O ACRE E SUAS ORIGENS
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CONFEDERAÇÃO DA MAÇONARIA SIMBÓLICA DO BRASIL
XII ASSEMBLÉIA GERAL
Fortaleza – 16 a 22 de Julho de 1983
GRANDE LOJA DO ESTADO DO ACRE
Tema: “O ACRE E SUAS ORIGENS”
Expositor: Adonay Barbosa dos Santos
- RIO BRANCO - ACRE
Para nós acreanos, é sempre motivo de muita alegria quando somos premiados pela feliz oportunidade, como a que ora nos é dada pela Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, na sua XIII Assembléia Geral, de podermos falar sobre o nosso Estado, - o Acre hoje brasileiro pela opção de seus bravos conquistadores que, com coragem e audácia, alargaram as fronteiras de nosso solo pátrio.
E, como por feliz coincidência, aqui estamos para falar-lhes sobre o Acre, na própria terra que lhe emprestou seus filhos para conquista-lo. E rendemos pois nosso mais justo preito de gratidão e reconhecimento ao bravo povo cearense.
O atual Estado do Acre, a penúltima das unidades federativas incorporadas ao Brasil, é a única parcela do território nacional não incluída na área de colonização portuguesa, pois sua anexação foi efetuada já na vigência da República.
“A sociedade acreana formou-se e organizou-se através de um processo de luta contra um meio, onde a borracha funcionou como elemento de atração, para o qual a seca fora o fator de expulsão do elemento nordestino nele estabelecido”.
Assim sendo, a sua organização apresenta caracteres próprios, ligados as condições geográficas e econômicas e, também quanto a origem do elemento povoador, resultando daí um tipo de estruturação social distinta, assinalada em razão social da ausência de influencias diversas, comuns às demais regiões brasileiras.
O ACRE E SUAS ORIGENS
A própria origem de um povo que escreveu a sua história quando tangido pela seca desoladora, buscava em outras paragens a esperança de continuar a existir, embora que para tal, tivesse que enfrentar o desconhecido, mesmo com os pés ainda sangrando das pedras. Cheiro de mar nas carnes queimadas pelo sol impiedoso, caminhava do estorricamento para o dilúvio. Da seca para o afogamento.
E o historiador Craveiro Costa, autor da obra “A Conquista do Deserto Ocidental”, complementava dizendo que “eram dois desertos tremendamente antagônicos, esses donde vinha e para onde ia tão estranho viajante!”
“O cearense e o Acre dois destinos ainda sem comunicação com a vinda: o primeiro a procura de uma terra, que o recebesse, o segundo a procura de um povo que o tomasse. Ambos pareciam providencialmente, preparados para encontrar-se um dia”.
Era, pois a fibra nordestina que se punha em marcha em busca do desconhecido. Era na maioria originaria da terra cearense que esperava encontrar nas “tierras non descobiertas” aquilo que seu berço natal já não lhe podia dar.
Era atraída pelas notícias de que uma terra sem dono, desocupada e livre estaria de braços abertos a espera de quem quisesse cultiva-la ou para sangrar as suas arvores ricas em seiva branca e recolhendo o latexouro, enriquecer e voltar à terra para cumprir as promessas feitas aos familiares e ao santo protetor.
Para falar sobre as origens acreanas, teremos que retroceder muito e dizer que a conquista do então espaço desconhecido, formador das terras hoje acreanas, teve seu inicio já ao raiar do século XIX, quando seus vales ocasionalmente começaram a ser percorridos pelos homens de outras paragens ávidos de aventuras ou de interesses outros, inclusive, o comercial.
E podemos estabelecer então os idos de 1850, através dos catequizadores de índios, com maior participação nos rios Purus, Acre e Juruá.
E algumas controvérsias existem sobre quem chegou primeiro às terras hoje acreanas, independentes das mesmas pertencerem de direito, através de tratados, a bolivianos e peruanos.
E é fazendo justiça que mencionamos o pioneirismo de João da Cunha Correia, desbravador de Juruá e Manoel Urbano da Encarnação, desbravador do Purus, percorrendo os rios do vale do Juruá e Purus.
Muitas outras investidas colonizadoras prosseguiram, já não só em caráter geográfico-político, mas também em maior escala pelo povoamento e exploração da borracha, terminando o seu primeiro ciclo em 1866.
E o espírito de colonização era cada vez maior, e coube ao cearense João Gabriel de Carvalho e Mello iniciar a marcha para o oeste, fazendo-se acompanhar de grande parte de seus familiares e amigos, com o objetivo maior da exploração da borracha a que chamavam a época de “ouro negro”.
E aí já se formavam as grandes caravanas migratórias, tangidas pela terrível seca de 1877 em busca do “ouro extraído das arvores” – a borracha que somente – era encontrada em terras acreanas.
E João Gabriel foi cognominado muita justiça, o símbolo do pioneirismo nordestino na organização do primeiro seringal no Acre, cujo registro ficou assentado em gigantesca árvore às margens do rio Acre: “ANAJÁS, 3 de março de 1878”.
Admite-se assim o binômio seca-borracha, como responsáveis pelo desbravamento e ocupação de nossas terras para o atendimento da grande demanda. Dessa forma, a região do Acre tornou-se alvo maior dos imigrantes desesperados, que foram chegando em quantidades sempre maiores, que formada as bases de uma nova sociedade, que formada em função da atividade econômica extrativista, foi responsável pelo desenvolvimento e ampliação de novos limites territoriais ao País.
E é do Cel. Lebre, datada de 1887 esta afirmativa “Este rio (rio acre) é um dos afluentes mais populosos do Purus, exporta hoja em goma elástica, 500.000 quilos. Em pouco tempo aumentará sua produção. A sua população é de 10.000 almas, sem incluir os aborígines, que sobem ao duplo. O seu comércio é feito por mais de 15 grandes vapores (navios de caldeiras movidas a lenha) que durante a cheia (dezembro a março), fazem a navegação do rio, levando anualmente, novos trabalhadores e mercadorias.
Mais tarde, Roberto Santos dizia “a marcha povoadora”, em verdadeiras ondas humanas, dilatou-se, precipitou-se em 1899 quando os bolivianos se instalaram em Puerto Alonso, o povoamento no Rio Aquiry, ao que informa o relatório da primeira autoridade estrangeira, era realizado quase unicamente por brasileiros. Só ali, numeravam-se 80 seringais, concentrando-se a maior parte no Purus com 37 e 38 no láco.
O Tratado de Ayacucho, fixando as fronteiras brasileiro-bolivianas (27.03.1867) delimitadas “desde o Bení, na sua confluência com o Madeira para o oeste, seguindo a fronteira por uma paralela tirada da sua margem esquerda na latitude 10º20”, até encontrar as nascentes do Javari,” já não era obedecido e culminou então com a nomeação de uma comissão inter-países, representando o Brasil, o General Taumaturgo de Azevedo e a Bolívia, o General José Maria Pando, que mais tarde, como Presidente da nação vizinha tivera participação ativa no processo revolucionário acreano.
Era imperiosa a necessidade de se rever o Tratado, pois o seu original deixava dúvidas “sobre os limites estabelecidos, pois iam muito ao sul do paralelo de 10º20”, e que no Rio Acre, ao sul da linha ideal do Bení e Jaquirana, já existiam concedidos lotes de terra com títulos definitivos, fornecidos pelo Governo do Amazonas” e ainda porque a região tida como boliviana estava sendo trabalhada e ocupada exclusivamente por brasileiros e a revisão do Tratado objetivava assegurar aos nossos patrícios ali radicados, os direitos de nela permaneceram.
A proposta de Taumaturgo de Azevedo recebeu apoio integral de organismo credenciados no assunto, como o Instituto Politécnico Brasileiro, além de pessoas ilustres como: Rui Barbosa e tantos outros, somente não conseguindo sensibilizar o Governo Brasileiro, a época o Presidente Campos Sales e ao Ministro das Relações Exteriores, Dionísio Cerqueira que, por completo desconhecimento da situação local, numa medida insensata e sem atentar para as sugestões dos controvertidos limites, autorizou a instalação de postos alfandegários bolivianos, nas áreas discutidas.
E o Governo Brasileiro entregava assim de fato à Bolívia o território ao norte do paralelo 10º20”, em virtude da autorização contida no protocolo de 23 de setembro de 1898.
Assim, a “Bolívia, através da missão organizada por seu ministro plenipotenciário no Brasil, assegurou oficialmente seu domínio sobre o Acre, a 3 de janeiro de 1899, fazendo cessar a ação e autoridade dos funcionários brasileiros ali representados, pelo Superintendente e pelo Juiz de Direito da Comarca da Vila amazonense de Floriano Peixoto, nomeados pelo governo daquele Estado”.
O protesto destas autoridades foi veemente, porém sem nenhuma ressonância a seu favor, uma vez que o representante boliviano tinha o direito de soberania sobre o território, assegurado oficialmente pelo governo brasileiro.
A despeito dessas resistências, o ministro boliviano Paravacini conseguiu impor-se de forma sensível, modificando a administração e os métodos de trabalho, bem como organizando um sistema fiscal e policial caracterizado pela força.
A posição do governo brasileiro de fixar exclusivamente um critério jurídico, desprezando os aspectos sociais e econômicos, era inaceitável e atribuída a uma lastimável e evidente despreocupação dos interesses nacionais brasileiros que lá viviam e trabalhavam.
E Craveiro Costa baseando-se na produção gomífera estimou em um número aproximado de 40 mil extratores (seringueiros) além de trabalhadores de outros setores, cuja mão de obra já se oferecia.
O brasileiro nordestino era mais uma vez perseguido pela sorte negra. E desta vez não era mais a seca impiedosa que lhe substituía o verde dos campos pelo solo estorricado sem árvores e sem sombras e onde somente o mandacaru valente continuava lutando para não tombar.
Não era mais a febre doida, o beri-beri, o impaludismo e tantos males que foram os seus recepcionistas e anfitriões quando aportaram nas “tierras non descobiertas”.
Eram desta feita, os pesados tributos a eles impostos pela Bolívia o que jamais poderiam aceitar, pois entendiam que a terra acreana havia sido uma conquista sua, descobrindo-a, domesticando-a e tornando-a produtiva.
“Aqueles homens que o governo do Brasil esquecia, abandonando-os às durezas do próprio destino e ao regime de jurisdição estranha, não quiseram admitir que a Bolívia viesse assim, de momento, abroquelada num simples ato ministerial, colher a imensa riqueza que não semeara e dominar a região que só eles haviam desvirginado, ignorando todo o complicado mecanismo diplomático, expondo a face do continente, tesouros inexauríveis, convictos de que aquela floresta portentosa, aquelas terras onde haviam construído os seus novos lares, aqueles rios de longos e majestosos cursos, eram prolongamento naturais da pátria, veias formidáveis por onde a nação hauria o sangue novo de uma riqueza que eles haviam fundado e garantido na sua exploração, abrindo nos barrancos paludosos milhares de sepulturas, onde tantos outros companheiros de heroísmo anônimo finalizaram a sua ânsia de prosperidade”.
Muitos eram os motivos que levavam os habitantes do Acre a não aceitarem o domínio boliviano, não aceitaram as exigências alfandegárias que impunham 15% “ad valorem”, sobre a importância em geral, havendo porém gêneros que pagavam 30 e 40%. Era o encarecimento exorbitante da vida, que também, já naquela época era difícil.
E tudo isso contribuía para a conspiração. Conspirava-se nos seringais e em toda a parte.
Decorridos seis meses do julgo boliviano, os acreanos liderados pelo cearense, advogado e jornalista José Carvalho, entregavam ao Ministro Santivanez uma intimação para retirar-se imediatamente com suas forças do território “desbravado, habitado e hoje defendido por milhares de brasileiros” que até a invasão boliviana “viviam a sombra das leis de seu país e nela confiavam”.
O Ministro boliviano, percebendo a gravidade da situação que se criara, e a impotência de seu país em resolvê-la através de sua missão ali instalada e por ele chefiada, resolveu sem reação alguma, acatar a exigência e retirar-se com seus comandados do território, buscando na Bolívia, a solução e os reforços necessários.
E o Acre, voltava à jurisdição amazonense quando entra em cena a figura controvertida do espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Arias, que em 14 de julho de 1899, no lugar denominado Empresa, proclamou o “Estado Independente do Acre”, e fez-se ditador, adotando o lema: “Pátria e Liberdade”, elaborando normas e decretos, muitos dos quais, avançados em relação ao meio ambiente a que se destinava servir, como observou Tocantins.
A ação de Galvez, conforme Rancy, embora em muitos aspectos contestada, principalmente por contrariar os interesses políticos e econômicos, foi favorável ao Acre e ao Brasil na medida em que estimulou o sentimento patriótico dos brasileiros ali radicados, levando-os a lutar pela conquista efetiva de seus direitos e pela posterior anexação ao Brasil, lançando desta forma, as bases para que a posição do Governo Central passasse da indiferença ao apoio, quando do desequilíbrio de sua república e a conseqüente reinvestida dos bolivianos.
Mas o Governo Federal teimava em continuar ignorando a luta que se travava no Acre e em todas as suas ações impunha a sua autoridade em favor dos bolivianos, “impondo à população do território o domínio oriundo do critério de sua interpretação ao texto dos tratados”.
Mais uma vez o comportamento do governo brasileiro tinha o repúdio dos acreanos e, em março de 1900 Rodrigo de Carvalho lançou em Belém, o manifesto que transcrevemos dele o trecho que achamos mais importante:
“Os revolucionários acreanos não pediram ainda um ceitil ou soldado ao Brasil para defender a integridade da Pátria. Apenas lhe rogaram e lhe rogam que se mantenha neutral, porque eles arrostando com todos os sacrifícios, saberão couraçar os seus domicílios e as suas fortunas, contra a invasão boliviano. Nada carecem os rebeldes da mãe pátria, senão justiça às suas honradas intenções”.
E o manifesto acreano repercutira em todo o país e ganhava admiradores e adeptos em todos os quadrantes de nossa pátria.
Esta situação de repúdio da população local à denominação boliviana agravou-se ainda mais, quando a Bolívia diante da fraqueza e da inoperância de sua ação, resolveu em 1901, arrendar o grande e rico território ao “Bolivian Sindicate”, empresa formada por capitais norte-americano e inglês com amplos poderes administrativo-econômico sobre a região, podendo, inclusive, manter exercito para assegurar a defesa de suas posições.
Caríssimos irmãos, pedimos-lhes desculpas se a empolgação de que nos sentimos possuídos quando falamos sobre a história de nossa terra, possa parecer-lhes que estamos nos afastando do tema que tão gentilmente nos convidaram à discorrer nessa XIII Assembléia.
Sinceramente garantimos-lhes que não. Falamos-lhes na verdade do ACRE E DE SUAS ORIGENS e é que, para faze-lo, naturalmente devemos trazer a cena os seus lances mais corajosos e emocionantes e apresentar-lhes os seus protagonistas principais e os seus heróis mais destemidos.
E como já dissemos-lhes da bravura nordestina como preito de gratidão e profundo respeito aos seus naturais que nos deram a grande honra de podermos aqui estar como patrícios, permitam-nos apresentar-lhes agora outros bravos, destacando o sul, na pessoa do seu filho ilustre e valente soldado, o gaúcho José Plácido de Castro, o grande herói da Revolução Acreana que assumira o seu comando e com os conhecimentos militares anteriormente adquiridos, pois chegara até o posto de major, quando abandonara a sua terra para trabalhar no Acre como demarcador de terras.
Ali o destino lhe reservara a grande missão, que soube cumprir com heroísmo e bravura.
O ex-aluno da Escola Militar de Porto Alegre, com conhecimento teórico de estratégias de guerra e participação em vários movimentos, logo se faz líder do movimento armado.
“E num trabalho incansável de entendimento reivindicatório, de apoio humano e material, entre líderes econômicos representados pelos seringalistas, foram estabelecidos, também, as alternativas políticas autônomas, necessárias à segura investida de conquista”.
Foi através desse entendimento preliminar que se estipulou a criação de um organismo político-administrativo independente, com o fim de dirigir a região contestada e evitar ao Brasil o envolvimento militar com a Bolívia.
“E como afirma Rancy, assim estabeleceu-se o Estado Independente do Acre, chefiado por uma junta revolucionária composta por proprietários locais engajados no movimento e que objetivavam apoiar, de forma integral e decidida, Plácido de Castro, diretor das operações militares”.
“Com as providencias iniciais satisfeitas, foi desencadeado o movimento armado libertador do Acre, célebre na História como REVOLUÇÃO ACREANA que, liderada por Plácido de Castro, perdurou de 06 de agosto de 1902 a 24 de janeiro de 1903, sendo que todo o seu desenrolar fora marcado por dificuldades intensas e de toda ordem caracterizadas pelas imposições adversas do meio selvagem e de suas condições primitivas e hostis de transporte e comunicações que aliadas ao despreparo militar e de arsenal bélico, à carência de recursos materiais e humanos, oriundo basicamente da disponibilidade material dos seringalistas, e do recrutamento exclusivo de seringueiros voluntários, exigiu luta árdua e destemida de seus soldados para, assim assegurar, através da conquista militar, o domínio de direito do território que de fato já era brasileiro”.
O quadro acreano adquiria diante do poder central brasileiro uma nova fisionomia justificada, principalmente pela necessidade de se evitarem reinvestidas militares bolivianas sobre os territórios conquistados, além de, também, afastar a concretização do perigoso contrato de arrendamento, bem como a defesa dos interesses dos brasileiros que vitoriosos, tinham o domínio efetivo sobre a região.
A diplomacia brasileira representada, neste caso, pela ação sábia e eficiente do Barão do Rio Branco, então Ministro das Relações Exteriores, nomeando em 1902, deu início a uma série de entendimentos com a Bolívia, visando a oficializar o domínio efetivo e brasileiro sobre o Acre.
Pelos resultados positivos alcançados nas negociações, a possessão brasileira sobre o referido Território foi sancionada pelos dois países através do Tratado de Petrópolis, firmado a 17 de novembro de 1903, assinalando, com o ato, uma nova fase na sua formação político-social.
Com tais eventos, o Brasil assumia de forma integral, os novos limites territoriais do Acre-Boliviano, que modificaram oficialmente os limites geográficos da soberania nacional brasileira.
E a citação que transcrevemos abaixo bem exprime a ação diplomática do Barão do Rio Branco e o heroísmo de Plácido de Castro e seus comandados na participação laboriosa e patriótica de suas ações.
“Rio Branco, nume tutelar, como Deus terminus da nossa integridade nacional” no dizer lapidar de Rui Barbosa, foi ao encontro desses heróis, amparando-os numa ânsia generosa de reparação e justiça, que lhe eram devidas, com o poder incomparável de sua ampla visão política. Plácido de Castro foi combatente sem tréguas, o auxiliar principal dessa grande conquista nacional. Completam-se. A alma de um é conseqüência do outro. Deve-lhes o Brasil a incorporação do território acreano ao patrimônio nacional.
Terminava a luta armada que sob o comando de Plácido de Castro, compreendeu o período de 06 de agosto de 1902 a 24 de janeiro de 1903.
Epopéia marcada pelos lances inesquecíveis que bem traduzem a bravura dos que se digladiaram em defesa de suas cores e que numa demonstração de profundo respeito à vizinha república irmã, repetimos: Era o dia 25 de janeiro de 1903. Um dia apenas se passara do término da sangrenta batalha e começava então, como de praxe, a comovedora cerimônia de entrega da praça e armamento. Foi um momento tocante. Plácido de Castro nessa hora, revelou-se em toda sua grandeza de alma, traçando o mais belo e empolgante episódio da Revolução.
A força boliviana vencida, formou diante dos acreanos-brasileiros vencedores. Prestadas as continências militares à Plácido de Castro, um soldado boliviano dá um passo a frente e recebe de seu comandante D. Lino Romero a ordem dolorosa para arriar a bandeira de seu país.
Um grande silêncio envolvia aquela cena observada pela floresta densa testemunha ocular de todo o episódio que chegava ao fim. Havia lágrimas nos olhos dos vencidos e dos vencedores.
Arriada a bandeira, D. Lino Romero desembainha a sua espada e entrega-a cabisbaixo e mudo, ao caudilho triunfante.
Aquela contingência cruel de guerra, que humilhava a um povo inteiro emocionou Plácido de Castro. Sua grande alma eterneceu-se, e, com os olhos molhados de lágrimas falou:
“Senhor Coronel, não fazemos a guerra senão para conquistar o que é nosso: aos vencidos abrimos os braços de amigos. Não infligiremos uma humilhação aos adversários, depois de derrotados. Não receberemos de vossas mãos as armas com que bravamente nos hostilizaram e arrancaram a vida de tantos companheiros, cuja perda choramos. Guardai a vossa espada como premio de guerra. E o Coronel vencido fita-o perturbado e passados alguns instantes pode articular uma resposta, pedindo ao Coronel vencedor que aceitasse, senão como um troféu, ao menos como lembrança de um amigo”.
Obras consultadas:
Sociedade Acreana: Elementos Formadores
de CLEUZA MARIA DAMO RANCY
A Conquista do Deserto Ocidental
de CRAVEIRO COSTA
Formação Histórica do Acre
de LEANDRO TOCANTINS
O Seringal e o Seringueiro
de ARTHUR CÉSAR FERREIRA REIS
Descobrimento das Terras da Região Acreana
de JOSÉ MOREIRA BRANDÃO CASTELO BRANCO
História Econômica da Amazônia
de ROBERTO ARAÚJO DE OLIVEIRA SANTOS.
O Acre
de TAUMATURGO DE AZEVEDO
O Cearense na Amazônia
de SAMUEL BENCHIMOL
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