eletrometalurgia permitem a fabricação de novos produtos; a soldagem autógena
se propaga. Raiom, papéis fotográficos, nitroglicerina, cimentos, telefone,
telégrafo, e logo rádio, produtos farmacêuticos e produtos para a
agricultura... desenvolvem-se novos setores, cuja produção vai provocar uma
reviravolta nas condições de vida (p 222).
Esses novos setores,
essas novas produções são a oportunidade da realização de altos lucros e vão
possibilitar a rápida constituição de algumas poderosas empresas (p 223).
... tanto mais que um
dos aspectos da renovação do capitalismo reside na expansão em escala mundial,
o que contribui para exacerbar as rivalidades nacionais (p 223).
A IDADE DO
IMPERIALISMO
... já se manifestam
novos e importantes setores industriais; preparam-se novos modos e dominação
sobre os trabalhadorese novas relações com a classe operária ... (p 223).
"Concentração da
produção tendo como conseqüência os monopólios; fusão ou interpretação dos
bancos e da indústria; aí está a história da formação do capital financeiro e o
conteúdo dessa noção", escreve Lenin em Impérialisme, stade suprême du
capitalisme (p 225).
O capital financeiro
significa, de fato, a unificação do capital (p 226).
Indissociavelmente,
desenvolve-se o capitalismo, como ainda escreve Hilferding: A política do
capital financeiro persegue uma tríplice finalidade: em primeiro lugar, a
criação de um território econômico tão vasto quanto possível; em segundo, a
defesa desse território contra a concorrência estrangeira mediante barreiras
alfandegárias; e, em seguida, sua transformação em campo de exploração para os
monopólios do país (p 226).
Os bancos britânicos
contavam em 1910 com mais de cinco mil sucursais ou agências no mundo; os
bancos franceses, cento e quatro sucursais; os alemães, setenta; e os
holandeses, sessenta e oito. É nesse movimento de expansão dos capitalismos
nacionais em escala mundial que se desenvolvem os diferentes surtos de
colonização desse período (p 230).
A colonização é a
força expansiva de um povo, é seu poder de reprodução ... Um povo que coloniza
é um povo que lança os alicerces de sua grandeza no futuro, e de sua supremacia
futura (...) (p 231).
Não é natural, nem
justo, que os países civilizados ocidentais se amontoem indefinidamente e se
asfixiem nos espaços restritos que foram suas primeiras moradas, que neles
acumulem as maravilhas das ciências, das artes, da civilização ... e que deixem
talvez a metade do mundo a pequenos grupos de homens ignorantes, impotentes,
verdadeiras crianças débeis, dispersos em superfícies incomensuráveis, ou então
a populações decrépitas, sem energia, sem direção, verdadeiros velhinhos
incapazes de qualquer esforço, de qualquer ação ordenada e previdente ... (p
231, 232).
Atritos dos
expansionismos nacionais. Endurecimento da competição econômica e financeira.
Rivalidades nacionais, alianças e derrubadas de alianças. Tudo isto, num fundo
de nacionalismo, de chauvinismo e de racismo, de desfiles militares e de
exposições universais (p 233).
Concentração de
capital, cartéis, trustes, monopólios; interpenetração do capital industrial e
do capital bancário nessa nova realidade: o capital financeiro; atuação
renovada do Estado, através, simultaneamente, da legislação social, da
importante atuação nas grandes obras, da expansão territorial, do militarismo;
exportação de capitais, colonização, partilha do mundo. É um "novo
capitalismo" que se desenvolve no começo do século XX, batizado por muitos
de "imperialismo" (p 234).
Graças ao
imperialismo, o capital financeiro vai poder, por uns tempos, superar as
contradições referentes ao âmbito nacional (p 234).
... o Estado, inimigo
do povo, e a nação são apenas um, e a idéia nacional, força motriz, é
subordinada à política. Desapareceram as contradições de classes, suprimidas,
engolidas pelo fato de que tudo é posto a serviço dos interesses do todo. A
perigosa luta de classes, que poderia ter conseqüências desconhecidas para os
proprietários, deu lugar às ações gerais da nação, cimentada por uma meta
idêntica: a grandeza nacional (p 234, 235).
... o imperialismo é
o ampliamento em escala mundial das relações de produção e de troca
capitalista, operando-se esse ampliamento, no início do século XX, sob a
dominação dos capitalismos e das burguesias britânicas, alemãs, francesas,
americanas... (p 235).
Rivalidades,
concorrência, atritos, enfrentamentos; interesses industriais e financeiros,
mas também ímpetos patrióticos; mesmo não sendo a única causa, a expansão
imperialista dos capitalismos nacionais no fim do século XIX e no início do
século XX está fundamentalmente na origem da "Grande Guerra" de
1914-1918 (p 236).
A GRANDE REVIRAVOLTA
(1914-1945)
Nosso século, nem
sequer findo, terá visto se suceder duas idades radicalmente diferentes e sem
qualquer outra transição senão a guerra (p 241).
A guerra mundial nada
resolveu, muito ao contrário. A necessidade de expansão em escala mundial
continua vigorosa enquanto foi destruído o antigo sistema de pagamentos
internacionais (p 242).
DA GUERRA À CRISE
"O capitalismo
traz em si mesmo a guerra, como as nuvens escuras a tempestade", havia
dito Jaurès (p 242).
A Grande Guerra de
1914-1918 convulsiona a Europa, acentua o declínio britânico, fortalece os
Estados Unidos, sem resolver na realidade as contradições de antes de 1914 (p
242).
1910: "Em toda
greve, o exército é a favor do patronato; em todo conflito europeu, em toda
guerra entre nações ou colonial, a classe operária é lograda e sacrificada em
proveito da classe patronal parasitária e burguesa (p 242, 243).
... às vésperas da
guerra, trabalhadores da Europa se opunham à introdução de novos métodos de
organização do trabalho (p 243).
... o operário
reduzido ao estado de bruto, a quem é proibido pensar, refletir; ao estado de
máquina sem alma produzindo intensamente, com excesso, até que um desgaste
prematuro, fazendo dele um não-valor, jogue-o para fora da fábrica. O método
Taylor é implacável; ele elimina os não-valores e aqueles que ultrapassaram a
idade da plena atividade muscular (p 243, 244).
Mas a guerra permite
a implantação de métodos de organização científica do trabalho (p 244).
... "o interesse
da organização do trabalho, dos métodos que permitem as mais delicadas
fabricações sem mão-de-obra especializada" ... (p 244).
Enfraquecimento dos
capitalismos da Europa e "declínio da Europa" impossível de dissociar
esses dois movimentos. Os Estados Unidos são, doravante, a primeira potência
econômica;
a Alemanha vai reconstituir seu poderio industrial; a URSS e o Japão, segundo
diferentes caminhos vão se empenhar num formidável esforço de industrialização
... (p 246).
A CRISE DOS ANOS 1920-1930
Tradicionalmente,
este período é separado em quatro partes: o boom do imediato
após-guerra, a crise de adaptação industrial de 1921, o período de
"prosperidade", a crise de 1929 e seus nrolongamentos nos anos trinta
(p 246).
A hipótese que
propomos é, ao contrário, que é a mesma crise que se desenvolve sob formas
diferentes nos anos 1920-1930; e que, sem que tenham desaparecido (será
necessário dizê-lo?) as contradições fundamentais, de um lado com as classes
operárias, de outro com as formações sociais dominadas, são as contradições
entre capitalismos nacionais que fornecem a chave da grande crise desse período
(p 247).
Durante a guerra,
fortaleceu-se o poder econômico americano; igualmente seu poder financeiro ( p
247).
Mas, na medida em que
a indústria britânica não realiza ganhos de produtividade superiores aos de
seus concorrentes, essa política deixa as exportações mais caras, logo, mais
difíceis, e o reerguimento comercial mais problemático (p 247).
... a crise de 1921,
de uma particular gravidade na Grã-Bretanha, com uma queda brutal das
exportações e um rápido aumento do desemprego (um milhão de desempregados em
janeiro de 1921, dois milhões em junho); a queda, em valor constante, das
exportações que atinge não somente os produtos siderúrgicos e o carvão, mas
também as indústrias de cotonifício e de lanifício e as fabricações de máquinas
(enquanto em 1923, as exportações alemãs reencontraram, em volume, o nível de
1913); o desemprego, que vai atingir ao longo de todos os anos 20 mais de um
milhão de trabalhadores britânicos (p
249).
Quando cada país se
pôs a proteger seus interesses nacionais próprios, o interesse geral mundial
foi evacuado e com ele os interesses privados de cada uma das nações (p 251).
É nesse contexto
internacional frágil que se desenvolvem, conforme encaminhamentos que lhes são
próprios, os diferentes capitalismos nacionais (p 251).
... as exportações
britânicas caem em valor de 1924 a 1926 e ficam, de 1927 a 1929, abaixo do
nível que elas haviam atingido em 1924; as exportações francesas haviam se
beneficiado da desvalorização do franco na primeira metade dos anos 20, mas com
a estabilização financeira de 1926 e o reatrelamento ao ouro de 1928, as
exportações de inúmeros setores diminuem já em 1928 ( p 251, 252).
Assim se acha cada
vez mais fechada a via dos mercados Externos ... a crise que sacode a
agricultura mundial desde o fim da Primeira Guerra — superprodução, queda dos
preços, queda dos rendimentos dos agricultores — reduz um outro mercado
essencial para os produtos industriais
(p 252).
UM MUNDO ESFACELADO
A Organização
Internacional do Trabalho calculou que, em 1933, uns 30 milhões de indivíduos
estavam sem trabalho no mundo inteiro (...). Nunca ocorreu nada igual a isto.
1929 a 1933 são os anos da grande depressão (p 253).
Logo após a Grande
Guerra, os Estados Unidos são a primeira potência econômica do mundo. A renda
nacional passou de 33 bilhões de dólares em 1914 para 61 em 1918 (p 254).
... o comércio
americano aproveitou as necessidades e as dificuldades dos outros países para
atingir, em 1920, um nível recorde: mais de 5 milhões de dólares de
importações; mais de 8 milhões de dólares de exportações (p 254).
Os Estados Unidos
vão, doravante, proteger-se contra as mercadorias estrangeiras (1922) e, povo
feito de imigrantes, contra a imigração (1924) (p 255).
Se o capitalismo
americano já é um imperialismo, seu horizonte é principalmente as Américas. Por
ocasião da guerra, os laços dos capitalismos britânico e canadense se
afrouxaram, e o Canadá caiu sob a influência americana: em 1904-1914, eram
aplicadas oito vezes mais de obrigações canadenses na Grã-Bretanha do que nos Estados
Unidos; em 1921-1930, o montante das obrigações canadenses aplicadas nos
Estados Unidos é vinte vezes maior que o montante daquelas aplicadas na
Grã-Bretanha (p 255).
É um formidável
crescimento, uma fascinante prosperidade que os Estados Unidos conhecem nos
anos 20. E é principalmente a classe operária que agüenta os encargos (p 256).
"em 1930, as
duzentas maiores sociedades controlavam perto da metade da fortuna que não
estava em bancos (ou seja, cerca de 38% dos capitais investidos nos negócios),
atingiam 43,2% da renda das sociedades industriais e eram dirigidas por uns
dois mil indivíduos" (p 258).
A mecanização e, particularmente, a
substituição do trabalho humano e da máquina a vapor (que relativamente ainda
exigia uma certa quantidade de mão-de-obra) por motores elétricos ... a padronização os produtos em um pequeno número de tipos
testados: em 1900, contavam-se 55000 tipos diferentes de lâmpadas elétricas; em
1923, não se contavam mais que 342; o planejamento do trabalho, em todos os setores das
fábricas, grandes ou pequenos ... a fabricação em linha de montagem... a
organização dos escritórios, os mesmos princípios que ocasionavam o
crescimento da produtividade nas fábricas foram aplicados nos escritórios e
contribuíram, também aí, para aumentar o
rendimento do trabalho ... (p 258).
... o "trabalho
em linha de montagem" de uma maneira "sensacional", é Henry Ford
que põe em prática esse modo de organização da produção de maneira mais
sistemática. Cada trabalhador ocupa um posto, do qual ele não se mexe, pois
"andar a pé, repetia Ford, não é uma atividade remuneradora". São,
portanto, as peças que se movimentam numa correia transportadora; e cada
trabalhador efetua uma operação, por vezes duas ou três ... (p 259).
Como Carlitos, em Os
Tempos Modernos, muitos não aceitam, não suportam, recusam (p 260).
Henry Ford tem a
idéia, e de certo modo a audácia: enquanto os salários da indústria
automobilística são de dois a três dólares por dia, ele decide elevá-los para
cinco dólares a partir de 1? de janeiro de 1914, encurtando a jornada de
trabalho de nove para oito horas (p 260).
"A fixação do
salário da jornada de oito horas para cinco dólares foi uma das mais belas
economias que fiz em minha vida; porém, subindo-o a seis dólares, fiz uma mais
bela ainda": com efeito, Henry Ford sobe a jornada para seis dólares em 1?
de janeiro de 1919 e para sete dólares em 1? de dezembro de 1929 (p 261).
Mas não se trata
somente, para Ford, de se assegurar de uma mão-de-obra disciplinada e fiel.
Trata-se, em primeiro lugar, de abrir brechas, ampliar as diferenças no seio da
classe operária: entre aqueles que trabalham na Ford e os outros ... (p 261).
Não têm direito ao Fixe
Dollars Day:
— os operários que
têm menos de seis meses de casa;
— os jovens operários
de menos de vinte e um anos;
— as mulheres (uma
vez que elas se casam).
Além do mais, uma
"boa moralidade" era necessária: "limpeza e reserva", não
fumar, não beber, não jogar, não freqüentar os bares... O Five Dollars Day é,
assim, um instrumento de controle e de algum modo de "adestramento"
(p 261).
Exploração de uma
parte da classe operária segundo os métodos de antes de 1914, de um lado
(salários baixos, métodos brutais de enquadramento e de manutenção da ordem, factory
system e sweating system); mas também produção em massa, organização
racional do trabalho, política de altos salários para uma outra parte dos
trabalhadores e, assim, consumo em massa ao qual acede uma fração da classe
operária: eis as bases da "prosperidade" americana dos anos
vinte (p 262, 263).
Certamente o
desemprego recuou; porém, ainda há 10% de desempregados em 1940. Mas a duração
média do trabalho baixou efetivamente, passando de cerca de cinqüenta horas a
cerca de quarenta horas semanais; os salários reais dos trabalhadores
empregados aumentam; os contratos coletivos cobrem um número cada vez maior de
setores (p 268).
O avesso da ascensão
do poderio americano é o declínio da Europa. Declínio que atinge
particularmente os dois capitalismos mais antigos: o britânico, que dominou o
mundo no século XIX, e o francês, que nunca logrou se arrancar completamente de
seu enraizamento provincial e rural. Cada um deles vai se obstinar, após a
Grande Guerra, em restaurar sua moeda, simultaneamente instrumento e símbolo de
poder: fazendo a classe operária pagar largamente o preço disso e extraindo
recursos e riquezas em seu império (p 268).
Mas a crise de
1920-1921 faz o número de desempregados aumentar: 1 milhão em janeiro de 1921,
2,5 milhões em julho; o desemprego atinge a metade dos trabalhadores na
metalurgia, um terço na construção naval; os proprietários das minas procuram
reduzir os salários ... (p 270).
Já em 1927, os
conservadores consolidam sua vantagem com a votação de uma lei que limita os
direitos sindicais: proibição do direito de greve para os funcionários, que já
não podem aderir ao Trade Unions Council; proibição de greves de solidariedade,
de greves visando fazer pressões sobre o governo; a greve geral é decretada
ilegal (p 270).
Fundamentalmente, a
classe operária está enfraquecida: inicialmente pelo desemprego ... (p 270).
... ela também é
enfraquecida por uma considerável heterogeneidade, correspondente à grande
diversidade do capitalismo britânico, às desigualdades de salários, às
diferenças de estatutos, às tradições de profissões (p 271).
... nos anos 30,
medidas vão ser tomadas ou generalizadas: jornada de oito horas, semana anual
de férias (1938). Os mais desamparados podem receber alguma coisa, amiúde muito
pouco; menos da metade dos velhos recebem uma pensão que só raramente atinge um
mínimo decente; chefes de família doentes podem receber magros auxílios-doença;
e as condições de atribuição dos auxílios-desemprego continuam, ao longo de
todos os anos 30, diferenciados e restritivos. Daí as marchas da fome,
notadamente em 1932, duramente reprimidas pela polícia (p 271).
... trinta anos
depois do Five Dollars Day de Ford, Keynes expõe uma teoria econômica
que permitirá justificar novas políticas, através das quais será procurada, e
em parte conseguida, a integração do mundo do trabalho na sociedade capitalista
... (p 273).
A longa crise dos
anos 20 e 30 atinge particularmente os setores da primeira industrialização que
fizeram o poder do capitalismo britânico no século XIX: as explorações de
carvão, a metalurgia, a indústria têxtil. Ao contrário, desenvolvem- se as
indústrias da segunda geração: indústria elétrica (que dobra o número de seus
assalariados entre 1924 e 1937), automobilística (que dobra sua produção entre
1929 e 1937), transportes rodoviários, seda artificial, indústrias alimentares
(p 273).
Em formas adaptadas a
cada produção, a cada formação social e a cada tipo de presença da metrópole, a
coação ao sobretrabalho está em andamento, cada vez mais profundamente, nos
cinco continentes. Brotam novas formas de miséria. Novas injustiças. Novas
aspirações à libertação, à independência: amiúde são as classes abastadas e os
intelectuais, por vezes membros dos cleros, dos religiosos, que se fazem
porta-vozes dessas pretensões. Exatamente quando se torna mais vital que nunca
para o capitalismo britânico, o Império já está marcado por inumeráveis
rachaduras (p 276).
É na crise dos anos
30 que a concentração em torno do Império aparece com mais nitidez: as trocas
com as colônias só representavam 12% para as importações e 19% para as
exportações em 1928-1930 (p 277).
Mas se o Império
possibilitou amortecer em parte os efeitos da crise dos anos 30, não é
principalmente sobre sua exploração que se baseou o crescimento do qual se
beneficiou o capitalismo francês nos anos 20 (p 278, 279).
... se fortalece o
lugar ocupado pelo setor dos meios de produção na indústria francesa, ao passo
que para a indústria britânica (muito avançada nesse campo antes da Primeira
Guerra) invertia-se o movimento (p 279).
Esse crescimento é
produzido sobretudo pelas indústrias de segunda geração. A produção de
eletricidade quadruplica em 1920 a 1928 (p 279).
A indústria
automobilística vai construir 250 mil veículos em 1928; muito para a Europa,
mas pouco em comparação aos Estados Unidos; mais da metade são construídos por
Renault, Peugeot e Citroen. A indústria da borracha, que tem em 1929 uma
produção oito vezes e meia superior à de 1913, é dominada por Michelin.
Consideráveis progressos também na indústria química, dominada por Kuhlmann ...
(p 280).
Progresso rápido do
alumínio e da eletrometalurgia, com Pechiney e Ugine. Mesmo a produção de ferro
e de produtos siderúrgicos, sempre dominada pelos Schneider e pelos Wendel,
progride durante esse período (p 280).
Esse crescimento é
estimulado por um forte aumento das exportações, favorecido pela depreciação do
franco até 1926-1928 ... se baseou em parte numa depreciação relativa do
trabalho francês em comparação ao trabalho americano ou britânico, realizada
através da baixa relativa do franco, a qual facilita a manutenção e o
desenvolvimento das correntes de exportação (p 280, 281).
Esse crescimento da
produtividade está ligado a uma intensificação da mecanização e da motorização,
à modernização e à racionalização do aparelho industrial ... (p 281).
... na siderurgia:
"A redução do número dos operários devida às perdas resultantes da guerra,
à elevação dos salários", escreve Eugène Schneider em 1931, "obrigou
o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dos equipamentos, substituindo a antiga
mão-de-obra por eles, tanto para a fabricação quanto para a manutenção"
... (p 281, 282).
... os progressos de
produtividade do período entre as duas guerras resultam ao mesmo tempo da
mecanização/motorização/racionalização da produção e da intensificação do
trabalho sob a pressão de métodos de organização e de remuneração variados,
com, muito freqüentemente, uma política paternalista de
estabilização/integração dos trabalhadores, seguida pelas grandes empresas (p 282, 283).
Em 1919 é votada a
lei sobre a jornada de oito horas: sua aplicação acarreta uma nítida queda da
duração do trabalho em 1920 e 1921. O arrefecimento da atividade provoca, a
partir de 1929, uma nova e sensível queda da duração anual do trabalho (p 285).
A lei de 1919, sobre
as convenções coletivas, quase não foi aplicada. A de 1928 sobre a previdência
social acarretará um primeiro alargamento do salário indireto, cujo peso
representará um quarto da massa salarial em 1937. Em 1936, além dos aumentos de
salários, as quarenta horas e as férias pagas, o direito sindical é ampliado e
fortalecido, o sistema de convenções coletivas generalizado, e são criados os
delegados de empresa... (p 286).
O programa do Partido
Nacional Socialista, em 1920, tem aspectos nitidamente anticapitalistas. Ele
preconiza a nacionalização das sociedades de ações, que se tornarão "bens
da comunidade nacional" (p 287, 288).
Por certo, houve a
derrota, as amputações e as humilhações: houve as dívidas de guerra, a ocupação
do Ruhr, a inflação absoluta que destruiu a moeda, o peso das reparações, o
esforço de austeridade... Há a crise dos Estados Unidos que vem atingir direta
e plenamente um reerguimento econômico de uma extrema fragilidade, tanto no
interior quanto no exterior ... (p 290).
Há um movimento
operário enfraquecido por seus fracassos do início dos anos 20 e pela
divisão profunda que
faz do PC alemão, estreitamente ligado à URSS, e da social-democracia dois
irredutíveis adversários. Há uma classe dirigente, ela mesma dividida, em que o
patronato industrial e financeiro se opõe aos proprietários rurais, as
indústrias manufatureiras à indústria pesada, o patronato médio (desejoso em
negociar um compromisso com a classe operária ao grande patronato (preocupado
numa revanche sobre o movimento operário e em recobrar um poder absoluto) (p 290).
Há, enfim, as classes
médias — empresários e negociantes individuais da pequena e média burguesia;
funcionários e empregados da pequena e média bureoisie traumatizados e
tingidos pela crise; o campesinato, cujo poder de compra é achatado; a classe
operária, da qual, salienta Reich, algumas camadas "aburguesam-se" e
na qual as mulheres continuam largamente submetidas à influência da Igreja (p
291).
Os trabalhadores são
organizados na Frente do Trabalho criada já em maio de 1933, na
mesma época em que são
dissolvidos os sindicatos ... Para tudo,
para todos, há organizações: para os jovens, os estudantes, os professores, os
artistas, as mulheres, os pais... O rádio, a imprensa, o cinema, o ensino estão
totalmente a serviço da ideologia e da propaganda nacional-socialista (p 294).
Duas grandes
potências dominam doravante um mundo devastado: os Estados Unidos, agora líder
predominante do campo capitalista; a URSS, no centro de um novo bloco que se
proclama do socialismo (p 297).
O GRANDE BOOM DO CAPITALISMO (1945-1978)
... a Segunda Guerra
Mundial, a reconstrução e o período de prosperidade que a seguiu, a
descolonização, a internacionalização do capital e as novas industrializações
do Terceiro Mundo marcam um novo surto do capitalismo em escala Mundial (p
301).
DA GUERRA À CRISE
A riqueza e o poder
dos Estados Unidos são um quarto da riqueza e do poder do globo". Ao fim
da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos são a primeira potência do mundo;
mas é em seu território que eles desdobram sua expansão e sobre as Américas que
eles estendem seu poder. Ao fim da Segunda Guerra, os Estados Unidos constituem
uma enorme potência industrial, monetária e militar ... (p 302).
Assim se organizam —
economia, moeda, defesa — dois mundos frente a frente: o mundo capitalista,
ontem hegemônico, descobre hoje que a terra já não lhe pertence, que
matérias-primas e mercados já não lhe são acessíveis, que existe um outro mundo
de acumulação e de industrialização, fundamentado sobre a apropriação coletiva
dos meios de produção, sobre o planejamento, sobre a direção e a coação do
Estado. Ao mesmo tempo, nasce um outro mundo: O Terceiro Mundo. Nasce
principalmente através do poderoso movimento de descolonização engendrado
através da guerra, pelo fortalecimento, aqui de novas burguesias, e ali da
intelectualidade, pela conscientização do caráter insuportável e não inelutável
da dominação colonial, pela vontade de independência (o mais das vezes sob a
forma de independência nacional) (p 304, 305).
Antes mesmo que acabe
a descolonização política em todo o globo, novos Estados independentes procuram
reconquistar o domínio de suas riquezas naturais (nacionalização do petróleo
iraniano em 1951) ou de seus trunfos econômicos (nacionalização do canal de
Suez pelo Egito em 1956). Os chefes de Estados do Terceiro Mundo se encontram e
procuramconstituir uma força que pese nos destinos do planeta ... (p 305).
UMA PROSPERIDADE EXCEPCIONAL
Após a reconstrução,
o elenco dos países capitalistas conhece um notável período de crescimento.
Jamais o mundo conhecera um tamanho progresso simultâneo da produção industrial
e do comércio mundial (p 311).
Nesse movimento
geral, o peso do mundo capitalista desenvolvido continua predominante: três
quintos da produção industrial e dois terços do comércio mundial; e o dos
Estados Unidos domina: um terço da produção industrial mundial (p 311).
Enfim, nesse
movimento geral de crescimento se acentua a desigualdade em escala mundial;
mesmo quando as taxas de crescimento superiores indicam o início de um processo
de alcançamento, alarga-se a diferença em valor absoluto entre o produto per
capita nos países capitalistas desenvolvidos e no Terceiro Mundo (p 313).
O aumento da
produtividade foi obtido através dos diferentes modo de coação ao
sobretrabalho, aperfeiçoados pelo capitalismo no decorrer de seu
desenvolvimento: são as várias pressões exercidas através da submissão indireta
ao capital sobre o conjunto dos agricultores ... de artesãos e de pequenos
comerciantes ... (p 314, 315).
... são, quando a
automatização não é muito possível, os velhos métodos de trabalho por tarefa,
do trabalho a domicílio ... (p 315).
... é a
subempreitada, que permite a uma grande empresa que preza a sua reputação
exigir baixos preços de custo de um pequeno empresário ... (p 315).
... é a instalação de
novos equipamentos, com maior capacidade, maior velocidade, beneficiando-se dos
progressos da automatização, modificando a natureza do trabalho ... (p 315).
... em todos os
lugares onde eram pouco desenvolvidos, notadamente na Europa e no Japão, e toda
vez que o podem ser, são os procedimentos doravante "clássicos" de
organização do trabalho que são introduzidos: taylorismo, fordismo, sistemas de
trabalho que incitam à produção ... (p
315).
... é também, para
rentabilizar melhor os equipamentos, cada vez mais caros, o desenvolvimento do
trabalho por turnos, trabalho em equipe que permite produzir catorze, dezesseis
ou vinte e quatro horas por dia ... (p
315).
... enfim, é a
intensificação do trabalho nos escritórios, nos bancos, e companhias de seguro,
no correio, etc ... (p 316).
Portanto, é através
de um processo diversificado de coação ao sobretrabalho e com base num
considerável esforço de acumulação que permite a instalação de materiais
modernos que foi obtido o aumento da produtividade nos anos 1950-1960 (p 316).
Este crescimento se traduz por um aumento da construção de habitações e
por um novo surto da urbanização; por um desenvolvimento das redes de estrada e de
auto-estradas; pela extensão das saídas de fim de semana e dos grandes êxodos
das férias anuais; por um ampliamento das despesas com a saúde; pela
generalização do recurso ao crédito; não somente para o acesso à propriedade da
habitação mas também para a compra de automóveis e de bens duráveis (p 319,
320).
UMA NOVA GRANDE CRISE
Anos 60: a crise
parecia inconcebível. Anos 70: a crise chegou, com seu cortejo de
conseqüências, incontrolável, indomável (p 321).
Arrefecimento do
crescimento, ascensão do desemprego, acentuamento da inflação, baixa do poder
de compra dos trabalhadores; incerteza, inquietação, angústia latente;
progresso da direita na Europa e nos Estados Unidos. Ameaça, temor, após a
Primeira Guerra que seguiu a primeira "grande depressão" e a Segunda Guerra que foi
engendrada pela segunda grande crise
mundial", de que esta terceira "grande crise" resulte numa
Terceira Guerra Mundial (p 322).
Na produção, é em
seguida e sobretudo o aumento da recusa de uma certa forma de organização do
trabalho: recusa do trabalho desqualificado, parcelizado, repetitivo; revoltas
contra as "cadências infernais", contra os ritmos da linha de
montagem que desgastam os nervos e provocam as estafas ou acidentes (p 323).
Desinteresse pelo
trabalho, falta de cuidados, defeitos de fabricação: como o explica Gary
Bryner, sindicalista americano, a monotonia, o tédio, o cansaço ajudando, a um
dado momento o trabalhador chega a ponto de se dizer: "Ah, merda, também é
só uma banheira!" (...) e deixa
passar um automóvel. Se alguma coisa não foi soldada, ou instalada, alguém
arrumará isso — tomara" (p 323, 324).
Ademais, os
movimentos de consumidores denunciam os produtos que estragam muito depressa;
são muitos os compradores atentos à qualidade e à vida útil do produto que
compram (p 324).
Para cada capitalismo
nacional, o esforço para a exportação parece que deve servir ao menos como
paliativo à saturação progressiva dos mercados internos ... (p 325).
Isto quer dizer que
se intensifica a concorrência entre os produtores industriais de cada país com
os produtores estrangeiros ... (p 325).
Para vender, aumenta
cada vez mais a necessidade de estar presente no país; nele efetuar as
montagens, até mesmo produções. Então, desenvolve-se o que continuará até aqui
uma forma excepcional de internacionalização do capital: a implantação de
filiais ou a tomada de controle de empresas no estrangeiro (p 326).
Introdução de
tecnologias de maiores desempenhos e de aparelhagens mais caras, acirramento da
competição, pesquisa e conquista de mercados externos, internacionalização da
produção: o conjunto desses processos é acompanhado pelo fortalecimento da
concentração (p 326).
... são enormes
potências financeiras e industriais americanas que dominam a produção e a
comercialização do petróleo (Standard
Oil, Mobil, Texaco, Gulf), o automóvel (General Motors, Ford, Chrysler), a
construção elétrica (General Electric, Western Electric), a informática (IBM);
as teletransmissões (ITT), etc. (p 327, 328).
Na França, eleva-se o
número de fusões após 1960, especialmente a partir de 1963; oitocentas e
cinqüenta fusões entre 1950 e 1960, mais de duas mil entre 1961 e 1971 (p 328).
Na República Federal
da Alemanha, a concentração propriamente dita é dobrada "pela forte
concentração dos poderes no centro dos conselhos de administração dos grandes
bancos e das principais empresas (...) (p 328).
CRISE DO SMI E SURTO DO TERCEIRO MUNDO
Nesse combate de
titãs, os grupos americanos dispõem de uma vantagem que desequilibra
consideravelmente o jogo: a moeda americana, o dólar, é na verdade a moeda do
mundo (p 329).
Mas, à medida que vão
se reconstituindo e se modernizando as economias dos principais países
capitalistas, suas trocas se restabelecem, suas moedas se afirmam, suas contas
melhoram, seus pesos relativos aumentam em relação aos Estados Unidos (p 330).
... um duplo
movimento que vai dar origem à crise do dólar: — o crescimento dos haveres em
dólares dos parceiros dos Estados Unidos; — a queda do estoque de ouro
americano (p 332).
Forte, o dólar era um
meio de dominação; desvalorizado, ele facilita a competição comercial (p 332).
Entretanto,
paradoxalmente, há, nesse momento, convergência de interesses das sociedades
americanas com os países produtores de petróleo (p 334).
.. acrescentando-se à
desvalorização do dólar, a elevação do preço do petróleo mundial contribui
também para melhorar a situação dos industriais americanos em relação a seus
concorrentes
da Europa e do Japão (p 334).
Alta do preço do
petróleo e do ouro; desarranjo do sistema monetáriointernacional levando à
adoção das taxas de câmbio flutuantes; enfraquecimento do dólar, cuja força
principal reside no fato de que nenhuma moeda está capacitada para substituí-lo
na função de moeda internacional; aceleramento do processo da criação
monetária, com cada grande banco estando em condições de conceder créditos em
diferentes moedas e, portanto, de contribuir para a criação dessas moedasem
escala mundial; especulação internacional; inflações nacionais e mundial;
empresas ou setores pegos no turbilhão da
crise;
desemprego, inquietação, medo do futuro... (p 335).
A
NOVA MUTAÇÃO DO CAPITALISMO
O mundo tende cada
vez mais a ser cortado em dois: o campo capitalista e o campo coletivista. Com
duas superpotências, os Estados Unidos e a União Soviética; e dois grupos de
potências intermediárias; e dois conjuntos de países pouco desenvolvidos e
dominados (p 338).
EXPLOSÃO DO TERCEIRO MUNDO
Durante o período de
prosperidade, o desenvolvimento nos países industrializados acarretara o
"desenvolvimento do subdesenvolvimento" nos países dominados.2 6 No
decorrer da crise, as disparidades, as desigualdades se acentuaram mais na escala
do mundo, mas também na do Terceiro Mundo (p 340).
Entre os países mais
ricos e os mais pobres aparecem, na Europa do Sul, na América Latina, na África
e na Ásia, grupos de país ou de países onde se eleva a renda média (p 341).
Desde o fim da
colonização, capitalismo ou coletivismo, formam-se novas zonas de
industrialização na Ásia do Leste e do Sudeste, em torno da bacia mediterrânea
e em alguns países da África. E a industrialização desses países prossegue, até
se acentua no período atual da crise (p 343).
sabe-se que esses
crescimentos são largamente determinados pelas implantações ou pelos comandos
dos grandes grupos industriais ocidentais... e japoneses. O que não impede que
haja formação de novas burguesias (p 344).
Durante o mesmo
período (1970-1977) o crescimento industrial também é elevado em diferentes
países da América Latina ... (p 344).
Zona oprimida pela
dominação americana, países já ricos de revoluções, de lutas camponesas e
operárias, de conquistas populares e de inesperados desenvolvimentos da
democracia (p 344).
Na crise atual, a rivalidade entre os
principais países capitalistas teve seu quinhão: concorrência internacional se
exacerbando com a progressiva saturação dos mercados nacionais; acentuamento
das exportações e dos investimentos no exterior — em grande parte recíprocos;
recusa da liderança absoluta que os Estados Unidos haviam assegurado após a
guerra; questionamento de um sistema monetário internacional fundamentado no
dólar... (p 346).
Mas
nenhum país é candidato a assumir o posto ... (p 346).
A única rival dos
Estados Unidos é a União Soviética; sua ambição, hoje, é de fazer recuar, de
abocanhar aos poucos a esfera de influência americana. Assim, o campo
capitalista vai continuar dominado pelos Estados Unidos (p 346).
Cada um dos
capitalismos desenvolvidos deve, se quiser continuar no grupo dominante, não se
deixar distanciar no interior do conjunto, e, em certas áreas, tomar a
dianteira (p 348).
Aos olhos das classes
dirigentes dos países imperialistas, a condição para isto é a reestruturação
das atividades produtivas para uma melhor competitividade e, logo, fechamento
de empresas e a liquidação total ou parcial de setores produtivos; é também um
acréscimo de pressão sobre o mundo do trabalho para ajudar as empresas a
renconstituírem sua rentabilidade (p 348).
UM NOVO MODELO DE ACUMULAÇÃO
Já se pode perceber
quais serão os principais componentes desse novo modelo de acumulação: — novas
indústrias de sustentação; — novas mutações no processo de trabalho; — uma
grande reviravolta do modo de vida que reativará um "novo consumo em
massa"; — uma diversificação mais acrescida das formas de mobilização dos
trabalhadores (p 349, 350).
As novas indústrias
de sustentação serão: — as novas energias (nuclear, solar, etc.) ... as novas técnicas de fabricação dos
materiais, das substâncias e dos elementos ... as aplicações da eletrônica
... (p 351).
Com essas novas
tecnologias, especialmente as teletransmissões e a eletrônica, o processo
direto de produção, o processo de trabalho vão ser profundamente transformados,
na indústria, claro, mas também nos escritórios, nos correios e telefônicas e
nos bancos, nos sistemas educativos e de saúde, na agricultura, etc. (p 351).
... é uma profunda
renovação do modo de vida que vai se operar, acarretando a difusão progressiva,
depois maciça dos produtos eletrônicos ... (p 355).
Auxílio econômico e
militar, socorros alimentares, empréstimos, doações, investimentos industriais
ou comerciais, trocas de mercadorias, presença cultural e militar: tantos laços
que se atam, e reforçam a dependência (p 359).
O sistema permite, antes
de tudo, evitar que muitos países pendam para o campo coletivista. Ele também
constitui um formidável sistema de recolhimento do valor produzido em escala
mundial (p 360).
Esse recolhimento se
efetua em primeiro lugar através do pagamento dos juros e dos encargos da
dívida externa. O endividamento dos países dominados se tornou realmente maciço
no curso do período recente e constitui um novo "acorrentamento", uma
nova forma de dependência (p 360).
... a força de
trabalho do Terceiro Mundo, comprada a preço baixo e aproveitada nos segmentos
produtivos integrados num processo produtivo multinacional dominado pelos
grupos industriais e financeiros, lhes permite se beneficiar de uma parte do
valor produzido no Terceiro Mundo ... (p 363).
E várias centenas de
milhões de camponeses estão se proletarizando: expulsos de suas terras, de suas
cidadezinhas, e obrigados a venderem sua força de trabalho para viver ... (p
363, 364).
Além da disparidade
dos povos, das culturas, das línguas, das religiões, das maneiras de viver e de
morrer, o que faz sua unidade é uma rede múltipla de laços: laços econômicos
(intercâmbios comerciais, empréstimos, doações, "auxílios" ou
"assistências" variados...), mas também alianças de classes em escala
mundial — as classes dirigentes dos países imperialistas se apoiando sobre classes ou forças
organizadas (exército, polícia) dos países pontos de apoio e dos países
dominados (daí a importância da ajuda militar, da assistência policial, da
presença e da intervenção dos serviços secretos, etc) (p 365).
E essas disparidades
criam novas "solidariedades": as famílias dirigentes do Terceiro
Mundo aplicam suas riquezas nos países "seguros" da esfera
imperialista (Estados Unidos, Suíça,41 paraísos fiscais, etc); elas assumem
participações nos grupos industriais ou bancários dos países dominantes ... (p
366).
Enfim, essa unidade
do sistema imperialista é sustentada por conflitos, rivalidades, relações de
forças (p 366).
... a unidade do
imperialismo é largamente fundamentada sobre o enfrentamento, a rivalidade, a
tensão perante o bloco coletivista de Estado dominado pela União Soviética (p
370).
... desde 1950,
"o poder destrutivo total nos arsenais mundiais se multiplicam por vários
milhões (...). O aumento atual das despesas militares sobrevém num momento em
que um bilhão e meio de indivíduos não têm acesso a serviços médicos adequados,
em que 570 milhões dentre eles estão gravemente subalimentados, em que três
bilhões de homens não contam com água salubre...". Assim, aí está o mundo
preso numa espiral de terror e de devastação: de um lado, acumulam-se os meios
de destruição, que permitiriam destruir várias vezes nosso planeta; do outro,
quinhentos milhões de humanos estão ameaçados de morrer de fome no curso dos
anos 1980;46 uma crise econômica que, por causa do enorme endividamento
internacional, dos fatores nacionais em jogo e da especulação, é indominável, e
novos progressos tecnológicos que vêm reforçar ainda mais o poder dos poderosos
e o esmagamento dos fracos... (p 371, 372).
Como negar a
fascinante criatividade desse sistema que, em alguns séculos, fez os teares
mecânicos movidos pela água ou a vapor passarem aos robôs industriais capazes
de realizarem uma seqüência de operações complexas, da impressão à
teletransmissão, da descoberta da América à exploração do espaço? (p 373, 374).
E, do mesmo modo que
o capitalismo, o coletivismo de Estado encontra a realidade nacional e se
combina com ela: a potência russa, exaltada pela ideologia do socialismo e
encontrando apoios no vigor das lutas antiimperialistas, pode através do
coletivismo de Estado se dotar do aparelho econômico e militar que faz dela a
segunda do mundo (p 375).
... Em cada época, o
capitalismo funcionou ao mesmo tempo em escala nacional/regional/local e em
escala mundial .. (p 376).
Em cada época, o
capitalismo foi ao mesmo tempo fator de unificação, até de uniformização, e fator
de acentuamento das diferenças, das disparidades e das desigualdades ... (p 376).
Em cada época, o
capitalismo foi ao mesmo tempo criador e destruidor; mas hoje, é a
própria existência do planeta e da humanidade que está em jogo (p 376).
Nos países do Terceiro Mundo, nos países dominados, tudo está por fazer.
Combater ao mesmo tempo as dominações imbricadas do imperialismo ... pequenas
produções, má alimentação, má saúde, mortalidade, analfabetismo. A reconquista
de uma independência nacional ou "continental" — parece necessária; e
não se trata de se libertar de uma dominação para cair noutra: a construção de
um amplo elenco de países não-alinhados é fundamental para isto (p 377).
NO ÂMAGO DA MUTAÇÃO
Hoje, quase só é possível indicar alguns aspectos: a ascensão de novas
potências, o Brasil, a índia, a China, além de outras, principalmente na Ásia,
de menor peso; o acentuamento das interdependências, com a atenuação relativa
da importância do fato "nacional", vinculado ao fortalecimento
relativo de outros níveis: o inter e o multinacional, mas também o local, o
regional, o plurinacional ... (p 380).
Mais precisamente: são, em cada época, os capitalismos nacionais
dominantes que, através de suas relações econômicas internacionais (intercâmbios
exteriores, exportações de capitais, crédito, etc.) e da criação de espaços
econômicos multinacionais por suas principais firmas e bancos,
estruturam o que se pode chamar de sistema de economia mundial (p 381).
Nos anos 1980, esse sistema nacional/mundial hierarquizado capitalista —
com o qual coexiste um sistema plurinacional estatal dominado pela União
Soviética — está nitidamente estruturado ao redor de três pólos: os Estados
Unidos, o Japão e a Europa. Dois pólos correspondem a Estados nacionais: o
primeiro, os Estados Unidos, é uma grande potência econômica há perto de um
século; foi a potência hegemônica durante o quarto de século que seguiu a
Segunda Guerra Mundial e assume hoje sua qualidade de potência dominante em
todos os setores: econômico, financeiro, monetário, mas também tecnológico,
científico, informacional e ainda político, estratégico. O segundo, o Japão,
afirmou-se com determinação no decorrer das últimas décadas, principalmente nos setores industrial,
comercial, tecnológico; ele está se afirmando em novos setores: bancário,
monetário e financeiro, e se prepara para pesar mais nos setores militares e
estratégicos (p 381, 382).
Mas a estruturação da
economia mundial não se opera somente através das relações econômicas
internacionais: ela também opera, cada vez mais, através do desenvolvimento
de firmas e de bancos multinacionais (p 384).
As firmas
multinacionais têm uma estratégia que ao mesmo tempo leva em conta a dimensão
mundial, atuam nas diferenças entre países, e têm em conta realidades locais;
elas desempenham um papel determinante na introdução de uma divisão
internacional do trabalho na qual se articulam especializações dominantes e
especializações dependentes (p 384).
Laços internacionais
e espaços multinacionais; relações comerciais, financeiras, tecnológicas,
informacionais, monetárias; assim se estrutura, de uma maneira cada vez mais
densa e cerrada, o espaço da economia mundial (p 387).
Situações
insustentáveis; situações explosivas em países divididos há décadas entre o
processo de modernização/industrialização/urbanização e o
"in-desenvolvimento", a miséria, o subemprego, a subnutrição de
largas camadas da população. E não é uma coincidência se, nessa fase crítica,
regimes militares dão lugar a regimes civis, e ditaduras a governos que
reivindicam a democracia ou se mostram preocupados em restabelecê-la (p 390).
O FIM DO CAPITALISMO INDUSTRIAL?
... por todo o mundo, nos estados-maiores das multinacionais, nas equipes
de grande desempenho das pequenas e médias empresas de ponta, nas tecnocracias
modernistas dos Estados, surge o século XXI (p 393).
... pode-se adiantar que, neste fim do século, a indústria e a tecnologia
mundiais vão ficar submetidas a um condomínio nipo-americano (p 393).
O futuro, enfim, é o
que sempre constituiu o "sistema nervoso" do capitalismo: as
finanças, os bancos, o crédito, a moeda, a bolsa. O dólar, com o sistema
financeiro americano, vai continuar por muito tempo determinante; o iene, com o
fortalecimento da economia e do setor bancário japonês, vai seguramente assumir
importância; o futuro do escudo depende estreitamente do da Europa (p 395).
Internacionalização, multinacionalização, mundialização, do mundo e das
nações, através da dinâmica dos capitalismos nacionais dominantes... (p 396).
CONCLUSÃO
No
século XIX a Europa experimentava um acelerado processo de industrialização que
determinou o fim do monopólio britânico. Dessa maneira, a concorrência entre os
países industrializados levou a incessante busca por novos mercados
consumidores, as potências industriais acreditavam que era o momento de ampliar
suas respectivas, o que resultou na conquista e exploração de vários
territórios africanos e asiáticos.
O
crescimento da população européia teve um importante papel, pois o crescimento
demográfico estimulava os europeus a se mudarem para estas regiões
afro0asiáticas em busca de oportunidades econômicas. As nações imperialistas
foram responsáveis pela criação de uma série de problemas nos países dominados.
Os imperilaistas perseguiam determinadas práticas culturais que delineavam a
identidade dos povos dominados. Assim, observamos que a missão civilizatória
acabou ressaltando a diferença entre os povos e abrindo espaço para essa
indiscriminada exploração do outro.
Os
imperialistas perseguiam determinadas práticas culturais que delineavam a
identidade dos povos dominados. Nos dias atuais várias nações tentam auxiliar
na recuperação das regiões mais gravemente assoladaas.
CONCLUSÃO
Na Europa, as características do
capitalismo aparecem desde a Baixa Idade Média (século XI a XV), com a
transferência do centro da vida econômica, social e política dos feudos para as
cidades. O
capitalismo voltado para o comércio surge do século XVI ao XVIII, iniciando-se
com as grandes navegações européias. Os navegadores acumulavam riquezas através
do comércio de especiarias e matérias-primas.
Com a Revolução Industrial
no século XVIII, inicia-se um processo
ininterrupto de produção coletiva em massa, geração de lucro e acúmulo de
capital. A partir daí a burguesia industrial assume o controle econômico e
político. O acúmulo de riqueza provinha do
comércio de produtos industrializados das fábricas européias. Este sistema
que se caracteriza pela propriedade privada dos meios de produção, trabalho
livre assalariado e acumulação de capital (riqueza), com um mercado baseado na
iniciativa privada, racionalização dos meios de produção e exploração de
oportunidades de mercado para efeito de lucro, exploração, também dos
proletariados, que veem-se obrigados a trabalhar por um salário medíocre para
sobrevivência. Todo enriquecimento gerado através dos meios de produção
favorece unicamente a burguesia – classe social que detém os meios de produção.
Toda produção está sob a regência de que gerará
lucro, acúmulo de capital para o Estado, que favorece a classe burguesa, não há
distribuição igualitária dos resultados dessa produção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário