domingo, 13 de janeiro de 2008

Resumo de livros - HONRA E PÁTRIA, de Lucien Febvre

FEBVRE, Lucien. Honra e Pátria.
Trad. Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
- Honra e Pátria foi o tema de dois cursos ministrados pelo autor no Collége de France em 1945-47; - Honra e Pátria são as duas fontes do sentimento nacional na França; “Honra, Pátria, estes dois termos que o tempo, soldou como solda lentamente, no fundo das fossas úmidas da pré-história, tantos objetos separados que a ferrugem transformou em um só bloco” p. 26. “Aqui, ao longo de todo o livro, falaremos de Estados e Nações” p. 28. - O historiador não consegue definir essas palavras. “Porque se este rio, a linguagem, não cessa de erodir suas margens e de carregar para o fundo de seu leito os mais diversos aluviões, como pretender fixá-lo?” p. 28. - Os juristas se orgulham por definir Estado e Nação. Os sentidos mudam. “Nada do que é matéria de história escapa às exigências do tempo que tudo desloca; do meio que se modifica sem trégua; do ser humano que jamais permanece idêntico a si mesmo” p. 28. “Quando pronunciamos a palavra Pátria e esta palavra evoca em nós o objeto de uma das múltiplas formas de amor” p. 29. “O que vale para nós é a história da palavra” p. 29. “Toda língua conta com palavras, numerosas e importantes, que precisaram de décadas, senão de séculos, para carregar-se de sentido” p. 29. - A palavra pátria tem origem no latim. “Mas foi somente antes do século XVIII que este vocábulo douto alcançou sua extensão e seu sentido verdadeiro: refiro-me àquele que lhe damos ainda hoje, ao final de uma longa evolução. Foi então que ele nasceu para a História, embora tenha nascido dos séculos antes para a filologia” p. 30. “Uma palavra não tem valor para o historiador isolada das outras palavras que atrai e que a atraem ou que repele e que a repelem... cronologicamente falando, por onde começar nossa pesquisa? Quero dizer: até onde remontar em nossas investigações? Aos tempos sem história?” p. 30. OBS: Os revolucionários utilizaram o termo “pátria” para significar Brasil, País ou Nação? Do seringueiro nada sabemos. Suas idéias, seus sentimentos, suas concepções só tomamos ciência através do que o seringalista deixou escrito sobre eles. Só sabemos o discurso da elite gomífera. “A fidelidade é para com o solo ou para com o chefe de guerra?” p. 32. “César compõe uma narrativa em seu louvor” p. 33. CAP 2 – Honra ou Pátria (Aula 1945-46). - Idade Média: estudar os laços de fidelidade que ligava o vassalo ao senhor. - Durante a revolução francesa: há emigrados fiéis ao REI; há patriotas, fiéis à nação. “Napoleão que de início restabeleceu em proveito próprio os sentimentos de fidelidade que outrora eram exigidos pelo rei, mas que finalmente beneficiou-se dos sentimentos de nacionalidade ao mesmo tempo explorado(s) e encarnado(s) por ele. - A França entre os anos 1940-44 estava profundamente dividida. Esse fato foi a origem dessa aula. - Os franceses morriam na áfrica ao lado dos ingleses naquilo que sabiam ser a salvação da pátria. - As palavras chegam aos nossos ouvidos carregadas de histórias, pesadas de histórias. - Nenhuma definição é eternamente válida. “A linguagem não cessa de roer suas próprias margens” p. 53. “Pois o tempo tudo desloca, o meio tudo muda e o homem não é jamais o mesmo” p. 54. “Quando dizemos PÁTRIA, isto é, quando nos referimos a um sentimento, quando evocamos através dessa palavra o objeto de uma das múltiplas formas de amor, que participa desses sentimentos elementares que jogam um homem nos braços de uma mulher, que ligam o filho à mãe... quando dizemos NAÇÃO, isto é, quando evocamos a tomada de consciência de grupos reunidos em assembléia em um mesmo quadro,de grupos que sofrem ação incessante, a modelagem de uma vida em comum; quando dizemos NAÇÃO, isto é, quando evocamos a tomada de consciência coletiva de um passado tradicional e de um futura que se torna claro à luz do passado que é, ele mesmo, colorido pelas luzes do presente; quando dizemos ESTADO, esta armadura, esta máquina concebida, forjada tendo em vista resultado que, em parte, obtém pela força ...” p. 54. - A nacionalidade faz da pessoa, sem que ela peça, um francês. - Qual o conceito de pátria e patriotismo no Acre em fins do século XIX? - ESTADO é uma palavra do século XVI. Mas o sentido político é moderno. - NAÇÃO é uma “palavra que só adquire seu valor, seu sentido pleno e sua eficácia no século XVIII” p. 55. - PAÍS é uma palavra mais antiga, “que vai ser traduzida pelos doutos como PÁTRIA. - HONRA é uma palavra medieval que traduziu a força dos homens daquela época. - PÁTRIA “é uma palavra muito mais recente, uma palavra de formação erudita, uma palavra do século XVI que só começou a assumir seu verdadeiro sentido lentamente junto às elites; que durante muito tempo manteve seu caráter de palavra para eruditos... que assumiu um sentido mais forte, mais rico, mais amplo no século XIX, apoiando-se sobre a realidade da nação” p.56. “Essas palavras formam pares. Não se pode estudá-las apenas em si e por si mesmas... Ora, uma palavra não é o bastante para o historiador: ele precisa de palavras ligadas, seja para opor-se, seja para apoiar” p. 56. - A honra é típica das monarquias, baseadas nos privilégios, preferências, distinções e desigualdades. “Sacrifícios gratuitamente oferecidos a um ideal mais forte a que chamamos honra” p. 61. “A honra tem como raiz a imitação, o alinhamento com os membros do grupo diante do qual nos sentimos responsáveis” p. 63. “A honra é um sentimento pessoal interior? Não, a honra é o resultado de uma pressão, aceita, do grupo, da coletividade sobre uma ou várias consciências individuais” p. 65. “A honra é antes de tudo uma recusa, uma recusa a pactuar com aquilo que é feio, baixo, vulgar, interessado, não-gratuito; uma recusa a inclinar-se diante da força só porque ela é a força; diante da paz, porque é a paz; diante da felicidade, porque é a felicidade... a honra, enfim, é uma força de ação e uma força que se afirma na ação e não na especulação. A honra engaja o homem na ação... A honra não espera. A honra não hesita”. P. 66. - A honra é um “sentimento reanimado pela força do passado, pela autoridade do passado, fonte de uma força tradicional tão venerável que não pode ser discutida, cujos comandos se obedece às cegas, imediata, total e mecanicamente” p. 67. “Tal sentimento, não brota; constrói-se lentamente” p. 84. “Todos alimentamos em nós mesmos a idéia de que nada é mais forte que esses laços que unem os homens aos lugares que os viram nascer, às paragens que contemplaram quando eram jovens nos campos cultivados pela família e por eles mesmos... naquele tempo os laços que uniam o homem à terra não eram laços fortes, porque as sociedades não eram sociedades antigas e fortemente enraizadas” p.88. “Quando o senhor entra em uma batalha e, bruscamente o perigo se apresenta seu pensamento não se dirige para a terra, para o país, a pátria, terra pátria. Seu pensamento se vai pela linhagem” p. 89. “Não havia pátrias, no sentido atual, em um tempo em que não havia nações” p.94. “Não havia pátrias, no sentido atual, em um tempo em que as formações políticas, os Estados faziam-se e desfaziam-se com uma espantosa facilidade, o que dava à Europa uma aparência caleidoscópica” p. 93. “Não havia pátrias, no sentido atual, em um tempo em que os homens não tinham se fixado ao solo de maneira verdadeiramente estável, em que mitos dos recém-chegados ainda buscavam um lugar melhor, prontos para abandonar o posto a sorte que lhes destinara... um incêndio que destruísse, por exemplo, a cabana em que o trabalhador tinha guardado seus bens, o libertaria do solo fazendo dele um nômade” p. 95. “A pátria do nômade, ou melhor, aquilo que ocupa seu lugar, não é uma pátria de terra, de campos, de bosques; é uma pátria de homens, de companheiros, de camaradas. É ao bando ao qual ele se anexa, do qual se faz soldado ou bandido; é a tribo, se, sob outros céus, ele vive empurrando os rebanhos diante de si; é um grupo de homens, não é uma extensão de terreno. Eis o que explica que não são as vozes da terra, mas antes as vozes do sangue que falam a essas almas. Vozes do grupo familiar, vozes da parentela, vozes da linhagem” p. 94. “A fidelidade estabelecida pelo laço de vassalagem. A fidelidade do vassalo em relação ao senhor implanta-se naturalmente sobre o sentido da solidariedade de linguagem” p. 95. - O ritual da homenagem, ler pág. 97. “A homenagem criava um casal, o casal senhor-vassalo que somente a morte podia desfazer” p. 98. “A honra era não trair, permanecer fiel” p. 104. “A vassalagem sobrevive, bem mais que através de gestos cerimoniais já em estado de rito vazio, através de um estado de espírito muito forte, que não para de renascer das cinzas” p. 105. - A honra, sentimento desconhecido da antiguidade e criado pela cavalaria, a honra é o resumo de todas as virtudes cavaleirescas (cf.p.107). - A fidelidade da vassalagem é o devotamento cego, a obediência incondicional ao chefe. “No século XII, o verdadeiro sentimento referencial, o sentimento que tem poder o espírito dos homens é sempre o sentimento de fidelidade” p. 115. “Eis que chegamos ao século XVIII. E a idéia de honra vai entrar em colisão com outras idéias, que nada tem a ver com ela, mas que disputam com ela as consciências. É preciso apresentar brevemente estas idéias. Quais são elas: a idéia de PÁTRIA, a idéia de NAÇÃO, estreitamente ligadas desde o início” p. 150. “A palavra pátria não é muito antiga. É uma palavra do século XVI. É falso que trata-se de uma palavra do século XV” p. 150. “Portanto: pátria aparece pela primeira vez entre 1540 e 1550, através do italiano PATRIA. Torna-se de uso corrente a partir de 1550. - O humanismo restaura o patriotismo antigo para aplicá-lo à França. Houve patriotismo na Grécia? “É preciso ver com clareza que o PATRIOTISMO do século XVI resta profundamente e antes de tudo um patriotismo camponês local” p.151. - A pátria que invocam é a pequena pátria. “É que Pátria, a palavra tem ressonâncias carnais e sentimentais profundas. Ela evoca a terra, os mortos; a terra, esse grande ossuário dos mortos” p. 152. “Terra pátria: terra dos ancestrais, a terra que os nutriu antes de nutrir aos vivos” p. 152. “Parece que o desenvolvimento da idéia de Pátria sofreu uma parada no século XVII. Não que a palavra tenha desaparecido... Ela esvazia-se de sentido concreto” p.154. “A nação é uma realidade psicológica” p. 155. “Ela (a nação) representa a transferência para uma comunidade mais vasta, dotada de um território próprio, o território nacional, de simpatias estreitas que funcionam livremente no interior dos grupos elementares. Ela cria uma mentalidade entre seus aderentes, uma consciência nacional” p. 156. “Não existe consciência estatal. Existe uma consciência patriótica, uma consciência nacional que é feita em parte de história, em parte de ideal” p. 156. “A nação é a tomada de consciência de uma história que age perpetuamente sobre um ideal, de um ideal que age perpetuamente sobre a história. A história vivida em comum determina a tomada de consciência. E esta tomada de consciência marca a representação da história, o sentido da história, o curso mesmo da história” p. 156. - O autor fala da noção de pátria da França. O autor nas página 158-159 tenta explicar porque o termo PÁTRIA desapareceu no séc. XVII. - Não há pátria no despotismo. Pois não se servia à França, mais ao Rei Sol. - No dicionário de filosófica, a definição do vocábulo PÁTRIA, escrita por Voltaire, diz: “Um pátria é um composto de várias famílias e como, de ordinário, apoiamos nossa família por amor-próprio, quando não temos nenhum interesse em contrário, apoiamos pelo mesmo amor-próprio nossa cidade ou nosso povoado a que chamamos pátria” p. 163. - Século XVIII, somente aquele que tem um pedaço de terra tem uma pátria. O estado de Voltaire é uma coletividade de proprietários. “Não são nem os homens nem as paredes que fazem a pátria; são as leis, os hábitos, os costumes, o governo, a constituição, a maneira de ser que resulta de tudo isso” Rousseau, apud, p. 165. - O que faz a pátria é a república. “O que é a pátria sem o país onde se é cidadão e membro do soberano?” Robespierra, apud, p. 165. - Na França, a palavra nação ganhou forma no século XVIII. - Honra e pátria são as duas fontes do sentimento nacional na França em 1945. “Essas duas palavras entraram casadas em fórmula única” p. 169. - Foi no século XVIII que o sentimento nacional e o sentimento patriótico se firmam. “A nação torna-se uma realidade familiar para seus membros em meados do século XVIII... mas é no curso da segunda metade do século XVIII que o epíteto nacional instala-se por toda parte, para continuar a triunfar sob a revolução” p.172. “Assim, a Pátria é uma noção do século XVI. O que não quer dizer que o sentimento da pátria é desconhecido dos homens do século XV” p. 183. - Na idade média a unidade era feita pela religião cristã. O século XVI representou o despertar das nacionalidades. - O século XVI foi o quando o francês se firmou como língua escrita. No entanto, O SENTIMENTO PROVINCIAL persistia. PÁTRIA: a) aspecto carnal e afetivo: ligação com o solo, os ancestrais. “terra pátria, terra dos pais, dos ancestrais, do povo; terra dos mortos; terra também dos vivos que nascem dos mortos, terra que nutre o solo dos mortos” p. 227. b) intermediário entre família e humanidade: pátria transporta força e calor das afeições familiares ao domínio do social público, transfere a afeição familiar a todos os homens de um mesmo país. “pátria fixa e enraíza as famílias como as famílias enraízam os indivíduos” p. 228. - A nação unifica as escolas, igrejas, famílias, ofícios, corpos do Estado e os subordina à tarefa comum. “Donde o sentimento de pertencer a uma coletividade, e nasce a solidariedade” p. 229. “A nação realiza a extensão das simpatias que constituem o cimento dos grupos a uma comunidade não apenas mais vasta, mas concebida como dotada de um território próprio, de um território natural” p. 229. “A nação harmoniza as tendências divergentes dos grupos. Ela une com um laço único as ligações sociais múltiplas que reúnem, em seu próprio interior, os membros dos grupos” p. 229. - Pertencemos a uma nação pelo nascimento. - A nação “é uma realidade psicológica profunda. E que modela rigorosamente todos os indivíduos” p. 230. - Nação é um querer viver comum. NAÇÃO é vontade de criar em comum um certo futuro. É um ideal a realizar. - A nação é anterior ao estado. As revoluções nacionais geralmente são feitas contra o Estado.

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